SOCIEDADE DE EDUCAÇÃO DO VALE DO IPOJUCA – SESVALI
FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA - FAVIP
COORDENAÇÃO DE PSICOLOGIA
POLLYANA FÁTIMA DOS SANTOS LOPES OLIVEIRA
ROBERTA FREITAS DE OLIVEIRA
CÂNCER DE MAMA: UM ESTUDO SOBRE OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGEACOMPANHANTE DA MULHER MASTECTOMIZADA NO CENTRO
ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC)
Caruaru
2010
POLLYANA FÁTIMA DOS SANTOS LOPES OLIVEIRA
ROBERTA FREITAS DE OLIVEIRA
CÂNCER DE MAMA: UM ESTUDO SOBRE OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGEACOMPANHANTE DA MULHER MASTECTOMIZADA NO CENTRO
ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC)
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado à Faculdade do Vale do
Ipojuca-FAVIP, para obtenção de título de
formação em Psicologia.
Orientadora: Ma. Fabiana Josefa do
Nascimento Sousa.
Caruaru
2010
Catalogação na fonte Biblioteca da Faculdade do Vale do Ipojuca, Caruaru/PE
M929p
Oliveira, Pollyana Fátima dos Santos Lopes.
Câncer de mama: um estudo sobre os sentimentos do cônjugeacompanhante da mulher mastectomizada no Centro Oncológico de
Caruaru–PE (CEOC) / Pollyana Fátima dos Santos Lopes Oliveira;
Roberta Freitas de Oliveira. -- Caruaru : FAVIP, 2010.
64 f.
Orientador(a) : Fabiana Josefa do Nascimento Sousa.
Trabalho de Conclusão de Curso (Psicologia) -- Faculdade do
Vale do Ipojuca.
Inclui anexo e apêndice.
1. Mastectomia. 2. Perda do seio. 3. Cônjuge-acompanhante. 4
Relacionamento sexual. I. Oliveira, Roberta Freitas de. II. Título.
CDU 159.9[11.1]
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário: Jadinilson Afonso CRB-4/1367
POLLYANA FÁTIMA DOS SANTOS LOPES OLIVEIRA
ROBERTA FREITAS DE OLIVEIRA
CÂNCER DE MAMA: UM ESTUDO SOBRE OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGEACOMPANHANTE DA MULHER MASTECTOMIZADA NO CENTRO
ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC)
Aprovada em: ____/____/______
BANCA EXAMINADORA
Profª Ma. Fabiana Josefa do Nascimento Sousa (ORIENTADORA)
Valeriana Porto Pastor (AVALIADORA)
Rosália Andrade Cavalcanti (AVALIADORA)
CARUARU/PE, 2010
A
o Criador de todas as coisas e àqueles que
estiveram comigo nessa longa jornada e que mesmo à
distância me deram forças para que eu chegasse até aqui.
Roberta.
A
Ma. Fabiana Nascimento, minha admiração e
respeito pelo seu saber que humildemente foi compartilhado,
pelo seu entusiasmo contagiante e pelo estímulo que me
passava. Meu sincero: obrigada!
Pollyana.
AGRADECIMENTOS
Ao senhor Deus, por me conceder inteligência, discernimento e a graça de ver
o amanhecer de todos os dias.
A Bruno Lopes, meu companheiro, que me incentivou e me deu forças de
continuar quando tudo parecia ser difícil e impossível, me dando forças em todos os
momentos, compartilhando os cuidados da casa, trabalho e filha.
A Sofia, minha filha, que chegou nesse mundo na temporada de maior
correria, a conclusão do meu curso, mas que soube entender as minhas ausências e
soube também me proporcionar momentos felizes com seus lindos sorrisos e
choros.
A minha família, que me estimulava a continuar com muito entusiasmo e em
especial a minha avó e a minha irmã, pois, só com a ajuda dessas duas mulheres é
que pude ingressar no curso e chegar aonde cheguei.
As minhas amigas de sala, que sempre estiveram ao meu lado vivenciando
todos os momentos, não só do curso, mas da minha vida.
A Roberta Freitas, que como uma incomparável amiga, madrinha e irmã foi
paciente comigo e que com seus carões e carinhos me fez crescer como ser
humano.
Ao meu pai, que apesar de não ter participado de minhas conquistas, faz
parte da minha vida e ocupa um lugar especial em meu coração.
Pollyana.
AGRADECIMENTOS
Ao Criador, que me deu a vida e a força para lutar e encarar as dificuldades
impostas nessa jornada.
Aos meus pais, que me ensinaram o caminho certo a ser trilhado.
Ao meu companheiro, amigo e confidente Hallyson, que me incentivou desde
o começo e continua me apoiando diante dos obstáculos.
A minha professora, orientadora e exemplo de profissional e ser humano Ma.
Fabiana Nascimento, que com sua dedicação, carinho e disponibilidade tornou
possível a conclusão desse trabalho e que ao longo do curso muito me ensinou.
A minha companheira de monografia e de curso, e além de tudo amiga
Pollyana, que esteve e estará sempre comigo nesse longo percurso que começou a
ser percorrido.
A todos que de alguma forma contribuíram para a realização desse trabalho e
para minha formação acadêmica.
Roberta.
Não importa onde você parou&
em que momento da vida você cansou&
o que importa é que sempre é possível e
necessário “Recomeçar”.
(Carlos Drummond de Andrade)
RESUMO
O câncer é uma doença que causa medo e dentre vários tipos um dos mais temidos
é o de mama, devido às alterações físicas (tratamentos agressivos como a
mastectomia, por exemplo) e psíquicas (alterações na auto-imagem devido à
mastectomia, depressão, ansiedade) que ele provoca. A família da paciente
mastectomizada é considerada como suporte fundamental, especificamente o
marido, sendo ele quem acompanha a esposa no dia-a-dia e é fonte de apoio
emocional. Diante da mastectomia da esposa, o cônjuge se depara com o corpo
mutilado da mesma. É nesse sentido que faz-se necessário compreender o seio
como o representante simbólico dentro da abordagem psicanalítica, pois é para este
órgão que a pulsão libidinal do bebê converge. O estudo de campo que compõe este
trabalho teve como objetivo identificar quais os sentimentos do cônjugeacompanhante diante da mastectomia da esposa, utilizando como referencial teórico
a definição de câncer de mama e a perspectiva psicanalítica sobre a importância do
seio simbólico para o homem. Como metodologia, foi utilizado o estudo de campo
qualitativo-descritivo, com coleta de dados realizada por meio de entrevistas semiestruturadas com dois casais cujo cônjuge acompanhou a esposa durante o
tratamento do câncer de mama e na mastectomia. Os dados obtidos foram
agrupados para análise e interpretação do discurso a partir de quatro categorias em
relação à esposa mastectomizada: percepção da perda do seio pela mulher,
mastectomia e auto-imagem, percepção do relacionamento sexual, cuidados com o
pós-operatório; e quatro categorias para o cônjuge-acompanhante: apoio no
diagnóstico e participação do cônjuge no tratamento da esposa, sentimentos em
relação ao diagnóstico e mastectomia, o medo da perda do seio e mudanças na
relação sexual após a mastectomia. De acordo com a análise dos dados obtidos
pode-se identificar o componente relativo à sexualidade fortemente atrelado à
mastectomia, bem como as diferentes percepções do significante seio para o marido
e para a esposa mastectomizada, além da importância da presença participante do
marido na enfermidade e tratamento da esposa.
Palavras-chave:
Mastectomia.
Relacionamento sexual.
Perda
do
seio.
Cônjuge-acompanhante.
ABSTRACT
Cancer is a disease that causes fear among many types and one of the most feared
is the breast, due to physical changes (aggressive treatments such as mastectomy,
for example) and properties (changes in self-image due to mastectomy, depression,
anxiety ). The family of the patient mastectomy is considered essential support,
especially her husband it is he who accompanies his wife on the day to day and is a
source of emotional support. Given the wife's mastectomy, the spouse is faced with
the mutilated body of the same. That is why it is necessary to understand the breast
as the symbolic representative within the psychoanalytic approach as it is to this body
that the baby's libidinal drive converges. The field study comprising this study aimed
to identify the feelings of spouse caregivers in the face of his wife's mastectomy,
using as a theoretical definition of breast cancer and psychoanalytic perspective on
the importance of symbolic breast to man. The methodology we used the field study
qualitative and descriptive, with data collection conducted through semi-structured
interviews with two couples whose spouse accompanied his wife during the treatment
of breast cancer and mastectomy. Data were grouped for analysis and interpretation
of speech based on four categories in relation to his wife mastectomies: perception of
loss of the breast by a woman, mastectomy and self-image, perceptions of sexual
relationships, care of the postoperative period, and four categories for spouse
caregivers: support in diagnosis and treatment of spouse participation of the wife,
feelings about the diagnosis and mastectomy, fear of loss of the breast and changes
in sexual intercourse after mastectomy. According to the data analysis can identify
the component on sexuality strongly tied to mastectomy, as well as the different
perceptions within the signifier for the husband and wife for the mastectomy and the
importance of the presence participant in her husband's illness and treatment of his
wife.
Keywords: Mastectomy. Loss of the breast. Spouse caregivers. Sexual relationship.
SUMÁRIO
Introdução.................................................................................................
1
1.
Capítulo I: Aspectos Gerais do Câncer.....................................................
4
1.1
Aspectos Históricos...................................................................................
4
1.2
Definição...................................................................................................
4
1.3
Facilitando o diagnóstico...........................................................................
6
1.4
Antiga crença: câncer pega?....................................................................
9
1.5
Outros fatores que predispõem ao câncer................................................
9
1.6
Câncer, e agora?......................................................................................
10
1.7
Formas de tratamento do câncer..............................................................
11
1.8
Psico-oncologia: uma nova especialidade da oncologia..........................
14
1.9
Estágios psíquicos da enfermidade..........................................................
16
1.9.1
Negação...................................................................................................
16
1.9.2
Revolta......................................................................................................
16
1.9.3
Barganha..................................................................................................
16
1.9.4
Depressão.................................................................................................
17
1.9.5
Aceitação..................................................................................................
17
2.
Capítulo II: câncer de mama e possibilidades de tratamento...................
18
2.1
Tratamentos para o câncer de mama.......................................................
22
2.1.1
Quimioterapia............................................................................................
23
2.1.2
Radioterapia..............................................................................................
23
2.1.3
Hormoneterapia........................................................................................
24
2.1.4
Mastectomia..............................................................................................
24
2.2
Auto-imagem e mastectomia....................................................................
26
3
Capítulo III: família, objeto e ansiedade....................................................
31
3.1
Família e adoecimento..............................................................................
32
3.2
Conjugalidade e câncer de mama............................................................
33
3.3
Mastectomia e sexualidade.......................................................................
36
4
Capítulo IV: o simbolismo do seio.............................................................
37
4.1
O seio simbólico........................................................................................
37
4.2
O simbolismo do seio na teoria de Melanie e Klein e Winnicott...............
37
4.3
O seio e a sexualidade na teoria de Freud ..............................................
39
4.4
Estado de desamparo diante da perda.....................................................
41
5
Capítulo V: análise e discussão dos resultados........................................
43
5.1
Caracterização dos casais entrevistados..................................................
43
5.2
Estudo qualitativo-descritivo.....................................................................
44
5.3
Caracterização do local de pesquisa........................................................
45
5.4
Aspectos éticos do estudo de campo.......................................................
45
5.5
Coleta de dados........................................................................................
46
5.6
Instrumento de coleta de dados................................................................
46
5.7
Análise e interpretação dos dados............................................................
46
5.7.1
A percepção da perda do seio pela mulher..............................................
47
5.7.2
Mastectomia e auto-imagem.....................................................................
48
5.7.3
Percepção do relacionamento sexual.......................................................
49
5.7.4
Cuidados com o pós-operatório................................................................
51
5.7.5
52
5.7.6
O apoio no diagnóstico e participação do cônjuge no tratamento da
esposa.......................................................................................................
Sentimentos em relação ao diagnóstico e mastectomia...........................
5.7.7
O medo da perda do seio..........................................................................
54
5.7.8
Mudanças após a mastectomia: o relacionamento sexual.......................
56
6.
Considerações finais................................................................................
58
Referências...............................................................................................
61
Anexo........................................................................................................
Apêndices.................................................................................................
53
1
INTRODUÇÃO
Dentre as diversas enfermidades consideradas graves, o câncer é uma das
que mais tem levado a pesquisas e ao mesmo tempo gerado temor na sociedade em
geral. É difícil de entender como o câncer se forma e por quais motivos, pois é uma
doença silenciosa, capaz de causar temor em qualquer pessoa pelo simples fato de
pensar que esta doença existe.
O câncer de mama é um subtipo de câncer que tem despertado o interesse
para estudos. Dessa forma, houve a possibilidade de pensar na doença com um
novo olhar, com outros parâmetros e perspectivas. O presente trabalho tem como
ponto chave da pesquisa os companheiros de mulheres que foram mastectomizadas
no CEOC em Caruaru, a fim de entender como acontecia a participação dos
mesmos desde o diagnóstico, até o tratamento e cura.
O trabalho foi desenvolvido com ênfase nos companheiros dessas mulheres
mastectomizadas, pois, segundo Barbosa, Pinheiro e Ximenes (2004) o suporte
familiar na figura de esposo é de suma importância no enfrentamento dessa
enfermidade. Por isso, com base no que foi afirmado, sabendo que o esposo
assume um papel importante na vida da mulher, pois, foi com ele que esta constituiu
uma família, é que se percebeu a importância desse estudo, para que pudesse ser
esclarecido e identificado alguns aspectos: como se processa uma relação marital?
Quais os desejos e anseios que um parceiro espera do outro? Como se relacionam
sexualmente, antes e após o processo de mastectomização? Como o cônjuge
percebe sua mulher após a cirurgia? Quais os sentimentos que este sentiu com a
notícia
de
câncer?
E
que
importância
ele
dá
ao
seio?Diante
desses
questionamentos o presente trabalho foi dividido em cinco capítulos para estudar as
questões citadas.
No primeiro capítulo foram apresentados os aspectos gerais do câncer,
abordando aspectos históricos, definição de câncer e possibilidades de tratamento.
O segundo capítulo definiu o câncer de mama, enfatizando que este é um tipo
de câncer que também carrega em seu diagnóstico o aspecto de temor pela
mutilação ou morte. Por ser também considerada por diversos pesquisadores como
doença multifatorial, aspectos psicológicos não deixam de estar implicados nessa
enfermidade. Gimenes (1994 apud CARVALHO, M.; CARVALHO, V.; GIMENES,
2000) esclarece que o surgimento da psico-oncologia, se deu a partir da atribuição
de importância de fatores psicossociais e qualidade de vida no câncer, e que o
2
surgimento desse conjunto de conhecimentos de forma sistematizada proporciona
assistência integral ao paciente e à família.
Diante de uma enfermidade como o câncer de mama, a família,
especificamente o cônjuge como acompanhante direto das melhoras e pioras, bem
como de todos os procedimentos utilizados para tratamento da companheira,
compartilha essa doença e dentro deste processo de adoecimento surgem
sentimentos não apenas na paciente, mas também em quem a acompanha. Foi com
base nessa informação que o terceiro capítulo abordou a família como participante
do adoecimento de um de seus membros, especificamente o marido e os
sentimentos surgidos diante da enfermidade da esposa, além de abordar alguns
aspectos sobre conjugalidade.
No quarto capítulo os sentimentos do cônjuge foram abordados a partir de
uma perspectiva psicanalítica na compreensão do simbolismo do seio, sendo
utilizados conceitos de teóricos como Freud, Melanie Klein e Winnicott.
O quinto capítulo foi desenvolvido a partir da análise dos dados coletados no
estudo de campo, sendo corroborados teoria e discurso dos participantes
entrevistados.
O objetivo do trabalho foi identificar os sentimentos do cônjuge-acompanhante
diante da mastectomização da esposa, visando constatar se houveram sentimentos
relativos à ansiedade ou medo da perda do seio por parte dos cônjuges, bem como
se a relação sexual do casal foi afetada, de forma que as esposas também foram
entrevistadas para proporcionar uma visão mais concreta do relacionamento
conjugal dos casais, além de observar a alteração da auto-imagem da mulher e sua
influência no relacionamento sexual do casal.
Este trabalho utilizou o estudo de campo de cunho qualitativo-descritivo e por
meio de entrevistas semi-estruturadas foi realizada a coleta de dados e a análise dos
resultados foi feita através de análise de conteúdo. É importante salientar que o
presente trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos da Faculdade do Vale do Ipojuca e autorizada a pesquisa (ver anexo).
Através desse estudo, foi possível uma melhor percepção de como o câncer
de mama é visto pelos olhares dos maridos e que ao contrário do que se pensa e do
que muitas vezes a sociedade apresenta, esses cônjuges se mostram participativos,
tanto no diagnóstico, quanto no tratamento. Vale salientar que essa participação é
de uma parcela dos maridos, pois nem todos comungam da mesma opinião: a de
que são peças fundamentais no processo de tratamento.
3
O presente estudo possibilitou ter um contato mais amplo com casais que
vivem com este drama, identificando que os maridos estão presentes com as
esposas desde o diagnóstico, tomando decisões juntos, buscando o melhor para o
tratamento da doença. Experimentam também sentimentos de medo, ansiedade e
tristeza diante da notícia da mastectomização da esposa.
1
CAPÍTULO I: ASPECTOS GERAIS DO CÂNCER
______________________________________________________
4
1.1 Aspectos Históricos
Acredita-se que o câncer não é uma doença nova, nem uma doença que
sofreu um progresso social. O primeiro osteoma1 encontrado foi a mais de 50
milhões de anos na vértebra de um dinossauro.
De acordo com Beland e Passos (1979, p. 35): “A mais antiga literatura
médica já faz referências a neoplasmas, que foram descritos pelos egípcios em 1200
a.C.”
Hipócrates em seus estudos já mencionava neoplasmas2, contudo esse
conceito foi se modernizando e o que se escuta falar hoje sobre definição do câncer,
data apenas 130 anos. A ampliação desse conceito contou com a participação de
outros dois grandes teóricos: Johannes Muller, que em 1838 fez a 1ª descrição da
natureza celular do câncer e Virchow, que 20 anos mais tarde ampliou a noção,
descrevendo as alterações das células cancerosas.
Após essas descobertas e com a evolução da ciência, conhecem-se hoje
mais de quinhentos agentes químicos carcinogênicos.
1.2 Definição:
Ainda nos dias atuais, existem pessoas com pontos de vista diferentes a
respeito de algumas doenças. Dentro deste contexto está o câncer, por se tratar de
uma doença que causa temor seja na pronúncia da própria palavra, seja por
provocar mutilações no corpo ou por estar associada de uma forma direta à morte.
“Aquela doença”, “doença ruim”, “C.A.”, “doença do demo”, são as inúmeras
denominações que fazem referência ao câncer. Muitas pessoas acreditam que
podem emanar tal doença pelo simples fato de pronunciar a palavra câncer, com
isso intitulam-na de várias maneiras, mesmo que em algum momento da vida
tenham que enfrentá-la (CASTILHO, 2010).
1
De acordo com o Dicionário Cândido de Figueiredo : subs. masc.: osteoma: (do grego osteon) tumor,
composto de tecido ósseo. (Acesso em: www.dicio.com.br/osteoma, em 13/08/2010.
2
De acordo com o dicionário global, Silveira Bueno, Neoplasma (ne.o.plas.ma) s.f. (Med) Neoplasia; Neoplasia
(ne.o pla.si.a) s.f. (Med) Tumor, seja maligno ou benigno; neoplasma.
5
De acordo com Castilho (2010, p. 20): “A primeira coisa a saber sobre o
câncer é que ele é um nome dado a um grupo muito grande e heterogêneo de
doenças. Não existe o ‘câncer’, mas os ‘cânceres’.” Cada tipo de câncer tem suas
particularidades, contudo existe um fator que os torna comum: o crescimento
desordenado das células. Na busca da identificação de como se processa essa
desordem celular, encontra-se a ciência oncológica, que objetiva estudar todos os
aspectos inerentes ao câncer.
Segundo, Yamaguchi (2002, p. 21):
O câncer é uma doença que se origina nos genes de uma única
célula, tornando-a capaz de se proliferar até o ponto de formar
massa tumoral3 no local e a distância. Várias mutações têm que
ocorrer na mesma célula para que ela adquira este fenótipo de
malignidade.
Straub (2005) define o câncer como um conjunto de cerca de cem doenças
que se relacionam entre si, em que células anormais se multiplicam e se espalham
descontroladamente formando uma massa denominada de tumor maligno. O tumor
benigno é constituído apenas por uma massa composta de células que se
multiplicam vagarosamente, sendo muito parecidas com o tecido original e
raramente constituindo risco para a saúde (INCA, 2007).
O que de fato acontece, é que a célula é uma estrutura que vai se adaptando
às condições do ambiente, altera suas atividades às exigências que lhe são feitas e
aos agentes prejudiciais. Neste contexto, vários processos podem acontecer nesta
célula recuperando-a, deixando-a de algum modo alterada ou simplesmente
matando-a. Nesta tentativa de adaptação ou substituição de uma célula doente por
uma célula sadia, é que pode se originar o câncer (CASTILHO, 2010).
Para o referido autor o processo de multiplicação das células ocorre por
razões que nem sempre podem ser detectadas. Se determinadas células de um
órgão demoram uma semana para se multiplicarem e substituírem as células que
morrem regularmente, passam a duplicar-se a cada hora, ocasionando um acúmulo
de células anormais naquele órgão, que pode acontecer em semanas, meses ou
anos. O tumor visível é o resultado final dessas multiplicações (FRANKS, 1990).
3
De acordo com o dicionário global Silveira Bueno, Tumoral (tu.mo.ral) adj. 2g. Que tem caráter de tumor;
Tumor (tu.mor) [ô] s. m. (Bio) 1. Aumento de volume anormal em um órgão ou outra parte do corpo. 2. Massa
formada pela multiplicação anômala e em desordem das células de um tecido.
6
A proliferação inadequada atinge outras células que se tornam anormais no
organismo, por sua vez não obedecem a controles internos e se dividem sem parar.
A divisão descontrolada das células se dá pelo fato de haver danos no DNA. Em
células normais, o próprio DNA detecta e conserta os erros, mas nas células
cancerosas esse mecanismo de reparo não funciona. Castilho (2010, p. 20) afirma
que:
Tal multiplicação desordenada e sem controle leva à produção de um
tumor, que começa a comprimir os tecidos normais ao seu redor,
destruindo-os. As células anormais podem se disseminar para
órgãos vizinhos, por contigüidade, ou distantes pela circulação. As
células tumorais invadem vasos sanguíneos ou linfáticos e são
transportadas para qualquer outro ponto do organismo. Uma vez
implantadas, multiplicam-se e produzem metástases4, que são os
‘filhotes’ da doença principal.
O que se percebe é que esses filhotes podem ter um crescimento tamanho ao
ponto de ficarem maiores que a mãe. Essas metástases provocam as mortes e não
os tumores no início (CASTILHO, 2010).
Porém, mesmo acontecendo essas mudanças não é possível definir uma
célula tumoral em termos absolutos. E, é através desse processo que o câncer pode
ser confundido com outras doenças, dependendo do local onde aparece e de sua
extensão a tecidos vizinhos. O câncer pode provocar os mais variados sintomas
como febre, cansaço, perda de peso, desânimo e falta de apetite. Mas, deve-se dar
maior interesse a perda de apetite e de peso para ficar atento ao atestado de ser
câncer ou não. As manifestações clínicas são diferentes de acordo com o organismo
da pessoa acometida (idade, condições de saúde), do tipo de câncer, da velocidade
do crescimento tumoral, do tamanho do tumor, bem como da detecção do câncer o
mais precocemente possível (CASTILHO, 2010).
1.3 Facilitando o diagnóstico
Um grande número de doenças cursa para quadros semelhantes aos do
câncer, por isso, é de suma importância que vários exames sejam feitos para que
4
De acordo com o dicionário global Silveira Bueno, Metástase (me.tas.ta.se) s.f. (Med) Surgimento de um
segundo foco de tumor ou de inflamação.
7
possa ser detectado e atestado como esta enfermidade. Tudo depende da
classificação do câncer, tecido de origem, aspectos estruturais e morfológicos, bem
como o grau de comprometimento de tecidos vizinhos. Esses aspectos em conjunto
conferem o prognóstico, ou seja, a possibilidade de cura e de resposta ao
tratamento (CASTILHO, 2010).
Yamaguchi (2002) ressalta que quando há suspeita de câncer a biópsia ou
punção é sugerida para retirar parte do tecido para análise. O patologista fará um
estudo citológico (estudo das células) ou do tecido para dizer se o material é
proveniente de um tumor maligno5 ou benigno.
Esses procedimentos de coleta de material para análise tornam-se
fundamentais na confirmação da doença. Quanto mais cedo se detecta o câncer,
melhor são as chances de cura. Isso é apenas uma regra e como toda boa regra,
tem também exceção. Isso pode ocorrer porque o câncer é uma doença que
depende de diversos fatores que condicionam o seu aparecimento, crescimento e
evolução, tornando-se por isso imprevisível e muitas vezes difícil de ser detectado
corretamente (CASTILHO, 2010).
Castilho (2010) afirma ainda que existem muitos casos de câncer que mesmo
descobertos precocemente não respondem de forma satisfatória ao tratamento. Em
contrapartida, existem casos que diagnosticados tardiamente, respondem bem,
podendo até ser curados. De modo geral, pode-se considerar a seguinte regra:
câncer descoberto cedo tem cura, câncer descoberto tarde, mata. Para que essa
regra pudesse de fato ser aplicada, seria necessário que todos os esforços médicos
e educacionais se fizessem presentes, realçando uma Medicina Preventiva e o
esforço para que a sociedade se conscientize, procurando ajuda para detectar
precocemente todas as formas de câncer .
Para que aconteça essa conscientização por parte da sociedade e
posteriormente a aplicação de métodos preventivos, faz-se necessário conhecer os
fatores que podem desencadear o câncer. Eles são bem conhecidos, mas ainda
existem pessoas que relutam em aceitá-los ou simplesmente fingem não acreditar
que tais fatores contribuem para o aparecimento do câncer. O fumo, o sol e o álcool
são esses fatores já conhecidos. Outros fatores também podem contribuir para que o
câncer possa desenvolver-se no organismo de uma pessoa: comidas gordurosas,
5
De acordo com o dicionário global Silveira Bueno, Benigno (be.nig.no) adj. 1. Que não oferece perigo. 2.
Suave; brando; agradável. Maligno (ma.lig.no) adj. Propenso a fazer o mal; nocivo; danoso.
8
alimentos muitos quentes, determinadas infecções crônicas e a presença de
elementos que irritam o organismo como pedras na vesícula (CASTILHO, 2010).
Além dos fatores citados, a genética também desempenha importante papel
como causa primária do surgimento do câncer, pois as causas acima citadas são
fatores desencadeantes, que complementam os fatores genéticos, herdados de
nossos ancestrais (CASTILHO, 2010).
A procura por ajuda médica ao menor sinal perceptível, coletando material
para análise é fundamental. Vale lembrar que após ser feita a análise e detectado o
câncer é que se pode pensar em tratamento, pois para cada tipo de câncer existe
um tratamento adequado, mesmo que ele se desenvolva no mesmo local; o que
acontece é que, em algumas pessoas esta doença se desenvolve de forma
agressiva, de progressão rápida e em outras de forma menos agressiva, de
progressão mais lenta (CASTILHO, 2010).
Contudo, mesmo depois de definido o tipo de tratamento adequado se faz
necessário que o paciente com câncer seja acompanhado podendo haver a
necessidade de serem feitos exames subsidiários para avaliação do estado e da
intensidade da resposta. Alguns desses procedimentos, por alterarem a rotina diária
do paciente, podem causar neste e na família uma ansiedade e impaciência.
“Entretanto deve se salientar os inúmeros benefícios que decorrem do conhecimento
real da situação.” (YAMAGUCHI, 2002, p. 24), pois estes exames não definirão o
quadro geral do paciente, mas serão auxiliares no processo de tratamento.
O que não se recomenda é a leitura antecipada do laudo de exames, pois,
como na maioria das vezes este possui uma linguagem técnica, o desconhecimento
dos mesmos costuma fazer com que a interpretação seja errônea, causando mais
desconforto e preocupação aos que estão em contato direto com o paciente
diagnosticado com câncer. Yamaguchi (2002) afirma que os exames são auxiliares
no diagnóstico e estadiamento da doença, porém o laudo final será dado através do
exame do material coletado pela biópsia, que será feito pelo patologista. Esses
exames subsidiários constituem-se de exames de sangue, idas periódicas ao médico
para check-up, radiografias, ultrassonografias (externas ou intracavitárias), etc
(CASTILHO, 2010).
Embora existam vários meios de diagnosticar o câncer era preciso que
houvesse uma educação melhor, mostrando maneiras mais adequadas e paliativas
de prevenção contra esta doença, pois sabe-se muito, mas este saber se torna
pouco.
9
Castilho (2010) lança esperança quando ressalta que as pesquisas científicas
tem avançado grandemente, fazendo com que muitos procedimentos de tratamento
tenham sido formulados, bem como diversos estudos tem sido realizados sobre a
cura dessa enfermidade.
1.4 Antiga crença: câncer pega?
Mesmo com conhecimento e todos os avanços que a ciência vem fazendo,
existem pessoas que pensam que o câncer é contagioso. Porém, nenhuma forma de
câncer é adquirida com o contato direto com outra pessoa.
Pode parecer claro para algumas pessoas, mas para muitas, mesmo tendo
conhecimento sobre a doença, acreditam que podem pegar câncer pelo simples
aperto de mão ou por sentar ao lado de alguém que tenha histórico da doença. Esse
medo advém do fato de o câncer carregar consigo o estigma da morte, da dor e da
mutilação, fatores estes que muitos temem que aconteçam com seu corpo e sua
saúde. Quando agem dessa forma, deixam fazer perceber que um certo desconforto
está sendo instalado em si próprio. “Esse desconforto infelizmente, é percebido
pelos doentes, que se sentem profundamente magoados e discriminados.”
(CCASTILHO, 2010, p. 25).
Esse tipo de preconceito e ignorância provoca nas pessoas acometidas com
esta doença um sentimento de abandono e sofrimento, porque pessoas que se
encontram próximas terminam se afastando física e socialmente. Neste contexto,
vale salientar que câncer não é contagioso.
1.5 Outros fatores que predispõem ao câncer:
Além dos fatores genéticos, hábitos alimentares e vícios como o tabagismo,
citados anteriormente, vale salientar que a idade e os fatores psicológicos também
devem ser levados em consideração. Castilho (2010, p. 26) mostra que:
O câncer guarda uma relação direta com o envelhecimento- quanto
mais velho o indivíduo, maior a possibilidade de surgir um câncer. [...]
O sistema imunológico do ser humano, que é um sistema de defesas
muito complexo, que defende o organismo contra infecções, como a
AIDS por exemplo, e contra os cânceres, perde eficácia, com o
envelhecimento e dá uns ‘cochilos’. Num desses ‘cochilos’, um grupo
10
de células cancerosas pode se desenvolver e escapar da
perseguição do sistema de defesa.
Se aposta hoje que fatores psicológicos também predispõem as pessoas a
desenvolverem câncer. A depressão é vista como o principal, podendo desarranjar o
sistema imunológico, deixando-o menos eficaz, propiciando o aparecimento do
câncer. Certas personalidades introvertidas, que não conseguem expressar
sentimentos como a raiva e a mágoa podem desenvolver câncer (CASTILHO, 2010).
1.6 Câncer, e agora?
Seja por qual fator o câncer tenha sido desencadeado, quando este é
diagnosticado e atestado, precisa-se articular com segurança o melhor meio de
tratamento, bem como precisa ser tratado com acompanhamento médico, mesmo
que as esperanças de vida sejam quase nulas. Essa tarefa nem sempre é fácil,
requer estudos e decisões que só poderão ser tomadas com a participação do
médico, paciente e familiares (CASTILHO, 2010).
Existem pessoas que nem sempre precisam de tratamento em absoluto. São
aquelas em que o câncer evolui de forma muito lenta e sua idade é muito avançada.
Outras pessoas que também não precisam de tratamento, são aquelas em que o
câncer se encontra em estado avançado e qualquer tentativa de tratamento
compreenderia numa agressividade que o corpo não suportaria, colocando a vida do
paciente em risco. O que importa é que algumas pessoas devem ser acompanhadas
sem qualquer tratamento, procurando preservar a qualidade de vida, sem
comprometer o tempo de vida. Quando atestado o câncer, deve-se procurar
confirmar o diagnóstico, estadiar a doença e discutir uma proposta de tratamento
(CASTILHO, 2010).
Como mencionado anteriormente, esse processo deve ser cauteloso e contar
com a participação não apenas do médico que apresentará as possíveis formas de
tratamento, mas também do paciente e de familiares. Isto se deve porque o
tratamento do câncer permite várias formas de intervenções terapêuticas
(CASTILHO, 2010). As alternativas terapêuticas são inúmeras para cada tipo de
câncer. Cada caso é um caso, porque cada organismo é único e o tratamento
precisa se adequar a cada paciente. Os tratamentos oferecidos compreendem na
maioria dos casos: cirurgia, radioterapia, quimioterapia e imunoterapia. Esses três
11
últimos são tratamentos adicionais à cirurgia e tem como finalidade matar as células
cancerosas não só do órgão no qual a doença está instalada, mas também das suas
metástases.
1.7 Formas de tratamento do câncer:
A cirurgia, método muitas vezes adotado para tentar estacionar a
multiplicação das células cancerosas, necessita da presença de um cirurgião
oncológico especialista em determinado tipo de câncer, pois, será através de seu
conhecimento que este saberá que tipo de comportamento pode esperar daquele
tumor em particular, facilitando para que a cirurgia proceda adequadamente
(CASTILHO, 2010). De acordo com Straub (2005) Esse procedimento tem cinco
finalidades diferentes, que se encaixam especificamente em cada caso:
• Cirurgia diagnóstica: a biópsia é um exemplo dessa cirurgia. Este
procedimento é utilizado para a retirada de amostra de tecido para exame
laboratorial, com o objetivo de confirmar o diagnóstico e especificar o tipo de
câncer.
• Cirurgia preventiva ou profilática: é utilizada para remover um crescimento
que pode se tornar um tumor maligno em caso de não ser tratado. Este
método é usado em condições pré-cancerosas, bem como em casos de
problemas hereditários que predispõem ao desenvolvimento de câncer.
• Cirurgia de extensão: procedimento utilizado para determinar a extensão ou
dimensão do câncer. A labaroscopia
6
e a torascopia7 são exemplos desse
método.
• Cirurgia curativa: considerada como tratamento primário, essa cirurgia
consiste na retirada do tumor localizado, visando à remoção de todo o tecido
canceroso.
• Cirurgia restauradora ou reconstrutiva: a exemplo da reconstrução dos seios
após a mastectomia, essa cirurgia é utilizada para reconstruir aparência ou
função de um órgão afetado pelo câncer.
6
Método no qual se insere um tudo no abdome através de um pequeno corte, com o objetivo de examinar o
conteúdo e remover amostras de tecido (STRAUB, 2005).
7
Procedimento semelhante à labaroscopia, sendo utilizado para enxergar dentro do peito do paciente.
(STRAUB, 2005).
12
O procedimento cirúrgico por mais que seja necessário em determinado caso
precisa ser discutido com o paciente e uma equipe multidisciplinar habituada a
trabalhar em conjunto e que conheça as condutas habituadas em casos
semelhantes. Essa decisão envolve muitas participações, inclusive dos familiares
por trazer modificações no cotidiano do paciente com câncer. Essa participação
deve ser sempre enfatizada para que a melhor decisão possa ser tomada, pois
algumas terapêuticas podem ser mutiladoras ou interferirem nos atributos sexuais e
isso precisa ser discutido antes da cirurgia (CASTILHO, 2010).
Chegado a um consenso de haver o procedimento cirúrgico e tendo
executado tal procedimento, passa-se então para as etapas seguintes que são os
tratamentos adicionais. Para cada tipo de câncer existe um tratamento adicional
adequado e o paciente tem o direito de conhecer como se processa cada um.
Alguns cânceres não necessariamente passam por um procedimento cirúrgico, eles
podem apenas ser tratados com a radioterapia, quimioterapia e imunoterapia; esses
três procedimentos passam a ser considerados adicionais quando a doença se
encontra em um estágio avançado e o primeiro oferecido foi a cirurgia (CASTILHO,
2010).
Segundo Yamaguchi (2002, p. 26):
A radioterapia é considerada uma terapêutica local e atinge mais
especificamente a área delimitada. Porém os tecidos vizinhos podem
ser comprometidos e os pacientes podem apresentar sintomas
colaterais devido ao comprometimento de órgãos situados no trajeto
da radiação.
Straub (2005) complementa a definição acima citando que a radioterapia usa
equipamentos especiais para combater as células cancerosas afetando o tumor e as
áreas adjacentes, para evitar que estas células cresçam, se multipliquem e se
espalhem. Esse tratamento é feito por um especialista: o radioterapeuta. Quem
decide se há necessidade de tal procedimento é ele, caso haja, não há necessidade
de o paciente ficar internado, pois as sessões são rápidas (STRAUB, 2005).
A radioterapia queima as células cancerosas e as células boas igualmente, só
que aquelas por serem mais frágeis morrem mais facilmente sob o efeito da radiação
(CASTILHO, 2010). Uma vantagem da radioterapia é que ela diminui o tamanho do
tumor, aliviando a pressão, hemorragias ou dores para os pacientes (INCA, 2007).
13
A quimioterapia é um tratamento de longo alcance dentro do corpo. Isso
porque através das drogas utilizadas o medicamento percorre a corrente sanguínea
com o objetivo de atingir todas as áreas do corpo. Esse tratamento é útil em casos
de cura, impedimento de metástases, redução de crescimento do tumor, morte de
células cancerosas que tenham se espalhado pelo corpo ou ainda para aliviar os
sintomas causados pelo câncer. São utilizados vários medicamentos anticâncer que
agem mais satisfatoriamente em combinação, porque os fármacos com diferentes
ações matam mais células cancerosas, reduzindo também as chances de resistência
a uma droga específica por parte do organismo (STRAUB, 2005).
A quimioterapia também pode ser primária, isto é, administrada antes de um
procedimento cirúrgico, como também, adjunta na tentativa de prevenir uma recaída
ou metástases. Esse procedimento é administrado com drogas através da boca,
injeções intramusculares e endovenosas (YAMAGUCHI, 2002).
O grande risco da quimioterapia é a morte de várias células, tanto
cancerosas, quanto sadias, prejudicando o organismo. Isso porque as células que
estão se proliferando (bulbo capilar, medula óssea, mucosas, entre outras)
juntamente com as células cancerígenas são atingidas pela quimioterapia
(YAMAGUCHI, 2002). É por esse motivo que muitas pessoas que são submetidas a
esse tipo de tratamento tem queda de cabelo e outras reações. O tratamento
quimioterápico é planejado e acompanhado por um especialista, que é o oncologista
clínico; este irá definir as doses de medicamentos que são adaptadas ao tamanho
do paciente e à sua sensibilidade de resposta ao tratamento (YAMAGUCHI, 2002).
Castilho (2010, p. 11) descreve de forma simples esse procedimento:
O tratamento é feito por ciclos, isto é, uma grande dose de remédios
e depois um período de algumas semanas sem remédios para que
os tecidos normais se recuperem; depois outro ciclo, outro e assim
por diante. Cada ciclo dura três semanas, em média. Depois dos
ciclos principais, outros quimioterápicos podem ser usados de modo
contínuo ou a intervalos maiores.
A imunoterapia é um subtipo da quimioterapia e consiste no uso de
medicamentos para aumentar a capacidade do sistema imunológico de atacar
seletivamente as células cancerosas, recuperando as defesas deste sistema uma
vez que, desenvolvido o câncer, este se encontra comprometido (STRAUB, 2005).
São células responsáveis pela defesa do organismo: macrófagos, linfócitos, entre
outras (YAMAGUCHI, 2002). Entretanto esta evolução é totalmente individual, pois
14
existe a possibilidade de o paciente com câncer se defender da doença através do
sistema imunológico. Não havendo esta possibilidade a imunoterapia surge como
tratamento que visa ao aumento de defesas do organismo (YAMAGUCHI, 2002).
1.8 Psico-oncologia: uma nova especialidade da Oncologia
A Psico-oncologia é uma especialidade da área da Oncologia que surgiu nos
últimos vinte anos através do progresso da medicina, do avanço nas técnicas
psicológicas e os novos conhecimentos construídos, além da mudança na opinião
pública acerca do câncer e suas causas (CARVALHO, M.; CARVALHO, V.;
GIMENES, 2000).
Um aspecto destacado sobre a importância da Psico-oncologia é que o
conhecimento e a definição de câncer sofreram mudanças através dos anos. Há
algum tempo atrás essa enfermidade era compreendida como sinônimo de morte;
atualmente é sabido que o câncer é provavelmente uma doença multifatorial, ou
seja, para que a doença se manifeste a operação conjunta de fatores como a
predisposição genética, alimentação inadequada e fatores ambientais de risco
parecem ser necessários (CARVALHO, M.; CARVALHO, V; GIMENES, 2000).
Holland (1990 apud CARVALHO, M.; CARVALHO, C.; GIMENES, 2000)
define que a Psico-oncologia objetiva estudar as duas dimensões psicológicas do
câncer: o impacto dessa enfermidade na função psicológica do paciente, da família e
dos cuidadores e o papel das variáveis psicológicas e comportamentais no risco do
câncer, bem como na sobrevivência a este.
No Brasil a Psico-oncologia se desenvolveu a partir de modelos de práticas
de países como os Estados Unidos, sendo que a importância dada aos fatores
psicossociais na prevenção, reabilitação e qualidade de vida em pacientes em fase
terminal necessitou que esta nova especialidade fosse sistematizada como um
conjunto de conhecimentos, de tal forma que pudesse dar suporte na assistência
integral ao paciente oncológico e sua família, bem como à formação de profissionais
da área de saúde atuantes na área da Oncologia (CARVALHO, M.; CARVALHO, C.;
GIMENES, 2000).
A partir da necessidade de organização das diretrizes da Psico-oncologia
aconteceu no Brasil no ano de 1989, presidido pelo Dr. Luiz Pedro Pizzatto, o I
Encontro de psico-oncologia, reunindo aproximadamente cento e cinqüenta
pessoas, dentre elas profissionais e estudantes da área da saúde, bem como
15
pessoas envolvidas na atenção ao paciente oncológico e à sua família (CARVALHO,
M.; CARVALHO, C.; GIMENES, 2000). Nesse primeiro encontro foram abordados
temas como a multidisciplinaridade, a formação do câncer e os diversos fatores
psicossociais de diversos tipos de carcinoma (PIZZATTO, 1989 apud CARVALHO,
M.; CARVALHO, C.; GIMENES, 2000). Esse primeiro encontro contribuiu de forma
importante para que a Psico-oncologia fosse introduzida no Brasil como área de
estudo e intervenção que precisava ser organizada a partir da experiência e do olhar
dos profissionais da saúde com diferentes formações (CARVALHO, M.; CARVALHO,
C.; GIMENES, 2000).
As decisões relacionadas ao nome dessa nova área de pesquisa e atuação
(que continuou sendo Psico-oncologia), bem como a discussão sobre a fundação da
Sociedade Brasileira de Psico-oncologia – SBPO (que foi adiada para o III encontro)
foram temas do II Encontro de Psico-oncologia, que aconteceu em Curitiba, no ano
de 1992. Em 1994 o III Encontro contou com a participação de quatrocentas e
cinqüenta pessoas, fato este que impulsionou a nomenclatura do evento: III
Encontro e I Congresso de Psico-oncologia. Também durante a preparação deste
evento foi produzido o livro “Introdução à Psico-oncologia”, sob a organização da
professora-doutora Maria Margarida M. J. de Carvalho, lançado em 1994 e
considerado a primeira referência da língua portuguesa que abordou temas
fundamentais em Psico-oncologia (CARVALHO, M.; CARVALHO, C.; GIMENES,
2000).
Após esses eventos uma definição formal de Psico-oncologia para orientar
pesquisas e intervenções na área foi proposta pela professora-doutora Maria da
Glória Gimenes: a Psico-oncologia é a área de interface entre a Psicologia e a
Oncologia que utiliza conhecimento educacional, profissional e metodológico para
serem aplicados na assistência ao paciente oncológico, aos seus familiares e aos
profissionais cuidadores, bem como na pesquisa e estudo sobre variáveis
psicológicas e sociais no que se refere ao câncer. Além disso, esse conhecimento é
aplicado também na organização do serviço de atendimento psico-oncológico e na
formação de profissionais da saúde envolvidos no cuidado das diversas etapas
dessa enfermidade (CARVALHO, M.; CARVALHO, C.; GIMENES, 2000).
16
1.9 Estágios psíquicos da enfermidade:
Inicialmente, pode-se dizer que a técnica de tratamento oferecida pelo psicooncologista vai ser direcionada em detrimento do paciente e em seguida estendida a
seus familiares e amigos. Essa observação consiste na premissa de que todo
paciente que tem uma enfermidade diagnosticada, como um câncer, por exemplo,
sofre um grande choque emocional e passa por diferentes fases que são, segundo
Elizabeth Kübler- Ross: negação, revolta, barganha, depressão e aceitação, não
necessariamente nesta ordem (CASTILHO, 2010).
Em cada uma dessas fases, o paciente com câncer se comporta de maneiras
diferentes em relação à sua doença. Diante da ameaça de morte iminente causada
pelas doenças terminais como o câncer, é natural que o ser humano aumente suas
defesas psicológicas como forma de tentar ter o domínio da situação (KÜBLERROSS, 1998).
1.9.1 Negação:
A primeira defesa encontrada nos pacientes é a negação da doença. É uma
primeira reação de choque, sendo temporária, da qual o paciente se recupera
gradualmente. A necessidade da negação surge na maioria dos pacientes, sendo
mais freqüente no começo da doença (KÜBLER-ROSS, 1998).
1.9.2 Revolta:
A negação segue seu curso evoluindo para uma segunda defesa chamada de
raiva. Este é um sentimento que se projeta em diversas direções e no ambiente,
tornando por vezes difícil a convivência do paciente com familiares e cuidadores. O
fato é que a raiva tem motivos fortes para se manifestar: as atividades diárias do
paciente são interrompidas, os sonhos podem não ter mais chances de serem
concretizados (KÜBLER-ROSS, 1998).
1.9.3 Barganha:
A terceira defesa é a barganha, que é a tentativa de acordo do paciente com
a morte e com Deus. O paciente promete se comportar e seguir à risca o tratamento
17
em troca da cura da doença. É uma tentativa de adiamento da morte (KÜBLERROSS, 1998).
1.9.4 Depressão:
A depressão surge como a quarta defesa psicológica. Ocorre quando o
paciente não pode mais negar a doença, quando se depara com mais
procedimentos médicos e novos sintomas surgindo a cada momento. A revolta cede
lugar ao sentimento de perda que possui muitos significados (perda da beleza, perda
do amor, perda da vida). Essa depressão do final da doença é chamada de
preparatória, como instrumento que facilita a aceitação por parte do paciente da
situação que lhe é colocada (KÜBLER-ROSS, 1998).
1.9.5 Aceitação:
Por fim, o paciente que puder elaborar bem psiquicamente essas defesas
atingirá um estado em que não mais sentirá depressão, nem raiva. Ele terá a
oportunidade de externar seus sentimentos, suas dúvidas, seus medos. Essa é a
fase da aceitação, em que a luta cessa, o repouso se aproxima e o paciente está
cansado e deseja não mais resistir à morte (KÜBLER-ROSS, 1998).
Vale salientar que esses estágios são de extrema significação na elaboração
da morte, porque cada um deles consiste em uma preparação, como um caminho a
ser seguido até chegar ao ponto final (KÜBLER-ROSS, 1998).
No que diz respeito ao câncer, a pessoa acometida por esta doença,
necessita não apenas de tratamento médico, mas da participação de outros
especialistas, bem como o apoio dos familiares, amigos e da religião.
CAPÍTULO
II:
CÂNCER
DE
MAMA
E
POSSIBILIDADES
TRATAMENTO
_______________________________________________________
DE
18
O câncer de mama é um dos mais temidos tipos de câncer pelas mulheres,
devido à sua alta freqüência e aos efeitos físicos (mutilação pela mastectomia,
efeitos colaterais dos tratamentos como alopecia) e psicológicos (afetação da autoimagem, depressão, ansiedade, medo da rejeição) que ele causa, bem como a
percepção da auto-imagem e a vida sexual das mulheres acometidas por essa
enfermidade (OLIVEIRA, 2008). Além disso, é uma enfermidade que envolve fatores
físicos, sociais e emocionais, comprometendo uma parte do corpo feminino
carregada de significados múltiplos, tanto para a mulher quanto para o seu
companheiro.
O câncer de mama é um dos tipos de câncer que mais acomete mulheres,
sendo o segundo tipo mais freqüente no mundo. No Brasil, as taxas de mortalidade
por esse tipo de câncer em mulheres são elevadas, devido principalmente à
detecção tardia da doença. Estima-se no Brasil cerca de 49.240 casos nesse ano de
2010 (INCA, 2010). Oliveira (2008, p.1) complementa a informação enfatizando que
no país:
[...] o câncer de mama é o que mais causa morte entre as mulheres.
Anualmente, são registradas por volta de 10 mil mortes decorrentes
desse tipo de câncer. Ele é principal a atingir a população feminina,
sendo responsável por cerca de 40 mil novos casos ao ano.
Gomes (1987, apud ANDRADE e DUARTE, 2003) afirma que o câncer de
mama, também conhecido como carcinoma 8 mamário, origina-se de multiplicações
desordenadas de células, desencadeando tumores ou neoplasias malignas que
podem provocar metástase. Ele aparece como nódulos e pelo auto-exame das
mamas pode ser detectado pela mulher.
Vários fatores podem ser considerados de risco para o desenvolvimento do
câncer de mama, dentre eles, Lima e Matão (2007) destacam: hereditariedade,
obesidade, menarca precoce, não-lactação, dentre outros. Rocha (2005) explica
esses fatores de risco: em relação à hereditariedade, a história de câncer de mama
em parentes de primeiro grau, especialmente mãe e irmãs, aumenta o risco da
doença de duas a 2,5 vezes, enquanto que se houver história da doença e parentes
de segundo e terceiro grau, o risco é de 1,5 a duas vezes aumentado. O risco de
8
O Mini-Dicionário Aurélio (2001, p. 232) define o carcinoma como “câncer formado por células epiteliais”, ou
seja, células teciduais.
19
maior ocorrência de câncer de mama em obesas é também um fator importante,
principalmente na pós-menopausa. A não-lactação ainda não foi ratificada como
fator de risco, porém é sabido que a lactação inibe a função ovariana, o que pode
permitir a redução de incidência de câncer de mama. Ainda de acordo com Rocha
(2005), quanto mais cedo a primeira menstruação chegar e mais tarde a menopausa
vier, aumentam as chances de ocorrência de câncer de mama.
O câncer de mama é uma enfermidade complexa, que envolve diversos
fatores desde o diagnóstico até o tratamento, conforme afirma Corbellini (2001 apud
LOPES, SHIMO e VIEIRA, 2007). O câncer de mama possui três etapas que
perpassam em grau crescente: a primeira envolve o recebimento do diagnóstico, a
segunda abarca a realização de um tratamento agressivo e a terceira é a aceitação
do corpo marcado por uma nova imagem, que precisa ser aceita.
Receber o diagnóstico de câncer de mama pode ser compreendido como
sentença de morte, pois essa enfermidade carrega em seu bojo essa crença, além
de que o diagnóstico de câncer de mama altera uma condição de saúde
anteriormente estabelecida. Tratamentos como quimioterapia e radioterapia são
considerados agressivos porque têm efeitos colaterais como alopecia (queda de
cabelos), ânsia de vômito, etc. Em relação a auto-imagem a mastectomia é um
tratamento que está profundamente implicado nesse aspecto, pois significa retirar
uma parte do corpo da mulher carregado de feminilidade e sensualidade: a mama.
(CORBELLINI, 2001 apud LOPES, SHIMO e VIEIRA, 2007).
Sabe-se que o câncer de mama origina-se de uma desordem celular que
ocorre nos genes dessa célula. Detalhadamente Rocha (2005, ps. 234-235)
especifica como acontece a formação de massa tumoral na mama:
O sistema de revestimento ductal, constituído normalmente por uma
ou duas camadas de células, inicialmente prolifera por estímulo
hormonal, aumentando o número de células acima da membrana
basal. A esse achado denominamos hiperplasia epitelial, encontrada
em vários graus de severidade. Na maior parte das vezes, esta
alteração pára neste momento, sem representar riscos futuros. Em
alguns casos, porém, os estímulos de iniciação tumoral modificam o
padrão celular [...] e com o progredir da lesão, evoluindo para os
carcinomas intraductais, verdadeiros precursores morfológicos do
carcinoma invasor. Por mecanismos diversos (hormonais,
enzimáticos, fatores de crescimento, angiogênese etc.), o tumor
progride, rompe a membrana basal dos ductos e invade o estroma
mamário, podendo permear e embolizar os vasos sangüíneos e
linfáticos do sistema de circulação da mama. [...] no conteúdo acima
há incertezas diversas, inclusive se todos os tumores passam
20
necessariamente por todas essas etapas. Sabe-se, porém, que o
processo de multiplicação celular ocorre de forma bastante lenta,
conferindo à doença um caráter insidioso.
Esse caráter insidioso ou traiçoeiro do câncer de mama faz com que esta
enfermidade se desenvolva, muitas vezes, de forma silenciosa, conforme assevera
Buchalla (2004, p. 156):
[..] o tumor de mama é traiçoeiro. Além de ter vários tipos, ele pode
ser muito rápido na sua expansão pelo corpo. Há casos em que
bastam dois dias para que células cancerosas recém-formadas
saiam dos ductos mamários. Quando gera metástase, o câncer de
mama atinge preferencialmente ossos, pulmão ou fígado. Nessa
hipótese, falar em cura é praticamente impossível. Mas, mesmo
diante desse prognóstico de pesadelo, os tratamentos podem
garantir uma boa sobrevida a paciente.
Quando o carcinoma se torna invasor, ele entrará por vias linfáticas ou
sanguíneas, se espalhando regionalmente, como na cadeia axilar, por exemplo.
Andrade e Duarte (2003) apontam que o local do corpo em que o câncer se instala é
que definirá o tipo de câncer. O carcinoma é encontrado em pele, mucosas e
glândulas e pode ser: não-invasivo, que de acordo com Rocha (2005) são
carcinomas in situ e correspondem à doença local; ou invasivo que é um carcinoma
infiltrante e considerado invasor de áreas adjacentes.
O câncer de mama pode ser detectado pelo toque, bem como apresentar
sintomas como alterações na pele que recobre a mama, secreções no mamilo,
caroço ou nódulos palpáveis na axila (INCA, 2010). É importante salientar que o
auto-exame das mamas realizado pela mulher periodicamente pode identificar
precocemente alterações nas mamas, pois o diagnóstico, em muitos casos, é
realizado com massas já palpáveis.
O diagnóstico não deve descartar aspectos diferenciais da história clínica da
paciente, que, segundo Rocha (2005) podem ser: a queixa principal da paciente ou
motivo da consulta, se há casos de câncer de mama ou outro tipo de câncer na
família, se há fatores de risco em sua rotina diária (fumo, consumo de álcool), etc.
Rocha (2005) enfatiza ainda que para realizar o diagnóstico, os médicos
dispõem de diversos instrumentos, dentre os quais o exame do toque (avaliação das
mamas), mamografia (exame radiológico da mama em aparelho específico), ultra-
21
sonografia (mostra imagem das mamas e identifica o volume do tumor), Doppler
(mede velocidade do fluxo sanguíneo no tumor), ressonância magnética (exame
não-invasivo que pode ser útil na identificação de metástases da doença),
cintilografia (também utilizado para rastreamento de metástases, só que à distância),
tomografia computadorizada (caracterização de metástases), raio x simples
(utilizado para identificar lesões ósseas ou pulmonares causadas pelo tumor
mamário) e biópsia (coleta feita por meio de punções do material da lesão no seio
para análise e confirmação do diagnóstico).
Gomes (1997 apud ANDRADE e DUARTE, 2003) ressalta que o diagnóstico
do câncer dependerá do grau de comprometimento da área atingida, prognóstico e
tipo de tratamento que será indicado para cada caso. Oliveira (2008) destaca que a
mamografia é um dos principais exames de detecção de câncer de mama e que é
utilizada em associação com a ultrassonografia, em casos de nódulos palpáveis.
Por carregar consigo o aspecto de morte iminente ou mutilação, assim como
os demais tipos de câncer, o diagnóstico de carcinoma mamário é visto como
ameaça à paciente e a sua família, trazendo em seu bojo seqüelas físicas, sociais e
psicológicas para a paciente e seus familiares. “O câncer de mama carrega consigo
a desestruturação da mulher e de sua família, pois traz a incerteza da vida, da cura e
da integridade física” (ALMEIDA et. al., 2001 apud LOPES, SHIMO e VIEIRA, 2007,
p.314).
É importante salientar que os aspectos emocionais estão presentes em todas
as fases da enfermidade, conforme apontam Silva e Zago (2001 apud LOPES,
SHIMO e VIEIRA, 2007, p.312): “as experiências emocionais vividas particularmente
influenciam em todo este processo da doença: desde a aceitação, até o tratamento,
bem como na qualidade e intensidade da dor”. Esses aspectos estão presentes
também na dinâmica familiar da paciente portadora de câncer de mama, em especial
na relação marital, por ser essa uma doença que afeta diversos aspectos da vida
conjugal, que envolve a aceitação da enfermidade por parte do companheiro, bem
como a demanda de seu suporte emocional, as mudanças rotineiras que a doença
carrega, o relacionamento sexual que muitas vezes é afetado pela doença e pela
mutilação da mama.
O efeito que o diagnóstico de câncer de mama carrega é sentido não só pela
paciente, mas também pela sua família, tendo em vista que esta é um sistema
interligado, com cada um dos membros influenciando diretamente o outro. Desta
22
forma, o papel familiar nesse momento é fundamental no suporte à paciente. Além
disso, conforme assevera Costa e Silva (2009) essa enfermidade, por ser crônica,
acarreta estresse e sentimentos variados, não somente para a paciente, mas
também para a sua família, principalmente nos mais próximos, como o cônjuge, pois
é um momento de ameaça à integridade física e psicológica da mulher, e de reajuste
da sua rotina diária e dos papéis por ela desempenhados.
É necessário considerar qual o tipo e a duração do tratamento, o tipo de
cirurgia, bem como a qualidade de vida do casal para avaliar as influências que o
diagnóstico de câncer de mama exercerá na realidade familiar da mulher (COSTA e
SILVA, 2009). O impacto do diagnóstico será sentido por todos os que constituem o
seio familiar, mas é na relação conjugal que ele será profundamente vivenciado em
toda sua complexidade, revelando-se ao longo do tratamento. Isso porque é com o
marido que na maioria das vezes a mulher mastectomizada convive após a cirurgia.
É ele o membro familiar mais provável de estar ao seu lado durante esse processo
de adaptação física, psíquica e social, o que não desmerece o fato de que também o
marido precisa se adaptar da mesma maneira que sua esposa.
Outro aspecto a ser salientado é que o impacto causado pelo diagnóstico de
câncer de mama é em parte impulsionado pelo medo do desconhecido. A mulher
teme por sua vida, também por seu corpo. Sua família, especificamente o marido,
teme pela vida e integridade física da esposa (BERVIAN e GIRARDON-PERLINI,
2006).
2.1 Tratamentos para o câncer de mama
Os avanços científicos tem permitido que o diagnóstico de câncer de mama
não implique necessariamente em morte. Existem alguns tratamentos direcionados
ao câncer de mama, que podem ser aplicados isoladamente ou em conjunto, dentre
esses, destacam-se a quimioterapia, a radioterapia, a hormonioterapia e as cirurgias
conservadoras e não-conservadoras (mastectomia). Rocha (2005) afirma que o
tratamento do câncer de mama possui duas finalidades: controle local da doença e
controle sistêmico, objetivando oferecer qualidade de vida às pacientes, com altos
índices de intervalo livre da doença e baixas taxas de mortalidade.
23
2.1.1 Quimioterapia
A quimioterapia consiste no tratamento de câncer em que são utilizadas
diversas drogas no combate e prevenção, visando à diminuição da proliferação
celular. Yamaguchi (2002, p. 27) afirma que:
O que ocorre é que, além das células cancerígenas, outras células
que estão se proliferando rapidamente também tem o seu
crescimento paralisado. Assim, células do bulbo capilar, da medula
óssea e das mucosas, entre outras, podem se comprometer. Mas
isso só ocorre com determinados tipos de drogas, e o medo
generalizado de que todos os pacientes em tratamento
quimioterápico vão ter os mesmos sintomas não se justifica.
De acordo com Rocha (2005) este é um tratamento que objetiva controlar e
tratar o surgimento de metástases à distância. A quimioterapia é o principal
tratamento no combate ao câncer e é auxiliar após cirurgias conservadoras da
mama ou nas cirurgias radicais em que a segurança total do controle da doença não
é garantida, devido à extensão do câncer (ROCHA, 2005). Oliveira (2008) enfatiza
que em relação à maioria dos casos, a aplicação de medicamentos é feita a cada
três ou quatro semanas, em um período médio de seis meses.
2.1.2 Radioterapia
Yamaguchi (2002) afirma que a radioterapia é um procedimento de
tratamento que atinge a área delimitada, mas que tecidos vizinhos podem ser
atingidos, fazendo com que o paciente apresente sintomas colaterais por causa do
comprometimento de órgãos atingidos na radiação. É indicada principalmente no
auxílio do controle loco-regional do câncer de mama (ROCHA, 2005). A radioterapia
é um procedimento feito através de aplicações de radiações parecidas com raios x
sobre a região da mama afetada, antes ou após a cirurgia (OLIVEIRA, 2008).
Segundo Yamaguchi (2002):
Alguns pacientes referem-se a náuseas e cansaço no período de
radioterapia, entretanto, esses são sintomas de relativo e fácil
24
manejo. Quando a área irradiada é o cérebro, ocorre a perda dos
cabelos, que em geral voltam a crescer após alguns meses.
Alterações como essas, de auto-imagem, precisam ser esclarecidas
e geralmente uma ponderação entre riscos e benefício consegue a
aderência do paciente ao tratamento (p. 26).
Isso implica em dizer que o tratamento de radioterapia acarreta alterações da
auto-imagem que devem ser explicadas a paciente de forma que a mesma possa
aderir ao tratamento.
2.1.3 Hormonioterapia
A hormonioterapia é um tratamento utilizado para alguns tumores que tem
seu surgimento relacionado à ação de certos hormônios femininos. A técnica
consiste em utilizar medicamento anti-hormonal (anti-estrogênico) via oral, de uma
dois comprimidos por dia, por no mínimo cinco anos. É um tratamento eficiente para
determinadas formas de tumor da mama e não apresenta nenhum efeito colateral
grave, sendo as reações a ele extremamente raras. Para tumores que crescem
devido à ação de hormônios pode ser indicada pelo médico a retirada dos ovários
para diminuir a produção hormonal e melhorar a eficácia do tratamento (OLIVEIRA,
2008).
Deve-se salientar também que esses tratamentos trazem geralmente
desconforto às pacientes, sejam eles físicos (vômitos, dor de cabeça, queda de
cabelos) ou emocionais (impacto da mastectomia, por exemplo), embora não se
indique a generalização, pois existem mulheres que não sofrem queda de cabelo
após a quimioterapia, por exemplo. Esses fatores também são importantes, tendo
em vista que alguns desses efeitos colaterais (como a queda de cabelo) contribuem
para afetar a auto-imagem da mulher (YAMAGUCHI, 2002).
2.1.4 Mastectomia
De acordo com Oliveira (2008) também constituem tratamento para o câncer
de mama as cirurgias conservadoras e não-conservadoras. São exemplos das
primeiras a tumorectomia (extração do tumor, do tecido circundante e de uma
margem de tecido saudável), a setorectomia (extração do tumor e uma pequena
25
região de margem de segurança) e a quadrantectomia (retirada de um quadrante
com pele do seio).
Dentre os tratamentos citados anteriormente, que são de ordem generalizada
para diversos tipos de câncer e também chamados de conservadores, a
mastectomia é o tratamento primário e não-conservador para o câncer de mama,
embora atualmente seja cada vez mais substituída por cirurgias mais simples que
minimizam a mutilação e permitem a reconstrução da mama (WANDERLEY, 2002).
Essas cirurgias são chamadas por Rocha (2005) de conservadoras e são indicadas
para tumores pequenos, desde que possa haver segurança oncológica aliada a
resultados estéticos satisfatórios.
Segundo Andrade e Duarte (2003) a mastectomia é um procedimento
cirúrgico que começou a ser utilizado no final do século XIX pelo médico-cirurgião
Hasteld, que descreveu e publicou o uso da mastectomia total como a cura para o
câncer. Esta técnica consiste na retirada total da mama afetada, mas observa-se
que é um procedimento agressivo e traumático para a mulher, pois o seio está
intimamente vinculado à estética e imagem corporal. Por esse motivo, atualmente,
os médicos têm recomendado a mastectomia apenas para os casos de tumores
avançados.
Para Rocha (2005) a mastectomia total, também conhecida como técnica de
Hasteld, consiste na retirada da mama, incluindo músculos dos peitorais maior e
menor, bem como o esvaziamento axilar e que é técnica em desuso nos dias atuais.
Atualmente são utilizadas as mastectomias radicais modificadas que são a técnica
de Patey (preservação do músculo peitoral maior na cirurgia) e a técnica de Madden
(preservação dos músculos peitorais maiores e menores na cirurgia) são
empregadas no lugar da técnica de Hasteld. São indicadas para tumores infiltrantes
com volumes que não permitem cirurgia conservadora.
Técnicas modernas tem sido utilizadas atualmente na cirurgia de câncer de
mama. Uma delas é a técnica de linfonodo sentinela, que consiste na identificação
de gânglios que realmente devem ser retirados das axilas para análise. Isso porque
quando o tumor cresce para se enraizar em outros órgãos, ele tende a invadir
primeiro os gânglios das axilas. O uso dessa técnica permite que apenas os gânglios
suspeitos de estarem comprometidos sejam retirados. Se eles não estiverem
contaminados, implica em dizer que os demais também não estão, e serão
preservados. Esse é um avanço na proteção à integridade física da mulher, porque a
26
exime de danos físicos comprometedores como o buraco na axila deixado pela
cirurgia, além de dores e inchaços (BUCHALLA, 2004). Segundo Oliveira (2008), o
linfonodo é o primeiro a drenar as pequenas metástases do tumor primário.
Oliveira (2008) aponta que quando a paciente que realiza a mastectomia
apresenta prognóstico satisfatório e boas condições clínicas a cirurgia de
reconstrução da mama pode ser indicada, sendo realizada no momento da
mastectomia ou mais tardiamente. Esse autor esclarece ainda que dentre as
técnicas de reconstrução mamária três são mais conhecidas: a reconstrução
utilizando retalhos de musculatura abdominal, a reconstrução com expansor tecidual
e a reconstrução com retalhos de musculatura das costas.
A primeira dessas técnicas consiste em retirar tecido abdominal inferior e
preencher o volume mamário e musculatura abdominal para irrigação vascular da
área. A reconstrução utilizando expansor tecidual consiste em colocar por baixo do
músculo peitoral um expansor semelhante a uma prótese vazia, que receberá soro
fisiológico periodicamente até ficar cheio. A terceira técnica é útil quando o volume
mamário não for muito grande. Retira-se um pedaço da parede do tórax (costas)
juntamente com o músculo dorsal, sendo algumas vezes necessário o auxílio de
próteses para fazer a reconstrução mamária.
A cirurgia reconstrutora da mama é um direito da mulher garantido pela lei n°
9.797/1999, que deve ser oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Após o
ano de 2001, foi garantido pela lei n° 10.223 que os convênios médicos também
devem oferecer a cirurgia de reconstrução das mamas às suas usuárias (OLIVEIRA,
2008).
2.2 Auto-imagem e mastectomia
A beleza da mulher é um aspecto valorizado desde a antigüidade. Os efeitos
dessa beleza acompanharam épocas importantes da história, desde a derrubada de
reinos pela rainha Cleópatra no Egito, perpassando por Eva e a tentação de Adão ao
se encantar pela beleza da companheira e comer o fruto proibido, chegando a
Virgem Maria, que introduz a beleza feminina não mais como símbolo de luxúria e
sim como representante da pureza e da devoção da mulher (MACEDO, 1998;
NOVAES, 2003; ARAÚJO, 2004 apud COSTA e SILOS, 2009).
27
Novaes (2003 apud COSTA e SILOS, 2009) aponta que o conceito de beleza
feminina, além de enfrentar a ambigüidade que lhe é conferida pelas idéias de
pureza e promiscuidade, carrega em seu bojo o atributo da aceitação social. A
mulher de beleza socialmente aceita é aquela que deve se manter bela e jovem, e
qualquer desvio de caráter que ela possua é deixado em segundo plano em função
da sua beleza. Castilho (2001 apud COSTA e SILOS, 2009, p.106) complementa
enfatizando que “[...] do nascimento à morte, nossa aparência física é parte
importante do que somos, tanto para os outros quanto para nós mesmos.”
Helman (2003) define imagem do corpo, ou imagem corporal, como aquela
cuja formação é influenciada pelo olhar da sociedade sobre esse corpo, aspectos
culturais e a família em que o sujeito está inserido. Castilho (2001 apud COSTA e
SILOS, 2009) completa essa afirmação pontuando que boa parte da insatisfação
feminina com o corpo tem origem na exigência e estimulação da sociedade, que
prioriza a conservação da imagem corporal perfeita, de acordo com os moldes por
ela ditados. As conseqüências disso são visíveis: baixa autoestima, sentimentos de
rejeição e inadequação, entre outros. Costa e Silos (2009) conferem à imagem
corporal negativa ou alterada o desencadeamento de transtornos, em especial se
essa alteração for por causa de uma mutilação. Além disso, o modo como a mulher
observa sua imagem corporal após a mastectomia terá influência significante em sua
adaptação à nova vida, bem como influenciará também o modo como seu
companheiro assimilará a sua nova imagem, havendo repercussão também na vida
sexual do casal.
Embora a técnica empregada na mastectomia tenha evoluído, essa é uma
cirurgia mutiladora que deixa marcas não somente físicas, como psicológicas e
sociais. Wanderley (2002, p. 95) afirma sobre isso:
Quando a mama, símbolo corpóreo carregado de sensualidade, é
danificada, a auto-imagem pode alterar-se, acarretando à paciente
sentimentos de inferioridade e medo de ser rejeitada. Quanto maior a
importância que a mulher confere às mamas, tanto maior o
sentimento de perda após a cirurgia.
Rodin (1982 apud COSTA e SILOS, 2009) afirma que uma mutilação deixa o
ser humano feio, fora dos padrões, necessitando ser reintegrado a si e ao mundo e
se essa mutilação no corpo da mulher for no seio, símbolo específico de
28
sensualidade, erotismo e maternidade, os sentimentos de rejeição e insegurança
podem ser aumentados. Essa rejeição pode vir tanto dela quanto de seu
companheiro, que também está implicado nas conseqüências da cirurgia mutiladora.
Oliveira (2008, p. 12) complementa afirmando que “[...] a mama, como órgão de
‘contato e atração’, é também um símbolo extremamente narcisista. Na nossa
cultura e também em outras, a mama sempre esteve associada ao símbolo de
identidade corpórea feminina e ao sentimento de auto-estima”, ou seja, a cirurgia de
mastectomia torna-se mais difícil de ser aceita e adaptável a vida da mulher
principalmente pelo valor atribuído ao seio.
Os
seios
representam
para
a mulher
a feminilidade,
maternidade,
sensualidade, sendo assim, a iminência de uma possível mastectomia pode trazer
sentimentos de medo, ansiedade e perda para a mulher e para o seu marido. Sobre
esse aspecto, Ferreira (2001 apud BERVIAN e GIRARDON-PERLINI, 2006, p.122)
assevera que:
A resposta à mutilação é individual e pode estar relacionada a fatores
como idade, auto-admiração, estado emocional e situação sócioeconômica. Como em qualquer mutilação, a mastectomia requer,
além de cuidados próprios da cirurgia, apoio emocional, objetivando
uma melhor compreensão, interação, adaptação e aceitação da autoimagem.
Um aspecto importante sobre as implicações da cirurgia de mastectomia total
ou parcial na relação conjugal é a influência desse tipo de tratamento na relação
sexual. É importante ressaltar que a mastectomia, afeta um órgão enraizado de
simbologia sexual não só para a mulher, como também para o seu parceiro sexual.
O corpo da mulher, em particular o seio, é carregado de sexualidade, é
símbolo de excitação para o homem e de feminilidade para a mulher. Quando a
mulher tem sua mama ou parte dela retirada, é provável que sua auto-imagem seja
afetada e, conseqüentemente, seu relacionamento com o companheiro também.
Isso propicia dificuldades na comunicação, relacionamento com os mais próximos e
relacionamento sexual, fazendo com que a mulher se afaste, inclusive pelo medo da
rejeição. Wanderley (2002) afirma que os efeitos da mastectomia no relacionamento
sexual produzem alterações significativas, em especial porque as pacientes evitam
as relações sexuais e tentam adiar a rejeição que supõem que seus companheiros
terão por elas. Oliveira (2008) assevera que é natural durante o tratamento a
29
diminuição do desejo sexual, que pode ser causada por insegurança, depressão,
medo e até por efeitos dos medicamentos.
Murat (1984 apud BIFFI e MAMEDE, 2004) afirma que um dos aspectos
relevantes que influenciam o distanciamento do casal e o comprometimento sexual
após a mastectomia é que o homem assimila o impacto emocional da cirurgia antes
e logo após a operação, já a mulher sofre ainda o impacto até um ano após a
cirurgia. Isso é compreensível, tendo em vista que a mulher é a primeira afetada
diretamente pela mutilação, enquanto que o homem é afetado de maneira
secundária, porém não menos importante.
Outro fator importante no comprometimento sexual após a mastectomia é a
estrutura anterior da relação conjugal. Wanderley (2002) afirma que a situação
emocional de ambos os cônjuges antes da cirurgia de mastectomia, bem como a
qualidade da relação sexual afetam diretamente os reflexos da operação sobre a
vida do casal. Biffi e Mamede (2004) apontam que se já havia um conflito ou uma
comunicação precária entre o casal, incluindo uma vida sexual insatisfatória, esses
fatores permanecerão ativos após a cirurgia de mastectomia e dificultarão uma boa
adaptação do casal à situação apresentada.
É importante que se estabeleça uma boa comunicação e a identificação de
problemas passados, para que haja uma melhor adaptação do casal ao novo corpo
da mulher e às novas formas de amar e se relacionar sexualmente. Cichelli (2000
apud BIFFI e MAMEDE, 2004) afirma que é o ato de estar junto para ajudar e ser
ajudado que contribui para que surjam os esforços provenientes do casal no
enfrentamento das adversidades. Biffi e Mamede (2004) complementam afirmando
ser de grande importância que o parceiro esteja apto a oferecer afeto, pois dessa
forma a paciente poderá se sentir acolhida e compreendida pelo mesmo. O homem
precisa entender quais os sentimentos que são despertados em si diante de uma
mastectomia. Ele precisa estar ciente disso conhecendo a si mesmo, para poder
auxiliar a sua esposa.
É na fase de reabilitação da mastectomia que o marido é peça fundamental de
suporte e cuidados paliativos, através de um estabelecimento de confiança e bom
vínculo afetivo. Isso ocorrerá se por parte dele houver uma boa adaptação à
mastectomia e seus efeitos (BIFFI e MAMEDE, 2004).
Outro aspecto importante acerca das conseqüências da mastectomia na vida da
paciente e seu companheiro são as mudanças na rotina familiar no período pós-
30
cirurgia. A mulher se vê diante de uma impossibilidade temporária de cumprir seus
papéis de esposa, mãe e parceira sexual e de acordo com Biffi e Mamede (2004) é
importante o suporte dado pelo seu parceiro sexual no ajuste dela à sua nova
situação. Este suporte tenderá a refletir no ajuste dele também.
18
CAPÍTULO III: FAMÍLIA, OBJETO E ANSIEDADE
______________________________________________________
31
A estrutura familiar passou por diversas modificações em seu funcionamento,
que implicaram no estabelecimento de modificação de papéis sociais de cada
membro e a formação da denominada família moderna (ÀRIES, 1978). Ela possui
diversos e singulares significados, porque para cada pessoa ela é representada de
uma forma diferente, bem como acompanha as modificações temporais de cada um
de nós: temos a família da infância, da adolescência, da adultidade e da velhice.
Cada uma delas ocupa espaço de importância atribuído pelo sujeito e traz consigo a
função básica de preservação de integridade física e emocional dos seus membros,
com conseqüente preservação do grupo em geral (SOUZA, 1985). Essa função
refere-se uma troca recíproca de investimento afetivo (PASSOS, 2005).
Souza (1985) classifica a família como um sistema vivo, porque ela é formada
por membros que se integram compondo o todo, ou seja, a analogia feita pela autora
se refere ao fato de que qualquer acontecimento ou comportamento de um membro
familiar, exercerá influência direta no funcionamento familiar. Souza (1985) também
se refere à família como um sistema aberto, porque ele depende de interação e
trocas com o meio no qual está inserido, isto é, com a comunidade. WalrondSkynner (1972 apud SOUZA, 1985, p.61s.) relembra a definição de sistema:
Sistema é um conjunto de objetos com relações entre eles e seus
atributos. Os objetos são as partes que compõem o sistema, seus
atributos são as prioridades dos objetos, e é através de suas
relações que o sistema se mantém integrado.
Souza (1985) refere-se às fronteiras que o sistema familiar possui, definindoas como delimitações que possibilitam a separação entre subsistemas (indivíduo,
família, etc.). Ao mesmo tempo em que delimitam os sistemas, as fronteiras
protegem o seu interior de ações desordenadas do ambiente, bem como mediam
trocas entre o sistema e o meio externo, através de uma permeabilidade equilibrada.
No contexto familiar, essa analogia funciona da seguinte forma: existem sistemas
familiares abertos às trocas entre seus membros e destes com a comunidade
(permeabilidade necessária) e sistemas fechados, que não permitem essas trocas.
Esse autor complementa o seu raciocínio com a seguinte afirmação: “[...]
dependendo
do
grau,
essa
impermeabilidade
poderá
ocasionar
não
só
funcionamentos inadequados, como a própria destruição do sistema (p. 67)”. Isso
porque as trocas entre os membros de uma família e a comunidade são importantes
32
e necessárias ao bom funcionamento familiar, porque o ser humano não vive
isolado.
Segundo Souza (1985, p. 68):
Os níveis de interação e coesão grupais se mostram muito baixos.
Um exemplo são as famílias altamente carentes do ponto de vista
econômico, em que a excessiva permeabilidade das fronteiras intrasistêmicas as impede de proporcionar um mínimo de privacidade a
seus membros de quem não são ‘continentes’.
Se as fronteiras que protegem o sistema familiar e seus membros forem
demasiadamente permeáveis, não há individualização dos membros e do meio
externo (SOUZA,1985).
3.1 Família e adoecimento
Na grande maioria das famílias, vivenciar novos acontecimentos pode causar
uma desestruturação na sua dinâmica, pois, esta é considerada um sistema vivo da
qual as partes integrantes dependem umas das outras. No caso do câncer, essa
desestruturação é ainda mais severa, porque esta enfermidade carrega consigo o
estigma da morte. Muitas vezes a família não se encontra preparada para vivenciar e
enfrentar o sofrimento do familiar acometido por essa enfermidade, necessitando de
apoio e orientação quanto à doença e ao paciente (COBERLLINE, 2001 apud
BERVIAN E GIRARDON-PERLINI, 2006).
Em relação ao câncer de mama Simontom (1990 apud BIFFI, 2003) esclarece
que é importante a família participar da doença da paciente, mas que esta, por ser
uma importante rede de suporte, deve levar em consideração o seu bem-estar,
porque o diagnóstico de câncer de mama carrega consigo estresse para todos os
membros da família, principalmente quando ocorrem as mudanças na rotina diária
da família. O afeto da família permite que a paciente adquira certa estabilidade
emocional para lutar contra a doença (BERVIAN E GIRARDON-PERLINI, 2006).
GIMENES e QUEIROZ (1997 apud BIFFI, 2003, p. 23) complementam a afirmativa
com a seguinte observação: “a rede de suporte para a mulher precisa ser, também,
alvo de intervenção e deve receber apoio dos profissionais para saber lidar com o
contexto estressante gerado pelo diagnóstico de câncer e por seus tratamentos.”
33
Efetivamente em relação ao câncer de mama é necessário apontar que na
função de mãe a mulher passa de cuidadora a ser cuidada, havendo uma inversão
de papéis que precisa ser observada e elaborada pelo sistema familiar, pois são
exigidos cuidados com o período de tratamento, cuidados com o pós-cirurgia, se a
mulher for submetida à mastectomia, que abrangem os cuidados básicos como
banho, alimentação, vestir-se, etc. A mulher responsável pelos cuidados da casa e
dos filhos, passa a depender do marido para realizar essas atividades e as demais
atividades básicas citadas (BERVIAN E GIRARDON-PERLINI, 2006).
O apoio familiar à paciente com câncer de mama refere-se também às
mudanças que ocorrem com a mulher, principalmente as mudanças em relação à
imagem corporal com a ocorrência de mastectomia (BERVIAN E GIRARDONPERLINI, 2006).
3.2 Conjugalidade e câncer de mama
A conjugalidade vem se transformando através dos tempos porque o ideal de
sujeito ainda é um elemento em construção. O amor ainda considerado um
importante elemento formador e sustentador da conjugalidade, vem sendo um fator
de busca cada vez mais difícil de ser alcançada (FÉRES-CARNEIRO e
MAGALHÃES, 2005).
O eu moderno está embasado na compreensão de sujeito autônomo, sendo
que a conseqüência disso reside no fato de o amor ser utilizado para dar sentido à
própria existência desse indivíduo, conforme pontuam Féres-Carneiro e Magalhães
(2005, p.112):
A relação amorosa inclui a esperança do reasseguramento do eu a
partir do outro, nas trocas intersubjetivas. Nela, mais do que em
qualquer outra relação, o sujeito ganha um tipo de certeza que
pacifica a inquietude da construção de si, mesmo que sem a garantia
de amanhã.
Atualmente a sociedade se defronta com a quantidade crescente de
dissoluções matrimoniais. Os sujeitos tem considerado essa hipótese, mesmo
quando
o
sentimento
MAGALHÃES, 2005).
é
predominante
na
relação
(FÉRES-CARNEIRO
e
34
O início de uma família caracteriza-se pela busca de um parceiro que atenda
aos anseios do outro. Porém, várias são as hipóteses que são consideradas
fundamentais na busca de um parceiro.
Segundo Costa e Katz (1992, p.25):
[...] a busca de um cônjuge está ligada à satisfação sexual, ao desejo
de ser atendido e admirado, ao temor de envelhecer sozinho ou
mesmo à obtenção de valores materiais e prestígio social.
De acordo com Féres-Carneiro e Magalhães (2005) a literatura psicanalítica
relativa às relações amorosas afirma que a conjugalidade tem origem na trama
inconsciente familiar de cada um. Isso porque é na relação familiar que o passado e
o presente se misturam e são transmitidos aos filhos, associados ao que se espera
do futuro. As fantasias, receios e expectativas individuais se entrelaçam aos mitos
familiares.
A busca pelo parceiro reedita histórias passadas vividas na infância com os
pais, os mitos familiares. A conjugalidade dos pais, dessa forma, refletirá no
desenvolvimento afetivo e sexual dos filhos ao estarem diante da relação conjugal
(FÉRES-CARNEIRO e MAGALHÃES, 2005).
Encontrar o parceiro conjugal possibilita a elaboração de conflitos infantis
vividos na relação edípica do sujeito com os pais. Passado e presente se entrelaçam
na busca pelo outro (FÉRES-CARNEIRO e MAGALHÃES, 2005). Essa busca,
quando positiva, concretiza-se na união de um casal e da família definitivamente
formada. Nessa visão, o casal que resolve se unir através dos laços matrimoniais
passa por transformações inconscientes, pois, dentro desta relação irão buscar
resolver os antigos conflitos que se originaram na infância (COSTA e KATZ, 1992).
Ainda de acordo com os autores:
[...] as experiências da infância estão marcadas por satisfações,
frustrações e conflitos não resolvidos, sendo que o mais importante
deles é o conflito edípico. [...] A qualidade dos vínculos criados no
convívio familiar, durante a primitiva infância, configura um padrão
básico de relacionamento na mente da criança, o qual ela tenderá a
repetir e a recriar ao longo de seu desenvolvimento. Este modelo
infantil de relação atinge uma de suas culminâncias por ocasião do
casamento quando, melhor do que em outra qualquer situação, o
indivíduo torna-se protagonista da admirada, invejada e excludente
relação dos pais (p.26).
35
Além disso, desde a concepção o sujeito é marcado pelo olhar dos pais, que
projetam no bebê o seu ideal narcísico e seus mitos familiares, que vão se inscrever
no psiquismo e constrem a estrutura psíquica do sujeito, que posteriormente
constituirá outro bebê. O ideal de conjugalidade é formado no psiquismo do sujeito a
partir das experiências infantis em relação à conjugalidade de seus pais (FÉRESCARNEIRO e MAGALHÃES, 2005).
A tentativa de resolver conflitos infantis está vinculada a busca pelo objeto de
desejo perdido inicialmente na infância. No casamento quando este é reencontrado,
o casal tem a oportunidade de resolver esses conflitos primeiramente, através de um
acordo inconsciente, que para Pincus e Dare (1981 apud COSTA E KATZ, 1992,
p.40) significa:
[...] Sua forma é mais ou menos assim. ‘Eu tentarei ser alguma das
coisas mais importantes que você quer de mim, ainda que algumas
delas sejam impossíveis, contraditórias e loucas, desde que você
seja para mim algumas das coisas impossíveis, contraditórias e
loucas que eu quero que você seja. Não precisamos contar um ao
outro o que estas coisas são, mas ficaremos zangados, aborrecidos
ou deprimidos se não formos fiéis a isso.
Este acordo, quando cumprido com respeito mútuo entre ambas as partes,
gera um círculo de confiança que se renova ao passo que o casal convive; estes por
sua vez aprendem a respeitar a individualidade do outro, mantendo-se unidos
através do casamento.
Porém, nesta relação a dois, eventos podem vir a ameaçar a relação
conjugal. Na maioria das vezes, isto acontece quando o pacto secreto é quebrado
por algum fator que fez com que um dos cônjuges se sentisse ameaçado,
vivenciando uma ansiedade por algo que possa vir a ser perdido (COSTA e KATZ,
1992). Para Freud (1925, p.164): “[...] A ansiedade vem a ser uma reação ao perigo
de uma perda de objeto.” Essa perda no câncer de mama pode se referir ao seio no
momento em que se pensa em mastectomia.
Segundo Freud (1915, p. 395) “É realmente o conhecimento superior que
promove a ansiedade, porque possibilita um reconhecimento muito precoce do
perigo.” Dentro dessa perspectiva, se faz necessário destacar que no caso do
cônjuge (marido), este objeto provocador de ansiedade pode ser o seio, símbolo de
alimento e feminilidade da mulher. Para este marido, se deparar com o pensamento
36
de que um dia esse seio possa novamente lhe ser tirado, faz com que promova
ainda mais a sua ansiedade.
3.3 Mastectomia e sexualidade
Para Gradim (2005) a mama é um órgão que sofre alterações durante a vida
da mulher. Símbolo de identificação de feminilidade e sensualidade e mesmo
estando longe anatomicamente dos órgãos genitais, ela tem relação direta com
estes devido às alterações dos hormônios sexuais, bem como porque esse órgão
duplo é sensível ao toque. Dessa forma, a mama faz parte das atividades sexuais,
sendo assim um órgão erótico e símbolo de beleza.
Ainda para essa autora a mama é um órgão participante da sexualidade do
casal. No ato sexual as carícias preliminares entre os parceiros é um elemento
importante, embora nem sempre presente. As zonas erógenas como a mama sendo
estimuladas levam à lubrificação dos genitais, que se preparam para o ato sexual.
Dessa forma, cabe ressaltar que, diante do câncer de mama e da
mastectomia, a dificuldade de ter o corpo mutilado pode desencadear sentimentos
que precisam ser trabalhados de forma introspectiva para que a situação seja
encarada de forma saudável e, quando essa mutilação ocorre em um órgão de
identificação erótica da mulher, muitas vezes o cônjuge é levado à necessidade de
reconstruir um novo conceito sobre esse novo corpo e assim o casal poder
reconstruir a relação amorosa (GRADIM, 2005).
31
CAPÍTULO IV: O SIMBOLISMO DO SEIO
_______________________________________________________
37
4.1 O seio simbólico
O seio é uma parte do corpo feminino que carrega características
significantes na vida da mulher por que possui diversos significados: ele identifica a
feminilidade, está relacionado ao erotismo e à sexualidade e também à
amamentação (ZECCHIN, 2004). Dentro da abordagem psicanalítica, o seio é
compreendido como uma parte do corpo para onde a pulsão libidinal do bebê se
volta nos primeiros tempos de vida. Atendo-se às questões relativas à sexualidade,
pode-se abordar conceitos dentro dessa abordagem sobre a representação
simbólica desse seio para o homem.
4.2 O simbolismo do seio na teoria de Melanie Klein e Winnicott
Os sentimentos e fantasias infantis deixam marcas na mente que ficam
armazenadas e exercem influência de forma contínua na vida emocional do
indivíduo. Uma dessas experiências marcantes é a gratificação experimentada pelo
sujeito na infância através da amamentação (KLEIN, 1945).
Após o nascimento, o bebê estabelece uma relação de simbiose com a mãe,
ou seja, mãe e bebê significam uma só pessoa para este recém-nascido e inicia-se
então uma relação de objeto. Este é definido por Laplanche (2001) como um
elemento pelo qual a pulsão procura atingir a sua satisfação.
Segundo Klein (1945) aparentemente todo estímulo que a criança recebe
gera fantasias imediatamente, ou seja, a frustração provoca fantasias agressivas e a
gratificação gera fantasias concentradas no prazer. O objeto inicial dessa atividade
psíquica é o seio materno, porque o bebê se interessa pela gratificação imediata ou
pela ausência desta gratificação.
O seio que frustra e o seio que gratifica são para a criança o seio bom e o
seio mau. Aquele representa o protótipo de tudo o que é percebido na vida da
criança como benévolo e o seio mau representa o que é ruim ou perseguidor. Esta
última característica ocorre devido à projeção (o bebê projeta no seio o ódio que
dirige contra ele mesmo). Ao mesmo tempo a introjeção também acontece, ou seja,
a criança por meio de sua atividade mental relacionada à fantasia absorve todas as
percepções do mundo externo (KLEIN, 1945).
38
Klein (1945, p. 331) define que na primeira relação objetal “a primeira
gratificação que a criança obtém do mundo externo é a satisfação que obtém ao ser
alimentada”. Essa gratificação ocorre dentro da relação objetal inicial, em que a
pulsão parcial se dirige a um objeto parcial. Laplanche (2001, p. 325) declara sobre
o objeto parcial:
Tipos de objeto visados pelas pulsões parciais, sem que isso
signifique que uma pessoa, no seu conjunto, seja tomada como
objeto de amor. Trata-se principalmente de partes do corpo, reais ou
fantasísticas (seio, fezes, pênis) e dos seus equivalentes simbólicos.
Até uma pessoa pode identificar-se ou ser identificada com um
objeto parcial.
Partindo dessa definição, observa-se que o seio, como objeto parcial, é um
elo de ligação físico (por satisfazer as necessidades de nutrição) e simbólico (por ser
um intermédio na relação objetal) do bebê com a mãe, auxiliando o processo de
internalização dessa figura materna.
Em relação ao desmame, quando o bebê solicita o seio e ele não vem, ela
sente como se o tivesse perdido para sempre e por estar a mãe relacionada a esse
seio, o bebê acredita ter perdido também a mãe, seu objeto de amor, a mãe real e a
mãe boa interiorizada. O medo de perder se mescla ao sentimento de culpa que o
bebê carrega por acreditar que está sendo castigada devido ao fato de destruir o
seio devorando-o. O desmame, embora seja um ato aparentemente simples, reforça
o surgimento desses sentimentos mesclados, por ser essa uma situação que coloca
o bebê diante da perda real, em que seio e mamadeira desaparecem definitivamente
(KLEIN, 1945).
A experiência primitiva de satisfação do bebê em relação ao seio materno
levará tanto à alucinação quanto à busca e uma ação que o leve à prova de
realidade, bem como à constituição da erogeneidade do bebê. O contato corporal
bebê-mãe, inicialmente com o objeto parcial seio será associado de forma
irreversível à representação da frustração e satisfação, a representação do seio é
uma memória do objeto que será reativada nos estados de tensão ou de desejo
(ZECCHIN, 2004).
Winnicott (1975) afirma que o seio é criado pela criança diversas vezes pelo
amor e pela necessidade. Este mesmo autor confere a maternagem o papel de
gratificar e frustrar a criança. Menciona também que o seio é um objeto real
proporcionado pela mãe que, através das adaptações que faz às necessidades do
39
bebê, permite a ele a ilusão do real, bem como a utilização de objetos transicionais.
Estes são a primeira possessão do bebê. Através deles há a possibilidade de
intermediação na relação estabelecida entre chupar o dedo, pegar o seio da mãe e a
aquisição de outras atividades, como colocar um brinquedo na boca, por exemplo.
Estes objetos permitem a passagem pela primeira relação oral com a mãe até
chegar a real relação de objeto.
O seio é o primeiro representante de um mundo além da simbiose mãe-bebê,
ou seja, é através desse primeiro contato com um objeto parcial que o bebê poderá
captar sinais externos através de sua percepção. Cria-se um espaço onde os
sentidos informarão o que o bebê sente e estes sinais constituirão fantasmas, ou
seja, o que o bebê interpreta sobre a experiência e seus pensamentos (ZECCHIN,
2004).
4.3 O seio e a sexualidade na teoria de Freud
No estágio inicial de desenvolvimento psíquico da criança o primeiro objeto de
desejo é o seio materno, porque através do contato boca-seio o bebê não somente
supre as necessidades alimentares vitais, como também na sua fantasia ele absorve
o mundo externo; não é só a boca, mas todo o corpo do bebê (através da
respiração, do toque e de todos os sentidos) realiza essa absorção (KLEIN, 1945).
Nessa fase, o apego inicial da criança a partes do corpo ou objetos parciais é
comum. O mundo do bebê relacionado a objetos durante os primeiros dois ou três
meses de vida consiste na relação com objetos parciais que gratificam e frustram no
mundo real. A partir desse momento a criança começa a ver a mãe como um todo,
um objeto total, inteiro. A criança passa a perceber que o rosto que lhe observa
enquanto ela mama, o seio que está lhe alimentando, o sorriso e as mãos que lhe
oferecem carinho pertencem a uma única pessoa. Essa capacidade de perceber
totalmente se espalha para o mundo externo a partir da confiança que é adquirida
pelo bebê quando lhe é assegurado o prazer nos objetos totais (KLEIN, 1945).
Além do papel de satisfação das necessidades nutricionais do bebê, o seio
materno é o intermediário do contato entre bebê e objeto total (mãe) conforme afirma
Klein (1945, p. 331):
40
A análise demonstrou que apenas parte dessa satisfação resulta do
alívio da fome e que a outra parte, igualmente importante, decorre do
prazer que o bebê sente quando sua boca é estimulada ao sugar o
seio da mãe. Essa gratificação é um elemento fundamental da
sexualidade da criança – na verdade, é sua expressão inicial.
Os objetos citados por Melanie Klein também são tema importante na obra
freudiana, na qual o foco se encontra na relação objetal, pois é através das
transformações
que
as
relações
de
objeto
permeiam
o
desenvolvimento
psicossexual que o adulto escolherá ou reencontrará o seu objeto de amor. Segundo
Silva (2005, p. 27):
Em Freud a noção de objeto está ligada a de pulsão e ao trabalho de
representação cujo registro tópico é, para ele, representação do
objeto. Há, na teoria freudiana, um lugar determinante do objeto, uma
vez que este é aquilo por meio do qual a pulsão atinge o alvo, ou
seja, pelo qual o sujeito busca satisfazer-se.
Essa pulsão passará por transformações na sexualidade infantil. Freud (1905)
na sua obra “Três Ensaios sobre a Sexualidade” afirma que a pulsão sexual está
presente já na infância, fato que pode ser observado a partir das manifestações
sexuais infantis. O chuchar9 é uma das vias pelas quais a criança obtém satisfação,
pois este sugar alcança a atenção completa do bebê e o leva ao adormecimento ou
reação motora, que pode ser comparada ao orgasmo (FREUD, 1905).
A pulsão sexual infantil inicialmente é auto-erótica, ou seja, não está dirigida
para outra pessoa, sendo satisfeita através do próprio corpo. Os lábios do bebê são
zonas erógenas10 devido à estimulação do fluxo do leite materno advindo da
primeira atividade relacionada à experiência de prazer: mamar no seio materno ou
em seus substitutos. O alvo sexual da pulsão infantil é a satisfação gerada pela
estimulação apropriada da zona erógena escolhida, sendo que esta satisfação tem
que ser vivenciada antes para poder ser repetida. No caso da zona labial, como
colocado anteriormente, é o contato desta parte do corpo com a alimentação através
da amamentação que provoca o prazer. A zona erógena da genitália será notada
9
De acordo com Freud (1905) o chuchar consiste na repetição rítmica de um contato de sucção com a boca
(lábios), do qual está excluído qualquer propósito de nutrição.
10
Para Laplanche (2001) as zonas erógenas são certas regiões que são carregadas de fonte de excitação, por
exemplo: zona oral, zona anal, zona uretro-genital, mamilo, etc.
41
ainda na infância, sendo fonte de satisfação a partir da estimulação sensorial
apropriada. Freud (1905, p. 220) complementa o pensamento:
Pelo estudo dos distúrbios neuróticos observamos que é possível
identificar na vida sexual infantil, desde seus primórdios, os
rudimentos de uma organização dos componentes sexuais da
pulsão. Numa primeira fase, muito precoce, o erotismo oral fica em
primeiro plano; uma segunda dessas organizações ‘pré-genitais’
caracteriza-se pela pré-dominância do sadismo e do erotismo anal;
somente numa terceira fase (desenvolvida na criança apenas até a
primazia do falo) é que a vida sexual passa a ser determinada pela
contribuição das zonas genitais propriamente ditas.
A fase genital ocorre após o período de latência (há uma condução da pulsão
para atividades intelectuais e outras demais que não tenham como alvo a
sexualidade), e nela a pulsão dirige-se agora para a zona genital e posteriormente
para o objeto escolhido, ou seja, a relação deixa de ser auto-erótica e passa ser
voltada para um outro, de acordo com a primeira relação originária com a mãe e o
amamentar. Freud (1905) apontou em seus estudos sobre a sexualidade infantil que
esta, nos primeiros tempos de vida, está associada ao prazer proporcionado pela
nutrição e a pulsão sexual estava voltada para o objeto fora de seu corpo, o seio
materno. No desmame o bebê perde o seio e talvez nesse momento, a criança será
capaz de enxergar a mãe como um outro completo.
Freud (1905) afirmou ainda que esse objeto de pulsão perdido através do
desmame será buscado na vida pulsional adulta, afirma ainda que o encontro do
objeto para onde será encaminhada a pulsão sexual, será na verdade um reencontro
deste.
Para ZECCHIN (2004) o seio é o objeto fundante do sujeito na sua relação
com os mundos interno e externo. Isso porque é a partir da relação primeira com a
mãe que a criança poderá se abrir para outras relações com o mundo, sempre
tomando como base a relação primeira com esta mãe, que será uma matriz
relacional para as relações futuras do bebê.
4.4 Estado de desamparo diante da perda
Para Laplanche (2001, p.112) o estado de desamparo significa:
42
Termo da linguagem comum que assume um sentido específico na
teoria freudiana. Estado do lactente que, dependendo inteiramente
de outrem para a satisfação de suas necessidades (sede, fome), é
impotente para realizar a ação específica adequada para pôr fim à
tensão interna. Para o adulto, o estado de desamparo é o protótipo
da situação traumática geradora de angústia.
Como situação traumática Laplanche (2001) explica que esta é a situação de
desamparo em que o perigo real (físico) e o perigo instintual (psíquico) são
confrontados com a força do ego que o sujeito possui para enfrentá-los.
Freud (1926) apontou para uma característica comum ao que ele denominou
de perigos internos (perda ou separação), que provocam sentimento de tensão e
falta de domínio das excitações, acarretando no sentimento de desamparo. Freud
(1926) afirmou ainda que o bebê humano nasce naturalmente prematuro, ou seja,
antes de estar completo para enfrentar os perigos do mundo exterior, necessitando
de alguém que o cuide. Ele é jogado no mundo exterior, forçando dessa forma a
diferenciação abrupta entre ego e id. Os perigos do mundo são exagerados e o
objeto será o único capaz de proteger o bebê e substituir o paraíso perdido do útero
materno. As primeiras situações de perigo ao bebê são criadas pelo fator biológico
da precocidade acima descrita, resultando na necessidade do bebê de ser amado e
que nunca será abandonada pelo homem.
Freud (1926, p.162) afirma ainda:
Uma situação de perigo é uma situação reconhecida, lembrada e
esperada de desamparo. A ansiedade é a reação original ao
desamparo no trauma, sendo reproduzida depois da situação de
perigo como um sinal em busca de ajuda.
A situação de desamparo é sempre revivida pelo ser humano quando este está
diante do perigo de perdas, sejam elas quais forem, desde que sejam de importância
para o sujeito. A situação original do desamparo aconteceu primeiramente na perda
do útero materno, após isso, a perda do seio materno (desmame) e assim
sucessivamente. Em sua relação objetal com o outro, o sujeito, desde bebê estará
sempre diante dessas perdas e do luto que advém delas, processo este normal
quando a auto-estima não for afetada.
37
CAPÍTULO V: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
43
Foram
realizadas
seis
entrevistas,
dentre
elas
dois
casais
foram
entrevistados, sendo escolhidos como amostra para a análise de conteúdo.
A análise dos resultados permitiu a subdivisão dos dados coletados em oito
categorias,
quatro
para
as
mulheres
e quatro para os
seus
cônjuges-
acompanhantes.
5.1 Caracterização dos casais entrevistados
Compõem a amostra deste estudo dois casais que aceitaram participar da
pesquisa e assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido concordando
com o uso de gravador (Apêndices: A-1, A-2, B-1, B-2).
Os nomes foram trocados por nomes fictícios pela ética e proteção da
integridade dos casais entrevistados.
Casal 1: João e Maria
Maria tem trinta e sete anos, reside na cidade de Belo Jardim-PE, fez
mastectomia total do seio sem reconstrução mamária, a suspeita de câncer se
iniciou há um ano e meio. Agora Maria faz sessões de quimioterapia toda semana no
CEOC, é casada com João, que segundo a mesma, sempre a acompanha em todos
os exames e procedimentos desde o início de sua enfermidade. Durante toda a
entrevista Maria demonstrou ser pessoa tímida, porém comunicativa, além disso, foi
colocado em seu discurso a admiração e agradecimento ao seu esposo por este
estar sempre ao seu lado. Apesar disso, Maria relata que o relacionamento sexual
com o esposo foi afetado depois da mastectomia, mas que no momento essa fase
foi superada.
João (quarenta e três anos) relata que sempre acompanhou Maria desde que
descobriram a sua enfermidade. Em seu discurso demonstra ter bom relacionamento
com a esposa e ser um marido compreensivo e companheiro. Para ele a
mastectomia foi enfrentada como algo difícil, porém passível de superação. João
relata que para ele o que é de importância é o fato de sua esposa Maria estar viva e
que a ausência do seio não se constitui como incômodo ou empecilho ao
relacionamento sexual, relata apenas que o incômodo é o uso da camisinha, que foi
recomendado pelos médicos.
44
Casal 2: Carlos e Rosana
Rosana tem cinqüenta e nove anos, é casada com Carlos, foi submetida à
mastectomia total e não fez reconstrução mamária, há dois anos, freqüenta o CEOC
para exames de rotina e acompanhamento psicológico devido às alterações
surgidas no relacionamento sexual com o marido após a mastectomia. Durante a
entrevista Rosana demonstrou se sentir incomodada com a falta de relacionamento
sexual com o esposo. Chorou ao falar da perda do seio e falou que o problema
sexual com o esposo começou há dois anos, quando retirou o seio.
Carlos (sessenta e um anos) durante a entrevista afirmou que acompanha a
esposa em seu tratamento desde a descoberta do câncer. Demonstrou preocupação
ao falar sobre a descoberta da enfermidade, do medo de perder a esposa. Sobre o
relacionamento sexual Carlos afirmou não se sentir incomodado com ausência do
seio da esposa e sim que está em idade já um tanto avançada e que por isso está
tendo problemas de impotência sexual.
Nos perfis dos casais apresentados, ambas as esposas afirmaram ter sentido
ou sentem ainda (caso de Rosana) dificuldades do relacionamento sexual. Já para
os cônjuges essas modificações aparentam não terem sido sentidas pela ausência
do seio, mas por intercorrências relativas à idade e uso de preservativos.
5.2 Estudo qualitativo-descritivo
Gil (2009) afirma que o estudo de campo visa aprofundar determinadas
questões propostas, focalizando uma comunidade (de trabalho, de estudo, etc.)
Suas técnicas são basicamente a observação e a entrevista. O estudo de campo é
flexível porque seus objetivos podem ser reformulados durante a pesquisa.
Este trabalho utilizou o estudo de campo de natureza qualitativa e descritiva,
cujo objetivo foi a identificação de sentimentos do cônjuge-acompanhante da esposa
mastectomizada, sendo a coleta de dados realizada através de entrevista semiestruturada com uma amostra de dois cônjuges-acompanhantes e suas duas
esposas mastectomizadas totalmente.
45
5.3 Caracterização do local de pesquisa
O Centro Oncológico de Caruaru-PE (CEOC) é uma clínica de tratamento de
diversos tipos de câncer, inclusive o de mama, onde os pacientes são encaminhados
com resultados de biópsia para diversos tipos de tratamento, dentre eles: cirurgia,
mastectomia, quimioterapia, radioterapia. Conta atualmente com enfermeiros,
médicos, oncologista, psicólogo, recepcionistas na equipe de atendimento a esses
pacientes.
O estudo foi realizado por intermédio dos profissionais que atuam no CEOC
que encaminharam as demandas de casos atendidos que se encaixavam com o
perfil da pesquisa. Nos três momentos da pesquisa de campo, foi identificado que o
perfil das mulheres mastectomizadas que freqüentam o CEOC não inclui os
cônjuges como acompanhantes e participantes da enfermidade e tratamento das
esposas, fato este que possibilitou as alunas pesquisadoras realizar um estudo de
campo com uma amostra de dois casais com faixas etárias de trinta e cinco a
sessenta e um anos, ao invés de dez casais com faixa etária de trinta a quarenta e
cinco anos, como era o objetivo inicial.
5.4 Aspectos éticos do estudo de campo
De acordo com a Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde o
presente trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade do
Vale do Ipojuca (CEP-FAVIP) inscrito no protocolo n° 0002/2010 e aprovado em
reunião no dia 07/06/2010, sendo emitido parecer favorável á pesquisa em
22/06/2010 (ANEXO).
Além disso, foi apresentada Carta de Anuência ao CEOC (Apêndice D)
assinada pelas alunas pesquisadoras e sua professora orientadora. Foi apresentado
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos participantes da pesquisa, que
concordaram com o teor do documento e aceitaram que fosse utilizado o gravador
durante as entrevistas.
46
5.5 Coleta de dados
Para a coleta dos dados as alunas pesquisadoras estiveram no CEOC um
mês antes para conhecer o local do estudo e identificar a demanda local. Por
intermédio da Psicóloga que atende os pacientes do local, foi feito o contato com os
demais profissionais a partir do segundo e terceiro encontro e dessa forma
identificados os dois casais que participaram da pesquisa.
O contato inicial foi feito a partir da apresentação da proposta da pesquisa,
bem como da leitura minuciosa dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido
para cada casal, sendo as entrevistas realizadas separadamente. As entrevistas
foram realizadas em dois dias, cada dia para um casal e cada uma delas com
duração mínima de quinze minutos.
5.6 Instrumento de coleta de dados
Para coletar os dados no estudo de campo foram realizadas entrevistas semiestruturadas para os esposos e as companheiras (Apêndices C-1 e C-2), nas quais
as perguntas norteadoras foram elaboradas de acordo com o objetivo do trabalho.
As entrevistas foram realizadas separadamente, ou seja, o cônjugeacompanhante não estava presente quando sua esposa foi entrevistada, bem como
esta não estava presente quando seu marido foi entrevistado. Essa conduta foi
escolhida pelas alunas pesquisadoras para permitir que cada um expusesse seus
sentimentos de forma clara e sem se sentir coagido pela presença do outro, além da
importância que o sigilo tem para esse tipo de instrumento de coleta de dados.
Não foi possível o uso de uma sala do CEOC porque todos os consultórios
estavam ocupados, porém foi utilizado espaço sigiloso nas salas de espera dos
atendimentos.
5.7 Análise e interpretação dos dados
Gil (1999) afirma que a análise e interpretação dos dados são elementos
estreitamente relacionados dentro dessa fase de pesquisa, sendo que análise tem
como objetivo a organização dos dados coletados de forma que seja possível o
47
fornecimento de respostas ao problema proposto. Na interpretação existe a procura
do sentido amplo das respostas e sua ligação a outros conhecimentos anteriormente
obtidos.
Ainda para Gil (1999) devido às variações de resposta obtidas na pesquisa,
surge a necessidade de agregá-las em categorias para que possam ser
devidamente analisadas, de forma que estas categorias devem ser formadas por um
único princípio de classificação.
No presente trabalho a análise e interpretação dos dados obtidos foi feita a
partir de quatro categorias relativas à esposa mastectomizada e quatro categorias
relativas ao cônjuge-acompanhante, agregadas de acordo com as perguntas
norteadoras e com o assunto a ser analisado. Foi realizada análise de discurso, na
qual foram selecionados trechos importantes das entrevistas para melhor articulação
com as categorias, que foram corroborados com o referencial teórico apresentado
neste trabalho.
5.7.1 A percepção da perda do seio pela mulher
O seio é um órgão importante para a identidade feminina da mulher porque é
carregado de características singulares em relação a esta e que são referentes à
sua sexualidade, sensualidade, maternidade e toda a identificação da mesma, além
de ser um órgão erógeno (ZECCHIN, 2004).
Por ter o seio essa importância para a identidade da mulher e, além disso, por
ser o câncer uma doença que carrega em seu bojo a ameaça de morte, a perda do
seio pela mastectomia é vivida pelo ego como um luto, não só do órgão, mas das
experiências e fantasias que se associam a ele através de representação simbólica
(ZECCHIN, 2004).
Através da fala de Maria, é possível identificar o seu medo de morrer, ao ser
perguntada sobre o sentimento de se ver sem o seio e ela relatou que sentiu
desespero, sendo questionada sobre o porquê do sentimento, Maria respondeu:
Quando eu descobri foi um desespero, eu chorei muito, mas minha
família me conformou muito, meus colegas, meu marido, nunca saiu
de perto de mim, está me apoiando desde o primeiro dia, nunca me
deixou pra nada. Que eu ia morrer. Que pra mim não tinha mais
48
solução. Pensei muito nos filhos, né, que eu tenho quatro filhos, né.
Fiquei muito desesperada (Maria, 37 anos, esposa de João).
Sentimentos emergem da perda de uma parte de si, no caso de Rosana, um
dos sentimentos apontados foi a angústia através do sentimento de perda de uma
parte do corpo:
Ah, é meio difícil, né, tem hora que faz, assim, a gente pensa, fica,
como é que se diz, é...deixa eu ver um termo assim, uma palavra,
assim, fica sentida né, com aquilo né, a gente fica ressentida, acho
que não tem quem se acostume com a falta de uma parte do corpo,
né, seja ela qual for, eu acho que Deus quando fez a gente fez
perfeito, né, com todos os nossos membros, órgãos, né, e quando
um se vai é motivo de... eita, a palavra não me veio agora, assim à
mente, né...é motivo de angústia, de tristeza, de depressão...a gente
fica deprimido, pronto, a palavra exata que eu queria...a gente fica
deprimido, né, a gente nunca deixa de ter assim, de vez em quando,
esse sentimento volta, né, esse sentimento de perda, né, a gente fica
deprimido (Rosana, 59 anos, esposa de Carlos).
Laplanche (2001) define a angústia como uma reação do sujeito frente a uma
situação traumática, que ele é incapaz de dominar. Camargo e Souza (2003 apud
LOPES, SHIMO e VIEIRA, 2007) afirmam que os sentimentos da mulher
mastectomizada são trazidos pela mutilação em um turbilhão de emoções, com as
quais ela se sente perturbada e muitos sentimentos de ordem negativa podem surgir
nessa fase do tratamento do câncer de mama. Rosana sente a falta de uma parte de
seu corpo, retirada pela mutilação e por conta disso ainda não se acostumou com a
mastectomia.
5.7.2 Mastectomia e auto-imagem
A mastectomia altera a imagem corporal da mulher, bem como sua autoimagem sexual, podendo repercutir na sua vida cotidiana, desencadeando sintomas
como depressão e ansiedade. Isso porque a cirurgia carrega consigo um caráter
agressivo e traumatizante, o que leva a uma desfiguração e conseqüente
modificação da auto-imagem da mulher (BARBOSA, PINHEIRO E XIMENES, 2004).
As alterações provocadas pela cirurgia são vividas no corpo da mulher por meio de
desconforto e estranhamento em relação ao seu esquema corporal atual (ZECCHIN,
2004), conforme pode-se perceber no discurso de Rosana:
49
Tem gente assim que aceita, se conforma, né, mas tem gente que
sente que nesse momento, né, que no caso eu só me lembro assim,
no momento que eu passei numa vitrine, aí vejo uma coisa que
poderia ficar bem em mim, aí eu penso na parte que perdi, né, aí
aquilo já...já magoa, né, é, a gente é perde o gosto assim , né, fica
pensativa, pronto, nesse sentido (Rosana, 59 anos, esposa de
Carlos).
Zecchin (2004, p.134-135) afirma que: “[...] a perda do seio implica lidar com
representações ligadas ao seio, em particular, e ao corpo, em geral, passando por
todo o processo identificatório da mulher em relação [...] ao seu narcisismo, sua
imagem, sua sexualidade.” Arán (1996 apud ALMEIDA, 2008) afirma que após a
mastectomia a mulher pode se sentir estranha, manifestar sentimentos de vergonha
e embaraço, bem como ter dificuldades no relacionamento com o marido, podendo
também se sentir sexualmente repulsiva. No caso de Rosana, despir-se na frente do
marido ainda é uma barreira por ela mesma ainda não estar adaptada ao corpo,
conforme relata em sua fala:
Só não na frente do marido, na frente do marido num tem jeito, né,
nem de eu me vesti nem de despi, aí na frente dele, não tem como,
no caso em mim, né (Rosana, 59 anos, esposa de Carlos).
A palavra câncer ainda é estigma para a maioria das pessoas. Para a mulher,
estar com câncer de mama pode ser um grande constrangimento porque os
procedimentos de tratamento alteram sua imagem corporal e repercutem no seu
convívio social (RÉGIS e SIMÕES, 2005), fatores identificados na fala de Maria:
Não, eu achei que ele que, o meu marido não ia me querer mais por
causa do corpo, eu chorava muito, passava noite sem dormir, mas
depois...passou (Maria, 37 anos, esposa de João).
Para Maria, a única dificuldade com a adaptação à auto-imagem referiu-se ao
temor da não-aceitação do marido.
5.7.3 Percepção do relacionamento sexual
Barbosa, Pinheiro e Ximenes (2004) expõem que a remoção cirúrgica da
mama, interfere na percepção da imagem corporal e conseqüentemente na relação
50
marital. Devido a essas distorções, muitas mulheres vivenciam mudanças na
sexualidade após a mastectomia.
A qualidade de vida conjugal é de suma importância para que haja apoio,
afeto e compreensão por parte do marido. Esses autores pontuam que o
relacionamento marital é estruturante para a reestruturação da integridade da
mulher. Esse fato pode ser identificado na fala de Maria, que relata:
Eu achei que ele que, o meu marido não iria querer eu por causa do
corpo, eu chorava muito, passava noite sem dormir, mas depois...
passou. Com a ajuda do meu marido, da minha família, de todo
mundo (Maria, 37 anos, esposa de João).
Por conseqüência da mutilação causada nos casos cirúrgicos da retirada da
mama, a mulher se sente diminuída na sua feminilidade, atratividade e sexualidade,
a presença do companheiro se torna imprescindível para esta reestruturação. Na
fala do cônjuge de Rosana, pode-se perceber que problemas de natureza sexual
não se dão apenas ao fato de não existir um seio:
Às vezes se sente rejeitada, aí coisa que num é, né, num
compreende e tem mais um detalhe, a idade que as pessoas vão
atingindo, a pessoa de sessenta anos não é mais uma pessoa de
cinqüenta, nem quarenta, nem de idade [...] (Rosana, 59 anos,
esposa de Carlos)
Neste contexto Barbosa, Ximenes e Pinheiro (2004) afirmam que o
relacionamento sexual é um requisito essencial, pois a mesma defronta-se com a
deformidade física e se constrange para reassumir suas atividades sexuais. Rosana
relata sua dificuldade de despir-se na frente do marido e de como sente que está
sua relação sexual com ele após a cirurgia:
[...] mas também porque eu era e sou uma pessoa muito tímida,
muito retraída, muito recatada, mesmo antes dessa perda assim,
num se lava roupa na frente do marido né (sorriso), eu não sei dessa
nova geração [...] mas a gente é de geração passada, de uma
criação muito rigorosa, a gente é pudorosa né, tem pudor, né, de,
pronto aí já diante disso, de ... de ter perdido aí é que ficou pior, no
meu caso ficou, né. Afetou. A minha afetou... assim, não da minha
parte, assim, entendeu, mas da parte dele, da parte dele eu notei que
ele, ele, não acho que, eu não sei o que acontece, ele... ficou
traumatizado e num consegue (Rosana, 59 anos, esposa de Carlos).
51
Sendo assim, ao se deparar com o câncer de mama, muitas mulheres relatam
sentimentos de medo, tristeza, vergonha e a retirada da mama reflete como uma
ameaça à sua sexualidade e conseqüentemente ao seu casamento.
5.7.4 Cuidados com o pós-operatório
A mastectomia implica em cuidados pós-cirurgia, principalmente porque
podem surgir algumas complicações após esse procedimento como dores e
restrição ao movimento do ombro, edema (inchaço) do braço, bem como falta de
sensibilidade no mesmo (OLIVEIRA, 2008). Também a quimioterapia adjuvante11 e a
radioterapia podem ser continuadas no tratamento pós-cirurgia, como foi o caso de
Rosana:
Então, no caso aí tive que fazer quimio, quimioterapia, radioterapia e
todo esse processo que me debilitou, num tinha condição, né, nem
emocional nem física, né (Rosana, 59 anos, esposa de Carlos).
Além desses cuidados, também a família, em especial os companheiros das
mulheres mastectomizadas que passam pela pós-cirurgia necessitam de apoio e
suporte psicológico. Eles poderão fornecer esse suporte quando puderem oferecer
uma sustentação moral, emocional e afetiva às suas esposas, fatores estes que
proporcionarão uma melhor adaptação das mesmas às novas condições de vida:
Aí quanto assim ao apoio moral, assim, ele não me deixou em
nenhum momento, ele, como é que se diz, ele, eu notei que ele
sentiu muito, que ele se desesperou, que ele se estressou, que ele
se angustiou, que ele teve medo da perda, no caso se eu viesse, né,
a falecer, essas coisa toda, mas, a gente nota que num é falta de
amor, é alguma coisa mudou, entendeu, mas ele continua assim o
mesmo marido, só não nessa parte, né, nessa parte, né, na parte
sexual que ele mudou, mas o resto ele continua o mesmo, a mesma
pessoa, sai comigo, passeia, anda, tudo, agora nesse momento ele
não, não tem como (Rosana, 59 anos, esposa de Carlos).
11
Segundo o DECS - Descritores em Ciências da Saúde (BVS – acesso em http://decs.bvs.br , data:
14/10/2010 ) a quimioterapia adjuvante é a “terapia medicamentosa aplicada para aumentar ou
estimular alguma outra forma de tratamento, tais como cirurgias ou terapia por radiação. A
quimioterapia adjuvante é freqüentemente utilizada na terapia do câncer e pode ser administrada
antes ou após o tratamento primário. (Grifos do autor)“
52
Rosana, durante a entrevista revela-se sentida com o companheiro no que se
refere ao aspecto sexual, porém, relata que este lhe ofereceu e oferece suporte no
período pós-cirurgia.
Para Maria os cuidados são oriundos das pessoas de sua convivência diária,
partindo estes dela mesma, advindo disso a sua força para superar o período pósmastectomia:
Tem, tem muito cuidado mesmo. Não, foi normal, muito bem mesmo.
Muito cuidado a gente tem, eu to tendo, ele já tem, todo mundo, aí dá
pra superar (Maria, 37 anos, esposa de João).
O fato de ter sido mastectomizada é enfrentado por cada mulher de forma
singular, porque estas percorrem trajetórias diferentes quando são recebidas de
volta no seio familiar e quando retornam às suas rotinas diárias. Essa acolhida
proporcionará uma reflexão sobre o que foi vivido por elas (MALVEZI, 1996 apud
FERREIRA e MAMEDE, 2003).
De acordo com as entrevistas realizadas, pode-se agrupar as informações
obtidas em relação aos cônjuges das esposas mastectomizadas em quatro
categorias.
5.7.5 O apoio no diagnóstico e participação do cônjuge no
tratamento da esposa
No momento do diagnóstico a mulher encara sentimentos de angústia, medo
e até desespero. Nesse sentido, o suporte familiar na figura de esposo, filhos e
demais parentes é de suma importância no enfrentamento dessa enfermidade
(BARBOSA, PINHEIRO e XIMENES, 2004).
Nos casos entrevistados, ambos os companheiros afirmaram estar com as
esposas no momento do diagnóstico no movimento em relação a procura de um
médico diante dos sintomas, e que esta foi uma decisão tomada por cada casal:
Ela sentiu um carocinho, aí nós procuramos (um médico), sabe, aí
chegou a espera de estar assim nessa situação por causa da cidade
mesmo, não sabe, os médicos ao invés de encaminhar logo pra um
especialista, não encaminharam. Eu estava com ela (João,43 anos,
esposo de Maria).
53
É claro que os dois, né. Eu, eu tomei conhecimento antes dela,
porque a pessoa com quem, como eu sou da saúde, né, trabalhava
no Hospital, quem operou ela, P. C., trabalhava comigo e tudo que é
relacionado a essas coisas, infelizmente a gente que é da saúde
toma conhecimento muito antes, né. Já percebe, é (Carlos, 61 anos,
esposo de Rosana).
Ambos os companheiros demonstraram de acordo com a entrevista serem
participantes ativos na enfermidade e terem conhecimento da situação de suas
esposas. João demonstrou através do seu discurso, ser um marido presente
assiduamente no tratamento de quimioterapia da esposa:
Nunca deixei ela de vir nunca, veio uma vez, mais ninguém, eu
venho direto. Até pra um exame, é mais fácil eu vir receber exame,
pra receber um exame quem vem sou eu, não mando ninguém, não
mando ninguém, né. Por que eu acho assim quando nós casamos,
casamos pra viver bem, né, e tanto é que na saúde, como na
doença, é tudo, nós temos que acompanhar ela, não é (João, 43
anos, esposo de Maria).
Também pode ocorrer de os companheiros das mulheres com câncer de
mama muitas vezes vivenciarem a notícia do diagnóstico com surpresa, porque suas
esposas faziam os devidos exames periodicamente, fato este que parece ser
garantia de prevenção de muitas doenças, inclusive do câncer (ALMEIDA,
FERREIRA e RASERA, 2008). Nas entrevistas não houve identificação desse
aspecto.
5.7.6 Sentimentos em relação ao diagnóstico e mastectomia
Em relação ao sentimento diante do diagnóstico, Carlos não conseguiu
descrever verbalmente, porém sua reação à pergunta foi observada:
Ah, péssimo, né, porque aí... (nesse momento o entrevistado ficou
com os olhos marejados em lágrimas) (Carlos, 61 anos, esposo de
Rosana).
O diagnóstico de câncer de mama pode gerar sentimentos de ansiedade,
tristeza e medo, bem como, sentimentos de dúvidas e questionamentos. Isso porque
essa enfermidade carrega também o estigma de doença terminal e que ocasiona
54
sofrimento e morte (MELO, 2001; FERREIRA, 2003 apud
ALMEIDA et. al., 2007).
No relato de João, destaca-se que os sentimentos, embora não sejam expressos de
forma clara, referem-se ao medo da morte de sua esposa:
Eu tinha medo de perder ela (sorriso), porquê nós vê muitos casos,
né [...] (João, 43 anos, esposo de Maria).
Quanto à mastectomia, os sentimentos de ambos os cônjuges demonstraram
durante a entrevista ser de preocupação com a saúde física e emocional das
esposas:
Não, aí é o seguinte, é... a gente num gosta né, mas como
profissional de saúde dei apoio em cem por cento porque pra mim o
mal tem que erradicado, tirado, não deve deixar vestígio (Carlos, 61
anos, esposo de Rosana).
Eu senti muito nervoso. Por que é triste, né, é triste a pessoa ter uma
notícia dessa, né, mas eu não dou demonstração pra ela de jeito
nenhum, não dei demonstração de jeito nenhum, me fiz de forte
(João, 43 anos, esposo de Maria).
No tratamento e na fase de reabilitação da mulher mastectomizada o parceiro
sexual é uma das fontes mais importantes na assistência à mulher com câncer de
mama (BIFFI e MAMEDE, 2004). Nos casos estudados, percebe-se que os cônjuges
que acompanham suas esposas consideram importante o apoio, seja não
demonstrando a tristeza em ver a esposa mastectomizada, seja no incentivo a essa
mastectomia.
5.7.7 O medo da perda do seio
O seio é um elemento de identificação feminina, mas também é um elemento
de desejo erótico e de significação simbólica para o homem, ele participa da relação
sexual por ter ligação com os órgãos genitais devido às alterações dos hormônios
sexuais, bem como porque esse órgão duplo é sensível ao toque.Além disso, o seio
é um símbolo de erotismo e atração sexual para o homem (GRADIM, 2005).
Para os homens entrevistados, a perda do seio das esposas não configurou
diretamente nas suas colocações um impedimento ao relacionamento sexual. João,
55
por exemplo, respondeu a pergunta sobre o medo de sua esposa perder o seio com
a mastectomia:
Olhe, nós sentimos ela perder, né, mas eu não tive tanto medo, né,
que é uma pessoa, por causa de um seio não deixa de viver, né. Por
causa de um seio não é, importante, coisa tão importante, o
importante é a vida dela, né, pra mim, eu acho assim. Ela chegou ao
ponto agora de dizer que eu ia abandonar ela, por causa que ela
tinha perdido o peito, tinha perdido o cabelo, nunca pensei nada na
minha vida disso aí não, de eu abandonar ela por causa disso aí, de
jeito nenhum (João, 43 anos, esposo de Maria).
Carlos também fez colocações similares, afirmando não ter sentido medo e
que inclusive sugeriu uma reconstrução mamária à esposa, se ela assim desejasse:
Não, não, não, não...dela, ainda hoje ela tem esses assuntos, hoje
eu tenho que dizer a ela que aquilo é uma besteira e tudo, que se ela
quiser também pode fazer uma plástica tudinho e ela não quer, eu
digo pronto, entendo, num é pra ficar assim rejeitada que não é
(Carlos, 61 anos, esposo de Rosana).
Outro fator que também pode ser visualizado em mulheres que são
mastectomizadas, é que a retirada da mama influencia na imagem corporal da
mesma, fugindo assim dos parâmetros que a sociedade impõe para identificação do
corpo perfeito, do corpo feminino. A sociedade valoriza o corpo perfeito como
essencial na atração sexual (ALMEIDA, 2008).
Dentro desta perspectiva, o seio assume papel importante não apenas na
vida da mulher, mas também do seu cônjuge. A retirada do mesmo causa no
companheiro sentimentos de nervosismo, pois este se depara com algo novo, nunca
vivido antes. Este sentimento é bem expressado nas falas dos cônjuges de Maria e
Rosana:
Eu senti muito nervoso. Porquê é triste, né, é triste a pessoa ter uma
notícia dessa, né, eu não do demonstração pra ela de jeito nenhum,
num dei demonstração de jeito nenhum, me fiz de forte (João, 43
anos, esposo de Maria).
Não, aí é o seguinte, é... a gente num gosta né, mas como
profissional de saúde dei apoio em cem por cento porque pra mim o
mal tem que erradicado, tirado, não deve deixar vestígio, que é o que
o profissional mesmo, o médico que opero disse: ‘olhe Carlos, vamos
fazer agora que eu vou ser radical’, eu digo eu também acho que
56
deve ser radical e ela também, é... aceitou (Carlos, 61 anos, esposo
de Rosana).
5.7.8 Mudanças após a mastectomia: o relacionamento sexual
A mama participa da sexualidade do casal. No ato sexual as carícias
preliminares entre os parceiros é um elemento importante, embora nem sempre
presente (GRADIM, 2005).
Segundo Barbosa, Pinheiro e Ximenes (2004), a mutilação provocada pela
mastectomia atinge um órgão, cuja simbologia representa a própria feminilidade,
alterando seu papel principal, o de ser mulher, além de afetar seus papéis
complementares como o de esposa. Esse sentimento, que é vivenciado pela mulher,
é vivenciado também pelo cônjuge que sente todo o impacto dessa doença, bem
como do procedimento cirúrgico e da mudança que acontece dentro do seio familiar.
Muda, né, muda assim a sexualidade é uma, que ela própria num
muda, né não, muda, muda, não é, ela pensa que a gente ta
evitando, mas num é que esteja rejeitando, é que às vezes a gente
não quer machucar, não é, tem que respeitar também, entendeu [...]
às vezes se sente rejeitada, aí coisa que não é, né, não compreende
e tem mais um detalhe, a idade que as pessoas vão atingindo, a
pessoa com sessenta anos não é mais uma pessoa de cinqüenta
anos, nem quarenta, nem de idade [...] eu acho que a mudança não
é radical, não é, de maneira alguma, tá entendendo, é mais uma
questão só da idade mesmo, ta entendendo, da idade né, eu
respondo assim, da idade né, tá entendendo (Carlos, 61 anos,
esposo de Rosana).
Pra mim acho, né, tem umas mudancinhas, mais problema dela
mesmo também, mas pra mim acho a mesma coisa, aí ela acha que
mudou, mais eu não acho, né (João, 43 anos, esposo de Maria).
O relacionamento sexual é também requisito essencial para a recuperação da
mulher mastectomizada, pois esta irá sentir que apesar de não existir mais uma das
mamas, ainda é desejada pelo seu cônjuge. A participação e iniciativa do marido
constituem em fortes determinantes na qualidade do relacionamento conjugal
(RODRIGUES e ARAÚJO,1998 apud BARBOSA, XIMENES E PINHEIRO, 2004).
Da minha parte por que eu nunca procurei ninguém fora, né. Fui
solteiro, namorei, noivei, casei com ela, nunca procurei ninguém fora,
aí chegou o médico a dizer que pra poder fazer relação tinha que sê
com uma camisinha. Aí eu nunca gostei dessas coisas, aí ela acha
que nós..., acha assim que eu acho ruim isso aí [...] não me
incomoda, pra mim num me incomoda de jeito nenhum, que Deus a
57
livre Deus a livre tivesse tirado o outro eu num me incomodava
(João, 43 anos, esposo de Maria).
A dedicação dos cônjuges Carlos e João são exemplos de apoio e respeito ao
corpo e ao momento vivido por suas esposas. Para este último cônjuge a retirada do
seio da esposa não foi um fator levado em consideração, apenas a necessidade do
uso de preservativo fez com que a relação sexual dos dois fosse afetada. Já para
Carlos a idade é um fator primordial para que a sua potência sexual tenha diminuído,
demonstrando que, de acordo com suas afirmações essa fator coincidiu com a
mastectomia da esposa.
58
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mastectomia é um procedimento cirúrgico de tratamento de câncer de
mama que deve ser pensada também a partir da ótica do acompanhamento do
companheiro da mulher mastectomizada, tendo em vista quer este é um
procedimento que afeta a auto-imagem da mulher, que se vê diante de um corpo
mutilado, que não está completo e, conseqüentemente isso será refletido na relação
sexual dos casais. É nesse sentido que a família, especificamente o cônjugeacompanhante é considerada como suporte emocional para sua esposa. É de
salutar importância a compreensão e apoio do marido, principalmente após a
mastectomia. Compreender esse fenômeno através da perspectiva do discurso dos
casais é fundamental no auxílio a estes, de forma que recuperem a vida sexual e
afetiva anteriores à enfermidade.
Para que possa ser estudado e melhor compreendido quais os sentimentos
que emergem no cônjuge-acompanhante da mulher mastectomizada, objetivando
compreender essa dinâmica que envolve o casal, foi realizado um estudo de campo,
no qual foi observado que a participação do marido no tratamento da esposa é
mínima, diante da quantidade de casos de mulheres mastectomizadas no local da
pesquisa de campo (CEOC), o que evidencia a resistência desses companheiros em
acompanhar suas esposas num momento que pode ser de difícil aceitação não
somente para elas, mas para eles também.
O dado acima é importante de ser observado para que se possa lançar luz à
novos estudos e pesquisas que evidenciem o acompanhamento dos companheiros
das mulheres mastectomizadas, visto que, como foi mencionado e observado no
presente trabalho, estes são importantes fontes de apoio emocional às esposas
mastectomizadas.
Foi identificado também que o sentimento predominante emergentes nos
cônjuges-acompanhantes
entrevistados
foi
o
medo
de
perder
a
esposa,
acompanhado de nervosismo e tristeza. Não foi relatado por nenhum dos cônjuges
entrevistados sentimentos relativos à ansiedade ou medo da perda do seio, do
contrário, conforme demonstram os resultados, o medo de que suas esposas
pudessem vir a falecer, foi superior à percepção da retirada do seio. Além disso, as
esposas entrevistadas demonstraram estar mais afetadas em relação à sexualidade,
sendo que seus discursos apontaram que suas preocupações relativas à
59
sexualidade estavam relacionadas à aceitação da nova auto-imagem e à
preocupação em não ser atraente para o esposo, além do medo do abandono. Já
para os cônjuges, embora o seio faça parte do simbolismo dentro da relação, o
relacionamento sexual não foi afetado pela ausência deste, mas por fatores
intervenientes que colaboram para a diminuição da freqüência nas relações sexuais.
Estes fatores foram apontados como idade avançada e desconforto pela
necessidade de uso de preservativos como forma de proteção da saúde fragilizada
da esposa. Os cônjuges relataram ter consciência de que suas esposas acreditam
que eles se sentiram afetados em sua sexualidade após a mastectomia.
Foi constatado que o companheirismo e participação revelados pelos cônjuges
entrevistados foram fatores relevantes durante o tratamento das esposas, sendo por
elas elementos destacados como suportes emocionais diante da mutilação,
revelando dessa forma a importância da participação do marido no tratamento da
esposa mastectomizada. As mulheres entrevistadas revelaram ter sentido alterações
na auto-imagem que ainda perduram em menor grau do que no início da cirurgia.
Observou-se que este fato constituiu em agravante para o sentimento de rejeição
sexual que alegaram ter sentido por parte dos cônjuges, fator este negado pelos
mesmos nas entrevistas. Estas constatações revelam que os sentimentos negativos
das esposas em relação ao corpo mutilado não são compatíveis com os sentimentos
dos seus esposos em relação à mutilação e ao relacionamento sexual.
Observou-se, por fim, que os sentimentos dos cônjuges-acompanhantes foram
focados no temor pela possibilidade de falecimento das esposas e que as alterações
na sexualidade dos casais entrevistados ocorreram mais a nível de sentimentos em
relação à aceitação da nova auto-imagem que as esposas se depararam como um
desafio a ser superado, isto podendo ocorrer com o apoio emocional dos cônjuges
no sentido de compreender os sentimentos vivenciados pelas esposas e esclarecer
aspectos relativos ao campo da sexualidade. Isso pode ser realizado pelos cônjuges
entrevistados, pois eles demonstraram estar em harmonia com o novo corpo da
esposa e com a ausência do seio, tendo consciência de que existem fatores
intervenientes que se colocam como interferência ao exercício da sexualidade, mas
que estes não incluem a ausência do seio.
O apoio no sentido de auxiliar esses casais na compreensão de si próprios e
da dinâmica conjugal, para que eles possam se escutar e aprender a reelaborar a
relação a partir de uma nova ótica é de suma importância para que esses conflitos
60
possam ser minimizados ou dirimidos, e a qualidade na relação sexual seja
reavivada.
61
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ANEXO – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA DA FAVIP
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para o cônjugeacompanhante
(com e sem o uso do gravador)
APÊNDICE A-1
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (com uso de gravador)
Eu
____________________________________________________________
esposo/companheiro
de
_________________________________________________,
autorizo minha participação na pesquisa que tem como nome CÂNCER DE MAMA: UM
ESTUDO SOBRE OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGE-ACOMPANHANTE DA MULHER
MASTECTOMIZADA NO CENTRO ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC), pesquisado
pelas alunas pesquisadoras: Roberta Freitas de Oliveira e Pollyana Fátima Santos
Lopes Oliveira, e sua Professora: Fabiana Josefa do Nascimento Sousa, CRP 13/4370,
CPF n° 028824604-73, RG n° 2314076, que é psicóloga e responsável pela pesquisa
(contato: av Adjair Casé, nº 800 – Indianópolis. Fone: 3722-8080).
Estou ciente que o objetivo desta pesquisa é estudar os sentimentos do marido
quando a mulher está com câncer de mama e perde a mama.
Estou ciente que esta pesquisa possui relevância social porque através da análise
desses sentimentos que surgem durante o diagnóstico e tratamento do câncer de mama
poderá haver uma intervenção psicoterapêutica e trabalhos voltados para elaboração dos
mesmos.
Estou ciente também que participarei de uma entrevista e que haverá uso de
gravador, bem como que me foi assegurado o total sigilo das informações por mim
prestadas e que a qualquer momento posso interromper para tirar dúvidas quando achar
necessário.
Estou ciente que não vou receber nenhuma remuneração para participar. Se por
alguma razão eu não me sentir bem, sei que posso parar sem ser prejudicado. Além disso,
fui assegurado de que receberei das alunas pesquisadoras o suporte psicológico
necessário, caso eu necessite durante a entrevista.
Também fui informado que eu não corro nenhum risco para participar e que irei
participar de uma palestra com as pesquisadoras e outras pessoas que quiserem no CEOC,
sobre a sexualidade conjugal.
Assinatura:
_________________________________________________________________
Testemunhas:
__________________________________
__________________________________
Caruaru, ______/_______/________
APÊNDICE A-2
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (sem uso de gravador)
Eu
____________________________________________________________
esposo/companheiro
de
_________________________________________________,
autorizo minha participação na pesquisa que tem como nome CÂNCER DE MAMA: UM
ESTUDO SOBRE OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGE-ACOMPANHANTE DA MULHER
MASTECTOMIZADA NO CENTRO ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC), pesquisado
pelas alunas pesquisadoras: Roberta Freitas de Oliveira e Pollyana Fátima Santos
Lopes Oliveira, e sua Professora: Fabiana Josefa do Nascimento Sousa, CRP 13/4370,
CPF n° 028824604-73, RG n° 2314076, que é psicóloga e responsável pela pesquisa
(contato: av Adjair Casé, nº 800 – Indianópolis. Fone: 3722-8080).
Estou ciente que o objetivo desta pesquisa é estudar os sentimentos do marido
quando a mulher está com câncer de mama e perde a mama.
Estou ciente que esta pesquisa possui relevância social porque através da análise
desses sentimentos que surgem durante o diagnóstico e tratamento do câncer de mama
poderá haver uma intervenção psicoterapêutica e trabalhos voltados para elaboração dos
mesmos.
Estou ciente também que participarei de uma entrevista, que me foi assegurado o
total sigilo das informações por mim prestadas e que a qualquer momento posso interromper
para tirar dúvidas quando achar necessário.
Estou ciente que não vou receber nenhuma remuneração para participar. Se por
alguma razão eu não me sentir bem, sei que posso parar sem ser prejudicado. Além disso,
fui assegurado de que receberei das alunas pesquisadoras o suporte psicológico
necessário, caso eu necessite durante a entrevista.
Também fui informado que eu não corro nenhum risco para participar e que irei
participar de uma palestra com as pesquisadoras e outras pessoas que quiserem no CEOC,
sobre a sexualidade conjugal.
Assinatura:
_________________________________________________________________
Testemunhas:
___________________________________
__________________________________
Caruaru, ______/_______/________
APÊNDICE B- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para a esposa
mastectomizada
(Com e sem o uso de gravador)
APÊNDICE B-1
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (com uso de gravador)
Eu
____________________________________________________________
esposa/companheira de __________________________________________autorizo minha
participação na pesquisa que tem como nome CÂNCER DE MAMA: UM ESTUDO SOBRE
OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGE-ACOMPANHANTE DA MULHER MASTECTOMIZADA
NO CENTRO ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC), pesquisado pelas alunas
pesquisadoras: Roberta Freitas de Oliveira e Pollyana Fátima Santos Lopes Oliveira, e
sua Professora: Fabiana Josefa do Nascimento Sousa, CRP 13/4370, CPF n° 02882460473, RG n° 2314076, é psicóloga e responsável pela pesquisa (contato: av. Adjair Casé, nº
800 – Indianópolis. Fone: 3722-8080).
Estou ciente que o objetivo desta pesquisa é estudar o sentimento do marido quando
a mulher está com câncer de mama e perde a mama.
Estou ciente que esta pesquisa possui relevância social porque através da análise
desses sentimentos que surgem durante o diagnóstico e tratamento do câncer de mama
poderá haver uma intervenção psicoterapêutica e trabalhos voltados para elaboração dos
mesmos.
Estou ciente também que participarei de uma entrevista e que haverá uso de
gravador, bem como que me foi assegurado o total sigilo das informações por mim
prestadas e que a qualquer momento posso interromper para tirar dúvidas quando achar
necessário.
Estou ciente que não vou receber nenhuma remuneração para participar. Se por
alguma razão eu não me sentir bem, sei que posso parar sem ser prejudicado. Além disso,
fui assegurado de que receberei das alunas pesquisadoras o suporte psicológico
necessário, caso eu necessite durante a entrevista.
Também fui informado que eu não corro nenhum risco para participar e que irei
participar de uma palestra com as pesquisadoras sobre a sexualidade conjugal.
Assinatura:
_________________________________________________________________
Testemunhas:
___________________________________
_________________________________
Caruaru, ______/_______/________
APÊNDICE B-2
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (sem uso de gravador)
Eu
____________________________________________________________
esposa/companheira de __________________________________________autorizo minha
participação na pesquisa que tem como nome CÂNCER DE MAMA: UM ESTUDO SOBRE
OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGE-ACOMPANHANTE DA MULHER MASTECTOMIZADA
NO CENTRO ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC), pesquisado pelas alunas
pesquisadoras: Roberta Freitas de Oliveira e Pollyana Fátima Santos Lopes Oliveira, e
sua Professora: Fabiana Josefa do Nascimento Sousa, CRP 13/4370, CPF n° 02882460473, RG n° 2314076, é psicóloga e responsável pela pesquisa (contato: av Adjair Casé, nº
800 – Indianópolis. Fone: 3722-8080).
Estou ciente que o objetivo desta pesquisa é estudar o sentimento do marido quando
a mulher está com câncer de mama e perde a mama.
Estou ciente que esta pesquisa possui relevância social porque através da análise
desses sentimentos que surgem durante o diagnóstico e tratamento do câncer de mama
poderá haver uma intervenção psicoterapêutica e trabalhos voltados para elaboração dos
mesmos.
Estou ciente também que participarei de uma entrevista, que me foi assegurado o
total sigilo das informações por mim prestadas e que a qualquer momento posso interromper
para tirar dúvidas quando achar necessário.
Estou ciente que não vou receber nenhuma remuneração para participar. Se por
alguma razão eu não me sentir bem, sei que posso parar sem ser prejudicado. Além disso,
fui assegurado de que receberei das alunas pesquisadoras o suporte psicológico
necessário, caso eu necessite durante a entrevista.
Também fui informado que eu não corro nenhum risco para participar e que irei
participar de uma palestra com as pesquisadoras sobre a sexualidade conjugal.
Assinatura:
_________________________________________________________________
Testemunhas:
__________________________________
__________________________________
Caruaru, ______/_______/________
APÊNDICE C – Entrevistas semi-estruturadas para o cônjuge-acompanhante e para
a mulher mastectomizada
APÊNDICE C-1
FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA
CURSO DE PSICOLOGIA
Entrevista semi-estruturada para o cônjuge-acompanhante da mulher
mastectomizada
Nome:
Idade:
Endereço:
Telefone para contato:
Nome da esposa:
-Quando se iniciou a suspeita de que sua esposa estava com câncer de mama?
-Procurar ajuda foi uma decisão dos dois?
-Após a confirmação do diagnóstico como você se sentiu?
-Quando recebeu a notícia da mastectomia como você se sentiu?
-Considera que participa do tratamento de sua esposa? Como?
-Antes da notícia da mastectomia teve medo de sua esposa perder o seio? Por quê?
-Algo na vida de vocês dois como casal mudou a pós a cirurgia? O quê?
-E a cirurgia de mastectomia afetou a relação sexual?
-Como classifica a relação sexual antes e após a mastectomia?
APÊNDICE C-2
FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA
CURSO DE PSICOLOGIA
Entrevista semi-estruturada para a esposa mastectomizada
Nome:
Idade:
Endereço:
Telefone para contato:
Nome do cônjuge:
-Como você se sente sem o seio ou sem parte dele?
-Considera que a cirurgia afetou a sua auto-imagem?
-Isso afetou a sua relação sexual com o companheiro?
-Como vocês lidam com a situação do pós-operatório?
APÊNDICE D- Carta de Anuência ao CEOC
Ao Responsável pelo Centro Oncológico de Caruaru (CEOC)
Sr (a)
Caruaru........../............../ 2010
Ilmo(a) Sr.(a)
No presente momento, como alunos do curso de Psicologia da FAVIP, estamos
dando início ao projeto de pesquisa intitulado: CÂNCER DE MAMA: UM ESTUDO
SOBRE OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGE-ACOMPANHANTE DA MULHER
MASTECTOMIZADA NO CENTRO ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC) sob
orientação da Profª Fabiana Josefa do nascimento Sousa, no qual haverá a
necessidade de obter dados referentes aos pacientes, os quais estão sob sua
responsabilidade como gestor da referida instituição. Tal solicitação se deve ao fato,
de havendo a concordância do acesso as informações pertinentes ao projeto, o
mesmo será submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da FAVIP, para ser
avaliado e uma vez emitido o parecer favorável a sua realização a mesma deverá
ser iniciada. Essa carta de anuência será anexada ao projeto a ser avaliado, bem
como antes do início da pesquisa, o (a) Sr(a). terá acesso ao parecer emitido pelo
CEP/FAVIP comprovando a pertinência da pesquisa.
Cordialmente:
Alunos: ______________________________________
______________________________________
Prof. Orientador: ______________________________
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