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E STA D O D E M I N A S
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CIÊNCIA&SAÚDE
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FEDRIZZI JUNIOR/INPE/ELAT
Serviço especial criado pelo
Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais pretende diminuir
número de pessoas atingidas
por descargas elétricas no
país e também danos, que
chegam a R$ 1 bilhão
Raios monitorados para
evitar mortes e prejuízos
EDUARDO TRISTÃO GIRÃO
“Anualmente, nosso país é atingido
por cerca de 50 milhões de raios, que
provocam, em média, a morte de 110
pessoas. Esse fenômeno atmosférico é
inevitável, incontrolável e só podemos
nos proteger dele”, resume Gisele Zepka,
colaboradora do Grupo de Eletricidade
Atmosférica do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Elat/Inpe). Foi essa
a motivação para que criasse um programa de computador capaz de prever
a incidência de raios com antecedência
de 24 horas. O serviço será disponibilizado gratuitamente a partir de janeiro no
site do Inpe, inclusive para uso de veículos de comunicação, a exemplo do que
já ocorre com a previsão do tempo.
O sistema foi projetado e desenvolvido durante o doutorado de Gisele, associado ao instituto. As pesquisas começaram há cinco anos e usaram como
base o modelo meteorológico Weather
Research and Forecasting (WRF), ferramentas estatísticas e dados de descargas atmosféricas dentro das nuvens e
para o solo registrados pela Rede Brasileira de Detecção de Descargas Atmosféricas (BrasilDAT). Foram comparadas
informações obtidas pelo WRF (vento,
temperatura, umidade e concentração
de gelo em diferentes alturas na atmosfera) com dados da BrasilDAT, terceira
maior rede de detecção de raios do
mundo, operada pelo Inpe.
“Os dados de entrada são uma combinação matemática de variáveis meteorológicas indicadoras em potencial
de ambientes favoráveis à ocorrência de
tempestades com raios. Todas essas variáveis são obtidas exclusivamente de
simulações numéricas em alta resolução com o modelo de mesoescala WRF,
bastante utilizado para a previsão de
tempo no mundo. Por fim, a saída do
programa é um mapa colorido, cujas
cores representam diferentes probabilidades de ocorrência dos raios, facilitando o entendimento do usuário da informação”, explica ela.
Segundo a pesquisadora, a combinação desses dados ainda é pouco comum, apesar de relevante. “A associação entre eletricidade atmosférica e modelagem numérica é considerada parte
importante e relativamente nova nas
investigações sobre tempestades hoje.
❚ CURIOSIDADES
Cores no mapa representam
diferentes probabilidades de
ocorrência dos raios, facilitando
o entendimento da
informação pelo usuário
Poucos países abordam essa questão e
o que se sabe a respeito é divulgado em
artigos científicos. No entanto, desconheço um outro sistema de previsão de
raios que esteja pronto para ser implementado operacionalmente como o
que criei e chamo de Potential Lightning Region (PLR)”, observa ela.
Os computadores que rodam o sistema de previsão de raios ficam nas dependências do Grupo de Eletricidade
Atmosférica do Inpe, em São José dos
Campos, no interior paulista. De acordo
com a pesquisadora, ele permite prever
a probabilidade de raios em todo o Brasil – o erro médio é de 20 quilômetros e
a margem de acerto é de 85%.
O sistema ficará disponível gratuitamente
no
site
do
grupo
(www.inpe.br/elat) e os dados serão repassados a veículos de comunicação de
todo o país. “A ideia é seguir o padrão da
previsão do tempo que há nos telejornais. Quanto mais informação, menos
exposição ao perigo”, resume Gisele.
CLIMA Osmar Pinto Júnior, coordena-
dor do Grupo de Eletricidade Atmosférica do instituto, afirma que o desenvolvimento desse projeto teve duplo objetivo: “O propósito do sistema é prevenir
as mortes por raios, que chegam a 110
por ano, além das 500 pessoas que ficam feridas por isso anualmente no
Brasil. O sistema visa, ainda, diminuir os
prejuízos materiais e no campo, que somam R$ 1 bilhão”.
O Brasil é um dos países com maior
incidência de raios no mundo: cerca de
50 milhões deles cortam o céu daqui todo ano. A explicação é geográfica e mais
elementar do que pode parecer, observa Júnior: “Somos o maior país da zona
tropical do planeta. Nesta área central,
o clima é mais quente e, portanto, mais
favorável à formação de tempestades”.
Segundo ele, 80% dos acidentes envolvendo raios poderiam ser evitados.
● Relâmpagos são todas as descargas
elétricas geradas por nuvens de
tempestades, que se conectam ou não ao
solo. Já os raios são somente as descargas
que se conectam ao solo.
● Trovão é o som produzido pelo rápido
aquecimento e expansão do ar na região
da atmosfera onde a corrente elétrica
do raio circula.
● Um trovão intenso pode chegar a 120
decibéis, intensidade comparável ao que
se ouve nas primeiras fileiras de um
show de rock.
● Em geral, o trovão é inofensivo, mas o
deslocamento de ar provocado por ele
pode derrubar uma pessoa que esteja
muito perto do local de incidência do
raio, podendo até causar sua morte.
FOTOS: ELAT/INPE/DIVULGAÇÃO
PROTEJA-SE!
A chance de ser atingido por um
raio é muito baixa, menor do
que uma para um milhão.
Contudo, numa área
descampada e sob tempestade
forte, a chance pode aumentar a
até uma para 1 mil. Numa
situação dessa, o Inpe aconselha
ajoelhar-se e curvar-se para
frente, colocando as mãos nos
joelhos e a cabeça entre eles –
sem deitar. O instituto também
recomenda evitar locais como
topos de morros e cordilheiras,
topos de prédios, campos de
futebol, quadras de tênis e
estacionamentos abertos, não
segurar objetos metálicos longos
e manter distância de cercas de
arame, varais metálicos, linhas
aéreas, trilhos e árvores
isoladas. Se uma pessoa for
atingida por um raio, a corrente
pode causar queimaduras e, em
caso de morte, a maioria é por
parada cardíaca ou respiratória.
● A descarga elétrica de um raio costuma
ser mil vezes mais intensa que a de um
chuveiro, ou seja, cerca de 30 mil
amperes. Ela pode percorrer cinco
quilômetros.
● Um raio pode durar até dois
segundos, mas dura, em geral, meio ou
um terço de segundo. No entanto, cada
descarga dura apenas uma fração de
milésimo de segundo.
O propósito
do sistema é
prevenir as
mortes por raios,
que chegam a 110
por ano, além das
500 pessoas que
ficam feridas por
isso anualmente
no Brasil”
■ Osmar Pinto Júnior,
coordenador do Elat/Inpe
● Ao contrário do dito popular,
um raio pode cair duas vezes em um
mesmo lugar. Exemplo é o Cristo Redentor,
no Rio de Janeiro, atingido cerca de seis
vezes por ano.
● Embora a potência de um raio seja alta,
sua pequena duração faz com que a
energia seja baixa, equivalente ao
consumo mensal de uma casa
pequena (300kWh).
● Para saber a distância aproximada da
queda de um raio, em quilômetros, basta
contar o tempo (em segundos) entre o
momento em que se vê o raio e se escuta
o trovão e dividir o número obtido por três.
● Apesar da “lenda” sobre o fato de Minas
Gerais ser o estado brasileiro com maior
incidência de raios, a região mais atingida
do país fica no Amazonas, entre Coari e
Manaus.
Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
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