A lição de Vila Rica para Mato Grosso
Amado de Oliveira Filho
Lá se vão mais de 30 anos que Rubens Rezende Pires chega ao Araguaia com a
Colonizadora que mais tarde emprestou seu nome à Cidade de Vila Rica. O município recebeu
gente de várias localidades do Brasil, no entanto, no início recebeu forte fluxo migratório de Goiás,
Minas Gerais e Estados do Nordeste, inclusive com parte dos assentados mais ao sul pela Fundação
Brasil Central. Disso tudo surgiu uma população, trabalhadora, decidida, gente que faz acontecer.
Hoje conta com uma população em torno de 20 mil habitantes e, segundo o Censo
Agropecuário do IBGE (2006) contava com 1.385 fazendas de gado bovino e um rebanho de
aproximadamente 335 mil cabeças. Gado de qualidade que faz da pecuária a base da economia do
município. O Frigorífico 4 Marcos opera uma unidade no município com capacidade de abate de
700 cabeças/dia, o equivalente a 14% de toda sua capacidade instalada no Estado.
Ocorre que este Frigorífico deve a mais de 130 pecuaristas R$ 12 milhões. Estes não tiveram
dúvidas foram para a rua e se postaram diante da empresa. Uma manifestação que repercutiu em
Cuiabá e que contou com o apoio da população urbana, afinal isto é o caos para aquela Cidade. Esta
é uma crise anunciada.
Vejam que no ano de 2006 Mato Grosso abateu 4,6 milhões de cabeças de bovino, caindo
para 4,4 milhões de cabeças em 2007 e para 3,6 milhões em 2008. Estava dado o recado. Quem
Viu? Quem deveria receber este recado? A redução no abate na ordem de 1,0 milhão de cabeças não
é significativa? Parece que não! No entanto o cenário é negro e 12 mil empregos já foram ceifados.
Conversei bastante com um especialista do Setor, Luiz Carlos Maister. Um amigo que
diferentemente da maioria das empresas frigoríficas detém grande credibilidade em toda a cadeia da
pecuária de corte. Maister tem debatido algumas alternativas e se mostra animado na busca de
soluções, porém, preocupadíssimo com a atenção que o Governo Federal destina ao setor.
Segundo ele é necessário rever a carga tributária imposta e, isto pode ser feito, a indústria de
veículos vai de vento em popa. Para girar a máquina econômica da pecuária é necessário o
estabelecimento de uma linha de crédito com no mínimo 3 anos de carência e com pagamento anual
estabelecido a partir de um percentual do lucro, assim, reduziria algum problema sazonal. Esta
Linha de crédito pode ficar vinculada no Banco, sendo movimentada a partir da nota fiscal emitida
pelo produtor rural e paga diretamente a este.
Uma outra medida moralizadora pode ser uma rigorosa regulamentação para novas plantas e
uma profunda reavaliação das condições das plantas antigas. Isto quer dizer que esta figura de se
abrir no papel uma grande empresa e alugar outra para funcionar deve acabar. Não dá para o Brasil
continuar tendo frigoríficos de papel. Exatamente o que está acontecendo em Confresa, onde o
Frigorífico Independência demite 400 empregados e devolve a planta industrial a seus donos.
Esta regulamentação estabeleceria parâmetros rígidos para se avaliar os Projetos de
viabilidade econômica de todas as indústrias, impondo aos proprietários ou acionistas a
responsabilização patrimonial sobre estes. Enfim, passaríamos todo o setor a limpo e, como já
vimos acontecer com outros setores, ficaria no mercado apenas as empresas com efetiva
credibilidade de toda a cadeia.
O modelo de cadeia que temos espirou-se, como pode sobreviver um setor que somente
pode vender (com raras exceções) a outro setor da mesma cadeia somente a vista? Como pode o
setor primário ter que aceitar deságio que varia entre 2 e 6% por vender somente a vista?
Seguramente precisamos e iremos reverter este jogo. Estamos habilitados a exportar carnes para o
resto do mundo, temos o maior rebanho do Brasil, possuímos as melhores condições sanitárias,
como não reagir? Estão certos os pecuaristas e a população de Vila Rica, não dá mais para esperar
que a solução venha sozinha, precisamos ir buscá-la.
Amado de Oliveira Filho é economista, especialista em mercados de commodities agropecuárias e
direito ambiental – [email protected]
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