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novembro 22, 2009
O povo guarani não será
varrido da face da terra
Altino Machado às 1:18 am
POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE
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terra
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Polícia, cadeia, tribunal, juiz, código penal, latinorum. Essas instituições
raramente punem crimes cometidos contra índios. Por isso, os Guarani não
confiam na justiça dos brancos. Conhecidos como os ‘teólogos da floresta’,
só acreditam na reza - porahei, de onde tiram sua força e organização.
Diante do altar numa casa da aldeia Pirajuí (MS), eles tocam o som agudo
do mimby - um instrumento de sopro, dançam jeroky e entoam cantos
sagrados, repetindo milhares de vezes, sem parar, como numa ladainha:
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- Ore roimé nderehe’y! Ore roimé nderehe’ym…
Significa em português: “Nós sentimos falta de você”. A reza é feita numa
língua que os desembargadores ignoram, mas que Nhanderu (Nosso Pai)
entende muito bem, porque o guarani é a língua da fé, própria para rezar,
cantar, louvar. Na reza, eles conversam com Nhanderu e com o espírito
dos professores guarani - Rolindo Verá e Genivaldo Verá - assassinados
por pistoleiros em Paranhos (MS), na fronteira com o Paraguai.
A ausência dos dois professores foi sentida na Primeira Conferência
Nacional de Educação Escolar Indígena, realizada de 16 a 20 de novembro
em Luziânia, na periferia de Brasília, quando foram homenageados com
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em Luziânia, na periferia de Brasília, quando foram homenageados com
um minuto de silêncio por mais de 700 participantes que discutiram a
organização de um sistema educacional responsável, hoje, por 2700
escolas indígenas em todo o Brasil. Numa delas, com 480 alunos, as
crianças sentem falta de seus dois professores e também rezam: Ore roimé
nderehe’ym.
A última lição
Por que índios armados apenas com giz e apagador são assassinados?
Fiz a pergunta ao professor guarani Avá Guyrapá Mirim, presente à
Conferência. Ele era amigo de Genivaldo e Rolindo e colega deles na
Escola Municipal Adriano Pires. Contou que no dia 29 de outubro os dois
integraram o grupo que tentou retomar a terra indígena Tekoha Ypo’i, onde
estão enterrados seus avôs, e que hoje, com o nome de Fazenda São
Luís, está ocupada pelo fazendeiro Firmino Escobar. Essa foi a última aula
que deram.
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face da terra
Mário Xavier em O povo guarani não será
varrido da face da terra
ivo jose kunzler em O povo guarani não
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Heron em O povo guarani não será varrido
da face da terra
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Com essa aula, ensinaram uma lição escrita com o próprio sangue: os
índios devem lutar por seus direitos. Cerca de 3.000 guarani vivem hoje
encurralados na aldeia Pirajuí - uma pequena área de 2.118 hectares. Por
isso, há dois anos, reclamaram na Justiça a posse do território ancestral,
que lhes foi roubado. Mas o processo não andou, porque os fazendeiros
ameaçaram os técnicos da FUNAI, encarregados dos estudos exploratórios
de demarcação, e também por pressão do governador do Estado, André
Pucccinelli (PMDB - vixe, vixe!).
A entrada dos guarani na área indígena ocupada pela fazenda visava
justamente acelerar o estudo antropológico, que representa a única forma
de evitar os conflitos, porque é ele que vai determinar quais são as áreas
indígenas e quais não são. No entanto, pistoleiros expulsaram os índios:
“Eles chegaram atirando balas de borracha. Derrubaram a gente no chão,
bateram, chutaram, gritando: Aqui não é terra de bugre, essa terra tem
dono”.
Impedidos assim de reverenciar seus mortos, lá enterrados, os guarani se
dispersaram na mata. Quase todos retornaram à aldeia Pirajuí, com
ferimentos e hematomas no corpo. Menos os dois professores, que
desapareceram. No dia 7 de novembro, o cadáver de um deles, Genivaldo,
foi encontrado no córrego Ypo’i, enroscado ao galho de uma árvore, com
duas perfurações no corpo. O outro, até hoje, não foi localizado.
Os índios encaminharam documento ao Ministério Público Federal (MPF),
divulgado ontem, dia 21, na comunidade virtual ‘literatura indígena’, pelo
guarani Chamirin Kuati Verá, denunciando “a violência armada dos
fazendeiros” e indicando ao procurador Thiago dos Santos de Luz os
nomes dos criminosos: Joanelse Pinheiro, Toninho e Blanco. Enquanto
aguardam a resposta, cantam e rezam: Ore roimé nderehe’ym.
A despedida
Quem contou tudo isso foi Avá Guyrapá Mirim, na conversa que
mantivemos durante os intervalos da Conferência Nacional de Educação
Indígena em Luziânia. Ele pediu que não fosse publicado seu nome em
português, para evitar represálias. Deu mais informações.
Genivaldo, 21 anos, casado, pai de um filho, ensinava informática. Seu
primo, Rolindo, 28 anos, com quatro filhos, era professor da quarta série.
Ambos estavam concluindo o Curso Ará Verá de Magistério GuaraniKaiowá. Suas respectivas mulheres estavam em adiantado estado de
gravidez. Um dia, visitaram com elas as sepulturas dos avôs, dentro da
fazenda, e começaram a sonhar em recuperar a terra para lá viverem com
suas famílias. Uma das filhas de Rolindo, de dez anos, acompanhou o pai
na visita ao túmulo do avô e na retomada da terra.
Numa mensagem escrita numa folha de caderno, em português, sua
segunda língua, Rolindo se auto-definiu: “Eu sou índio guarani, uma
pessoa de muitas perguntas, gosto de ouvir os mais velhos, os conselhos,
as histórias das vidas que as pessoas idosas levaram na época que os
fazendeiros chegaram no lugar em que elas habitavam. Para ser feliz hoje,
tudo estes pensamentos que é a nossa realidade deve ser registrado ou
feito no papel para que as crianças possam pelo menos ouvir, relembrar ou
até mesmo conquistar”. A frase faz parte de um banner denunciando sua
morte.
Seus colegas professores Guarani Kaiowá escreveram uma mensagem de
despedida, lida na Conferência, na qual dizem: “Os dois desapareceram.
Não viverão nas terras que queriam viver, não vão mais fazer roça para
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Não viverão nas terras que queriam viver, não vão mais fazer roça para
alimentar seus filhos, não vão mais educar suas crianças, não vão mais
dançar quaxiré (ritual de festa Guarani), não vão fazer novas rezas, não
vão ser tamõi (avós). Não verão a lei se cumprir. Porque ela demorou
muito, muito mais que a bala que tirou a vida deles”.
O silêncio
O que ainda surpreende é o silêncio espantoso, quase cúmplice, da mídia
de circulação nacional, tanto sobre o assassinato dos professores guarani,
quanto em relação à Conferencia Nacional de Educação Indígena, que
desenhou as diretrizes para as escolas indígenas, num evento em Brasília,
aberto pelo ministro da Educação Fernando Haddad, com a presença de
centenas de índios, falando dezenas de línguas diferentes. Se isso não for
notícia, eu não sei o que é jornalismo.
A Conferência aprovou a criação dos chamados ‘territórios
etnoeducacionais’, que reorganiza a educação escolar bilíngüe e
intercultural em novas bases, respeitando a territorialidade dos povos
indígenas. Quanto ao território guarani, vale a pena transcrever as palavras
de Ava Guyrapá Mirim, encerrando nossa conversa:
“Vamos continuar a luta pela terra, isso já está no nosso espírito, achamos
força na reza, na dança, no canto. Nossa esperança maior agora é
Nhanderu, que vai nos orientar e dar força para recuperar a terra. Os dois
morreram, mas o sonho dos guarani não desaparece jamais”.
O Brasil generoso e solidário precisa manifestar sua indignação, exigindo a
punição dos criminosos e apoiando a luta dos guarani pela recuperação de
suas terras. As vozes do Brasil solidário precisam sufocar a truculência do
outro Brasil: o Brasil covarde, o Brasil indiferente, o Brasil cínico, o Brasil
omisso, o Brasil que continua a tratar a população indígena de forma
colonialista.
Conforme informações de Ava Guyrapá Mirim, oito dias depois do
assassinato de Rolindo, sua mulher, grávida, pariu um filho. Uma semana
depois, foi a mulher de Genivaldo quem deu à luz uma criança. Os dois
órfãos, ainda sem nome, trazem uma mensagem de esperança, de que o
povo guarani não será varrido da face da terra.
♦ O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de
Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de PósGraduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra
Ti .
Foto: Francisco Edviges
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7 Comentários »
É a maldita linha editorial jornalística que não passa de censura prévia, sinal mais
de ditadura do que de democracia, que só serve para desinformar leitores e
manipular a opinião pública. Não vejo sentido na tal Linha Editorial, deveria ser
considerada uma transgressão ao Código de Defesa do Consumidor, pois os
leitores são consumidores de informações, e à Consituição, pois fere a liberdade
de expressão e o dever de informar e o direito à informação, ambos direitos
fundamentais. A Linha Editorial jornalística não comunica, apenas trumbica,
espalha boatos, cultiva preconceitos e destrói reputações.
Comentário por Evelin Olívia Fróes — novembro 22, 2009 @ 12:07 pm
sou aluna do curso de historia , após ler este artigo mais uma vez vem a sensação
de indignação, em saber que nossos governantes não respeitam os verdadeiros
donos da terra, pois se a terra tem um dono , os donos são eles os indios , que
aqui estavam muito antes de nos a invadirmos, e como diz uma sabia frase
indigena, só se dara valor a terra quando a ultima arvore for derrubada e o animal
Homem perceber que dinheiro não se come. E que o povo indigena continue
lutando pelo seus direitos, mas não contem com a midia pois esta em nosso pais é
vendida e só divulga o que lhes é de interesse e o que da ibope.
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Comentário por nilza — novembro 22, 2009 @ 12:48 pm
Acho que já chega de tratar os índios como coitadinhos. Lei para eles! Se
matarem, que sejam presos. Que trabalhem e ganhem seus sustentos!
Chega de vagabundos!
Comentário por Heron — novembro 22, 2009 @ 1:14 pm
meu caro guerreiro,
aprendi sua cantiga nos tempos de roça na barranca do Rio Paraná, nos anos
1980. Nao sou branco de alma e coraçao, nao sei se sou negro, escrabo, operário
ou indío. so sei que a questao nao está na cor da pele, mas sim no acesso ao
dinheiro, propriedade e universidade, cultura e edicaçao.
sou formado em direito, filosofia, economia e ciencia e política, descendencia
alema, mas falo alguns fonemas em tupi-guarany, alemao, espanhol e ingles.
adoro saber que o povo guarany está vivo, ainda que um dos 7 povos das
missoes localizado no RS, quando indagado do nome, ao em vez de chamar-se
de Tuarajú, ou outro Tupak Amaru, se chama Jose, Antonio ou miguel, infliencia
negasdta dos Jesuitas. Acho que o povo guarany é dono do Brazil e de muito
deste continente, ainda que tenhamos que discutir as razoes da liquidaçao parcial
da civilizaçao…
adorei a bandeirqa asteada, eu quero cantar junto, conte comigo…
Comentário por ivo jose kunzler — novembro 22, 2009 @ 1:55 pm
Até pensei não escrever nada, mas porque omitir o que realmente, penso e sinto,
a respeito desta barbarbaridade. Enquanto o sapo barbudo anda galanteando o
filme da sua vida, e assaltante de banco e quadrileira, inchada dentro do poder e
querendo ir fazer discurso sobre o apagão, procupada com sua eleição. A
segurança brasileira e indo cada vez mais ao descabro, bandidos fazendo todos
nós de refém, vivemos trancafiados em nossas casas, e ainda somos usados por
estes bandidos que ocupa o poder, para acenssão usando nossa ignorancia de
conhecimneto da estória de seus passados. Dinheiro nos cofres públicos não falta
para o investimento em nossa segurança e dos popres povo indígina, esperamos
justiça pela destes jovens indios e isto repercute mesmo sendo uma vergonha
para nós, que o mundo venha saber, que as autoridade investigue a finco, esta
barbaridade, e vejamos se não tem aí a conivência políca daquele estado e pena
que cai no esquecimento estas e outras atrocidades como o caso do Chico
Mendes.
Comentário por Mário Xavier — novembro 22, 2009 @ 2:00 pm
É o seguinte, da uma passadinha nas estradas de terra de Rondônia por exemplo
; você vai ver o que é indio de pick-up e cobrando taxas para passar por la . Caso
não colabore ha riscos até de morte. Chega dessa merda o Brasil ja tem 500 anos
pelo menos,,vamos colocar pingos nos is, e Lei pra todo mundo e chega de
Hipocrisia…!!!
Comentário por Sb — novembro 22, 2009 @ 2:36 pm
Pelos comentários de alguns aqui, não resta a menor dúvida de que o primitivo é o
homen “branco”
Comentário por joao sal — novembro 22, 2009 @ 3:46 pm
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