A TENTAÇÃO MORA
AO LADO
MAUREEN CHILD
Capítulo Um
– Haverá uma forma feminina para a palavra
voyeur?
Comodamente recostado no jacuzzi do jardim, Griffin King tomou um sorvo de cerveja e
observou como a vizinha entrava na garagem e
voltava a sair com vários sacos de estrume.
Nunca tinha visto uma mulher tão concentrada no seu trabalho. A maioria das mulheres
que ele conhecia não faziam outra coisa que não
fosse estenderem-se numa espreguiçadeira para
receber massagens. Mas Nicole Baxter era diferente.
Tinha-a conhecido um ano antes, quando o
seu primo Rafe se casara com Kate Charles, Rainha da Cozinha e vizinha de Nicole. Griffin sorriu. Kate continuava a levar avante o seu negócio
de pastelaria e, bendita fosse, tinha deixado umas
quantas dúzias de bolachas a Griffin enquanto ele
se alojava com eles.
Apesar de todas as vezes que tinha estado em
casa de Rafe, mal tinha falado com Nicole. O
único que sabia dela era que era divorciada, que
era mãe solteira e que nunca parava de trabalhar. Tal era a sua perseverança que Griffin se
cansava só de olhar para ela.
4
E, no entanto, não conseguia parar de olhar
para ela.
Talvez fosse o fascínio pelo proibido, pela mulher que nunca poderia ser sua. Ou quiçá se sentisse atraído por ela da cabeça aos pés.
Sacudiu a cabeça e tirou os óculos de sol para
deixá-los no rebordo de madeira de sequoia. O
sol brilhava com força, mas o jacuzzi ficava à sombra de um grande olmo que se erguia entre a
casa de Nicole e a casa onde Griffin vivia atualmente.
Rafe e Kate estavam a viajar pela Europa e
Griffin tinha-se oferecido para cuidar da casa.
Griffin tinha posto à venda o seu apartamento da
praia e não suportava a contínua visita de curiosos que não tinham intenção de comprar. Dessa
maneira, hospedando-se em casa de Rafe, podia
respirar fundo e ao mesmo tempo vigiar a casa
do seu primo.
Uma solução vantajosa para todos. Se não
fosse por causa de Nicole. Seguiu-a com o olhar
enquanto ela atravessava o jardim. Tinha o cabelo louro e não muito comprido, à altura dos
ombros, usava-o apanhado atrás das orelhas. Vestia uma t-shirt cor-de-rosa sem mangas e uns calções de ganga meio desfiados que deixavam à
vista umas coxas morenas e bem formadas. As
suas curvas eram um regalo para a vista.
E saber que ela também olhava para ele bastaria para convidá-la para ela vir até ao jacuzzi... se
uma razão de peso não o impedisse.
– Mamã!
Connor, a criança de três anos com grandes
5
olhos azuis e cabelo louro. Griffin não tinha nada
contra as crianças. A família King tinha levado
muito a sério a mensagem bíblica de «cresçam e
multipliquem-se», e Griffin tinha imensos sobrinhos e primos pequenos. O problema era intimar com as mães solteiras. Por muito que admirasse a coragem de uma mulher independente
capaz de levar avante o seu trabalho e cuidar ela
sozinha de um filho, Griffin não queria nada sério. E quando havia crianças pelo meio, surgiam
sempre complicações.
Tinha aprendido isso anos atrás e a sua regra
era inquebrantável: nada de mulheres com filhos.
– O que é que se passa, Connor? – a voz de Nicole flutuou no ar de junho. Por muito ocupada
que estivesse, Griffin jamais tinha detetado o menor tom de impaciência na sua voz.
– Quero cavar – gritou o pequeno, e brandiu
uma pequena pá de plástico como um viking com
uma espada.
Griffin sorriu ao pensar na quantidade de buracos que ele e os seus irmãos tinham cavado nos
canteiros da sua mãe. E quantas horas de castigo
tinham pago pelas rosas e margaridas mortas.
– Vai já, querido – disse-lhe Nicole, e deu uma
rápida vista de olhos a Griffin por cima da cerca.
Ele respondeu-lhe levantando a cerveja. Ela
franziu a testa e voltou-se rapidamente para o seu
filho.
– Deixa a mamã ir buscar os vasos à garagem,
está bem?
– Precisas de ajuda? – ofereceu-se Griffin.
6
Ela voltou a olhar para ele com uma expressão
receosa.
– Não quero interromper o teu banho.
Griffin sorriu. Pelo tom com que lhe tinha dito
aquilo parecia que ele estava a meio de uma orgia.
– Posso sempre voltar a entrar.
– Parece-me bem que sim – murmurou ela. –
Não é necessário, Griffin. Posso resolver isto sozinha.
– Muito bem. Se mudares de ideia, avisa-me.
Estarei aqui.
– Onde estás todos os dias.
– Como? – perguntou-lhe, embora a tivesse
ouvido muito bem.
– Nada – respondeu ela, e dirigiu-se para a garagem com o seu filho colado a ela.
Griffin deu outro trago à cerveja. Sabia o que
Nicole pensava dele e incomodava-o que ela o
visse como um preguiçoso, pois aquelas eram as
primeiras férias que ele tirava nos últimos cinco
anos.
A empresa de segurança que ele e o seu irmão gémeo, Garrett, dirigiam era a mais importante do setor a nível mundial, o que significava
que os irmãos King estavam sempre ocupados.
Ou pelo menos assim tinha sido até Garrett se
ter casado com a princesa Alexis de Cadria e ficar responsável pelas operações europeias, enquanto Griffin continuara a ocupar-se do negócio norte-americano.
Mas até o mais viciado no trabalho precisava
7
de descansar de vez em quando, e Griffin tinha
decidido fazê-lo enquanto uma agência imobiliária se dedicava a mostrar o seu apartamento da
praia.
Ainda não sabia onde se instalaria. Queria ficar nalgum lugar perto da costa, talvez numa
casa como a de Rafe e Kate. O único que sabia
decididamente era que o seu apartamento era
demasiado frio e impessoal. Tinha sido decorado
com muito bom gosto por uma mulher com
quem Griffin estivera a sair a certa altura, mas
nunca chegara a senti-lo como um verdadeiro
lar. E era o momento de fazer uma importante
mudança na sua vida, encorajado pelo casamento de Garrett. Ele não tinha pressa nenhuma
por se casar nem nada que se parecesse, mas sim
procurar uma casa nova. Tirar férias...
Infelizmente, essas férias não estavam a ser tão
idílicas como deveriam ser. Estava apenas há uns
dias a relaxar em casa de Rafe e Kate e já estava
impaciente por fazer qualquer coisa. Ligava para
o escritório tão frequentemente, só para comprovar como ia tudo, que a sua secretária tinha
ameaçado despedir-se se ele não parasse de a incomodar.
Griffin confiava nos seus empregados, mas a
inatividade começava a tirá-lo do sério. Não fora
feito para ficar sentado sem fazer nada. Não sabia como se relaxar e desfrutar do tempo livre.
Garrett tinha apostado com ele quinhentos dólares como as suas férias não durariam nem dez
dias e que em breve estaria de volta ao escritório.
Griffin não estava disposto a perder uma aposta,
8
e para isso teria que passar três semanas sem fazer nada, por muito que lhe custasse.
Que raios faziam as pessoas quando não trabalhavam?
Ele sabia muito bem o que gostaria de fazer,
pensou enquanto percorria com o olhar as curvas de Nicole. Mas não era apenas o filho da vizinha que refreava os seus impulsos. Kate, a mulher de Rafe, tinha-lhe deixado muito claro um
ano antes que Nicole era intocável. Na sua festa
de noivado tinha avisado Griffin e todos os seus
primos que a sua melhor amiga tinha sofrido
muito por culpa do seu ex-marido e que não ia
tolerar que um King a magoasse.
No mundo havia milhões de mulheres disponíveis, pelo que não fora um grande problema
para nenhum dos Kings esquecer-se de Nicole
Baxter. O mau era que Griffin tinha demasiado
tempo livre e os seus pensamentos voavam uma
e outra vez em direção à atraente vizinha.
Também não ajudava o facto de que, enquanto
ele a observava, ela o estivesse a observar a ele. E
ainda por cima com uma expressão de descarado
interesse no rosto. Griffin não era idiota nenhum
e sabia quando uma mulher sentia atração por
ele, e em qualquer outra circunstância não teria
duvidado em aproveitar-se da situação.
Assim, pelo menos, teria algo para fazer...
Mas aquela mulher não parecia estar quieta
nem por um segundo. Quando a viu regressar da
garagem com uma enorme bandeja de plantas,
Griffin franziu a testa. Tinha a certeza de que não
9
aceitaria a sua ajuda, mas não podia ficar de braços cruzados enquanto ela cambaleava sob a pesada bandeja. Pousou a cerveja, saiu do jacuzzi e
atravessou a porta que separava os dois jardins.
– Dá cá isso – disse-lhe, e tirou-lhe a bandeja
sem esperar resposta.
– Não preciso da tua ajuda. Posso fazer isto sozinha.
– Sim, eu sei. És mulher. Não necessitas de um
homem. Vamos fingir que já tivemos esta discussão e que ganhaste tu. Onde queres que eu deixe
isto?
Olhou à sua volta até localizar os sacos de estrume e começou a andar em direção a eles. A
relva era quente e suave sob os seus pés descalços
e a água salpicava-lhe o fato de banho. O sol aquecia-lhe as costas, mas o gélido olhar de Nicole trespassava-o como adagas de gelo. Pousou a bandeja
no chão e voltou-se. Nicole continuava onde ele a
tinha deixado, do outro lado do jardim, agarrando Connor pela mão. O pequeno sorria para
Griffin.
– Não foi assim tão mau, pois não? – disse Griffin.
– O quê?
– Aceitar a ajuda.
– Não... Suponho que tenho de agradecer-te,
embora não te tivesse pedido nem necessitasse
da tua ajuda.
– Não tens de quê – repôs, e voltou-se rindo
para a cerca, para o jacuzzi e para a sua cerveja.
Nicole tinha-lhe deixado muito claro que ele não
era bem-vindo no seu jardim.
10
Quase tinha chegado à porta quando a sua voz
o deteve.
– Griffin, espera.
Ele olhou para ela por cima do ombro.
– Tens razão – admitiu ela. – Precisava de
ajuda... e agradeço-a sinceramente.
– Bem, parece que alguém se levantou da cama
com o pé esquerdo – repôs ele, sorridente.
Ela riu-se, e Griffin viu-se envolvido pelo delicioso som do seu riso suave e melodioso.
– Não, nada disso... mas podemos fazer as pazes.
– Ótimo – apoiou um braço na porta e olhou
brevemente para Connor, que corria em direção
à sua pá de plástico. – E importas-te de me dizer
por que é que precisamos de fazer as pazes?
Um sopro de brisa agitou as madeixas de Nicole, que as afastou dos olhos e as prendeu atrás
das orelhas.
– Talvez «pazes» não seja a palavra adequada –
olhou brevemente para Connor por cima do ombro. – Suponho que a Kate te terá pedido para me
ajudares enquanto ela e o Rafe estão fora e...
– Não.
– A sério? – perguntou ela, não muito convencida.
Griffin olhou para ela fixamente. Os seus cabelos agitados pela brisa. O nariz vermelho pelo
sol. Os seus olhos tão azuis como a abóbada celeste sobre as suas cabeças. Uma forte sensação
atacou-lhe as entranhas. Desejava aquela mulher.
– De acordo, eu admito. A Kate pediu-me para
11
dar uma vista de olhos a todos os vizinhos... o
que te inclui a ti. Mas, para sermos precisos, advertiu-nos a todos para te deixarmos em paz.
– A todos?
– Os primos King.
– Não acredito – uma mistura de assombro e
indignação ardeu nos seus olhos.
– Podes acreditar. Depois de se casar com o
Rafe deixou-nos muito claro que tu eras intocável.
– Genial... – murmurou ela em voz baixa.
Griffin levantou as mãos.
– Eh, não fui eu! Só digo que... não tens que
te preocupar com nada. Não estou disposto a ficar sem bolachas por tentar algo com a amiga da
Kate.
Embora, para ser sincero consigo mesmo, Griffin não se teria importado de ficar sem bolachas
se fosse para provar Nicole... se ela não fosse mãe.
Nicole também não queria ficar sem as bolachas de Kate. As melhores de toda a Califórnia e
certamente do mundo.
Desde que a sua melhor amiga se casara com
Rafe King, tinha havido um contínuo vaivém de
homens ricos, lindíssimos e solteiros na casa do
lado. E todos eles tinham tratado Nicole como
uma irmã mais nova.
Nicole tinha começado a achar que tinha perdido todo o seu encanto feminino. Não procurava uma relação séria, isso já o tinha provado
com o seu ex-marido e o resultado não poderia
12
ter sido pior, mas não se importaria de ter uma
aventura de vez em quando. Que nenhum King
se tivesse fixado nela era, no mínimo, desconcertante.
Mas por fim sabia o motivo.
Entendia os motivos de Kate. A sua amiga só
tentava protegê-la, mas Nicole era uma mulher
adulta que tinha um filho, uma casa e um negócio. Podia cuidar perfeitamente de si mesma.
– Não tinha que fazer isso.
– O quê, preocupar-se com uma amiga? Não
me parece assim tão estranho, sobretudo depois
da forma como o Cordell a tratou.
Nicole lembrava-se muito bem. Kate tinha abjurado de todos os King depois da sua amarga experiência com um deles. Para poder conquistá-la,
Rafe teve que ocultar o seu apelido até eles terem
ficado noivos.
Por muito que lhe incomodasse a intromissão
da sua melhor amiga, Nicole não podia chatear-se
com Kate por ter boas intenções.
Todos os Kings eram uma tentação irresistível
para qualquer mulher, mas Griffin estava num
nível superior. Havia qualquer coisa nele, o seu
sorriso, talvez, ou quiçá a sua atitude natural e
despreocupada, que lhe fazia sentir coisas que
não sentia há muito, muito tempo.
Nicole tinha passado os últimos dias a observá-lo discretamente. Era difícil não reparar
nele, posto que passava quase todo o dia meio nu
naquele maldito jacuzzi. A imagem dos seus negros cabelos, os seus olhos azuis e a pele mo-
13
lhada dos seus marcados abdominais pediam insistentemente que...
– Sofres de amnésia ou uma coisa parecida? –
perguntou-lhe Griffin.
– Hã? O quê? – perfeito, Nicole. Apanhada
em flagrante enquanto o comes com os olhos. –
Não, não, eu estou bem. Ocupada, mais nada.
– Sim, já percebi – passou uma mão pelo peito
e Nicole seguiu o movimento com os olhos.
Caramba! Era como se estivesse hipnotizada
pela testosterona.
– Nunca te sentas a descansar à sombra? – perguntou-lhe ele enquanto se espreguiçava pacholamente. Os músculos do peito ficaram tensos e
as bermudas desceram ligeiramente.
Nicole engoliu em seco e fechou os olhos por
um instante.
– Não tenho tempo.
Ter o seu próprio negócio permitia-lhe dedicar as tardes às tarefas domésticas. Mas as tarefas
acumulavam-se e ocupavam-lhe frequentemente
os fins de semana. E, além disso, havia Connor.
Olhou para o seu precioso filho e sorriu. O mais
importante de tudo era assegurar-se de que o pequeno se sentisse protegido e amado.
Não, não tinha tempo para descansar num jacuzzi, como Griffin King.
– O Connor está a cavar – observou ele.
Ela nem sequer olhou para o seu filho.
– Pois claro. É uma criança e gosta de brincar
com a sua pá.
– És uma boa mãe.
Surpreendida, olhou Griffin nos olhos.
14
– Obrigada. Procuro sê-lo.
– Nota-se.
Os seus olhares mantiveram-se presos um no
outro durante uns longos e ardentes segundos,
até que Nicole virou a cabeça.
– É melhor eu voltar ao trabalho.
Se quiseres desfrutar do resto da história,
podes comprar o livro clicando aqui.
Download

A TENTAÇÃO MORA AO LADO