ambiente
Qualidade do ar interno
não é só ar condicionado
Arquivo NTE
A ciência da QAI requer muitas
vezes um conjunto de habilidades
e informações que não se encontra
em apenas um profissional de
carreira acadêmica tradicional
Quando pensamos em qualidade
do ar em ambientes interiores climatizados, um dos primeiros itens
que lembramos é o sistema de ar
condicionado. É comum ver reportagens de televisão relacionando problemas de saúde da população com
esses equipamentos com manutenção deficiente. Usuários reclamando
que ambientes refrigerados fazem
mal a saúde. E até profissionais do
setor AVAC-R só atuam nos equipa56
mentos de climatização a qualquer
percepção de piora na qualidade do
ar. Acontece que nem sempre a fonte
de contaminação está no sistema de
condicionamento do ar.
É de conhecimento da comunidade de QAI que outras fontes como
mobiliário, carpetes, tintas, plantas,
fotocopiadoras, papéis, o ar externo
e principalmente as próprias pessoas são possíveis causas de proliferação e dispersão de elementos
ABRAVA Climatização+Refrigeração Abril 2014
químicos, físicos e biológicos em
ambientes internos.
Recentemente participei de um
projeto de consultoria em um órgão
público municipal, na cidade de São
Paulo, onde havia reclamação de fortes odores em uma determinada sala,
onde pessoas haviam passado mal,
incluindo afastamento do trabalho.
Chegando ao local, o administrador
do edifício informou prontamente
que já havia feito a limpeza do sistema de ar condicionado, porém o
problema não havia sido resolvido.
Após inspeção do local e algumas
perguntas ao usuário da sala, identificamos o odor vindo de uma parede
recém pintada com tinta vencida,
resto de uma obra antiga no prédio.
Outro dia, ouvi de um renomado médico que a Legionella era
“a bactéria do ar condicionado”!
Esse microrganismo se desenvolve
em água e só transmitida aos seres
humanos através de vapor de água.
Onde temos isso em sistemas de ar
condicionado? Na bandeja de condensação? Não vejo todo esse arraste
de aerossol passando por serpentinas, ventiladores, rede de dutos e
chegar na zona de respiração das
pessoas. Improvável! Nas torres de
resfriamento? Esse sim é um local
em potencial. Porem está fora da
edificação. Se atender a NBR 16401,
a pelo menos 10 metros da tomada
de ar externo, os riscos de contaminação ao ar interno são pequenos.
Muito mais provável achar essa
bactéria em fontes decorativas, spas
ou chuveiros dentro de edifícios.
Mais uma vez, o ar condicionado
nada tem a ver com isso.
Conto esses casos, entre tantos
outros existentes, para mostrar que
Foto NTE
ambiente
Atendimento a NBR 16401,
a pelo menos 10 metros da
tomada de ar externo, diminui
riscos de contaminação
o sistema de ar condicionado nem
sempre é a fonte de contaminação da
qualidade do ar de interiores.
A ciência da Qualidade
do Ar Interior
E por causa disso, para lidar com
essa variedade de situações, a ciência
da QAI requer muitas vezes um conjunto de habilidades e informações
que não se encontra em apenas um
profissional de carreira acadêmica
tradicional. Muitos casos devem ser
tratados por equipes multidisciplinares como Engenheiros Mecânicos,
Civil, Químicos, Segurança do
Trabalho, Médicos, Biomédicos,
Biólogos, entre outros.
Os profissionais que desejam trabalhar com QAI devem ter conhecimentos básicos em outras áreas fora
de sua especialização para entender a
ciência indoor. Engenheiros tem que
saber ler e interpretar relatórios de
ensaios microbiológicos e químicos
da qualidade do ar. Microbiologistas
devem conhecer conceitos básicos
de climatização para traçar estratégias corretas de amostragem.
Hoje, na cidade de São Paulo,
um médico, com apoio de equipe
multidisciplinar é responsável pela
fiscalização sanitária de sistemas
de ar condicionado. Não precisa ser
um especialista em ar condicionado,
para verificar uma casa de máquina
suja. Ou uma bandeja com formação
de biofilme. Da mesma maneira que
esses fiscais inspecionam restaurantes ou supermercados atrás de pragas
ou alimentos estragados, sistemas de
ar condicionado estão sendo verificados quanto a limpeza e potencial
de risco a saúde da população.
No mundo de hoje, estamos vendo
médicos estudando informática
para desenvolver softwares que ajudam em diagnósticos e cirurgias.
Engenheiros pesquisando biotecnologias para melhorar embalagens e
garantir maior prazo de validade a
alimentos. Advogados especializados em ciências ambientais.
Com a preocupação da qualidade
do ar crescente, fiscalização sanitária mais atuante, competividade em
alta, os profissionais de ar condicionado deverão ter visão ampla da
ciência de QAI, especializando-se
em outras áreas ou trabalhando em
conjunto profissionais de diferentes
especialidades. Só assim serão capazes de encontrar, entender e achar
soluções para problemas de qualidade do ar de interiores que afetam a
vida das pessoas em todo o país.
Leonardo Cozac
Diretor da Conforlab e presidente do
DN Qualindoor
[email protected]
Abril 2014 ABRAVA Climatização+Refrigeração
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