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GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO DE LÍNGUA: UM PANORAMA DA
PERSPECTIVA DE CHARLES BAZERMAN NO BRASIL
Camila Mota Oliveira1
Lucas Pazoline da Silva Ferreira2
GT5 Educação, Comunicação e Tecnologias
RESUMO: Situado na perspectiva dos gêneros textuais, este trabalho objetiva evidenciar como uma
perspectiva de ensino de gêneros textuais, pautada em teorias de Charles Bazerman (2005; 2006;
2007; 2011), corrobora uma pedagogia de ensino-aprendizagem de línguas mais eficiente. Sua
metodologia se constitui na seleção e análise de artigos, dissertações, ensaios, monografias obtidos
através do Google Acadêmico, e cujas propostas estejam associadas ao ensino de línguas em sala de
aula. Os resultados comprovam que um trabalho direcionado à perspectiva dos gêneros textuais
situados é importante tanto para uma conjuntura teórica atualizada quanto a uma exigência
educacional que precisa de melhores observações e propostas. Como fundamentação teórica, entre
outros autores, foram utilizados os trabalhos sobre gêneros textuais de Bakhtin (1992), Marcuschi
(2008) e Bazerman (Ibidem).
Palavras-chave: Gêneros Textuais. Ensino de Línguas. Charles Bazerman.
ABSTRACT: Situated in the perspective of genres, this work aims to demonstrate how a perspective
of teaching genres, based on theories of Charles Bazerman (2005, 2006, 2007, 2011), supports a
pedagogy of teaching and language learning efficiently. Its methodology is the selection and analysis
of articles, dissertations, essays, obtained through Google Scholar, and whose proposals are associated
with language teaching in the classroom. The results show that work directed to the prospect of genres
situated is important both for a theoretical context as an updated educational requirements need better
observations and proposals. As a theoretical basis, among others, it has been used work on genres of
Bakhtin (1992), Marcuschi (2008) and Bazerman (ibid.).
Keywords: Textual Genres. Languages Teaching. Charles Bazerman.
1 INTRODUÇÃO
Há algumas décadas, os estudos sobre gêneros textuais no Brasil vêm se consolidando
de modo a se tornarem inerentes ao processo de ensino de línguas. Tal fato pode ser percebido
desde a segunda metade do século XX, quando as pesquisas se voltaram para a construção de
uma abordagem teórica propícia à aplicação em ambientes de ensino-aprendizagem, até o
final da década de 1990, quando os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua
Mestranda em Letras (UFS); Bolsista Capes – Brasil; [email protected]
Mestrando em Letras (UFS); Bolsista Capes – Brasil; Pesquisador e membro do grupo de pesquisa CNPq NUCA - Núcleo de Pesquisa em Comunicação e Tecnologia; [email protected].
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Portuguesa incluíam enquanto orientação pedagógica a perspectiva dos gêneros textuais no
ensino de língua materna.
Atualmente, esse panorama de teoria/prática no estudo dos gêneros textuais é bastante
diversificado. Sendo assim, o recorte escolhido para a realização desse estudo demonstra as
contribuições de Charles Bazerman especialmente no tocante à aplicabilidade dos gêneros
textuais em ambientes de ensino-aprendizagem oficiais no Brasil.
Charles Bazerman é professor do departamento de Educação da Universidade da
Califórnia, em Santa Bárbara (EUA). Suas pesquisas centram-se na dinâmica social da escrita,
nas teorias retóricas e uso do conhecimento. No Brasil, o professor Bazerman publicou pela
editora Cortez3 os livros “Gêneros Textuais, Tipificação e Interação”, em 2005, “Gênero,
Agência e Escrita”, em 2006, e “Escrita, Gênero e Interação Social”, em 2007.
Neste estudo, objetivou-se evidenciar como perspectivas de ensino de gêneros textuais
pautadas em teorias de Charles Bazerman corroboram uma pedagogia mais eficiente para o
ensino-aprendizagem de línguas. Logo, com a finalidade de constituir um corpus (artigos,
dissertações, ensaios, monografias) favorável para cumprir o objetivo ora proposto, foi
utilizado o “Google Acadêmico”, um motor de busca específico, disponibilizado pela empresa
Google.
Seguindo critérios pré-estabelecidos para seleção de materiais para constituição do
corpus, foi realizada uma triagem dos resultados obtidos pelo buscador a fim de obter
materiais potencialmente mais gerais e relevantes, mesmo que de forma condensada, pois
sabemos o grande número de trabalhos disponíveis em periódicos e acervos digitais.
2 GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO
Uma sociedade se estabelece principalmente pelas situações comunicativas das quais o
sujeito participa constantemente. Essas práticas sociais podem ser compreendidas desde, por
exemplo, um simples diálogo ou bilhete até uma palestra ou artigo científico, ou seja, de
construções textualizadas simples e cotidianas às complexas e de instâncias específicas. Essas
atividades sociais de utilização da língua são denominadas Gêneros Textuais.
No Brasil, está aumentando o número de trabalhos relacionados aos gêneros textuais e
sua aplicabilidade no ensino de línguas, fato confirmado por Marcuschi (2008). Como explica
o linguista, o estudo dos gêneros textuais não é recente, se considerarmos as primeiras
3
Editora brasileira com mais de 30 anos de atuação, voltada especificamente para a formação e especialização
de professores e alunos nas áreas de Ciências Humanas e Sociais.
3
observações de Platão no século V a.C., mas “está na moda”, pois o foco na linguagem em
funcionamento, relacionada aos aspectos das atividades sociais e culturais, acomoda-se
facilmente ao pensamento científico atual.
De maneira didática, Marcuschi (2008), um dos pioneiros da Linguística Textual no
Brasil, apresenta algumas correntes teóricas de estudo dos gêneros que se destacam e se
proliferam no panorama nacional. Em resumo, tem-se: uma linha bakhtiniana, alimentada
pelo socioconstrutivismo; a perspectiva “swalesiana” (escola norte-americana); uma
perspectiva sistêmico-funcional (sob os postulados de Halliday); e uma perspectiva menos
marcada por essas anteriores e mais geral (Bakhtin, Bazerman, Miller, Bronckart, entre
outros).
Como parte do estudo de Marcuschi (2008), em “Gêneros textuais: Produção textual,
análise de gêneros e compreensão” é direcionada ao ensino, faz-se necessária uma definição
de gênero textual de fácil percepção. Por isso, Marcuschi (2008) se valendo das observações
de Bakhtin (1979/1992), Miller (1984) e Bronkart (1999), entre outros, apresenta um conceito
de gênero textual.
Gênero textual refere os textos materializados em situações comunicativas
recorrentes. Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa
vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos
definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos
concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais,
institucionais e técnicas. Em contraposição aos tipos, os gêneros são
entidades empíricas em situações comunicativas e se expressam em
designações diversas, constituindo um princípio de listagem aberta.
(MARCUSCHI, 2008, p. 155)
A partir dessa conceituação, Marcuschi (2008) aponta para uma importante distinção
entre gêneros textuais e tipologias textuais. Os gêneros são constituídos pelas realizações
textuais empíricas que desempenham funções em situações sociocomunicativas através de
várias possibilidades de estruturação textual. Cartas, recibos, artigos, palestras, seminários e
bate-papos virtuais são exemplos de gêneros. Os tipos textuais estão relacionados às
características intrínsecas da língua, uma construção teórico-abstrata, delimitada por fatores
sintáticos, lexicais, estilísticos etc. Descrição, narração, argumentação, injunção e dissertação,
tudo isso faz parte da classificação limitada das tipologias, que em si mesma, não evidencia
uma situação de uso da língua.
Para um trabalho de ensino-aprendizagem pautado na perspectiva dos gêneros
textuais, algo que deve ser levado em consideração é a relação interdependente entre gêneros
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textuais e tipos textuais, pois o constructo teórico-linguístico (tipo) é fundamental para a
construção de um gênero, e vice-versa.
Como o próprio Marcuschi (2008) confirma, suas posições levam em conta
principalmente o pensamento bakhtiniano. Ou seja, deve-se considerar que as atividades
humanas estão relacionadas à utilização da língua, que ocorre de maneira heterogênea em
contextos determinados. Sendo assim, como os gêneros textuais são “tipos relativamente
estáveis de enunciados” elaborados em determinadas “esferas da comunicação humana”
(BAKHTIN, 1992, p. 279), eles também são heterogêneos, podendo se manifestar, por
exemplo, na forma de uma simples carta ou de um texto jurídico.
Em resumo, os gêneros não são estáticos, parados no tempo, eles “transmutam” e
acompanham o desenvolvimento tecnológico, ou seja, sua ampliação chega à denominada
cultura eletrônica através do telefone, do gravador, do rádio, da TV e do computador e seus
similares. Por outro lado, deve-se também considerar a própria escrita alfabética enquanto um
aparato tecnológico, que propiciou o surgimento de novos gêneros.
Em relação ao ensino de línguas, principalmente o da língua portuguesa, estabelecido
pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, o foco na caracterização e utilização dos gêneros
textuais, enquanto objeto de ensino, é fundamental, pois a partir do uso teórico-prático da
diversidade de gêneros, a competência discursiva do aluno é desenvolvida. Em relação ao
professor e ao ensino, isso implica numa melhor seleção de textos para estimular a
compreensão e produção escrita e oral.
Os textos organizam-se sempre dentro de certas restrições de natureza
temática, composicional e estilística, que os caracterizam como pertencentes
a este ou aquele gênero. Desse modo, a noção de gênero, constitutiva do
texto, precisa ser tomada como objeto de ensino. [...] Nessa perspectiva,
necessário contemplar, nas atividades de ensino, a diversidade de textos e
gêneros, e não apenas em função de sua relevância social, mas também pelo
fato de que textos pertencentes a diferentes gêneros são organizados de
diferentes formas. (PCN, 1998, p. 25)
Com a utilização didática dos gêneros textuais em sala de aula, o espaço para o
processo de ensino-aprendizagem de uma língua se torna mais complexo, pois agora são
levados em consideração elementos intrínsecos e extrínsecos à língua, oriundos de inúmeros
fatores de textualidade. Assim, a competência linguística é mais bem desenvolvida tendo em
vista que o conceito de texto é ampliado de modo a considerar aspectos individuais, sociais,
culturais, comunicativos e linguísticos.
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2.1 OS GÊNEROS NA PERSPECTIVA DE CHARLES BAZERMAN
Dentre as várias perspectivas de estudos dos gêneros textuais que estão se difundindo
no Brasil, essa pesquisa se concentra em teses de Charles Bazerman, professor da
Universidade da Califórnia (EUA), e como o próprio se intitula, “teórico do gênero em geral”.
No Brasil, a primeira publicação de Bazerman foi o livro “Gêneros textuais, tipificação e
interação”, em 2005. Sobre esta última, Marcuschi (2008) destaca seu “alto potencial
aplicativo”, pois ela trata dos aspectos funcionais e históricos dos gêneros e apresenta
conceitos claros sobre gêneros, sistemas e conjuntos de gêneros.
Os trabalhos de Bazerman (2005; 2006; 2007; 2011) dialogam perfeitamente com os
desenvolvidos por Carolyn Miller. O conceito para “gênero” proposto por Miller (1984; 2011)
no qual “o gênero é uma ação retórica tipificada baseada numa situação retórica recorrente” é
amplamente utilizado por Bazerman (ibidem), que se dedica principalmente ao gênero
enquanto uma categoria psicossocial que emerge historicamente. Sendo assim, deve-se
observar o contexto sócio-histórico e o sujeito cognitivo, pois é a partir deles que sentidos são
identificados, moldados, localizados e recebidos.
Para Bazerman (2011), a noção de gênero pode ser aplicada a qualquer tipo de
artefato, e é a sua delimitação que o torna diferente do texto. Em relação ao ensino de língua
na perspectiva dos gêneros em geral, Bazerman (2011) afirma que “é necessário situar o
próprio ensino de escrita como ação social motivada de modo que o aluno deseje moldar o
sentido e se empenhe para criá-lo”. Nesse caso, o professor deve orientar e criar situações
motivadoras com gêneros significativos. E o que seriam esses gêneros significativos? São os
gêneros que levarão o aluno a assumir determinados papéis e atividades, considerando tanto
seu conhecimento como suas disposições atuais.
A abordagem de Bazerman (2007; 2011) para o ensino reflete a visão do gênero como
mediador de interações socioculturais. Sendo assim, para desenvolver habilidades no aluno
nessa perspectiva, é necessária uma pedagogia específica em alguns prontos: (re)produzir
elementos-chave dos sistemas de atividades dentro dos quais o gênero evolui e é utilizado; e
por fim, reconhecer o dinamismo, a transformabilidade e relativa estabilidade dos gêneros.
A educação letrada precisa atender não somente às habilidades formais de
codificar e decodificar textos, mas também aos processos individualizados
da construção de sentidos. É preciso também ajudar os alunos a engajaremse com as ferramentas necessárias para compreender, avaliar e participar dos
sistemas de atividade social maiores onde os textos assumem significados e
vida. (BAZERMAN, 2007, p.196)
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A contribuição de Charles Bazerman para a teoria dos gêneros em geral, e
principalmente para o ensino de línguas, é de suma importância para uma pedagogia adequada
tanto a uma conjuntura teórica atualizada quanto a uma exigência educacional não tão recente,
mas que ainda necessita de observações e propostas que auxiliem ao professor/pesquisador
em suas atividades.
3 A ABORDAGEM DE BAZERMAN EM ESTUDOS DESENVOLVIDOS NO BRASIL
Atualmente, no Brasil, várias são as pesquisas que incorporam a perspectiva de
Charles Bazerman para o ensino de gêneros textuais situados. Por ser uma perspectiva geral,
como a de Bakhtin (1978/1992), Miller (1984), muitos dos seus postulados são fundamentais
e de fácil acesso para qualquer pesquisador dos gêneros, seja ele iniciante ou em fase de
doutoramento.
*
Para observar a influência de Charles Bazerman nas produções acadêmicas brasileiras,
foi utilizado o Google Acadêmico (http://scholar.google.com.br), um motor específico de
busca web. Esta ferramenta permite, de maneira simples, pesquisar literatura acadêmica de
maior relevância, que estejam integradas à rede mundial de computadores – Internet/Web. A
confiabilidade nas informações encontradas se estabelece no modo como os resultados são
classificados, dando ao pesquisador uma amostra considerável daquilo que está procurando.
O Google Acadêmico classifica os resultados de pesquisa segundo a
relevância. Como na pesquisa da web com o Google, as referências mais
úteis são exibidas no começo da página. A tecnologia de classificação do
Google leva em conta o texto integral de cada artigo, o autor, a publicação
em que o artigo saiu e a frequência com que foi citado em outras publicações
acadêmicas. (GOOGLE, 2012)
Como um dos critérios, foi eleito o ano de publicação (2005) de “Gêneros textuais,
tipificação e interação”, primeira obra de Bazerman publicada no Brasil, para demarcar ponto
cronológico inicial para as buscas. Foram utilizadas as palavras “Charles Bazerman” no motor
de busca, que apresentou 110 resultados4 (sem incluir patentes e citações isoladas). Desses
materiais, em que se destacam artigos, teses e monografias, foram selecionados apenas os
trabalhos sobre gêneros textuais em sala de aula (propostas de ensino) que trazem C.
O link da pesquisa é “http://scholar.google.com.br/scholar?q=%22Charles+Bazerman%22&hl=ptBR&lr=lang_pt&as_sdt=0&as_ylo=2005&as_yhi=2012&as_vis=1”, acessado no período de 02 a 04 de janeiro
de 2012.
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7
Bazerman em sua fundamentação. A análise dos resultados desses trabalhos (teses,
monografias, artigos) será importante para que se evidencie como as propostas de ensino de
gêneros textuais pautadas em teorias de Bazerman corroboram uma pedagogia que auxilia um
ensino-aprendizagem de língua eficiente.
*
Dos 110 trabalhos encontrados, apenas 7 se enquadravam no recorte proposto para
esse estudo. A fim de uma melhor visualização dos resultados, o Quadro 1 resume os dados
específicos de cada pesquisa e seus respectivos autores.
GÊNERO
Artigo
TÍTULO
SMS: UM TORPEDO LINGÜÍSTICO
ANO
AUTOR
TITULAÇÃO
FACULDADE
2007
Giselda dos Santos Costa Mestre
UFPE
2009
Ana Virgínia Lima da
Mestre
UFMG
NAS AULAS DE LINGUAS
Artigo
PRODUÇÃO DE RESENHAS
ACADÊMICAS: OS RECURSOS
Silva
LINGÜÍSTICOS E A APROPRIAÇÃO
DO GÊNERO
Artigo
ALINE, GÊNEROS E LEITURA: POR
2010
Aléx Caldas Simões
Mestrando
UFTM
2010
Gilvânia Oliveira do
Mestre
UNIV.
NOVOS PARADIGMAS DE ENSINO
PARA O GÊNERO TIRINHA NO
ENSINO BÁSICO
Monografia
ENSINO-APRENDIZAGEM DE
LÍNGUA PORTUGUESA,
Nascimento Gonzalez
CATÓLICA DE
GÊNEROS TEXTUAIS E. PRÁTICA
PERNAMBUCO
PEDAGÓGICA
Ensaio
A UTILIZAÇÃO DO JORNAL
2010
ESCOLAR COMO METODOLOGIA
Vanessa Wendhausen
Doutoranda
UNISUL
Lima
DE ENSINO DE LÍNGUA
PORTUGUESA E SUA INFLUÊNCIA
NA APRENDIZAGEM EM SALA DE
AULA
Dissertação
OS GÊNEROS TEXTUAIS NA
2010 Hiliana Alves dos Santos Mestre
UNIVERSIDAD
FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE
E CATÓLICA
LÍNGUA PORTUGUESA EM
DE
INSTITUIÇÕES DE ENSINO
PERNAMBUCO
SUPERIOR
Monografia
A CONTRIBUIÇÃO DOS GÊNEROS
NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA
2011
Maria Euveciana de
Graduanda
Lacerda
LEITURA E ESCRITA
Quadro 1 – Resultado da pesquisa através do Google Acadêmico
Fonte: produção dos autores, 2013.
FGF
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Para melhor compreender as pesquisas expostas na triagem (Quadro 1), realizar-se-á
uma breve descrição das propostas e dos resultados respectivos a cada trabalho, aos quais,
além disso, será feita uma correlação com os postulados apresentados de Charles Bazerman.
SMS e ensino de língua
O artigo “SMS: Um torpedo linguísticonas aulas de línguas”, de Giselda dos Santos
Costa, apresenta ao professor de língua(s) como explorar o gênero textual SMS (Short
Message Service) de modo a desenvolver as capacidades linguísticas discentes, através de
atividades orientadas. Fundamentada na teoria de gêneros, de Charles Bazerman, a mestre em
Linguística elabora uma estratégia para o ensino da leitura e escrita, porém não a reproduz
efetivamente em sala de aula. Por outro lado, mesmo sem a realização das atividades é
possível notar que a proposta incorpora aspectos relevantes, como os fatores socioculturais e
interacionais, para o ensino de língua a partir de gêneros.
Produção de resenhas acadêmicas
O artigo “Produção de resenhas acadêmicas: os recursos linguísticos e a apropriação
do gênero”, de Ana Virgínia Lima da Silva, mestre em Linguística, tem por objetivo analisar a
apropriação do gênero resenha, suas características e os recursos linguísticos empregados em
sua produção. O corpus analisado pela pesquisadora é constituído por resenhas produzidas por
graduandos em Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Fundamentada em teorias de
Bazerman, a pesquisadora ressalta a importância de evidenciar os papéis sociais a serem
desenvolvidos pelos alunos para produção de gêneros em situações dadas. Os resultados
mostraram que quanto maior a diversidade de recursos linguísticos, maior será a apropriação
do gênero em questão.
Tirinhas e Aline
Ao analisar 20 tirinhas de “Aline”, da séria Aline Gorda, de Adão Iturrusgarai, Alex
Caldas Simões, em seu artigo “Aline, gêneros e leitura: por novos paradigmas de ensino para
o gênero tirinha no ensino básico”, busca apresentar uma estratégia de ensino de língua a
partir do gênero textual tirinha, levando em consideração a leitura como uma atividade
complexa. O pesquisador evidencia a perspectiva de Charles Bazerman, principalmente ao
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considerar o texto como fato social, os conceitos de gênero, conjuntos e sistemas de gêneros,
sistemas de atividades humanas e as modificações no processo de escrita, causadas pela
multimodalidade. Como resultado, tem-se uma proposta para o ensino de leitura e escrita não
aplicada efetivamente em sala, porém potencialmente eficaz para o ensino de línguas.
Gêneros textuais e práticas pedagógicas
A
monografia
intitulada
“Ensino-aprendizagem
de
língua
portuguesa,
gêneros textuais e prática pedagógica”, de Gilvânia Oliveira do Nascimento Gonzalez, tem
como objetivo compreender como as atividades de linguagem são desenvolvidas na sala de
aula de língua materna e quais os diferenciais de uma aula na perspectiva dos gêneros
textuais. Ao produzir e analisar relatórios de observação de quatro professores de língua
portuguesa da rede pública de Recife, a pesquisadora evidencia a importância de se considerar
a percepção sociorretória defendida por Bazerman atrelada ao ensino de línguas. Como
resultado, foi identificado que o formalismo e o estruturalismo ainda são muito presentes nas
aulas, o que dificulta uma caracterização da língua em seus aspectos sócio-históricos e
culturais.
O jornal em sala de aula
O ensaio “A utilização do jornal escolar como metodologia de ensino de língua
portuguesa e sua influência na aprendizagem em sala de aula”, de Vanessa Wendhausen
Lima, fundamentado na concepção sociorretórica de análise de gênero (a partir de
Bazerman), aborda um projeto de elaboração de jornal escolar ainda a ser implantado numa
escola pública de Tubarão (RS). Trata-se de uma forma de analisar os aspectos linguísticos
inerentes a essa produção (do jornal) e verificar os comportamentos de autores e de leitores
perante o material escrito.
Gêneros textuais e formação docente
A dissertação intitulada “Gêneros textuais na formação do professor de língua
portuguesa em instituições de ensino superior”, de Hiliana Alves dos Santos, tem como
objetivo analisar o ensino dos gêneros textuais nos cursos de letras em faculdades de
formação de professores. A partir das propostas de Bazerman, que tratam os gêneros como
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fenômenos de reconhecimento psicossocial e evidenciam a responsabilidade do professor na
escolha dos gêneros que serão produzidos em sala, a pesquisadora analisou alguns
questionários respondidos por seis professores que lecionam no nível superior. Os resultados
apontam para um distanciamento entre a teoria e a prática realizadas em sala, o que sugere
uma melhor qualificação dos profissionais envolvidos na pesquisa.
Gênero, leitura e escrita
A monografia intitulada “A contribuição dos gêneros no processo de aquisição da
leitura e escrita”, de Maria Euveciana de Lacerda, tem por objetivo identificar como os
gêneros textuais contribuem para o ensino da língua materna no 6° ano da Escola de Ensino
Fundamental Careolano Leite, em Maurití – CE. Adotando a concepção de Bazerman de
gênero com fato social, os resultados apontam para necessidade de formação contínua do
professor tendo em vista as exigências em se trabalhar com gêneros no ensino de línguas.
A amostragem analisada evidencia que as teorias de Charles Bazerman realmente
confirmam uma pedagogia que auxilia um ensino-aprendizagem de línguas de maneira
eficiente. Seja uma proposta com resultados potenciais ou uma análise da realidade escolar,
todas vêm corroborar a importância de se considerar algumas peculiaridades tanto para se
trabalhar com o gênero quanto para utilizá-lo como intermediário de outro objetivo curricular.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao evidenciar as contribuições de Charles Bazerman aos estudos dos gêneros textuais
no Brasil, através da análise do corpus, tais peculiaridades se tornam evidentes: considerar o
texto como fato social; estabelecer distinção entre os conceitos de gênero, conjuntos e
sistemas de gêneros e sistemas de atividades humanas; compreender os gêneros como
fenômenos de reconhecimento psicossocial; evidenciar a responsabilidade do professor na
escolha dos gêneros a serem produzidos. Tal conjuntura possibilita ao professor/pesquisador
uma visão clara das teorias subjacentes à prática de ensino de língua na perspectiva dos
gêneros textuais.
Por outro lado, isso não quer dizer que os postulados de Charles Bazerman
compreendam por si só uma abordagem teórica completa para a concepção dos gêneros
textuais. O fato é que, devido a sua generalidade, seu pensamento, ilustrado em suas obras,
11
pode ser facilmente associado a diferentes teorias sobre os gêneros e incorporado às pesquisas
que levam em consideração a utilização de gêneros textuais, principalmente em sala de aula.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. Editora Martins Fontes- São Paulo, 1992.
(Trabalho original publicado em 1979.)
BAZERMAN, Charles. Gêneros textuais: tipificação e interação. São Paulo: Cortez, 2005.
_________________. Escrita, gênero e interação social. São Paulo: Cortez, 2007.
_________________. Gênero, agência e escrita. São Paulo: Cortez, 2006.
_________________. Gêneros Textuais / Charles Bazerman, Carolyn Miller; orgs. Angela
Paiva Dionísio, Carolyn Miller, Charles Bazerman, Judith Hoffanagel; tradução Benedito
GomeBezerra, Fabiele Stockmans De Nardi, Darío Gómez Sánchez, Maria Auxiliadora
Bezerra, Joice Armani Galli. – 1. ed. – Recife: [s.n.], 2011.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. MEC:
Brasília, 1998.
BRONCKART, Jean-Paul. 1999. Atividades de Linguagem, textos e discursos. Por um
interacionismo sócio-discursivo. São Paulo, Editora da PUC-SP, EDUC.
GOOGLE. Sobre o Google Acadêmico. Disponível m http://scholar.google.com.br/intl/ptBR/scholar/about.html. Acesso em janeiro de 2012
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São
Paulo: Cortez, 2008.
MILLER, Carolyn R. Genre as social action. Quarterly Journal of Speech. 1984.
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