1 GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO DE LÍNGUA: UM PANORAMA DA PERSPECTIVA DE CHARLES BAZERMAN NO BRASIL Camila Mota Oliveira1 Lucas Pazoline da Silva Ferreira2 GT5 Educação, Comunicação e Tecnologias RESUMO: Situado na perspectiva dos gêneros textuais, este trabalho objetiva evidenciar como uma perspectiva de ensino de gêneros textuais, pautada em teorias de Charles Bazerman (2005; 2006; 2007; 2011), corrobora uma pedagogia de ensino-aprendizagem de línguas mais eficiente. Sua metodologia se constitui na seleção e análise de artigos, dissertações, ensaios, monografias obtidos através do Google Acadêmico, e cujas propostas estejam associadas ao ensino de línguas em sala de aula. Os resultados comprovam que um trabalho direcionado à perspectiva dos gêneros textuais situados é importante tanto para uma conjuntura teórica atualizada quanto a uma exigência educacional que precisa de melhores observações e propostas. Como fundamentação teórica, entre outros autores, foram utilizados os trabalhos sobre gêneros textuais de Bakhtin (1992), Marcuschi (2008) e Bazerman (Ibidem). Palavras-chave: Gêneros Textuais. Ensino de Línguas. Charles Bazerman. ABSTRACT: Situated in the perspective of genres, this work aims to demonstrate how a perspective of teaching genres, based on theories of Charles Bazerman (2005, 2006, 2007, 2011), supports a pedagogy of teaching and language learning efficiently. Its methodology is the selection and analysis of articles, dissertations, essays, obtained through Google Scholar, and whose proposals are associated with language teaching in the classroom. The results show that work directed to the prospect of genres situated is important both for a theoretical context as an updated educational requirements need better observations and proposals. As a theoretical basis, among others, it has been used work on genres of Bakhtin (1992), Marcuschi (2008) and Bazerman (ibid.). Keywords: Textual Genres. Languages Teaching. Charles Bazerman. 1 INTRODUÇÃO Há algumas décadas, os estudos sobre gêneros textuais no Brasil vêm se consolidando de modo a se tornarem inerentes ao processo de ensino de línguas. Tal fato pode ser percebido desde a segunda metade do século XX, quando as pesquisas se voltaram para a construção de uma abordagem teórica propícia à aplicação em ambientes de ensino-aprendizagem, até o final da década de 1990, quando os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Mestranda em Letras (UFS); Bolsista Capes – Brasil; [email protected] Mestrando em Letras (UFS); Bolsista Capes – Brasil; Pesquisador e membro do grupo de pesquisa CNPq NUCA - Núcleo de Pesquisa em Comunicação e Tecnologia; [email protected]. 1 2 2 Portuguesa incluíam enquanto orientação pedagógica a perspectiva dos gêneros textuais no ensino de língua materna. Atualmente, esse panorama de teoria/prática no estudo dos gêneros textuais é bastante diversificado. Sendo assim, o recorte escolhido para a realização desse estudo demonstra as contribuições de Charles Bazerman especialmente no tocante à aplicabilidade dos gêneros textuais em ambientes de ensino-aprendizagem oficiais no Brasil. Charles Bazerman é professor do departamento de Educação da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara (EUA). Suas pesquisas centram-se na dinâmica social da escrita, nas teorias retóricas e uso do conhecimento. No Brasil, o professor Bazerman publicou pela editora Cortez3 os livros “Gêneros Textuais, Tipificação e Interação”, em 2005, “Gênero, Agência e Escrita”, em 2006, e “Escrita, Gênero e Interação Social”, em 2007. Neste estudo, objetivou-se evidenciar como perspectivas de ensino de gêneros textuais pautadas em teorias de Charles Bazerman corroboram uma pedagogia mais eficiente para o ensino-aprendizagem de línguas. Logo, com a finalidade de constituir um corpus (artigos, dissertações, ensaios, monografias) favorável para cumprir o objetivo ora proposto, foi utilizado o “Google Acadêmico”, um motor de busca específico, disponibilizado pela empresa Google. Seguindo critérios pré-estabelecidos para seleção de materiais para constituição do corpus, foi realizada uma triagem dos resultados obtidos pelo buscador a fim de obter materiais potencialmente mais gerais e relevantes, mesmo que de forma condensada, pois sabemos o grande número de trabalhos disponíveis em periódicos e acervos digitais. 2 GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO Uma sociedade se estabelece principalmente pelas situações comunicativas das quais o sujeito participa constantemente. Essas práticas sociais podem ser compreendidas desde, por exemplo, um simples diálogo ou bilhete até uma palestra ou artigo científico, ou seja, de construções textualizadas simples e cotidianas às complexas e de instâncias específicas. Essas atividades sociais de utilização da língua são denominadas Gêneros Textuais. No Brasil, está aumentando o número de trabalhos relacionados aos gêneros textuais e sua aplicabilidade no ensino de línguas, fato confirmado por Marcuschi (2008). Como explica o linguista, o estudo dos gêneros textuais não é recente, se considerarmos as primeiras 3 Editora brasileira com mais de 30 anos de atuação, voltada especificamente para a formação e especialização de professores e alunos nas áreas de Ciências Humanas e Sociais. 3 observações de Platão no século V a.C., mas “está na moda”, pois o foco na linguagem em funcionamento, relacionada aos aspectos das atividades sociais e culturais, acomoda-se facilmente ao pensamento científico atual. De maneira didática, Marcuschi (2008), um dos pioneiros da Linguística Textual no Brasil, apresenta algumas correntes teóricas de estudo dos gêneros que se destacam e se proliferam no panorama nacional. Em resumo, tem-se: uma linha bakhtiniana, alimentada pelo socioconstrutivismo; a perspectiva “swalesiana” (escola norte-americana); uma perspectiva sistêmico-funcional (sob os postulados de Halliday); e uma perspectiva menos marcada por essas anteriores e mais geral (Bakhtin, Bazerman, Miller, Bronckart, entre outros). Como parte do estudo de Marcuschi (2008), em “Gêneros textuais: Produção textual, análise de gêneros e compreensão” é direcionada ao ensino, faz-se necessária uma definição de gênero textual de fácil percepção. Por isso, Marcuschi (2008) se valendo das observações de Bakhtin (1979/1992), Miller (1984) e Bronkart (1999), entre outros, apresenta um conceito de gênero textual. Gênero textual refere os textos materializados em situações comunicativas recorrentes. Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. Em contraposição aos tipos, os gêneros são entidades empíricas em situações comunicativas e se expressam em designações diversas, constituindo um princípio de listagem aberta. (MARCUSCHI, 2008, p. 155) A partir dessa conceituação, Marcuschi (2008) aponta para uma importante distinção entre gêneros textuais e tipologias textuais. Os gêneros são constituídos pelas realizações textuais empíricas que desempenham funções em situações sociocomunicativas através de várias possibilidades de estruturação textual. Cartas, recibos, artigos, palestras, seminários e bate-papos virtuais são exemplos de gêneros. Os tipos textuais estão relacionados às características intrínsecas da língua, uma construção teórico-abstrata, delimitada por fatores sintáticos, lexicais, estilísticos etc. Descrição, narração, argumentação, injunção e dissertação, tudo isso faz parte da classificação limitada das tipologias, que em si mesma, não evidencia uma situação de uso da língua. Para um trabalho de ensino-aprendizagem pautado na perspectiva dos gêneros textuais, algo que deve ser levado em consideração é a relação interdependente entre gêneros 4 textuais e tipos textuais, pois o constructo teórico-linguístico (tipo) é fundamental para a construção de um gênero, e vice-versa. Como o próprio Marcuschi (2008) confirma, suas posições levam em conta principalmente o pensamento bakhtiniano. Ou seja, deve-se considerar que as atividades humanas estão relacionadas à utilização da língua, que ocorre de maneira heterogênea em contextos determinados. Sendo assim, como os gêneros textuais são “tipos relativamente estáveis de enunciados” elaborados em determinadas “esferas da comunicação humana” (BAKHTIN, 1992, p. 279), eles também são heterogêneos, podendo se manifestar, por exemplo, na forma de uma simples carta ou de um texto jurídico. Em resumo, os gêneros não são estáticos, parados no tempo, eles “transmutam” e acompanham o desenvolvimento tecnológico, ou seja, sua ampliação chega à denominada cultura eletrônica através do telefone, do gravador, do rádio, da TV e do computador e seus similares. Por outro lado, deve-se também considerar a própria escrita alfabética enquanto um aparato tecnológico, que propiciou o surgimento de novos gêneros. Em relação ao ensino de línguas, principalmente o da língua portuguesa, estabelecido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, o foco na caracterização e utilização dos gêneros textuais, enquanto objeto de ensino, é fundamental, pois a partir do uso teórico-prático da diversidade de gêneros, a competência discursiva do aluno é desenvolvida. Em relação ao professor e ao ensino, isso implica numa melhor seleção de textos para estimular a compreensão e produção escrita e oral. Os textos organizam-se sempre dentro de certas restrições de natureza temática, composicional e estilística, que os caracterizam como pertencentes a este ou aquele gênero. Desse modo, a noção de gênero, constitutiva do texto, precisa ser tomada como objeto de ensino. [...] Nessa perspectiva, necessário contemplar, nas atividades de ensino, a diversidade de textos e gêneros, e não apenas em função de sua relevância social, mas também pelo fato de que textos pertencentes a diferentes gêneros são organizados de diferentes formas. (PCN, 1998, p. 25) Com a utilização didática dos gêneros textuais em sala de aula, o espaço para o processo de ensino-aprendizagem de uma língua se torna mais complexo, pois agora são levados em consideração elementos intrínsecos e extrínsecos à língua, oriundos de inúmeros fatores de textualidade. Assim, a competência linguística é mais bem desenvolvida tendo em vista que o conceito de texto é ampliado de modo a considerar aspectos individuais, sociais, culturais, comunicativos e linguísticos. 5 2.1 OS GÊNEROS NA PERSPECTIVA DE CHARLES BAZERMAN Dentre as várias perspectivas de estudos dos gêneros textuais que estão se difundindo no Brasil, essa pesquisa se concentra em teses de Charles Bazerman, professor da Universidade da Califórnia (EUA), e como o próprio se intitula, “teórico do gênero em geral”. No Brasil, a primeira publicação de Bazerman foi o livro “Gêneros textuais, tipificação e interação”, em 2005. Sobre esta última, Marcuschi (2008) destaca seu “alto potencial aplicativo”, pois ela trata dos aspectos funcionais e históricos dos gêneros e apresenta conceitos claros sobre gêneros, sistemas e conjuntos de gêneros. Os trabalhos de Bazerman (2005; 2006; 2007; 2011) dialogam perfeitamente com os desenvolvidos por Carolyn Miller. O conceito para “gênero” proposto por Miller (1984; 2011) no qual “o gênero é uma ação retórica tipificada baseada numa situação retórica recorrente” é amplamente utilizado por Bazerman (ibidem), que se dedica principalmente ao gênero enquanto uma categoria psicossocial que emerge historicamente. Sendo assim, deve-se observar o contexto sócio-histórico e o sujeito cognitivo, pois é a partir deles que sentidos são identificados, moldados, localizados e recebidos. Para Bazerman (2011), a noção de gênero pode ser aplicada a qualquer tipo de artefato, e é a sua delimitação que o torna diferente do texto. Em relação ao ensino de língua na perspectiva dos gêneros em geral, Bazerman (2011) afirma que “é necessário situar o próprio ensino de escrita como ação social motivada de modo que o aluno deseje moldar o sentido e se empenhe para criá-lo”. Nesse caso, o professor deve orientar e criar situações motivadoras com gêneros significativos. E o que seriam esses gêneros significativos? São os gêneros que levarão o aluno a assumir determinados papéis e atividades, considerando tanto seu conhecimento como suas disposições atuais. A abordagem de Bazerman (2007; 2011) para o ensino reflete a visão do gênero como mediador de interações socioculturais. Sendo assim, para desenvolver habilidades no aluno nessa perspectiva, é necessária uma pedagogia específica em alguns prontos: (re)produzir elementos-chave dos sistemas de atividades dentro dos quais o gênero evolui e é utilizado; e por fim, reconhecer o dinamismo, a transformabilidade e relativa estabilidade dos gêneros. A educação letrada precisa atender não somente às habilidades formais de codificar e decodificar textos, mas também aos processos individualizados da construção de sentidos. É preciso também ajudar os alunos a engajaremse com as ferramentas necessárias para compreender, avaliar e participar dos sistemas de atividade social maiores onde os textos assumem significados e vida. (BAZERMAN, 2007, p.196) 6 A contribuição de Charles Bazerman para a teoria dos gêneros em geral, e principalmente para o ensino de línguas, é de suma importância para uma pedagogia adequada tanto a uma conjuntura teórica atualizada quanto a uma exigência educacional não tão recente, mas que ainda necessita de observações e propostas que auxiliem ao professor/pesquisador em suas atividades. 3 A ABORDAGEM DE BAZERMAN EM ESTUDOS DESENVOLVIDOS NO BRASIL Atualmente, no Brasil, várias são as pesquisas que incorporam a perspectiva de Charles Bazerman para o ensino de gêneros textuais situados. Por ser uma perspectiva geral, como a de Bakhtin (1978/1992), Miller (1984), muitos dos seus postulados são fundamentais e de fácil acesso para qualquer pesquisador dos gêneros, seja ele iniciante ou em fase de doutoramento. * Para observar a influência de Charles Bazerman nas produções acadêmicas brasileiras, foi utilizado o Google Acadêmico (http://scholar.google.com.br), um motor específico de busca web. Esta ferramenta permite, de maneira simples, pesquisar literatura acadêmica de maior relevância, que estejam integradas à rede mundial de computadores – Internet/Web. A confiabilidade nas informações encontradas se estabelece no modo como os resultados são classificados, dando ao pesquisador uma amostra considerável daquilo que está procurando. O Google Acadêmico classifica os resultados de pesquisa segundo a relevância. Como na pesquisa da web com o Google, as referências mais úteis são exibidas no começo da página. A tecnologia de classificação do Google leva em conta o texto integral de cada artigo, o autor, a publicação em que o artigo saiu e a frequência com que foi citado em outras publicações acadêmicas. (GOOGLE, 2012) Como um dos critérios, foi eleito o ano de publicação (2005) de “Gêneros textuais, tipificação e interação”, primeira obra de Bazerman publicada no Brasil, para demarcar ponto cronológico inicial para as buscas. Foram utilizadas as palavras “Charles Bazerman” no motor de busca, que apresentou 110 resultados4 (sem incluir patentes e citações isoladas). Desses materiais, em que se destacam artigos, teses e monografias, foram selecionados apenas os trabalhos sobre gêneros textuais em sala de aula (propostas de ensino) que trazem C. O link da pesquisa é “http://scholar.google.com.br/scholar?q=%22Charles+Bazerman%22&hl=ptBR&lr=lang_pt&as_sdt=0&as_ylo=2005&as_yhi=2012&as_vis=1”, acessado no período de 02 a 04 de janeiro de 2012. 4 7 Bazerman em sua fundamentação. A análise dos resultados desses trabalhos (teses, monografias, artigos) será importante para que se evidencie como as propostas de ensino de gêneros textuais pautadas em teorias de Bazerman corroboram uma pedagogia que auxilia um ensino-aprendizagem de língua eficiente. * Dos 110 trabalhos encontrados, apenas 7 se enquadravam no recorte proposto para esse estudo. A fim de uma melhor visualização dos resultados, o Quadro 1 resume os dados específicos de cada pesquisa e seus respectivos autores. GÊNERO Artigo TÍTULO SMS: UM TORPEDO LINGÜÍSTICO ANO AUTOR TITULAÇÃO FACULDADE 2007 Giselda dos Santos Costa Mestre UFPE 2009 Ana Virgínia Lima da Mestre UFMG NAS AULAS DE LINGUAS Artigo PRODUÇÃO DE RESENHAS ACADÊMICAS: OS RECURSOS Silva LINGÜÍSTICOS E A APROPRIAÇÃO DO GÊNERO Artigo ALINE, GÊNEROS E LEITURA: POR 2010 Aléx Caldas Simões Mestrando UFTM 2010 Gilvânia Oliveira do Mestre UNIV. NOVOS PARADIGMAS DE ENSINO PARA O GÊNERO TIRINHA NO ENSINO BÁSICO Monografia ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA, Nascimento Gonzalez CATÓLICA DE GÊNEROS TEXTUAIS E. PRÁTICA PERNAMBUCO PEDAGÓGICA Ensaio A UTILIZAÇÃO DO JORNAL 2010 ESCOLAR COMO METODOLOGIA Vanessa Wendhausen Doutoranda UNISUL Lima DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E SUA INFLUÊNCIA NA APRENDIZAGEM EM SALA DE AULA Dissertação OS GÊNEROS TEXTUAIS NA 2010 Hiliana Alves dos Santos Mestre UNIVERSIDAD FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE E CATÓLICA LÍNGUA PORTUGUESA EM DE INSTITUIÇÕES DE ENSINO PERNAMBUCO SUPERIOR Monografia A CONTRIBUIÇÃO DOS GÊNEROS NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA 2011 Maria Euveciana de Graduanda Lacerda LEITURA E ESCRITA Quadro 1 – Resultado da pesquisa através do Google Acadêmico Fonte: produção dos autores, 2013. FGF 8 Para melhor compreender as pesquisas expostas na triagem (Quadro 1), realizar-se-á uma breve descrição das propostas e dos resultados respectivos a cada trabalho, aos quais, além disso, será feita uma correlação com os postulados apresentados de Charles Bazerman. SMS e ensino de língua O artigo “SMS: Um torpedo linguísticonas aulas de línguas”, de Giselda dos Santos Costa, apresenta ao professor de língua(s) como explorar o gênero textual SMS (Short Message Service) de modo a desenvolver as capacidades linguísticas discentes, através de atividades orientadas. Fundamentada na teoria de gêneros, de Charles Bazerman, a mestre em Linguística elabora uma estratégia para o ensino da leitura e escrita, porém não a reproduz efetivamente em sala de aula. Por outro lado, mesmo sem a realização das atividades é possível notar que a proposta incorpora aspectos relevantes, como os fatores socioculturais e interacionais, para o ensino de língua a partir de gêneros. Produção de resenhas acadêmicas O artigo “Produção de resenhas acadêmicas: os recursos linguísticos e a apropriação do gênero”, de Ana Virgínia Lima da Silva, mestre em Linguística, tem por objetivo analisar a apropriação do gênero resenha, suas características e os recursos linguísticos empregados em sua produção. O corpus analisado pela pesquisadora é constituído por resenhas produzidas por graduandos em Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Fundamentada em teorias de Bazerman, a pesquisadora ressalta a importância de evidenciar os papéis sociais a serem desenvolvidos pelos alunos para produção de gêneros em situações dadas. Os resultados mostraram que quanto maior a diversidade de recursos linguísticos, maior será a apropriação do gênero em questão. Tirinhas e Aline Ao analisar 20 tirinhas de “Aline”, da séria Aline Gorda, de Adão Iturrusgarai, Alex Caldas Simões, em seu artigo “Aline, gêneros e leitura: por novos paradigmas de ensino para o gênero tirinha no ensino básico”, busca apresentar uma estratégia de ensino de língua a partir do gênero textual tirinha, levando em consideração a leitura como uma atividade complexa. O pesquisador evidencia a perspectiva de Charles Bazerman, principalmente ao 9 considerar o texto como fato social, os conceitos de gênero, conjuntos e sistemas de gêneros, sistemas de atividades humanas e as modificações no processo de escrita, causadas pela multimodalidade. Como resultado, tem-se uma proposta para o ensino de leitura e escrita não aplicada efetivamente em sala, porém potencialmente eficaz para o ensino de línguas. Gêneros textuais e práticas pedagógicas A monografia intitulada “Ensino-aprendizagem de língua portuguesa, gêneros textuais e prática pedagógica”, de Gilvânia Oliveira do Nascimento Gonzalez, tem como objetivo compreender como as atividades de linguagem são desenvolvidas na sala de aula de língua materna e quais os diferenciais de uma aula na perspectiva dos gêneros textuais. Ao produzir e analisar relatórios de observação de quatro professores de língua portuguesa da rede pública de Recife, a pesquisadora evidencia a importância de se considerar a percepção sociorretória defendida por Bazerman atrelada ao ensino de línguas. Como resultado, foi identificado que o formalismo e o estruturalismo ainda são muito presentes nas aulas, o que dificulta uma caracterização da língua em seus aspectos sócio-históricos e culturais. O jornal em sala de aula O ensaio “A utilização do jornal escolar como metodologia de ensino de língua portuguesa e sua influência na aprendizagem em sala de aula”, de Vanessa Wendhausen Lima, fundamentado na concepção sociorretórica de análise de gênero (a partir de Bazerman), aborda um projeto de elaboração de jornal escolar ainda a ser implantado numa escola pública de Tubarão (RS). Trata-se de uma forma de analisar os aspectos linguísticos inerentes a essa produção (do jornal) e verificar os comportamentos de autores e de leitores perante o material escrito. Gêneros textuais e formação docente A dissertação intitulada “Gêneros textuais na formação do professor de língua portuguesa em instituições de ensino superior”, de Hiliana Alves dos Santos, tem como objetivo analisar o ensino dos gêneros textuais nos cursos de letras em faculdades de formação de professores. A partir das propostas de Bazerman, que tratam os gêneros como 10 fenômenos de reconhecimento psicossocial e evidenciam a responsabilidade do professor na escolha dos gêneros que serão produzidos em sala, a pesquisadora analisou alguns questionários respondidos por seis professores que lecionam no nível superior. Os resultados apontam para um distanciamento entre a teoria e a prática realizadas em sala, o que sugere uma melhor qualificação dos profissionais envolvidos na pesquisa. Gênero, leitura e escrita A monografia intitulada “A contribuição dos gêneros no processo de aquisição da leitura e escrita”, de Maria Euveciana de Lacerda, tem por objetivo identificar como os gêneros textuais contribuem para o ensino da língua materna no 6° ano da Escola de Ensino Fundamental Careolano Leite, em Maurití – CE. Adotando a concepção de Bazerman de gênero com fato social, os resultados apontam para necessidade de formação contínua do professor tendo em vista as exigências em se trabalhar com gêneros no ensino de línguas. A amostragem analisada evidencia que as teorias de Charles Bazerman realmente confirmam uma pedagogia que auxilia um ensino-aprendizagem de línguas de maneira eficiente. Seja uma proposta com resultados potenciais ou uma análise da realidade escolar, todas vêm corroborar a importância de se considerar algumas peculiaridades tanto para se trabalhar com o gênero quanto para utilizá-lo como intermediário de outro objetivo curricular. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao evidenciar as contribuições de Charles Bazerman aos estudos dos gêneros textuais no Brasil, através da análise do corpus, tais peculiaridades se tornam evidentes: considerar o texto como fato social; estabelecer distinção entre os conceitos de gênero, conjuntos e sistemas de gêneros e sistemas de atividades humanas; compreender os gêneros como fenômenos de reconhecimento psicossocial; evidenciar a responsabilidade do professor na escolha dos gêneros a serem produzidos. Tal conjuntura possibilita ao professor/pesquisador uma visão clara das teorias subjacentes à prática de ensino de língua na perspectiva dos gêneros textuais. Por outro lado, isso não quer dizer que os postulados de Charles Bazerman compreendam por si só uma abordagem teórica completa para a concepção dos gêneros textuais. O fato é que, devido a sua generalidade, seu pensamento, ilustrado em suas obras, 11 pode ser facilmente associado a diferentes teorias sobre os gêneros e incorporado às pesquisas que levam em consideração a utilização de gêneros textuais, principalmente em sala de aula. REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. Editora Martins Fontes- São Paulo, 1992. (Trabalho original publicado em 1979.) BAZERMAN, Charles. Gêneros textuais: tipificação e interação. São Paulo: Cortez, 2005. _________________. Escrita, gênero e interação social. São Paulo: Cortez, 2007. _________________. Gênero, agência e escrita. São Paulo: Cortez, 2006. _________________. Gêneros Textuais / Charles Bazerman, Carolyn Miller; orgs. Angela Paiva Dionísio, Carolyn Miller, Charles Bazerman, Judith Hoffanagel; tradução Benedito GomeBezerra, Fabiele Stockmans De Nardi, Darío Gómez Sánchez, Maria Auxiliadora Bezerra, Joice Armani Galli. – 1. ed. – Recife: [s.n.], 2011. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. MEC: Brasília, 1998. BRONCKART, Jean-Paul. 1999. Atividades de Linguagem, textos e discursos. Por um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo, Editora da PUC-SP, EDUC. GOOGLE. Sobre o Google Acadêmico. Disponível m http://scholar.google.com.br/intl/ptBR/scholar/about.html. Acesso em janeiro de 2012 MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Cortez, 2008. MILLER, Carolyn R. Genre as social action. Quarterly Journal of Speech. 1984.