ARTICLE
ARTIGO
Estado Nutricional e Perfil Alimentar de Pacientes
Assistidos pelo Programa de DST/Aids e Hepatites Virais de
um Centro de Saúde de Itaperuna-RJ
Nutritional Status and Food Profile of Patients Assisted by the Programme of STD/Aids and Viral
Hepatitis a Health Center of Itaperuna-RJ
Patrícia OC Ladeira1, Danielle Cristina G Silva2
RESUMO
Introdução: estudos sobre o consumo alimentar e fatores de risco relacionados a doenças cardiovasculares têm modificado o papel da nutrição na
infecção pelo HIV. Relatos indicam um padrão alimentar insatisfatório de pessoas que vivem com HIV/aids, especialmente em indivíduos com alterações
metabólicas e excesso de peso. Objetivo: avaliar o estado nutricional e o perfil alimentar de pacientes assistidos pelo Programa de DST/Aids e Hepatites
Virais de Itaperuna-RJ. Métodos: estudo transversal constituído por 37 indivíduos. Investigaram-se as características socioeconômicas e coletaram-se as
medidas antropométricas de peso, altura, circunferência da cintura e prega cutânea tricipital para diagnosticar o estado nutricional do grupo. Avaliou-se o
consumo alimentar destes pacientes. Os dados foram analisados por meio de média, desvio-padrão, frequências absoluta e relativa. Resultados: de acordo
com a avaliação do índice de massa corporal, foi verificado que 54% dos pacientes foram classificados como eutróficos, 32,5% como sobrepeso, 8,0%
baixo peso e 5,5% com obesidade. Segundo a classificação socioeconômica adotada, 80% (n: 30) dos pacientes pertenciam à classe D e 20% (n: 7), à classe
E. Observou-se que o consumo de carnes, leite e derivados, arroz, pães e margarina foi considerado de hábito alimentar do grupo de indivíduos assistido.
Conclusão: o grupo apresentou estado nutricional prevalente de eutrofia e sobrepeso, indicando uma necessidade de acompanhamento nutricional, já que o
uso de antirretrovirais pode agravar essa realidade.
Palavras-chave: avaliação nutricional, consumo de alimentos, HIV, DST
ABSTRACT
Introduction: studies on food intake and risk factors related to cardiovascular diseases have changed the role of nutrition in HIV infection. Reports
indicate poor dietary patterns concerning people living with HIV/aids, especially in individuals with metabolic disorders and overweight. Objective: assess
the nutritional status and dietary profile of the patients assisted by the Program of DST/Aids and Viral Hepatitis at Itaperuna-RJ. Methods: a cross
sectional study consisting of 37 individuals. We investigated the socioeconomic characteristics and has collected anthropometric measurements of weight,
height, waist circumference and triceps skin fold thickness for diagnosing the nutritional status of the group. We evaluated the dietary intake of these
patients. Data were analyzed using mean, standard deviation, absolute and relative frequency. Results: according to the assessment of body mass index, it
was found that 54% of patients were classified as eutrophic, 32.5% as overweight, 8.0% were underweight and 5.5% obese. According to the socioeconomic
classification adopted 80% (n = 30) of patients belonged to class D and 20% (n = 7) in class E. It was observed that the consumption of meat, dairy products,
rice, bread and margarine was considered the feeding habits of the group of individuals assisted. Conclusion: the group had nutritional status prevailing
normal weight and overweight, indicating a need for nutritional counseling, since the use of antiretroviral drugs may aggravate this situation.
Keywords: Nutrition assessment, food consumption, HIV, STD
INTRODUÇÃO
Os avanços na terapia antirretroviral (TARV) possibilitaram a
supressão da replicação viral, a melhora da qualidade de vida e da
longevidade de pessoas vivendo com aids/HIV (human immunodeficiency virus), revelando reduzidas taxas de morbimortalidade
associadas à infecção. Por outro lado, uma variedade de anormalidades metabólicas tem sido associada à TARV e à própria infecção
pelo HIV, tais como dislipidemia, mudanças na distribuição de gordura corporal e resistência à insulina(1).
De acordo com Dutra e Libonati(2), por meio da utilização da
terapia antirretroviral altamente ativa, a replicação do HIV é inibida, com diminuição da presença do RNA do HIV no plasma para
níveis indetectáveis, assim prolongando a sobrevida dos pacientes.
Entretanto, sua utilização modificou o estado nutricional destes
indivíduos. Anteriormente, o déficit de vitaminas e minerais e a
má nutrição energético-proteica estavam associados como um dos
maiores problemas nutricionais e eram responsáveis por 80% das
mortes em pacientes com aids.
¹ Graduada em Nutrição pela Faculdade Redentor – Campus Itaperuna-RJ.
² Docente do Curso de Graduação em Nutrição da Faculdade Redentor –
Campus Itaperuna-RJ.
DST - J bras Doenças Sex Transm 2012;24(1):1-3 - ISSN: 0103-4065 - ISSN on-line: 2177-8264
Segundo Diehl et al.(3), a síndrome metabólica é um conjunto
de anormalidades relacionadas ao excesso de gordura visceral. No
Brasil, estudos relataram a prevalência de alterações metabólicas,
incluindo a lipodistrofia, em 65% dos casos de pacientes infectados
por HIV em acompanhamento ambulatorial e certamente relacionada com o uso de antirretrovirais.
Estudos sobre o consumo alimentar e fatores de risco relacionados a doenças cardiovasculares têm modificado o papel da nutrição
na infecção pelo HIV. Relatos indicam um padrão alimentar insatisfatório de pessoas que vivem com HIV/aids, especialmente em
indivíduos com alterações metabólicas e excesso de peso(1).
A avaliação do estado nutricional observa as deficiências isoladas ou globais de nutrientes e classifica os indivíduos quanto ao
seu estado nutricional, agindo como instrumento de grande valia
para a terapêutica clínica ou dietética, a fim de tentar corrigir o
déficit diagnosticado(2). Assim, é de grande importância, pois ajuda no diagnóstico de desnutrição energético-proteica (DEP) e na
identificação de fatores de risco. O início da terapia nutricional
proporciona uma melhora no estado nutricional, na sobrevida e na
qualidade de vida desses portadores que, com frequência, são acometidos por desordens nutricionais e consumptivas, resultando em
uma importante perda de massa corporal magra(4).
DOI: 10.5533/2177-8264-201224102
Estado Nutricional e Perfil Alimentar de Pacientes Assistidos pelo Programa de DST/Aids e Hepatites Virais de um Centro de Saúde de Itaperuna-RJ
A antropometria é uma importante ferramenta para monitorar
o estado nutricional dos pacientes, utilizando como referências os
dados como: peso atual, estatura, índice de massa corporal (IMC),
pregas cutâneas e padrões de perda de peso(4).
A execução detalhada de uma história dietética é de grande importância para o diagnóstico do estado nutricional dos pacientes,
pois, associada com as técnicas de avaliação, irá detectar deficiências no estado nutricional nos diversos estágios da doença(1).
Segundo Copponi e Ferrini(5), e Paula et al.(6) a nutrição tem um
papel importante na vida de portadores de HIV/aids, pois auxilia
a manter o sistema de defesa do organismo, minimiza infecções
oportunistas, melhora o tratamento médico e confere uma boa qualidade de vida a este grupo de indivíduos.
OBJETIVO
Avaliar o estado nutricional e o perfil alimentar de pacientes
assistidos pelo Programa de DST/Aids e Hepatites Virais de Itaperuna-RJ.
MÉTODOS
A pesquisa epidemiológica de delineamento transversal, realizada com o intuito de avaliar nutricionalmente usuários de um
programa ambulatorial de tratamento de HIV/aids no município de
Itaperuna-RJ, envolveu amostra de indivíduos adultos, de ambos
os sexos, e apresentou duração de 3 meses. Os critérios de inclusão
adotados para os participantes na pesquisa foram: paciente ter idade entre 20 a 59 anos, estar cadastrado no programa de DST/Aids e
Hepatites Virais de Itaperuna-RJ e o aceite de participar do estudo
a partir da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Os critérios de exclusão foram: ter idade menor que 19 e maior
que 60 anos e não estar cadastrado no programa.
O Programa DST/Aids e Hepatites Virais presente no município
de Itaperuna/RJ acompanha aproximadamente 450 indivíduos da
região fluminense. Por meio de um processo aleatório, os usuários
foram selecionados a fazer parte da amostra, assumindo-se um intervalo de confiança de 95% e um erro de 5%. Portanto, o tamanho
mínimo da amostra calculada de acordo com esse critério foi de 37
participantes. A coleta de dados foi realizada no período de julho
a setembro de 2011, por meio de inquéritos alimentares e socioeconômicos, seguidos de avaliação antropométrica. O estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade Redentor
– Campus Itaperuna, com o protocolo de pesquisa no 049/2011.
Avaliação socioeconômica
Para o diagnóstico da avaliação socioeconômica deste grupo foram utilizados os critérios de classificação da ABEP (Associação
Brasileira de Empresas de Pesquisa), subdivididos em: A1, A2, B1,
B2, C1, C2, D e E. O critério de classificação econômica do Brasil
estima o poder de compra das pessoas e famílias urbanas(7).
Avaliação antropométrica
Para aferição do peso foi utilizada balança plataforma eletrônica
da marca Filizola®, com capacidade total de 150 kg e graduação
de 100 gramas. Para aferição da altura foi utilizado estadiômetro,
com capacidade total de 200 cm e capacidade mínima de 110 cm.
189
Para medição da circunferência da cintura foi utilizada fita métrica inelástica; as dobras cutâneas do tríceps foram aferidas com a
utilização de adipômetro clínico da marca Sanny®. A partir dos
dados obtidos foram calculados o índice de massa corporal (IMC)
em kg/m², com a classificação para adultos, segundo a Organização
Mundial de Saúde(8): < 18,5 kg/m2 - baixo peso; 18,5 a 24,5 kg/
m2 - eutrofia; 25,0 a 29,9 kg/m2 - sobrepeso, 30,0 a 34,9 kg/m2 obesidade grau I; 35,0 a 39,9 kg/m2 - obesidade grau II e > 40 kg/
m2 - obesidade grau III.
Para a avaliação da circunferência da cintura utilizou-se a preconização da OMS, ou seja, para o sexo masculino circunferência da
cintura ≥ 94 cm considera-se fator de risco para doenças cardiovasculares, medida ≥ 102 cm, o fator de risco é considerado muito elevado. Para o sexo feminino o risco para doenças cardiovasculares é
encontrado quando a circunferência da cintura é ≥ 80 cm e ≥ 88 cm,
o fator de risco é muito elevado(7). A prega cutânea tricipital (PCT)
foi aferida no ponto médio, entre acrômio e olécrano, formando um
ângulo de 90° com o cotovelo. Para o diagnóstico de PCT utilizou-se a Tabela de Frisancho(9), com o cálculo de adequação de PCT
em percentil 50 e valores < 70%: déficit grave, 70-80%: déficit
moderado, 80,1-90%: déficit leve, 90,1-110%: adequado, 110,1120%: excesso de peso e > 120%: obesidade.
Consumo alimentar
Os dados do consumo alimentar foram coletados por meio de
questionário de frequência alimentar (QFA). Este é considerado o
mais prático e informativo método de avaliação da ingestão dietética e fundamentalmente importante em estudos epidemiológicos
que relacionam a dieta com a ocorrência de doenças não transmissíveis(10). O QFA utilizado nesta pesquisa avaliou o consumo semanal de grupos de alimentos e de alguns alimentos, como: leite
e derivados; carnes, óleos vegetais, margarina ou manteiga, azeite,
pão, arroz, hortaliças, frutas e legumes; bolos, biscoitos e doces; vinho ou cerveja, refrigerantes e outros; suco de fruta, café, fast food
ou maionese. Considerou-se hábito alimentar o consumo maior ou
igual a quatro vezes na semana(10).
Análise estatística
Para descrever as variáveis quantitativas foram calculadas as
médias e os desvios-padrão, utilizando-se o Microsoft Office Excel® 2007. As variáveis categóricas foram descritas por meio de
suas frequências absolutas (n) e relativas (%). Para a análise estatística foi utilizado o teste qui-quadrado, com intervalo de confiança de 95%.
RESULTADOS
Avaliação socioeconômica
Verificou-se que a maior parte dos pacientes era do sexo masculino e a média de idade foi 38 anos, conforme Tabela 1.
Quanto à renda familiar, observou-se que 66% (n: 23) dos pacientes possuem renda menor ou igual a um salário mínimo e 54%
(n: 19), escolaridade até a 8a série do ensino fundamental. Segundo
a classificação socioeconômica brasileira(7), 83% (n: 29) dos pacientes pertencem à classe D e 17% (n: 6), à classe E. Gruner e
Silva(12) citam que a renda familiar é caracterizada como uma das
DST - J bras Doenças Sex Transm 2012;24(1):1-3
190
LADEIRA & SILVA.
Tabela 1 – Caracterização socioeconômica de pacientes HIV-positivo de Itaperuna-RJ.
Variáveis
Sexo
Masculino
Feminino
Idade
20 a 29 anos
30 a 39 anos
> 40 anos
Renda
≤ 1 salário mínimo
> 1 salário mínimo
Escolaridade
Ensino fundamental
Ensino médio
Classe socioeconômica
D
E
N
%
22
15
59%
41%
6
14
17
16%
38%
46%
23
14
62%
38%
21
16
57%
43%
30
7
80%
20%
grandes causas de disseminação da aids, visto que a introdução da
terapia antirretroviral gratuita não é o suficiente para que os pacientes continuem no tratamento, pois a falta de suportes como emprego, transporte, habitação e alimentação faz com que os pacientes
abandonem o tratamento.
De acordo com a classificação da ABEP(7), 83% dos indivíduos pertencem à classe D e apenas 17% pertencem à classe E.
Estudos relatam que, no Brasil, 60% das famílias brasileiras se
encontram em classes socioeconômicas menos favorecidas, ou
seja, classes D e E.
Avaliação antropométrica
Medidas
Antropométricos
PCT * (mm)
Cc** (cm)
Tabela 2 – Estado nutricional de pacientes HIV-positivo assistidos
pelo Programa DST/Aids e Hepatites Virais de um Centro de Saúde de Itaperuna-RJ.
N
3
20
12
2
%
8,0%
54,0%
32,5%
5,5%
Fonte: OMS7.
Nos dados referentes à medição da circunferência da cintura do
grupo pesquisado, observou-se que os valores médios desta medida antropométrica foram maiores nas mulheres, comparadas aos
homens, de acordo com a Tabela 3.
Em relação à medida antropométrica de prega cutânea tricipital
(PCT), observou-se que 51,5% dos indivíduos estudados estavam
com déficit grave e 17% apresentavam déficit leve, 11,5% do grupo encontravam-se com PCT adequada, 3% encontravam-se em
sobrepeso e 17% foram classificados com obesidade. As mulheres
também apresentaram a medida de prega cutânea tricipital maior
que os homens. Nos achados de Fernandes et al. (13), 43,8% do grupo pesquisado foram classificados com sobrepeso e obesidade.
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Sexo Masculino
Média/DP
Sexo Feminino
Média/DP
10,25/5,89
81,45/8,75
16,53/5,52
86,73/14,62
* PCT: prega cutânea tricipital.
** Cc: circunferência da cintura.
Questionário de frequência alimentar
No presente estudo, os alimentos consumidos acima de quatro
vezes por semana foram considerados hábito alimentar. Portanto,
o consumo de leite e derivados e carnes foi considerado hábito do
grupo de indivíduos assistido. Os óleos vegetais, a margarina, o
pão, o arroz, as hortaliças, os legumes, as frutas e o café também
foram consumidos pelo grupo mais de quatro vezes por semana, e
assim, considerados hábito alimentar.
Os alimentos consumidos de duas a três vezes por semana foram considerados de consumo alimentar mediano, sendo eles: bolos, biscoitos, doces e refrigerantes. Os alimentos considerados de
consumo raro foram: azeite, manteiga, vinho ou cerveja e fast food,
com consumo menor que uma vez por semana, conforme mostra
a Tabela 4.
Tabela 4 - Distribuição do consumo alimentar de pacientes HIV-positivo de um Centro de Saúde de Itaperuna-RJ
Alimentos
De acordo com a avaliação do IMC verificou-se que 57% dos
pacientes foram classificados como eutróficos, 28,5% com sobrepeso, 8,5% com baixo peso e 6% diagnosticados com obesidade,
conforme a Tabela 2.
Estado nutricional
Baixo peso
Eutrofia
Sobrepeso
Obesidade
Tabela 3 – Características antropométricas de pacientes HIV-positivo assistidos pelo Programa DST/Aids e Hepatites virais de um
Centro de Saúde de Itaperuna-RJ.
Leite e derivados
Carnes
Azeite
Óleos vegetais
Manteiga, margarina
Pão
Arroz
Doces
Vegetais e frutas
Vinhos ou cervejas
Refrigerantes
Café
Fast food
≤ Uma
vez/
semana
N
8
8
19
1
21
3
0
19
3
37
16
3
35
%
21,5
21,5
51,4
2,7
56,7
8,1
0
51,4
8,1
100
43,3
8,5
100
Duas a
três vezes/
semana
N
1
3
3
0
0
2
0
6
2
0
9
2
0
%
3,0
8,1
8,1
0
0
5,4
0
16,1
5,4
0
24,2
5,7
0
≥ Quatro
vezes/
semana
N
28
26
15
36
16
32
37
12
32
0
12
30
0
%
75,5
70,4
40,5
97,3
43,3
86,5
100
32,5
86,5
0
32,5
85,8
0
DISCUSSÃO
Segundo publicação do Ministério da Saúde do Brasil(14), ocorre
uma prevalência de contaminação pelo HIV no sexo masculino,
corroborando os resultados encontrados no presente trabalho. No
entanto, esses dados vêm mudando com o decorrer do tempo, pois
estudos demonstram um aumento na proporção de mulheres contaminadas atualmente. Isso se deve à mudança no perfil da doença,
pois o que antes era restrito apenas aos homossexuais, hoje se estende a um grande número de heterossexuais.
A contaminação do HIV foi encontrada em número maior em indivíduos acima de 40 anos, e casos como estes podem estar ligados
à questão de que pessoas com idades acima de 40 anos possuem
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relações estáveis, em que as relações sexuais são desprotegidas,
podendo correr o risco de contaminação; porém, ainda não existem
estudos que comprovem esta teoria. Segundo Souza(15) em sua revisão sobre sexualidade, a aids acomete todas as idades, porém há
um crescente número de pessoas com idade avançada.
De acordo com Brito et al.(16) há um aumento na proporção de
casos de aids em indivíduos com baixa escolaridade. No presente
estudo, 54% dos indivíduos possuem o ensino fundamental. A baixa escolaridade pode influenciar sua propagação, pois a falta de
conhecimento sobre a doença e as formas de transmissão, pode ser
considerada um fator de risco para a doença(17).
A avaliação do estado nutricional no paciente HIV/aids é de
grande importância, pois existem relações entre estado nutricional e evolução da doença. Anteriormente à terapia antirretroviral,
os indivíduos eram acometidos por desnutrição e carências nutricionais. Hoje, esse quadro mudou. Neste estudo, observou-se que
houve elevados números de indivíduos com eutrofia e sobrepeso.
Pesquisa realizada por Curti et al. (18) com pacientes HIV-positivo
em uso de terapia antirretroviral, usuários de um serviço de referência no tratamento de HIV/aids no município de São Paulo,
verificou que a maior parte da população estudada, ou seja, 71,7%
dos pacientes, apresentava estado nutricional de eutrofia.
No presente estudo utilizou-se a circunferência da cintura como
indicador de acúmulo de gordura abdominal. A partir dos resultados obtidos diagnosticou-se possível predisposição a doenças cardiovasculares, sendo que a população do sexo feminino apresentou
maiores valores de circunferência da cintura. O estudo de Diehl et
al. (3) com pacientes infectados por HIV, atendidos no ambulatório
de Infectologia/Aids da Universidade de Londrina, observou que
17% dos pacientes apresentavam aumento da circunferência da
cintura, sendo maior a prevalência no sexo feminino, dados estes
similares a essa pesquisa.
De forma semelhante ao estudo de Carvalho e Rocha(19), com
indivíduos adultos da zona rural de Itatiba, Espírito Santo, observou-se que entre os alimentos consumidos habitualmente (> quatro
vezes na semana) destacaram-se arroz, pão, folhosos, feijão, leite
de vaca, gordura animal, margarina, açúcar, farinha de mandioca
e café.
É válido ressaltar que o uso do questionário de frequência alimentar como método de avaliação do consumo alimentar pode retratar hábitos alimentares incorretos de um grupo, devido à possível
sub ou superestimação do consumo de alguns grupos alimentares.
Além disso, de acordo com o teste qui quadrado, as variáveis analisadas (consumo alimentar e estado nutricional) não apresentaram
associação. Segundo o guia alimentar para a população brasileira,
uma alimentação saudável deve fornecer carboidratos, proteínas,
lipídios, vitaminas e minerais, que são nutrientes necessários para
um bom funcionamento do organismo(20).
Conclusão
O grupo estudado apresentou prevalência de eutrofia e sobrepeso, porém, apesar de os resultados apresentarem poucas modificações metabólicas do grupo, é importante o monitoramento do
estado nutricional e o planejamento de intervenções nutricionais
para este público, visto que o uso de antirretrovirais pode agravar
essa realidade. A condição socioeconômica destas pessoas deve ser
tomada em conta nesse processo, visto que o grau de escolaridade e
a renda podem ser considerados fatores determinantes em decisões
quanto à escolha e ao consumo de alimentos saudáveis.
191
Conflitos de interesse
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
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Endereço para correspondência:
Danielle Cristina Guimarães da Silva
Rodovia BR 356, no 25, Cidade Nova, Campus Itaperuna/RJ.
E-mail: [email protected]
Recebido em 13.06.2012
Aprovado em: 02.07.2012
DST - J bras Doenças Sex Transm 2012;24(1):1-3
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