V CONGRESSO DE ENSINO E PESQUISA DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM MINAS GERAIS
INSTITUIÇÕES ESCOLARES E FORMAÇÃO DE PROFESSORAS NO NORDESTE
DE MINAS NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX
JOÃO VALDIR ALVES DE SOUZA 1
Introdução
Ainda
está
para
ser
sistematizada
a
história
do
processo
de
2
institucionalização da escola no nordeste de Minas. O que se pode deduzir dos
dados e de parte das informações disponíveis é que esse processo aconteceu muito
lentamente e que somente a partir do final do terceiro quartel do século XX a
escolarização básica obrigatória começou a tomar o curso da universalização. Até
então, ela havia sido restrita a uma minoria da população, principalmente no meio
rural, onde essa população estava maciçamente concentrada. Há fortes indícios, no
entanto, de que foi grande a participação dos colégios católicos na constituição de
um ideário escolar e social na região, formando as professoras que vieram a ocupar
os quadros do ensino público fundamental ao longo de quase todo o século XX.
Isso, entretanto, não era uma peculiaridade dessa região. A história da
educação em Minas reserva um lugar de destaque para as redes públicas de
escolarização, tomadas como um modelo a ser seguido por outras unidades da
federação, não sendo possível passar ao largo da gloriosa história do Instituto de
Educação de Minas Gerais, quando se pretende evidenciar a formação de
professores “tipo exportação”. Essa celebração, entretanto, deve ser bem datada se
se quer que ela não continue encobrindo outros espaços de formação docente, que
grande influência tiveram na definição de uma identidade cultural fortemente
sintonizada com os ideais religiosos do catolicismo.
Na virada do século XIX para o século XX, apesar de todas as reivindicações
que já se faziam pela implantação de escolas primárias e secundárias, a educação
1
Professor Adjunto de Sociologia da Educação no Departamento de Ciências Aplicadas à Educação
da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais.
2
Este texto é parte de uma pesquisa mais ampla realizada na região nordeste do estado de Minas
Gerais e defendida como tese de doutorado na PUC/SP, em 2000, com o título “Igreja, Educação e
Práticas Culturais: a medição religiosa no processo de produção/reprodução sociocultural na região
do médio Jequitinhonha mineiro”. A pesquisa analisou alguns dos meios através dos quais a Igreja
se articulou para enfrentar o processo de laicização da cultura pretendido pelo Estado republicano.
Além de ampliar seu aparato burocrático-institucional, ela constituiu vasta rede de escolarização e
ampliou seus domínios interferindo sistematicamente nas associações leigas. No caso do presente
artigo, trata-se de pontuar a constituição de uma rede escolar de formação de professoras,
destacando-se o Colégio Nossa Senhora das Dores, de Diamantina; o Nazareth, de Araçuaí; e o São
Francisco, de Teófilo Otoni.
1
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escolar em Minas era artigo de luxo, restrito às elites urbanas da capital e das
principais cidades do interior. Por época da proclamação da República, as novas
autoridades mineiras encontraram uma herança escolar, deixada pelo regime
monárquico, caracterizada por Paulo Krüger Mourão, no pioneiro O Ensino em
Minas no Tempo do Império, como um “triste panorama”, expressão da
“decadência do ensino oficial” até então ministrado na província.
Mourão traça um amplo quadro da situação educacional em Minas,
principalmente na segunda metade do século XIX, pontuando questões relativas à
legislação,
à
organização
burocrático-institucional,
aos
recursos
didático-
metodológicos, à situação dos professores e, principalmente, à historicidade das
principais instituições educacionais que ali se instalaram. Recheado de relatórios
oficiais, ora bastante elogiosos, ora severamente críticos, transparece no seu texto a
forte presença do ideário católico, tanto na montagem dos seus próprios
estabelecimentos de ensino quanto na ação que exerceram os religiosos no
contexto da escola oficial. Enquanto vigorou o padroado, não foram raros os
empreendimentos educacionais de membros da Igreja, cuja manutenção foi
transferida para o poder público, ao que parece muito mais por pressões de clérigos
zelosos que por iniciativa de administradores competentes.
Todos esses relatórios dão conta da precária situação das escolas, sobretudo
no que se refere à formação e remuneração de professores. Ainda assim, apesar de
críticas severas ao magistério, como a de um relator que afirmava ter-se aí
“acastelado a ignorância e a inépcia” e que “a mesquinhez dos vencimentos
abonados aos professores e insuficiência das garantias concedidas ao magistério, o
afastaram das habilitações reais”, não apenas eram severas as normas para a
contratação de professores, como muito rígidas eram aquelas que se referiam à sua
manutenção no cargo. Essa situação, ao que parece, não passou por mudanças
substantivas até o final daquele século XIX, uma vez que, em meados dos anos 80,
apesar de já haver pelo menos oito escolas normais oficiais (Ouro Preto, Campanha,
Diamantina, Montes Claros, Paracatu, Juiz de Fora, São João Del Rei e Sabará),
muitas eram as reclamações de que elas “não têm produzido os resultados de que
delas se esperavam” ou que “há quase 50 anos era superior o nível da instrução
elementar na Província”. 3
3
Mourão, 1959, p 142-144.
2
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Foi nesse contexto de precariedade da rede oficial de ensino, que teve lugar a
maciça entrada de ordens e congregações religiosas, tanto masculinas quanto
femininas, que se encarregaram da educação primária e da formação de normalistas
e religiosos para atuarem na romanização do catolicismo em Minas Gerais e
recristianização da sociedade mineira e brasileira. Entre 1890 e 1921, entraram 10
(47,6%) das 21 congregações religiosas masculinas que se instalaram em Minas
entre meados do século XVI e o ano de 1992. No mesmo período, instalaram-se 20
(50%) das 40 congregações femininas. A maioria absoluta delas, tanto masculinas
quanto femininas, era composta de congregações fundadas na segunda metade do
século XIX. Entre 1890 e 1961, foram fundados 30 dos 31 colégios religiosos
masculinos que se estabeleceram em Minas nos séculos XIX e XX. No mesmo
período, foram fundados 72 dos 77 colégios religiosos femininos. 4
Esses colégios estavam localizados, em sua maioria, na região centro-sul do
estado. Mas não deixa de ser notável a criação de três escolas de formação de
normalistas no nordeste de Minas, no final dos anos 1920, nas cidades de Araçuaí,
Itambacuri e Teófilo Otoni. Isso significou uma considerável ampliação de
oportunidades para a realização do sonho de se tornar professora, uma vez que, em
todo o nordeste mineiro, até então, estava limitado ao Nossa Senhora das Dores, de
Diamantina, fundado por Vicentinas francesas em 1866.
Escolarização no nordeste mineiro
Ainda hoje, a região nordeste de Minas é a que tem a menor taxa de
urbanização do estado, em torno de 50%. Até meados dos anos 50, essa
urbanização era ainda muito menor, adquirindo pouco significado na conformação
da vida cultural, muito ligada às atividades de cultivo da terra. Exceto em algumas
cidades, como Diamantina e Serro, de tradição histórica ligada à mineração, e em
algumas áreas, como o baixo Jequitinhonha e o vale do Mucuri, onde a pecuária
desenvolveu-se como atividade inserida no mercado com outras regiões do país,
predominou no restante da região um conjunto de atividades econômicas voltadas
para a subsistência.
4
Lopes e Bicalho, 1993, pp. 51-52. Arlindo Rubert descreve a decadência das instituições religiosas
masculinas e femininas no início do século XIX e sua revivescência a partir de meados desse século.
(Cf. Rubert, 1993).
3
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Associados a essa condição de vida rural os índices de escolarização eram
extremamente baixos. Além de baixos, na média geral, eles apontam ainda para
uma discrepância bastante acentuada entre o meio rural e o urbano e entre homens
e mulheres. Mesmo considerando-se muito vago o termo “sabem ler e escrever” e as
distorções que esses dados podem apresentar, em decorrência da presumível
precariedade no seu levantamento, pode-se ter uma idéia bastante aproximada da
relação que essa população tinha com a cultura escrita: quase nenhuma. A média
geral dos que “sabem ler e escrever”, para o conjunto dos municípios tomados como
referência, era 16,5%, isto é, menos de um quinto da população. Excetuando-se
Diamantina, com uma média de 37%, todos os outros municípios tinham, em 1950,
uma média abaixo de 25% de alfabetizados. Mesmo Araçuaí, Pedra Azul e Teófilo
Otoni, que eram importantes centros urbanos locais, tinham apenas 22% da sua
população alfabetizada.
Avançando-se para além dos números que expressam uma média, vamos
encontrar em alguns detalhes as marcas de profundas discrepâncias. As mais
visíveis estavam entre os índices de escolarização da população que habitava os
pequenos núcleos urbanos e os da população rural. Enquanto no meio urbano, 48%
da população se inscrevia no conjunto dos que “sabem ler e escrever”, no meio rural
esse índice era de apenas 10%, isso sem esquecer que menos de 18% dessa
população se encontrava em cidades ou povoados. Salta aos olhos o fato de que
quanto mais baixo o índice de urbanização, mais alto era o índice de analfabetismo.
Os quatro municípios que tinham mais de 90% da sua população no meio rural
(Malacacheta, Minas Novas, Novo Cruzeiro e Turmalina) contavam aí menos de 7%
de alfabetizados. Enquanto isso, os quatro municípios que tinham menos que 75%
da sua população no meio rural (Diamantina, Jequitinhonha, Pedra Azul e Teófilo
Otoni) contavam, na zona rural, com mais de 13% na condição de alfabetizados.
Neste caso, Diamantina se destacava, porque ostentava um índice de 23% de
escolarização no meio rural.
Quanto à escolarização de homens e mulheres, são notáveis as diferenças,
tanto no meio urbano quanto no rural. Em todos os municípios consultados, exceto
na área urbana do Serro, os homens eram mais escolarizados que as mulheres. No
meio urbano, 53% dos homens eram escolarizados, contra 44% das mulheres.
Quanto ao meio rural, eram apenas 12% os homens que sabiam ler e escrever e
menos de 8% das mulheres. Aqui, mais uma vez, local do domicílio e questão de
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gênero se cruzam. Quanto maior a proporção da população rural sobre a urbana,
menor é o índice de escolarização feminina. Em Malacacheta, Minas Novas, Novo
Cruzeiro e Turmalina, municípios com mais de 90% de sua população no meio rural,
menos de 5% da população feminina era alfabetizada. Em Diamantina, município
com maior taxa de urbanização, 21% das mulheres do campo tinham essa
habilidade, em Araçuaí elas eram 11% e em Pedra Azul, 10%. 5
Esses dados se referem ao ano de 1950. Portanto, no início do século esses
indicadores eram, seguramente, ainda mais desfavoráveis. Ao final do século XIX,
se o estado de Minas era mal servido de escolas, na sua porção nordeste elas eram
praticamente inexistentes, principalmente as de grau médio, ou pós-primário. Muitas
das escolas criadas nessa região tiveram vida curta e boa parte da instrução era
ministrada por professores “autônomos”, dentro da modalidade de “aulas avulsas”,
tanto nas cidades quanto nas fazendas. Mourão informa sobre a criação, em 1844,
de uma cadeira de Latim e Poética em Minas Novas, centro histórico da região.
Pouco tempo depois, em 1852, o professor interino de Latim, Rafael de Matos
Paixão “pleiteou gratificação para lecionar Francês, tendo obtido opinião favorável
do Diretor Geral da Instrução.” Nesse mesmo ano, foram criadas as cadeiras de
Francês, Geografia, História, Filosofia e Retórica. Em 1854, o professor Rafael
Paixão foi removido para Conceição do Mato Dentro, assumindo o seu lugar o
professor José Bento Nogueira Júnior, que aí lecionou até pelo menos 1861. Em
1862, foi extinta a cadeira de Latim e Francês “por falta de freqüência”. 6
Ainda segundo Mourão, em 1867, foi criado um Externato em Minas Novas,
que foi instalado em 10 de janeiro de 1868, “havendo aí 1 diretor e cinco cadeiras,
sendo, uma de Latim, uma de Francês, uma de Inglês, uma de Aritmética, Álgebra,
Geometria e Trigonometria e uma de História e Geografia.” Poucas informações há
sobre o Externato, mas parece que não chegou a exercer qualquer tipo de
influência. O local do seu funcionamento teria sido um sobrado do major Marcelino
José Rodrigues e Silva, “que prontificou-se a ceder ao estabelecimento doze
cadeiras de palhinha, quatro mesas e oito bancos, comprometendo-se ainda a
completar a mobília que faltasse para o serviço do Externato.” Em agosto de 1867,
foi nomeado Diretor o Reverendo José Pacífico Peregrino da Silva, cujo nome havia
sido proposto pela Câmara de Minas Novas. Ele seria exonerado um ano depois.
5
6
Ferreira, 1958.
Mourão, 1959, p. 134 e 312. Cf., também, Halfeld e Tschudi, 1998, pp. 116-118.
5
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Se for correta a informação de Mourão, segundo a qual, em 19 de dezembro
de 1868, foram dispensados os inspetores dos Círculos Literários dos cargos de
diretores dos externatos de Minas Novas e Campanha, “visto estarem vagas as
cadeiras, concluindo-se daí que esses estabelecimentos deixaram de funcionar”,
deduz-se então que o Externato de Minas Novas talvez nem tenha chegado a
funcionar. De acordo com relatório que a Assembléia Legislativa Provincial
apresentou, em 1873, ao Presidente da Província, não havia sido instalada a Escola
Normal de Minas Novas “por depender a sua criação da do externato, ao qual deve
ser anexada”. Ele foi formalmente fechado por época da proclamação da República,
juntamente com os de Campanha, Diamantina, Paracatu, São João Del Rei e
Sabará, levando consigo o sonho de criação da Escola Normal.
Já no período republicano, em 1897, foi finalmente criada a Escola Normal de
Minas Novas, cujas atividades foram suspensas em 3 de julho de 1907. Em 1930, foi
frustrada nova tentativa de reabertura da Escola Normal. Em 1894, fora fundada a
Escola Normal de Araçuaí, que durou também apenas 10 anos. Se existirem, ainda
estão para serem encontrados documentos a respeito de ambas. Até então, as
informações sobre elas são muito escassas. O mesmo se pode dizer com relação ao
Ateneu Fortalezense, fundado em 1899 pelo professor Hugolino de Melo Matos, em
Pedra Azul, e que durou menos de cinco anos.
Dentre todos os municípios da região, Diamantina era o que tinha a mais
regular rede de escolas. Cidade de importância histórica, em decorrência da
exploração dos diamantes, continuou como centro cultural da região ainda por um
longo tempo, mesmo depois que a atividade mineradora perdeu a sua relevância
econômica. Um dos principais cartões postais da cidade, o velho mercado de
Diamantina, com sua praça ocupada por tropas e tropeiros de toda a região,
continua sendo uma referência histórica dessa relação da cidade com o nordeste
mineiro. Era para lá que se dirigiam os filhos e filhas “das gentes abastadas” da
região que tinham interesse pela escolarização da prole. Enquanto os meninos iam
principalmente para o seminário do Sagrado Coração de Jesus e o Colégio
Diamantinense, as meninas iam para o Colégio Nossa Senhora das Dores e a
Escola Normal.
Em termos de instrução, Diamantina se destacava num panorama regional
muito pouco propício à difusão da cultura letrada. Já no início do século XIX, o
refinamento cultural da sua população era elogiado por todos os viajantes
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estrangeiros que deixaram suas impressões de viagem sobre o lugar. Saint-Hilaire,
por exemplo, diz que encontrou no Tijuco “mais ilustração que em todo o resto do
Brasil, mais gosto pela literatura e um amor vivo pela instrução”. Impressões
semelhantes foram registradas pelos ingleses John Mawe e Richard Burton, pelos
alemães Spix e Martius e por um outro francês, Alcide d’Orbigny. 7 Mesmo que se
considere bastante romanceada a visão de todos eles, é fato notável que os
indicadores educacionais de Diamantina em 1950 se destacavam relativamente aos
da região.
Ao longo do século XIX, várias foram as escolas que se instalaram em
Diamantina, de onde saíram vários ilustres e influentes homens públicos de
expressão regional, estadual e nacional, tanto na esfera política quanto na religiosa.
Ainda nos tempos do Império, foram criados o Ateneu São Vicente de Paulo, o
Externato e Colégio Santo Antônio, a Escola Normal e, principalmente, o Seminário
Episcopal, internato masculino dirigido pelos Lazaristas, e o Colégio Nossa Senhora
das Dores, internato feminino dirigido pelas Irmãs Vicentinas. O Externato funcionou
a partir dos anos 1860, sendo extinto com a proclamação da República. A Escola
Normal não teve vida longa, funcionando entre 1879 e 1904, mas exerceu
importante papel inclusive concedendo o diploma de normalista às egressas do
Colégio Nossa Senhora das Dores. 8 Já o Ateneu foi a célula mater do Seminário
Episcopal que, por sua vez, teve íntima relação com o Nossa Senhora das Dores.
Segundo Mourão, o Ateneu São Vicente de Paulo de Diamantina foi um dos
mais importantes estabelecimentos de formação humanista da província no final do
século XIX. Ele não só permitiu a formação de muitos jovens do norte e nordeste da
província, mas serviu de “sementeira de onde mais tarde germinaria o Seminário
daquela cidade”. Funcionando desde os anos 50, a ele estão ligados os nomes de
Serafim José de Menezes, presidente da Sociedade Promotora da Instrução, e de
João Antônio dos Santos, primeiro bispo de Diamantina.
7
Cf. Barbosa, 1983; Almeida, 1983.
O fechamento da Escola Normal pegou de surpresa a direção do Nossa Senhora das Dores. Os
pais começaram a retirar suas filhas “visto não haver mais o vantajoso privilegio da prestação de
exames e consequente validade dos titulos que assim deixaram de existir”. O problema somente foi
resolvido no ano seguinte, quando, por interferência do novo bispo diocesano, Dom Joaquim Silvério
de Souza, e de outros membros do corpo eclesiástico, um dos quais era membro do Congresso
Legislativo estadual, “conseguiu a Irmã Michel uma disposição de lei equiparando o Collegio das
Dores à Escola Modelo da Capital, disposição, esta, acceita e sanccionada pelo poder competente
em data de 15 de setembro de 1905”. (Rocha, 1919, p. 32.)
8
7
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Em 1853, Serafim Menezes solicitou do governo o pagamento, pelos cofres
públicos, dos professores do Ateneu. Apesar dos amplos elogios ao desempenho do
educandário, esse pedido não foi atendido, porque ele não se enquadrava no
regulamento estabelecido pelo governo provincial quanto à concessão de auxílio
financeiro. Em 1854, ano da criação do bispado de Diamantina, nova representação
foi enviada às autoridades, “solicitando uma subvenção de cinco contos de réis
anuais dos cofres provinciais, como auxílio ao Ateneu São Vicente de Paulo.” Mais
uma vez foi elogiado o seu desempenho, mas negado o pedido, uma vez que, em
função do padroado, as autoridades já previam maiores despesas futuras com a
criação do novo bispado e, conseqüentemente, de um seminário. 9
Colégio Nossa Senhora das Dores
Como primeiro bispo de Diamantina, a influência de Dom João Antônio dos
Santos foi muito além da esfera propriamente eclesiástica, em que ele atuou como
um dos “bispos reformadores”, engajado no movimento de romanização da Igreja
Católica. Além do seminário, voltado para a formação teológica, e das Missões
Diocesanas Permanentes, voltadas para a difusão da fé cristã, ele foi o principal
responsável pela criação do Colégio Nossa Senhora das Dores, saudado por Aires
da Mata Machado Filho como o lugar “de onde nos vem a Fé verdadeira e o modelo
de fina educação de quem falava francês correntemente (...) cuja tradição continua
na sóbria elegância e no amor à correção de linguagem das senhoras e moças
diamantinenses”. 10
O Colégio Nossa Senhora das Dores foi um dos mais importantes
educandários mineiros na virada do século e, sem dúvida alguma, o mais importante
de toda a porção norte-nordeste do estado de Minas e do sul da Bahia. Muito
influente em termos culturais e mais duradouro do que qualquer outra instituição de
9
Segundo Carlos Roberto Jamil Cury, “O Padroado era uma instituição ibérica pela qual a Igreja
Católica e as monarquias luso-hispânicas estabeleciam tratados e alianças entre si. Por ele, a
permuta de favores consistia nos privilégios outorgados à Igreja, entre os quais o reconhecimento da
religião católica como religião oficial, e em contrapartida, a Igreja atribuía à monarquia o poder de
controlar e fiscalizar uma série de iniciativas (que, hierarquicamente falando, caberiam à própria
instituição religiosa). Desse modo, até a nomeação dos bispos dependia da autoridade imperial e os
clérigos seculares eram de fato funcionários públicos. O imperador provia cargos eclesiásticos em
troca de pagamento das atividades eclesiásticas exercidas pelos clérigos. Por outro lado, uma série
de cargos públicos (que, politicamente falando, caberiam à instituição política) tinham como précondição de investidura o juramento de fé. É nesse sentido que havia o juramento à fé católica
exigido dos professores que assumissem cadeiras de ensino nos estabelecimentos oficiais.” (Cury,
1993, p. 22.) Desde a Contra-Reforma a criação de uma diocese supunha a criação de um seminário.
10
Machado Filho, 1983, p. 127.
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ensino regular, o Nossa Senhora das Dores foi, certamente, durante mais de cem
anos, a maior escola de formação de professoras dessa região.
Fundado em 1866 e entregue aos cuidados de irmãs Vicentinas francesas, o
famoso Colégio da Rua da Glória é um dos principais monumentos arquitetônicos de
Diamantina. O passadiço que liga as duas casas de um lado ao outro da rua é um
dos principais cartões postais da cidade e foi construído depois da fundação do
Colégio. Seu objetivo era dar resposta a uma questão de ordem prática: impedir que
as internas atravessassem a rua ao passarem de uma casa a outra, para que não
vissem a rua e para que não fossem vistas no seu cotidiano, para se livrarem, enfim,
dos “efeitos perniciosos” do mundo exterior. Os rigores da moralidade das Vicentinas
tentavam impedir qualquer margem de liberdade, quer dentro quer fora do
educandário, enquanto as internas estivessem sob os seus cuidados, o que deixou
profundas marcas na memória de todas as entrevistadas que deram depoimentos
sobre as suas experiências no Nossa Senhora das Dores. 11
Vários cronistas diamantinenses celebram o fausto e as glórias que teriam
tido lugar nas instalações que abrigaram o Colégio. Dentre eles, o mais vibrante foi o
cônego Severiano de Campos Rocha, que, em 1918, publicou suas Memórias por
época da comemoração do primeiro cinqüentenário do Internato. Seu relato fala do
“aformoseamento da via pública em que se acha construído” o passadiço, do
esplendor dos embelezamentos destinados ao prédio mais antigo como jardins,
chafarizes, bosques e alamedas, dos seus ilustres moradores como governadores,
intendentes e o bispo e, principalmente, dos ilustres hóspedes que abrigou e das
magníficas festas que nele tiveram lugar, “preciosas relíquias do passado”, diz ele,
lembranças das “priscas eras de luxos, fidalguias e grandezas mundanas”. 12
Além de fundar um seminário diocesano e uma escola de formação docente,
Dom João Antônio se interessou, também, pela criação de uma instituição que
acolhesse, amparasse e educasse meninas órfãs, “desherdadas da sorte e da
fortuna”, como assinalou o cônego Severiano Rocha. Num ambiente em que
“diamantes e impiedades caminhavam juntos”, como afirma Laura de Mello e Souza,
riqueza e miséria, opulência e escassez, proteção e abandono também
caracterizavam a paisagem.
11
Em Igreja, Escola e Comunidade (Souza, 2005) destaco as falas das diversas ex-professoras
entrevistadas em Turmalina, Araçuaí, Minas Novas e Jequitinhonha.
12
Rocha, 1919, pp. 09-11.
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E esse era um dos grandes problemas a serem enfrentados pelas
educadoras, uma contradição brutal entre o ideal e o real, o discurso e a prática, a
intenção e o resultado. A um elevado propósito de cultivar a boa educação, com o
refinamento nos traços culturais e nos gostos individuais, principalmente no que se
refere à educação feminina, contrapunha-se um universo social marcado por
precaríssimas condições materiais e ideais de existência, o que fazia de grande
número dessas mulheres presas fáceis de um mundo de “desordens”, de
devassidão moral e corrupção dos valores mais sagrados ao ideal religioso, como
prostituição, concubinato, aborto, abandono de crianças etc.
Essas contradições estavam presentes na própria concepção do projeto
pedagógico do bispo reformador. Sob o sagrado manto da boa intenção de proteger
as “órfãs desvalidas” escondia-se também o sério problema da segregação social,
reproduzido pela instituição que a deveria combater. As órfãs eram recolhidas em
nome da dedicação e do amor de que teriam sido privadas em casa, mas foram
transformadas em trabalhadoras manuais de cujo trabalho dependeu, por muito
tempo, a possibilidade de as pensionistas cultivarem o espírito. 13 E essa não era
apenas uma questão de diferença de opção, mas de franca desigualdade de
oportunidades educacionais a que estavam submetidas as órfãs.
Questões dessa natureza constituem objeto de estudo e crítica de muitos
pesquisadores dos nossos dias. 14 Na virada do século XIX para o XX, entretanto, os
religiosos satisfaziam-se em prestar assistência às socialmente desvalidas e formar
professoras, sem se preocuparem em questionar a organização da estrutura social.
No entusiasmo da celebração dos cinqüenta anos do Nossa Senhora das Dores, o
cônego Severiano tinha o propósito não de realizar uma crítica aos problemas
enfrentados, mas de engrandecer o pioneirismo das irmãs, dos padres e dos bispos
que por ele trabalharam, elogiar as suas iniciativas e empreendimentos no campo
econômico, fazer uma apologia do seu trabalho pedagógico e social e, sobretudo,
enaltecer o papel que o educandário exercia como entidade que cultivava, regulava
e difundia os princípios morais e os valores do catolicismo. O desfecho do seu texto
é vigoroso no elogio do educandário.
Da resenha que acabo de fazer, depois de bem pesada na fiel balança da
rectidão e da justiça, força é concluir que as mais de cinco mil educandas,
13
Martins e Martins, 1993.
Em Um Toque de Gênero (Muniz, 2003) Diva Muniz analisa exaustivamente esse ideário de
formação pedagógica da mulher e da professora.
14
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precedendo os necessarios conhecimentos, tem o Collegio habilitado, umas a
ganharem a vida honesta e honradamente no magisterio publico ou particular;
outras que a tanto não subiram, a obterem facil collocação em casas de boas
familias, ou se tornarem excellentes esposas e mães exemplares, tendo todas
o espirito e o coração solidamente apparelhados e armados, aquelle com as
luzes da sciencia, este com o broquel da Religião e da virtude, que dia e noite
as defende e as guarda contra as astuciosas investidas e emboscadas do
anjo das trevas, inimigo de todo bem, e amigo de todo mal. 15
Há amplos indicadores que apontam a relevância da participação do Colégio
Nossa Senhora das Dores na formação de um grande número de normalistas que
institucionalizaram a escola na região. E não se trata apenas de reconhecer o
significado quantitativo desse trabalho pedagógico, mas, sobretudo, qualitativo.
Mesmo criticando os rigores aos quais se submetiam no interior do internato, as
entrevistadas reconhecem que o ensino ministrado fez delas profissionais
respeitadas em todos os lugares onde atuaram como professoras. Esse
reconhecimento é comum entre as entrevistadas que se formaram nos outros
colégios então criados.
Colégio Nazareth
Foram Irmãs Franciscanas Penitentes Recoletinas Holandesas quem
fundaram o Colégio Nazareth em Araçuaí, cidade que fica a 330 km de Diamantina,
a meio caminho entre o alto e o baixo Jequitinhonha. 16 Quando elas chegaram à
cidade, em 1926, o Nossa Senhora das Dores já era uma instituição consolidada,
com 60 anos de tradição. Cabia às Franciscanas não apenas criar um novo
educandário, mas torná-lo uma alternativa atraente às alunas que viajavam centenas
e centenas de quilômetros por um diploma de normalista. E, de fato, a memória do
15
Rocha, 1919, p. 41.
A Congregação das Irmãs Franciscanas Penitentes Recoletinas foi fundada em 1623, em
Limburgo, na Bélgica, por Madre Joana de Jesus (1576-1648), cujo lema era “pureza de coração,
pobreza de espírito, caridade mútua e mortificação do corpo”. A Casa Mãe acha-se em Oirschot
(Holanda). No Brasil, foi criado um Noviciado anexo ao Instituto Nossa Senhora do Carmo, em
Barroso, Minas Gerais. “O fim essencial da Congregação é a santificação de seus membros; pois a
Congregação Religiosa deve ser antes de tudo, sobretudo e sempre um cenáculo de santidade.
Porque a santidade é o alicerce! O fim secundário é a educação da juventude, trabalho nos hospitais,
trabalhos domésticos, costuras e diversos outros afazeres.” (Congregação das Irmãs Franciscanas
Penitentes Recoletinas, Brochura publicada em Araçuaí, em 1961.) Dentre as mais de 250
congregações listadas pelo Dicionário Enciclopédico das Religiões, 39 são Franciscanas. Porém,
a Congregação das Irmãs Franciscanas Penitentes Recoletinas não se encontra aí listada. As
primeiras Irmãs a virem para o Brasil foram as que fundaram os Colégios em Araçuaí e Teófilo Otoni.
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Colégio Nazareth é bem mais favorável que a que ficou do Nossa Senhora das
Dores.
A história do Nazareth é, em muitos aspectos, semelhante à do Nossa
Senhora das Dores. Ele também foi fruto da iniciativa de religiosos, que haviam
assumido o comando da diocese de Araçuaí doze anos antes. Sob a justificativa da
necessidade de atender às precárias condições educacionais da região, mas muito
preocupado, também, com a situação de um rebanho católico muito distanciado das
ordenações de Roma, Dom Serafim Gomes Jardim, primeiro bispo da diocese, foi
pessoalmente a Oirschot, na Holanda, tentar contratar algumas religiosas para
trabalhar no nordeste mineiro. Em sua companhia, estava o seu vigário geral, o
franciscano holandês Frei José de Haas, que viria sucedê-lo no comando da
diocese, e que tinha uma irmã na Congregação das Franciscanas de Oirschot.
Desse contato resultou o acordo quanto à partida das seis primeiras religiosas para
a região.
No dia 09 de março de 1926, as Irmãs deixaram a clausura e tomaram o
navio “Flandria” no porto de Amsterdã rumo ao Rio de Janeiro, onde chegaram
dezoito dias depois. Daí partiram em outro barco para Caravelas, no sul da Bahia,
onde pegaram o trem para Teófilo Otoni, indo um pouco além até a estação de
Queixada, onde uns tropeiros as esperavam para conduzi-las até Araçuaí.
Chegaram no seu destino no dia 23 de abril de 1926, um mês e meio depois da
partida de Oirschot. O relato da viagem é um misto de entusiasmo e agonia, de
deslumbramento e decepção, de apreensão e angústia, expressões do primeiro
contato com um mundo inteiramente novo e desconhecido.
Irmã Amália fala da “vida de princesas” que tiveram fora da clausura; da
grandiosidade do mar, “com suas ondas espumantes” e a visão da “redondeza da
terra”; da “doença do mar”, que provocava a “revolta do estômago” e desespero nas
suas colegas, pois “não havia bastante bacia para vomitar”; do encantamento com
as maravilhas do Rio de Janeiro, do impacto da chegada ao sul da Bahia e da
entrada no nordeste mineiro. São suas as palavras que se seguem:
Sábado de Aleluia chegamos em Caravelas. Que pobreza, que casas
tristes!... Parecia que o povo todo estava esperando o navio. Esta vista me
deu uma saudade da Holanda... era demais! Frei José se ocupava das malas
e demorou muito. Sentimos muito, de não poder dizer nada a ninguém. Era já
bem tarde quando fomos ao nosso Hotel, um sobrado. Subimos uma escada
muito alta e íngreme, cheia de buracos feitos pelos ratos. Tudo estava sujo
aos nossos olhos. Um só toilette, onde não era nem possível pisar no chão e
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o vaso não podia usar. Imagine com nossa roupa comprida. Como resolver
essas coisas dificílimas! Com muita dificuldade arranjamos um vaso noturno.
Coitado do Frei José, que com certeza ficou decepcionado com estas Irmãs
Missionárias. 17
Quem faz um passeio a uma terra estranha, onde a língua e os hábitos
diferentes da população caracterizam traços culturais inteiramente desconhecidos,
experimenta a sensação da novidade, encanta-se ou decepciona-se com o que vê,
mas em caso de desconforto sente-se aliviado por se tratar de uma situação
passageira. É diferente, entretanto, a situação de quem deixa definitivamente o seu
universo cultural e é forçado a mudar seus hábitos e adaptar-se ao “exótico”. Quem
deixa o inverno europeu, por exemplo, e experimenta o verão equatorial sujeita-se
ao desconforto de um clima sufocante e impiedoso no trato do corpo. No século XIX,
esse problema vinha acompanhado da dúvida de que fosse possível uma civilização
nos trópicos. Como diz João Camilo de Oliveira Torres, de forma jocosa, em sua
História de Minas Gerais, “a questão dos trópicos” era um sério problema a ser
enfrentado por aqueles que conheciam apenas um tipo de civilização, “aquela de
casas quentes e fechadas, homens de sobrecasaca e cartola, mulheres carregando
toneladas de roupas e afogadas em espartilhos”. 18
Todos os imigrantes nórdicos que vieram para o Brasil tropical certamente
experimentaram essa sensação. Na segunda metade do século XIX, muitos
europeus desarrumaram, no nordeste mineiro, as suas malas cheias de espartilhos,
cartolas, fraques e sobrecasacas, alguns dos quais foram usados para se divertir
com os índios, como descreve muito bem Cléia Weyrauch em Pioneiros Alemães
de Nova Filadélfia. 19 Desde o início do século XX, os irmãos da Ordem dos Frades
Menores ali enfrentavam calor e chuva com seus longos hábitos Franciscanos. Entre
esses imigrantes alguns morreram, vítimas de febres, muitos não resistiram e
voltaram e muitos outros ainda tiveram que conviver com a saúde debilitada.
Para as Irmãs que vieram da Holanda para Araçuaí tudo isso foi sem dúvida
um suplício, inclusive em decorrência dos pesados e sufocantes hábitos que tinham
que usar. Mas havia muito mais e é importante falar das experiências concretas
vividas por esses personagens que justificavam seus sacrifícios em nome da difusão
da fé. Oriundas de uma “classe média” européia do início do século e habituadas à
17
Pequena História da Congregação..., 1995, p. 11.
Torres, 1980, vol. 1, p. 65.
19
Weyrauch, 1997.
18
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clausura, muito distanciadas dos problemas mundanos, a fim de se preservarem do
“espírito corruptor do mundo”, essas Franciscanas parecem ter experimentado, pela
primeira vez, o real significado da opção pelo voto de pobreza. No nordeste mineiro
elas se encantaram com a “hospitalidade brasileira”, mas não puderam se livrar do
desconforto do novo convívio num lugar onde a pobreza era gritante, muitos dos
traços culturais da população eram derivados dessa condição miserável e, para elas,
“tudo era novidade”.
A viagem de trem para Teófilo Otoni foi a aula inaugural que elas tiveram
sobre a vida na região. O cicerone Frei José de Haas ia apontando e explicando
cada coisa que lhes chamava a atenção: “casas, gado, bananeiras, laranjeiras,
jumentos, burros”, a venda de frutas em cada estação, a cinza crepitante que vinha
da caldeira da locomotiva, o leite tirado no meio do pasto e tomado ali mesmo. Tudo
isso marcou profundamente a personagem que, 55 anos depois, registrou por escrito
o que a memória guardou daqueles dias de abril de 1926.
Mais ou menos 11 horas da noite o trem parou em Urucu e resolveram de não
continuar. Frei José ia procurar hospedagem. Estava muito escuro.
Arranjaram para nós casas diferentes. Irmã Guilhermina e eu passamos numa
praça cheia de lama em plena escuridão. Entramos na casa. Lá morava um
casal com uma filha de dois anos, mais ou menos. Os pais já estavam
dormindo, mas cederam sua cama para nós duas, sem contudo trocar lençóis
ou cobertor. Devíamos admirar tamanha generosidade. Sentimos que a cama
ainda estava quente. A nossa generosidade era aceitar essa situação. Bem
cansadas, dormimos logo. 20
No dia seguinte, continuaram viagem cedo, “cada uma com sua história
noturna”. Ficaram em Teófilo Otoni por uns 15 dias, até que as chuvas permitissem
continuar rumo ao destino. Naquela época, o ponto final da linha de trem era
Queixada, uma estação que, partindo do litoral rumo ao interior, ficava pouco depois
de Novo Cruzeiro. De Queixada a Araçuaí, o percurso foi feito a cavalo, uma
surpresa a cada trotada, uma novidade a cada curva, uma aventura inesquecível
para as missionárias. Aprenderam a cavalgar, caindo vez ou outra; encantaram-se
com os vaga-lumes, que não conheciam; perderam-se pelo caminho, em momentos
de ousadia; estranharam a ausência de toilette, quando seus anfitriões faziam do
quintal o banheiro; lamentaram as precárias condições habitacionais e se
assustaram com os percevejos. Mas enfrentaram em pé de igualdade a fama de
20
Pequena História da Congregação..., 1995, p. 13.
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comilões que tinham os mineiros: “Contra o nosso costume holandês, de não deixar
nada no prato, pecamos gravemente.” 21
A chegada de padres e irmãs religiosas a esses povoados do interior era
sempre festejada com muito entusiasmo. São inúmeros os relatos que falam da
presença maciça e do contentamento dos moradores, do foguetório, da banda de
música, dos discursos públicos de boas vindas, o que expressa realmente um gesto
de marcante receptividade com que eram tratados esses religiosos ao se instalarem
nas mais diversas localidades.
No relato de Irmã Amália aparecem cenas da mais profunda admiração e
curiosidade que despertavam por onde passavam. Alguns queriam apenas ver as
Irmãs, outros se prontificavam a ajudá-las, outros, ainda, principalmente pessoas
idosas, beijavam-lhes as mãos e pediam bênçãos, gestos que elas encaravam às
vezes com naturalidade, às vezes com certo incômodo, às vezes simplesmente com
incontido e indisfarçável sorriso de espanto. Essa gente simples sempre
manifestava, diante dos estrangeiros, muito encanto e admiração. Todos esses
gestos em muito contribuíram para que os visitantes dessa região sempre se
referissem à hospitalidade, à generosidade e ao acolhimento com que eram
recebidos pela população.
Pouco tempo depois de chegar a Araçuaí, Irmã Amália, que trabalhou na
região durante 48 anos, já tinha montado suas “adoráveis coleções de cobras,
borboletas e orquídeas”. Em 1981, quando escreveu suas memórias, encerrou-as
elogiando a hospitalidade do povo com quem conviveu. “Como é fácil lidar com o
brasileiro: hospitaleiro, religioso, satisfeito e sabe tratar bem os estrangeiros...”
Escreveu pouco, apenas 16 páginas, deixando a justificativa. “Podia escrever mais,
mas estender tiraria o gosto de o ler.” 22
Esse primeiro grupo de Irmãs chegou a Araçuaí em abril de 1926, “para se
dedicarem nessa cidade à educação e instrução da juventude”. 23 No dia 10 de junho
daquele ano já abriam uma escola mista diurna para crianças de 06 a 15 anos, com
o nome de Casa de Nazareth. Em concorrida solenidade de inauguração, Frei José
de Haas “que incansavelmente lutou durante anos para ter Irmãs em sua paróquia”,
celebrou missa, benzeu as instalações e fez um “eloqüente discurso”, enaltecendo a
21
Pequena História da Congregação ... 1995, p. 16.
Relatório da viagem das seis primeiras Irmãs ... 1981, p. 16.
23
Fundação do Collegio Nazareth ... 1961, p. 75.
22
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“grande significação do novo Colégio Nazareth para a cidade e toda a região”.
Nesse primeiro dia de aulas, além das alunas, outros adultos curiosos ocuparam as
salas querendo ouvir as irmãs. Isso deixou Irmã Amália muito embaraçada, o que
exigiu a interferência de Frei José. Elas sequer falavam a língua local quando
chegaram.
No ano seguinte, começa a história do Internato do Colégio Nazareth, com 19
alunas. Durante vários anos epidemias de varíola, coqueluche e gripe interferiram no
calendário escolar. Isso não impediu, entretanto, que, já em 1928, houvesse festa de
encerramento do ano letivo, com exposição de trabalhos manuais feitos pelas alunas
ao longo do ano, o que atraiu a atenção de grande número de pessoas e se tornou
parte da rotina de fim de ano da escola. As sucessivas exposições desses trabalhos
sempre foram destacadas pelas cronistas do Colégio, e muito boas lembranças
deixaram em várias de suas ex-alunas entrevistadas. Elas se transformaram em
importante espaço de ligação entre o Colégio e a comunidade.
Em pouco tempo o Colégio Nazareth consolidou a sua boa imagem junto à
população. O número de internas e externas aumentou muito já nos primeiros anos
de funcionamento. O projeto arquitetônico do colégio, feito pelas próprias irmãs,
despertou o interesse pela capacidade empreendedora das estrangeiras. Depois de
intensa fiscalização por parte dos agentes do Estado, pelo decreto n0 9.713, de 20
de setembro de 1930, o Colégio Nazareth, com os cursos Primário e Normal, foi
equiparado à Escola Normal do Estado, o que passou a servir, a partir de então,
como fundamental peça publicitária.
Em 1931 foram diplomadas as três primeiras normalistas: Adélia Chalub,
Belarmina Ferreira e Maria Pereira de Sousa. Entre 1931 e 1985 mais de 1.300
normalistas receberam o diploma no Nazareth. Seu objetivo principal era promover a
“educação de meninas, baseada na religião e moral catholica”, cujos maiores
cuidados das Irmãs era “dirigir as inclinações das alumnas para o bem, inspirandolhes o espirito de trabalho, de economia e de ordem.” 24
Colégio São Francisco
Além do Nazareth, em Araçuaí, dois outros colégios religiosos foram fundados
na região, na mesma época. Um deles foi o Colégio Santa Clara, de Itambacuri,
24
Prospecto do Collegio “Nazareth”, 1930.
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cidade fundada a partir de um aldeamento indígena, em 1873. A pedido, e pela
interseção dos freis capuchinhos Serafim de Gorizia e Ângelo Sassoferrato,
fundadores do aldeamento e da cidade, foi aí criada, em 1907, a primeira casa das
Clarissas Franciscanas Missionárias do Santíssimo Sacramento. Nesse mesmo ano,
elas fundaram um colégio para “abrigar crianças e jovens indígenas” e, ao mesmo
tempo, um “internato e externato para as filhas dos colonizadores de Itambacuri e
Teófilo Otoni”. Vinte anos depois, com o lema “Scientia et Virtus”, o Santa Clara foi
equiparado à Escola Normal Modelo. Na sua primeira turma, de oito normalistas,
havia duas alunas de Araçuaí. 25
Outro colégio religioso que grande relevância teve na formação de várias
gerações de estudantes e professoras no nordeste mineiro foi o São Francisco, de
Teófilo Otoni, fundado pelas mesmas Franciscanas que fundaram o Nazareth, em
Araçuaí. Em 1923, havia sido criada na cidade a Ordem III da Penitência de São
Francisco, pelo comissário provincial dos padres holandeses no Brasil, Frei Paulo
Stein. Pouco tempo depois, sob a direção do Frei Dimas de Kok, foi empreendida
uma campanha para a criação de um estabelecimento de ensino secundário para
meninas e moças, que ficasse sob a responsabilidade de uma Congregação
religiosa.
Depois de contatos diversos com outras Congregações religiosas, as Irmãs
Franciscanas Penitentes Recoletinas, de Oirschot, Holanda, se declararam prontas a
entrarem em negociação acerca da fundação da referida escola em Teófilo Otoni.
Porém, não atenderiam imediatamente a convocação, uma vez que já haviam se
comprometido com a fundação do Colégio de Araçuaí. Em 1926, Dom Serafim
Gomes
Jardim,
Bispo
de
Araçuaí,
autorizou
aos
padres
Franciscanos,
nomeadamente ao Frei Dimas, a fundar um colégio feminino em Teófilo Otoni e a
entregá-lo à administração da “Congregação das Irmãs Franciscanas de Oirschot,
uma vez que não houvesse oposição da parte de seus superiores regulares e de
acordo com as prescrições canônicas e Estatutos Diocesanos, e ainda de modo que
a Mitra Diocesana ou a Paróquia de Teófilo Otoni não tivesse a menor
responsabilidade econômica.” 26
Em agosto de 1926, Frei Dimas registrou a declaração de que se
responsabilizaria pela viabilização dos recursos necessários à edificação do Colégio
25
26
Sobre a história do Colégio Santa Clara ver Rodrigues, 1986.
Pequena História da Congregação... p. 25.
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de forma a não onerar em absolutamente nada a Mitra Diocesana. Frei Dimas
faleceu imediatamente depois, mas a negociação já havia definido a vinda de
algumas Irmãs. No dia 10 de março de 1928, o Colégio foi inaugurado, começando a
funcionar com 4 séries do ensino primário e o 10 ano do curso de adaptação. Mesmo
precariamente, começou a funcionar, também, o internato, com 4 alunas.
Em 1934, o Colégio São Francisco teve o seu curso Normal reconhecido pelo
Governo mineiro. O internato funcionou até 1967, quando a ampliação da rede
pública de ensino ampliou também as possibilidades de escolarização na região. Em
dezembro de 1972, o tradicional Colégio São Francisco, depois de 44 anos
ininterruptos de funcionamento, encerrou suas atividades. Na mesma época foram
encerradas as atividades de um outro colégio das Irmãs Clarissas e, em 1980, o
Colégio São José, dos Franciscanos foi entregue ao Estado. 27 Era um fim
melancólico para as instituições de ensino que, durante quase todo o século XX,
foram algumas das poucas oportunidades de escolarização da infância e da
juventude daquela região. Ainda está para ser escrita a história do São Francisco,
assim como está quase que totalmente a descoberto a história da educação da
enorme quantidade de municípios do nordeste mineiro, em muitos dos quais
atuaram as normalistas formadas nesses internatos religiosos.
Conclusão
Os internatos religiosos, de modo geral, tinham como objetivo desenvolver
hábitos de boa conduta, visando formar um modelo ideal de mulher, boa mãe e boa
esposa, ordeira, obediente e disciplinada. Os educandários femininos católicos
assumiam essa atividade com muito vigor, sobretudo porque, à época, a
maternidade e o lar eram concebidos como o espaço próprio da mulher. Mas esses
internatos não se resumiam a isso, naturalmente, o que acabou por revelar o grande
potencial da feminização do magistério como forma de barrar o processo de
laicização da cultura.
Eles formavam as mulheres para o espaço privado da maternidade e do lar,
para ser exemplo de Maria, boa mãe e boa esposa, mas projetavam-nas no espaço
público da educação e da escola. Por conseguinte, foi grande a contribuição
feminina na difusão dos valores religiosos do catolicismo e no enfrentamento das
27
Pequena História da Congregação... p. 27.
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V CONGRESSO DE ENSINO E PESQUISA DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM MINAS GERAIS
matrizes de pensamento rivais. Através da formação das futuras professoras, os
educandários religiosos tinham o objetivo de levar a sua influência muito além do
público que preparava para a tarefa de educar. Como efeitos multiplicadores,
deveriam essas educadoras difundir, nos seus locais de origem, os ideais da boa
educação cristã, tão necessários ao reforço da religiosidade no seio de uma
sociedade que se julgava estar cedendo aos apelos laicizantes do Estado
republicano, que havia cortado seus vínculos com a religião.
Além da contribuição que deram para retirar a influência feminina dos
domínios exclusivos da vida privada, esses internatos contribuíram também para
importante mudança cultural, uma vez que foram as professoras por eles formadas
que ocuparam grande parte dos postos dos educadores que assumiram as escolas
públicas que o Estado passou a implantar ao longo de todo o século XX, não só na
região em foco, mas no estado de Minas e no país. Em resumo, com a feminização
do magistério, as escolas católicas contribuíram para que as mulheres ascendessem
à vida pública; com sua forte influência cultural no mundo da educação escolar,
contribuíram para barrar o processo de laicização da cultura, uma vez que essas
professoras eram também catequistas e missionárias. À missão de ensinar somouse a missão de difundir o catolicismo romano.
Era uma formação orientada pelo modelo de mulher vigente à época, isto é,
sobretudo a partir de 1854, com a instituição do dogma da Imaculada Conceição, a
mulher ideal era a “filha de Maria”. Havia um forte apelo para que as alunas se
filiassem à associação das Filhas de Maria e que as devoções marianas fossem
difundidas fora da escola. Emergia daí um conjunto de referências que deveriam ser
fortalecidas em outras esferas, junto a outros grupos de pessoas e em outras
modalidades de participação. Em qualquer que fosse a instância participativa,
entretanto, emergia uma figura de mulher mais ativa: a professora a quem cabia a
tarefa de ordenar moralmente um mundo hostil e decaído, envolto em superstições e
ignorância religiosa, mergulhado no pecado e na perdição.
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