Departamento de História
Programa de Pós-Graduação em História
Reitor
José Geraldo de Sousa Junior
Vice-Reitor
João Batista de Souza
Decana de Pós-Graduação
Denise Bomtempo Birche de Carvalho
Diretor do Instituto de Ciências Humanas
Estevão Chaves de Rezende Martins
Chefe do Departamento de História
José Otávio Nogueira Guimarães
Vice-chefe
Daniel Barbosa Andrade de Faria
Coordenadora de Pós-Graduação/PPGHIS
Albene Míriam Ferreira Menezes
Coordenadora do V Simpósio Nacional de História Cultural
Brasília 50 anos: Ler e Ver – Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Cléria Botelho da Costa
COMISSÃO ORGANIZADORA
COORDENAÇÃO GERAL – ANPUH
Rosangela Patriota Ramos (UFU)
GT de História Cultural/ANPUH Nacional
COMISSÃO CIENTÍFICA
Alcides Freire Ramos (UFU)
Antônio Herculano Lopes (FCRB)
Maria Izilda Santos Matos (PUC-SP)
Mônica Pimenta Velloso (FCRB)
Nádia Maria Weber dos Santos (GTHC/RS)
Rosangela Patriota Ramos (UFU)
COMISSÃO EXECUTIVA
Alcides Freire Ramos (UFU)
Anderson Oliva (UnB)
Antônio Herculano Lopes (FCRB)
Cléria Botelho Costa (UnB)
Daniel Faria (UnB)
Diva do Couto Muniz (UnB)
Jaime de Almeida (UnB)
Maria Izilda Santos Matos (PUC-SP)
Mercedes Kothe (UPIS)
Mônica Pimenta Velloso (FCRB)
Nádia Maria Weber dos Santos (GTHC/RS)
Rosangela Patriota Ramos (UFU)
COMISSÃO EXECUTIVA LOCAL
Cléria Botelho da Costa (UnB)
Eloísa Pereira Barroso (SEEDF/UnB)
COMISSÃO ORGANIZADORA LOCAL
Aldanei Menegaz de Andrade (UnB)
Alexandre de Carvalho (UnB)
Anderson Oliva (UnB)
Cléria Botelho da Costa (UnB)
Clerismar Aparecido Longo (UnB)
Daniel Faria (UnB)
Diva do Couto Muniz (UnB)
Eloísa Pereira Barroso (SEEDF/UnB)
Edriane Madureira Daher (UnB)
Hélio Mendes da Silva (UnB)
Ivany Camara Neiva (CET/UnB)
Jaime de Almeida (UnB)
Maria Eva de Oliveira Holanda (UnB)
Maria Helena Oliveira Freire De Medeiros
(UnB)
Maria Helenice Barroso (UnB)
Maria Veralice Barroso (UnB)
Mariangeles Guerin (UnB)
Robson Nunes da Silva (UnB)
Sainy Coelho Borges Veloso (FA/UFG)
Tiago Luis Gil (UnB)
PROMOTORES
GT Nacional de História Cultural - ANPUH/
nacional
Universidade de Brasília - UNB
Universidade Federal de Uberlândia - UFU
AGÊNCIAS DE FOMENTO
CAPES/CNPq
COLABORADORES
ANPUH/DF
FAP/DF
EAPE/DF
Media Lab – UFG
Comissão Brasília 50 anos (UnB)
APRESENTAÇÃO
O V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler
e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais integra as comemorações do
cinquentenário de Brasília, cidade que serviu de berço à UnB. Nesta quinta
edição o referido simpósio busca divulgar pesquisas e suscitar debates tanto
em torno de temas já consagrados no âmbito da História Cultural, quanto de
perspectivas teóricas e metodológicas que visam a ampliar os campos de interlocução do historiador da cultura.
A proposta do V Simpósio Nacional de História Cultural é particularmente, pensar
como as subjetividades afetaram e foram historicamente afetadas pelas mudanças
ocorridas nos comportamentos e nas visões de mundo, nas formas de conhecimento do real e na concepção de valores e verdades, nas experiências estéticas e nas
expressões artísticas, nas crenças e mitos, na moral e na norma, nas formas de agregação dos indivíduos e dos grupos, no sentido do público e do privado. Que razões
e sentimentos estão contidos nessas transformações que ocorrem na história?
Por
Dra. Rosangela Patriota Ramos - (UFU)
Dra. Cléria Botelho da Costa – (UnB)
V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
ST 1
Paisagens e Viajantes - óticas e linguagens várias na
leitura múltipla de sociedades e lugares
A paisagem cartográfica de uma fronteira:
breve exercício de leitura de um mapa colonial
Benone da Silva Lopes Moraes (UFMT)
[email protected]
A “Carta Geográfica dos Extensos Territórios e Principais Rios do Governo da Capitania Geral do Mato Grosso (...)” foi um documento confeccionado em 1781 pelo então governador da
capitania de Mato Grosso, Luís de Albuquerque de M. Pereira e Cáceres a partir de viagens
fluviais que empreendeu para reconhecer a região. Nesta peça cartográfica, se representou
a área que se transformava na fronteira, que demarcava os domínios ibéricos na América
do Sul; e, de fato, há no seu desenho uma linha divisória que separa os dois territórios. Este
mapa, elaborado após a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso (1777), traz uma cartela
explicativa na qual se explicita que o mesmo faz parte da “Ideia Geral”, ou seja, que se trata
de um documento pertencente ao conjunto de cartas e textos que Pereira e Cáceres fez construir, visando alterar os termos daquele tratado de limites. O governador pretendia manter
o domínio português sobre os territórios espanhóis que os lusos haviam ocupado no interior da América Meridional. Nesta comunicação tem-se como proposta fazer uma leitura
analítica desta carta geográfica olhando-a como uma paisagem de fronteira; o objetivo é o de
adentrar na sua simbologia e interpretá-la a partir do contexto no qual foi criado.
Palavras-chave: Cartografia, Fronteira Oeste, capitania de Mato Grosso.
Carta aos Kraiuá: Koch-Grünberg e as leituras
do legado humano desde o território Pemon
Bruno Martins Morais - (UFMT)
[email protected]
Quem é o viajante? Quem é o observado? Este artigo é uma reflexão a respeito do legado humano
e sua consolidação numa história de tempos desiguais: os índios macuxi do circunroraima reconhecem em Makunaimî o primeiro a cruzar de ponta a ponta o território Pemon, organizando e
transformando o mundo como legado às gerações seguintes; Theodor Koch-Grünberg, por sua
vez, corta a Guiana Ocidental de 1911 a 1913 e relata seus feitos nos três volumes do monumental
“Vom Roraima zum Orinoco” como primeiro kraiuá (i. e., “aquele que vem de fora”) a oferecer sua
leitura dos feitos deste herói mitológico, e consolidá-las também às gerações futuras. Na forma
escrita, Makunaimî pôde ganhar ares alheio aos seus, e ser alvo de um novo conjunto de transformações: lhe trocam o nome, Macunaíma, lhe trocam a cor, enfim, lhe dão uma significância que
já é uma terceira coisa, e que pode vir a ser uma quarta, leitura das demais.
A partir desse mito heróico, colhido em fonte histórica e em trabalho etnográfico de campo,
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
a investigação deste artigo percorre o itinerário de transformações a que se sujeita este registro de Koch-Grünberg, legado de um viajante do circunroraima. Sob diferentes olhares no
tempo, recebe ele agora uma leitura inédita a partir das comunidades: com o advento do letramento e com o auxílio das recentes traduções, os povos do circunroraima podem hoje opinar a respeito, e produzir sua própria versão dessas obras. Se, conforme Mário de Andrade,
de São Paulo o Imperador do Mato Virgem escreve uma carta empolada às Icamiabas, veremos como desde o território macuxi seus súditos, no momento em que alcançam a escrita,
produzem uma próxima leitura dos viajantes, misturando tradição e mudança, letramento e
oralidade, devorando as versões passadas e subvertendo o próprio conceito de hist ória.
Impresiones de la Francia Antártica en el
pensamiento francés de la modernidad temprana
Carolina Martínez
Doutoranda pela Universidad de Buenos Aires, Argentina.
[email protected]
Son dos los relatos de viaje que sobrevivieron a la frustrada fundación de la primera colonia
francesa que hacia 1556 intentó establecerse en la Bahia de Guanabara bajo el nombre de
la Francia Antártica: Les singularitez de la France Antartique del padre capuccino André
Thevet, publicada en 1558, y L´Histoire d´un voyage fait en la terre du Brésil, obra del pastor
hugonote Jean De Léry publicada a su vez en 1576.
En una enconada disputa por la representación de la realidad, ambos relatos darán cuenta de
sus experiencias en tierras lejanas como así de aquello que vieron y sobre todo, de aquellos
con los que compartieron, aunque más no haya sido brevemente, un período de su existencia. Si es el testimonio involuntario encerrado en el texto el que realmente hecha luz acerca
de la mentalidad de quien lo escribió (Bloch, 1949), devienen estas fuentes de capital importancia para comprender no solamente las primeras impresiones francesas acerca del Nuevo
Mundo y de los habitantes allí encontrados sino también los complejos debates y entramados de poder que en una Francia signada por las guerras de religión, se tejían a mediados del
siglo XVI. Son estos algunos de los aspectos que el presente trabajo se propone analizar.
Palabras clave: expansión ultramarina – Francia – Siglo XVI
Paisagens do Brasil desconhecido: às margens do
Araguaia no fim do século XIX através dos testemunhos missionários
Claire Pic
Doutorante pela Université Toulouse 2 (França) em co-tutela com o departamento de Historia da Universidade Federal de Recife
[email protected]
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Nesta comunicação examinaremos a dimensão histórica da paisagem através da análise do
olhar dos missionários dominicanos sobre as paisagens do Brasil Central no final do século
XIX. Em 1881, os Dominicanos de Toulouse se engajam numa missão no Brasil e se estabelecem na Diocese de Goiás. Ao estudar as cartas, relatórios e livros deles, se encontra numerosas descrições e fotografias da região e das suas paisagens. Estas descrições nos falam
da geografia e dos povos do Goiás e nos permite estudar o ponto de vista desses missionários
franceses e de situar seus testemunhos nas correntes de pensamento da Europa do século
XIX. De fato existe na descrição duma paisagem uma projeção intelectual, uma interpretação
que permite destacar os pensamentos e preconceitos do autor. Procuraremos aqui, mostrar
como as descrições dos missionários reforçam a imagem de uma região “selvagem”, onde a
“civilização” ainda não chegou e participam da justificação da obra civilizadora deles.
Palavras-chaves: Paisagem - Missão religiosa - Olhar europeu
Fernando Pessoa, viajante
Daniel Faria
[email protected]
Segundo Hans Ulrich Gumbrecht, uma das marcas da experiência da viagem no século XX,
foi a restrição, ao mínimo possível, do tempo e da sensação de deslocamento durante o trajeto. Se os relatos de viagem tradicionais tematizam o ato de viajar em si, o trânsito, os meios
de transporte e comunicação contemporâneos tendem a reduzir o trânsito a um ponto quase
vazio entre a partida e a chegada. Assim, por exemplo, espera-se que um bom avião transmita, aos passageiros, a sensação de que eles estão parados. Além disso, os aeroportos são extremamente parecidos entre si. Tudo isso conflui para a lógica do turismo (termo inventado
no século XIX, indicando um tipo de viagem leve e superficial). Neste contexto, Pessoa e seus
heterônimos propuseram outra experiência de viagem: viajar como “sentir de tudo de todas
as maneiras”, sem sair do lugar. Estaríamos então diante de um novo limiar para o conceito
e a prática da viagem?
Paisagens cartográficas de um
conde revolucionário
Daniela Marzola Fialho
Professora Adjunta - UFRGS
[email protected]
O trabalho analisa a trajetória e a obra cartográfica de um viajante especial – o conde italiano
e revolucionário Lívio Zambeccari – durante o período em que viveu no Brasil. Nascido em
Bologna em 1802, teve de fugir da Itália, em 1821, por sua participação nos ‘motins napolitanos’. Aportou na América do Sul por volta de 1826, chegando ao Rio Grande do Sul em 1832.
Envolveu-se na Revolução Farroupilha ao lado de Bento Gonçalves, tendo sido preso junto
com ele em 1836. É libertado em 1839 e obrigado a sair do Brasil. De volta à Itália, participa
da unificação italiana. O acervo de imagens realizadas por ele no Brasil, especialmente sua
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
planta da cidade de Porto Alegre, de 1833, é o foco desse estudo. Feita às vésperas da Revolução Farroupilha (1835-1845), constitui-se numa leitura muito particular da paisagem da
cidade, ao localizar, na planta, as casas dos amigos revolucionários. O legado de Zambeccari inclui, além dessa planta, trabalhos gráficos e cartográficos sobre o Rio Grande do Sul
e Rio de Janeiro. Através de uma ótica que expressa o seu engajamento político, apreende e
fixa o momento histórico daquela época em uma diversidade de paisagens gráficas.
Palavras-chave: História Cultural; Cartografia Urbana; Revolução Farroupilha.
Guia bibliográfico Hercule Florence: projeto
Dirceu Franco Ferreira
Mestrando pela FFLCH-USP
[email protected]
Nesta comunicação apresentarei o projeto para confecção de um guia biobibliográficodedicado a Hercule Florence (1804-1879). Viajante de origem franco-monegasca, aportou no Rio
de Janeiro em 1824. Com destino incerto, trabalhou nas empresas de P. Dillon e P. Plancher
até seu ingresso, como “geógrafo”, na Expedição Langsdorff. Pintor etnográfico, produziu
importante conjunto de retratos das tribos visitadas durante a Expedição Langsdorff. Desta
produziu também o mais completo, porque continuo, diário de viagem. Radicado em Campinas, antiga São Carlos, onde se casou por duas vezes, Florence é personagem de trajetória
plural e, por assim dizer, singular. Considerado um dos inventores do processo fotográfico,
dedicou-se também a outros inventos, como a “poligrafia”, a “zoophonia”, “estereopintura”,
“pulvografia”, “papel inimitável” e “noria hidrostática”. Além de inventor, Florence foi proprietário da tipografia que fez a impressão de “O Paulista”, considerado o primeiro jornal impresso no interior da Provincia de São Paulo. Nas muitas viagens que fez pela Provincia,produziu
importante iconografia: retratou fazendas, festas, escravos, negociantes, paisagens e os céus.
Registrou mais de 200 obras pictóricas, feito que inspirou Affons de Taunay a atribuir-lhe
o título de “pai da iconografia paulista”. Classificar, descrever e comentar esta vasta e heterogênea produção é o propósito deste projeto.
Paisagem e Cotidiano no “Livro das Fortalezas”
do viajante Duarte de Armas (Portugal, 1509)
Edison Bisso Cruxen
Doutorando em Arqueologia Coimbra, Portugal
[email protected]
O “Livro das Fortalezas”, de Duarte de Armas, produzido em 1509, por ordem do rei de Portugal
D. Manuel I, representa um valioso documento iconográfico. A obra contém minuciosos desenhos de cinqüenta e sete fortificações construídas ao longo da fronteira luso-castelhana. Durante
o período de um ano, o autor percorreu desde o extremo Sul ao extremo Norte do território português, detalhando não apenas as características da arquitetura militar fronteiriça, mas também
todo seu entorno. As impressões desse viajante sobre os lugares percorridos abrem um leque
de percepções sobre as diferentes apropriações e usos dos ambientes onde as fortalezas estavam
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
inseridas. Dessa forma, foram registradas as utilizações dos rios, áreas de cultivo, vestuários dos
habitantes, características da organização espacial dos povoados e a configuração geográfica das
regiões. Essa obra se destaca como uma das mais importantes fontes iconográficas para estudo
da paisagem e cotidiano do início do século XVI, em Portugal.
Palavras-Chave: Livro das Fortalezas, Paisagem, Portugal no Séc. XVI.
“À margem da história” e “Amazonas Amazonas”:
as ruínas amazônicas na literatura de Euclides da
Cunha e no cinema de Glauber Rocha
Glauber Brito Matos Lacerda (UESB)
Mestrando em “Memória: Linguagem e Sociedade”pela Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia.
[email protected]
Euclides da Cunha e Glauber Rocha tiveram a Amazônia como cenário de suas respectivas obras.
O primeiro escreveu o livro À margem da história (1909), que seria a primeira parte de uma
obra maior que ele não concluiu. Já o segundo realizou o documentário em curta-metragem
Amazonas Amazonas. Ambas são marcadas pela descontrução de uma Amazônia imaginária,
criada pelo relato de antigos viajantes que, desde o século XVI, escreveram sobre a região, e pelo
destaque dado às ruínas. Sendo Glauber Rocha um assumido admirador do sentido trágico da
literatura euclidiana, a presente comunicação traça um paralelo na maneira como as ruínas
amazônicas são mostradas no filme glauberiano e na obra de Euclides da Cunha.
Maximiliano de Wied-Neuwied e a
paisagem étnico-social
Igor de Lima e Silva
Universidade Federal de Mato Grosso
[email protected]
Dentro do acervo iconográfico dedicado à temática indígena legado por viajantes oitocentistas que jornadearam o Brasil; as aquarelas feitas pelo príncipe-naturalista Maximiliano de
Wied-Neuwied ainda carecem de maiores estudos. Tendo explorado cientificamente a costa
oriental brasileira, entre os anos de 1815 e 1817, elaborou imagens que retrataram diferentes
etnias: Puri, Pataxó, Botocudo e Maxakali registrando tanto as suas paisagens sociais como
o universo natural no qual viviam. Ao circular entres estas sociedades o viajante buscou
demonstrá-las nos mais variados aspectos e ressaltar também os distintivos culturais de
cada uma delas. Entretanto, ao conferir as composições publicadas nas diferentes edições
e idiomas do relato de sua viagem ao Brasil observa-se que houve sérias interferências que
alteraram o conteúdo proposto pelo cientista. Neste estudo – tendo como suporte imagens
realizadas in loco por Wied-Neuwied e os trabalhos dos artistas-gravadores que realizaram
as pranchas publicadas na sua narrativa– analisa-se a paisagem étnico-social exposta na
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
aquarela, Puris em sua cabana. Fevereiro de 1816. Intenta-se revelar, a partir dessa imagem,
como se deu toda a reelaboração do quadro e como ela foi publicada na versão alemã (18201821) e na tradução italiana (1821-1823).
Palavras-chave: Viajantes, Representações Indígenas, Paisagem.
A viagem como narrativa da natureza:
o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
e a invenção da paisagem nacional
Janaina Zito Losada (UFU)
Doutora em História pela Universidade Federal do Paraná.
[email protected]
O século XIX no Brasil foi marcado pelo cientificismo romântico e pelo academicismo institucionalizado, tornando a história, a geografia e a etnografia o tema de atuação de instituições como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Interessam as muitas compreensões
que os homens tiveram sobre a natureza e as instituições que as abrigaram. A leitura dos
documentos de viagens como a memória de Martim Francisco Ribeiro de Andrada por São
Paulo ou o itinerário da viagem à cidade de Palma de Vicente Ferreira Gomes, deixam ver a
importância do mundo natural como obstáculo ou como fonte de riquezas, como paisagem
e arrebatamento. Também analisaremos a viagem à Colônia Holandesa do Suriname escrito
por José Francisco Ribeiro Barata de 1799. Na mescla de viagens filosóficas e românticas e dos
processos de reapropriação discursiva, as Revistas do IHGB marcaram a construção de um
imaginário nacional que entrelaçou a natureza, a nação e a história.
Palavras chaves: Viajantes oitocentistas; idéia de natureza; discursos do IHGB.
Duas Áfricas: As Construções Histórico-Retóricas da
África e dos Africanos na Crônica da Guiné (1453)
Jerry Santos Guimarães (UESB).
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em “Memória: Linguagem e Sociedade”, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
[email protected]@gmail.com
Aquilo que tomamos hoje por África era composto, conforme Gomes Eanes de Zurara (1410?1474?), segundo cronista-mor da Dinastia de Avis, em Portugal, em sua Crônica da Guiné,
de 1453, por duas terras distintas. Enquanto no norte africano viviam os mouros, inimigos
históricos dos portugueses, mais para o sul haveria outra terra, a Guiné, habitada exclusivamente por negros, nomeados de forma indistinta como um só povo – os “guinéus”. Busca-se
investigar as especificidades das diferentes representações feitas na Crônica da Guiné dessas
duas terras africanas (“terra dos Mouros” / “terra dos negros que são chamados Guinéus”), ao
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
que parece variáveis e hierarquizáveis segundo os povos que as habitavam. Objetiva-se ainda
demonstrar como Zurara, no seu labor historiográfico, fez uso de preceptivas retóricas para
descrever e caracterizar tanto as terras africanas quanto os seus habitantes, segundo convenções bebidas diretamente em obras retóricas de origem latina e, indiretamente, grega. Pretende-se, pois, evidenciar tais convenções retóricas para entender como as mesmas foram
utilizadas pela historiografia lusitana do Quatrocentos na construção de uma memória oficial sobre a África e os africanos segundo os interesses da Coroa Portuguesa.
Palavras-Chave: África, Memória, Retórica.
Bartolomé Bossi e as paisagens
urbanas sul-americanas
Kátia Eliana Lodi Hartmann (UFMT)
[email protected]
O genovês Bartolomé Bossi (1819-1890) mudou-se em 1837 para a América do Sul e aqui
desenvolveu várias atividades, foi marinheiro, comerciante, escritor e empresário; dono da
Companhia de Navegação Rioplatense, em sociedade com seu compatriota Camuirano, na
década de 1840 passou a manter uma rota comercial entre Montevidéu e Buenos Aires transportando produtos portenhos. Em 1862, também se tornou viajante-explorador, tendo realizado seu primeiro trajeto no Brasil, percorrendo a então província de Mato Grosso. No ano
seguinte publicou, em Paris, as aventuras deste périplo. Posteriormente, Bossi empreendeu
outras viagens, desta feita ao Chile e à Terra do Fogo, andanças que também foram levadas
ao público em três diferentes narrativas. Ao ler estes livros chama atenção a maneira com a
qual o nosso personagem descreveu as paisagens urbanas que encontrou em seu caminho.
Nesta comunicação temos como objetivo analisar as viagens empreendidas por Bartolomé
Bossi na América Meridional, dando especial atenção ao modo como o mesmo descreveu as
cidades e seus habitantes.
Palavras-chave: Bartolomé Bossi, narrativas, paisagens urbanas.
Henri Coudreau e o futuro da Amazônia
Kelerson Semerene Costa
Professor Adjunto do Departamento de História da Universidade de Brasília
[email protected]
No artigo “L’Avenir de la Capitale du Pará”, escrito entre 1897-99, Henri Coudreau (1859-1899)
afirma o papel que Belém (PA) poderia representar na ligação da América do Sul com a Europa e a América do Norte, não apenas por ser o ponto de união de toda a malha hidrográfica
amazônica; mas, sobretudo, por poder vir a ser o ponto terminal de uma ferrovia que ligaria
o Pacífico, desde o Chile e o Peru, ao Atlântico, atravessando o planalto Brasileiro, e que seria
o vetor da colonização das terras inexploradas entre o Pará e o Mato Grosso. À diferença dos
inúmeros viajantes que o precederam, atentos às várzeas amazônicas e ao Grande Rio que orientou a ocupação histórica da região, Coudreau desloca o olhar para as terras altas do planalto
e a densa floresta que o recobre, ricos territórios ainda por conquistar. Neste trabalho, são
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
discutidos os motivos e as implicações de tal deslocamento que, entre outros fatores, está associado ao crescimento da economia da borracha (que impulsionava a ocupação de territórios
para além dos limites aos quais, historicamente, a sociedade regional esteve confinada) e às
possibilidades abertas pelas inovações tecnológicas, em particular as ferrovias, vetores do
progresso e da modernidade, para a superação dos obstáculos da natureza.
Palavras-chave: Henri Coudreau; Amazônia; Viajantes.
O historiador viajante em “Como se deve
escrever a História do Brasil?” de von Martius
Luís César Castrillon Mendes
Mestrando em História pela Universidade Federal de Mato Grosso
[email protected]
O texto de Carl Friedrich Phillipp von Martius (1794-1868), publicado na Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) em 1844, torna-se emblemático para se perceber
as intenções do Instituto num momento de construção de uma História para a Monarquia
brasileira. Objetiva-se, com a presente comunicação, trazer alguns resultados, ainda que iniciais, de uma pesquisa que utiliza como fonte a Revista do IHGB durante o Segundo Reinado
(1840-1889). Pretende-se situar a monografia de Martius no contexto de sua produção e observar o modo como este viajante selecionou e tratou de temas que estavam em evidência à
época. A análise do IHGB, por meio de seu periódico, pode contribuir para o entendimento
de um dos momentos cruciais de nossa história; aquele em que se tentou forjar uma idéia de
nação “civilizada” nos trópicos.
Palavras-chave: Von Martius – IHGB – História do Brasil
Los ecos visuales de la incipiente colonización
de Virginia: John White y Theodoro
De Bry (1585-1590)
Malena López Palmero
Universidad de Buenos Aires, Argentina.
Doctorado sobre la temprana colonización de Virginia.
[email protected]
El siguiente trabajo se propone analizar el impacto de la primera experiencia colonial inglesa en Virginia, en el precario asentamiento de Roanoke, entre 1585 y 1586, privilegiando el análisis de fuentes iconográficas. Estas consisten en las acuarelas elaboradas por uno
de los viajeros de la expedición, John White y en los grabados que, siguiendo los modelos
de White, confeccionó Theodoro De Bry pocos años más tarde. White ofreció las primeras
imágenes del indígena norteamericano que, con algunas interesantes distorsiones, fueron
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
ampliamente difundidas por De Bry, a partir de su publicación en los libros de viajeros de
Richard Hakluyt.
El trabajo se sostiene sobre dos pilares de análisis: por un lado, el problema de la percepción
visual y la representación, cuestiones que intentan explicar de qué manera White y De Bry
representaron a los nativos de Virginia. Por otra parte, se ofrece un análisis propiamente
histórico, que se nutre de relatos de viajeros y de otras producciones de los artistas, para dar
cuenta de la compleja trama de significados que encerraban las imágenes de White y de De
Bry: las disputas monárquicas, la necesidad de propaganda y la creciente importancia del
mercado editorial, entre otros.
Palabras clave: Virginia - De Bry - Siglo XVI
Carl F. P. von Martius e a Paisagem Jurídica
do Século XIX: “O Estado de Direito entre os
Autóctones do Brasil” (1867)
Marcele Garcia Guerra
Mestre em Direito - USP
[email protected]
Figura central no rol dos “olhares estrangeiros do séc. XIX” – cunhou a célebre metáfora do
Brasil como um rio caudaloso onde deságuam dois afluentes que misturados faziam o país
branco, negro e indígena –, o viajante botânico Von Martius representa o processo de como
o Brasil foi definido desde o imaginário europeu. Inserida em um contexto das primeiras investidas e preocupações do governo central imperial em consolidar a “identidade nacional”
e da consolidação do ideário de Estado Moderno e de Direito, a obra O Estado de Direito
entre os Autóctones do Brasil vem contribuir para a análise da imagem do indígena impressa
na legislação do séc. XIX. Isso porque o projeto da identidade nacional pressupõe homogeneização cultural e eliminação da diversidade sujeitando, desta forma, as populações indígenas a políticas de invisibilização segundo a idéia de inferioridade indígena e necessidade
de “civilização”.O artigo propõe – a partir da análise da obra - atentar à gênese de elementos
que irão, no séc. XIX, se cristalizar na mentalidade jurídica e no tratamento do indígena pela
legislação. Reserva-se a pretensão de contribuir para – através da relativização histórica –
alterar o legado de discursos preconceituosos, evolucionistas e de exclusão com relação aos
povos indígenas.
Palavras-chave: História do Direito e do Indigenismo, Séc. XIX e Estado Moderno,
Direito dos Povos Indígenas.
Comida Como Cultura: Práticas De Alimentação
e Educação Na Sociedade Tupinambá
Maria Betânia B. Albuquerque (UEPA)
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
[email protected]
O texto investiga o consumo indígena de bebidas fermentadas entre os Tupinambá do Brasil
colonial. Analisa de que modo as beberagens configuravam-se como instâncias de socialização fundamentais na estruturação do cotidiano; situa as beberagens no contexto de uma
história cultural das práticas alimentares; identificar as diversas ocasiões em que elas ocorriam e descrever a sua cultura material. Pesquisa histórica baseada em crônicas de viagens
e cartas de missionários, além de estudos arqueológicos sobre as culturas indígenas do passado. Apóia-se nas análises sobre educação como uma prática sociocultural cotidiana e nas
contribuições do campo da história cultural. Como lugares de encontros e relações sociais, as
beberagens funcionavam como mediadores culturais da transmissão dos saberes da coletividade indígena, configurando-as como uma prática educativa que possibilitava a sobrevivência do universo de significados produzidos pelos grupos.
Palavras-chave: história cultural; alimentação; educação
A paisagem do Brasil nas “Vistas e
Cenas” de Francis Castelnau
Maria de Fátima Costa (UFMT)
[email protected]
Entre 1843 e 1847 o naturalista Francis de Castelnau visitou a América Meridional chefiando
uma caravana científica. Projetada e financiada pelo governo francês, esta expedição - que
contou com um engenheiro de minas, um médico e botânico, e um preparador de historia
natural – percorreu o interior do Brasil, da Bolívia e do Peru. Pretendia estudar os grandes
rios, conhecer os produtos da Amazônia e as facilidades para sua circulação comercial, e ainda estender a influência francesa sobre as jovens nações sul-americanas. Os resultados desta
viagem foram publicados em Paris entre 1850-1859, na monumental Expedição as partes
centrais da América do Sul, que totalizou quinze volumes, entre textos, imagens e cartografia. Nesta apresentação tem-se como foco a segunda parte desta obra, o livro intitulado “Vistas e Cenas”, publicado em 1852. Trata-se de um pequeno Atlas, no qual figuram paisagens
naturais e sociais, que oferecem uma síntese visual dos lugares visitados. Interessam-nos,
particularmente, perceber e discutir as representações do Brasil que a expedição Castelnau
criou e divulgou através desta obra.
Palavras chave: Expedição Castelnau; América Meridional; Iconografia.
Entre Sertões e Igarapés: Duplo Sentido
da Viagem em Taunay e Mário de Andrade
Olga Maria Castrillon-Mendes
Doutorado em Teoria e História Literária (UNICAMP)
[email protected]
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O tema da viagem oferece à literatura uma de suas mais fecundas matérias-primas. No caso
da literatura brasileira é recorrente desde os primeiros cronistas responsáveis pela construção
de imagens carregadas de olhares “de fora” que, nos séculos XIX e XX, reaparecem sob distintas formas de construção narrativa, confirmando-as ou negando-as. Como gênero polêmico
(de fronteira), a literatura de viagem tem construído arquétipos temáticos e simbólicos, cujos discursos dela decorrentes interpõem a subjetividade na objetividade do real e carrega
consigo discussões sobre o sócio-histórico e o político-cultural nas discussões de/sobre as
identidades nacionais de “trânsito”. Nesta comunicação proponho discutir o diálogo que se
estabelece entre as anotações da viagem e a transformação delas em textos de ficção a partir
do resultado narrativo de duas obras singulares: Inocência, de Alfredo Taunay e O turista
aprendiz, de Mário de Andrade, representantes de dois momentos de tomada de consciência
de brasilidade, numa espécie de esforço de modernização e atualização do Brasil. Busco, com
isso, re-configurar os complexos entrelugares de produção discursiva, observando a forma
como os discursos são transpostos na dialética entre o testemunho e a invenção.
Palavras-chave: Literatura – Viagem - Identidades.
“Quadro Físico da Corrente do Amazonas”:
Ciência e Estética em Martius
Pablo Diener
Professor Adjunto da UFMT
[email protected]
O botânico alemão C. F. Ph von Martius em companhia do zoólogo J. B. von Spix realizou
uma expedição científica ao Brasil entre os anos de 1817 e 1820. Esta viagem será uma fonte
inesgotável de projetos que o naturalista desenvolverá com persistência, durante quase meio
século, até a sua morte em 1868. Além da narrativa de viagem, entre as suas publicações se
encontram obras tão monumentais como a Historia Naturalis Palmarum e a Flora Brasiliensis, porém há também estudos sobre a população e as perspectivas históricas do Brasil.
Nesta apresentação se discutirá um opúsculo datado em 1843, que tem o evocativo título de
“Quadro físico da corrente do Amazonas”. Neste escrito, Martius se propôs a caracterizar a
paisagem tropical sul-americana, tomando a rede hidrográfica como foco de atenção, emulando a proposta de Humboldt, que havia organizado a compreensão da paisagem em função
da cordilheira andina.
Palavras-chave: Martius, Amazonas, Ciência e Arte
Brancos, Pardos, Vermelhos e Negros...:
a fisionomia do Brasil no olhar do médico
Alphonse Rendu (1844-1845)
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Rosa Helena de Santana Girão de Morais
Doutora em História das Ciências e das Técnicas pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences
Sociales-França.
[email protected]
O presente trabalho tem como objetivo descrever e analisar a viagem do médico francês Alphonse Rendu, encarregado, entre os anos de 1844 e 1845, pelo ministro da instrução pública, da França, « de estudar as doenças do Brasil que acometiam mais freqüentemente os
indígenas e os europeus estabelecidos no país ». Figura emblemática de sua época, A. Rendu
veio para o Brasil num momento em as autoridades médicas tinham grande interesse pelos
tratamentos e diagnóstico de doenças, ditas tropicais, as quais acometiam as colônias e possessões européias. O olhar dos médicos franceses sob as cidades brasileiras correspondia a
uma imagem ‘criada’ a partir do que eles esperavam da Europa e de Paris, espaço familiar dos
viajantes franceses e modelo, por excelência, de urbanidade e de civilidade.
Alphonse Rendu procurou ‘descortinar’ as paisagens brasileiras, sob o ponto de vista estético
e econômico, e também descreveu o aspecto físico, as doenças e os costumes da população
brasileira. Sob o olhar atento do médico, imbuído da idéia de superioridade da ‘raça’, termo
comumente empregado naquele momento específico, e da medicina européia, podemos
perceber como se constituía o espaço urbano brasileiro e os elementos essenciais da salubridade, ou seja, os hospitais, residências, ruas e também o corpo.
O álbum ilustrado de Jean-Baptiste Debret
Thiago Costa (UFMT)
[email protected]
Jean Baptiste Debret é provavelmente o mais conhecido dos europeus que visitaram o Brasil
na primeira metade do século XIX, integrando a “missão francesa de 1816” - grupo que ficou
célebre, entre outras realizações, pela fundação da Academia Imperial de Belas-Artes. Retorna a França em 1831, onde organiza o material iconográfico produzido nos pouco mais de
15 anos em que permaneceu no país, atuando como pintor da corte e professor de pintura
histórica. Publica em Paris em 1834, 1835 e finalmente em 1839, o primeiro, o segundo, e o
terceiro volume, respectivamente, do monumental ‘Viagem pitoresca e histórica ao Brasil’,
uma obra que lhe confere, ainda nos dias atuais, um espaço privilegiado na construção do
imaginário do passado brasileiro.
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ST 2
História, Cinema e Transdisciplinaridade
Imagens do passado nos filmes de autoria feminina do período de redemocratização (Brasil e
Argentina, década de 1980)
Alcilene Cavalcante
Doutora em Literatura pela UFMG
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Ao considerar que os filmes são capazes de plasmar o passado em imagens, de acordo com
Robert Rosenstone (1997), e de apresentarem elementos do tempo em que foram realizados,
conforme Miriam Rossini (2008:128), tratar-se-á, nessa comunicação, as representações do
passado e do presente nos filmes Camila, de Maria Luisa Bemberg, e Paraíba, mulher macho,
de Tizuka Yamazaki – filmes realizados e estreados no período de transição democrática e de
engendramento de cultura política feminista, no Brasil e na Argentina.
Palavras-chave: redemocratização, representação, cinematografia feminina
Bandidos de um cinema-história: os fora da lei
no faroeste hollywoodiano (1939-1959)
Alexandre Maccari Ferreira
Professor do Curso de História do Centro Universitário Franciscano
[email protected]
Os bandidos do velho oeste possuem diversas representações no cinema hollywoodiano.
Desde o cinema mudo há uma grande aura construída sobre os foras da lei, elemento esse
que se acentuou entre as décadas de 1930 e 1950 e que, após esses períodos, foi revista de
diversas formas pelo cinema norte-americano. Neste trabalho pretendemos estudar as construções heroicas dos foras da lei, em especial a imagem dos irmãos James, nos filmes Jesse
James (1939), A Volta de Frank James (1940), Matei Jesse James (1949) e A verdadeira História
de Jesse James (1957). Esses filmes têm em comum a construção de heróis-bandidos mitificados, que fornecem uma interpretação social dos Estados Unidos de acordo com o período
de produção dos filmes, a partir de um posicionamento ideológico das obras. Assim, as construções político-sociais de mitos do oeste lendário histórico norte-americano permitem um
estudo do cinema-história, tratando o cinema como ponto de partida de análise de questões
do imaginário e do banditismo social apresentado no cerne das obras cinematográficas.
Imagens baianas – memória e história no
documentário de Alexandre Robatto
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Ana Luisa de Castro Coimbra
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em “Memória: linguagem e sociedade” da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
[email protected]
Lívia Diana Rocha Magalhães
Doutora em Educação, docente e vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em
Memória: Linguagem e Sociedade da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
[email protected]
Entendemos o filme como um dispositivo de valor cultural e histórico capaz de registrar
referências a identidades de grupos e aspectos de uma época. Sendo assim, pode ser considerado como um testemunho importante de aspectos sócio-culturais que pode contribuir
para o registro de memórias para a educação e a formação de gerações que se sucedem. Nesta
comunicação estamos apresentando a pesquisa que vem sendo desenvolvida sobre as obras
do documentarista Alexandre Robatto, considerado o pioneiro do cinema baiano, que deixou
um importante legado de filmes com registros dos aspectos sociais da Bahia. O cotidiano da
capital em choque com seu desenvolvimento, manifestações culturais, paisagens geográficas
e humanas, aspectos da vida no interior são alguns dos registros que compõem a obra de
Robatto e está propiciando uma leitura sobre a memória e a história social da capital e do Estado. Não só imagens são registradas, mas os costumes, as idéias e as ações ficam retidas em
um suporte tangível podendo ser considerados documentos passíveis de serem analisados e
capazes de ajudar na compreensão de uma Bahia que parece resistir, mesmo aderindo, aos
impulsos de um “ideal” de modernidade homogêneo nacionalmente.
Palavras-chave: documentário, memória, história.
Autoria no cinema dos grandes estúdios:
o caso de Blade Runner
Ana Paula Spini
Professora do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia
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Esta comunicação tem como objetivo analisar comparativamente duas versões existentes
do filme Blade Runner do diretor Ridley Scott: a de 1982, versão do lançamento mundial
do filme, caracterizada pela interferência da Warner Brothers na edição e montagem, e a
de 2007, versão do diretor. Com isto procura-se investigar em que sentido as modificações
na narrativa operada pela indústria à época do lançamento do filme incide sobre a visão de
mundo expressa no mesmo. Assim, além de possibilitar a reflexão sobre os limites e possibilidades da autoria no cinema dos grandes estúdios, esta análise permite ainda discutir
a relação do cinema de Hollywood com a construção de uma narrativa melodramática da
America intergalática no século XXI.
Palavras-chave: cinema; Hollywood; autoria.
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Um chorinho universalizado – tico-tico no fubá
Cláudio Galvão (UFRN)
[email protected]
Se os filmes biográficos abordassem as vidas que focalizam seguindo apenas os critérios da
História acadêmica, decerto poderiam parecer mais verdadeiros, porém dificilmente alcançariam o gosto popular.
É o caso do filme Tico-Tico no Fubá, apresentado como uma biografia do compositor Zequinha de Abreu. O roteiro foi montado seguindo um percurso biográfico correto, respeitando-se os marcos essenciais da sua história. Somente isto, entretanto, levaria a
uma descrição linear, carente dos lances emocionais que prendem as atenções e marcam
as lembranças. É o momento em que entra a fantasia, quando a livre criação ornamenta
e amplia um fato antes banal, conferindo-lhe nova visualização e enredo mais agradável.
O filme “Tico-Tico no Fubá” é assim; não foi a primeira nem será a última obra de arte a receber a ajuda da ficção. É, portanto, uma biografia romanceada.
Representações e construção da realidade do
conflito árabe-israelense através das comédias
Denise de Oliveira De Rocchi
Mestranda em Relações Internacionais pela UFRGS
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O humor é uma das formas de que a sociedade dispõe para lidar com temas difíceis, como o
preconceito e a violência. Zohan e Brüno, produções recentes de grandes estúdios cinematográficos, utilizam-se desta linguagem em sua forma mais exacerbada para tratar do
conflito árabe-israelense, questão histórica que se mantém entre os grandes problemas contemporâneos mundiais. Considerando relações cada vez mais midiatizadas, o Cinema é uma
das artes com maior poder para influenciar opiniões e visões de indivíduos a respeito de
outros povos, permitindo que qualquer um tome posição sobre um tema, mesmo que não o
tenha vivenciado diretamente. Através de uma abordagem multidisciplinar, com elementos
da Psicologia, Comunicação e Relações Internacionais, este estudo propõe a análise do discurso destes filmes e da representação que fazem do conflito e seus participantes.
Cinema e Moral Sexual no Brasil (1950-1970)
Dennison de Oliveira (UFPR)
[email protected]
O tema desta pesquisa é a mudança cultural observada na moral sexual brasileira no período
compreendido entre 1950 e 1970. Este é um período chave para se entender a gradual substituição de um modelo de normas e práticas sexuais marcadas pelo patriarcalismo, tanto em
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direção a uma maior liberalização dos costumes, quanto a um relativo nivelamento da moral
que rege os papéis sexuais e sociais masculinos e femininos. As fontes privilegiadas no estudo são alguns filmes de ficção de longa metragem produzidos no período que enfocavam
estas questões. Busca-se, através do exame das condições sociais de produção, distribuição
e recepção destes filmes, interpretar de que forma as transformações na moral sexual vigente eram tematizadas, quais os conflitos e contradições implícitos, como eram percebidas
e valorizadas as novas formas que assumiam os papéis sociais e os arranjos familiares, bem
como as implicações políticas, sociais e culturais daí decorrentes. Para tanto foi selecionado
um número limitado de filmes brasileiros, considerados relevantes para o entendimento
das transformações culturais associadas à moral sexual, através do estudo da relação entre
este ramo da indústria cultural e a sociedade. Através do cinema se percebe de que forma
representações fílmicas sobre a moral sexual foram afetadas pelas transformações históricas
vividas no período, e vice-versa.
Palavras-chave: História e Cinema; Moral Sexual; Indústria Cultural
O Realismo Socialista e a Revolução Cultural
na URSS: o caso do cinema
Diogo Carvalho
Mestrando do Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade / UFBA
[email protected]
Este trabalho visa problematizar os impactos do uso do realismo socialista para construção
do culto a personalidade de Stalin através do cinema. Serão abordadas as conseqüências da
utilização do aporte teórico oriundo do realismo socialista e da revolução cultural soviética,
na indústria e na estética fílmica. Também será objeto deste trabalho a análise da sacralização do espaço realizada pelo cinema soviético deste período, pois a cinematografia desta
época contém elementos simbólicos nucelares da narrativa do realismo socialista, elaborada ao longo dos anos 1930’s. Portanto, esta relação espaço-sujeito, baseada na reconstrução
espacial, a partir de uma iconografia marxista-leninista foi um dos pilares da justificativa de
criação do herói positivo, considerado elemento chave para uma compreensão mais aprofundada da cultura soviética.
Palavras chave: cultura, soviética, cinema, realismo, socialista.
Cinema e Ensino de História: a Idade Média
em O Nome da Rosa de Jean-Jacques Annaud
Edlene Oliveira Silva
Doutora em História e professora adjunta do Departamento de História da UnB
[email protected]
Este artigo discute como a Idade Média representada no filme O Nome da Rosa (Der Name
Der Rose, Jean-Jacques Annaud, 1986) constitui um importante meio para o ensino de
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História Medieval nas escolas. Ao mesmo tempo em que constrói e reforça estereótipos e
preconceitos sobre a Idade Média, o cinema pode ser fonte privilegiada de desconstrução
desses estigmas, de aprendizagem e conhecimento na área de História, considerando as especificidades da linguagem cinematográfica e as possibilidades interpretativas e poéticas
próprias da liberdade inerente à sétima arte.
Santiago: a escrita da história em documentário
Eric de Sales
Mestre em História Social pela UnB
[email protected]
Pensar um documentário dentro de um documentário é ousado. Refletir como este oferece possibilidades para a discussão da história da história, ou seja, a análise historiográfica a partir de
uma fonte audiovisual é proposta desafiadora. Esta comunicação visa apresentar a relação entre o
cinema documentário e a história a apartir do filme de João Moreira Salles, Santiago. A proposta é
de analisar a película através de um olhar crítica, compreendendo que há subjetividades na abordagem do diretor, assim como na abordagem de um historiador. Através deste ponto, apresentar
trabalho que vem sendo realizado nos estudos sobre documentários e historiografia.
De Rocha a Hamburgo: a análise da
representação da classe média na ditadura
militar vista a partir do cinema nacional
Felipe Lima da Silva
Graduado em História pela UFRRJ
[email protected]
Durante o período da Ditadura Militar no Brasil (1964-85), a sociedade brasileira de classe
média tem sido apresentada por diversas correntes históricas como um conjunto de indivíduos controlados pelos militares que se encontravam no poder. Esta mesma parcela da sociedade é caracterizada como um grupo que se manteve a certa distancia dos eventos políticos dos 21 anos da ditadura, assistindo inerte a todas as medidas de repressão política que
eram implantadas no país que cerceavam os direitos e liberdades mais comuns dos cidadãos
brasileiros.
Tomando como base os filmes “Terra em transe” (de Glaber Rocha – 1969) e “O ano em que
meus pais saíram de férias” (Cao Hamburgo – 2006) para elucidar questões presentes em
outros filmes analisados, pretende-se neste trabalho fazer um estudo de história comparada
sobre como a participação da classe média frente às tensões político-sociais existentes nos
anos do regime ditatorial no Brasil é retratada pelos filmes produzidos na época da ditadura
e pelos filmes mais atuais (pós-década de 90). Para dar base a esse estudo foi utilizado uma
bibliografia que abrange da temática do período da ditadura e de autores que utilizam a interseção entre o Cinema e a História para ressaltar a importância do uso do filme como uma
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fonte histórica.
Palavras-chave: Cinema; Ditadura; sociedade
Orson Welles no Brasil: a trilogia de Sganzerla
Flávia de Sá Pedreira
Professora do Departamento de História da UFRN
[email protected]
No auge da Política da Boa Vizinhança, a imagem de Brasil para exportação idealizada pelo
regime Vargas, com o apoio da RKO de Nelson Rockefeller, deveria ser divulgada a partir de
um grande filme dirigido e roteirizado pelo cineasta e ator norteamericano Orson Welles.
Convidado pelo governo brasileiro a fazer as malas e aterrissar no Rio de Janeiro, no mês de
fevereiro de 1942, em pleno Carnaval, o realizador de Cidadão Kane iniciou as filmagens do
seu It´s All True. Os descaminhos do grandioso projeto, que esbarrou na incompreensão das
autoridades envolvidas e de seus financiadores quanto à visão revolucionária para a época
que Welles estaria imprimindo às cenas das favelas cariocas, ganharam uma criativa percepção através da trilogia de Rogério Sganzerla, quarenta anos depois: Tudo é Brasil; Nem tudo
é verdade; O signo do caos. Nossa comunicação pretende explorar as cenas mais significativas sobre a trajetória do filme que ficaria inacabado, refletindo sobre os tênues limites entre
ficção e realidade na pesquisa histórica.
Palavras-chave: política da boa vizinhança; cinema; ficção/realidade.
Airá - O cinema documental como método
e técnica de observação na pesquisa de campo
Frederico Mael Silva Marques Bueno
Mestrando em História pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás
[email protected]
O cinema documental aborda a imagética do culto de Xangô com base na ritualização do sincretismo religioso brasileiro que incorpora em seu conteúdo histórico, a resistência da cultura
africana no Brasil, submersa ao modelo escravista como forma proibida de afirmação de sua
identidade cultural. Discutiremos as relações do cinema documental como método e técnica de
observação na pesquisa de campo e sua função heurística na representação da história. A partir
do método etnográfico, construímos a imagem do Babalorixá Joaquim de Xangô e seu imaginário na expressão do cinema documental, como forma de produção do conhecimento.
O olhar cinematografico de Jean Manzon: de uma
memória otimista ao pessimismo
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Gabriel F. Marinho / (UFF)
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A identidade dos anos JK como um período desenvolvimentista tem sua icnografia cinematográfica. Da mesma forma, a memória de um conturbado período de adversidades sóciopolíticas, vinculada ao governo Jango, também possui uma visualidade audiovisual. A
construção dessas e outras memórias ocorrem através inúmeras ferramentas de natureza
simbólica. E o cinema é instrumento singular nesse processo uma vez que ganhou destaque
dentre um conjunto de novas manifestações de representação, potencializadas em um século marcado pela reprodutibilidade técnica dos bens culturais.
Nessa perspectiva, esse trabalho propõe uma analise comparativa da produção de documentários do cineasta Jean Manzon, realizados em dois períodos quase consecutivos: os anos JK
(1956-1961) e o governo João Goulart (1961-1964). Utilizando-se dos conceitos de “otimismo”
e “pessimismo”, trabalhados pelo historiador Carlos Fico, questionamo-nos sobre as diferenças de projetos de memória presentes nesses dois períodos de realização.
Perceber a construção de identidades através do enquadramento de um cineasta abre espaço
para o debate a respeito do papel do cinema como lugar de memória. Questão que ultrapassa
classificações como “verdade” e “inverdade”, ainda comuns nos debates a respeito de filmes
documentários. A analise de peças filmicas é uma forma de questionar a naturalização das
construções de identidade. E de apontar como elementos de natureza audiovisual colaboraram para a construção de memórias distintas.
Leituras do cotidiano: a transformação do
“mito do gaúcho” através do cinema regional
Humberto Ivan Keske
Professor Titular da UniversidaFEEVALE
[email protected]
O presente texto visa refletir sobre o processo de construção do imaginário coletivo gaúcho
em relação ao cinema regional. Utiliza como referencial teórico Cornelius Castoriadis, Michel Maffesoli e Castor Ruiz. Adota o estudo de caso como metodologia de análise. Procura
delinear o atual panorama da cinematografia regional que abandona a égide do filme “campeiro” para assumir um percurso notadamente contemporâneo. Tal mudança, entretanto,
reforça posicionamentos ideológicos e valores conservadores de uma nova identidade regional, exaltando e defendendo hábitos bairristas e familiares provincianos.
Palavras-chave: audiovisual, cinema gaúcho; imaginário, identidade regional.
Um cinema “sem regras”: um olhar para a experiência superoitista baiana nos anos 1970
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Izabel de Fátima Cruz Melo
Professora de História na Universidade da Bahia
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Dialogando com as possíveis relações entre História e Cinema, neste artigo destacamos algumas das reflexões encetadas na pesquisa e elaboração da dissertação “Cinema é mais do que
filme: uma história do cinema baiano através das Jornadas de Cinema da Bahia (1972-1978)”,
buscamos compreender as Jornadas como um espaço em que se entreteceram relações, polarizações, disputas e tensionamentos que tornaram possível o florescimento de uma geração de cineastas superoitistas baianos inseridos no contexto sócio-cultural dos anos 1970.
Construir Cidades em Imagens: Walter Hugo
Khouri e Luís Sérgio Person edificam a metrópole
cinematográfica brasileira na década de 1960
Jaison Castro Silva (UFC)
[email protected]
O texto discute como a metrópole cinematográfica brasileira encontrou expressão visual nas
obras de Walter Hugo Khouri e Luís Sérgio Person, durante a década de 1960. Inserido na
reflexão sobre as maneiras como as imagens e práticas do olhar atuam na construção de
significados para as ações humanas, propõe-se que a metrópole imagética de ambos os cineastas, contidas em filmes como Noite vazia (1964) e São Paulo S. A. (1965), atuam em um
denominador comum, a tentativa de captar a cidade real em imagens semi-documentais,
mas, em contrapartida, dialogam com referenciais como o de progresso de modo bastante
heterogêneo. Embora permaneça a ansiedade em mostrar a cidade brasileira célere e cosmopolita, apresenta-se a hipótese de que o filme khouriano descortina uma perspectiva de
progresso universal e simultâneo, enquanto o filme de Person estabelece uma metrópole
vencedora em vias de derrocada, que precisa reafirmar seu papel de liderança. No entanto,
tais pontos de vista fílmicos, apesar de dissonantes, fundam um projeto para a metrópole
cinematográfica brasileira sessentista, apresentando uma outra perspectiva de cidade, ainda
que obliterada em prol de projetos concorrentes. A análise da fundação desse regime visual
possibilita, assim, um olhar renovado sobre o cinema no período.
Palavras-chave: Cinema-história, Representação Urbana, Regimes visuais.
Régnault, Matuszewski e seus herdeiros.
Leitores do cinema-história do século XX.
Visionários de uma pedagogia do “futuro”.
Jorge Nóvoa
Professor Associado I do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em
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Ciências Sociais da UFBA
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Na problemática que estamos trabalhando sistematicamente há quase duas décadas, a das
relações complexas entre o cinema e a história, se torna, todavia, ainda mais difícil de “aceitar” o fato de que muito do que estamos denominando de um paradigma e uma pedagogia
do “futuro” já existia em graus variados no passado, e isto desde que o cinema apareceu.
Com relação à simples utilização da pintura, da escultura e mesmo da arquitetura, vários
historiadores estudiosos do mundo antigo, do medieval e do moderno - muito embora mais
voltados para questões ligadas à história da arte - já utilizavam as imagens. Mas é também
bem verdade que tal prática não adquiriu o peso e valor epistemológico que passou a ter
senão mais recentemente. Entretanto, atenção para a ênfase na etimologia palavra epistemologia. Ela difere da palavra ontologia. Isto permite percebermos que vivemos num mundo
dominado pelas imagens, mas no qual, muito contraditoriamente sua utilização sistemática
e consciente por professores e pesquisadores das diversas áreas do conhecimento, nas suas
múltiplas dimensões, se faz ainda enfrentando não somente o peso da inércia dos currículos
institucionais, mas também a reação de muitos dos referidos agentes sociais às mudanças e
inovações com a introdução de uma pedagogia que utilize as imagens, a fotografia e o cinema, mas também documentos fonográficos. É verdade, pois, que estudos em outros espaços,
realizados por historiadores e cientistas sociais chamam a atenção também que é comum se
escutar a afirmação de que o historiador não gosta das imagens. Recentemente uma polêmica entre historiadores ingleses, falava do que denominavam a “invisibilidade do visível ”.
Trata-se evidentemente do que alguns chamam de amnésia, fenômeno que se apropria de
historiadores e cientistas sociais quando começam a avaliar suas praticas investigativas, seus
paradigmas e objetos de estudo. Eles se esquecem completamente de que a utilização de
fontes iconográficas é muito mais praticada do que eles são capazes de admitir.
Em geral temos escrito sobre Marc Ferro como teórico e pesquisador das relações entre o cinema e a sociedade. Escrevemos menos sobre Siegfried Kracauer. Mas desde que começamos
a nos aplicar às pesquisas sobre o que denominamos nossa problemática e objeto (e que é
também uma teoria com nuanças que se desenvolve se considerarmos cada autor desse “movimento”) ou seja, a relação cinema-história, Kracauer permanece ainda muito pouco conhecido
no Brasil. Isto é verdadeiro mesmo na própria Alemanha e na França. Ele veio assim ocupando
em alguma medida nossa reflexão e nossa vontade de nos estendermos sobre sua contribuição.
Ele antecedeu Marc Ferro em pelo menos três décadas, provavelmente bem mais se considerarmos seus artigos de “crítica” cinematográfica e que finalmente levava-o a enxergar as contradições do seu mundo, já nos anos 20. Mas ele também não foi a primeira pessoa a sustentar
a importância do cinema como fonte de conhecimento histórico e de sua difusão. A rigor se
considerarmos todos os cineastas desde o que se chama de o cinema das origens - passando por
Georges Méliès, David Griffth, a cinematografia inglesa e americana, a cinematografia expressionista alemã e, ao menos ainda, o cinema soviético - vamos encontrar muitos daqueles mais
desconhecidos e que se dedicaram a filmar cenas não tão nobres ou de ficção ou a fazer filmes
de campanhas educativas, como foi o caso de Alexander Medvidkine.
Diante desse fato é no mínimo curioso que ainda hoje professores universitários e pesquisadores das denominadas ciências humanas, continuem a repetir lugares comuns absurdos sobre as narrativas cinematográficas. É fácil se ouvir barbaridades como “o cinema nos
apresenta uma falsa realidade” ou “o cinema esconde os processos reais”. O corolário conseqüente é aquele que conclui, portanto, que “o cinema não pode ser usado nem na pesquisa,
nem no ensino”. É difícil qualificar tal reação e resistência em admitir algo que é mais que
evidente. Pensar que se trata de ignorância, parece tão absurdo quanto pensar que se trata
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de pouco discernimento. Às vezes somos obrigados a constatar uma má vontade o que nos
obriga a pensar na inutilidade de tal comportamento. É verdade que existem também os argumentos mais refinados de leituras produzidas por estudiosos da estética cinematográfica.
Mas muitos deles não admitem que o cinema, por ser ele obra de arte, possa construir uma
visão passível de ser considerada pela investigação dos fenômenos humanos os mais subjetivos, tanto quanto os sociais. O cinema e as imagens, de um modo geral, de há muito são
estudados, mas como objeto cultural e estético. Muitas vezes são tomadas como objetos da
história, quer dizer na produção da história do cinema ou da pintura ou da fotografia. É possível mesmo encontrar grandes quantidades livros sobre tais fenômenos artísticos, inclusive
de seus aspectos econômicos e técnicos. Encontramos com facilidade histórias das escolas
estéticas. É possível comprarmos nas livrarias com certa facilidade livros sobre a história da
arte observada do ponto de vista do seu condicionamento social, mas é quase certo que não
encontraremos livros sobre algo distinto, que é ao mesmo tempo um objeto e uma problemática: a relação cinema-imagem-história.
A crítica histórica de Paulo Emílio:
alguns resultados de pesquisa
Julierme S. M. Souza
Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia
[email protected]
Esta comunicação visa trazer a público alguns resultados de nossa dissertação de mestrado
intitulada Eficácia política de uma crítica: Paulo Emílio Salles Gomes e a constituição de uma
teia interpretativa da história do cinema brasileiro. Tendo como preocupação fundamental a
investigação acerca da formação de uma memória história do cinema brasileiro, essa pesquisa pretendeu contribuir na demonstração de que a trilogia de ensaios Panorama do Cinema
Brasileiro: 1896/1966 (1966), Pequeno Cinema Antigo (1969) e Cinema: trajetória no subdesenvolvimento (1973), de Paulo Emílio Salles Gomes, constitui-se em uma teia interpretativa
que envolveu a historiografia do cinema brasileiro devido a sua eficácia política.
Ensino de História e Cinema:
possibilidades investigativas
Kamila da Silva Soares (UFU)
[email protected]
Este trabalho visa analisar a relação estabelecida entre ensino de história e cinema nas escolas da cidade de Uberlândia. Trata-se de uma pesquisa focada nas perspectivas de professores e alunos frente às práticas pedagógicas que propõe a incorporação do cinema como
objeto pedagógico e objeto de pesquisa em sala de aula.
Proponho desenvolver esta investigação com professores de História e jovens estudantes do
nono ano em escolas públicas da rede estadual, municipal, federal e da rede particular, com o
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intuito de identificar a complexidade e a heterogeneidade dos olhares frente ao diálogo entre
ensino de História e Cinema nos diversos espaços escolares.
O presente trabalho procura também entender como a linguagem cinematográfica pode contribuir para a melhoria do ensino – aprendizagem da disciplina História na educação básica:
ensino fundamental, além de compreender de que maneira, no olhar do docente, o recurso
audiovisual pode ser um método pedagógico e, na perspectiva dos alunos, a possibilidade de
ver filmes dentro das salas de aulas como parte integrante dos conteúdos escolares.
Essa reflexão contribui para a ampliação do campo em que atua o historiador e o professor de história e permite uma abordagem interdisciplinar. Entendo como uma conquista da
História Cultural que nos possibilita ampliar as fontes de pesquisa utilizadas pelo historiador. Sendo assim, uma aliança entre ensino de História e cinema propiciaria uma expansão
nos olhares tanto sobre os métodos pedagógicos quanto sobre a arte cinematográfica. O Cinema Novo e a História Cultural do Político,
em uma reflexão a partir de “Garrincha, Alegria
do Povo” (1963), de Joaquim Pedro de Andrade
Luís Fernando Amâncio Santos
Mestrando em História pela UFMG
[email protected]
Existem importantes trabalhos sobre cinema e história política que enfocam, geralmente, a
produção cinematográfica de propaganda em determinados regimes ou, pelo contrário, o engajamento de oposição a partir da obra de certos diretores. O que nosso trabalho pretende é trazer essa
problemática para o campo da história cultural do político. Ou seja, pensar as relações no cinema
de produção, exibição e circulação de ideias por uma ótica cultural. Para isso, mobilizaremos o
conceito de culturas políticas, no seu entendimento de que as relações com essa esfera englobam
práticas, linguagens, imaginário, valores, entre outros sentidos. A partir dele, abordaremos a atuação dos cineastas do chamado movimento de Cinema Novo brasileiro e, mais especificamente, o
caso de “Garrincha, Alegria do Povo” (1963), de Joaquim Pedro de Andrade.
Da metrópole à pós-metrópole: Matrix
e a crise da modernidade no fim do século XX
Marcelo Gustavo Costa de Brito
Doutorando em História pela UnB. Professor de Teoria da História na UEG
[email protected]
A incorporação pelos historiadores de fontes fílmicas como indícios para o entendimento da
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experiência humana no tempo acena para uma abordagem teórico-metodológica em pleno
desenvolvimento no campo historiográfico. Fontes complexas, polissêmicas, as narrativas
cinematográficas não se deixam apreender em seus sentidos (conscientes ou inconscientes)
de maneira tão simples. É bem provável que uma compreensão mais densa dos discursos de
uma fonte cinematográfica só seja possível na medida em que as especificidades do suporte
midiático audiovisual também estão se tornando mais conhecidas pelo historiador. Nesta
apresentação, gostaria de propor uma análise fílmica que combina técnicas da narratologia
e da interpretação psicanalítica dos sonhos. Tal abordagem referenda-se na hipótese de que,
em certo sentido, a experiência do cinema aproxima-se da experiência do onírico, e quando
se pensa nos filmes de grande circulação, pode-se visualizar o cinema como o meio privilegiado para o fenômeno aqui chamado de “sonhar social”. O documento fílmico utilizado
nesta análise será o longa-metragem Matrix (1999). A partir dessa ficção futurista, pretendo
discutir como em seu conteúdo manifesto alguns temas latentes do período em que foi produzido se insinuam, em especial os conflitos de identidade que alguns autores culturalistas
percebem como principal sintoma do declínio das instituições modernas.
Palavras-chave – Cinema-história, modernidade, matrix
A Construção de São Paulo no cinema
das décadas de 1930 e 1940
Márcia Juliana Santos
Doutoranda em História Social pela PUC-SP
[email protected]
Este trabalho é parte de uma pesquisa em andamento que analisa os filmes documentais
de não-ficção (institucionais, jornais cinematográficos e curtametragens) que registraram
as transformações urbanas e sociais da cidade de São Paulo nas décadas de 1930 e 1940. A
historicidade das filmagens, os temas abordados, os cenários da cidade, os enquadramentos,
as locuções, os letreiros e outros elementos incorporados à narrativa fílmica vão constituir
o foco da análise. O recorte apresentado é a apreciação de dois filmes: SÃO PAULO (1942),
uma co-produção do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), com o governo do
Estado de São Paulo e o Departamento de Assuntos Interamericanos. PEQUENAS CENAS
DE UMA GRANDE CIDADE (1944), do cineasta e fotógrafo Benedito Junqueira Duarte, um
filme encomendado pelo Departamento de Educação da Prefeitura de São Paulo.
A produção do filme SÃO PAULO (1942) estava inserida num contexto de estratégias
diplomáticas da Segunda Guerra, cujo objetivo, era promover um maior intercâmbio cultural e político entre Brasil e Estados Unidos. No filme destacaram-se os símbolos de uma
cidade industrial, com arranha-céus, grandes construções arquitetônicas e chaminés das
fábricas, representando a industrialização e a urbanização crescentes. As imagens em movimento apresentaram discursos em torno da exaltação de “personagens ilustres” da cidade,
como José de Anchieta, os bandeirantes e D. Pedro I, corroborando assim, com uma narrativa
mítica da história de São Paulo. O segundo filme é o curta-metragem, PEQUENAS CENAS
DE UMA GRANDE CIDADE (1944), silencioso e em cores foi produzido pela Secretaria de
Educação e Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo. O cinegrafista Benedito Junqueira
Duarte filmou a cidade, revelando os meandros do cotidiano, nos mais diferentes espaços:
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a feira livre, as rodas de conversa e as brincadeiras das crianças nos parques. O diretor estabeleceu uma ligação entre a vida cotidiana e as instituições científicas, ao conduzir a câmera
pelas inúmeras Faculdades da cidade.
A interpretação das imagens está aliada à contribuição teórico-metodológica de autores
como Jean-Claude Bernardet, Maria Rita Galvão, Rubens Machado Jr. e José Inácio de Melo
Souza que debatem a história do cinema brasileiro. Aliado a tal perspectiva, analisam-se
também reportagens de jornais e revistas que noticiavam os filmes. Possibilita-se assim,
observar a construção da narrativa de uma São Paulo em movimento, focalizada não só pelo
cinema, mas pela imprensa da época. O percurso metodológico permite questionar percepções naturalizadas por diferentes discursos. É possível refletir a construção das imagens dos
filmes, por meio das disputas de poder diante de inúmeros projetos políticos para a cidade.
O estudo destes filmes não é, e nem deve sugerir, uma reprodução exata ou uma imagem do
real inquestionável, mas uma expressão problemática da relação entre o cinema e a história
de São Paulo.
Palavras-chave: cinema, São Paulo, B. J. Duarte
C’eravamo tanto amati. O cinema italiano,
espelho e interpretação da história e da
sociedade desde o período pós-guerra
aos anos de chumbo
Maurizio Russo
Doutor em Historia Cultural pela Université Nancy 2
[email protected]
Fenômeno cultural fortemente ligado ao âmbito histórico no qual è produzido, o cinema
italiano è produto de um determinado quadro social, econômico e cultural. Ele narra interpretando e por isso foi muitas vezes visto con desconfiança por parte de históricos italianos,
que ainda pouco o utilizam, preferendo fontes mais tradicionais. Mas como as várias vertentes filmográficas descreveram a realidade histórica social italiana que se desenvolveram
entre o pós-guerra e os anos 70? O Neorealismo de De Sica, Rossellini, Visconti; a Commedia
all’italiana de Monicelli, Risi; o Spaghetti Western de Solima e Leone; o Giallo all’italiana (ou
spaghetti-thriller) de Bava e Fulci; o cinema político de Petri; as críticas e desconfortáveis
obras de Fellini, Scola, Pasolini, Ferreri, Rosi, Bolognini, Antonioni.
“O cinema é a língua escrita da ação” afirmava Pasolini defendendo um cinema de forte compromisso político e ideológico: “o cinema de poesia”. Porém também nas obras menos comprometidas ideologicamente se encontra vestígios evidentes da realidade social e cultural que
as produziram. A Itália foi protagonista de uma cinematografia que representa uma fonte importantíssima para os estudos da sua sociedade. Alguns dos problemas que expõe Marc Ferro
no seu famoso ensaio escrito em 1964, Société du XXe siècle et histoire cinématographique,
bloquearam por muitos anos o uso do cinema como fonte histórica na Itália.
Em uma perspectiva analítica e cronológica se tentará delinear as problemáticas e as perc-
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perctivas deste campo de pesquisa, propondo chaves de leituras específicas de algumas das
obras relevantes.
“Mulheres Choradeiras”: História cultural
formada a partir dos mitos e da oralidade
Mônica do Corral Vieira (UFPA)
[email protected]
Mulheres Choradeiras é um conto de Fabio Castro presente no livro Terra dos Cabeçudos,
de 1984. O estudo deste conto visa explorar os diferentes tipos de realismo existentes nesta
obra, através do estudo dos mitos e da oralidade que envolve a criação do conto em questão
e sua propagação.
Os mitos e a oralidade possibilitam uma (re)construção e desenvolvimento de conhecimentos que permeiam a atividade da leitura (conhecimentos artístico, cultural, social, filosófico
e histórico) e enriquecem/(re)afirmam a identidade latino-americana. Pretende-se estudar
os elementos literários e tipos de realismo/realidade constituintes desta obra - e de seu curta
metragem homônimo - para relacioná-los à outras leituras, tais quais sua aproximação/semelhança a fatos históricos, mitos, representações, oralidade e outras literaturas em geral.
Palavras-chave: História, mito, oralidade.
As lentes da intolerância: representações do neofascismo e de skinheds no cinema do século XXI
Paulo Roberto Alves Teles (UFS)
[email protected]
A formação de tribos urbanas e grupos marcados pela intolerância tem sido presente no
alvorecer do século XXI. Nitidamente influenciado por ideias fascistas, esses grupos têm
disseminado o seu ódio e a sua violência a minorias como judeus, negros e homossexuais.
Diante disso, a pesquisa analisou as diferentes formas de representação desses grupos na
recente produção fílmica do século XXI. Selecionamos para isso as películas: Evil – Raízes do
mal (2003), Diário de um skinhead (2005), Steel Toes (2006) e A Onda (2008) por acreditar
que estas reúnem aspectos interessantes sobre o tema, além disso, tais produções abordam,
em perspectivas diferenciadas, os problemas gerados pela perda gradativa da humanidade e
pela adoção de posturas éticas questionáveis.
Palavras-chave: cinema, intolerância, representações
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O cinema em Belém do Pará nos tempos
da borracha (1896-1914)
Pere Petit Penarrocha (UFPA)
[email protected]
Esta comunicação faz parte da pesquisa atualmente em andamento sobre os pioneiros do
cinema mudo em Belém do Pará, desde as primeiras exibições de imagens através do Vitascope de Thomas Edison, em dezembro de 1896, e do cinematógrafo dos irmãos Augusto e
Louis Lumière, um ano depois, até o que podemos denominar boom do cinema na capital do
Pará a partir da inauguração de salas destinadas à exibição exclusiva de filmes e documentários e a criação da primeira produtora de documentários em 1911, a firma de The Pará Films.
Também discutiremos o impacto no mundo cultural e cinematográfico belemense da crise
econômica que sofre a capital paraense após a queda do valor no mercado internacional do
preço da borracha exportada pelo Brasil.
Bonnie e Clyde: uma biografia de
contravenção (anos 1930 e 1960)
Soleni Biscouto Fressato
Doutora em Sociologia pela UFBA
[email protected]
Bonnie Parker e Clyde Barrow foram dois conhecidos ladrões de bancos e postos de gasolina que viveram os conturbados anos da depressão econômica nos Estados Unidos. A gang
Bloody Barrow Gang fazia tremer o comércio, pois era sinônimo de brutalidade impiedosa,
mas também vista como um sinal de revolta contra a miséria em tempos de crise. A partir
de 1932, quando ocorreu o primeiro assassinato, eles começaram a ser perseguidos ferozmente pela polícia norte-americana. Em 1934, num tiroteio com a polícia de Louisiana, eles
foram assassinados. Em 1967, período em que os jovens contestavam e desafiavam o poder, a
história do casal vem novamente à tona com o filme Bonnie e Clyde. Warren Beatty (Clyde)
e Faye Dunaway (Bonnie) se transformaram nos símbolos de uma mudança de atitute da
juventude frente às imposições sociais e morais. Diante do exposto, a proposta da presente
comunicação é analisar em que medida o filme Bonnie e Clyde é uma biografia do famoso
casal de gângsteres norte-americano e, ao mesmo tempo, uma representação da juventude
nos revolucionários anos 1960.
Palavras-chave: Biografias cinematográficas, Representações sociais no cinema,
Revolução e contestação.
Projetando novos caminhos: Uma análise
das ações culturais promovidas por Walter
da Silveira e suas repercussões no campo
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cinematográfico baiano nas décadas de 1950-60
Thiago Barboza de Oliveira Coelho
Mestrando do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da UFBA
[email protected]
As décadas de 1950 e 1960 se configuraram como um período de grande efervescência das
manifestações artístico-culturais na cidade de Salvador. Esta dinamização do campo cultural
está associada diretamente à promoção de iniciativas pelo governo da Bahia e pela recémcriada UFBa. No entanto, o mesmo não se concretiza no campo das produções audiovisuais.
Sem apoio de políticas públicas, a arte cinematográfica na Bahia desenvolveu-se através de
projetos e iniciativas implementadas pela sociedade civil. Neste contexto, Walter da Silveira
emergiu como um dos mais relevantes fomentadores da cultura cinematográfica no estado.
Entre as diversas ações promovidas por este, destaca-se principalmente a criação do Clube
de Cinema da Bahia. O presente trabalho tem como objetivo discorrer sobre os projetos idealizados por Walter da Silveira, evidenciando a importância destas atividades no desenvolvimento da cultura e da cinematografia no estado baiano.
Palavras-Chaves: Cinema Baiano; Walter da Silveira; Clube de Cinema da Bahia.
Caminhos que se cruzam: literatura e
cinema em Cidade de Deus
Valquíria Lima
Doutoranda em Estudos Literários e Culturais pela Universidade Federal da Bahia
[email protected]
O momento histórico atual nos apresenta obras literárias diferentes, agressivas, que compõem mosaicos para tematizar, radiografar e ressignificar a realidade capitalista, considerada cruel. Entre estas, está o romance Cidade de Deus (1997), de Paulo Lins. Sua narrativa já
traz em si a marca da rapidez cinematográfica e requer novos olhares sobre o literário, que o
entrecruzem com o cinematográfico e com a história.
O que se coloca, então, para a crítica, nestes textos, é a impossibilidade de operar com os mesmos elementos de análise de outrora. Este novo modelo de escrita – a que Roberto Schwarz
chama arte compósita – requer uma análise que se movimente entre as áreas de literatura e
as demais (Sociologia, História, Filosofia, Ciência Política e Economia), de modo que olhar
para o literário não dissocie as suas diversas instâncias de composição. Em Cidade de Deus, a
imaginação não é o único motor da escrita, nela, a relação com a realidade objetiva é a marca
da literatura e, por isso mesmo, ela busca no cinema o motor da narrativa, provocando assim, um grande encontro.
Propõe-se então, neste trabalho, analisar, em que medida o romance Cidade de Deus incorpora
as técnicas do cinema em sua narrativa para conferir maior sentido á interpretação da história.
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ST 3
Memórias sobre homens e natureza – as representações
do sertão brasileiro
Incultos Sertões, Bárbaros e Civilizados: representações dos habitantes e dos espaços geográficos da vila de Cimbres, localizados nos antigos
sertões de Ararobá de Pernambuco (1762-1867)
Alexandre Bittencourt Leite Marques
Mestrando em História Social pela UFRPE
[email protected]
Os informes mais antigos sobre as regiões que hoje são conhecidas como agreste e sertão de
Pernambuco vêm desde o início da colonização portuguesa. Ao passo que avança a expansão
colonial em direção ao interior, aparecem cada vez mais informações, descrições e relatos sobre
as paisagens geográficas e os habitantes nela inseridos. O presente trabalho tem por objetivo
analisar as representações feitas pela administração de Pernambuco sobre os habitantes e os
espaços geográficos da vila de Cimbres, inserida nos antigos sertões de Ararobá. Utilizaremos
como fontes documentais, alvarás petições, ofícios e cartas – localizados no Livro da Criação da
Vila de Cimbres. Nesse sentido, os documentos administrativos constituem em uma rica fonte
de representações, onde termos como incultos sertões, desertos sertões, vileza, honra, bons
costumes, bárbaros, civilizados, simbolizavam designações dos espaços geográficos e identidades dos atores sociais envolvidos.
Palavras-chave: representações, sertão, colonização
Arthur Cézar Reis e as representações sobre homens e natureza na história da cobiça estrangeira da Amazônia (Década de 1960)
Alexandre Pacheco
Doutor em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista
[email protected]
Ao longo da obra A Amazônia e a Cobiça Internacional do historiador Arthur Cézar Reis temos o sentido de uma história geral da cobiça sobre a Amazônia determinada pela ótica do
nacionalismo denunciador deste autor. Nacionalismo que se nutriu de uma linguagem que
mobilizou efeitos retóricos para a construção de um enredo de suspeição sobre as ações dos
povos estrangeiros em relação à Amazônia e de suspense sobre o destino dela, na qual culminou com a construção de uma narrativa genérica não só para explicar e interpretar, mas também demonstrar de forma vivida o conjunto dos acontecimentos históricos ligados à cobiça
dos estrangeiros sobre a hiléia amazônica. Narrativa genérica esta, em que o historiador pro-
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curou expressar - a partir das escolhas literárias e científicas presentes em sua memória sobre
os fatos passados que analisou - a representação da tenacidade do elemento português, do
luso-brasileiro e do próprio homem brasileiro em defender a Amazônia mesmo diante das
precárias condições históricas destes povos para o domínio de sua natureza. Representação,
enfim, que na década de 1960, deveria servir para uso objetivo dos brasileiros em sua luta
para defesa, manutenção e histórico esforço de integração da Amazônia ao restante do país.
Homens e natureza no sertão de Henry Koster
Eduardo Girão Santiago
Professor Adjunto do Departamento de Ciências Sociais da UFC
[email protected]
O artigo pretende trazer à tona homens e paisagens do sertão nordestino, a partir de relatos
de Henry Koster no início do século XIX. Será apresentado um “sertão legítimo, com seca,
léguas sem-fim, gado morrendo, solidão, resistência, heroísmo, primitividade”, como atestou Luís de Câmara Cascudo. Será analisada a interação homem e natureza no sertão, a
sua cultura, o seu perfil psicológico, a sua alimentação, as práticas de comércio e a vida de
vaqueiro nas fazendas de gado. A leveza e naturalidade da narrativa do “exato” Koster será
explicitada neste artigo, descortinando a comparação do sertanejo nordestino e do peão das
terras vizinhas do Prata, o teor das conversas dos sertanejos e a sua intrigante moral num
território sem lei. A fonte de pesquisa deste artigo será o livro Viagens ao Nordeste do Brasil,
com prefácio e comentários de Câmara Cascudo, que reconhece em koster o pioneirismo na
construção da etnografia tradicional do sertanejo nordestino no seu cenário.
Palavras-chave: Sertão. Etnografia. Henry Koster
O sertão brasileiro e a pós-modernidade: imagens
na literatura e no cinema contemporâneos
Émile Cardoso Andrade
Doutoranda em Literatura na Universidade de Brasília
[email protected]
Este trabalho tem como objetivo investigar de que forma a literatura e o cinema brasileiro contemporâneos representam o sertão; para isso utilizaremos o romance “Galileia” (2008) de Ronaldo Correia de Brito e o filme “Árido Movie” (2006) de Lírio Ferreira. A ideia é discutir as relações entre as representações artísticas do espaço sertanejo e as novas perspectivas políticas e
estéticas que envolvem as mesmas. Outro intuito deste estudo é entender como a pós-modernidade compreende o sertão como lugar e não-lugar de uma possível identidade brasileira que
se configura diferentemente de contextos anteriores, como a literatura de Euclides da Cunha e
Graciliano Ramos e o Cinema Novo de Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos.
Palavras chaves: sertão, literatura e cinema
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Paisagem-labirinto: notando espaços sertanejos
Eudes Marciel Barros Guimarães
Mestrando em História pela UNESP/Franca
[email protected]
Nesta comunicação, pretendo refletir sobre algumas representações do sertão no início do
século XX, especialmente os sertões baianos. A partir da apreciação do relato de uma viagem
empreendida pelo alemão Otto Quelle, em 1927, da Bahia meridional ao vale do rio São
Francisco, recupero algumas imagens do interior baiano, desde os lugares que “receberam
vida nova com as estradas de ferro” às “monótonas paisagens de caminhos poeirentos que se
estendiam para o Oeste. O propósito do pesquisador alemão em conhecer objetivamente o
interior baiano foi orientado pelo duplo perfil que se formou no pensamento social sobre o
sertão: uma região atrasada, “onde raras são as lavouras e, mais raros e pobres, os povoados”,
mas também um espaço portador de uma autenticidade brasileira. A paisagem no relato é
bastante expressiva – ora labiríntica e perigosa, ora monótona e fatigante – e encontra-se
com outras narrativas como o romance “Vida Sertaneja”, de Prado Ribeiro, com que o cientista teve contato durante a viagem.
Palavras-chave: paisagem, sertões baianos, relato de viagem
Caatinga e Catingueiros: a paisagem e a
identidade social no Sertão Baiano. 1850-1910
Flávio Dantas Martins
[email protected]
Analisa-se a construção da identidade social dos catingueiros na região de Irecê-Bahia, entre
o fim do século XIX e início do século XX. Investiga-se a importância das relações de trabalho
estabelecidas entre os sujeitos camponeses na ocupação da região, as contradições e contatos nas fronteiras com as regiões ribeirinhas e garimpeiras e a transformação dos sentidos
dados à paisagem da caatinga e às atividades desenvolvidas na mesma. Utiliza-se como fontes documentação eclesiástica, cartorial, relatos de viajantes e literatura oral. Trata-se de um
recorte de uma pesquisa em andamento, a nível de mestrado, a respeito da História Agrária
da região de Irecê-Bahia.
Águas que curam, embelezam, rejuvenescem:
as representações da natureza na estância
hidromineral de araxá mg
Glaura Teixeira Nogueira Lima
Professora Adjunta da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
[email protected]
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As virtudes que brotam da água correm por tempos, espaços e culturas diferentes. Líquido
vital, a água purifica, consagra, higieniza, alimenta, cura, rejuvenesce e embeleza. A água
traz fruição, proporcionando situações muitas vezes inéditas como recreio, repouso e relaxamento junto aos ambientes que a acolhem, naturais ou construídos. Este artigo visa à
discussão das formas de aproveitamento da água como um bem valioso e sua importância
na construção física e imaginária da estância hidromineral de Araxá, MG, no período entre
o final do século XIX e meados do XX.
Os muitos sentidos do sertão: imagens e representações do sertão de Minas Gerais
Iara Toscano Correia
Doutoranda em História pela UFU
[email protected]
Minas, são muitas. Porém, poucos são aqueles que conhecem as mil faces das Gerais. (João
Guimarães Rosa)
O termo sertão foi cunhado pelos portugueses, entre os séculos XII e XIV, e expressava bem a
noção expansionista e imperialista que caracterizou o período colonial em sua primeira fase
na Península Ibérica. Grafado ‘certão’ ou ‘sertão’, era usado para designar as áreas situadas no
interior de Portugal, distantes de Lisboa. A partir do século XV essa terminologia também foi
usada para nomear espaços vastos, interiores, situados dentro ou no entorno das possessões
recém-conquistadas, em que pouco ou nada se sabiam sobre elas. Este estudo analisa os
deslocamentos semânticos ocorridos no termo e sua aplicação no sertão mineiro. Hoje, essa
terminologia é reivindicada pelos grupos sociais que a ostentam como uma marca capaz de
legitimar um modo de vida que é próprio de um povo. Em meio à intensa mercantilização
dos bens simbólicos, a identidade sertaneja tornou-se, não só, mas também, um produto
viável na dinamização das economias locais.
Palavras-chave: sertão mineiro; viajantes estrangeiros; identidade sertaneja
Os sertões da província maranhense durante a
experiência regencial no Maranhão
Léa Maria Carrer Iamashita
Doutora em História Social pela Universidade de Brasília
[email protected]
No estudo da cultura política da Rebelião Regencial da Balaiada, cujos cenários foram os
sertões do Maranhão e Piauí (1838-1841), trabalhamos com a interpretação e codificação da
categoria “sertão” a partir do imaginário social e do entendimento do espaço como produto
de uma prática cultural e simbólica. A visão etnocentrista de nossa historiografia tradicional
estendeu a visão negativa dos indígenas aos mestiços e aos sertanejos de uma forma geral.
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Tal postura foi articulada à percepção de “sertão” como um vazio, tentando transmitir assim
a ideia de uma ocupação mais legítima. O sertão que emergiu de nossas fontes foi o sertão
da fronteira, que incluía matas fechadas e pantanosas, que abrigavam os escravos fugidos e
também os índios e os mestiços livres, a “população de cor” que fugia do recrutamento militar, do controle e da exclusão violenta do Estado Moderno e da “sociedade civilizada”. Um
sertão que ficou no “vazio” legitimador da ação expansionista da fronteira.
Palavras-chaves: Sertão, Maranhão, Fronteira.
A face do sertão em Árido movie: uma
representação pós-moderna?
Leonardo Assunção Bião Almeida
Mestrando em Letras pela UESC
[email protected]
Ricardo Freitas de Oliveira
Doutor em comunicação pela UESC
[email protected]
O sertão desde o Romantismo na literatura brasileira, vem sendo tomado como ambiente
detentor da essência de uma possível “brasilidade”. Mas é, sobretudo, a partir do Modernismo
que tal ambientação ganhará maiores proporções, ao comprometer-se a criar uma “genuína”
identidade cultural e nacional brasileira. O Cinema novo, herdeiro dessa concepção modernista, foi o responsável por consolidá-la como temática crucial no terreno das representações, trazendo para as telas um sertão palco de questionamentos políticos e sociais, como
visto em Deus e o diabo na terra do Sol, de Glauber Rocha. A chamada “fase de retomada” da
cinematografia brasileira também lançará mão das representações do sertão, só que substituindo o caráter engajado, por uma visão mais subjetiva: ou seja, o sertão passa a ser palco
de dilemas pessoais. Nesta comunicação, propomo-nos analisar o cinema contemporâneo
brasileiro, através do filme Árido Movie, de Lírio Ferreira, que se apresenta como potencial
ilustração para se pensar essas mudanças da representação do sertão, ao mostrar o diálogo da
cultura sertaneja com a cultura pop mundializada, delineando um cenário onde o passado
(moderno) e o presente (pós-moderno) coabitam.
Palavras-chave: cinema brasileiro, sertão, representação.
A Guerra do fim do mundo - o imaginário
sobre Canudos e o sertão brasileiro
Libertad Borges Bittencourt
Professora adjunto IV da Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás
[email protected]
A partir das mudanças que perpassaram a escrita da História, a literatura foi re valorizada
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no que diz respeito às possibilidades apresentadas por essa “fonte” em expressar o tempo
histórico. Nesse sentido, a proposta dessa apresentação é problematizar como uma obra
literária: A guerra do fim do mundo, de Mario Vargas Lhosa, recorre a um acontecimento
histórico para desvelar o desconhecimento sobre realidades díspares que caracterizaram a
célebre dicotomia entre civilização e barbárie. O autor alcança uma conexão peculiar, conferindo espaço, também, a regiões e tipos pouco considerados, quando se trata de pensar
a nação que se buscava forjar no final do oitocentos no Brasil. Sua obra é perpassada pela
perplexidade e dificuldade de compreender o que se passava naquele sertão longínquo e
inóspito, sentimentos ampliados pelas sucessivas e aparentemente inexplicáveis derrotas do
exército nacional nos embates com “um bando de sertanejos maltrapilhos”. O livro reproduz
o estranhamento entre as distintas regiões do país, particularmente com respeito ao sertão.
Diálogos com Guimarães Rosa: tempos, espaços e
memórias de velhos pioneiros do Grande Sertão
(1860-1920)
Maria Zeneide Carneiro Magalhães de Almeida
Professora Adjunto do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Pontifícia Universidade Católica de Goiás
[email protected]
O escritor Guimarães Rosa traz em seus romances, referências sobre paisagens, cenários,
lugares e personagens, onde já existiam\ou surgiram povoados, vilas e cidades que passaram
a ter visibilidade social por meio das suas narrativas. O texto aqui proposto tem como foco
principal a reconstrução das memórias de antigos pioneiros de núcleos de povoamento e
ocupação humana próximos à área do Parque Nacional Grande Sertão. Busco contrapor e
dialogar com representações sobre o sertão que enfatizam o atraso cultural e isolamento
como obstáculos para sua inserção no processo de desenvolvimento do país. Como também,
aquelas que ressaltam a importância da contribuição positiva ou negativa desses aspectos
regionais na construção da identidade nacional. Ancoro nas abordagens sobre cultura e
memória como linhas investigativas que privilegiam a relevância social e subjetiva do ser e
do viver sertanejos presentes na produção literária brasileira em diferentes contextos.
Palavras-chave: Memória; Pioneiros do Grande Sertão; Guimarães Rosa.
O Grande Sertão de Minas é Gerais
Mônica Celeida Rabelo Nogueira
Profa. Adjunta da Faculdade de Planaltina (FUP), Universidade de Brasília
[email protected]
Gerais é a denominação no Norte de Minas Gerais, dada pela gente local aos topos de serra,
planaltos, encostas e vales dominados por Cerrado. É também o território reivindicado e um dos
mais importantes vetores no processo de afirmação identitária dos Geraizeiros, oferecendo el-
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ementos discursivos e perfomativos de justificação para as demandas desse grupo, numa ampla
arena de articulação política. O recorte por bioma é operado em muitos desses contextos e, por
isso, oferece elementos elucidativos das dinâmicas específicas ao processo de reelaboração identitária e reivindicação territorial dos Geraizeiros. Dito de outro modo, o Cerrado (ou os Gerais)
é, especialmente nos últimos anos, elemento de marcação da diferença para os Geraizeiros e
fonte de simbolizações importantes no processo de afirmação de sua identidade, enquanto
população tradicional. Mas seria pouco tomar os Gerais como simples sinônimo de Cerrado.
Essa categoria êmica merece ser objeto específico de análise - por si mesma e em relação a outras
que a ela foram associadas ao longo da história. Por isso, empenho-me neste trabalho em delimitar os Gerais, como entidade histórica e geográfica, num exercício interdisciplinar, em que
procuro articular elementos de geografia, história, ecologia, antropologia e mesmo literatura,
para apreender esse espaço/lugar em suas muitas faces, humanamente habitado e construído,
através de distintos fluxos históricos. Por meio da abordagem de diferentes fontes documentais
e explorando a permeabilidade entre essas narrativas, procuro tomar contato com o acervo cultural que preenche os Gerais de múltiplos e vigorosos sentidos, ainda hoje socialmente operados pelos regionais e pelos próprios Geraizeiros.
Palavras-chaves: identidade, territorialidade, representações sociais.
Entre traças e cupins: Representações da
escravidão em registros documentais escritos
Murilo Borges Silva
Mestrando em História pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás
[email protected]
O presente estudo integra um contexto maior que se propõe a investigar o processo de
abolição e o pós-abolição no município de Jataí. Entretanto, para que fosse possível discutir
essa temática fez-se necessário um retorno ao período da escravidão com o intuito de perceber as representações sobre a vida cativa nos sertões goianos. Para tanto, fizemos dialogar
o senso demográfico realizado em 1872, documentos cartoriais do período compreendido
ente 1872 a 1888 e bibliografia sobre o tema, percebendo como se deu a dinâmica de compra
e venda de escravos, as redes de sociabilidades e solidariedades construídas no cativeiro, a
resistência ao sistema escravista e a espera pela liberdade. Há no texto a tentativa de demonstrar que a escravidão na região, apesar de se tratar das últimas décadas do trabalho escravo,
esteve consideravelmente presente no sudoeste de Goiás.
Palavras-chave: escravidão, Jataí, documentos escritos
Representações do sertão norte oriental
do Brasil setecentista
Paulo Henrique Marques de Queiroz Guedes
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Professor de História do IFPE
[email protected]
Nesta proposta de trabalho, centraremos a discussão nas várias dimensões simbólicas do
sertão norte oriental do Brasil surgidas no período colonial (século XVIII). Assim, privilegiamos algumas das mais recorrentes representações do sertão colonial para entender como
este espaço foi qualificado pelos contemporâneos. Destacamos, sobretudo, que as diversas
concepções de sertão variaram no tempo (entre os séculos XVI e XVIII) de acordo com significativas mudanças conjunturais. Trata-se de conceber o sertão como “espaço-móvel” no
qual observamos a associações deste com alguns grupos étnicos (notadamente os índios
Tapuia) e sociais (os quilombolas, os paulistas e os criminosos) que no entendimento dos
homens da época atuavam neste espaço como se fora seu lócus privilegiado. Em todos estes
casos o sertão era encarado como o lugar do “outro” e espaço de baixa institucionalidade.
Neste sentido, a partir da análise de bibliografia especializada e fontes primárias emergiu
um espaço-sertão que esteve, no período colonial, associado a determinadas imagens que
transitaram entre a rusticidade, incivilidade, heresia e liberdade.
Palavras-chaves: sertão; América portuguesa; representações.
Excursões, Raids Automobilísticos e Expedições:
o itinerário de um diário íntimo (1916-1920)
Robson Mendonça Pereira
Doutor em História pela UNESP
[email protected]
O interesse da elite paulistana pelo automobilismo, precedendo a própria constituição de um
plano de estradas de rodagem, teve seu início com a fundação do Automóvel Clube de São
Paulo em 1908, entidade que reunia um grupo de empresários e políticos ligados a famílias
poderosas. Nos anos 1910 tornou-se hábito percorrer com automóvel os caminhos poeirentos
pelo interior, em passeios geralmente marcados por transtornos tal o péssimo estado em que
se encontravam. O presidente de Estado Altino Arantes registrou em seu diário de governo
muitas destas excursões e raids, a maioria com finalidade política. No seu texto percebe-se a
utilização de recursos de representação literária para ressaltar o contraste entre as condições
atrasadas dos locais visitados e os valores cosmopolitas representados pelo automóvel com o
qual a elite cafeeira passara a conviver cotidianamente.
Palavras-chave: modernidade, automóvel, diário.
O Interior e a Interiorização do Brasil por
Peixoto da Silveira – anos de 1950
Wilton de Araujo Medeiros (UFG)
[email protected]
Desde o período em que exerceu o mandato de Deputado Estadual em Goiás (1946/1950), o
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médico José Peixoto da Silveira elaborou um discurso em que o interior de Goiás e do Brasil
é contraposto à superficialidade do litoral. Trata-se da aplicação em termos locais da matriz
dualista litoral/sertão, empregada desde Euclides da Cunha, para a elaboração de um pensamento sobre a formação da Nação. Posteriormente a esse período, passando a atuar no
poder executivo estadual, Silveira vai aprofundar este pensamento, mostrando o modelo de
urbanização de Goiânia como o melhor exemplo para se construir a nova Capital Federal no
interior do Brasil, e, com isto, indicar a interiorização como vetor de expansão do desenvolvimento nacional.
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ST 4
Lugares, Paisagens e Passagens Urbanas – história cultural na cidade contemporânea
Uma leitura da cidade: a história oral e a produção
do documentário sobre o bairro Santa Teresa,
Boa Vista/RR
Alfredo Clodomir Rolins de Souza
Graduado em História pela Universidade Federal de Roraima
[email protected]
André Nonato Alves King e Campos
Acadêmico do curso de História pela Universidade Federal de Roraima
[email protected]
Anderson de Brito Barbosa
Acadêmico do curso de História pela Universidade Federal de Roraima
[email protected]
Na história da cidade de Boa Vista ainda existem muitas lacunas. O aparecimento de alguns
bairros a partir da década de 1990, geram indagações e estimulam a busca do conhecimento
sobre esse processo de formação, o que é de suma importância para a história da cidade. As
fontes relativas a esse processo de formação são quase escassas e as informações que dão
conta do inicio do seu povoamento encontram espaço privilegiado nos relatos de seus moradores mais antigos.
Neste sentido, escolhemos como objeto de estudo bairro o Santa Teresa, cujo povoamento se
deu através de migrantes. Coletamos relatos audiovisuais e realizamos um documentário sobre o bairro, com o objetivo central de compreender o seu processo histórico de formação e povoamento, sendo as entrevistas com alguns dos moradores mais antigos as fontes principal.
Ficou evidente o papel que os relatos desempenham na história da cidade, na leitura de seus
lugares e práticas e na forma como nela nos inserimos. É importante destacar que as entrevistas e o documentário produzidos pelo projeto se constituem como excelentes mediadores
no processo ensino/aprendizagem, pois seu uso como material didático dinamiza as aulas e
incrementa e potencializa o estudo da história local e regional.
Palavras chave: História oral, documentário, memória
Historicidade do ócio, lazer e tempo livre no
ethos contemporâneo
Ana Camila García López
Mestranda em História Cultural pela UnB
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[email protected]
O tema do ócio tem sido muito polêmico, desde que, contraposto ao “Direito ao trabalho”
do movimento operário alemão em 1848, Paul Lafargue propus “O direito à preguiça”. Da
preguiça ao lazer as coisas mudaram bastante: de uma concepção negativa e inútil passou
a referir atividades úteis e desejáveis, porém, não produtivas no contexto do capitalismo
industrial. Muitos dizem que o lazer foi uma invenção do sistema produtivo, usado como
estratégia de controle dos operários por parte das empresas. Tornou-se uma alternativa de
vida saudável física e mentalmente e, logo depois, um direito dos cidadãos, como a saúde.
No fundo, a discussão é filosófica: compromete uma questão de valores sociais e organização social. A alta estima do trabalho no Ocidente, e do dinheiro como conseqüência deste,
explicam-se não pelo trabalho em si mesmo, mas pelo privilégio do lazer e a possibilidade de
gastar. Este trabalho pretende mostrar o processo histórico de valorização do tempo livre e
dos prazeres como parte integrante do ethos contemporâneo.
Palavras-chave: ócio, ethos, contemporaneidade
Vivências e violências: Os populares na cidade
Dr. Antonio Clarindo Barbosa de Souza
Professor de História e Geografia na UFCG
[email protected]
As cidades tem sido alvo de vários tipos de investigações acadêmicas nas últimas três décadas e no meio historiográfico viram-se ampliadas as possibilidades de enfoques sobre elas
e seus habitantes.
Dois dos sub-temas que mais chamam a atenção quando estudamos as cidades são: a presença dos populares - quase sempre confundidos propositalmente com os pobres - e o aspecto
da violência, também quase sempre associada somente a ação destes moradores.
Todos os estudos sobre a cidade que enfocaram as transformações urbanas ou as práticas
sanitaristas mostram que os pobres sempre foram tidos como fontes de doenças e de perturbações da ordem pretendida pelos reformadores sociais.
Jornais, obras memorialísticas, obras literárias, documentos oficiais das Prefeituras e das
Câmaras de vereadores das pequenas e médias cidades do Brasil, estão repletos de indícios
de como as elites locais viam e entendiam a presença dos populares. Nestas fontes, que pretendemos explorar neste trabalho, os populares são vistos ora como massa de manobra para
as empreitadas políticas das elites, ora como empecilho às suas tentativas de reformas.
As formas de exclusão social dos populares nas cidades é o nosso principal interesse neste texto.
Entender como os discursos e as práticas dos populares foram cercadas, delimitadas, esquadrinhadas, normatizadas, ditas, discusadas e, muitas vezes interditadas, será o nosso mote de pesquisa, sendo as formas de violência praticadas contra os populares o nosso eixo norteador.
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Entre Cartuns e Charges: Possibilidades
de análise documental historiográfico
Bruna Dolores Witte
Graduanda do curso de História pela Universidade Federal de Mato Grosso.
[email protected]
Este artigo têm como objetivo discutir as fontes textos-Visuais (charges e cartuns) veiculadas
no Jornal O Pasquim entre os anos de 1969-1973. Na primeira parte apresento a abordagem
metodológica adotada. Em seguida, apresento o jornal e o contexto histórico no qual este era
produzido.
Palavras-chave: expressões gráficas de humor, história, ditadura militar.
Cultura política e o direito à cidade: a eleição de
1959 em Florianópolis
Camilo Buss Araujo (UNICAMP)
[email protected]
Em 1959, a cidade de Florianópolis, capital de Santa Catarina, é palco de uma das mais disputadas eleições do estado. Em jogo o cargo de prefeito municipal, almejado por políticos dos principais partidos da cidade. No entanto, desponta no cenário o candidato Manoel de Menezes,
concorrendo pelo pequeno Partido Trabalhista Nacional (PTN). Assentado num discurso de
atendimento das demandas populares e em campanhas moralizadoras, o candidato surge como
favorito, colocando em xeque o poder das duas maiores agremiações políticas do estado, a UDN
e o PSD. O medo de vitória de um candidado tido como populista fez com que um tradicional
jornal local alertasse para o perigo de esmagamento das elites por um “baixo populismo”, defendendo a união dos dois pricipais partidos como forma de resguardar o direito desses setores
de comandar. A disputa pelo executivo municipal, neste sentido, põe em evidência as tramas
e tensões presentes no cotidiano da urbe, onde as camadas populares ocupam cada vez mais o
espaço público. Sendo assim, esta comunicação tem como objetivo tecer algumas considerações sobre este “tempo da política”. Verificar os rituais e interdições que o fazem um período
de conflito autorizado, no qual as clivagens da sociedade explicitam-se. Nesta perspectiva, é
impossível analisar as questões políticas em sentido amplo sem identificar suas conexões com
as relações urbanas e a construção da cidade. Trata-se, portanto, de entender a cultura política
(ou a pluralidade de culturas) e suas imbricações com as dinâmicas proporcionadas pelas transformações urbanas. De certa forma, parte do que está em jogo durante o processo eleitoral são
os limites da participação popular nas questões da cidade, ou seja, a delimitação das fronteiras
da luta por direitos.
Da “Calle del Cartucho” a “Cidade Saúde”:
transformações contemporâneas na paisagem ur44
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bana do centro histórico de Bogotá (Colômbia)
Carlos José Suárez G.
Mestrando em antropologia pela UFF
[email protected]
No presente ensaio buscarei articular uma série de leituras sobre a cidade e suas imagens, tomando como exemplo a renovação urbana do centro histórico da cidade de Bogotá (Colômbia).
Centrar-me-ei nas dicotomias urbanas contemporâneas entre o esvaziamento e a preservação,
relacionando os projetos de renovação com as paisagens que estes constroem. A cidade, além
de ser o espaço vital do homem, apresenta-se nesta análise como um dispositivo de controle
dos comportamentos. Na moderna construção da urbe existem pessoas que, sob a aparência
do abjeto, do socialmente excluído, mantêm-se afastadas do sistema e, desta forma, anônimas
que são aferidas por estes processo de construção da nova cidade. Sendo assim, tentarei uma
aproximação à nova história de dois setores particulares da cidade, objeto da intervenção urbana: a “Calle del Cartucho” que foi substituída pelo “Parque Terceiro Milênio”, e o bairro “San
Bernardo”, que será destruído para construir a “Cidade Saúde”.
Palavras-chave: renovação urbana, moradores de rua, metrópole.
Fugindo do traçado: análise das transformações
urbanas em Araranguá causadas pela implantação da ferrovia e do rodovia BR 101 (19301980)
Daniel Alves Bronstrup (UDESC)
[email protected]
O desenvolvimento urbano da cidade de Araranguá está relacionado, no primeiro momento,
com a planta da cidade produzida em 1886, a qual determinou o crescimento do centro da cidade. Entretanto, no decorrer do século XX, dois acontecimentos fizeram surgir bairros que fugiram do padrão determinado pela planta: a ferrovia foi o ponto de partida para um bairro além
dos limites do rio Araranguá; e a rodovia iniciou um processo de crescimento linear seguindo
seu traçado no território do município. Apesar de serem dois períodos distintos, eles se relacionam no momento em que a rodovia entra na cidade e passa a substituir a ferrovia. Como conseqüência desse processo, temos o surgimento e o abandono de bairros que têm como localização
o que Marc Augé chama de “não lugares”.
Palavras-chave: Araranguá, Ferrovia, Rodovia, Transformações.
Retóricas do Abandono: Usos e Apropriações do
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Patrimônio Cultural em uma Cidade Contemporânea
Diego Finder Machado
Mestre em História pela UDESC
[email protected]
Este trabalho, cujas reflexões fundamentam-se em pesquisas desenvolvidas ao longo do curso
de Mestrado em História da UDESC e em atuações em políticas públicas na área de cultura, tem
como objetivo problematizar os usos e as apropriações contemporâneas do patrimônio cultural
urbano em Joinville, Santa Catarina. Tendo como inquietação inicial o uso cotidiano do adjetivo
“abandonado” para qualificar bens culturais localizados nas áreas centrais da cidade, alguns
questionamentos conduzem as argumentações. Inexistem apropriações sociais e culturais dos
lugares da cidade que costumeiramente empregamos o adjetivo “abandonado”? Quais histórias
e quais memórias do tempo presente estes lugares nos remetem? Tentando problematizar estas
questões, buscou-se ler a cidade pelas suas margens, desvelamos impertinentes experiências
urbanas, silenciosas e silenciadas, que nos mostram práticas de espaço que transgridem a maneira como habitualmente se compreende a vida urbana.
Palavras-Chave: Cidade; Patrimônio Cultural; Práticas Culturais.
Apegos Polifônicos: Notas Dissonantes Constituidoras de Relações Pautadas na Fé e na Religiosidade – Guaramirim/SC
Elaine Cristina Machado
Pós-graduanda em História pela UDESC
[email protected]
As relações das comunidades da cidade de Guaramirim- SC, nas décadas de 1960 e 1970,
são reconfiguradas e articuladas a partir do estabelecimento de práticas religiosas ligadas
a incorporação de normas de comportamento e condutas instaladas nas relações sociais
presentes nas comunidades da cidade. Além da fé que é estruturante e estruturadora de um
discurso o corpo passa a ser uma referência de expressão ou não dos efeitos desse discurso.
As experiências com o sagrado a partir da presença oficial da Igreja Católica na cidade passam a ser resignificadas, uma vez que se institui oficialmente relações de poder mais consistentes e evidentes, perpassadas por um discurso religioso ligado a um ideal de trabalho
e progresso, o que sugere que o discurso articulado comungava intimamente com o poder
público municipal. Na medida em que este poder religioso se concretiza através da imposição de uma “pedagogia da fé” o discurso utilizado passa a ser uma alternativa que serve
como mecanismo de controle onde a convivência com o outro, o diferente, transformara-se
em um terreno pouco transitado. É neste contexto, onde a fé é responsável por moldar as
relações comunitárias, perpassadas pelas relações entre o sujeito e as instituições religiosas
(Igreja Católica, Luterana e Assembléia de Deus) que estes sujeitos transitam e fazendo uso
das memórias como fontes que buscamos discutir a ressonância dos códigos de linguagens
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e as formas de identificações presentes neste recorte histórico.
Palavras-chave: Discurso religioso, relações comunitárias e subjetividades.
Comunidade árabe islâmica em Florianópolis
(SC) (1991-2008)
Prof. Dr. Emerson César de Campos (UDESC)
[email protected]
Florianópolis (SC- Brasil) nas duas últimas décadas sofreu um incremento agudo de sua
população, que chegou perto do dobro daquela de 1990. Neste crescimento houve também
um expressivo aumento da população dita Estrangeira (documentada ou não). As populações estrangeiras, embora reconhecidas pelas ruas e no cotidiano da cidade, são pouco
visibilizadas pela Historiografia. Essa Comunicação pretende identificar entre a população
imigrante estrangeira, aquela composta por árabes. Busca fugir de interpretações que tendem a reduzir o imigrante aos estereótipos de suas origens étnicas, ou mesmo outras que
privilegiam (e reduzem) os árabes aos seus fatores e contribuições econômicas e religiosas,
quase que exclusivamente. Assim pretendemos realizar uma investigação cuidadosa sobre
a constituição de territórios da Cultura árabe (palestinos, sírios, libaneses, jordanianos) na
capital, e as redes nas quais as manifestações e expressões sóciocultural daquela população
se constroem. Procuro ainda nesta comunicação refletir sobre a constituição da Comunidade
Árabe Islâmica e desta forma promover uma discussão sobre o movimento de populações e
os fluxos migratórios no Tempo Presente. Por último, ao estudar a população árabe islâmica
em Florianópolis, buscamos inseri-la nos debates sobre a relação Oriente-Ocidente e nisto
também o crescimento do Islamismo. Através da História Oral podemos conseguir e alcançar uma descrição mais elaborada sobre a realidade experimentada pela população árabe em
Santa Catarina (BR).
Palavras-Chave: Estrangeiros – Imigrantes – Florianópolis – Árabes
A volta do bonde: o presente entre o
passado e o futuro na cidade
Fernando Augusto Souza Pinho (UFRJ)
[email protected]
Em 2007 a Prefeitura de Belém saudou o “retorno” do bonde em uma linha turística. Sua
criação tinha origem em gestão municipal anterior (2001-2004) e fazia parte de um projeto
de “revitalização” do centro histórico-comercial de Belém, cujo objetivo era “resgatar” uma
determinada imagem do centro, mais ligada à memória do ciclo da borracha na Amazônia.
Contudo, esse acontecimento não é uma particularidade local, mas representa uma dispersão
(mundial) de iniciativas relacionadas à gestão da mobilidade urbana e/ou à promoção do turismo e do patrimônio histórico-cultural. Em algumas cidades, o bonde reapareceu “modern-
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izado”, com layout arrojado e como meio de transporte de média capacidade; em outras, com
um design mais “saudosista”, serviu como um dos instrumentos de estímulo ao turismo. Este
trabalho objetiva, portanto, analisar algumas iniciativas de (re)introdução do bonde como
um importante elemento constitutivo do que hoje se diz ser “modernização”/“revitalização”
do espaço urbano.
Palavras-chave: cidades, bonde, revitalização urbana.
Campeonatos, carnavais e réveillons ou cotidiano moderno dos clubes esportivos em Salvador,
1899 – 1924
Henrique Sena dos Santos
Mestrando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana – BA
[email protected]
O surgimento dos esportes no início do século XX em Salvador esteve diretamente ligado à
busca das elites em reconfigurar a noção de lazer da cidade. Desde o final do século XIX, as
elites urbanas, na tentativa empreender práticas culturais modernas buscaram substituir
festas religiosas, entrudos e outros divertimentos considerados desatualizados por lazeres
modernos como o cinema, o footing e os carnavais europeizados. Ao considerarmos este
contexto, o objetivo desta comunicação é perceber como a fundação dos clubes esportivos
em Salvador também representou para as elites uma tentativa de criar novas formas e espaços de sociabilidades modernos. A partir da análise do perfil dos sócios, a estrutura dos
clubes, bem como festas, eventos sociais e campeonatos esportivos organizados e protagonizados por estes a ideia é compreender a emergência dos clubes esportivos no bojo da modernização socioespacial da cidade. Ao final, oferecendo aos frequentadores um ambiente em
que podiam conhecer novas pessoas e pretendentes, flertar, participar de confraternizações
e praticar esportes, entendemos que os clubes e campeonatos constituíram novas paisagens
modernas da cidade.
Palavras-chave: Cidade; Clubes esportivos; Sociabilidades.
Parques urbanos no contexto de Goiânia (GO):
historicidade de uma paisagem
Jorgeanny de Fátima Rodrigues Moreira
Graduada em Turismo pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás
[email protected]
Clarinda Aparecida da Silva
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação do Instituto de Estudos Sócio Ambientais da
Universidade Federal de Goiás
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[email protected]
A conservação de áreas verdes durante a construção de Goiânia, visava o bem estar social
proveniente da relação do homem com a natureza. Pedro Ludovico, idealizador da capital
goiana, almejou um projeto audacioso que pudesse agregar a cidade, modernidade, conforto
e beleza. Atualmente, prevalece na mídia à imagem de qualidade de vida proporcionada pelas extensas áreas verdes. A implantação de parques urbanos contribuiu para que Goiânia recebesse o título de 2° capital mais arborizada do mundo. Esses aspectos são defendidos pela
administração pública atual como forma de proporcionar qualidade de vida a população. A
pesquisa visa identificar a relação da comunidade local com estas áreas. Quais os significados e valores que os freqüentadores atribuem a estas paisagens? A aplicação de questionários, entrevistas e observação em quatro parques da cidade foram os recursos metodológicos
utilizados para compreender estas questões.
Palavras-chave: Parques urbanos. Paisagem. Mídia.
História e cidade no tempo presente
Luiz Felipe Falcão (UDESC)
[email protected]
Os processos contemporâneos de modernização urbana, ao colocarem frente a frente experiências diferentes, como as que caracterizam indivíduos provenientes do campo e indivíduos habituados aos ambientes citadinos, ou também nativos que nasceram na própria
cidade ou em suas imediações, e forasteiros que para lá se dirigiram pelos motivos mais
variados, delineiam um jogo intrincado de aproximação, recepção, afastamento, repulsão e
permuta entre os diferentes segmentos socioculturais envolvidos, de tal maneira que seria
uma simplificação afirmar que qualquer um deles apresenta comportamentos homogêneos,
mesmo após a entrada em cena dos meios de comunicação de massa (rádio, jornal impresso,
cinema e televisão). Em outras palavras, e acerca de várias questões, existem afinidades entre
indivíduos provenientes do meio rural e do meio urbano, ou entre alguns “nativos” e alguns
“estrangeiros”, na defesa, por exemplo, de uma nova sensibilidade para com os animais e,
de modo geral, com o meio ambiente, enquanto que outros não são refratários a um crescimento da cidade ao custo inclusive de prejuízos ambientais.
Palavras-chave: cidade, cultura, identidade.
Das paisagens que não queremos ver - O processo de construção da identidade social dos catadores de material reciclável nas cidades contemporâneas
Marina Roriz Rizzo Lousa da Cunha
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Professora, mestre, do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Goiás e
da Pontifícia Universidade Católica de Goiás
[email protected]
Nas cidades contemporâneas, uma paisagem chama a atenção por suas contradições: as latas de
lixo. Nelas encontramos os principais e mais abundantes produtos de nosso tempo, os descartes
do consumo, mas ao mesmo tempo, representam o medo de ser considerado out pela vida social, o receio de ser “jogado no lixo” – lugar em que ninguém quer estar. Sendo assim, o lixo é
local dos excluídos e rejeitados, dos que possuem uma identidade social deteriorada. E por ser
assim considerado, é ambiente em que apenas poucos escolheriam estar por vontade própria.
Porém, para um grupo em especial, é a opção que resta, a forma que encontraram para sobreviver de forma lícita e almejar reconhecimento social: são os catadores de materiais recicláveis.
Um grupo complexo e diversificado, sujeito a profunda rejeição social, que depende do lixo para
sobreviver e para lutar pela mudança de sua condição, na tentativa de promover sua distinção
como grupo social legítimo.
Palavras-chave: Lixo, consumo, identidade.
Tessituras do urbano no Tempo Presente: o comércio de sexo nas variações de tempo/espaço e
as delicadas subjetividades
Marlene de Fáveri
Professora do Departamento e Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do
Estado de Santa Catarina
[email protected]
Este trabalho focaliza a rede prostitucional no espaço urbano de Florianópolis/SC, heterossexual e diurna, observada através panfletos, cartões de visita e bilhetes entregues nas ruas da
cidade, onde se percebe a dinâmica das relações prostitutas/clientes, os anúncios provocadores,
e a geografia das ruas e edifícios onde acontecem os programas de compra a venda de serviços
sexuais. Estas fontes permitem análises da constituição de subjetividades, das relações de poder
e da corporalidade no âmbito da cultura/consumo, bem como sobre mídias contemporâneas
e práticas de prostituição, marcadas por hierarquias e jogos eróticos, pautando-se em interpretações que envolvem a categoria gênero para a análise histórica. Observam-se experiências de mulheres e de homens na circulação de uma mercadoria específica nas vias urbanas,
constituindo-se uma rede informal de comércio de sexo, configurada na clientela que paga por
este serviço. Nota-se o ritmo em que predomina o imediato, a novidade, a pressa, o fugaz, com
propagandas apelativas e pensadas para provocar esse ritmo. Neste sentido, a cidade e suas vias
e locais ocupados para o comércio do sexo, possibilitam leituras e interpretações de fenômenos
culturais no Tempo Presente.
Palavras-chave: Comércio de sexo; Tempo Presente; Subjetividades e relações de
gênero.
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“Cenas urbanas”: a cidade de Florianópolis
na obra de Sérgio Bonson
Michele Bete Petry
Mestranda em História pela UFSC
[email protected]
Este trabalho traz como temática o estudo sobre as representações da cidade de Florianópolis (SC) na obra de Sérgio Bonson. Artista e historiador, Bonson, como assim assinava seus
trabalhos e ficou conhecido, nasceu em 13 de novembro de 1949 e faleceu em 08 de dezembro de 2005. Como autodidata tornou-se caricaturista, chargista, cartunista, desenhista,
aquarelista e artista plástico. Sérgio Bonson viveu parte considerável de sua vida imerso no
intrincado cotidiano da capital catarinense, morava no centro da cidade e por ali transitava sempre atento às paisagens, aos corpos e às falas que o inspiravam a criar suas obras.
Neste estudo, em particular, tomaremos como fontes de pesquisa as aquarelas e desenhos
que compõem a série intitulada pelo artista como “Cenas Urbanas” e que foi elaborada entre
os anos de 1991 e 2005.
Palavras-chave: cidade – arte - Bonson
Leitura, como prática cultural, na
cidade “civilizada”
Orlinda Carrijo Melo
Doutora em Educação pela UNICAMP
[email protected]
Essa pesquisa de natureza qualitativa, se inscreve na perspectiva da História Cultural, e
analisa as práticas, representações e imagens da leitura e dos leitores da Biblioteca Pública
Municipal de Goiânia, no período de 1936 a 1960. Cidade inventada, Goiânia representa uma
nova configuração no Estado de Goiás, e também no sertão central do Brasil. Nesse sentido
o sertão goiano considerado inculto e selvagem, busca com a construção de Goiânia seu
pertencimento à nação brasileira e também à civilização européia, produzindo novas sociabilidades e múltiplas sensibilidades. O cotejo das fontes, livros, documentos e depoimentos
de leitores da época demonstrou a importância que as práticas de leitura assumiram, entre
outras práticas culturais, nas representações de modernidade, progresso e cultura urbana,
como processos “positivos” que levariam à consolidação Goiânia como a “cidade civilizada”.
Foi possível perceber as relações dos leitores da cidade com a Biblioteca através das práticas
de leitura ali desenvolvidas e também “ler e ver” os valores atribuídos à leitura, numa cidade
inventada, inserida no projeto político desenvolvimentista de modernização e interiorização
do Brasil.
Palavras-chave: leitura, cidade, história cultural.
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Sociabilidades em Florianópolis nas últimas décadas do século XX: uma leitura a partir da imprensa
Rafael Damaceno Dias
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do
Paraná
[email protected]
Nas últimas décadas do século XX, a cidade de Florianópolis vivenciou uma série de transformações urbanas e demográficas que alteraram profundamente as sociabilidades existentes
no seu centro urbano. Isto motivou uma parcela dos cronistas e escritores locais a realizar um
esforço para interpretar se tais transformações seriam ou não positivas para a cidade. Essa
comunicação consiste em uma leitura do esforço empreendido por esses autores, especialmente no que se refere às suas leituras quanto ao desaparecimento de referências culturais
que supostamente fariam parte do cotidiano dos florianopolitanos.
Palavras-chave: identificações – sociabilidades - cidade.
A Invenção da cidade Etnizada: História e Memória
na Blumenau contemporânea. (1974 – 2002)
Ricardo Machado
Mestre em História pela Universidade Federal de Santa Catarina
[email protected]
Blumenau é uma cidade situada no nordeste de Santa Catarina e faz parte de uma região
que passou a ser reconhecida como Vale do Itajaí. Esta demarcação, inicialmente ligada a
uma localização geográfica – ao Rio Itajaí-Açu – hoje é interpretada como uma localização
cultural. Esta localização é atravessada por elementos identitários que constroem unidade
e sentido para palavras como imigração, trabalho, raízes e tradição. Neste projeto pretendo
discutir este processo de invenção da cidade etnizada, através da constituição de um discurso histórico e dos investimentos em uma política da memória. Para isso, tomaremos como
fonte aquilo que a cidade produziu no período de 1974 à 2000 relativo a sua própria história.
Através dos documentos gerados a partir de um conjunto de celebrações e representações do
passado histórico, buscamos estabelecer as séries e demonstrar as unidades e rupturas destes
discursos que inventaram a Blumenau historicizada e etnizada. Dito de outra maneira, aqui
os documentos serão lidos como acontecimentos que produziram uma historicidade para a
cidade, e que por isso, sua produção, linguagem e enunciados serão objetos de análise.
Polifonia paulistana: a Rua Augusta como
espaço de sentidos
Silvia Sasaki (UDESC)
[email protected]
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Importante via arterial da cidade de São Paulo, a Rua Augusta interliga não somente o centro
da cidade ao bairro nobre dos Jardins, mas também conecta indivíduos das mais diversas
classes sociais, gêneros e culturas, em um trânsito heterogêneo de sentidos e vozes.
Ao mesmo tempo em que é estigmatizada pelos locais de prostituição, também é uma das
áreas mais desenvolvidas e valorizadas da cidade. E, nos últimos anos, novamente está passando por processos transformadores – desta vez, uma espécie de higienização visual e auditiva, através dos projetos “Cidade Limpa” e “Psiu”.
Assim, através de uma breve análise dos grafittes em seus muros, dos adesivos stickers colados pela rua anonimamente, das fachadas (agora sem neons), dos estabelecimentos comerciais e dos indivíduos que ali transitam ou moram, é possível traçar perspectivas de territorialidades polifônicas, permeadas de história, e que também não cessam de se reestruturar.
Palavras-chave: Rua Augusta, Cidades, Polifonia.
Os amores que não se deixam dizer: relações amorosas e práticas sexuais na zona de meretrício
Uelba Alexandre do Nascimento (UFPE)
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Pernambuco na
linha de Cultura e Memória
[email protected]
A prostituição é uma temática bastante ampla e que atualmente ganha espaço nas discussões
entre historiadores, sociólogos e antropólogos. É interessante perceber que cada vez mais
este tema se torna também uma chave para compreendermos um pouco mais sobre a lógica da cidade, sociedade e a construção de sociabilidades em que todos estão envolvidos. É
através do cotidiano da zona de meretrício da cidade de Campina Grande, na Paraíba, entre 1930 e 1950, que tentaremos mostrar neste artigo como se davam as relações amorosas
e práticas sexuais na zona de meretrício, através dos processos criminais, na tentativa de
mostrar que o mundo da prostituição não era tão desregrado e degenerado como sugeriam as
elites letradas da cidade e especialmente a justiça. Além disso, percebemos também que suas
ações cotidianas são cheias de simbologias que efetivamente são compartilhadas por todos
que moravam na zona de meretrício.
Palavras-chave: Cidade, prostituição, relações amorosas.
Cidades dos mestres: Belém do Pará em
memórias de professores
Venize Nazaré Ramos Rodrigues
Professora Assistente da Universidade do Estado do Pará, Depto. de Filosofia, Ciencias Sociais e Educação
[email protected]
Pesquisa realizada com professores que atuaram na Educação Básica com objetivo de perce-
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ber as mudanças ocorridas na cidade de Belém com o advento da televisão, nos anos 60 do
século passado. metodologia da História Oral orientou a investigação e permitiu que fossem
selecionados 07(sete) narradores que (re)memoraram suas vivências em Belém dos meados
do século XX, seguindo um roteiro que possibilitou mediar suas lembranças a partir dos objetivos da pesquisa. Recorreu-se a fontes bibliográficas para situar a realidade sócio histórico
cultural da cidade, seguindo o fio condutor das memórias em suas diversas temporalidades.A
pesquisa ensejou (re)construir painéis urbanos da cidade que permitiram perceber o cotidiano de moradores e os desafios coletivos enfrentados naqueles tempos na cidade, como
moradia, alimentação, luz, água, lixo, transporte, assim como os laços de sociabilidade que
se construíram nestas relações. Contribui para compreender a vida na cidade e as questões
urbanas a partir dos sujeitos históricos e como estes forjaram experiências do viver urbano
na Belém de outros tempos, fazendo ponte entre a história individual e a história coletiva.
Palavras-chave: Belém; Memória; História Oral.
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la reinvención nacional a las circulaciones transnacionaST 5 De
les. Los intelectuales de América Latina y el modernismo
História, política e literatura no discurso crítico
da Revista Civilização Brasileira (1965 - 1968)
Cristiano Pinheiro de Paula Couto
Doutorando em História pela UFRGS
[email protected]
Nesta comunicação, proponho uma análise da dimensão histórico-política presente no discurso crítico, sobre literatura, da Revista Civilização Brasileira. Manifestamente independente,
a revista dirigida por Ênio Silveira, estrutura de sociabilidade da comunidade intelectual de
esquerda brasileira durante os primeiros anos da ditadura, expressou, em sua secção literária,
uma defesa do realismo enquanto opção estética na qual o desinteresse ideológico não foi exatamente a nota preponderante. Ao invés disso, essa defesa do realismo, ao constituir-se pelo
uso de gêneros de discurso doxológicos e persuasivos, adquiriu ares “panfletários”. Na medida
em que a intervenção política foi um dos princípios fundadores da RCB, a crítica literária que tomou corpo em suas páginas, fundamentada no pensamento de Lukács, foi hostil ao experimentalismo formalista e insistiu afincadamente na relação da literatura com os grandes problemas
da história e com as lutas sociais imediatas.
Palavras-chave: periodismo político-cultural, crítica literária, história
Du pré Catelan à la Floresta da Tijuca : Arrivée
de l’œuvre de Marcel Proust au Brésil
Etienne Sauthier
Doctorante em Historia na IHEAL (Universidade Paris III)
[email protected]
Les rapports entre le Brésil et l’Europe sont jalonnés, de bon nombre de transferts culturels
qui contribuent chacun à l’auto-définition du pays. L’étude de l’arrivée et de la diffusion de
l’œuvre de Marcel Proust a ceci d’intéressant que ce transfert se produit à un moment de
mutation des rapports entre le Brésil et l’Europe, comme le montre Olivier Compagnon
dans ses travaux. En effet, l’œuvre de Marcel Proust arrive au Brésil à un moment où l’enjeu
moderniste semble être la définition d’une culture spécifiquement brésilienne en rupture
revendiquée avec une certaine tradition européenne à laquelle Proust est lié. Il est donc
intéressant de connaître la lecture qui est faite de l’oeuvre au Brésil, en particulier dans diverses régions et dans des contextes modernistes différents ; recherche faisable à travers la
présence de l’œuvre dans les bibliothèques, chez les libraires et dans la critique brésilienne.
On peut également se demander ce qu’indique cette circulation, car comme le remarque
Michel Espagne dans ses travaux, il n’est jamais de transferts culturels sans rapport avec son
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contexte de réception. En ce sens, on pourra se demander quel sens est donné à l’œuvre par
les Brésiliens qui la lisent et en parlent, et à quel moment celle-ci est lue.
Litterature – Circulation – Brésil
O Direito à Memória como Direito Humano
Difuso na América Latina
Fábio Balestro Floriano (UFRGS)
[email protected]
Ao longo do último século, diversos países do continente latino-americano padeceram sob o
jugo de ditaduras de cunho autoritário, por vezes denominadas “ditaduras de segurança nacional”. Durante tal período – convencionalmente chamado de “Anos de Chumbo” -, a população de tais nações teve negada seus mais basilares direitos fundamentais, e foi somente com
a derrocada dos regimes de exceção que a maior parte desses direitos foi restabelecida. Entretanto, as ainda jovens democracias continuam ameaçadas, visto que se segue negligenciado
um dos pilares fundamentais da Justiça de Transição, conforme conceituada pela ONU: o Direito à Memória. A construção da memória do período, com o pungente relato das atrocidades
cometidas pelos Estados Nacionais contra os seus próprios povos é o único antídoto verdadeiramente eficaz contra a repetição das violações massivas de direitos humanos. O presente
trabalho tem, portanto, por objetivo, a elucidação do que vem a ser o Direito à Memória, para
que se possa, a partir da compreensão do conceito, elaborar políticas públicas visando principalmente à educação, posto que essa é a grande responsável pela formação das novas gerações.
“Para que nunca se esqueça. Para que nunca mais aconteça.”
Os intelectuais diante do regime cubano: de entusiastas a filhos de Saturno da Revolução
Giliard da Silva Prado
Doutorando em História Cultural pela Universidade de Brasília
[email protected]
Desde o triunfo da Revolução em 1959, os revolucionários cubanos demonstraram ter a consciência de que a conquista do poder era indissociável da necessidade de assegurar a sua legitimidade através da elaboração de representações e da construção de memórias. Como parte
integrante desse processo, o governo cubano implementou a política cultural da Revolução,
que foi marcada pelo dirigismo exercido pelo Estado sobre o campo intelectual, no sentido
de orientar a produção simbólica em torno do regime cubano e delinear o tipo de intelectual
orgânico que interessava ao governo. As relações entre intelectuais e Estado que, de início,
foram marcadas pela aproximação, pelo entusiasmo revolucionário e pela cooptação, transformaram-se com o decorrer do tempo, dando lugar a perseguições políticas, prisões, exílios e
silenciamentos. Neste sentido, este trabalho busca identificar grupos e polêmicas intelectuais
sob a experiência revolucionária cubana, bem como pontos de inflexão da relação do Estado
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com os intelectuais.
Palavras-chave: Revolução Cubana; dirigismo cultural; intelectuais.
“Em busca de uma nação renovada”: Vicente do
Rego Monteiro e a sua ação política na Revista
Renovação. 1939-1945
José Bezerra de Brito Neto
Mestrando em História Social da Cultura pela Universidade Federal Rural de Pernambuco
[email protected]
A atuação intelectual dos artistas do modernismo brasileiro, nos anos 30 do século XX, é ainda
hoje objeto de tensões, dada a peculiar relação destes, nesse período, com o regime que se fixou
após a ‘revolução’ de 30, particularmente o Estado Novo. Com o retorno da França, do pintor
Vicente do Rego Monteiro para o Recife, no início dos anos trinta, a capital pernambucana passa
a ter contato com o choque entre projetos modernistas vindos da Europa e os projetos criados
na própria região, configurando um campo artístico pautado no fomento das artes pelo Estado,
através de salões, um museu e uma escola de artes. Trabalhando na imprensa do governo do
Estado de Pernambuco, Vicente passou a publicar a revista Renovação, em 1939, tendo como
discurso principal a “ação cultural, artística e ideológica” de um Estado promotor de renovações
das paisagens urbanas e ideológicas de uma cidade, a favor da construção de uma nova Nação. O
objetivo deste artigo é analisar a atuação política deste artista a partir de seus textos publicados
na revista Renovação, configurando seu ideal moderno, externo a sua obra de arte, e dramatizando seu envolvimento intelectual com esferas do poder público a favor de um discurso que
tinha uma Nação moderna como pauta.
Palavras-chave: História dos Intelectuais, História Social da Arte, História da Imprensa
“A Revista da Música Popular (1954/1956) e seus
articulistas Modernistas recuperam a Memória
do Samba de raiz e do Choro cariocas de fins do
XIX e inícios do XX”
Luiza Mara Braga Martins
Pós-doutoranda em História da Cultura pela UFF
[email protected]
Entre 1954 e 1956, circulou no Brasil a Revista da Música Popular (RMP), sob a direção do jornalista nacionalista Lúcio Rangel. A RMP contou com a colaboração constante de escritores
modernistas em suas colunas e artigos, como Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Rubem
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Braga, Paulo Mendes Campos. A RMP distingue-se até hoje no Brasil por ser a maior e mais
importante obra jornalística que procurou pensar a música nas Américas, seja o samba de
raiz e o choro carioca de fins do XIX e inícios do XX, seja o jazz de New Orleans. Ela torna-se
assim um lugar de memória das “coisas nossas”, porque faz um mergulho no passado musical do Brasil, principalmente do samba de raiz e do choro cariocas, em um momento (década
de 1950) em que a indústria fonográfica e o mundo dos espetáculos haviam descartado tais
produções musicais. A RMP recupera a memória do melhor do nosso cancioneiro de 1870
até os anos 1930, como Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Cartola, Noel Rosa, Carmem
Miranda, Ismael Silva. A RMP, ao inserir o jazz de New Orleans em paralelo com o melhor
do cancioneiro brasileiro, abre uma janela para dialogar com a música das Américas, compreendendo assim a grande diáspora de negros pelo Atlântico e sua produção musical nas
Américas tanto do Norte quanto Latina.
Palavras-chave: samba, choro, música
América Latina: modernidade, identidade
e independência cultural
Maria Lúcia Bastos Kern
Profa. Titular do Depto. de História da PUCRS
[email protected]
A modernidade na Argentina e no Uruguai é pensada pelos artistas Xul Solar e Joaquín TorresGarcía, nos anos de 1920 e 30, como projeto cultural dirigido à independência da América Latina
em relação aos centros europeus. Eles após contato com as vanguardas europeias, programam
a nova arte para América, sua identidade e projeção internacional, num momento de crise no
velho continente. Para tal, Xul cria o neocriollismo, língua em que mescla português e espanhol, e propicia a comunicação entre as nações; Torres-García inverte o mapa da América do Sul,
apresentando-o como Norte, numa dupla acepção, e projeta a arte construtivista e total para
o continente, integrada à vida cotidiana, como nas sociedades indígenas. As pinturas de ambos evidenciam signos pré-colombianos e da modernidade. A comunicação analisa as poéticas
e representações de identidade cultural produzidas pelos artistas que buscam a projeção da
América Latina no cenário internacional, como guia das artes.
Palavras-chave: América Latina, Modernidade, Identidade Cultural.
O cruel “rei da vela”(1933) em sua primeira e mais
cruel encenação pelo “Oficina Brasil” (1967).
Maria Luiza Martini (UFRGS)
[email protected]
O teatro da Crueldade é uma poética de espetáculo engendrada por Artaud (1938) que busca, através de violentas imagens físicas, atingir a sensibilidade do espectador, provocar uma
desestruturação interna, alguma revelação do ser humano para si mesmo, além da palavra. A
modernidade dos anos 60 se encontra com a dos anos 30. José Celso Martinez Corrêa dirige
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o Rei da Vela envolvendo a violência do texto de Oswald de Andrade na poética da crueldade usando uma estratégia de “teatro dentro do teatro” (revista, ópera, auditório da grande
rádio) inserindo diferentes níveis de representação (o inconsciente de todos partícipes do
espetáculo preso numa jaula, atuando como um coro, um “corpo sem alma”, sem lógica, puro
instinto). Os personagens de Oswald se sucedem (usurários e clientes espertos, operários
que entregam grevistas, Mr Jones, o americano, e seu cliente, “o rei da vela” sempre em busca
de um jeito de lográ-lo) caracterizados como palhaços, à beira do proscênio, provocam o
público, jogando com a sensação, do sujeito que ri mas só entende a piada depois. Sempre o
logro, a malandragem, tão cara a Oswald, em seu uso da liberdade modernista na caracterização do “brasileiro”: o anti-herói.
Da censura política a Censura moral:
A Música Popular Brasileira em tempos
de ditadura 1964-1985
Rafael Vasconcelos Cerqueira Oliveira (UNIJORGE)
[email protected]
O presente trabalho tem como foco estabelecer a relação existente entre a MPB e o contexto
político-social brasileiro a partir da instauração do regime militar no ano de 1964, compreendendo nesse sentido os artistas que atuavam politicamente e eram perseguidos pela censura
através do DCDP pelo seu engajamento na disputa social, bem como também pela censura
moral destinada aos artistas ditos cafonas, que eram tão perseguidos quantos os já consagrados compositores da música de protesto a exemplo de Chico Buarque. Para tanto utilizamos
os processos existentes no DCDP com as canções que eram enviadas e submetidas à censura
tanto política, quanto moral, observando a argumentação dos censores para o veto. Assim, esse
trabalho tem como um dos seus objetivos demonstrar que tanto os compositores ditos de protesto, quanto os cafonas, ou bregas como foram classificados já nos anos 80 foram perseguidos
e atuavam politicamente no contexto social dos anos 60 a 80, desmistificando assim a ideia
difundida que os compositores bregas eram alienados.
A América de Erico Verissimo: a influência
da literatura estadunidense na obra do
escritor gaúcho.
Renata Costa Reis Meirelles
[email protected]
Este trabalho pretende explorar as relações do escritor Erico Verissimo (1905-1975) com os Estados Unidos. A partir dos anos 1940, é possível notar um crescente estreitamento dos vínculos
político-culturais do escritor com aquele país, na medida em que, em 1938, se torna vice-presidente do Instituto Cultural Brasileiro Norte-Americano, é convidado pelo a lecionar literatura
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brasileira na Universidade de Berkeley e, anos depois, em 1953, assume a direção do Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana, instituição ligada à Organização
dos Estados Americanos (OEA). O trabalho tenciona compreender de que forma a cultura
estadunidense pode ter influenciado sua criação literária, contribuindo para a conformação
de uma escrita que, ao buscar incorporar traços da literatura estadunidense e também inglesa,
trouxe importantes renovações estéticas e elementos modernizadores para a literatura brasileira dos anos 1950.
Duas Américas Latinas para o Brasil:
Oliveira Lima na Venezuela e na Argentina
Ricardo Souza de Carvalho
Professor de Literatura Brasileira, USP
[email protected]
O diplomata e historiador Oliveira Lima (1867-1928), em meio a estadas na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, demorou-se apenas duas vezes na América Latina, entre 1905 e 1906,
na Venezuela, e entre 1918 e 1919, na Argentina. Como em outras ocasiões, tais vivências no
exterior resultaram em textos na imprensa brasileira e livros publicados com o objetivo não
apenas de dar a conhecer diversos aspectos desses países, mas principalmente de relacionálos a discussões políticas e sociais do Brasil daquele momento, que buscava um caminho para
sua modernização. As estadas latino-americanas possibilitaram com que Oliveira Lima se deparasse com uma situação próxima a do Brasil, a do esforço de países egressos da colonização
ibérica para abandonarem o atraso e se aproximarem da civilização europeia. Nesse sentido,
destaca-se o diálogo estabelecido por Oliveira Lima com o argentino José Ingenieros e o venezuelano Rufino Blanco Fombona.
Palavras-chave: Oliveira Lima – América Latina – intelectuais
América no invoco tu nombre em Vano:
a construção da identidade latino-americana
entre intelectuais e artistas no governo Salvador
Allende (Chile, 1971-73)
Silvia Karina Nicacio Cáceres
Mestre em educação pela PUC-Rio
[email protected]
O governo de Salvador Allende foi um espaço fértil para novas apresentações da tradição que
conjuga nacionalismo à revolução social, tradição cujas raízes se localizam no processo de
emancipação nacional dos países latino-americanos no século XIX.
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A construção do socialismo via um processo de “desvelamento” da identidade latino-americana supostamente soterrada pela exploração secular da região e pela forma supostamente
subordinada com que é desenvolvida a modernidade na América Latina, torna-se tema central nos debates intelectuais durante o governo UP.
Para ser moderno, parecia necessário fazer um salto ao passado, onde as culturas dos povos
autóctones e a formação da população (mestiça) da América Latina deveriam ser realçadas
com o fim de dar um salto a um futuro de identidade reencontrada. Isso garantiria a América
Latina sua emancipação cultural em relação às regiões definidoras das direções da modernidade ocidental até então: Europa e EUA.
Tal qual sugere o verso de Neruda que nomeia esta apresentação, a identidade latino-americana e sua busca ganha cores de objeto sagrado. Os intelectuais e artistas chilenos agrupados no Instituto de Arte Latino Americano, centro de nossa apresentação, acompanharam e
ajudaram a definir essa tendência, bem como seus possíveis desenlaces.
Paulo Prado: o “fautor” da Semana de
Arte Moderna
Thaís Chang Waldman
Mestre em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo
[email protected]
Reconhecido como personagem central pelo grupo de intelectuais e artistas ligados à Semana de Arte Moderna de 1922, Paulo Prado (1869-1943) é muitas vezes deixado de lado pelos
estudiosos. Além de ser um dos maiores exportadores e produtores de café da época, Paulo
Prado é autor de dois livros sobre a história de São Paulo e a formação do povo brasileiro Paulística (1925) e Retrato do Brasil (1928). Também publicou editoriais, artigos e resenhas
em importantes periódicos, (re)editou documentos inéditos sobre o período colonial, participou da fundação e do controle de revistas modernistas, e se fez presente como um dos
principais organizadores e financiadores da Semana de 1922, entre outras coisas. Se por um
lado ele promove a Semana de Arte Moderna, ele já tinha 53 anos na época. Além disso, é
um elo fundamental entre os modernistas e um grupo de intelectuais que compõem uma
geração anterior a sua, que ele conhece na Europa por intermédio de seu tio, o jornalista e
monarquista Eduardo Prado (1860-1901). Possui ainda um forte vínculo com o historiador
cearense Capistrano de Abreu (1853-1927), um marco da moderna historiografia brasileira.
Paulo Prado mostra-se assim como um importante mediador entre diferentes universos,
sendo justamente este o foco do presente trabalho.
Palavras-chave: Paulo Prado; Modernismo; Pensamento Social Brasileiro
O Tiradentes de Viriato Corrêa: o herói-mártir a
serviço de uma pedagogia da nacionalidade
Vanessa Matheus Cavalcante
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Mestranda em História, Política e Bens Culturais pelo CPDOC/FGV
[email protected]
O presente trabalho tem como objetivo apreender a contribuição de Viriato Corrêa para a
constituição da memória e história nacionais, entendendo as suas produções teatrais como
instrumento de difusão da história-pátria. Para tanto, utilizaremos como objeto de análise a
peça Tiradentes (1939), encenada em pleno Estado Novo, na qual importa apreender: 1) seu
engajamento no referido projeto de construção de uma memória nacional; 2) a forma como
se deu a construção deste personagem histórico como herói-mártir da história brasileira
naquele contexto. Para os intentos analíticos deste trabalho, estes aspectos se mostram extremamente relevantes, haja vista a importância da construção do herói e suas implicâncias
na coesão/mobilização em torno de uma identidade nacional, movimento estratégico observado, principalmente, em ditaduras como a que viveu o Brasil entre 1937-45.
Palavras-chave: Estado Novo; nacionalidade; Tiradentes
Tutaméia entre a originalidade e a repetição
Wanúbya do Nascimento Moraes Campelo (UFPA)
[email protected]
Com base nos conceitos da recepção crítica apresentados por Hans R. Jauss far-se-á uma
análise da recepção do último texto publicado em vida de Guimarães Rosa: Tutaméia: Terceiras Estórias. As teses de 1967 de Jauss serão o ponto de partida para reconstrução e investigação do horizonte de expectativas da obra de Tutaméia.Esta obra de João Guimarães Rosa,
é composta de quarenta contos e quatro prefácios situados em pontos diferentes do livro,
pode ser vista como um conjunto de quatro blocos de contos, iniciado cada um com um dos
quatro prefácios mencionados, ali postos como a orientar a leitura. Far-se-á uma comparação do horizonte de expectativas das críticas a respeito do livro, tentando fazer um percurso
histórico em relação às categorias de análise utilizadas em diferentes momentos e suas divergências valorativas em relação à referida obra, no intuito de indagar o lugar de Tutaméia
nas obras do autor, se é o da originalidade ou de mera repetição de suas fórmulas de sucesso
presente em seus outros textos.
Palavras - chave: recepção crítica, Guimarães Rosa, Tutaméia.
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ST 6 Práticas Sociais, Narrativas Visuais e Sociabilidades
As práticas culturais e usos do passado
André Jacques Martins Monteiro
Mestrando em Memória Social - UNIRIO.
A intenção deste ensaio é abordar de forma panorâmica dois aspectos relacionados dos processos de significação e usos do passado. O primeiro refere-se à relevância do período de
transição do século XIX para o XX na formação de memórias relativas aos setores classificados como populares das sociedades ocidentais. O segundo destaca de forma preliminar os
sentidos atribuídos às memórias vinculadas às práticas culturais de comunidades em situação de exclusão social e que reportam ao período acima citado, observando uma tendência
de convergência de perspectivas da produção acadêmica, das políticas culturais, da indústria
cultural e da mídia. Palavras-chave: práticas culturais; modernidade; reconhecimento.
As alegorias femininas da República na imprensa
ilustrada: os caricaturistas do Rio de Janeiro e o
ideário político republicano no século XIX.
Aristeu Machado Lopes
Universidade Federal de Pelotas
A imprensa ilustrada alcançou notoriedade no Brasil do século XIX. A cidade do Rio de
Janeiro concentrou um número significativo de periódicos ilustrados. Entre eles, Semana Illustrada de Henrique Fleiuss, O Mosquito e Revista Illustrada de Angelo Agostini. Assuntos
variados foram noticiados e comentados em suas páginas de ilustrações. Entre eles, a política
do tempo foi abordada com humor e, em certos momentos, com crítica e seriedade. Os caricaturistas não deixavam que certos temas políticos passassem despercebidos e emitiam sua
opinião nos desenhos. A propaganda republicana iniciada com a fundação do Partido no
Rio de Janeiro em 1870 logo se tornou um dos motes passíveis das críticas e comentários dos
periódicos. Na elaboração das ilustrações usavam os elementos que compõem o conjunto da
simbologia republicana. Analisar como esses símbolos e, sobretudo, a alegoria feminina da
República surgiu nas páginas dos periódicos é o que se almeja nesta comunicação.
Palavras-chave: imprensa ilustrada, simbologia republicana, século XIX.
A busca da Boa Forma: um processo reflexivo
Bárbara Nascimento Duarte
Universidade Federal de Juiz de Fora
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Na modernidade o discurso científico suspeita do corpo e o coloca como simples suporte
da pessoa, um objeto à disposição sobre o qual se deve trabalhar a fim de alcançar seu aperfeiçoamento, a matéria-prima na qual se dilui e ao mesmo tempo se conquista a identidade
individual. Tendo como locus de análise os discursos das 12 edições do ano de 2009 das
leitoras situados na revista feminina brasileira Boa Forma, almeja-se compreender como se
dá a percepção do “corpo acessório” nas falas dessas mulheres; além dos dilemas gerados e
expressos através dessa mídia sobre à forma do indivíduo se integrar socialmente a partir da
modificação corporal reflexiva, nos termos de Crossley.
Vale ressaltar que se ainda resta um dualismo na Modernidade é aquele que situa o sujeito de
um lado e seu corpo de outro; este corpo é a possibilidade de salvação e o único modo de vida
do indivíduo moderno. Aprofundando em questões sobre a constituição da modernidade,
ver-se-á que ela viabilizou um projeto do corpo que consiste em moldá-lo para construir e/
ou reconstruir o self, a identidade individual e essencial na reflexividade moderna que se encontra ameaçada. Nessa perspectiva, o corpo não é o lugar da condenação, sim o da salvação
individual, de uma nova possibilidade de manifestação do eu, uma nova forma de se reportar
ao mundo, portanto, digno de todo investimento.
A preocupação com a aparência, a saúde e juventude, tratam, disfarçadamente, da redistribuição das coações da ética puritana de salvação individual através da auto-disciplina do
corpo, conjugado com o progresso da tecnociência. Perceber-se-á que mais do que o investimento no invólucro corporal com fim em si, a questão se situa na constante busca de se
definir a interioridade a partir da exterioridade; é a forma do sujeito contemporâneo não
morrer simbólicamente.
Palavras-chave: Corpo, Modernidade, Revista Boa Forma
Infâncias Urbanas Multidiscursivas
Bianca Breyer Cardoso
Mestranda PROPUR/UFRGS
Eber Pires Marzulo
Prof. Dr. PROPUR/UFRGS
Este trabalho toma as produções brasileiras “No meio da rua” e “Cidade dos Homens: Uólace
e João Victor” como objetos de estudo, a fim de discorrer sobre a infância na contemporaneidade. Ambos os discursos audiovisuais narram o encontro de dois garotos de diferentes
classes, porém através de enfoques distintos. Como recorte histórico, a modernidade líquida, metáfora de Bauman para o estágio presente da era moderna, caracterizado pelo esvaziamento do espaço público, bem como pelo aumento da segregação sócio-espacial. Fase em
que a infância experimenta novas dinâmicas espaço-temporais, diversas daquela consagrada
por Truffaut, que supera o período de homogeneização das narrativas – empenhadas em
delimitar a infância como faixa etária específica, e revela a multiplicidade de infâncias na
cidade contemporânea. A análise dos discursos audiovisuais, através do método de interpretação hermenêutico-dialógico, incorpora a produção audiovisual como discurso legítimo
e considera a formulação do real como resultado de disputas discursivas (Wittgenstein).
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Esta análise objetiva identificar os sujeitos discursivos acionados, o sentido construído pelos
discursos, e a associação destes à dimensão espacial, a fim de entrever a diversificação das
práticas sócio-espaciais da infância contemporânea.
Palavras-chave: infância, cidade contemporânea, discursos audiovisuais.
Abram as cortinas: o teatro na cidade de
Fortaleza no início do século XX.
Camila Imaculada Silveira
Universidade Estadual do Ceará
No começo do século XX, a cidade de Fortaleza encontrava-se sob disputas políticas do governo acciolino, onde ideias oriundas dos grandes centros europeus figuravam no pensamento
dos intelectuais e assim definindo valores, comportamentos, moda etc. Neste contexto o teatro, seja como espaço físico ou expressão artística, encontra o seu fausto. Tem-se a construção
do teatro oficial (Theatro José de Alencar), a formação de grupos dramáticos e uma literatura dramática cearense. O teatro é uma produção cultural. Como tal, ele exprime valores
de certa sociedade em um tempo específico. Os indivíduos (artistas, dramaturgos, público,
etc.) que fazem o teatro atribuem significados a este. Nessa Fortaleza, o teatro era sinônimo
de civilização, de moralização, de lazer e de disputas políticas. Conforme a isto, propormos
compreender como o teatro estava sendo praticado e pensado na cidade de Fortaleza nos
primeiros anos do século XX, ponderando sobre seus aspectos sociais e culturais. Para isto,
utilizamos como fontes os jornais, especificando o Jornal do Ceará e o Unitario, ambos oposicionistas ao governo acciolino e o jornal situacionista A República, como também narrativas
de memorialistas, Relatórios do Estado e peças encenadas nos palcos dos teatros da cidade
de Fortaleza, dando destaque o teatro de costumes. Este é caracterizado pela utilização do
humor para representar o cotidiano. Tendo em vista isso sugerimos como teóricos Raymond
Williams e Fernando Peixoto, onde buscamos o conceito de forma do teatro e função social,
respectivamente. Como por exemplo, o teatro de costumes é uma forma de teatro. Ele possui
elementos formais que o identificam. E na sociedade fortalezense do período em questão, o
teatro de costumes ganha significados que determinam a sua função social.
Palavras chaves: teatro, Fortaleza, cultura, teatro de costumes.
O poder das imagens e as imagens do poder: a
representação política de Leonel Brizola, nas fotografias da Legalidade (1961).
Daniela Gôrgen dos Reis( PUCRS)
O trabalho tem por objetivo proceder a análise das fotografias do episódio da Legalidade (produzidas pela Assessoria de Imprensa do Governo do Estado do Rio Grande do Sul) em consonância com o seu cruzamento com o contexto político e social do período, buscando inter-
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pretar os mecanismos simbólicos utilizados na representação política do governador Leonel
Brizola, em 1961. Através da demonstração da metodologia de análise, o trabalho busca identificar a construção ideológica das imagens consubstanciada nos objetos, poses e suas relações,
elementos que visavam demonstrar uma nova forma de representação do poder político: uma
imagem da administração estadual mais acessível e popular. Também visa refletir, a partir de
conceitos teóricos, acerca da articulação entre o campo político e elementos constitutivos da
cultura visual do período (um interesse da elite política pelos novos meios de comunicação,
advindo da década de 1950, formando uma tentativa de penetrar o cotidiano da população
através de métodos mais democráticos, que não somente o uso da escrita: a propaganda fortificava-se com o uso das imagens). Nesse sentido, a fotografia, é aqui analisada também como
uma linguagem e uma convenção, que é necessário conhecer e decifrar.
Palavras-chave: representação política, meios de comunicação, fotografia.
“Pelas ruas em que andei”: as brigadas muralistas em Olinda e Recife (1982-1986)
Elizabet Soares de Souza
Mestranda em História-UFRP
[email protected]
O presente trabalho visa analisar as imbricações entre arte e política por meio do movimento de brigadas muralistas de propaganda política, nas cidades de Olinda e Recife. O
recorte cronológico deste projeto configura-se entre os anos de 1982-1990, tendo como pano
de fundo a análise das propagandas políticas em três campanhas eleitorais para o Governo
do Estado de Pernambuco. Apetecemos, desse modo, entender o surgimento dos murais
como propaganda política, e problematizar a sua substituição pelos letreiros murais. Para
tanto, utilizaremos como fontes documentais as imagens fotográficas, atas da Assembléia
Legislativa do Estado de Pernambuco, periódicos, revistas e depoimentos de alguns dos artistas partícipes do movimento. Dessa forma, partiremos do reconhecimento das imagens
dos murais, para estabelecer uma relação entre política e cultura, e propor um entendimento, com o respaldo teórico da História Cultural dessas duas cidades e de seus murais como
um campo de significações e de representações.
Palavras-chave: Brigadas Muralistas, Propaganda Eleitoral, Recife e Olinda.
“A família de Fon-Fon”: sociabilidade e modernidade no Rio de Janeiro da Belle Époque
Fabiana Macena
A revista Fon-Fon, periódico semanal carioca, começou a circular em abril de 1907, e encarregava-se de informar aos leitores brasileiros tudo que era a última moda em Paris, além
de registrar a “vida mundana” da sociedade carioca em notas sociais e charges. Além desse
caráter de “revista ilustrada”, a Fon-Fon se tornou, ao longo da década de 1910, importante
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espaço de sociabilidade de intelectuais cariocas, polo de atração para aqueles que possuíam
simpatias boêmias e simbolistas. Mais do que isso, reunia intelectuais que percebiam a publicação enquanto um veículo ágil e moderno de comunicação, de difusão de idéias, de construção de novas formas de agir e de pensar. A proposta dessa comunicação é discutir como
os indivíduos ligados a revista Fon-Fon, durante os anos de 1907 a 1914, procuraram, com
suas críticas e propostas de modernos comportamentos e papéis sociais, estabelecer as regras e desenhos da nova configuração da cidade e de suas redes de sociabilidade.
Palavras-chave: sociedade carioca, comportamento, papel social.
A designalidade ou os acontecimentos discursivos do desenhar
José Carlos Freitas Lemos (UFRGS)
[email protected]
Neste trabalho, uma síntese do que produzi em minha tese de doutorado, proponho uma
análise das práticas históricas do “desenhar” e suas sistematizações. A esta particular abordagem histórica dessa prática, que se expressa por entre jogos de relações também históricas
e, portanto, instáveis, entre práticas econômicas, religiosas, políticas, institucionais, científicas, literárias e artísticas, chamo de “designalidade”. Um quadro descritivo das formas de
nominação e representação do “desenhar”, desde a Europa do século XIII até a sociedade globalizada da atualidade, constitui-se num instrumento capaz de explicar defasagens, deslocamentos, desníveis e inflexões das relações entre essas práticas. Trata-se, assim, de analisar
a emergência da “ordem discursiva do desenhar”; de analisar os acontecimentos discursivos
que materializaram diferentes identidades estético-visuais ao nominarem a prática de desenhar em variados vernáculos ocidentais (o italiano “disegnare”, o francês “dessiner” e o
inglês “design”). A suposição da designalidade é a de uma densidade histórica do “desenhar”
que se deve fazer aparecer (dar a ver) e descrever (dizer).
Palavras chave: designalidade, discurso, acontecimento.
As visibilidades como práticas não-discursivas:
na esteira das relações de poder
Leandro Mendanha (UnB)
Há indicações na obra de Michel Foucault, Gilles Deleuze e Félix Guattari, bem como na
obra de Roger Chartier e Paul Ricoeur - ambos interpelados por Louis Marrin - sobre as
propriedades da imagem. O que me interessa é estabelecer no diálogo com todos esses pensadores como as visibilidades como forma que toma o conteúdo (as formas que tomam as
relações dessas inúmeras práticas culturais, econômicas, institucionais e sociais que forma
o estrato não discursivo) na interação - por meio das relações de poder - com a forma que
toma a expressão (as práticas discursivas) constituem um interessante meio de abordar o
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material histórico que podemos ter em mãos. Trata-se então de uma interpelação teóricometodológica das consequências - nesses pensadores - do estudo das visibilidades para certa
compreensão histórica.
Palavras-chaves: práticas culturais, imagem, relações de poder
A identidade do olhar: os usos da fotografia na
construção das memórias sociais.
Lorena Best Urday (UNIRIO)
[email protected]
O presente artigo é um exercício no que se alinhavam as primeiras ideias do que se constituirá
no meu projeto de pesquisa e futura dissertação de mestrado. Assim, no presente trabalho
dou os apontamentos a questão foco da pesquisa: os usos da fotografia como instrumento,
ação social e expressão criativa e poética no processo de construção das memórias coletivas
de auto reconhecimento identitário das comunidades. Finalmente esta questão decanta no
espaço educativo (formal e não formal) como espaço criativo para as memórias coletivas e
suas imagens.
Palavras chave: fotografia popular, memória social, identidade do olhar
A Política Imperial em revista: humor e política
na Revista Ilustrada de Ângelo Agostini.
Maria da Conceição Francisca Pires
Universidade Federal de Viçosa
A proposta dessa exposição é analisar a produção humorística do caricaturista Ângelo Agostini (1843-1910) durante sua atividade no semanário “Revista Ilustrada” (1876- 1888). Essa
apresentação aposta na premissa de que através das representações humorísticas Agostini
trouxe á tona os problemas viscerais do regime imperial e a incapacidade das elites politicas
de resolvê-los, expandindo o acervo temático a ser discutido na micro-esfera pública que
estava sendo gerada com a expansão da imprensa.Com essa analise procuramos destacar a
produção de Agostini como um mecanismo de veiculação das idéias e opiniões dos grupos
contestadores que se emergiram a partir dos anos 1860 e que radicalizaram sua ação na passagem para os anos 1880. No ano do centenário de morte de um dos mais importantes intelectuais humoristas da imprensa ilustrada do século XIX, intenta-se fomentar a discussão
e a reflexão sobre a importância de sua produção humorística para a difusão de uma cultura
política republicana e liberal na sociedade fluminense do período.
Palavras-chave: produção humorística, imprensa.
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As Imagens e a Memória em Gilberto Ferrez
Maria Isabel Ribeiro Lenzi
Ibram/Doutoranda UFF
[email protected]
O trabalho se propõe a discutir a relação entre imagem e história, e o uso da iconografia
nos livros e nas pesquisas empreendidas por Gilberto Ferrez a respeito das cidades do Rio
de Janeiro, Salvador e Recife. O texto destaca a associação da obra de G. Ferrez a eventos
comemorativos e efemérides num esforço para a construção de uma determinada memória.
Palavras-chave: imagem, história e memória.
Representações humorísticas de uma
prática política
Matilde de Lima Brilhante
Universidade Estadual do Ceará
[email protected]
Como entender a produção chárgica como sistema de produção de sentido, inserida no campo
midiático (jornais impressos) durante a chamada Administração Popular de Fortaleza? Primeiro
faz-se necessário situar essa reflexão no âmbito dos fenômenos que implicam uma relação de
representação, balizada nas práticas cotidianas de comunicação visual que figuram um espaço em disputa. Em segundo lugar, asseveramos que o humor gráfico, na vertente charge, atua
na “realidade” como possibilidade de captá-la e representá-la. Assim, é nosso interesse pensar
analiticamente as representações expressas nas charges dos jornais cearenses O Povo e Diário
do Nordeste sobre a administração de Maria Luiza Fontenelle (1986-1988). Maria Luiza foi a
primeira mulher a assumir um cargo no executivo da política fortalezense, num período de
transição nacional, de um regime político autoritário para uma pretendida democracia. Palavras-chave: representação, charge, administração popular.
O discurso anti-indigesnista através das
charges no Jornal Folha de Boa Vista.
Paulo Sérgio Rodrigues da Silva
Especialista em História Regional/UFRR
[email protected]
Francisco Marcos Mendes Nogueira
Aluno do Curso de História/UFRR
[email protected]
Os discursos políticos na trajetória histórica de Roraima predominaram de forma contraria
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as questões indígenas, neles, está contigo a ideologia dos grupos de pressão que, através da
mídia massificou a imagem do índio preguiçoso, violento e que é um estorvo para o desenvolvimento do Estado. Neste sentido, o Jornal Folha de Boa Vista pertencente ao grupo político
do ex-governador de Roraima Getúlio Cruz, foram um dos meios que veicularam inúmeros
discursos contrários as questões indígenas, alguns de forma preconceituosa e debochada. A
Demarcação da Área indígena Raposa Serra do Sol, constituem-se num dos maiores acontecimento na história recente de Roraima, ganhando notoriedade nos meios de comunicações e, quase sempre traziam o discurso que apregoava a inviabilização da economia do
estado. Verificamos, portanto, que essas estratégias discursivas acabam sendo introjetados
pela população que, vêem como motivo central do atraso econômico do estado. Por conseguinte, as charges não são inócuas na linha editorial de um jornal. Elas trazem implícitas
ou explicitas aspectos ideológicos do grupo que esta ligada. Deste modo, buscaremos analisar as charges publicadas no Jornal no período de 2007 a 2010 e, assim, refletir com os Índios
são retratados em detrimento dos interesses da elite local.
Palavras-chave: charges, discurso, ideologia, Raposa Serra do Sol.
Histórias da guerra em um velho álbum de retratos: Claro Jansson e a fotografia de guerra no
Contestado (1912-1916)
Rogério Rosa Rodrigues (UESC)
Ocorrida entre 1912 e 1916 na fronteira do Paraná com Santa Catarina a Guerra do Contestado
foi amplamente documentada pelas forças repressoras. Entre as fontes construídas no campo de guerra destaca-se a fotografia. O acervo de imagens produzidas pelo fotógrafo Claro
Jansson (1877-1954) permitiu a corporação montar um álbum da guerra contendo oitenta
e sete fotografias que relatam a eficiência bélica e disciplinar do exército. Minha proposta
é interpretar a narrativa oficial construída no álbum e propor novas ordenações das imagens, logo, novas narrativas do conflito social. Para dar conta deste objetivo será usado com
metodologia tanto a interpretação daquilo que a imagem apresenta em suas estruturas discursivas quanto o que se encontra perdido nos pequenos detalhes registrados pela lente do
fotógrafo. Às imagens fotográficas serão acrescentadas fontes diversas como relatórios de
guerra, memórias e noticias de jornais da época, bem como as fotografias do acervo de Jansson que não foram incluídas no álbum oficial. Com esse procedimento buscar-se-á explicitar
a violência efetiva e simbólica cometida no teatro de guerra, bem como as estratégias e táticas dos rebeldes do Contestado.
Palavras-chave: guerra, memórias, narrativas.
Luz e sombra sobre o processo de construção social da fotografia e da memória.
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Sergio Luiz Pereira da Silva (UNIRIO)
A fotografia é indiscutivelmente uma forma de expressão no campo da arte visual, mas seguramente a sua forma de estruturação estética e o seu processo de interpretação imagético,
se inscrevem dentro de outros campos simbólicos além do artístico, o campo da memória
um deles. Há algo que tangencia a fotografia e a memória, ambas são um processo de edição,
nas quais a escolha do que vamos ver e memorizar, são definidos por um esquema de seleção
prévio (escolha), definido a partir de critérios conscientes e socialmente elegíveis de edição
(corte). No caso da fotografia, esses critérios são definidos a partir do que se quer mostrar
com bases na ação social do olhar, percebo, escolho, componho, edito e registro fotograficamente. Isso pode ser definido de forma elementar no processo convencional da fotografia. A composição estética e a hermenêutica visual compõem, dentro desse conjunto, o lugar da
representação de uma memória construída, ou se nos é possível afirmar, compõe parte do
campo social da memória.
Palavras-chave: memória, representação, fotografia.
As Representações da Várzea do Carmo
nos Cartões-Postais - décadas de 1940 e 1950.
Vanessa Costa Ribeiro
Mestranda em História Social - USP
[email protected]
A presente comunicação trata do sentido atribuído à região da Várzea do Carmo, área cortada pelo Rio Tamanduateí localizada entre a colina central da cidade de São Paulo e o bairro
do Brás, nas décadas de 1940 e 1950, por meio da análise de uma série de cartões postais fotográficos produzidos pelas editoras Fotolabor e Fotopostal Colombo.
A escolha desta documentação deve-se ao interesse em explorar o potencial dos documentos
visuais em sinalizar, de maneira específica e própria, processos diferenciados de apropriação social. No caso da série de cartões postais em análise, observam-se recorrências no que
tange ao recorte espacial e ao tratamento formal, consolidando uma visão estereotipada da
Várzea do Carmo, neste momento já transformada em Parque Dom Pedro II. Que imagem
urbana embasava essa paisagem da região e as quais expectativas respondiam são algumas
das questões que a análise procura responder.
Esta comunicação é parte de um projeto de mestrado, desenvolvido no departamento de
História da Universidade de São Paulo, no qual se estuda a construção de diferentes imagens sobre a Várzea do Carmo no período de 1860 a 1950 e de que maneira as intervenções
urbanísticas realizadas nesta região nos ajudam a compreender os planos e projetos desenvolvidos para a cidade.
Palavras-chave: Várzea do Carmo, São Paulo, Cultura Visual.
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ST 7 História e Ficção
História e ficção: Gaston Bachelard e o instante
poético
André Fabiano Voigt (UFU)
As considerações sobre o instante poético na obra do filósofo francês Gaston Bachelard podem ser uma importante aproximação entre o ofício do historiador e o do escritor, no momento que ambos envolvem o trabalho criativo com a palavra. Em pelo menos dois de seus
livros - A Intuição do Instante e A Dialética da Duração – o autor trata da relação entre a
escrita e a temporalidade, tornando possível realizar um diálogo entre a história e a ficção,
centrada no instante como principal elemento temporal para a criação. Bachelard realiza
um debate com Henri Bergson e Gaston Roupnel acerca da temporalidade, bem como faz
um diálogo com Lúcio Pinheiro dos Santos, acerca da ritmanálise como instrumento para
analisar as imagens poéticas utilizadas nos diversos autores de literatura, podendo ser empregada em um diálogo com a história.
Palavras-chave: temporalidade, escrita, história, ficção.
Eu sou como eu sou: Torquato Neto à luz de Michel Pêcheux
Edwar de Alencar Castelo Branco
Doutor em História- UFPI
Constitui lugar-comum, na história contemporânea do Brasil, a idéia de que, por obra exclusiva dos militares, o País mergulhou nas trevas a partir de 1964. Como resultado do “golpe”
- esta entidade ao mesmo tempo mal definida e exaustivamente apropriada - a sociedade
brasileira teria começado a viver, a partir daquele evento, os “anos de chumbo” de sua história.
Curiosamente, no extremo oposto do enunciado que configura os “anos de chumbo”, estariam os “anos dourados”, espécie de metáfora do Brasil juvenil e engajado. Esta formação
discursiva, por sua vez, acabaria por gerar um quadro dentro do qual só seria possível pensar
a história do período em termos de direita e esquerda. O presente trabalho, procurando
alçar-se para fora da moldura descrita acima, propõe discutir expressões artísticas dos anos
1960 e 1970, em sua dimensão micrológica, procurando mostrar a insuficiência de se pensar
o período apenas em termos da macropolítica. Como forma de testar uma nova teoria do
discurso em seus trabalhos, o autor analisará fragmentos da obra de Torquato Neto à luz das
formulações de Michel Pêcheux, particularmente sua proposta de Análise Automática do
Discurso.
Palavras-Chaves: História do Brasil; discurso; Torquato Neto.
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Singrando por debaixo da avenida: a emergência
da subjetividade underground na paisagem geral
da curtinália teresinense na década de 1970.
Ernani José Brandão Junior
[email protected]
Edwar de Alencar Castelo Branco
Universidade Federal do Piauí – UFPI
[email protected]
Neste Trabalho tive por objetivo analisar as práticas discursivas que produziram a emergência da subjetividade underground em Teresina - PI na década de 1970. Ao cartografar as
linhas de constituição desta subjetividade perceberam que elas estavam relacionadas às diversas manifestações artísticas criadas por um grupo de jovens de classe média envolvidos
com produção de filmes experimentais, de jornais alternativos e de suplementos dominicais
que circularam encartados nos jornais da grande imprensa. Entendo que neste momento a
arte emerge como um problema central na condição de existência desta juventude teresinense, que passou a utilizá-la como exercícios de libertação, como experimentação estética,
como elaboração de si e como ocupação tática dos espaços da cidade. Para tanto, evidenciei
as práticas discursivas que produziram a subjetividade underground em Teresina - PI a partir
das problemáticas discutidas pelos jovens no campo da arte, tais como: a antiarte; a criação
no campo da arte; a proposta da arte de vanguarda; a posição do artista de vanguarda; a comunicação no campo da arte e o público de arte. As principais fontes que utilizei neste trabalho foram os suplementos dominicais Estado Interessante (1972) e Boquitas Rouge (1973)
os quais circularam encartados no Jornal O Estado, Hora Fatal (1972), encarte do Jornal A
Hora e as duas edições do jornal alternativo Gramma (1972).
Palavras - chave: Subjetividade Underground, Arte e Juventude.
O “tópico do deslocamento” na cultura
brasileira: sua extensão e natureza arquetípica
Gabriel Santos da Silva
PUC - RJ
[email protected]
“Somos ainda uns desterrados em nossa terra”: com estas palavras Sérgio Buarque de Holanda manifestou a percepção de que algo no Brasil encontra-se deslocado, fora do lugar.
Tal percepção, recorrente nas páginas de intelectuais brasileiros, adquire características de
um tópico bem definido: que convenciono chamar de “tópico do deslocamento”. O presente
trabalho procura avaliar a extensão e natureza deste. Para tanto, recorro a quatro autores de
diferentes campos do saber e contextos históricos: o poeta Gonçalves de Magalhães, o cronista João do Rio, o ensaísta Sérgio Buarque de Holanda e o crítico Roberto Schwarz. Para além
de uma perspectiva homogeneizante que a recorrência do tópico ao longo de dois séculos
induz supor, este trabalho busca classificá-lo em uma tipologia que ressalte seus diferentes
matizes. Deste modo, a hipótese aqui proposta é de que o “tópico do deslocamento” articula-
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se arque-tipicamente em configurações narrativas ora trágicas, ora épicas.
Palavras-chave: deslocamento; épico; trágico.
A casa Felix Louza - 1950.
Espacializando memórias na construção
do habitat moderno em Goiânia.
Isabela Menegazzo Santos de Andrade (UFG)
[email protected]
Este projeto de pesquisa em História e Design tem como objeto o estudo narratológico (objeto cultural, hermenêutico e pulsional) de uma (01) residência (projeto, construção e seus
interiores, modos de habitar e de viver os espaços) identificada como sendo uma casa moderna - o artefato residência percebido diacronicamente, dentro de uma linhagem da história
da arquitetura moderna, localizada na cidade de Goiânia (Goiás), identificadas em pesquisa
exploratóriatendo como o objeto de estudo uma casa construída no ano de 1950 (Casa Felix
Louza) entendida aqui como uma casa representativa do período fundador do modernismo
arquitetônico desta capital na sincronicidade dos eventos que traçam a historia e a mitologia
do modernismo em Goiânia. Através das sensibilidades reveladas no espaço interior o estudo comenta a complexidade da casa vista como espaço inventado e inventivo, sua dimensão
doméstica na invenção no espaço moderno.
Palavras-chave: História das Sensibilidades, Design de interiores, casa subjetiva.
O filme no mar do tempo: ensaio de interpretação de Barravento 50 anos depois.
Jailson Pereira da Silva
UFPI/FAFICA
Algumas vezes, Glauber Rocha referiu-se à “Barravento” (1961) como “um ensaio cinematográfico, uma experiência de iniciante” (ROCHA, 2008). Pensando o filme no conjunto da obra
do cineasta baiano, a frase certamente faz algum sentido, sobretudo, graças ao aprofundamento que questões como “visão de mundo”, “estética da violência”, “revolução” e “história”
sofreram em alguns de seus filmes posteriores, a exemplo de Deus e o Diabo na Terra do Sol
(1964) Terra em Transe (1967). Quando visto com as lentes do tempo, no entanto, quando
encarado como uma interpretação atenta às dinâmicas histórico-culturais que marcavam a
sociedade brasileira entre o final da década de 1950, Barravento ganha outros ares, perdendo
parte dessa dimensão pretensamente iniciante. Tido como um dos marcos fundadores do
cinemanovismo, Barravento abre possibilidades múltiplas de interpretação. O trato com o
espaço no qual se dá enredo, por exemplo, é significativo das dificuldades de aprisionamento
do filme. Qual é o espaço geográfico do filme? Uma comunidade de pescadores. Pode ser da
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Bahia, do Rio de Janeiro, de Pernambuco... Uma geografia simbólica, que não é decifrada
pela busca incessante da realidade. Embora as legendas iniciais informem “ “no litoral da
Bahia vivem os negros pescadores de ‘xaréu’, cujos antepassados vieram escravos da África”,
não há o objetivo de cartografar o espaço, de deixá-lo colado a uma realidade facilmente
identificável. O filme aponta em diferentes direções. Se de um lado, por exemplo, tem um
tom marxista (ao colocar temática como alienação, exploração); por outro, tem um toque
etnográfico ao expor e documentar aspectos cotidianos das comunidades envolvidas no universo mítico do candomblé. Este trabalho busca discutir essas interpretações, entendendo
que o filme é um documento entrelaçado com o universo ideológico do cinema daqueles
anos, visto como um espaço de discussão da sociedade através do qual o intelectual pudesse
expor suas idéias, enfrentar o mundo e refletir sobre a história.
Palavras-chave: cinema-história, trabalho e concepção de mundo.
Uma história do futuro na narrativa
de Aldous Huxley
Joelma Tito da Silva
Doutoranda em História Social - UFCE
[email protected]
Esta comunicação analisa a construção de uma história do futuro em Brave new world (1932)
e Ape and essence (1949) do escritor britânico Aldous Huxley. Trata-se de um estudo histórico sobre a relação com o tempo em uma escrita ficcional que transforma o futuro em lugar
privilegiado da narrativa, no qual as ações presentes se desenrolam se realizam e se excedem.
Para Huxley o futuro aparece como a síntese de um pesadelo tramado no presente, o vir a
ser converte-se em caricatura radical do tempo vivido. Pesadelo que o angustia e, concomitantemente, parece expressar a direção para a qual caminha a história da humanidade. Assim, ambas as narrativas possibilitam uma análise sobre o regime de historicidade moderno,
cuja relação com o tempo pode ser caracterizada pelo medo e o desejo do futuro (HARTOG, 2003). Se as grandes utopias e projetos políticos do século XIX disputavam o sentido
da história, definindo as ações do presente a partir de diferentes horizontes de expectativa
(KOSELLEK, 2006), durante a primeira metade do século XX, o texto de Huxley oferecia
um panorama virtual do futuro, um mundo a posteriori resultante das feridas abertas pelos
nacionalismos, pelas guerras, pelo desenvolvimento técnico-cientifico e pelas práticas da
sociedade do lucro e do consumo.
Palavras-chave: Aldous Huxley, ficção, futuro
De fora do Paraíso: Cidade e jardinagem no filme
Metropolis
José Adilson Filho (FAFIBA/FABEJA)
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Conforme o gênesis, o Jardim do Éden foi o lugar mais belo e perfeito da criação divina. O
jardim/paraíso desapareceu, mas os homens nunca o esqueceram. A concepção do jardimmoderno difere bastante do jardim das delícias, uma vez que exclui diversas espécies de seres
vivos. Trata-se de um espaço que privilegia a unidade e uniformidade de comportamentos e
sentidos. No belíssimo e instigante filme Metropolis de Fritz Lang há um espaço chamado
“os jardins dos sonhos”, uma miniatura do Éden criado para o deleite exclusivo da elite da
cidade. Todavia, a existência de tal vida edênica prescindiu da expulsão e da marginalização dos trabalhadores, os quais apesar de fundamentais, eram vistos como incongruentes
aos princípios da jardinagem moderna. Metropolis, além de fazer uma crítica contundente
as desigualdades de classe produzidas pelo capitalismo, fornece bons insights e metáforas
para se ler as contradições e ambivalências da vida urbana na contemporaneidade, principalmente a partir de uma perspectiva que entenda a feliz (cidade) mediada pela produção
da infeliz (cidade).
Palavras-chave: vida urbana, marginalização, desigualdades.
“É por isto que Caruaru é a capital do forró”: a
música como construtora de identidades sobre
Caruaru - PE (1970 - 1990).
José Daniel da Silva (UFPE)
[email protected]
A cidade de Caruaru, interior de Pernambuco, é conhecida como “Capital do Forró” e “Cidade que realiza o Melhor e Maior São João do Mundo”. Tais slogans foram construídos entre
os anos 70 e 80, nos quais a sociedade caruaruense (população, políticos, empresários, etc.)
criou e solidificou uma festa popular no espaço urbano, a festa junina, transformando-a em
produto turístico. Diversos fatores contribuíram com esta construção, dentre eles a música:
o forró. Reduto de artistas forrozeiros, a cidade possuía três emissoras de rádio AM que os
divulgava. Eles, por sua vez, gravavam músicas sobre a cidade, fazendo com que esta mensagem associativa “Caruaru X Forró X São João” fosse lançada para vários estados do Nordeste
brasileiro, e até para outras regiões do Brasil e do exterior. A consolidação da festa junina
caruaruense foi seguida pela paulatina gravação de forrós em homenagem à cidade, sempre
narrada como “Capital do Forró”, contando, na atualidade, com mais de mil composições.
Palavras-chave: Caruaru; Forró; Capital do Forró; Festejos Juninos.
The Stonewall Celebration Concert, 1994: Homoerotismo e Política na Arte de Renato Russo.
Luciano Carneiro Alves (UFMT)
Doutorando em História Social pela USP
[email protected]
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Em 1994, completou-se 25 anos do levante no bar Stonewall em Nova York. Na noite de
28 de Junho de 1969, os homossexuais que freqüentavam o local reagiram às recorrentes
repressões policiais que sofriam e, com esta atitude, simbolizaram a data como marco do
“Orgulho Gay” na luta pela diversidade sexual. Ídolo jovem desde os anos 80, Renato Russo enfrentava desafios pessoais decorrentes da sua condição de soropositivo e dependente
químico. O vocalista e principal compositor da banda Legião Urbana vivenciava um momento de redefinição de valores e posturas políticas. E em homenagem à data, lançou o
álbum solo “The Stonewall Celebration Concert” com 21 canções em inglês de compositores
americanos de vários estilos. O objetivo neste trabalho é, a partir da análise deste álbum,
discutir práticas políticas de Renato Russo por meio de sua arte. O entendimento é que a
escolha do repertório, as opções de arranjo e interpretação das canções, a atuação na mídia
para a divulgação do álbum, fizeram parte de uma intenção de Renato Russo em promover
junto ao seu público e à sociedade em geral o debate sobre a diversidade sexual.
Palavras-chave: práticas políticas; atuação da mídia; diversidade sexual.
A exposição Tropicália: Uma revolução cultural
1967-1972, e a “invenção” da moda “tropicalista”
Maria Claudia Bonadio
Centro Universitário Senac
[email protected]
Em 1958, a Rhodia Têxtil inicia a produção de fios sintéticos no País, e entre 1960-1970, elabora
ações publicitárias calcadas na produção de editoriais de moda, anúncios para revistas, e desfiles, que conjugavam elementos da “cultura nacional” (música e artes plásticas), a fim de associar o produto à criação de uma “moda brasileira”. Uma das mais destacadas ações publicitárias
realizadas no período é a produção de estampas por artistas plásticos (Aldemir Martins, Volpi,
Manabu Mabe, somando mais de 70 artistas e 300 trabalhos) para roupas que eram apresentadas na publicidade, mas não eram comercializadas e visavam agregar qualidade à marca. Parte
dessa produção foi doada ao MASP em 1972. Nesta comunicação analiso as utilizações de tais
peças em exposições ocorridas entre 1999-2007, e especialmente em Tropicália: Uma revolução
cultural 1967-1972, observando como tais usos acabam por tornar esses objetos “elementos de
uma nova escrita” (SANTOS, 2002), permitindo a construção (ficcional) de novos sentidos aos
objetos, muitas vezes desconectados de suas significações iniciais.
Palavras-chave: Tropicália, moda, produção de sentidos.
História e literatura de cordel: J. Borges e as
maldições da modernidade.
Maria do Rosário da Silva (UFPE)
[email protected]
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Neste trabalho, tomei o folheto o Exemplo da Mulher que Vendeu o Cabelo e Visitou o Inferno escrito em 1967 por j. Borges, como um fragmento da chamada cultura popular, instrumento e fonte histórica, para conhecer as condições de produção deste poeta na década de
sessenta na região Agreste de Pernambuco. Para a consecução desse escrito associei entrevistas temáticas, pesquisa documental, leituras e o exercício de composição textual, buscando
interpretar as prescrições sociais, os exemplos e os acontecimentos escolhidos por J. Borges
para narrar os anos sessenta.
Apreendi a trama narrativa registrada no folheto não como indício de um real que se pode
desvendar, mas como um acontecimento histórico.
Entre outras referências conceituais, apropriei-me principalmente, da noção certeauriana
de cultura ordinária para refletir sobre o caráter problemático da dualidade cultura popular/
cultura erudita que envolve o debate sobre o status da literatura de cordel. Portanto, esse
trabalho está inscrito numa combinação que associa um lugar social, práticas científicas e
maneiras de narrar e escrever.
Palavras-chave: literatura de cordel, J. Borges, narrativa histórica.
Histórias e Ficção de um Inventário Cultural
Maria Lana Monteiro de Lacerda (UPE)
O presente trabalho parte das idéias de performance e desconstrução de paisagens e sujeitos existentes na obra “Inventário de um Feudalismo Cultural Nordestino ou Uma Fricção
Histórico Existencial”, de Jomard Muniz de Brito. Produzida em super-8, em parceria com o
grupo teatral “Vivencial Diversiones” no ano de 1978, tal obra, um ano depois, foi publicada
em livro. Entre o inventário das diferenças, debates e conflitos, bem como, os interesses e
tradições partilhadas, observaremos algumas possibilidades de leituras da História cultural
brasileira articulando e negociando imagens em ambas as narrativas da obra.
Palavras-chave: cultura brasileira, narrativas, ficção histórica.
Filipa Raposa e Bento Teixeira: representações
de gênero em Os Rios Turvos de Luzilá Gonçalves
Ferreira
Maria Suely de oliveira Lopes
O presente trabalho consiste fazer um estudo sobre as representações de gênero na obra Os
rios turvos (1993) de Luzilá Gonçalves Ferreira. Lembra-se que esta pesquisa apresenta apenas informações parciais por se tratar de um trabalho em andamento. Os resultados serão
publicados após conclusão da mesma. Neste estudo, focalizar-se-á as personagens Felipa
Raposa e Bento Teixeira respectivamente para se questionar sobre a subjetividade da mulher
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em relação ao outro - sujeito representado por Bento Teixeira - considerado detentor do poder hegemônico na obra. A metodologia apresentada nesse estudo é de caráter bibliográfico
procurando esboçar uma visão da época passada e um possível olhar sob a perspectiva contemporânea, incluindo um perfil de mulher( Filipa Raposa) tão singular, que viveu, amou ,e
foi mal compreendida pelo seu esposo e pela sociedade patriarcal do século XVI.
Palavras-chave: ficção; representações de gênero; subjetividade feminina.
O narrador coletivo na Brincadeira: um diálogo
entre Bakhtin e Kundera
Maria Veralice Barroso
Doutoranda- UnB
Assim como Bakhtin procurou o “campo concreto da vida” como espaço de desenvolvimento
de seu pensamento teórico, no solo do texto estético-literário, o escritor tcheco Milan Kundera criou estratégias no sentido de manter vivo o diálogo do homem com o mundo a sua
volta. Ao contrário do que afirmaram as muitas leituras monológicas (Morson e Emerson,
2008) das quais foi vítima, a literatura adotada por Kundera não intenta fazer-se documento
factual de uma época, mas também não se evade do mundo. Enquanto consciência organizadora do diálogo, o romancista, não é indiferente, seu olhar é o olhar do sujeito que não
apenas observa, mas experiencia a História cotidianamente. (Bakhtin, 2008)
Assim, entendendo a literatura como uma dada forma “de ver e dizer a realidade” (Albuquerque Junior, 2009:41), o presente trabalho tem por objetivo buscar, no romance A brincadeira
pontos de aproximação entre a teoria bakhtiniana e a ficção de Milan Kundera no que se refere à relação homem/mundo. Para tanto, as análises estarão centradas naquele que considero o elemento principal a assegurar a condição dialógico-polifônica do primeiro romance
kunderiano: o narrador coletivo.
Palavras chave: literatura, dialogismo, mundo.
Assia Djebar: história e ficção
Norma Wimmer
UNESP – IBILCE - C.S.J. RIO PRETO
[email protected] / [email protected]
Em 1985, Assia Djebar, escritora argelina de língua francesa publica, na França, seu romance
L’Amour, la fantasia. Nesse texto que, na opinião de Rachid Minoum (2005) caminha entre a
história e a ficção, a autora propõe-se a rever a história da relação Argèlia-França representando-a, ao mesmo tempo, sob a perspectiva da história oficial, sob a ótica dos dominados e sob
a visão pessoal - entrecruzando-as. A conquista da Argélia ocorreu em 1830; a independência, em 1962. Ali, como acontecia em todas as suas colônias, o governo francês fundamentou
seu projeto colonizador na imposição da língua francesa; depois, conseqüentemente, na im-
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plantação da cultura e dos valores franceses. Em L’Amour, la fantasia Assia Djabar a personagem feminina que procura recontar a história de seu país e a sua própria confronta-se com a
dificuldade de sua relação com a língua francesa - a língua do outro - da qual ela acaba lançando mão, como de um butim de guerra. Constituem, portanto, objetivos do trabalho a ser
apresentado, tecer considerações acerca da relação da história oficial da conquista da Argélia
com a história não-oficial, bem como abordar o processo de criação romanesca realizada por
Assia Djebar na redação de L’Amour, la Fantasia.
Palavras-chave: história, ficção, Argélia.
Entre operações e desvios: Michel de Certeau,
Paul Ricoeur e a escrita da história
Rafael Pereira da silva
Este artigo é um exercício de aproximação entre dois pensadores, Michel de Certeau e Paul
Ricoeur. Para tanto, o texto será dividido em três partes. Num primeiro momento procuro
narrar a trajetória intelectual de Certeau, buscando indícios de experiências que possam
ter influenciado suas análises. Em seguida apresento seu livro a Escrita da História inserindo-o no debate historiográfico dos anos 1970. Por último analiso algumas ideias de Certeau
apreendidas por Ricoeur em A memória, a história, o esquecimento, demonstrando os diálogos existentes entre os autores.
Palavras-chave: trajetórias, operação, narrativa.
O engajamento teatral na Cia do Latão a presença de Bertolt Brecht no teatro brasileiro dos últimos anos
Rodrigo de Freitas Costa
Universidade Federal do triângulo Mineiro
Esta comunicação pretende discutir as questões sociais, políticas e culturais no momento
de formação da Cia do Latão, em 1997. Nesse contexto é preciso avaliar o peso dos trabalhos
teóricos de Bertolt Brecht, em especial os Diálogos de A Compra do Latão, no processo de
constituição do primeiro trabalho do grupo paulistano, além de pontuar as características da
formação intelectual de Sérgio de Carvalho, diretor da Cia. O debate acerca do engajamento
artístico, assim como as posições estéticas assumidas durante a formação Cia do Latão, constitui o norte da apresentação que se propõe.
Palavras-chave: teatro, Bertolt Brecht.
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Moça com brinco de pérola: filme,
ficção, História
Rosangela de Oliveira Dias
Universidade Severino Sombra-USS - Vassouras
“Na Delft, (Holanda) do século XVII, jovem de dezesseis anos trabalha para sustentar sua
família como empregada doméstica na casa de Johannes Vermeer, importante e conceituado
pintor”. Tal trama, desenvolvida em romance e filme homônimos e foi inspirada em obra
de Vermeer, Moça com brinco de pérola. O objetivo desta comunicação é estabelecer um
diálogo entre o filme, o romance e a pintura tendo como fio condutor deste diálogo a História
Cultural e a História da Arte, campos de conhecimento, pesquisa, análise e investigação da
chamada realidade social.
Palavras-chave: filme, ficção, História.
Metaficção historiográfica, mangá feminino, e
feminismo: um olhar sobre a Rosa de Versalhes
Valéria Fernandes da Silva
Doutora em História na UnB
[email protected]
No Ocidente os quadrinhos têm mantido um diálogo intenso com a História que é utilizada
como pano de fundo, recurso para a ação e fonte de inspiração. No Japão não é diferente. No
caso do quadrinho feminino, ou shoujo mangá, a Rosa de Versalhes, de Riyoko Ikeda, inovou
ao entrelaçar história e literatura para narrar os acontecimentos da vida de duas mulheres, a
rainha Maria Antonieta e Oscar François de Jarjayes, uma moça criada como homem e que
se torna chefe da guarda real, tendo como fundo os acontecimentos dramáticos que conduziram à Revolução Francesa. A série foi um marco cultural dentro da história dos quadrinhos
japoneses, influenciando obras posteriores, seja na construção ficcional da História, ou nas
discussões dos papéis de gênero. Em nosso artigo pretendemos discutir o caráter didático
quadrinho, que percebemos como um tipo de literatura, como veículo de transmissão da
História Ocidental para as adolescentes japonesas e discussão da inserção das mulheres no
mercado de trabalho e de questões sociais urgentes, como as demandas feministas.
Palavras-chave: metaficção, historiográfica, mangá, feminismo
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Cultura Popular e Sociabilidades – a tessitura
ST 8 Religiosidades,
sentimental delineando paisagens subjetivas e sociais
“...Era uma ‘imaginha’ pequena e tinha o ‘
altarzim’ dele bem do lado de Nossa Senhora”:
A Memória e as fontes orais na reconstrução
da troca de São Benedito por Nossa Senhora
de Lourdes em Ecruzilhada-Ba
Fabíola Pereira de Araújo
Mestranda - UESB
Ana Palmira Santos Bittencourt S. Casimiro
Pós-Doutora - UNICAMP
Esta pesquisa tem como objetivo analisar a Memória encruzilhadense acerca da troca de um
santo negro por uma santa branca, a partir de um estudo local que vem sendo realizado na
cidade de Encruzilhada - BA. São Benedito era considerado o padroeiro da então vila, desde
meados da década de 80 do século XIX. Porém, no momento da fundação da Paróquia da
cidade, em 1936, o santo franciscano foi substituído por Nossa Senhora de Lourdes. No presente trabalho as fontes orais estão sendo usadas como recurso para acessar uma memória,
que havia sido tragada pelas falas institucionais. A elite local, bem como a Igreja Católica,
através do silêncio trataram de suprimir, aos poucos, a presença do culto a ponto de alijálo completamente do discurso oficial, todavia, a memória do culto subsiste na “memória
subterrânea” da cidade, o que acabou por desembocar no mito de que, por um castigo, São
Benedito não permitiria que a cidade evoluísse. Uma análise preliminar leva a crer que o status de santo não conseguira isentá-lo da subalternidade tida como inerente ao negro.
Palavras-chave: fontes orais; memória; São Benedito.
Festas e festejos como formas de sociabilidade
e religiosidade nas comunidades rurais de
influência da UHE Serra do Fação
Anderson Aparecido Gonçalves de Oliveira - UFU/FACIP
[email protected]
A referente pesquisa pauta-se numa reflexão acerca de como as festividades, no universo
rural, das comunidades afetadas pela UHE Serra do Facão (Catalão, Campo Alegre de Goiás,
Cristalina, Ipameri, Davinópolis - no estado de Goiás e Paracatu, em Minas Gerais) são
importantes veículos de sociabilidades. A proposta que apresentamos aqui diz respeito à
compreensão dessa relação festiva tecida entre as comunidades locais, no que se refere à
manutenção dos vínculos sociais que tem na realização das tradicionais festas de roça em
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devoção aos santos protetores e outras formas de festividade como as pamonhadas, as cavalgadas, a demão, dentre muitas outras, a forma de integração social dos indivíduos que, no
universo rural funciona como importante canal de sociabilidade, de trocas de experiências e
ajudas coletivas em prol da devoção, da religiosidade e dos encontros que o festejar propicia
a essas comunidades e das relações entre vizinhos, cujo significado é bastante representativo
para essas comunidades rurais. Levando em consideração essa realidade local, buscamos
ainda perceber como as realizações dessas práticas alimentam o viver e a religiosidade das
muitas famílias que tem na realização do devotamento e da festa, das partilhas coletivas a
manutenção dos seus vínculos sociais e de pertença com o lugar de vivência.
Palavras-chave: universo rural; religiosidade; práticas religiosas.
Cinema e tradição oral: o popular na cinematografia brasileira
Ângela Aparecida Teles ( UFU/FACIP)
O presente trabalho interpreta a oralidade da cultura popular presente na cinematografia
nacional, especialmente nas obras de Glauber Rocha e Ozualdo Candeias, como elemento
constitutivo de um pensamento em imagens que propunha o enfrentamento dos dilemas
da sociedade brasileira na segunda metade do século XX por meio do deslocamento e da
politização do olhar. Os filmes de Glauber Rocha, Barravento 1961 e O Dragão da Maldade
Contra o Santo Guerreiro 1969, e os filmes de Ozualdo Candeias, Zézero 1974 e O Candinho
1976 são criações que mesclam tradição oral e elaborada linguagem cinematográfica, e nos
permitem acompanhar os cruzamentos, as tensões e as múltiplas temporalidades coexistentes no processo de modernização brasileira na segunda metade do século XX.
Palavras-chave: Cinema brasileiro, tradição oral, hibridismo.
Festejando e rezando nos caminhos
do São Marcos
Cairo Mohamad Ibrahim Katrib
FACIP-NEAB-UFU
No universo rural das comunidades às margens do rio São Marcos, no sudeste goiano, afetados pela construção da Usina Hidrelétrica Serra do Facão, o festejar e o rezar passam por uma
reorganização espacial intensa, à medida que muitas comunidades rurais foram inundadas
pelas águas da represa. Mesmo assim, devotos e comunidades rurais reelaboraram e reconstruíram as formas de compartilhar fé e festa no mundo rural. São através das festas de roça
que homens e mulheres agradecem e pedem proteção, rogando por dias melhores e buscam
forças para superar as perdas e (in) certezas.
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Palavras-chave: comunidades rurais; fé; rio São Marcos
Os filhos de Xangô: A memória e tradição do terreiro do Babalorixá Joaquim de Xangô.
Camila de Melo Santos (UFG)
Em meio aos debates sobre a pós-modernidade, em que se acredita que a sociedade vive
em meio a uma liquidez de sentimentos e relações. As tradições ainda são consideradas o
porto seguro para formação de identidades, ou seja, as detentoras da essência original. E no
candomblé não é diferente, está religião de origem africana que no Brasil tornou-se representação de nosso hibridismo cultural, em pleno sertão, especificamente na casa do Babalorixá Joaquim de Xangô torna-se representação de uma tradição familiar, religiosa e cultural.
Mantida através do rito ao orixá ancestral Xangô. Está comunicação e parte de uma pesquisa
ainda em andamento, tendo como resultado o documentário “Ayrábeji de Xangô”: Memórias
de Pai Joaquim.
Palavras-chaves: memória, tradição e identidades.
Outras histórias: memórias e narrativas
da irmandade da cruz - barba lha/ce
Cícera Patrícia Alcântara
Universidade Federal de Pernambuco
[email protected]
Esse trabalho tem como principal objetivo analisar as construções mnemônicas produzidas
pelas narrativas do grupo de penitentes Irmandade da Cruz, localizado no município de
Barbalha/CE. Para a efetivação dessa empreitada, utilizaremos um conjunto amplo de entrevistas realizadas com os Irmãos da Cruz, como também com parte dos seus interlocutores,
conectadas de forma diversa aos discursos escritos (oficiais/oficiosos) que se constroem/
construíram a respeito do universo penitencial vivenciado no Cariri cearense desde Século
XIX. Essas narrativas se constroem e se movimentam pelo “emaranhado” de experiências e
de experimentações diversificadas, que fazem emergir um universo amplo de negociações,
tensões, práticas e produções discursivas. Ao contarem suas histórias pessoais e coletivas,
os Irmãos da Cruz estão ao mesmo tempo tentando “conservar” lugares de memória e de
identificação religiosa, bem como cartografando espaços de luta e de auto-representação
política. As falas desses autoflagelantes nos permitem compreender a memória como um
campo de batalhas.
Uma festa barroca no século XXI
Cláudia Eliane Parreiras Marques Martinez
Universidade estadual de Londrina.
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Mais que uma forma plástica ou estilo pictórico, o barroco é entendido pela historiografia
atual como uma cultura e como toda cultura dotada de especificidades e uma maneira particular de ver e sentir o mundo. O objetivo desta comunicação é entender como a festa em
homenagem ao Senhor do Bonfim - realizada na cidade mineira de mesmo nome - carrega
traços, ritualísticas, hierarquias e performances barrocas que permaneceram no tempo e no
espaço. Há que se considerar que Bonfim com seus apenas oito mil habitantes “mantêm”
antigos rituais católicos, como a presença de irmandades e redes de solidariedades entre os
seus membros, que podem ser compreendidos tanto na relação que a população tem com a
antiga matriz (hoje Santuário do Senhor do Bonfim) e as imagens sacras setecentistas trazidas de Portugal, quanto nas procissões e festas celebradas na atualidade.
Palavras-chave: Imagens sacras; procissões; Senhor do Bonfim.
Uma Hierópolis no Planalto Central
Daniela Nunes de Araujo(UnB)
[email protected]
O mote prevalente da proposta que ora passamos a apresentar deriva de um olhar por nós já
há algum tempo direcionado aos movimentos religiosos contemporâneos, em especial aos
que se vêem informados por conteúdos assinaladamente milenaristas e messiânicos e que
passaram a se concretizar ao tempo em que consumava a transferência da nova capital do
país para o Planalto Central.
Um deles em particular, por sua historicidade e alcance messiânico-milenarista, tomou-nos a
atenção: a Fraternidade Eclética Espiritualista Universal (FEEU). No dia 04 de novembro de 1956,
66 famílias, contabilizando aproximadamente 300 pessoas, provenientes em sua maioria do Rio
de Janeiro atingiram o Planalto Central e se instalaram nos arredores da futura capital do país.
Essa nova espacialidade, por via de conseqüência, encaminhava a sua caracterização na medida
em que se definia a estruturação da cidade. Para tanto, o sagrado dava ânimo e orientava no mais
das vezes a organização do lugar. A paisagem cultural, em resumo, ganhava contornos e texturas
mais nítidos ao colocar harmonizados e em relação de contigüidade as construções templárias
e residenciais. Crenças, princípios e propósitos religiosos dotavam de sentidos o que não se resumia solo profano. Erguia-se, como quer Rosendahl, uma modelar hierópolis.
Palavras-chave: movimentos religiosos; planalto Central; sagrado.
A FOLIA NO ALTAR: as práticas cotidianas da
Festa de Nossa Senhora das Dores em Teresina
[Piauí] na segunda metade do século XX
Francisca Márcia Costa de Souza (UFPI)
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A Festa de Nossa Senhora das Dores remonta ao século XIX. No Piauí e em outras partes do
Brasil acontecem as mais variadas manifestações e expressões do sentimento religioso, da
devoção popular. Muitas festas em louvor a santos preservam determinados aspectos e se
transformam em outros: romarias, ex-votos, cânticos, espaços de sua realização, promessas, festas, missas, altares, santinhos, outros caminhantes. A festa de N. S. das Dores é parte
fundamental nas histórias de muitos caminhantes da cidade de Teresina. Em seus relatos,
é possível sentir e olhar através de suas práticas, símbolos, gestos e rituais variadas formas
de comunicação e (re) significações dos espaços da cidade de Teresina. A Festa de N. S. das
Dores, ao longo dos anos, adquiriu novas significações, sentidos e tensões possíveis no interior de uma nova trama da comunidade urbana na qual está inserida. A violência e a (re)
estruturação urbana de Teresina estimularam os habitantes da urbe a repensar suas tradicionais práticas nos interior da comunidade paroquial e, portanto, a Festa. Por outro lado, a comunidade mantem o contato com o sagrado, compartilha aspectos de um sistema simbólico
e ritual, além do aspecto social, pois esses mesmos caminhantes adentram o sistema social
da cidade, da igreja, da economia urbana, na organização da Festa. Assim, a Celebração à N.
S. das Dores é um lugar social, religioso múltiplo, rico, fundamental para se estudar aspectos
rituais, simbólicos do cotidiano, da religiosidade da cidade de Teresina.
Palavras-chave: Festa de N. S. das Dores; práticas cotidianas; Teresina
As representações dos benzedores e raizeiros
como parte das tradições locais. João Pinheiro1960-2010
Giselda Shirley Silva(FINOM)
O objeto de estudo são as representações dos benzedores e raizeiros acerca da sua prática em
João Pinheiro-MG entre 1960-2010. O objetivo é analisar como essas práticas foram sendo ressignificadas e quais as representações desses sujeitos em relação à utilização das rezas e ervas,
bem como o papel desempenhado na saúde local ao usar tais saberes aprendidos com os antepassados. Os estudos foram pautados em teóricos que partilham do solo da História cultural e
como empírico, fontes diversas, entre elas, documentos do Arquivo Municipal, narrativas orais,
conhecimento das plantas e ervas usadas com fins medicinais do acervo dos raizeiros. Busquei
perceber os sentidos atribuídos por eles a essa prática, questões relacionadas à memória, identidade e o papel social e cultural na história local, observando nos embates cotidianos a preservação/recriação desse saber fazer herdado e repassado através da oralidade.
Palavras-chave: narrativas orais; História Cultural; representação dos benzedeiros.
A presença da Umbanda no processo de reinven86
V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
ção do jongo de São José da Serra
Ione Maria do Carmo (UFRJ)
Com a presente comunicação pretendemos demonstrar os aspectos religiosos da Umbanda
no jongo de São José da Serra e sua importância no processo de construção da identidade
quilombola desse grupo, através da análise dos pontos – melodias cantadas nas rodas de
jongo – e dos rituais presentes na prática dessa expressão cultural. Praticado inicialmente
pelos escravos de origem bantu que trabalhavam nas fazendas de café do Vale do Paraíba, o
jongo faz parte da memória de várias comunidades negras do Sudeste brasileiro. Os diferentes processos de ressignificação dessa tradição nas comunidades jongueiras, acarretaram
na introdução de novos elementos e na singularidade do jongo em cada território. Trata-se,
portanto de analisar a Umbanda enquanto elemento significativo na reinvenção do jongo a
partir da década de 1970 na comunidade quilombola São José da Serra, localizada no município de Valença, estado do Rio de Janeiro.
Palavras-chave: umbanda, jongo, reinvenção
Histórias e memórias de professoras: práticas,
representações e subjetividades
Jaqueline A. Martins Zarbato Schmitt( USJ-UNISUL)
Este trabalho visa apresentar as discussões e reflexões sobre as memórias de professoras no
Ensino Fundamental do município de São José. A pesquisa foi realizado de 2008 à 2010, com
entrevistas direcionadas e, com coleta de materiais didáticos, diários, cadernos pessoais das
referidas informantes. A pretensão de historicizar as experiências de professoras, relacionando o fazer profissional e as vivências pessoais, aponta para uma concepção de formação
de identidade e saberes docentes.
Logo, interpretar o processo de formação, suas implicações e tensões, promove a articulação
entre a produção de subjetividades, os valores simbólicos impressos na profissão docente. E,
permite aprofundar as reflexões sobre o campo da memória e da História.
Palavras-chave: subjetividade, valores simbólicos, fazer profissional.
Vamos orar e festejar: uma analise sociocultural
das irmandades religiosas na Paraíba - século XIX
Jose Pereira de Sousa Junior (UFCG/UEPB)
[email protected]
Este trabalho é parte do terceiro capitulo da dissertação de mestrado sobre as Irmandades
religiosas na Paraíba, na qual buscamos perceber como eram construídos seus espaços de
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sociabilidades, assim como suas estratégias para se estruturarem, funcionarem e realizarem
suas praticas devocionais e festivas. Utilizando como fonte documental seus compromissos, observamos que as comemorações do santo ou santa de devoção era a data máxima do
calendário das irmandades, quando irmãos e irmãs saíam ás ruas em procissão, os aparatos
utilizados davam um tom de pompa, grandiosidade, usando suas vestes de gala, opas (capas),
carregando bandeiras, andores, cruzes e insígnias enfim, seguidas de danças e batuques,
dando um colorido especial a este importante evento cultural, social e religioso das cidades,
vilas e freguesias na Paraíba.
Palavras-chave: irmandades, devoção, festa.
A morte amparada dos irmãos da paróquia de
nossa senhora do pilar de ouro preto (17801800)
Loyanne Dias Rocha (UnB)
O trabalho busca investigar quais foram as atitudes e representações diante do trespasse
expressas pelos “homens de cor” da Paróquia de N. S. do Pilar de Ouro Preto. A análise dos
rituais de morte no século XVIII, na Paróquia do Pilar, se dará mediante a leitura paleográfica
de testamentos produzidos entre 1780 e 1800. Além desta, adota-se como metodologia a análise quantitativa das referidas fontes para aspectos ligados ao perfil dos testadores e a manifestações religiosas ligadas ao momento do trespasse. Ao levantamento de dados quantitativos alia-se à abordagem qualitativa, por meio da qual pretendemos, nessa pesquisa, revelar
os desvios particulares, as atitudes excepcionais. Embora produções historiográficas que trataram da morte na sociedade européia sejam utilizadas, não se pretende transpor modelos e
perspectivas elaborados por historiadores das mentalidades acerca do trespasse. O objetivo
principal é encontrar atitudes e manifestações culturais próprias de uma sociedade híbrida
que, como todos os sujeitos históricos, se deparou com o inevitável fim da vida.
Palavras-chave: morte, “homens de cor”, hibridismo cultural
Vozes do Sertão: as performances culturais dos catadores de folia de reis em João Pinheiro (MG)
Maria Célia da Silva Gonçalves (TRANSE-UnB)
O presente artigo objetiva analisar uma das manifestações artísticas/culturais/religiosas
tradicionais do Brasil, as Folias de Reis na cidade de João Pinheiro, município localizado
no Noroeste do Estado de Minas Gerais, distante 330 quilômetros de Brasília (DF). Trata-se
de um estudo ancorado na etnografia da Folias de Reis do sertão pinheirense, utilizando da
História Oral temática como método de coleta dos dados. O referido estudo abrange além
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dos rituais e práticas que criam e re (criam) sua condição de existência, à discussão de como
as Folias de Reis, uma manifestação originária do mundo rural, vem sofrendo (re) significações para se adaptar ao mundo urbano. Parte-se do princípio de que os rituais explicam
valores das sociedades tradicionais brasileiras, oriundas do meio rural ao se encontram em
constantes interações com as cidades. As Folias de Reis guardam em João Pinheiro (MG) a
forma de um cortejo processional que dramatiza performances impregnadas da religiosidade cristã, assim como se utilizam do lúdico por meio das performances dos palhaços,
transmitida para as gerações futuras por meio da memória e da oralidade, características tão
comuns nos festejos populares brasileiros.
Palavras-chave: Folia de Reis; Performance; Memória.
Memórias e travessias no rio São Marcos: deslocamentos, cultura material e inquietações
Maria Clara Tomaz Machado
Inhis-UFU
A construção da Usina Hidrelétrica Serra do Facão no sudeste goiano atingiu cerca de 450
famílias em seis (6) municípios, desestruturando a vida de muitos moradores do mundo
rural. É verdade que as transformações ocorridas na produção da agropecuária e economia
regional já vinham acontecendo desde a década de 1960, com os projetos políticos do desenvolvimentismo, inclusive da ditadura militar. Todavia, a barragem trouxe especialmente para
os proprietários de uma “economia de subsistência” (in) certezas, medos e frustrações. Nesse
contexto, as práticas culturais populares, as sociabilidades, as festas, têm sofrido deslocamentos. Trata-se agora de uma nova inventividade de uma ruralização do urbano e de experiências sociais e culturais cujos (des) lugares mobilizam (re) criações populares.
Palavras-chave: mundo rural; rio São Marcos; práticas culturais.
Um olhar sobre a festa de Nossa Senhora
da Abadia de Andrequicé - MG
Rosangela Braga Soares Braga Indelécio
Faculdade Cidade de João Pinheiro
[email protected]
O presente trabalho de pesquisa lança olhares sobre a festa em louvor a Nossa Senhora da
Abadia, localizada na comunidade de Andrequicé, no município de Presidente Olegário,
Minas Gerais. Esta festa é aqui cenarizada no período balizado entre os anos de 1960 – 2010.
Delimita-se como objeto a religiosidade popular presente nesta manifestação cultural e
como objetivo, observar práticas religiosas dos festeiros e romeiros que fazem parte da trajetória histórica desta festa bem como as representações veiculadas por esses atores sociais. Buscou-se neste estudo analisar a questão da história, memória, cotidiano e narrativas.
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O embasamento teórico para essas reflexões foram firmadas em autores que partilham o
solo da História Cultural. O alicerce empírico foi composto de fontes variadas, entre elas:
entrevistas com narradores do lugar, festeiros da região que participem desta festa, fontes
iconográficas variadas entre elas fotos antigas da festa expostas na Igreja da Comunidade,
filmagens e fontes documentárias do acervo da Igreja de Andrequicé.
Palavras chaves: Memória, festa, religiosidade
Paisagens simbólicas e o ciclo natalino
da cidade de Goiânia
Rosiane Dias Mota (UFG)
A concepção de paisagem por muito tempo esteve voltada quase que exclusivamente para
seu aspecto físico e material, às coisas visíveis. Contudo, quando a paisagem é relacionada à
cultura se fazem presentes questões como a dinamicidade, a transmissão da herança cultural
e as maneiras como a cultura e a identidade se fazem presentes nas paisagens produzidas
pelas festas populares. Na cidade de Goiânia as paisagens festivas presentes no ciclo natalino se configuram, entre outros, em presépios, cânticos de corais, novenas, e folias de
reis. O presente resumo tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre as paisagens simbólicas produzidas pelas folias durante o ciclo natalino, na cidade de Goiânia. Os aspectos
teórico-metodológicos utilizados no desenvolvimento deste têm como base, entre outras,
às contribuições de Geertz (2001), o qual aborda questões referentes à cultura; Cosgrove
(1998) com um método de leitura das paisagens culturais; e Almeida (2005 e 2010) que discute identidades territoriais, territórios e paisagens simbólicas. Tem-se como procedimento
teórico metodológico a revisão bibliográfica e a pesquisa participante, que permitem discorrer sobre as paisagens e territórios simbólicos produzidos pelos foliões e visitantes durante
toda a folia.
Palavras-chave: Folia de Reis; paisagem simbólica; Goiânia
DO ALTAR AOS QUINTAIS RESIDENCIAIS: as
práticas alimentares piauienses na Quaresma e
na semana Santa no século XX.
Samara Mendes Araújo Silva
Universidade estadual do Piauí (UESPI)
[email protected]
Nossa cultura material e imaterial está em cozinhas e quintais, onde se preparam saborosos
e nutritivos alimentos, se extraí remédios de produtos naturais e onde histórias são (re)
contadas e (re) significadas cotidianamente preservando, assim, nossas tradições culturais.
A análise da história da alimentação no espaço sócio-histórico piauiense possibilita com-
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preender as significações das práticas culturais e religiosas sertanejas contemporâneas e suas
inter-relações destas com o passado agro-pastoril. Neste intento buscamos compreender
as práticas alimentares e a presença de certos alimentos no cardápio piauiense durante o
período da Quaresma e Semana Santa, demonstrando que tais práticas sertanejas são fortemente influenciadas pelo catolicismo popular, exemplificado pela preservação da Semana
Caçadeira nos dias que antecedem a Semana Santa, dispensar a carne vermelha e em substituição a esta introduzir na dieta familiar quibebe e maxixada durante os dias da Semana
Santa, ou ainda, “roubo das galinhas” na madrugada do Sábado de Aleluia para “quebrar o
jejum da sexta-feira santa”, entre outras práticas que se constituem em estratégias sociais
de manutenção e reprodução das configurações sociais vigentes, além de formas sociais de
preservação da memória familiar e da histórica local.
Palavras-chave: práticas alimentares; catolicismo popular, Piauí.
A LIBERDADE E OUTROS DIAS: o cotidiano de
populações negras em Teresina [1888-1920]
Talyta Marjorie Lira Sousa (UFPI)
Neste trabalho objetivo reconstruir as vivências cotidianas, com destaque para os espaços
lúdicos, de sociabilidade de trabalhadores libertos na sociedade teresinense após a abolição
da escravatura em 1888. A historiografia brasileira e em particular a piauiense pouco tem
explorado essas experiências e vivências dos libertos. A pesquisa apóia-se em revisão bibliográfica e documental. As fontes, em boa parte já transcrita, constituem-se de códigos de
posturas, jornais, relatórios de presidentes da província, livros de notas e ofícios, documentos do judiciário, como autos crimes e inventários.
Palavras-chave: historiografia, espaços lúdicos, abolição, cotidiano.
A festa de Caretagem: reafirmação da
identidade étnica
Vandeir José da Silva
Mestrando em História Cultural-UnB.
[email protected]
A Festa de Caretagem, uma homenagem dançante a São João Batista é realizada por remanescentes de quilombo no dia 23 para 24 de junho em São Domingos, localizada a três
quilômetros do centro da cidade de Paracatu Minas Gerais. Organizada por homens, mulheres e crianças “negros”, nascidos em São Domingos e que dançam na festa, essa tradição
tem sido, segundo os entrevistados, repassada de geração em geração. Essa manifestação
cultural começa oficialmente com a celebração da missa e logo após os moradores reúnem
para festejarem. Esse festejo começa por volta de 21:00 do dia 23 de junho. Dessa maneira
acontece uma peregrinação por São Domingos até 12:00 do dia 24, momento que acontece
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o encerramento. Para o festejo é preparado, máscaras, fogueiras, ornamentação das casas,
comidas e fantasias. Somente homens podem dançar segundo a tradição. Interpreto que a
Festa é uma das maneiras que os remanescentes expressam a identidade étnica. Dessa maneira na Festa de São João, interpreto acontecer três momentos onde dançantes, tocadores e
moradores reafirmam a identidade étnica, fatores que estão ligados à história e memória de
seus antepassados.
Palavras-chave: manifestação cultural; identidade étnica; história; memória.
A cultura sexista na escolha
pela especialização médica
Vera Lúcia Puga (UFU)
[email protected]
Não se escolhe a especialização médica apenas por afinidade, nem por se garantir um futuro
promissor ou por ser uma área mais “rentável”. O que presenciamos na pesquisa realizada
em Uberlândia e Uberaba (UFU e UFTM) foi uma escolha ditada culturalmente por professores, estudantes, familiares e a sociedade de forma geral, por uma escolha baseada em uma
seleção de gênero. Determinadas áreas estão mais diretamente ligadas a homens e outras
mais a mulheres. Assim, as especialidades que precisam teoricamente de utilização de força
física, ou que exijam plantões semanais privilegiam os homens, mais fortes e machos. As
mulheres são aconselhadas a buscarem especialidades que não dependam da força nem de
estar fora de casa ao anoitecer.
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como escritura desdobrada – visualidades, música e
ST 9 História
literatura
“Goiânia não é só a terra natal de
‘Leandros e Leonardos’”: análise sobre
a cena de rock em Goiânia
Aline Fernandes Carrijo (UFRJ)
Mestranda em História Social-UFRJ
Esta comunicação faz parte de uma pesquisa maior que procura analisar as lutas de representações travadas a partir da cena de rock em Goiânia. Percebe-se que há uma contestação
em relação às caracterizações presentes na história do Estado de Goiás, ligadas ao sertanejo
e ao rural, e evidenciadas pelo poder público local. Há, portanto, um claro conflito de interesses e de representações que se formam no campo cultural goiano. Essas disputas parecem
interferir na própria característica da cena de rock local, na medida em que seus integrantes precisam acionar estratégias para adquirirem espaço simbólico e físico na cidade. Desta
forma, a idéia é compreender a cena cultural em Goiânia na década de 1990, ao descrever a
relação entre a cena de rock na capital e o complexo campo cultural do qual ela faz parte. Ou
seja, procura-se analisar como, no interior de uma configuração histórica específica, funcionam as estratégias e ações de agentes culturais – no caso, os roqueiros de Goiânia - para
afirmação de uma nova representação e para ganhar espaço físico e simbólico na cidade. Para
esta comunicação, analisarei algumas músicas e discursos dos integrantes e bandas da cena
local que acionam tais estratégias.
Palavras-chave: rock, Goiânia, representações.
O Visual e o Sonoro: narrativas cruzadas
expressando uma retórica de poder e sedução
Dra. Ana Guiomar Rêgo Souza
EMAC/UFG
[email protected]
Esta comunicação resulta de investigação sobre a Procissão do Fogaréu da cidade de Goiás.
Busca-se por meio da construção e do cruzamento de narrativas visuais (série fotográfica)
e de narrativas sonoras (paisagem sonora) identificar representações de poder e de identidades expressadas na situação retórica da procissão. Da narrativa visual emerge a dimensão
do espetáculo e a estética dionisíaca produzida pelo contraste entre cores fortes, fogo, trevas,
e pelo estranhamento causado pelos farricocos. Da paisagem sonora emerge a percepção
do movimento, da tensão crescente, da heterogeneidade, enfim, das efervescências que definem a dimensão social da “festa”. Mas é a partir do cruzamento de ambos os discursos que
a retórica do poder e sedução se dá a ver em sua plenitude.
Palavras-chave: procissão, narrativas, fotografias.
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A modinha em Fortaleza: Tensões musicais
entre os modinheiros no final do século
XIX e início do XX.
Ana Luiza Rios Martins
Mestranda em História e Culturas/ UECE
[email protected]
Temos por objetivo compreender a relação estabelecida entre os modinheiros, (letristas e/
ou melodistas), suas modinhas, a cidade de Fortaleza e o tecido social envolvido nessa trama
sonora. Para tanto, pretendemos desvendar nessas músicas os contrastes sociais, os enfrentamentos cotidianos de mulheres e homens pobres, as representações dos espaços de lazer e
dos seus freqüentadores. Essas identificações ocorrem a partir das tensões de duas formas de
se fazer modinha na cidade de Fortaleza, uma ao piano, outra ao violão. As dimensões dessa
diversidade de modinhas poderão ser sentidas nas diferenças comportamentais, na multiplicidade e na fluidez das identidades, na divergência e ou convergência entre os discursos e as
práticas dos modinheiros. Das modinhas coletadas, serão discutidas as que foram produzidas entre os anos de 1888 a 1920, período selecionado pela intensificação dos confrontos de
idéias entre os modinheiros.
Palavras chave: música, cotidiano, insubmissão.
Além do olhar: um percurso da fotografia documental dentro de uma instalação vidéográfica
Anahy Mendonça Jorge (UFG)
[email protected]
O trabalho visa acompanhar o percurso prático do vídeo instalação Além do olhar que apreende
como material escultórico, documentos fotográficos de mulheres canadenses e brasileiras
coletadas em dois museus institucionais: Museu McCord e Museu Paulista. O período das
imagens apreendidas compreende os anos de 1860 a 1930. O estudo visualiza os processos
artísticos adotados sobre as imagens da história como veículos de uma poética sobre a sobrevivência das imagens femininas em dois espaços geográficos, o Canadá e o Brasil. Apreende
a prática artística em questão - coleta de imagens, tratamento e espacialização - como vetor
importante para a compreensão da obra. O viés da historia se materializa desde a coleta de
imagens nos museus indicados, fontes de um imaginário importante para a sociedade, até a
um encadeamento das operações adotadas ao longo do desenrolar temporal da obra. Assim,
um conjunto de cem mulheres desconhecidas, oriundas de lugares e tempos diferentes, se
mistura durante e dentro da obra ocasionando um processo de sobrevivência, de anamése.
Palavras chave: vídeo instalação; sobrevivência de mulheres; anamése.
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BANDA SINFÔNICA DE BRASÍLIA: trajetória e
práticas sócio-culturais (1961-85).
Marcos Wander Vieira Araújo
Mestrando do PPG/MUS da UNB
[email protected]
Beatriz Magalhães Castro
Universidade de Brasília
[email protected]
Segundo Salles (2004), a banda de música é a mais antiga e a menos estudada instituição
atuante na criação, prática e divulgação da música no Brasil. Neste sentido esta comunicação
tem como objetivo investigar a trajetória histórica, social e pedagógica da Banda Sinfônica de
Brasília (primeira banda civil sinfônica da cidade). Construída no âmbito do ensino público,
o seu desempenho artístico, cultural e social estende-se entre 1961 a 1985, culminando com
a obtenção do 1º Prêmio no II Concurso Nacional de Bandas promovido pela FUNARTE em
1978, fato inédito para uma instituição com tradição artística recente. A partir de extenso
corpo documental apoiado sobre narrativas de ex-membros, esta investigação propõe uma
análise histórico-interpretativa buscando compreender ainda a sua relevância na trajetória
pessoal dos seus ex-integrantes. Visa ainda contribuir para a preservação e compreensão
da memória musical da cidade, sublinhando o impacto social de ações na cultura e da sua
relevância para o desenvolvimento de ações futuras como elemento formativo de identidades fundamentadas em práticas da cultura.
Palavras-chave: Banda Sinfônica de Brasília; preservação e memória; práticas musicais na cultura.
A pintura e o tempo através da poética
& narrativa iconográfica de Julio Ghiorzi:
pintura gêmeas
Camila Rodrigues Viana Ferreira
Universidade Federal de Goiás.
[email protected]
O dialogo a ser estabelecido nesse trabalho será entre a obra de Ghiorzi: Pintura Gêmeas e
sua relação no e com o tempo/espaço. Para que tal desempenho seja possível será necessário
estabelecer um cruzamento entre Teoria da Arte, Memória e Psicanálise através da narrativa
histórica. A problemática da temporalidade na pintura revela-se na obra de arte sob a figura
do tempo anacrônico. Os estudos de Didi- Hubermam e Mario Perniola tratam da questão
da pintura e da arte em geral pelo viés da ultrapassagem da abordagem contextualista, a
obra de arte nesse sentido poderá acionar diversas temporalidades, fazendo-se assim uma
anacrônia ou criando seu próprio tempo. A obra em questão reconhecidamente de caráter
histórico, trata de investigar as relações entre séculos XVII, XIX e XX nas confluências entre
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Velázquez – Hals - Manet, Pollack – Warhol.
Palavras-chave: Teoria da Arte, memória, Psicanálise, narrativa histórica.
Uma leitura de Debret no Ensino da História
Edriane Madureira Daher
Mestranda - UnB
Penso que para compreender a narrativa do pintor francês Jean Baptiste Debret em relação à
escravidão, é importante conhecer um pouco das matrizes culturais e intelectuais dos séculos
XVIII e XIX que influenciaram o seu fazer artístico. Acredito ser importante também, compreender de que forma essas representações atuam ainda hoje, sobre o imaginário das pessoas.
Nesse sentido, este trabalho de pesquisa busca compreender como os professores de História
do Ensino Fundamental da Rede Pública do Recanto das Emas, Distrito Federal, interpretam
as imagens da escravidão em Debret. A partir da pesquisa qualitativa procuro identificar
quais as relações histórico-culturais eles estabelecem no tempo presente e como se dá o uso
da imagem artística no ensino da História.
Palavras- chave:: Representação, Imaginário e Ensino de História.
Eisenstein e seu tempo; o tempo em Eisenstein
Eloíza Gurgel Pires
Universidade de Brasília
[email protected]
Em um território fronteiriço entre o pensamento e o imaginário, de acordo com Walter Benjamin, o tempo se inscreve como intensidade e não como cronologia. A partir desse campo
de reflexão discutirei o cinema de Sergei M. Eisenstein (1898 – 1948), cineasta russo que se
tornou um marco na história do cinema, pela sua eloqüência ao formular aquilo que posteriormente ficou conhecido como “montagem intelectual” ou “montagem dialética”. Para tanto, tentarei estabelecer um diálogo entre os campos da Arte, da História e da Comunicação,
com o propósito de abordar o caráter narrativo da experiência temporal nos procedimentos
de montagem desse cineasta. Em Eisenstein a linguagem cinematográfica constrói o tempo,
assim como o tempo é elemento constitutivo da própria linguagem. A singularidade da obra
do cineasta russo está no entendimento do tempo a partir da linguagem, como ocorre na
relação estabelecida por Benjamin entre memória e linguagem. Sobre as concepções desse
autor nos diz Gagnebin: “Pensar o tempo significa, portanto, a obrigação de pensar na linguagem que o diz e que ‘nele’ se diz”. Pensar o cinema de Eisenstein significa pensar o seu
tempo e o tempo que nele se diz.
Palavras-chave: Cinema eisensteniano; narrativa; memória.
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Nos rastros da memória, ou a escritura como a
historicidade do discurso da tradição
Elzahra Mohamed Radwan Omar Osman (UnB)
[email protected]
Marcos de Jesus Oliveira (UnB)
Talvez a história tenha sido um dos campos de estudos que mais se aproximou daquilo que a
arte pretendeu no século XX: a revolução nos modos de compreender e de dizer o gênero humano e sua produção de pensamento, seja através do alargamento da concepção de humano
e de objetos de conhecimento, seja através do alargamento da concepção de arquivo, fonte,
memória. Historiar seria, portanto, assumir a historicidade do discurso da tradição. Não é
isso que nos propõe Jacques Derrida com suas noções de escritura, rastro e pulsão de arquivo? Não estaria o filósofo francês, com seu fio de Ariadne, nos instigando a trazer à presença
da leitura o traço da crítica que constrói a memória e, finalmente, a história, evitando, assim,
petrificar o significante na letra? Escritura e história se confundem, sendo elas a presença do
leitor tecendo a memória e a des-memória, o mal de arquivo, a impossibilidade de legar ao
indecidível o seu lugar de potência da linguagem.
Palavras-chave: escritura; mal-de-arquivo, Jacques Derrida.
O papel da obra literária dentro da História: uma
leitura do ensaio Literatura de Dois Gumes, de
Antônio Cândido
Fernanda Freire Coutinho
Mestrando em Literatura - UnB
[email protected]
Pensando em literatura de dois gumes, podemos perceber que a literatura no Brasil tanto
serviu para subjugar como, posteriormente, para levar a uma independência (ao menos social e de consciência de nação individual). A literatura é um produto da história sem deixar
de ser um produto de si mesmo. Não se pode analisar a literatura desconsiderando a história,
mas é preciso perceber sua lógica autônoma, aonde seu teor histórico vai muito além da
simples narração de fatos e se torna material próprio da literatura, se misturando em sua
forma, seu sentido, sua construção e mesmo em sua finalização estética. Assim sua função
não é a de apenas “contar a História”, ainda que muitas vezes seja possível traçá-la a partir do
que a obra literária descreve. A literatura explica e serve a si mesma, ainda que não deixe de
ter ligações com a vida social e o momento histórico nos quais se insere.
Palavras - chave: Literatura, História, função literária.
Vinte anos de história da abordagem triangular
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Fernanda Pereira da Cunha (UFG)
Na década de noventa do século XX, foi concebida e sistematizada no Brasil, pela professora
Dra. Ana Mae Barbosa, a Proposta Triangular, voltada o ensino das artes e hoje, não só difundida
por todo o país, como também, objeto de estudo de vários profissionais nessa área de conhecimento. A Proposta estabelece um diálogo “com o discurso global e o processo consciente da
diferença cultural entre as nações” (BARBOSA, 1998, p. 33), o qual interage com três abordagens
sistematizantes do ensino de artes. A saber, as “Escuelas al aire libre mexicanas; o critical Studies inglês e o Discipline Based Art Education - DBAE americano. Essa abordagem é histórica
no Brasil pois, há vinte anos, inúmeros professores brasileiros e até mesmos estrangeiros, se
dedicam a estudá-la, debatê-la e exercê-la em suas salas de aula. A partir dessa abordagem, a
problemática de minha investigação centra-se em verificar e registrar o trajeto da Proposta Triangular durante esse tempo espaço de seu exercício, em nosso país.
Palavras Chave: Arte educação, Proposta Triangular, cultura, história.
A historiografia da música popular brasileira na
obra radiofônica de Almirante
Giuliana Souza de Lima
Mestranda em História Social (FFLCH-USP)
[email protected]
Este trabalho trata da historiografia da música popular brasileira na primeira metade do
século XX através da obra de Almirante (Henrique Foreis Domingues, Rio de Janeiro, 19081980). Além de contribuir para a profissionalização programação radiofônica, Almirante
constitui uma “primeira geração de historiadores da música popular brasileira”. Seus programas abrangem do folclore à música urbana veiculada pelo rádio, e são baseados em pesquisas que formam um vasto arquivo sobre música popular, que depois integra o Museu da
Imagem e do Som (MIS-RJ), em 1965. Almirante, com outros nomes de sua geração, foi responsável pela seleção, organização e arquivamento de registros, estabelecendo hierarquias,
recortes, e assim, um discurso fundador em torno da história da música popular brasileira.
Esta “historiografia” é singular por se realizar num meio de comunicação em massa, e também inovadora, por compreender a importância da música popular para a formação das
identidades culturais e entendê-la como um objeto de estudo. Interessa, assim, abordar a
obra de Almirante no que tange sua contribuição à historiografia da música popular, através
de sua atuação no rádio, de 1938 a 1958.
Palavras-chave: historiografia, música popular, rádio
Leandro Joaquim e o mar: uma possibilidade de
compreensão da pintura de paisagem do Rio de
Janeiro no século XVIII.
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Helder Manuel da Silva de Oliveira
Doutorando – UNICAMP
[email protected]
O presente texto tem como objetivo abordar o diálogo artístico entre Brasil e Europa, tendo
como estudo o conjunto de seis telas atribuídas ao pintor Leandro Joaquim (1738? -1798?)
e que fizeram parte da decoração dos pavilhões do Passeio Público, construído entre 1779 e
1783 por iniciativa do Vice-Rei Luís de Vasconcelos. As obras representam vistas da cidade do
Rio de Janeiro e se qualificam como um importante registro paisagístico de motivos associados à temática do mar e estreitamente relacionados às novas concepções iluministas sobre
a representação da paisagem do século XVIII. Deste modo, o estudo possibilita uma análise
sobre o contexto histórico-artístico e quais modelos serviram de referência para o pintor que
abandonou a representação religiosa em prol de uma pintura de paisagem.
Palavras-chave: pintura de paisagem; arte século XVIII; arte século XVIII-Brasil.
“Decifra-me ou devoro-te”: a compreensão histórica e o processo de reconstrução do passado
Itamar Cardozo Lopes
Mestrando em História – UNESP/Assis
[email protected]
O objetivo desta comunicação é partilhar uma breve reflexão teórico-metodológica sobre as
especificidades envolvidas no trabalho do historiador. Partindo de uma experiência concreta
de pesquisa e de uma visão de história particularmente sensível à dimensão humana das vidas pretéritas, procura-se discutir algumas posturas historiográficas que seriam fundamentais em toda e qualquer tentativa de se pensar e de se escrever sobre o passado.
Palavras-chave: compreensão histórica; metodologia; subjetividades.
As vivências musicais soando nos jornais de São
Luís na segunda metade do século XIX.
João Costa Gouveia Neto
UEMA
[email protected]
Nos idos da segunda metade do século XIX, em São Luís, capital da província do Maranhão,
os grandes difusores de ideias e de informações eram os jornais e periódicos que circulavam
na capital maranhense. Durante o dito século, a imprensa aprimorou-se e ganhou espaço
entre os poucos letrados que o Império Brasileiro detinha naquele presente. E foram nas
páginas dos jornais que as vivências musicais soaram entre os letrados, estimulando, assim,
os(as) ludovicenses a comprarem partituras, instrumentos musicais e estudarem a lingua-
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gem musical para parecerem ainda mais civilizados, modernos e cultos. Nessas fontes eram
veiculados os espetáculos líricos, a venda de partituras, de instrumentos musicais, aulas
de música ministradas por professsores particulares, anúncios de afinadores de pianos e de
alguns luthiers. A moderna musicologia histórica já entende que música não é somente som
e que a palavra, o nome é tão importante para o entendimento das vivências musicais e da
inserção destas em uma sociedade quanto às notas musicais. Assim, este trabalho tem como
finalidade apresentar as vivências musicais que fizeram parte do ambiente cultural das elites
ludovicenses nos idos da segunda metade do século XIX.
Palavras-chave: vivências musicais, jornais, século XIX.
“Pessoal do Ceará”: a imprensa e os indícios das influências sócio-culturais sobre seu fazer musical
Jordianne Moreira Guedes
Mestranda em História da Universidade Estadual do Ceará.
[email protected]
A pesquisa que ora se apresenta investiga o fazer musical do “Pessoal do Ceará”, movimento
de artistas que transitaram entre a universidade, os festivais musicais, a boêmia e os meios de
comunicação, em Fortaleza, em meados da década de 1960 e em cidades como Rio de Janeiro
e São Paulo a partir do início da década de 1970. A discografia de Belchior, Ednardo, Fagner,
Rodger Rogério e Téti, de 1973 a 1981, junto a matérias da imprensa, a iconografia dos encartes
dos discos, entrevistas temáticas com os artistas citados são as fontes do trabalho. Entendendo
“fazer musical” como processo e resultado de múltiplas influências sócio-culturais que incidem
na obra musical, num determinado tempo histórico, essas múltiplas influências são observadas
a partir das relações sociais estabelecidas pelos sujeitos criadores da obra de arte e do acesso dos
mesmos aos bens culturais disponíveis em suas sociedades. Este artigo aborda os indícios dessas influências a partir do registro na Imprensa, do período destacado, seja através de matérias
sobre os artistas, seja através da fala dos mesmos quando entrevistados.
Palavras chaves: fazer musical, bens culturais, Imprensa
Imaginário e Processos Identitários - um
enfoque das rodas de choro nas primeiras
décadas de Brasília
Magda de Miranda Clímaco (UFG)
[email protected]
Esse trabalho tem como objeto uma pratica musical – a roda de choro - que interagiu com
as primeiras décadas da cidade de Brasília, observada na sua capacidade de evidenciar representações sociais (CHARTIER, 1990), ou seja, de ser abordada como um dos processos
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simbólicos que se articularam para constituir esse cenário sócio-historico e cultural. Essa
abordagem permitiu perceber peculiaridades inerentes a essa prática, que revelaram um lócus forjador de identidades relacionado a migrantes cariocas que vieram residir na nova capital. Através do cultivo de uma musica no estilo improvisatório, alegre e descontraída, que
acontecia num clima de afeto e descontração, esse grupo teve condições de evidenciar não
apenas o que era, mas também a maneira como gostaria de viver na cidade minuciosamente
planejada, racionalizada e funcional que emergia. Um processo implicado com uma reconstrução de identidades, portanto, com a memória, com o imaginário percebido nas suas três
dimensões - a real, a utópica e a ideológica (PESAVENTO, 1995; 2000; 2003).
Palavras-chave: Imaginário; Processos Identitários; Rodas de Choro.
Ferreira Gullar - poesia e artes visuais
Marcelo Mari
FAV/UFG
[email protected]
O contato do poeta Ferreira Gullar com as artes visuais se inicia de modo intuitivo através de
reproduções em revistas e dos quadros de pintores do Maranhão. Somente em 1950, quando
adquire uma cópia da tese de Mário Pedrosa através de Lucy Teixeira, amiga de ambos, é que
começa a estudar a arte de forma mais rigorosa. Ademais, com sua chegada ao Rio de Janeiro
pôde tomar parte dos grandes acontecimentos culturais que por aqui se instalavam - oportunidade sem precedentes, pois com a fundação dos museus de arte moderna e da Bienal de
São Paulo, pôde se ver, pela primeira vez em nosso País, a arte que se produzia no mundo e
em particular na Europa desde o começo do século XX. A confluência entre poesia e crítica de
arte, ou entre poesia e artes visuais, foi um fenômeno único na história da arte brasileira, no
qual Ferreira Gullar participou ativamente. Sendo assim, através do conjunto de características que constituem a elaboração poética de Ferreira Gullar, temos acesso à sua concepção
particular atribuída às artes em geral, durante o período de formação e desenvolvimento do
concretismo e do neoconcretismo.
Palavras-chave: Ferreira Gullar, poesia, arte neoconcreta.
Escritos Tanatológicos de um poeta:
comportamentos frente à morte no
início do século xx em Teresina
Nercinda Pessoa da Silva Brito
Universidade Federal do Piauí
[email protected]
O trabalho tem o objetivo de analisar atitudes da sociedade de Teresina, capital do Piauí, frente à morte, no início do século XX. Perscruta a morte na sua historicidade, expressando as
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apropriações culturais sobre esse fenômeno natural no curso do tempo. Nesse intuito, lança
sobre a escrita de Lucídio Freitas, poeta piauiense que confere a temática da morte lugar primordial no seu poetar, mais especificamente a sua obra Minha terra (1921), publicada poucos
dias antes de sua morte. Busca desse modo, uma interrelação entre o viver e o morrer desse
poeta, intermediando o mundo por ele elaborado através da escrita e o mundo social que o
cercava. Trata da apreensão das representações da morte na obra do poeta, compreendendoas como possibilidades do real, ou seja, a escrita do autor, em análise, representa possíveis
práticas de como a morte foi vivenciada pela sociedade teresinense.
Palavras-chaves: morte, Literatura, Lucídio Freitas.
Objetos históricos e atribuição de valor
no acervo do Museu Histórico Nacional
Rafael Zamorano Bezerra (UFRJ)
[email protected]
A comunicação almeja apresentar uma análise sobre atribuição de valor histórico em dois
objetos do acervo do Museu Histórico Nacional (MHN). Tratam-se dos seguintes objetos: 1)
retrato a óleo de d. Pedro II, rasgado a golpes de sabre na ocasião da proclamação da República; 2) tacape atribuído a Martin Afonso Tibiriçá, personagem da história da fundação de São
Paulo. Pretende-se levantar algumas questões sobre a atribuição de “valor histórico” a estes
objetos, bem como seus usos em exposições e restaurações. Essa comunicação é o primeiro
resultado de parte da pesquisa de doutoramento, que se dedica ao estudo da atribuição de
valor histórico em coleções de museus de história. Pretende-se analisar como se deu a legitimação e a atribuição do “valor histórico” em alguns objetos no momento de formação das
coleções do MHN. Pretende-se também analisar as mudanças de significados históricos e os
usos desses objetos em seus momentos fortes, desde sua musealização até o período mais recente, quando o discurso dos chamados “museus tradicionais” começou a ser questionado.
Palavras-chave: Museus de história, valor histórico, objeto histórico
Ordem, exotismo e raça – representações “
do outro” na província prussiana (1900 – 1940)
Wolfgang Döpcke (UnB)
[email protected]
Objetivo deste trabalho é identificar e interpretar as significações sociais e culturais atribuídas aos artefatos etnográficos, apresentados ao publico nas exposições de um museu regional heterogênico no norte da Alemanha na primeira metade do século XX. É senso comum
na museologia pensar que o artefato, esta raison d´être do museu, não fala por si, mas que o
próprio museu constrói e atribui significados aos objetos - e com isto, ao mundo - através da
sua prática museológica. Museus criam representações e atribuem valores e significados de
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acordo com a cultura e a historia, esquemas classificatórios e discursos subconscientes. Um
museu não apresenta simplesmente objetos na sua forma física, mas divulga idéias sobre o
mundo através destes objetos. Entretanto, o processo de construção de significado através
de linguagem e exposição é, na prática, como demonstra nossa pesquisa, bastante complexo
e multidimensional. Nele se cruzam topoi diversos (ordem, hierarquias, raça, ciência versus
mito, evolução, colonialismo, entre outros) e contextos múltiplos: o revisionismo colonial,
os debates epistemológicos na etnologia e, principalmente, na pré-história germânica, a entrada do pensamento nacionalista (völkisch) nas ciências sociais, a Gleichschaltung (“sincronização”) da vida pública e acadêmica pelo Nacional-socialismo, bem como trajetórias de
indivíduos com suas convicções, resistências e oportunismos. Mostra-se no trabalho, através
do analise de exposições etnográfica específicas do período entre 1900 e 1940, como estes
contextos e topoi nortearam a criação de representações de outras culturas e com isto, como
imagem inversa, da cultura própria.
Palavras-chave: museu, representação, cultura, história.
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ST 10
História e Música – novas possibilidades e ler
e ver o passado
A música e a indústria cultural
Adriana Iop Bellintani
Pós-Doutoranda pela UnB
[email protected]
A cultura serve para a produção de bens funcionais, sendo mais ampla que a arte, abarcando
a publicidade, a arquitetura, e a moda. A economia da cultura é entendida como um processo
de radiação, que se alastra a partir das artes visuais. A economia da cultura é impulsionada
pela indústria cultural, que envolve e monopoliza a atividade criativa. A indústria cultural
é caracterizada pela revolução industrial, pelo capitalismo liberal, pela economia de mercado e pela sociedade de consumo. A indústria cultural, a comunicação de massa e a cultura
de massa surgem com a industrialização. É no conteúdo da indústria cultural que está o
seu diferencial. Assim a indústria cultural e os movimentos culturais podem ser alienados?
Como ocorre a ação e reação entre o movimento criativo e cultural e a indústria cultural? O
tropicalismo, por exemplo, é uma inovação maior que a bossa nova, um novo estilo de MPB
e de viver, e como tal um movimento revelador ou preso a ação da industria cultural? O disco
“panis et circensis” (1968) feito por Caetano Veloso, Torquato Neto, Gilberto Gil, Nara Leão,
Os Mutantes, Rogério Duprat, é um manifesto de inovação artística, estética e cultural. As
músicas tropicalistas fazem forte crítica contra a política vigente, e ao mesmo tempo inserem-se no contexto da indústria cultural e das multinacionais da cultura.
Palavras chaves: Cultura – indústria cultural - tropicalismo
Brasil moreno: música popular e memória da
construção da identidade nacional brasileira
em regiões de imigração alemã
Alessander Kerber
Professor adjunto da UFRGS
[email protected]
No decorrer dos anos 1930, o rádio e, em menor escala, a indústria fonográfica, foram fundamentais no processo de reconstrução e massificação da identidade nacional brasileira. A
escolha de símbolos que remetem à miscigenação, especialmente entre o português e o negro, como representações nacionais ocasiona um processo de inclusão simbólica de determinados grupos sociais à nação e a exclusão de outros. As canções populares que apresentavam
representações do Brasil e tiveram maior sucesso durante Estado Novo remetiam, em geral,
a esse processo de miscigenação. Nesse trabalho, proponho a apresentação de resultados
parciais de meu projeto de pesquisa intitulado “Representações musicais e mídia sonora na
construção de identidades ligadas ao espaço geográfico: a nação, a região, a cidade (1930–
1945)”, focando a memória dessas canções entre pessoas que viveram em regiões marcadas
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pela imigração alemã durante esse contexto.
Palavras-chave: música popular, memória, identidade nacional brasileira
Música e identidade em Goiânia:
do country ao rap
Allysson Fernandes Garcia
Professor da UFG
[email protected]
Pretendo comunicar uma história de um embate cultural ocorrido na segunda metade da
década de 1990 em Goiânia capital do Estado de Goiás. O embate envolveu de um lado a
intenção do poder público animado por uma organização de empresários a intitular a cidade
de ‘Goiânia Country’ e de outro a afirmação negociada através de práticas musicais de juventude, de uma identidade plural e hibrida para os goianienses. Focalizo a crítica elaborada
através do rap, catalisador dos anseios de uma parcela da juventude em geral sem voz para
decidir sobre a organização da cidade e, sobretudo nas definições de políticas públicas que
lhes dizem respeito.
Processos de Hibridação e de Identidades:
Um estudo do CD FOGARÉU do músico
goiano Bororó
Ana Guiomar Rêgo Souza
Professora da Graduação e do PPG em Música da UFG
[email protected]
Manassé Barros Aragão
Aluno especial do Mestrado em Música da Escola de Música da UFG.
Esta comunicação resulta de pesquisa desenvolvida sobre o músico e contrabaixista goiano
Bororó, batizado como Dimerval Felipe da Silva. Do contato com a música de Bororó constatou-se o caráter híbrido da sua produção musical, o que gerou o interesse em investigar
os trânsitos culturais privilegiados pelo compositor, suas configurações em termos musicais,
bem como as experiências existenciais das quais resultaram produtos de natureza híbrida.
Para tanto foi delimitado como universo da pesquisa o conjunto de canções e peças instrumentais que integram o CD Fogaréu de Bororó. Procedeu-se à análise dos aspectos lingüísticos em cruzamento com aspectos relacionados às vivências do compositor e às experiências
formadoras da estética musical de Bororó. Com base em Canclini, concluiu-se que a “goianidade” da obra de Bororó se afasta de concepções essencialistas traduzidas pela incorporação
única de elementos do folclore regional; afasta-se igualmente de determinadas posturas que
entendem como estanques as dimensões da chamada música erudita e música popular.
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O tango argentino entre Borges e Piazzolla:
literatura e música, tradição e vanguarda,
memória e cidade
Avelino Romero Pereira
Professor de História da Música (Unirio)
Doutorando em História Social (UFF)
[email protected]
Sob a história cultural e social, a interseção entre música e literatura permite acessar a complexidade do debate identitário argentino. Borges e Piazzolla foram parceiros na criação do
LP El Tango, de 1965. Outras aproximações mais complexas são possíveis entre escritor e
músico, cuja convergência de princípios aponta um mesmo ethos vanguardista: a convicção
nas opções estéticas e o tom militante com que as defendem; o compromisso com a inovação
em meio à tensão entre tradição e vanguarda inscrita nas obras; a criação artística como exercício de intertextualidade sobre referências que oscilam entre a cultura urbana de Buenos
Aires e tradições ocidentais; a recusa do localismo pitoresco e a abertura ao cosmopolitismo
como saída para a criação artística em ambiente cultural periférico; o tango como fonte e
campo cultural com o qual se defrontam. Na leitura e compreensão do tango dá-se o confronto e o distanciamento entre os dois artistas, documentado em declarações intempestivas
e alfinetadas mútuas. O nuevo tango de Piazzolla é a releitura vanguardista da tradição do
tango sentimental, atualizado para a Buenos Aires dos anos 50 e 60. Essa mesma tradição é
repudiada por Borges, que evoca um tango suburbano e valente, equidistante do sentimental
e dos mitos rurais da nacionalidade.
A “OPINIÃO” do CPC da UNE:
pré-(anti)tropicalismo?
Diego de Moraes Campos
Mestrando em História pela Universidade Federal de Goiás - UFG
[email protected]
A presente comunicação visa pensar no LP “Opinião”, como uma obra resultante da experiência artística, e política, que foi o CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE, no pré-64. Apresentarei o CPC, enfocando sua relação com campo intelectual em torno do ISEB (Instituto
Superior de Estudos Brasileiros) e seu discurso sobre o “intelectual engajado” na “realidade
nacional”. Como muitos tropicalistas passaram pelo CPC, problematizo se o CPC foi apenas
a raiz das “vaias” à Caetano Veloso no Festival de 1967, ou se, ao procurar misturar os “brasis”
(representados, no musical “Opinião”: pelas figuras de Zé Kéti, João do Vale e Nara Leão),
não seria, também, um dos aspectos para se pensar na ebulição da Tropicália. Assim, proponho uma reflexão que se guie nessa via de mão dupla, para pensarmos a cultura brasileira
nos anos 60. 106
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Engajamento e desbunde: música popular
e política nos anos de chumbo
Eleonora Zicari Costa de Brito (UnB)
[email protected]
O panorama da música popular no Brasil dos anos 60 e 70 do século passado nos permite
mergulhar numa diversidade de discursos musicais que expressavam posicionamentos críticos frente à realidade em questão. A ânsia por dizer algo está presente no que encontramos
nos repertórios de Elis Regina e Taiguara, por exemplo, mas também naqueles voltados ao
excitamento de uma revolução comportamental, visíveis na experiência da Jovem Guarda assim como na do grupo musical Mutantes. Sem qualquer intenção de igualar essas diferentes
formas de expressão musical, o que proponho é observá-las em suas especificidades, pondoas em diálogo com o seu tempo, mas compreendendo as práticas/discursos de que fazem
uso como estratégias políticas que ora dialogam com uma postura crítica mais tradicional,
ora percorrem o caminho de uma crítica mais livre e nem por isso menos corrosiva. O fato é
que naqueles anos de forte censura a tudo o que parecesse subverter a ordem, nossos artistas
colocaram em prática as mais diferentes formas de oposição ao estabelecido.
Palavras-chave: música, anos de chumbo, engajamento, desbunde.
Música, tradição e incorporação do/ao universo
urbano contemporâneo de cantadores –
Reinvenção e Tradição
Prof. Dr. Francisco José Gomes Damasceno
Hannah Jook Otaviano Rodrigues
Rafael Antônio Oliveira de Souza
Marília Soares Cardoso
Leopoldo de Macedo Barbosa
A cantoria faz parte da cultura brasileira desde tempos coloniais e, aponta-se sua existência
desde os aedos gregos, tendo uma forte presença e suas origens mais próximas ainda no
mundo medieval, nos menestréis e trovadores, de onde teriam “migrado” para O Brasil e
particularmente o Nordeste Brasileiro. Incorporada às culturas populares brasileiras desde
então, nos anos 60 do século XX começa a passar por transformações que a projetam no atual
contexto de forma viva, dinâmica e não menos importante do que tantas outras manifestações. Para tanto tem incorporado os meios de comunicação de massa, sobretudo a TV e o
rádio de forma persistente e sistemática. Muitos são os cantadores que tem assumido esse
processo, gravando CD’s, DVD’s, fazendo programas e mantendo a tradição da cantoria viva
nesses meios e nos seus “lócus” mais tradicionais. Neste trabalho algumas canções serão
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apresentadas com o intuito de apresentar estes sujeitos sociais importantes e algumas das
características de sua arte.
Palavras-chave: Cantadores, tradição, incorporação, música, mídias.
Sobre a noção de gesto musical como
ferramenta para os estudos históricos
Frederico Machado de Barros
Doutorando em Sociologia pela USP
[email protected]
O trabalho busca fazer uma discussão exploratória de como a noção de gesto musical pode
vir a ser útil para estudos de música a partir de uma perspectiva da história e das ciências
sociais num sentido amplo. Para tal, é feito um esforço de delimitação da categoria gesto
musical com base na discussão de um exemplo retirado do filme Green Card (1990). A partir
deste exemplo, espera-se mostrar como a noção de gesto musical é ao mesmo tempo aberta o
suficiente para alcançar diferentes elementos constituintes do discurso musical e específica
o suficiente para permitir delimitar e rastrear tais elementos em suas relações com o contexto musical e social mais amplo em torno deles.
Clara Nunes entre a mestiçagem brasileira
e o canto atlântico
Jefferson William Gohl (UNB)
Professor de História Contemporânea na Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras
de União da Vitória, Mestre pela Universidade Federal do Paraná UFPR
[email protected]
O presente trabalho pretende refletir sobre as canções interpretadas por Clara Nunes, no
fim da década de 1970 e inicio dos anos 1980, assim como a tensão existente entre as noções
de mestiçagem que tal trabalho implicava no Brasil e a perspectiva de um canto atlântico,
que se volta sobre a África na busca de laços de afinidade ou afetivos que significavam novas
imagens frente a África que se apresentava naquele contexto. A metodologia se pauta pela
escolha do disco de 1976, Canto da três raças, como marco, e segue a partir daí capturando as
referências explícitas, anteriores e posteriores, à África e a Angola nos discos Forças da Natureza, Guerreira e Clara Esperança, entendendo que estas obras correspondem à fase em que
a artista tem seu trabalho amadurecido e uma autonomia de escolha de repertório, em que
as canções de Paulo Cesar Pinheiro, Mauro Duarte, Eduardo Gudin e Chico Buarque compõem uma determinada percepção do continente africano e das possibilidades de pertença
ou identificação que Clara Nunes encarna e faz viver a um público ouvinte alargado por meio
de seu canto.
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A tradição na Escola do Bandolim Brasileiro
Jorge Antonio Cardoso Moura
Mestrado em Música pela UnB
[email protected]
O tema da presente comunicação será contextualizada na cidade do Rio de Janeiro a partir
de 1870, com o nascimento do choro como gênero musical popular. A abordagem conceitual
e histórica referente à Escola do bandolim brasileiro foi motivada pela atividade profissional
do autor como músico. Para a análise serão investigados os conceitos estéticos, contextuais
e tecnológicos que influenciaram na consolidação da escola musical em questão. A tradição
oral no aprendizado musical, a importância de Jacob do bandolim, o conceito de tradição
e a análise das fontes de pesquisa serão os elementos utilizados no trabalho. Os modos e
práticas musicais onde se insere a referida atividade serão relacionados com a sua evolução
histórica e tradição. Torna-se necessário reconhecer quais motivos justificaram as relações
sociais, históricas e musicais.
Palavras-chave: Bandolim, Tradição, Choro.
A subjetivação do político: poesia e crítica
nas canções de Cazuza.
Leidiane Lopes de Souzaleidy
[email protected]
Este artigo pretende evidenciar que uma música, enquanto artefato sócio-cultural, não aborda um teor crítico somente na linguagem textual em que é expressa. Para tanto, tomará duas
composições produzidas na década de 80, período em que o rock nacional encontrava-se em
um momento de efervescência e que, mesmo se realizando no ambiente da Indústria cultural fora capaz de mobilizar elementos de crítica social, divertimento e poesia. São elas: “Pro
dia nascer feliz” (apresentação realizada no Rock n’ Rio de 1985) e “Brasil” (interpretada no
show Ideologia em 1988). A discussão dialoga com o conceito de transfiguração do político
cunhado por Maffesoli para quem o político também se encontra nos detalhes do cotidiano
e das experiências afetivas. Outro mote da reflexão, que virá a contribuir na análise proposta
pelo sociólogo francês- sobretudo na primeira canção, recaí sobre a importância da performance na configuração dos sentidos. Assim, ambas as produções musicais revelam, cada
uma a sua maneira, como o Brasil estava sendo pensado, por parte de um grupo de jovens,
no seu processo de redemocratização.
O frevo entre a marcha e o jazz: a invenção de
uma música que “nenhuma terra tem”
Lucas Victor Silva
Professor da Faculdade Integrada do Recife e nas Faculdades Integradas da Vitória de Santo
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Antão.
[email protected]
A invenção do frevo enquanto gênero musical é produto da contínua busca da geração de
trinta pela identidade nacional brasileira e pela modernização do país. O discurso científico e literário procurará interrogar sobre os mais diversos aspectos do Brasil, entre eles, sua
cultura e suas tradições, como o carnaval. Festejada por intelectuais, artistas e autoridades
municipais e estaduais, a Federação Carnavalesca surgiu, em 1935, como uma entidade compromissada com o controle de organizações populares e de manifestações culturais, bem
como com a articulação de uma série de discursos e práticas que vão instituir a idéia de um
carnaval autêntico e verdadeiramente popular que, ao som do frevo, deve funcionar como
ferramenta de controle social e que deve ser gerido por membros das elites intelectuais da
cidade comprometidos com o novo regime pós-trinta. Este é o momento também de invenção do frevo como gênero musical representativo da identidade regional, bem como instrumento de veiculação das representações conservadoras da cultura popular construídas
por setores das camadas hegemônicas do Recife. Neste trabalho, discutimos a criação deste
gênero musical em uma época de estabelecimento de um mercado de bens culturais e de
novas práticas de controle e normatização das manifestações culturais populares.
Interações tecnológicas na produção fonográfica: perspectiva histórica de alguns casos exemplares, do fonógrafo ao ProTools
Marcelo Carvalho Oliveira
Mestrando em Musicologia no Programa de Pós-Graduação Música em Contexto do Departamento de Música UnB.
[email protected]
Beatriz Magalhães Castro (UnB)
[email protected]
Neste artigo analisamos alguns casos-modelo em que inovações tecnológicas introduzidas
no decorrer do século XX tiveram efeito direto na produção musical e fonográfica, com conseqüências que se estendem até os dias atuais. As tecnologias de gravação desenvolvidas
desde o final do século XIX até meados do século XX permitiam apenas o registro de performances “reais” e completas, com todos os músicos tocando simultaneamente no mesmo
espaço físico. A partir do final da década de 1940, a gravação multipista (multitrack) tornou possível a criação de “performances artificiais”, em que um só músico é capaz de gerar
gravações extremamente sofisticadas em termos de massa sonora, quantidade e variedade
de instrumentação. As análises de Frith (2002), Attali (1985) e Martin (1979) constituem o
embasamento de nossa discussão, enquanto os ensaios de Givan (2004), Sterne (2006) e
Goehr (2008) acrescentam uma perspectiva atualizada à nossa abordagem. Avaliamos a influência dos desenvolvimentos tecnológicos citados na carreira de artistas como Bing Crosby
e Frank Sinatra (microfones), Louis Armstrong, Les Paul, Beatles e Prince (overdubbing e
multitracking). O efeito do recurso autotune (afinação automática) na produção de cantores
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
e cantoras durante a década de 2000 também é abordado.
Palavras-chave: produção musical; tecnologia de gravação; registros fonográficos.
Taiguara e Censura, uma parceria inusitada
Maria Abília de Andrade Pacheco (UnB)
[email protected]
Considerado uma das maiores vítimas da censura durante o regime militar, o cantor Taiguara
viu-se obrigado a abandonar uma carreira no auge. A despeito da veemência desse fato, novas perspectivas de trato da questão vêm à tona a partir dos estudos culturais. Por essa trilha, chega-se ao sujeito histórico, ou seja, ao elemento participativo, indócil, renitente, cuja
identidade fortalece-se no convívio com os grupos sociais com os quais se afina. Sob esse
prisma, a censura motiva Taiguara a reinventar-se de forma a encontrar um discurso que
o coloque em posição de interlocutor, não de silenciado. O universo criativo do cantor se
expande em pesquisas rítmicas e incursões poéticas, numa peleja aflita de quem deseja ser
ouvido e compreendido. O resultado desse empreendimento aponta para um artista cada
vez mais comprometido com o seu tempo e dá pistas de uma censura ramificada em vários
setores da sociedade, muito mais pujante que um mero organismo institucional. Palavras-chave: Taiguara, censura, MPB
Memória sertaneja: as primeiras
gravações do música goiana
Maria Amélia Garcia de Alencar
Professora Doutora da UFG
[email protected]
[email protected]
Em meados do século XX, as primeiras gravações de música goiana em discos comerciais
foram feitas em estúdios da capital paulista, pela impossibilidade de fazê-lo em Goiás. Participando de uma cena musical caracterizada pela influência da música estrangeira, especialmente as guarâneas, polcas, rasqueados e boleros, que faziam sucesso nas rádios, cantores e compositores goianos gravaram um repertório que tratava, principalmente, de temas
amorosos ou das belezas da terra. È o caso do cantor e compositor Marrequinho. Em outra
vertente, a cantora erudita Ely Camargo resgatava canções do folclore goiano, já que o movimento folclorista também estava em alta naquele período. Assim, a tradição da música
gravada em Goiás não se liga à tradição da música caipira ou “de raiz”, mas a uma tradição
sertaneja que terá desdobramentos diversos a partir dos anos 70.
Maria Maria: de retalho em retalho,
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um retrato de Brasil
Mateus de Andrade Pacheco (UnB)
[email protected]
Em 1976, Milton Nascimento compôs a trilha sonora do espetáculo de estréia da companhia
de dança Grupo Corpo: Maria Maria. Valendo-se de canções e textos, essa trilha construía
a personagem Maria para contar a história de tantas outras mulheres e do próprio Brasil.
Lançar luz sobre a trilha Maria Maria traz à tona modos de perceber a realidade brasileira
naquele momento e a repercussão do diálogo de Milton Nascimento com outros campos
da arte em seu fazer de compositor/cantor.Tais questões nos encaminham a reflexões sobre
a pluralidade de sentidos que se pode atribuir a uma canção a partir de sua localização na
trama de um espetáculo, show ou álbum.
Palavras-chave: Milton Nascimento, espetáculo, trilha sonora.
“Um passo plugado no mundo inteiro”:
Indícios do Moderno e do Global nas
canções do carnaval baiano (1970-2010)
Rafael Rosa (UnB)
[email protected]
Há desde a década de 30 do século XX, no cancioneiro popular, uma forte tradição de se
cantar a Bahia, sendo o principal expoente na construção dessa mítica imagem o compositor Dorival Caymmi, além de outros como Ary Barroso, Denis Brian, Assis Valente etc. Essa
tradição vem sendo largamente reiterada por seus seguidores, a exemplo de Caetano Veloso
e Gilberto Gil no Olimpo da MPB, bem como pelos compositores de canções para o carnaval
baiano que, a partir de 1970, gradualmente transformaram o trio elétrico no principal lugar
de enunciação desses discursos musicados. Nesse processo, novos signos e imagens acerca
dessa mesma Bahia se insinuam num embate de representações, que se (re)atualizam sobretudo pelos índices de modernidade e pela articulação do local pelo global observado
nessas canções.
Palavras-chave: carnaval, globalização, trio elétrico.
As imagens carnavalescas na obra de
Bezerra da Silva
Rainer G. Sousa
[email protected]
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No presente trabalho temos por objetivo expor uma faceta pouco explorada da obra de Bezerra
da Silva, intérprete e músico de grande renome no mundo do samba e que teve a sua obra
largamente conhecida pelas canções que representavam sistematicamente a vida nas favelas
cariocas, a violência policial e a questão das drogas. Buscando uma outra frente de compreensão da sua obra, tal comunicação visa trabalhar com as letras de canções de natureza cômica,
bastante presentes no seu repertório gravado, mas pouco discutidas nos estudos empreendidos sobre seu legado musical. Para empreender tal discussão, recorremos à obra do pensador
russo Mikhail Bakhtin no que diz respeito a sua consideração acerca do humor e sua ocupação
secundária na cultura européia da entre a Idade Média e o Renascimento. Por meio desse viés,
pretendemos verificar na obra de nosso sambista as referências ao universo cômico retratado
por Bakhtin no que tange ao conceito de carnavalização. Sendo assim, destacamos em diversas
canções do nosso sambista todo um universo permeado por imagens carnavalescas: inversões,
apelidos, palavrões e cenas grotescas, que claramente se adequam ao pensamento do autor
russo. Desse modo, pretendemos também destacar uma parcela da obra de Bezerra da Silva,
que, apesar de bastante importante, é pouco reconhecida e estudada.
Bossa jobiniana: diálogos sobre tradição
e vanguarda
Tatiana de Almeida Nunes Costa
Mestranda do Programa em História Social da Cultura da PUC - Rio
[email protected]
O presente estudo tem por objetivo pensar proximidades e distanciamentos entre algumas
das composições de Tom Jobim no ano de 1958 e a tradição musical brasileira anterior à
emergência da Bossa Nova. Ao invés de pensar o movimento bossanovista como um momento de ruptura brusca no cenário musical brasileiro, a intenção é identificar no processo
de produção das canções uma articulação entre as idéias de “tradição” e “vanguarda” contribuindo para a existência de nuances variadas nas músicas iniciais do estilo. Assim, ao mesmo tempo em que é possível identificar obras mais voltadas para um projeto de “modernização” da canção, também é possível perceber na orientação das composições um diálogo
próximo com as tradições brasileiras.
Luiz Gonzaga: A música revelando Indentidade(s)
Valeska Barreto Gama
Mestranda em História pela UnB
[email protected]
A música como fonte histórica vem ganhando cada vez mais espaço nos estudos culturais,
por ser um objeto capaz de (in)formar a respeito das dinâmicas sociais e sensibilidades, a
partir do seu contexto de criação e divulgação. O presente trabalho procura discutir as canções do interprete Luiz Gonzaga, como fontes para se perceber a criação imagética sobre a(s)
identidade(s) nordestina, em suas várias nuances. A partir das canções, essas identidades
vêm sendo “criadas” e “aceitas” por quem as ouve, como medida do que seria o “ser” nordes-
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tino, pois em suas narrativas (letra e ritmo) estão presentes representações das festas, das
formas de louvar, de trabalhar, de viver, além de paisagens, dentre outras informações, que
remetem a uma determinada região, o Nordeste brasileiro.
Palavras-chave: Música, representação e Identidade.
Eu, Você, João: O Processo De Parodização
Da Bossa Nova Pela Tropicália
Victor Creti Bruzadelli
Graduado em História pela UFG.
[email protected]
Em seu processo de produção musical, a Tropicália sempre dialogou com as mais diversas de
tradição - musicais ou não, modernas ou não -, como o Baião, a Rumba, o Samba, as Histórias
em Quadrinhos, o Rock Psicodélico, entre outros. A forma como isso se deu, geralmente, foi
através de um processo de ressignificação e/ou “parodização” destes elementos tradicionais.
Neste trabalho busca-se analisar a forma peculiar como os músicos e intérpretes da Tropicália buscam dialogar com a tradição da Bossa Nova parodiando-a e elevando-a a um dos
principais substratos de criação para essa nova proposta estética.
Considerações acerca da memória,
da história e da música popular
Vitor Hugo Abranche de Oliveira
Mestrando em História – UFG
[email protected]
A música popular ganha, aos poucos, mais espaço na pesquisa histórica. Traz, com ela, problematizações que podem auxiliar tanto em sua interpretação histórica quanto na investigação do contexto que a cerca. A memória é uma dessas categorias que, abordadas em conjunto
com a música, podem nos mostrar a complexidade de pequenas negociações cotidianas, ou
ainda as pequenas inventividades, mas que são essenciais na formação de um músico. Esse
trabalho reflete sobre relação memória/esquecimento como fundamental na formação da
música popular, objetivando assim ampliar o debate da interpretação tanto das manifestações musicais quanto da história.
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ST 11
Leitura do sagrado, visões da divindade – uma história
cultural do religioso
Espaços de luto e memória: os cemitérios
militares brasileiros
Adriane Piovezan
Doutoranda pela UFPR
[email protected]
Monumentos e mausoléus representam espaços de memória. A existência do Cemitério
Militar Brasileiro em Pistóia e a construção do Monumento aos Mortos da Segunda Guerra
Mundial no aterro do Flamengo mostram as relações e atitudes diante da morte por parte
da sociedade brasileira contemporânea. A pesquisa tem como objeto os embates provocados pela destinação dos corpos dos soldados mortos em combate durante a guerra e as discussões envolvendo as tradições populares, instituições militares e as instituições religiosas
neste processo. A transladação dos corpos em 1960 e as questões referentes as discussões
sobre todo o processo enfocam das mudanças e das discussões entre as questões religiosas
que acabam sendo hegemônicas no tratamento dos ritos fúnebres e as questões militares, até
então assumidamente laicas. Enquanto em Pistóia elementos da crença cristã dominavam o
campo santo, como cruzes, já no Mausoléu do Aterro ocorre a total substituição destes elementos pelos inequivocamente cívicos e patrióticos, como também aconteceu em relação ao
seu uso pela sociedade. Podemos observar como demonstrou Michel Vovelle que o período
pós Segunda Guerra Mundial anulou fórmulas triunfalistas nos monumentos fúnebres, com
a construção de monumentos abstratos e antimonumentos.
Palavras-chave: monumentos, cemitérios militares, instituições militares.
Protestantismo e Modernidade: Uma
Interpretação Sócio-Histórica
Eduardo Gusmão de Quadros
Professor do curso de Historia da UEG e da PUC-GO
[email protected]
A discussão sobre protestantismo e modernidade surgiu ainda na época da reforma protestante. Tal relação foi, inclusive, utilizada enquanto argumento apologético pelas missões
evangélicas. O sociólogo alemão Ernst Troeltsch fez uma discussão original do tema, em
obra publicada no inicio do século XX. É esta obra, hoje clássica, apesar de pouco conhecida
no Brasil, que discutiremos nesta comunicação.
Palavras-chave: protestantismo; modernidade; causalidade; religiosidade
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O santo dos Últimos Dias? O mártir S. Sebastião
e o milenarismo no Contestado, Santa Catarina,
Brasil (1912-1916)
Eduardo Rizzatti Salomão
Doutorando em História Social pela UnB
[email protected]
Na Guerra do Contestado (1912-1916) a expectativa no advento de uma época de felicidade e
fartura foi manifestada pela população local. Nesse episódio, S. Sebastião, mártir cristão cuja
imagem era venerada pelos rebeldes do planalto catarinense, passou a ocupar uma posição
estranha à tradição católica: o mártir não seria apenas o protetor contra a fome e a peste, e o
padroeiro de inúmeras capelas do interior, mas o ativo comandante de um Exército celestial
que restabeleceria, após vencer as forças da república, a verdadeira “lei de Deus”. Esta apresentação discute questões relacionadas à expectativa da realização do milênio e a ressignificação de crenças cristãs e mitos messiânicos presentes no Contestado, tendo como foco o
papel exercido pelo mártir S. Sebastião e a sua possível associação ao messianismo-régio no
alvorecer do séc. XX.
Palavras-chave: Contestado, milenarismo, messianismo-régio.
Leituras Ecológicas da Bíblia Hebraica
Haroldo Reimer
A comunicação trata de apresentar a Bíblia hebraica como um conjunto de textos históricomíticos que transmitem elementos da história cultural e material do antigos hebreus. No conjunto destes textos, a comunicação busca destacar recortes de textos, nos quais se verifica uma
perspectiva ecológica acerca da relação dos hebreus antigos com o seu ambiente natural e social. Elementos da arqueologia buscarão evidenciar os “fios” históricos dos textos sagrados com
a realidade histórica. Busca-se aplicar aos textos uma perspectiva de leitura a partir do ótica do
leitor, ressaltando, assim, uma ‘hermenêutica ecológica’ de textos sagrados da Antiguidade.
Partido Católico Goiano: “Deus, Pátria
e Liberdade” (1881-1907)
Ireni Soares da Mota
Mestranda pela PUC-GO. [email protected].
Este artigo objetiva realizar um estudo sobre a curta trajetória do Partido Católico em Goiás,
fundado no dia 20 de julho de 1890 e em 1891 aparece com nova denominação, como Partido
Republicano Federal. O lema criado para a agremiação era Deus, Pátria e Liberdade. O período
compreendido para o estudo perpassa os bispados de dois clérigos entusiastas da causa católica
no âmbito político: D. Claudio José Gonçalves Ponce de Leão e D. Eduardo Duarte Silva. Uti-
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lizando fontes documentais, se propõe a uma abordagem que privilegia a perspectiva do jogo
das representações que o partido construía acerca da sociedade goiana. Tentamos compreender
com esse enfoque o campo de força teo-político nos primórdios do Goiás republicano.
Palavras-chave: Partido Católico, representações, teo-político.
O Mestre Juramidã. Análise da constituição
histórica da figura do Sr. Raimundo Irineu Serra
Isabela Lara Oliveira
Professora da Faculdade de Comunicação da UnB
[email protected]
O presente trabalho analisa a compreensão compartilhada pelos seguidores do Sr. Raimundo Irineu Serra, fundador do Santo Daime, sobre a sua pessoa e a maneira como esse entendimento se constituiu por meio da dinâmica da oralidade entre as décadas de 30 e os dias
atuais. Para os daimistas o Sr. Irineu é o “Mestre Juramidam”, palavra que revela uma ampla
gama de significados, que fala da pessoa do Sr. irineu como presença viva do Cristo na contemporaneidade e também como uma manifestação atual do Espírito Santo. Por meio da
análise do conteúdo expresso pelas memórias compartilhadas dos seguidores na religião,
demonstra-se como esse conceito se formou entre os daimistas e investigam-se as diferentes
influências culturais que contribuíram para a formação desse significado na religião.
Reflexos de um espelho opaco: a construção
da feminilidade através das múltiplas
sexualidades de Vênus e Maria
Ismael Gonçalves Alves
Doutorando UFPR
[email protected]
Pérola de Paula Sanfelice
Mestranda UFPR
[email protected]
Este trabalho busca inventariar algumas considerações acerca dos ideais de feminilidade
difundidos em dois momentos históricos distintos, a Antiguidade clássica e a Contemporaneidade. Ao optarmos por um estudo comparativo de épocas diversas, não buscamos estabelecer uma linearidade, e sim conhecer múltiplas experiências históricas ao longo do
tempo, atravessadas pelas relações que cada sociedade estabelece consigo mesma e com o
seu passado. Através da análise das representações Vênus e Maria, figuras de destaque no
panteão religioso romano e judaico-cristão, buscaremos perceber como duas divindades,
em essência, ligadas à fertilidade, beleza e prosperidade, foram apropriadas de maneiras
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distintas, legitimando padrões de comportamento para condutas tidas como essencialmente
femininas. Partindo deste diálogo, propomos discutir questões de nosso próprio presente,
fundamentados na concepção de que a modernidade produziu modelos normativos de sexualidade masculina e feminina que condicionaram, ideias, valores e comportamentos em
conformidade com os princípios impostos por uma moral dominante, que tende a extinguir
o contraditório e aniquilar as diferenças, em favor de uma sexualidade legítima e ao mesmo
tempo legitimadora.
Palavras-Chave: Feminino, Antiguidade Clássica; Contemporaneidade
A pastoral das almas e o governo
político dos homens
Leandro Alves Martins de Menezes
Mestrando pela UFG
[email protected]
A proposta deste estudo é identificar a genealogia das práticas de sujeição dos corpos presentes na anatomopolítica e na biopolítica. Michel Foucault localizou no seu curso Segurança, território, população que a premissa de toda forma de gestão biológica da população
na política é de origem pastoral. Posteriormente seu objetivo passa a ser o de questionar e
buscar alternativas eficientes que demonstre como a pastoral das almas se insere historicamente no governo político dos homens, destacando de que modo há uma redistribuição de
forças, poderes, que sancionam esse processo. Sua primeira hipótese, é que esse momento
inicia de forma clara a partir das revoltas pastorais do século XV. Um dos exemplos mais
evidentes está representado na Reforma protestante. Durante esse período transitório do
século XV ao XVII essa estrutura social européia se situou em um clima de resistências, revoltas, insurreições de conduta frente ao modelo oficial de governo das almas. Dois desses
grandes modelos de resistência são encontrados na reorganização da pastoral religiosa, isto
é, das comunidades protestantes e na Contra-Reforma. O que é importante perceber é que
até então, a resistência não se efetua propriamente e contrariamente ao modelo pastoral,
mas há uma transferência, a partir do XVI, em relação à maciça e global função pastoral
da Igreja sobre o Estado. Esses movimentos promovem uma intensificação do pastorado
religioso, contudo o pastorado passa a ser intervencionista, exerce influência como nunca
antes, na vida cotidiana, na vida material, por exemplo: em relação à higiene e educação das
crianças como forma de preparação moral. Também, neste mesmo século, vemos formar um
novo gênero de condução dos homens, de pastorado, além dos limites eclesiásticos, havendo
o fenômeno familiar e governamental preocupado com a condução de si, dos filhos, da família, do Estado, etc. O poder soberano, nesse momento, deve se encarregar em novas tarefas,
atividades específicas no governo dos homens, daquilo que mais tarde se confirmaria como
o governo das populações. Proporemos uma reflexão sobre as condições de possibilidade que
foram estabelecidas entre o poder pastoral das almas e o governo político dos homens, em
especial o governo biopolítico.
Palavras-chave: Poder pastoral, população e Foucault.
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Antecedentes históricos da Umbanda:
entre Calundus e Feiticeiros
Léo Carrer Nogueira
Professor da UEG – Unidade Itapuranga-GO
[email protected]
A Umbanda é uma religião híbrida, que agrega elementos distintos em sua constituição,
desde a influência das religiões africanas até influências mais recentes como o Espiritismo
e a Nova Era. Rastrear os elementos das diferentes matrizes religiosas que compõem esta
religião não é tarefa fácil. Assim nos propomos a analisar os antecedentes que precederam
a formação da Umbanda no Brasil, desde a chegada dos negros africanos e os exemplos de
experiências religiosas aqui desenvolvidas durante e após o período colonial.
Mouros e Cristãos nas Crônicas de
Gomes Eanes de Zurara (Século XV)
Renata Cristina Nascimento
Professora da Universidade Federal de Goiás / UEG/PUC- GO
[email protected]
A Formação do Império Marítimo Português e a ocupação da África têm como marco inicial
a conquista de Ceuta (1415). O ataque a Ceuta, porto marroquino importante por sua posição
comercial e estratégica sobre o estreito de Gibraltar, foi fundamental dentro do projeto expansionista preconizado por Portugal nos fins da Idade Média. O alargamento da conquista
marroquina dividiu opiniões, mas a possibilidade de uma política expansionista de caráter
internacional e a defesa da fé cristã frente ao Islã, numa época em que o perigo turco no Oriente inquietava a Europa, era um objetivo que a todos interessava. Dentro desta perspectiva
as crônicas de Zurara são relatos importantes do imaginário medieval relativo aos ditos infiéis, destacando em seus escritos a confronto mouro- cristão.
Palavras- chave: Mouros- Cristãos- Expansão Marítima
Fiéis pentecostais no imaginário social
Tiago Rege de Oliveira – (PUC/Goiás)
[email protected]
Nesta comunicação desejamos analisar o imaginário que a sociedade tem dos membros de
Igrejas protestantes pentecostais, principalmente os fiéis da Igreja Assembléia de Deus,
os quais são rotulados pejorativamente de “crentes”. Os motivos dessa esteriotipação estão
relacionados à postura sectarista e exclusivista que os grupos protestantes desenvolveram ao
longo do tempo na sociedade brasileira. Devido suas maneiras de se relacionar com as comunidades em que estavam inseridos, foram desde o princípio alvo de criticas que incidiam
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sobre seus padrões comportamentais e suas práticas religiosas. Tudo isso fez surgir no imaginário das sociedades aonde chegavam certos estereótipos e rotulações que de uma maneira
geral pode ser resumido no termo “crentes”.
Palavras-Chaves: imaginário, crente, sociedade.
Santo de Deus e Santo do Povo –
O Apóstolo de Goiás Padre Pelágio
Valmor da Silva
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Goiás
[email protected]
Analisa a santidade como retrato do tremendo e fascinante da divindade, e o santo como próximo de Deus e distante dele. Aplica a teoria ao exemplo concreto, da trajetória de santidade do
Padre Pelágio Sauter, cognominado o apóstolo de Goiás. Parte da leitura do mesmo fenômeno na
Bíblia Hebraica, onde, por um lado Deus é santo, transcendente e inacessível, como na chamada
Lei de Santidade (Lv 17-26) e, por outro, está próximo, caminha com o povo, acompanha as pessoas, como na marcha do povo de Deus pelo deserto (Nm 11-14). A Moisés Deus afirma: “Não
poderás ver a minha face, porque o homem não pode ver-me e continuar vivendo” (Ex 33,20). Ao
mesmo Moisés, poucos versículos antes, afirma o contrário: “Iahweh, então, falava com Moisés
face a face, como um homem fala com seu amigo” (Ex 33,11).
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ST 12
Performances culturais – história, estética e linguagens
Metrópole e Práticas Cotidianas
Elane Ribeiro Peixoto – (FAU/UnB)
Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB.
[email protected]
Adriana Mara Vaz de Oliveira – (FAV/UFG)
Professora adjunta I da UFG
[email protected]
A dimensão da cidade metropolitana, quer seja na sua espacialidade ou dinâmica temporal,
oculta os fazeres e ritmos do dia-a-dia. Seus habitantes, imersos, no frenesi de suas exigências, apagam de sua paisagem traços físicos e reminiscências. Quem se dedica ao estudo das
cidades depara-se com o desafio de ordenar em narrativas possíveis o emaranhado de informações: de um lado, a concretude das construções e, de outro, imagens, lembranças imprecisas, próprias às experiências de vida. Os estudos de Mayol (1996) e os de Velho (2002) foram
referências importantes para a orientação inicial deste trabalho que se dedica à história de
bairros. As pesquisas dos antropólogos advertiram sobre a propriedade de transpor as construções exclusivamente sociológicas e as análises socioetnográficas da vida cotidiana, propondo uma solução intermediária por meio do entrelaçamento de ambas. Um registro dessa
natureza teria o intuito de compreender, na medida do possível, os percursos dos homens
que construíram o lugar, no que diz respeito ao seu conjunto arquitetônico e urbanístico e
suas práticas culturais. À luz dessas reflexões, iniciamos a elaboração de uma versão complementar para a história de Goiânia que privilegia o cotidiano. Para construir nosso corpus de
pesquisa, elegemos alguns de seus bairros, recolhemos depoimentos de antigos moradores e
levantamos documentações sobre suas histórias. Assim, este artigo apresenta os resultados
parciais de nosso trabalho sobre os bairros Jardim Goiás e o Setor Aeroporto.
Palavras-chave: Cotidiano, bairro, memória, paisagem, Goiânia
Quando a traição se transforma em objeto
histórico: analisando a Medeia de Vianinha
Amanda Maria Steinbach- (UFU)
A tragédia grega “Medeia” de Eurípedes vem sendo objeto de análises e adaptações ao longo dos séculos. Em 1972, Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, adaptou o referido texto para
ser Caso Especial veiculado pela Rede Globo de Televisão. Tem sido recorrente uma análise
de seu texto que interpreta a personagem de Jasão sob a ótica da traição. Contudo, uma
análise que leva em consideração as especificidades do conjunto de sua obra pode dar ao
personagem um caráter mais profundo e humano possibilitando, consequentemente, novos olhares para a peça. Assim, é objetivo desse trabalho analisar o vídeo do caso especial
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“Medeia: uma tragédia brasileira”, percebendo na cena de que outras maneiras o conceito
de traição pode ser interpretado.
Passado e Presente: Luas e Luas Um
Diálogo entre Tempos
Ana Paula Teixeira
Mestranda pela UFU
[email protected]
Apresento aqui uma parte da pesquisa que realizo no Mestrado em História da Universidade
Federal de Uberlândia. Trata-se de uma análise sobre a peça Luas e Luas do grupo Zabriskie,
de Goiânia, trazendo seu momento de realização para diálogo com o contexto de elaboração do teatro denominado como Commedia dell’Arte buscando. Com esse diálogo ressalto
pontos de convergências e diferenças entre as duas formas artísticas. Uso duas filmagens
dessa peça, uma realizada em 2005 e outra em 2006, como documentos que permitem observar dois momentos de apresentação da obra. Ao estudar as filmagens identifico algumas
características em comum com a Commedia dell’Arte. Busco então, analisando um teatro
feito entre os séculos XVI e XVIII, com maior intensidade na Itália, e outro contemporâneo,
discutir a relação do contexto das duas manifestações performáticas com a forma de sua realização, ou seja, como o momento em que elas foram construídas proporcionou elaborações
parecidas mas que mantém peculiaridades. Dessa forma, observo e discuto a historicidade
de um modo de atuação teatral que é constantemente reconstruído e reelaborado.
Cyrano De Bergerac No Brasil: A Ressignificação
Teatral nas Mãos De Flávio Rangel
André Luis Bertelli Duarte
Mestrando em História pela Universidade Federal de Uberlândia.
[email protected]
Obra-prima do dramaturgo francês Edmond Rostand, Cyrano de Bergerac nunca havia sido
montada no Brasil por uma companhia teatral profissional. No ano de 1985, entretanto, o
texto foi levado à cena pela Companhia Estável de Repertório, com direção de Flávio Rangel,
na cidade de São Paulo. Esta comunicação visa lançar um olhar sobre o processo de ressignificação teatral realizado pelo diretor no referido espetáculo, o que o caracteriza como um
momento de uma história vivida no tempo presente.
Palavras-chave: Cyrano de Bergerac; historicidade; cena teatral; Flávio Rangel.
A voz na arte de conduzir o corpo:
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memória e sensibilidade
Cristhianne Lopes do Nascimento
Mestranda pela PUC/GO
[email protected]
Este trabalho pretende apresentar os primeiros passos da pesquisa que realizo no mestrado
em historia da PUC / GO “Memória e representação: uma busca da identidade vocal para
o ator goiano”. A pesquisa pretende descrever alguns dos elementos componentes da diversidade vocal na formação e prática dos atores goianos. Considera-se fundamentalmente os
aspectos memorialísticos culturais e poéticos (linguagem e técnica), tendo como foco alguns
conceitos de percepção, emoção e ação apresentados por Henri Bergson. Nesse sentido, os
fenômenos culturais serão compreendidos como consolidadores da cena goiana e de seus
processos criativos vocais.
Palavras-chave: voz, corpo-memória, respiração, cena goiana.
Eu fiz tudo pra você gostar de mim: a construção
da legenda de Carmen Miranda. (1929 – 1930)
Daniela Daflon Yunes – (PUC/Rio)
[email protected]
A cantora Carmen Miranda se tornou símbolo da identidade brasileira na década de 1930, definindo certa marca cultural para o país. Em vista disso, a intérprete de sambas e marchinhas é reconhecida, ainda nos dias de hoje, como um dos mais importantes nomes da música
popular brasileira. A força da legenda que a consolidou como ícone nacional aprisiona, ainda
hoje, a memória da cantora. Ao fazer de sua trajetória um meio de discutir o amplo processo
de configuração de uma identidade que se pretende nacional, a presente apresentação se
inspira nas perspectivas de alguns autores que tomam a relação entre mundos culturais distintos, em especial no contexto homogeneizador da festa e da celebração, como problema.
Se a legenda construída sobre a imagem da cantora é o ponto de partida deste trabalho, compreender a maneira como se deu esse processo, apontando possíveis tradições comuns que
deram à figura de Carmen Miranda tal popularidade, é o objetivo final desta apresentação.
Palavras-chave: Identidade Cultural; Carmen Miranda; Cultura Popular.
Palavra, som e música no Mamulengo Riso do
Povo: organização sonora de um espetáculo
popular de Teatro de Bonecos
Izabela Costa Brochado
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Diretora do Instituto de Artes- (IdA/UnB)
[email protected]
Kaise Helena Teixeira Ribeiro
Mestre em Artes pela (UnB)
[email protected]
Neste trabalho são analisados alguns dos aspectos formais pertinentes à performance do
Mamulengo Riso do Povo de Mestre Zé de Vina, mamulengueiro da região da Zona da Mata
Norte de Pernambuco. Nele, apresentamos alguns dos aspectos formais e organizacionais
pertinentes à dramaturgia e à musicalidade do Mamulengo Riso do Povo de Mestre Zé de
Vina. Mamulengo Riso do Povo pode ser compreendido como a conjunção entre um determinado conjunto de artistas, denominados ‘folgazões’ e o conjunto de elementos que compõem a sua apresentação em cena – desde o seu repertório de personagens e de situações
dramáticas, música entre outros, até os suportes físicos pertinentes a ela. A apresentação
é denominada ‘brincadeira’ de Mamulengo e ‘brincar’ é a denominação que corresponde a
atuar ou estar em cena se apresentando. Pesquisas indicam que este teatro de bonecos surgiu em Pernambuco há cerca de dois séculos, se expandindo depois para outros estados do
Nordeste, aonde sobrevive até os dias atuais. Assim, a oralidade é considerada um aspecto
constitutivo dessa forma de teatro de bonecos popular e determinante na constituição das
especificidades abordadas.
Palavras chave: Mamulengo, teatro e musicalidade.
Nossa Senhora e a Índia do Mato:
História Noturna do Risca-Faca
John Cowart Dawsey
Professor Titular do Departamento de Antropologia – (FFLCH/USP)
[email protected]
No Jardim das Flores, sobre as cinzas do antigo bairro do Risca-Faca, vivem as filhas – ou netas
e bisnetas – de escravas e “índias laçadas no mato”. Muitas delas também se consideram filhas
de Nossa Senhora. A justaposição das linhagens maternas pode suscitar um efeito de montagem. Nas inervações corporais de Nossas Senhoras não lampejam, também, os gestos de índias
e escravas? Nos subterrâneos dos símbolos encontram-se indícios de “histórias noturnas” de
Nossa Senhora. Sobre esse terreno, o estudo de processos de povoamento em Piracicaba, no interior paulista, requer uma espécie de arqueologia: um duplo deslocamento, de um bandeirante
povoador a Nossa Senhora, e de Nossa Senhora às índias e escravas “laçadas no mato”. Nesses
fundos, o gesto de uma mulher “bóia-fria” que “fez picadinho de um homem” agita as sombras
de uma nação. Creio que o teatro de Antonin Artaud e psicanálise de Julia Kristeva nos ajudam
a entender os processos de construção dessas personagens no palco do Risca-Faca.
Palavras-chave: Nossa Senhora, História noturna, bandeirantes
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O Centenário da Independência do Brasil
comemorado no Museu Histórico
Nacional, no Rio de Janeiro
Julia Furia Costa - (UnB)
[email protected]
O presente trabalho baseia-se na minha monografia de final de curso. Na qual pesquisei a
relação entre a comemoração do Centenário da Independência do Brasil, em 1922, na cidade
do Rio de Janeiro, e a atuação do Museu Histórico Nacional (MHN) no evento. Com base na
análise de periódicos, anais do MHN, crônicas e jornais do período relacionou-se a exposição
preparada pela instituição para a celebração do Centenário (o MHN foi parte da Exposição
Internacional do Centenário) com o debate histórico que articulou o evento. Este debate
ocorreu em torno da questão da identidade nacional. Busco localizar na Celebração do Centenário, representada pelo MHN, o debate em torno da identidade nacional.
Palavras-chave: Centenário da Independência, Museu Histórico, Identidade Nacional.
A República de Luto: Funerais Cívicos
de Joaquim Nabuco
Luigi Bonafé
Doutor em História / Programa de Pós-Graduação em História da UFF
[email protected]
Objeto de quatro dias de funerais oficiais na capital federal, em 1910, o primeiro embaixador brasileiro, Joaquim Nabuco, foi consagrado herói nacional pela República brasileira.
Este trabalho visa identificar, retrospectivamente, como, quem, quando, onde, por que, para
quê e para quem Nabuco foi feito herói nacional. A análise dos funerais cívicos de Joaquim
Nabuco pretende se beneficiar de uma dupla perspectiva interpretativa. Trata-se de atentar
para o ritual cívico republicano com uma perspectiva típica daquilo que se tem chamado
de “nova” história política, associando-a às virtudes do approach antropológico. Funerais
de grandes homens públicos eram uma recorrência durante a Primeira República: foi assim
com os corpos de Machado de Assis (1908), Afonso Pena (1909), Euclides da Cunha (1909),
Barão do Rio Branco (1912), Osvaldo Cruz (1917), Joaquim Nabuco (1910), Pinheiro Machado
(1915) e Rodrigues Alves (1921), entre outros. De acordo com João Felipe Gonçalves, eram
“anti-carnavais da morte”, por meio dos quais o novo regime buscava contrapor a ordem e a
solenidade à carnavalização e à subversão das hierarquias sociais. Constituíram, portanto,
uma prática cultural largamente mobilizada pela Primeira República como forma de legitimar simbolicamente o regime.
Palavras-chave: Joaquim Nabuco – heróis nacionais – rituais cívicos
Representações para a cultura goiana125
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Formação de Identidades e Linguagem Cultural
na manifestação da catira
Maisa França Teixeira
Mestranda pela IESA/UFG
[email protected]
Maria Geralda de Almeida
Professora Titular do Programa de Pesquisa e Pós-Graduação do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás – IESA/UFG.
[email protected]
O presente estudo trata-se de descrever e analisar as diferentes linguagens da manifestação cultural da Catira, em que o canto e a dança são elementos centrais da construção de
sua identidade cultural na área do objeto da pesquisa, o estado de Goiás - Brasil. O estudo
cultural deve ser compreendido como uma maneira de reconhecer e trazer à tona as diversidades que se atualizam de maneira criativa e ininterrupta por meio de linguagens artísticas e
expressões culturais, construindo identidades e oferecendo subsídios para as representações
históricas. A metodologia utilizada foi à pesquisa teórica e a consulta a uma bibliografia diversa que norteia o tema proposto. Na discussão dos resultados, verificou-se que a linguagem
criada é integrante da identidade cultural da catira, manifestada pelas performances oriundas de nossos antepassados.
Palavras-chave: Identidades e Linguagem Cultural. Manifestação da Catira. Goiás.
Modernismo na arquitetura: as performances
dos jovens arquitetos goianos
Márcia Metran de Mello
Professora da UFG
[email protected]
No Brasil, jovens arquitetos formados no Rio de Janeiro e em São Paulo nos anos de 1950 e
1960, migraram para outras regiões do país ou voltaram para suas cidades de origem para
exercerem sua profissão. Foram os responsáveis pela propagação do modernismo na arquitetura. Eles formavam uma “rede humana”, no sentido descrito pelo sociólogo Norbert Elias,
que a compara a fios de tecido isolados que se ligam uns aos outros, mantendo uma relação
recíproca, dando origem a um sistema de tensões. Em Goiânia, na rede modernista ligavamse vários “fios”, jovens arquitetos goianos recém formados que fizeram um trabalho admirável de divulgação das idéias modernistas e projetaram obras de qualidade que se efetivaram
na paisagem urbana, apresentando, cada um, linguagem e criatividade próprias e, ao mesmo
tempo, mantendo um cerne modernista comum a todos.
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Performance verbal e duplicidade do
ser na poesia de Carlos Drummond de Andrade
Marcos Rogério Cordeiro
Professor Adjunto de Literatura Brasileira, Faculdade de Letras – UFMG
[email protected]
O trabalho propõe analisar o poema “Procura da poesia” de Carlos Drummond de Andrade,
enfatizando questões de linguagem e poética. A hipótese é que a poesia de Drummond apresenta uma disjunção estrutural que cria um efeito bastante complexo: por um lado, encontramos uma disjunção do ser da poesia que se desdobra, por sua vez, na estruturação das
imagens e problemas de linguagem que a poesia apresenta. Pretende-se mostrar que esse
achado formal é um dispositivo performativo por excelência: a força da significação verbal
depende diretamente de sua disciplina formal, desenvolvendo, assim, uma poética baseada
no movimento ininterrupto de desidentificação do ser do poema e a consequente criação de
outro ser, oposto e complementar ao primeiro. O confronto dessas duas identidades é um
resultado poetológico da criação da noção de sujeito e não a certificação de seu estatuto ontológico. Assim, veremos que a ação performativa da linguagem no poema drummondiano
está intimamente ligada à sua concepção de ser como uma coalescência de forças e tensões
que se confrontam e se conformam continuamente.
Heráclito e a cidade: cultura performativa
na arcaica Éfeso
Marcus Mota
Professor de Teoria de História do Teatro na UnB
[email protected]
Em diversos fragmentos de Heráclito há referências a eventos performativos por meios dos
quais os cidadãos de arcaica Éfeso interagem e constroem seus vínculos comunais. Entre eles
destacam-se os fragmentos 15,104,121, que, respectivamente apresentam : a-procissão religiosa a Dioniso;b- disputa entre rapsodos; e c-assembléia política.Neste trabalho analiso como
essas cenas do cotidiano de Éfeso são descritas e criticadas por Heráclito, o qual reage a uma
saturação de eventos performativos na cidade. A compreensão da argumentação antiperformativa de Heráclito proporciona o acesso a um momento formador da longa tradição que
identifica eventos públicos como potencialmente perigosos ao equilíblio social, como se vê em
A República, de Platão, e J.-J. Rousseau, na Carta a d’Alembert,entre tantos autores e obras.
O Brasil nos palcos do Arena: o operário ganha
a cena em Eles não usam Black Tie de Guarnieri
Nadia Ribeiro - (UFU)
[email protected]
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Esta comunicação discutirá o texto dramático Eles não usam Black-tie de Gianfrancesco
Guarnieri, encenado pela primeira vez no final dos anos cinquenta. A motivação inicial desse
trabalho será revelar seus elementos constitutivos e as diferentes possibilidades de interpretá-los, assim como as atribuições feitas pela critica especializada ao espetáculo, alçando-o
como uma “obra prima”.
Eles não usam Black-tie é a primeira obra de Guarnieri e também um marco na dramaturgia
nacional. Encenada pelo Teatro de Arena de São Paulo no ano de 1958 para encerrar suas
atividades, foi essa encenação que deu novo animo ao Grupo. Sucesso de público e de crítica
Black-tie é o primeiro texto nacional a abordar a vida de operários em greve, levando aos
palcos os problemas sociais causados pela industrialização, entre eles a luta por melhores
salários. Desse embate surgem vários conflitos que, talvez, se resolvam nos palcos.
Fidel Castro em cena: o Cuballet em Goiânia
(1995-2000)
Rejane Bonomi Schifino
Mestranda em História pela UFG
[email protected]
Em 1995, o Centro Pro-Danza, órgão vinculado ao Ballet Nacional de Cuba, e uma academia
de dança particular promoveram em Goiânia um curso intensivo de balé clássico que foi
ministrado por bailarinos e maitres interessados em divulgar a técnica e escola de dança cubana fora de seu país. O referido curso, entretanto, não se restringiu somente ao seu papel de
ensinar a alunos e profissionais brasileiros da dança as bases técnicas da escola cubana: ele
acabou se transformando na porta de entrada, na cidade, tanto da técnica de dança cubana
quanto de profissionais oriundos dos quadros do Ballet Nacional de Cuba, alguns dos quais
optaram por fixar residência definitiva na capital goiana. Através da análise das fontes disponíveis, intenta-se, neste artigo, verificar possíveis desdobramentos deste acontecimento
sobre a dança (e seu ensino) em Goiânia.
Palavras-chave: Dança; Cuballet; Goiânia.
“Sete Minutos” (2002, Antonio Fagundes):
Do palco do teatro para a tela da TV
Talitta Tatiane Martins Freitas (UFO)
[email protected]
A comunicação pretende discutir o processo que resultou na filmagem e editoração da peça
“Sete Minutos”, escrita e encenada em 2002 pelo autor/ator/produtor Antonio Fagundes.
Logo, esse será o ponto de partida para que se estabeleça uma discussão mais ampla a respeito de questões concernentes, por exemplo, à pertinência (ou não) do teatro filmado, o
processo de reprodutibilidade de uma arte que em essência é marcada pela efemeridade, o
registro fílmico como fonte documental, etc.
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Desse ponto de vista, parte-se de uma situação específica (a comercialização do DVD com a
filmagem de “Sete Minutos”, produzido em 2003) a fim de que se possa extrapolá-la, ampliando a sua discussão.
Palavras-chave: Teatro Filmado - “Sete Minutos” - Efemeridade
Para uma arte afirmativa, o exercício da
liberdade: A problemática do espectador
conforme Frederico Morais
Tamara Silva Chagas
Mestranda em Artes do PPGA/UFES
[email protected]
As décadas de 60/70 foram contexto de uma ampla reterritorialização dos conceitos tradicionais do âmbito da arte, defasados perante o declínio da narrativa formalista da Arte e o advento da pós-modernidade. A emergência de um espectador atuante, elemento constituinte
da obra, é, nesse ínterim, digna de nota. O crítico Frederico Morais contribuiu para tal debate ao propor uma aproximação entre a esfera da arte e a realidade sócio-política brasileira
nos Anos de Chumbo, delineando o modo como a experiência criativa do público, em contato com as propostas engajadas da arte-guerrilha, poderia instigá-lo a posicionar-se diante
da conjuntura política do país à época. Em prejuízo da conduta exigida do público pelo “cubo
branco” – a saber, a instituição museológica tradicional –, calcada em uma ideologia elitista,
que promulga a contemplação passiva de obras, Morais, em consonância com as reflexões
de Herbert Marcuse, defendeu a imersão do público no ato criador como um exercício libertário capaz de desalienar o espectador-sujeito de estruturas sociais excludentes.
Palavras-chave: Frederico Morais; espectador; arte e política.
Festa de Folia De Reis como performance
e lugar de memória na cidade de QuirinópolisGo: Implicação Identitária
Wanderleia Silva Nogueira
Mestranda em História pela PUC/GO
wanderleiasnogueira@hotmal
Trata-se de uma problemática de analise critica, entre os conceitos Memória, Tradição, Família e identidade, discutindo a temática: A Festa de Folia de Reis como Performance e lugar de
Memória na Cidade de Quirinópolis – GO: Implicação Identitária, tecendo memórias coletivas sobre o passado e o presente da cidade, discutindo tempo e espaço como estratégia para
compreender de que forma a memória se materializa na cultura local. O objetivo é repensar
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a festa de Folia de Reis, como preservadora de uma tradição. E desta forma examinar as tensões entre as forças sociais, ou seja, as contradições encontradas na produção simbólica e os
significados e significantes da história.
Palavras-chave: Memória, Família e Identidade. Um estudo da abordagem da pesquisa em Arte
Zeloi Martins dos Santos
Professora da Faculdade de Artes do Paraná Curitiba-Pr
[email protected] ou [email protected]
O objetivo da proposta de pesquisa é fomentar a discussão e a reflexão sobre as formas de
produção e propagação das abordagens de pesquisa em arte. Em consonância com a expansão desse campo de reflexão, a proposta intenta tornar-se um lócus interdisciplinar de debate
em torno dos conceitos e metodologias de pesquisa sobre temas afins, tais como: música, teatro, artes visuais, dança, cinema, identidades, multiculturalismo, memória, história. Compreende-se que a pesquisa em artes, ainda que lance mão de procedimentos metodológicos
diferenciados dos utilizados pela pesquisa científica, também produz conhecimentos. Os
fenômenos artísticos, enquanto objeto de pesquisa, permitem uma análise que privilegia a
historicidade e tradição cultural do fenômeno analisado.
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ST 13
Olhares e vivências urbanas no Brasil caipira durante a
primeira república
“A mesma praça, o mesmo banco...”: memórias e
vivências nas narrativas sobre a Praça ‘Joaquim
Antonio Pereira’ em Fernandópolis (SP)
Aline Alves Machado (FEF)
[email protected]
O propósito deste trabalho será o de compreender as memórias e vivências narradas por moradores da cidade de Fernandópolis, a partir de um de seus pontos referenciais, a praça “Joaquim
Antônio Pereira”, marco simbólico de fundação da antiga “Vila Pereira”, uma das áreas de surgimento do município e da atual área central da cidade. Entendemos a praça como um espaço
privilegiado de sociabilidades, conflitos, convívios e identidade social, em cujo entorno efetuase um processo de formação e/ou organização do núcleo urbano e suas principais atividades
(comerciais ou residenciais). Nosso intuito consistirá em analisar o papel dos sujeitos (narradores) e suas concepções sobre a cidade e, em particular, sobre o lugar da praça em suas
memórias e vivências. Daí será possível entender a história da cidade – ou de uma parte significativa de sua trajetória – através do estudo de uma praça na vida das pessoas.
Cidade como “berço” de culturas: Juiz de Fora
sob a ótima de Albino Esteves em 1915
Ana Lúcia Fiorot de Souza
Doutoranda em História Social na USP
[email protected]
Na presente comunicação analisaremos o álbum de Juiz de Fora, publicado em 1915, organizado por Albino Esteves e Oscar Vidal Barbosa Lage. A edição teve por objetivo divulgar a
cidade e atrair capitais e imigrantes (especialmente italianos) visando impulsionar o crescimento local. Assim, a urbs é apresentada como ordeira, progressista, acolhedora e dotada de
benesses culturais como estabelecimentos de ensinos para ambos os sexos e poderes aquisitivos distintos, espaços de cine-teatro, entre outros, direcionados aos entretenimentos familiares e da juventude. Assim, observaremos, através dos textos e imagens, como os espaços
são divulgados como bens a serem partilhados por todos, mas, na prática, funcionam como
elementos de segregação social.
Palavras- Chave: Juiz de Fora - História; imprensa – História; cidade - imagem.
O Almanaque de Piracicaba do ano de 1900:
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Historia e Memória
Arrovani Luiz Fonceca
[email protected]
O almanaque de Piracicaba de 1900 foi o único a ser publicado na Primeira Republica. Contando com mais de 400 paginas reúne todos os aspectos da vida econômica e sociocultural desta
cidade do interior paulista no limiar da experiência cultural da chamada Belle Epoque. Diante do seu acervo de informações procuramos compreender a tênue fronteira entre Historia
e Memória presentes neste objeto de estudo. No cruzamento desses territórios percebemos
os choques temporais nesse despertar de transformações promovidas pela cafeicultura no
qual o Piracicaba também foi palco. Não perder de vista o passado e confirmar o presente nas
paginas do almanaque torna-se portanto uma vereda de mao dupla levando-nos a entender
o objeto almanaque como publicação reveladora das ambivalências da modernidade local.
O caminho para esta compreensão perpassa pela analise dos personagens de sua historia,
espaços urbanos, profissões, propagandas, textos literários, etc.
Aboios e currais: Eurico Boaventura
(re)escritor da história do Brasil
Clóvis Ramaiana Oliveira
Professor assistente UFB
[email protected]
Só os tabaréus como nós sertanejos poderão gostar destas páginas. Com esta frase, na introdução do seu livro Fidalgos e vaqueiros (1989), Eurico Boaventura (1909-1974) tentou
sintetizar um perfil do receptor ideal para as páginas que se seguiriam, esquivando-se de
leitores cultos e urbanos, optou por brutos e roceiros. A escolha da comunidade leitora é um
poderoso indício do esforço do autor de produzir, para além dos silenciamentos e esquecimentos, uma história do Brasil (especialmente de Feira de Santana-Ba, sua cidade natal)
sob uma perspectiva tabaroa, enfatizando a desconstrução do mundo rural pela avançada
urbana posterior à Primeira Guerra. Um dos aspectos da operação de re-escrita encetada
por Boaventura, foi a utilização de práticas e materiais característicos da vida ruralizada,
como instrumentos para a construção do texto. Delineando fazeres e equipamentos, o poeta
feirense produziu uma possibilidade de rastreamento das histórias do sertão e dos sertanejos pela via da cultura material. Nesta comunicação, exploro as páginas da obra euriquiana
procurando desvendar as respostas dadas pelo escritor ao processo de urbanização brasileira (sobretudo o feirense), tentando desvendar as oposições campo/cidade explicitadas nos
conflitos de práticas e equipamentos.
Villa de Jatahy: normas e condutas sociais
urbanas no Brasil Caipira
Estael de Lima Gonçalves – (PUC/Goiás)
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Mestranda em História pela PUC/ Goiás.
[email protected]
O crescimento e o desenvolvimento das cidades durante o século XIX, principalmente durante a primeira República no Brasil, revela novas necessidades de pensar a cidade e também
de vivê-la. Torna-se urgente consolidar formas de organizar a cidades e seus habitantes. Essas necessidades se estendem para além das grandes cidades européias e passa a ser realidade nas pequenas cidades do chamado Brasil Caipira. Mediante documentação arquivística
buscamos analisar como certos mecanismos foram usados para organizar a conduta social e
de como esses elementos, muitas vezes desprezados pela historiografia tradicional, podem
ser ricos em recursos para o fazer histórico.
Palavras-chave: urbano, normatização, Jataí
O público e o privado na urbanização de uma
cidade: o caso de Patrocínio Paulista (1900-1915)
Fabiano Junqueira de Freitas
Mestre em História pela UNESP
[email protected]
No início do século XX, nas cidades da nova região cafeeira do interior de São Paulo localizado na área nordeste do Estado, sucedem-se os primeiros e inequívocos sinais de uma
modernidade que parecia prenunciar a ruptura com a tradição e a estética ‘coloniais’, numa
sanha de apagar os resquícios do atraso dos tempos monárquicos. Para conceber tal ‘projeto’,
as elites paulistas, dispostos a hipertrofiar seus poderes e interesses privados, passaram a
enfronhar-se no interior de Câmaras Municipais. Esse foi o caso de Patrocínio Paulista, onde
iremos analisar as nuances entre público e o privado através dos projetos de modernização
urbana entre 1900 e 1915.
O Forjar da Modernidade:
Piracicaba na Bélle Époque
Fábio Augusto Pacano
Docente da FATEC (Piracicaba), Centro Universitário Barão de Mauá (Ribeirão Preto) e do
CNEC (Capivari).
[email protected]
Neste trabalho vamos a “Belle Époque” em Piracicaba através das medidas adotadas pela
municipalidade no sentido de emprestar racionalidade às práticas urbanas, tendo em vista
os projetos de construção de uma cidade moderna que deveria negar tudo o que remetesse
ao campo e ao passado. Neste sentido, destacam-se na Câmara Municipal e na imprensa reclames pedindo a retirada das cocheiras do perímetro urbano, ou então a proibição do trânsito dos “incomodativos e selvagens” carros de boi no centro da cidade. Incontáveis foram as
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manifestações solicitando o “apedregulhamento de ruas e praças da cidade”. Vamos abordar
também as sociabilidades em público, pois também foram objetos de apreciação do poder
público, que determinou toque de recolher, numa tentativa de controlar o movimento noturno, principalmente em bares e tabernas, bem como os festejos populares, que igualmente
despertavam a ira da municipalidade, pois era constituída de batuque, jogatina desenfreada,
‘gafieira’ em grande estilo.
Palavras-chave: Piracicaba, Belle Époque, Urbanização.
A influência das elites locais na política de
Ribeirão Preto entre os anos 1900-1920:
ações de Maximiano Junqueira
Fábio Henrique Maghine
Centro Universitário Barão de Mauá
[email protected]
Este presente trabalho pretende analisar a influência das elites locais na política de Ribeirão
Preto, entre os anos de 1900 e 1920. Trata-se, inicialmente, de focalizar as transformações que
a modernidade promoveu na cidade de Ribeirão Preto em seus amplos aspectos: políticos,
econômicos, sociais e culturais. Num segundo momento e como objetivo central trataremos
de comentar as ações das elites locais no processo de modernização em questão, de Manoel
Maximiano Junqueira, membro ilustre desse grupo enfatizando as ações, que exerceu grande
influência na política local deste período.
Palavras-chave: modernidade; elites políticas; Maximiano Junqueira.
Estratégias, redes, subjetividades: a trajetória dos
imigrantes alemães em Rio Claro (1870-1910)
Flávia Mengardo Gouvêa
Mestranda em História pela UNESP-Franca
[email protected]
O objetivo do trabalho será o de analisar a trajetória da imigração alemã no município de
Rio Claro, entre o último quartel do Segundo Reinado e as primeiras décadas republicanas, através das experiências de modernização e sociabilidade urbanas vividas pelas famílias
alemães aportadas no citado município paulista. Neste sentido, procuraremos debater as
modalidades de inserção e de participação desses elementos na vida urbana de Rio Claro,
e de que formas eles foram importantes para as mudanças sociais, políticas, econômicas e
urbanas vividas pela cidade durante o período abordado.
Palavras-chave: Imigração, Rio Claro, Urbanização.
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Polissemia barroca no plano urbano de uma
localidade paulista: apontamento sobre
a ação do clero católico na formação do
arraial de Barretos em fins do século XIX
Humberto Perinelli Neto
Professor Assistente do Departamento de Educação da UNESP (S. J. do Rio Preto)
[email protected]
A formação do núcleo original do espaço urbano de Barretos (SP) guarda intima relação com
a ação da Igreja Católica. O presente trabalho apresenta a formação do arraial de Barretos,
destacando a ação do clero paulista na delimitação desta localidade e ressaltando que outros aspectos e preocupações se somaram ao “modelo imaginário de cruz” para definição do
plano urbano local, constituindo-o então como sendo uma realidade material polissêmica
e, por conta disso, capaz de traduzir a inspiração barroca de cidade e suas (mercantilização
da terra, centralismo político, importância das avenidas, etc). Dentre os outros aspectos responsáveis pela definição do plano urbano local citam-se: busca de certo prestígio e oportunidades políticas/econômicas por parte das famílias doadoras, preocupação do clero paulista
com sua área de influência e o controle do espaço urbano em relação aos grupos humanos
associados à economia pecuária (peões, boiadeiros, homens livres pobres e prostitutas).
Palavras-chave: modernidade; cidade e urbanismo; Barretos.
Escritas do Feminismo: Esther Monteiro e a
imprensa jornalística de Ribeirão Preto em 1918
Jorge Luiz de França
Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pelo Centro Universitário Barão de Mauá/
Ribeirão [email protected]
Neste desiderato buscamos identificar por intermédio das ações da imprensa jornalística, as
possíveis falas e/ou silêncio da escrita feminina no micro local de Ribeirão Preto no período
de 1918. Neste período, no recôndito do mundo caipira, em particular a cidade de Ribeirão
Preto vivenciava inovações e técnicas. Tais novidades imprimiram rapidez nos transportes,
comunicações e mudanças nas relações de trabalho.
Palavras-chave: Feminismo, Imprensa, Personagens Anônimas.
Trajetórias femininas: reflexos do
comunismo em Fernandópolis.
Laís Regina Casquel
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Graduada em História –(FEF)
[email protected]
A construção da visão de mulher do lar, mãe e esposa são operações subjetivas que se entrelaçam e unem-se quando pensamos no sujeito histórico feminino. Com o feminismo, as
mulheres ganham um lugar na história, na qualidade de sujeito históricos. Mas esta mudança ainda não chegou em inúmeras cidades que continuam contando sua história a partir
do viés masculino. E onde estão as mulheres de Fernandópolis? Falar de mulheres em Fernandópolis então é também fazer um reflexo do comunismo, e das transformações ocorridas
no cotidiano feminino, assim como os rumos políticos que começaram no inicio da década
de 1920 em âmbito nacional e que chegavam àquela pequena cidade paulista, tais como as
mudanças no comportamento feminino. Baseando-nos na análise de artigos jornalísticos,
obras de historiadores locais, monografias, dissertações e teses, e, em particular, das fontes
orais, queremos abordar a importância da mulher fernandopolense para a história e, em especial, para a história do gênero entrelaçada ao movimento comunista.
Palavras-chave: Gênero, Comunismo, Fernandópolis.
Ribeirão Preto, SP: a construção discursiva da
modernidade no jornal “A Cidade” (1905 e 1926)
Leonardo Marques Fernandes Aguiar
Centro Universitário Barão de Mauá
[email protected]
O período conhecido como Belle Époque Caipira marca o início da modernidade em Ribeirão Preto. A partir do final do século XIX, a região passa a se desenvolver econômica e
politicamente, devido à economia cafeeira. A construção da ferrovia interligando o Oeste
Paulista até o Porto de Santos, a vinda de homens interessados na produção cafeeira que se
desenvolvia, entre outros fatores modificaram os hábitos e costumes do cidadão local. A fim
de divulgar as novidades que chegavam à cidade, a elite passa a utilizar a imprensa como formar de impor os padrões que ela estabeleceria, apresentando produtos a serem consumidos
e comportamentos a serem vivenciados. A analise dos anúncios publicados nos jornais da
época possibilita entender os hábitos com os quais se pretendia construir um estilo de vida
moderno na Petit Paris. Porém a modernidade não apaga totalmente os antigos hábitos dos
cidadãos, fazendo com que os aspectos modernos e arcaicos estariam constantemente interligados no dia-a-dia da Belle Époque Caipira.
Palavras-chave: modernidade; propagandas de jornais; Ribeirão Preto.
A Modernidade: Multiplicas representações
de Ribeirão Preto, (1920 - 1930).
Lucas Vicente
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Graduado na Barão de Mauá (Ribeirão Preto)
[email protected]
Podemos observar que na Primeira República, processo de modernização de São Paulo, é
imbuído de novos conceitos materiais históricos, como pelo valoroso lucro cafeicultor que
induz a sociedade ao novo compasso social, baseado na racionalidade do capitalismo, industrialização, da expansão dos centros urbanos e dos novos símbolos do progresso. Para analisarmos estas transformações coletivas e mentais em Ribeirão Preto, estudo dos Almanaques
e Estados Municípios, é um elemento privilegiado para uma “leitura” específica das relações
entre o imaginário urbano e da modernidade. Cabendo ao historiador à tarefa de decifrar os
códigos simbólicos que formam e informam as múltiplas “representações” da cidade submersas pelas pretensões de choque de poder, nas as articulações discursivas responsáveis
pela tentativa de instituir representações “desejadas” de si e do outro.
Palavras-chave:Ribeirão Preto - História Cultural - Historia dos Almanaques.
Entre a força e as astúcias: política
e modernização de Ribeirão Preto (1883-1920)
Lúcia de Rezende Jayme
Universidade Federal de Uberlândia
[email protected]
Neste trabalho, pretendemos demonstrar o crescimento da cidade de Ribeirão Preto entrelaçado a perspectivas de enriquecimento de posseiros e, posteriormente, a chegantes também ávidos por enricarem a qualquer custo. Valendo-nos de discussões bibliográficas acerca da história
ribeirãopretana e a interpretação de fontes, percebemos a forma que o bucaneirismo do capital
transformava-se em medidas públicas em nome da modernização da cidade, o modo em que
interesses de poucos eram saciados pelo trabalho daqueles que pouco ou nenhum acesso tiveram aos melhoramentos citadinos. Nem tudo, modernidade ou capitalismo, fizeram desmanchar. Ideais irromperam, transformações mil sucederam, mas, em tantos aspectos, Ribeirão
permaneceu sertão, território daqueles que bem souberam usar força e astúcias.
Palavras-chave: Ribeirão Preto, modernidade, política.
Fernandópolis: poder e espaço público
regulador – o caso das ruas
Nattan Ricardo de Campos
Graduado em História (FEF)
[email protected]
As cidades e a concepção que se tem delas vêm se transformado ao longo da historia. A
experiência paradoxal da modernidade (Berman) ao anular fronteiras raciais, geográficas,
de nacionalidade, de culturas, permitiu uma união também paradoxal da espécie humana,
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sendo a cidade o principal palco desta sintomática união. João do Rio denunciou-a quando
afirmou que “... nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades... não porque soframos, com
a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua”,
mostrando um ponto especifico onde tal ação se torna efetiva: a rua. A rua se tornou o espaço
onde o poder público se faz valer atuando como agende mediador desta unificação de pessoas, camuflado por um discurso de ordem ou regulação. Nosso objetivo será o de entender
como esse poder – através do Código de Posturas – funciona na cidade de Fernandópolis e
quais as conexões entre as ações deste poder e as práticas de regulação urbana.
Palavras-chave: Poder Público, Fernandópolis, Ruas.
Entre intervenções, melhoramentos
e perspectivas de embelezamento Campanha/MG (1890-1930)
Patrícia Vargas Lopes de Araujo
Professora Adjunta do Departamento de História da UFV
patrí[email protected]
Essa proposta de trabalho tem como objetivo a análise das intervenções realizadas por políticos e outros agentes sociais, na cidade de Campanha/MG, no período compreendido entre
1890-1930, procurando verificar as ações empreendidas no espaço urbano a partir de três
vetores: a remodelação/melhoramentos, o saneamento e o embelezamento. Além disso,
interessa-nos discutir também questões relacionadas às noções de urbanidade, civilidade e
modernização. Tais preocupações podem se ligar a uma noção mais abrangente: a de melhoramentos, e revelavam a preocupação de que as cidades necessitavam renovar suas feições
a fim de se mostrarem modernas, progressistas e civilizadas. As cidades modernizadas constituir-se-iam a expressão mais representativa do progresso material e civilizatório de finais
do século XX e metade do século XX. Nesse sentido, particularmente, nos propomos tomar
como ponto de reflexão o processo de remodelação e de intervenções urbanísticas, vistos a
partir da pequena cidade de Campanha, no interior de Minas Gerais, buscando compreender
como se incorporavam as aspirações de modernização.
“Ah... as mulheres de Ribeirão Preto!” Representações sociais femininas de Ribeirão Preto/SP
durante a primeira República.
Rafael Cardoso de Mello
Professor dos Cursos de História, Geografia e Pedagogia da FEF/SP.
[email protected]
Este texto foi produzido na intenção de proporcionar um passeio sobre as representações
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femininas da cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, durante a transição do século
XIX para o XX. Levando em consideração uma memória local, fortemente marcada pelos
Cabarés e suas meretrizes, esta pequena comunicação tem como objetivo demonstrar a pluralidade de imagens femininas pouco retratada pelos historiadores locais.
Olhares e vivências de um empreendedor
numa cidade paulista: por uma biografia
de Flávio de Mendonça Uchôa em
Ribeirão Preto (1898-1930)
Rodrigo Ribeiro Paziani
Doutor em História pela UNESP/Campus de Franca
[email protected]
O objetivo do trabalho será o de compreender, por meio de uma biografia histórica, uma
parte significativa da história cultural e urbano-industrial de Ribeirão Preto durante a
Primeira República através da trajetória de Flávio de Mendonça Uchôa, homem pioneiro e
empreendedor, que, no interior do chamado Brasil Caipira, vivenciou experiências singulares nos campos da modernização dos serviços urbanos e na introdução de uma indústria
pesada para o município de Ribeirão Preto, na lenta transição do auge para a crise do café.
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ST 14
Natureza, cultura e representações
Ciência, Natureza e Paisagem em Von Martius
Ana Marcela França de Oliveira
Professora Substituta de História da Arte - UERJ
[email protected]
A idéia no seguinte trabalho é perceber a pintura e os desenhos de paisagem tanto como um
documento histórico como um objeto artístico. No caso das pranchas e dos escritos de Von
Martius encontramos diversas produções relativas à natureza que registram a flora e a paisagem tropical da cidade do Rio de Janeiro de maneira precisa e poética. Nossa idéia será, deste
modo, trabalhar em cima do complexo conceito de paisagem, uma vez que tal conceito, mais
especificamente neste caso, se apóia tanto na representação poética de um lugar quanto na
ilustração científica de um dado espaço. A partir daí analisaremos a construção da paisagem
carioca aos olhos do botânico, vindo em missão para registrar a biodiversidade própria à natureza brasileira. Pensaremos, portanto, o híbrido que acompanha o olhar sobre o ambiente
natural, tensionado entre a exatidão da ciência e a subjetividade do indivíduo, deixandonos espaço para nos perguntarmos que natureza seria essa retratada. Uma natureza “natural” ou recriada sob os olhos do sujeito que a apreende? E seguindo a linha inaugurada por
Humboldt, tais paisagens registradas por Von Martius, então, nos ofereceriam uma fruição
estética despertada em simultaneidade ao exercício de reconhecimento da flora do Rio de
Janeiro do século XIX.
Palavras-chave: Natureza; Paisagem; Von Martius
Paisagens que tracejam histórias e patrimônio:
um olhar para os sítios arqueológicos de
beneditinos – PI
Domingos Alves de Carvalho Júnior
Mestrando – UFPI /Professor -UESPI
[email protected]
O presente estudo pretende oferecer um referencial sobre a arqueologia da paisagem no trabalho de pesquisa dos sítios arqueológicos do município de beneditinos – piauí. o objetivo é
aprofundar as reflexões sobre o espaço dos sítios arqueológicos: pré-históricos e históricos,
no contexto de como se inserem na paisagem natural. a partir de como o homem se apropriou desse espaço como meio de sobrevivência. para tanto teve-se como metodologia a
investigação fundamentada numa pesquisa bibliográfica e de campo na parte sudoeste do
município de beneditinos, onde estão localizados os sítios de arte rupestre toca do ladino e
lajeiros da goiabeira e o sítio histórico o sobrado velho, construção dos missionários jesuítas
do século xvii. o estudo demonstrou que a análise da paisagem oferece elementos/informações importante para a compreensão do material arqueológico evidenciado nas pesquisas.
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Palavras-chave: paisagem. vestígios arqueológicos. beneditinos-PI.
Os campos de uso comum e manejo
de recursos no Pará Provincial (1835-1860)
Eliana Ramos Ferreira
Profª Drª - UFPA
[email protected]
O Art. 1º da Lei de Terras de 1850 normatizava o não estabelecimento de qualquer pessoa
em terrenos devolutos, pertencentes ao Império Brasileiro, senão mediante a relação formal
de compra e venda. Contudo, o presidente da província do Pará, em ofício de abril de 1855,
dirigido ao Vigário da Freguesia de Vizeu, “esclarecia” que era possível o acesso e fixação de
pessoas nos campos de uso comum conforme o art. 5º § 4º da supracitada Lei. Neste trabalho,
pretende-se refletir sobre os impasses em torno dos campos de uso comum, as experiências
individuais e coletivas nas formas de compreender a natureza e os conflitos pelo manejo de
recursos e pela posse da terra.
Palavras-chave: Natureza – Terra – Pará
Memória e paisagem, uma abordagem
cultural através de histórias de vida:
o caso da Colônia do Prata/PA
Flávio Reginaldo Pimentel
Mestrando - UFPA
[email protected]
A presente pesquisa aborda as categorias de memória e paisagem numa perspectiva cultural,
tendo claro que tais abordagens não se limitam como categorias estanques de determinada
disciplina científica. Desse pressuposto, surgiu a necessidade de se estudar a Colônia do
Prata, localizada no município de Igarapé Açu, estado do Pará. Antiga colônia de hansenianos, onde se “depositavam” portadores de hanseníase das mais diversas regiões do Brasil.
Tais sujeitos tornaram-se testemunhos da relação estreita entre memória e paisagem. Nessa
perspectiva ressaltamos que para coleta de material de estudo e análise, utilizamos como
metodologia entrevistas de histórias de vida dos agentes que ainda vivem na colônia, hoje
não mais colônia de hanseníase. A memória, por apresentar um caráter individual, apresenta elementos para entendermos como ocorreram sua constituição e solidificação e como
foi construída para si a percepção da paisagem do lugar.
Palavras-chave: memória, paisagem, cultura
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Revisitando a Reserva Extrativista
Marinha da Baía do Iguape
e repensando a questão cultura-natureza
Glauco Vaz Feijó
Doutorando – UnB
[email protected]
Trata-se a comunicação de novas reflexões oriundas de uma revisita a notas de campo, entrevistas e artigos resultantes de trabalho de pesquisa realizado entre os anos de 2000 e 2001
quando da implantação da Reserva Extrativista Marinha na Baía do Iguape, no Recôncavo Bahiano. Naquele momento tentei interpretar os conflitos presentes na implantação da Reserva
Extrativista, pensando na pluralidade de mundos e na diversidade de processos culturais entre
os diferentes povoados que cercam a Baía do Iguape e destacando o acirramento que me levou
a crer em um conflito de classes aberto. Ainda que abordada, a questão das relações cultura
e natureza teve papel pouco relevante em minhas discussões, o que muda quando, ajudado
por Terry Eagleton, passo a pensar sobre tais relações não mais em termos dicotômicos, mas
sim em termos complementares e dialógicos. É desse revisitar teórico às negras águas do Rio
Paraguaçu que surge em mim a necessidade de voltar a falar do Vale do Iguape.
Quando o centro olha ao redor: usos da
memória no Centro Cultural Bom Jardim
Gyl Giffony Araújo Moura
UFERJ
[email protected]
Propomos nesse trabalho a realização de uma análise acerca dos usos da memória nas estratégias engendradas em centros culturais implementados no espaço urbano periférico, focando na relação equipamento-entorno e nos conflitos e dilemas referentes aos delineamentos arquitetônicos e aos programas sobre memória realizados pela gestão para oportunizar
o acesso do público. Com esse objetivo, traçamos um breve panorama histórico acerca da
emergência desses equipamentos durante o período pós-moderno, sobre sua relação com as
transformações sociais, e, por fim, observamos o caso do Centro Cultural Bom Jardim-CCBJ,
localizado em Fortaleza/CE.
Memórias à beira dos rios: Tocantins e Araguaia
Jocyléia Santana dos Santos
Doutora - Professora Adjunto/UFT
[email protected]
Tive o privilégio de explorar dois originais trabalhos sobre a questão dos rios no To-
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cantins, Caminhos que andam de Kátia Maia e Nas águas do Araguaia de Francisquinha
Laranjeira. Quando os li pela primeira vez, lembrei-me da minha infância em Araguatins,
o município da região conhecida como Bico do Papagaio, no extremo norte tocantinense,
banhado pelo rio Araguaia. O meu cotidiano de “habitante ribeirinha” consistia nas brincadeiras nas praias de areia branca na época da vazante, no observar canoas que iam rápidas
rumo ao outro lado do rio, nas cantigas religiosas, no céu de lua cheia e principalmente, em
ouvir as lendas e estórias. Às margens dos rios era o local de encontro das alteridades e das
relações interétnicas. A navegação tornou-se um meio de vida para o sertanejo. O sertão
pouco povoado, sem estradas e sem correios. Para suprir as carências da região fazia-se o
comércio fluvial com outras cidades abastecendo os povoados com sal, ferramentas, pólvora
e tecidos.Nas artes do fazer da comida caseira, no modo arrastado de conversar do sertanejo,
nos termos lingüísticos utilizados, na vontade de obter notícias dos parentes longínquos e
principalmente, nos dizeres e saberes e sabores do nortense ribeirinho. É história para ouvir
o barulho das águas, mas também as diversas vozes: de negros, de brancos, de índios, de
militares, de comerciantes e de ribeirinhos.
Palavras-chave: Rios, Tocantins, natureza
Da imoralidade do ato antinatural em
Aluízio Azevedo e Júlio Ribeiro
Leandro Thomaz de Almeida
Doutorando Unicamp
[email protected]
Nos romances Livro de uma sogra, de Aluízio Azevedo e A carne, de Júlio Ribeiro, a concepção de moral é estabelecida com base em uma proposta de respeito à natureza. Dessa forma,
o que se vê nessas obras de finais do século XIX é uma defesa dos impulsos naturais contra as
convenções sociais que os reprimem. É possível, portanto, perseguir os desdobramentos da
relação que se estabelece entre moralidade e natureza nesses romances, bem como procurar
perceber em que medida se aproximam ou guardam particularidades em relação a outras
abordagens de caráter semelhante, tais como a de David Hume em Uma investigação sobre
os princípios da moral e Morelly em Código da natureza.
“Jogue sua vida na estrada como quem abriu o
seu coração”: a temática da “viagem” na canção
contracultural brasileira dos anos 1960-1970
Leon Frederico Kaminski
Universidade Federal de Ouro Preto
[email protected]
O presente trabalho visa analisar a temática da “viagem” na canção contracultural brasileira
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das décadas de 1960 e 1970, entendendo-a tanto como expressão do pensamento e práticas
alternativas do período como conformadora desse mesmo ideário. Compreendemos a contracultura como um fenômeno desterritorializado, que passou por processos de ressignificação nos diferentes contextos em que se manifestou. A historiografia costuma enfatizar a
indústria cultural e a expansão dos meios de comunicação como responsáveis pela propagação da contracultura no Brasil, não dando atenção a um importante fator de propagação
do pensamento e das práticas contraculturais, o seu caráter nômade, a âmbito da viagem
como espaço de intercâmbio cultural, de disseminação de idéias. Desta forma, buscamos
a temática da “viagem” em canções tanto de artistas esquecidos como de renomados, analisando algumas de suas dimensões, como o caráter “panfletário” em certas composições, a
psicodelia, a natureza e a liberdade. Consideramos que a presença recorrente do tema indica
não somente uma prática alternativa de contestação, o desbunde, mas também o clima de
fechamento político e a incerteza em termos do futuro do país e da humanidade.
Palavras-chave: contracultura; viagem; desterritorialidade
Do tecer da memória ao desvelar
das imagens: revelando experiências históricas
Marcelo Góes Tavares
Msc. Faculdade Integrada Tiradentes – FITs
[email protected]
Com a presente proposta de trabalho, pretendo refletir sobre a História e a memória, articulando múltiplos sentidos (re)significados construídos por sujeitos sociais através da cultura,
do cotidiano e da experiência. Nessa direção, apresento uma abordagem da narrativa histórica com foco no sujeito da história, na cultura e cotidiano como palcos onde as experiências
humanas são tecidas e vividas. Para compreendê-las, proponho a análise da Cultura e do
fazer social em um universo do simbólico ao qual devemos desvendar códigos e significados
construídos por seus próprios sujeitos através de suas representações sociais. Estas trazem
a tona imagens, valores, sentidos de mundo e de vida, temporalidades, territórios, palcos
da vida social, saberes e fazeres, projetos de sociedade e história. Com a história oral as
experiências dos sujeitos e suas imagens/representações do passado e presente emergem
através da oralidade e narrativa, sendo possível articular histórias de vida (cotidiano, família,
referências pessoais...) e histórias temáticas (cultura, identidades, trabalho, festas, religiosidade, patrimônios...). Nesse sentido, a memória individual é indissociável da organização
social da vida, possibilitando revelar disputas em torno da lembrança e do esquecimento,
evidenciando laços de pertencimento a identidades e referências históricas e culturais, bem
como a (re)significação de patrimônios. Através dessa abordagem, apresento a análise das
narrativas e experiências de vida em São Bento-AL. Ao evidenciar, através da oralidade, as
experiências humanas e sociais, também dou visibilidade as experiências históricas, bem
como um outro caminho para a compreensão e interpretação dos modos de vida, das práticas culturais e da história.
Palavras-chave: Memória, Imagem e História.
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As representações de família no
contexto da pastoral da criança
Maria das Graças Santos Dias Magalhães
Doutora - Professora Adjunta IV /UFRR
[email protected]
Luciana Corrêa Bombardelli
UFRR
[email protected]
O presente trabalho tem por objetivo abordar a noção de família que norteia as atividades
da Pastoral da Criança. Ao longo dos seus 27 anos, a Pastoral busca ajudar as famílias em
situação de risco, na dimensão social e espiritual. O projeto que estamos desenvolvendo se
propõe a compreender de que forma este movimento social, que é um Organismo Social da
Igreja Católica, vê a família. Para identificarmos que representações são essas, tomaremos
como fonte o Jornal da Pastoral da Criança, que é um veículo nacional de divulgação de seus
princípios e atividades nas comunidades onde está implantada. Abordaremos os jornais dos
últimos cinco anos (2005 a 2010), recebidos e arquivados na cede da Pastoral da Criança na
cidade de Boa Vista/RR
Palavras-chave: Movimento social; Pastoral da Criança; Família
O sentido da existência nas poéticas da
natureza do ator Ruzante (c.1494-1542),
e do pintor Giorgione (c. 1477/8-510)
Maria de Nazareth Eichler Sant’Angelo
PUC-Rio
[email protected]
Na presente comunicação analisaremos o modo como dois artistas devedores da cultura humanista renascentista vêneta pensaram o tema da existência a partir de uma concepção particular da natureza enquanto princípio organizador do cosmos e referência ética e sensível
da conduta humana. Segundo G C Argan, a contribuição da cultura vêneta para a concepção
do mundo do séc. XVI foi ter superado a idéia de uma “natureza distinta da história”, e em ter
intuído e fixado “o valor absoluto, indivisível, da existência como experiência completa do
real”. O sentimento de natureza que irrompe nas poéticas dos dois artistas é aquele da poesia
de Virgílio e Lucrécio, e das filosofias práticas das escolas helênicas, tal qual a epicúrea. Tal
tradição clássica só existe, contudo, enquanto prática, rito, sendo continuamente redefinida,
e mesmo reinventada pela ação de sujeitos mobilizados pelas questões de seu tempo. Assim,
comediógrafo e pintor, cada um ao seu modo, evocam, ou melhor, convocam a poesia e a
filosofia prática dos antigos, e seu sentimento de natureza, movidos pelo desejo de problematizar os fundamentos da existência não do homem em geral, mas do homem para quem,
segundo E. Garin, “a natureza, as coisas, as estrelas e o mundo inteiro convertem-se em algo
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vivo, pessoal e humano”.
Da Catequização (imposta) para a busca da
Educação : Uma análise da educação na Escola
Estadual Indigena Maurehi (1990 - 2009)
Natália Rita de Almeida
UEG- Cora Coralina
[email protected]
O trabalho vem analisar a escola Indígena Maurehi como busca da manutenção e preservação da cultura karajá. A escola localiza-se na aldeia Buridina que encontra-se na cidade de
Aruanã-Go. A aldeia encontra-se encurralada pela cidade na beira do rio Araguaia entre a
“civilização” e o rio.
Através do contato com a cidade houve-se a necessidade de buscar os conhecimentos do
mundo não-indio aprimorando também os conhecimentos indígenas que foram se perdendo através do forte contato com nossa cultura não-índia.
Por isso, criou-se a Escola indígena Mauheri, através de um projeto de manutenção da língua
e costumes karajá, na escola aprende-se as disciplinas curriculares das escolas “comuns” e
também os costumes indígenas dentro da disciplina Iny rubé.
A pesca artesanal na ilha do amparo: entre visões
e representações
Paulo Eduardo Ernst Garcia
[email protected]
Priscila Onório Figueira
Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá
[email protected]
Este trabalho tem como objetivo compreender os conhecimentos da pesca artesanal da comunidade da Ilha do Amparo localizada no município de Paranaguá no litoral do Paraná. No
ano de 2004, acidentes de navios atingiram essa região afetando a pesca bem como a fauna
e a flora. Outra problemática analisada é que atualmente são poucas as fontes bibliográficas
que abordam a respeito dos conhecimentos tradicionais desse local. Dessa forma esta pesquisa propõe registrar as narrativas orais dos moradores acerca dos conhecimentos da pesca
artesanal em Amparo e como os acidentes afetaram a pesca na região. Para interpretar os
conhecimentos da pesca em Amparo utiliza-se do método em história oral, compreendendo
que a história oral também é uma instância que ajuda a reinterpretar o passado se correlacionado com fontes escritas. Até o presente momento foram aplicados questionários com os
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moradores onde foram coletados dados sobre: profissão, tempo em que o morador vive no
local, visão do morador em relação à pesca atual, se o morador adquiriu os conhecimentos
da pesca através de seus pais e qual a importância da pesca para a comunidade. A análise
dos dados permitiu interpretar a visão dos moradores em relação a pesca. Os dados indicam
que os moradores consideram a pesca importante, pois esta é a principal fonte de renda da
comunidade e que a pesca diminuiu nos últimos anos devido à diminuição do pescado. No
contexto em que os moradores de Amparo estão inseridos há uma série de conhecimentos
que são adquiridos ao longo de suas vidas. Interpretar esses conhecimentos significa refletir
sob quais condições estes se produzem e como que na prática estes se tornam a representação de sua cultura material e imaterial.
A Narrativa trágica e a formação
da identidade ordenadora políade
Poliane da Paixão - UFG
[email protected]
A tragédia é entendida como um gênero literário, que em sua elaboração possui temas selecionados em uma narrativa mítica que seria apresentada nos palcos, em que “uma história
sagrada” (ELIADE, 2000:50) revelaria um acontecimento, que se realizou em um tempo primordial. Sabendo que a elaboração das narrativas trágicas atenienses, em sua maioria foram
formuladas no período clássico, tentaremos analisar como as representações heroicas eram
constituídas nessas narrativas míticas trágicas, a partir da imagem de Héracles na obra de
Eurípides que leva o nome do herói. E também nos atentaremos para a questão da construção discursiva que era utilizada na tragédia com o intuito de criar uma identidade heroica responsável pela ordenação de espaço da pólis.
O Maranhão e suas fronteiras culturais:
o esboço de uma cartografia
Raimundo Inácio Souza Araújo
Doutorando em História – UFPE/Professor UFMA
[email protected]
A discussão sobre a diversidade cultural maranhense tem raízes bem longevas. Já na primeira
metade do século passado, estudiosos locais, como o geógrafo Raimundo Lopes e o militante
político Astolfo Serra, referiam-se a ‘zonas’ distintas, construídas ao longo da história colonial
do Estado, com diferenças de ritmo e intensidade: a experiência do norte agro-exportador
escravista, as culturas indígenas (em diversas localidades), além do sul pecuarista, formado
por migrantes, sobretudo da Bahia e de Pernambuco.
Na década de 90, a historiadora Maria do Socorro Cabral ajudou a construir essa discussão,
ao discorrer particularmente sobre a já referida frente de expansão que partiu do sul, cuja
cultura se formou em estreita interação com os ‘caminhos do gado’, a pecuária extensiva,
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contrastando o norte e o sul do Estado, sob diversos aspectos, como as modalidades de trabalho e as visões de mundo. O presente trabalho estabelece um balanço dessas três propostas
de cartografia cultural do Estado, destacando a caracterização que os três estudiosos fazem
da fronteira amazônica, presente na região meio-norte, não trabalhada intensivamente até
o presente momento pela literatura acadêmica. A zona cabocla foi descrita, sobretudo por
Lopes e Serra, como uma região em que a paisagem e a cultura assumem ares de transição,
difíceis de definir: entre a floresta e o agreste, o mar e os rios, região em que a mudança e a
adaptação constantes dão o tom aos fazeres e saberes locais.
Palavras-chave: cultura, diversidade cultural, cultura cabocla.
Abundância alimentar:
história, mitos e fantasias
Sônia Maria Magalhães
Professora - UFGO
[email protected]
A incerteza da colheita, condicionada aos desastres naturais, as intempéries climáticas, o esgotamento do solo, todos os fatores que levam à escassez fizeram a espécie humana a criar narrativas
fantásticas que expressam seu desejo e sua angústia em torno da abundância de alimentos.
A fartura de alimentos possibilitava a hospitalidade e por vezes até o esbanjamento, dando
a idéia de recursos ilimitados. As questões envolvendo o enigma da abundância seguem essencialmente as mesmas desde os tempos mitológicos: quem confere abundância e quem
dela se beneficia. A abundância existe e pode ser usufruída, desde que se tenha titularidade e
acesso a ela. A abundância, para ser percebida, deve conviver com a carência, ou má fortuna,
daqueles que dela são despossuídos.
Em algumas sociedades a maior desonra, mais temida que a fome, é ter as despensas vazias e
não poder oferecer nada aos hóspedes. Dessa forma, a função simbólica e social do alimento
parece ser mais determinante que a sua função nutritiva.
Neste sentido, a alimentação torna-se o centro de um dos mais vastos complexos culturais,
abrangendo normas, símbolos e representações. A vida, o grupo e o meio se integram e se
unificam, muitas vezes, em função dela. E a relação do homem com a alimentação pode
se considerar semelhante à sua relação com a linguagem. Ambas obedecem a regras indiscutíveis e inconscientes, podendo sofrer modificações com a alteração do ambiente, demonstrando situações sociais, econômicas e religiosas.
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ST 15
A vida ao rés-do-chão – a escrita da história
através de crônicas e folhetins
As armadilhas da memória: as crônicas
jornalísticas de A.Tito Filho em Teresina
Ana Cristina Meneses de Sousa Brandim
Professora-UESPI/Doutoranda-UFPE
[email protected]
Arimathéia Tito Filho (1924-1992) ficou conhecido em Teresina como o “cronista da cidade
amada”. Suas produções literárias abordaram arduamente o tema da cidade e seus aspectos sociais e culturais. Foi um incansável em dizê-la através de suas ruas, avenidas, espaços
“marginais”, perfis “anormais”, aqueles ditos “folclóricos”, além de cheiros, sabores, cotidiano, moda. Sua forma de dizer, de narrar, esteve sempre ligada a sua forma de compreender
o mundo enquanto espaço possível de ser ordenado pelo dito e exorcizado pelo tempo. A
fixação em inventar passados fez da envergadura de suas crônicas, textos possíveis de serem
analisados enquanto produções discursivas que tentam prender o tempo nas armadilhas da
memória e controlar aquilo que estava fora de “ordem” ou que não condizia com as diretrizes
do passado. Desta forma, busco analisar as crônicas produzidas por A. Tito Filho no sentido
de transpô-las, registrando os vários sentidos que circulam entre o escrito e as formas de
pensamento, e, principalmente, procurando mostrar o que elas revelam, apontam, manifestam, enquanto imaginário de uma época, buscando um entendimento plural e cultural da
cidade.
Palavras-chave: A. Tito Filho; crônica; Teresina
Os jesuítas no Maranhão e Grão-Pará
Seiscentista: uma análise sobre as representações em torno da Missão através da Crônica
do padre João Felipe Bettendorff
Breno Machado dos Santos
Doutorando /PPCIR-UFJF
[email protected]
Autor da Crônica dos Padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão escrita durante os anos finais do século XVII, o padre Bettendorff é considerado uns dos personagens
mais importantes da Missão jesuítica no Norte da Província do Brasil. De maneira geral,
pode-se afirmar que sua obra contém informações diversas sobre a história política, social,
econômica e missionária do Estado do Maranhão e Grão-Pará. Entretanto, como inúmeros
outros registros jesuíticos, sua obra procura mostrar o avanço da vontade de Deus e suscitar
novas vocações e apoios variados para o Instituto, sendo as imagens construídas por Bettendorff capazes de condicionar ações e resultados. Tendo escrito sua Crônica para ser lida,
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
sobretudo, pelos membros da Ordem, o inaciano apresenta a seus confrades uma série de
episódios exemplares sobre a vida e o trabalho de talentosos religiosos no Norte da Província. Assim, influenciado pelas formulações teórico-metodológicas apresentadas por Roger
Chartier, este estudo pretende trabalhar sobre as representações constitutivas dos jesuítas
em atividade no Estado do Maranhão e Grão-Pará, durante o século XVII, através de um
programa de investigação sobre as projeções e expectativas da Missão modeladas pelo padre
João Felipe Bettendorff em sua Crônica.
Palavras-chave: Jesuítas; Amazônia colonial; Representações.
Artificialidades do paraíso moderno
Camila Pereira
UnB
[email protected]
Segundo Paul Valéry, na modernidade, ou se muda de dose ou de veneno. Baudelaire, na
busca de seus paraísos artificiais, transitava entre várias possibilidades de mundo real. A realidade em Baudelaire era mais que uma questão literária ou estética, era uma questão existencial. Alterada pela ação de alucinógenos, a literatura baudelairiana assume uma dimensão
que ultrapassa a clássica dualidade entre histórico e fictício. Já não há como apontar em que
momento esses “mundos” se encontram ao partir do princípio de que até o que é considerado
como realidade “convencional” está alterado. Minha proposta é discutir como a percepção
pessoal da realidade de Baudelaire influencia até hoje nossa forma de ver a história do século
XIX e, a partir de então, pensar como é problemático acreditar na existência de uma protoverdade a ser representada na escrita da história.
Sociabilidade e cultura em espaços
de lazer da capital cearense no início
do século XX (1901 a 1918)
Carla Manuela da Silva Vieira
PUCSP
[email protected]
Avaliar as práticas de sociabilidade e cultura da capital cearense do início do século XX (1901 a
1918) em seus espaços de lazer apresenta-se como uma das formas possíveis para compreender
a cena da Modernidade do referido período. A crônica jornalística, que registrava aspectos das
mais diversas ordens, mas, em especial apreço para este estudo, aqueles referentes às socialidades mundanas, mostra-se como fonte indiscutível às pesquisas de tais questões, principalmente quanto aos jornais de maior circulação à época (Jornal do Ceará, Unitário, A República,
Correio do Ceará e Folha do Povo), pois que eram bastante representativos das opostas tendências políticas de Fortaleza e indicam o tom da formação de pensamento e opinião da sociedade
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de então. É essa mesma crônica que permite a avaliação dos usos e imagens que se faziam dos
espaços de lazer de que dispunha a cidade, importantes ícones de modernidade e civilidade
para as elites citadinas, mas, também, significativas vitrines que expunham os profundos contrastes entre o projeto desses grupos e a realidade das classes populares.
Palavras-chave: Sociabilidade; Lazer; Modernidade.
Volkswagen Blues:
uma metaficção historiográfica?
Cristiane Montarroyos Santos Umbelino
Universidade Federal de Pernambuco
[email protected]
No romance Volkswagen Blues (1984), do escritor quebequense Jacques Poulin, o diálogo
crítico entre literatura e história se faz presente por meio de uma narrativa que reconstrói o
passado. A viagem dos personagens Jack Waterman e Pitsémine, de Gaspé (Canadá) até São
Francisco (Estados Unidos), revisita a rota de colonizadores e migrantes, nos apresentando,
assim, um novo olhar acerca do processo colonizador. Ademais, podemos apreciar um texto
constituído por diversas paisagens e ilustrações que remetem à história oficial da colonização: “Eles tinham saído de Gaspé, onde Jacques Cartier havia descoberto o Canadá, [...]
tinham tomado a Trilha de Oregon e, seguindo o caminho dos emigrantes do século XIX,
[...] para partir em busca do Paraíso Perdido [...].” (POULIN, 1988, p. 192-3). Portanto, a
análise da relação histórico-literária do romance será fundamentada no que a teórica Linda
Hutcheon (1991) chama de metaficção historiográfica, que “representa um desafio às formas
convencionais (correlatas) de redação da ficção e da história, com seu reconhecimento em
relação à inevitável textualidade dessas formas”. (HUTCHEON, 1991, p. 169).
Palavras-chave: Literatura Quebequense; Colonização; Metaficção Historiográfica.
“E Nós, Para Onde Vamos?”:
história de uma época através de crônicas
Edilane Ferreira da Silva
UNEB
[email protected]
Durante os anos 1980 a população de Juazeiro-BA, parava todos os dias às 13 horas para ouvir o programa radiofônico “E Nós, Para Onde Vamos?”, no qual eram veiculadas crônicas
produzidas por um grupo de juazeirenses. Por essa razão, a pesquisa “E Nós, Para Onde
Vamos?”: história de uma época através de crônicas, busca reconstruir as paisagens e as sensibilidades da Juazeiro dos anos 1980, a partir do modo dos autores de ver e sentir a realidade.
O áudio do programa radiofônico, os temas retratados, a forma como eram abordados e o
próprio fato das crônicas serem utilizadas para retratar o cotidiano, evidenciam as paisagens
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
sociais e subjetivas de uma época. Essa literatura era produzida a partir da necessidade que
os autores tinham de expor as suas impressões da realidade, por essa razão, as crônicas não
retratam apenas o instante em que foram construídas, elas atravessam o tempo, e fazem das
paisagens e subjetividades o registro de uma história.
Palavras-chave: Crônicas / História / Juazeiro
“O potentado e o viajante”: representações
do intelectual na obra de Edward W. Said
Elisa Goldman
Doutoranda em História PPGHIS – UERJ
[email protected]
Tomamos como base do presente trabalho; a centralidade do debate acerca do papel do intelectual na obra do autor palestino Edward W. Said. Este autor vive um dilema na medida em
que preconiza o cosmopolitismo, o hibridismo do entre lugar na suspensão dos binarismos
essencialistas, por outro lado como ativista defende um ethos nacional a partir do engajamento político no movimento Palestino. Esse dilema pode ser observado na sua démarche
teórica inerente ao conjunto da sua obra que abrange desde crítica literária a escritos Historiográficos relacionados à temática Palestina. A representação do intelectual opera como
uma diretriz para as seguintes reflexões: a categoria de exílio constitutiva de uma metáfora
ordenadora da experiência intelectual, a crítica ao nacionalismo defensivo originada na reflexão pós-colonial e o hibridismo como privilégio epistemológico que informa uma abordagem do conhecimento.
Palavras-chave: intelectual, Historiografia, Edward W. Said
Memória para a história: o livro Raízes,
de Augusto Proença
Eudes Fernando Leite
UFGD
[email protected]
A finalidade desta comunicação é explorar as relações entre história e literatura, particularmente quanto à manifestação de eventos convencionalmente denominados de históricos no
interior de um texto ficcional. Para tal, tomo a produção do escritor corumbaense, Augusto
César Proença, com ênfase numa de suas obras: Raízes, cangas e canzis. Além da obra, para a
discussão da problemática, são utilizadas entrevistas de história oral, realizadas com o autor
do texto em questão.
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Honorè de Balzac: Idéias sobre os
camponeses leitores-não-leitores
na França pós-revolucionária
Eurimar Nogueira Garcia
Mestrando UFG
[email protected]
Neste artigo, partindo da perspectiva de uma História das Idéias, e dos pressupostos de
Dominick LaCapra, pretendo analisar dialogicamente o pensamento de Honoré de Balzac,
contido em O médico rural, Os camponeses e O cura da aldeia, inseridos nos volumes XIII
e XIV da Comédia Humana (1922) especificamente no que diz respeito ao (a)letramento dos
camponeses da França pós-revolucionária. Sendo assim tento perceber tanto aquilo que foi
pensado (as leituras e não leituras camponesas) por Balzac quanto o não pensado (matizes
dessas leituras) dentro de uma leitura dialógica.
A releitura de tradições através das
crônicas de João do Rio
Fábio Laurandi Coelho
Mestrando - PUC-Rio
[email protected]
A rotulação excessiva por vezes nos leva a cometer injustiças, como acredito que ocorra no
caso de João do Rio. Por alguns considerado o dândi que realiza uma literatura esgar, o autor
em questão opera uma releitura e um assentamento de tradições cotidianas do Rio de Janeiro
da belle époque, indo de certa maneira de encontro à sugestão de uma modernização no
conteúdo da literatura. Mas, ao mesmo tempo, dialoga com a dimensão técnica da sociedade
em que vive, transformando constantemente a estética de seu texto.
O papel social das mulheres nas
crônicas de Lima Barreto
Getúlio Nascentes da Cunha
Doutorado – UNB/Professor – UFGO/Catalão
[email protected]
Apesar de ser um autor conhecido pela franca defesa dos menos favorecidos, Lima Barreto era
um homem do seu tempo, partilhando os mesmos preconceitos que marcavam sua época.
No final da década de 1910 e início da década de 1920, Lima Barreto travou um áspero debate
na imprensa com as feministas em torno do acesso das mulheres ao funcionalismo público.
Pretendemos analisar as posições assumidas por Lima Barreto nas crônicas, sem perder de
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vista o confronto com suas outras, na tentativa de melhor compreender suas colocações que
inicialmente sugerem um pensamento bastante conservado em relação às mulheres.
A Construção da Identidade Nacional
Moçambicana nos Romances de Mia Couto
Josilene Silva Campos
Instituto Federal de Educação de Goiás
[email protected]
Este trabalho tem como objetivos centrais analisar a reconfiguração da identidade nacional
moçambicana após a guerra civil e mostrar de que forma esse novo discurso é representado
nos romances de Mia Couto, nomeadamente: Terra Sonâmbula, A Varanda do Frangipani e
O Último Voo do Flamingo. A literatura é usada como fonte por entender que ela é um tipo
de conhecimento social formado no imaginário, compreendido como ideias e imagens de
representação que dão significados às identidades. Esse tipo de construção mental possibilita um acesso privilegiado às sensibilidades de um tempo, às experiências vivenciadas e as
discursividades construídas. Produz significações que permitem conhecer certas concepções
de sociedade e diferentes percepções de processo histórico.
Palavras-chave: História – Literatura – Moçambique
Diário das Alagoas: representação
da Zona da Mata nas crônicas do
jornal na sociedade oitocentista
Juliana Alves Andrade
Doutoranda-UFPE
[email protected]
O presente trabalho tem por objetivo analisar a partir das crônicas jornalísticas de Craveiro
Costa e Caroatá, as leituras e interpretações fábricas sobre modos e costumes dos homens,
mulheres do Vale do Paraíba do Meio, Zona da Mata Alagoana no período de 1870 - 1889.
Para isso, observaremos os artifícios utilizados pelos dois autores, para construir uma imagem do espaço, como berço da intelectualidade alagoana.
Uma crônica de costumes em Florianópolis:
a coluna do Beto
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Leani Budde
UFSC
[email protected]
Uma crônica de costumes, em forma de textos variados, geralmente pequenas notas, numa
coluna “social” do principal jornal da cidade, marca o registro do cotidiano das transformações políticas, históricas, culturais e sociais verificadas em Florianópolis a partir de 1970.
Intitulada “Coluna do Beto” assinada pelo jornalista Sérgio Roberto Stodieck, que se dizia
colunista “sociológico”, mostrava de forma irreverente episódios relacionados a políticos, a
sociedade local e aos costumes de uma cidade então (ainda) provinciana, mas que rapidamente se transformava. Crítico do seu tempo, tornou-se uma referência histórico/cultural
no jornalismo catarinense que deixou uma lacuna, já que depois de sua morte, em 1990, a
crônica irônica e debochada do cotidiano local perdeu espaço na imprensa da cidade. Pretende-se neste trabalho apresentar textos e notas do colunista como documentos para o
estudo de uma época, pois permitem recuperar importantes aspectos da história cultural
de Florianópolis, notadamente dos anos 1970 a 1990. Entre as concepções teóricas a serem
consideradas estão noções de história e memória observadas por Le Goff (1992). O trabalho
abordará as crônicas como paradigma das transformações do espaço político/cultural de
uma cidade, tal como antevia o debochado colunista.
Crimes de Marias: Um outro olhar
sobre a mulher goiana
Lúcia Ramos de Souza
PUC - Goiás
[email protected]
Através dos relatos extraídos dos interrogatórios de mulheres rés dos processos-crimes da
segunda metade do século XIX, encontrados na Cidade de Goiás, busca-se analisar cotidianos e comportamentos das mulheres goianas que revela um descompasso entre a moralidade
oficial e a realidade vivida por elas, mulheres do povo frente às práticas discursivas da época
e da leitura feita delas pelos viajantes europeus, dentre eles Saint -Hilaire. Este trabalho
utiliza-se de teóricos como Michelle Perrot, Rachel de Soihet, Joan Scott e Maria Odila Leite
da Silva Dias.
Palavras-chave: mulher, cotidiano, crime.
O Encontro Marcado de Fernando Sabino:
literatura, história e memória
Lucilia de Almeida Neves Delgado
Professora Doutora - UNB
[email protected]
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Análise sobre o tempo de construção da modernidade no Brasil, considerando duas etapas:
as décadas de 1920 e 1930, que identificamos como o primeiro tempo do ser moderno e as
décadas de 1940 e 1950, que identificamos como segunda fase de expressão construtiva de
uma modernidade tardia que compreende diferentes esferas, tais como: cultural, política e
econômica. Na primeira fase são destacadas manifestações de construções modernistas que
se expressam na industrialização, no urbanismo, nas artes plásticas e nas letras. Nessa conjuntura, analisaremos as propostas literárias da Semana de Arte Moderna que se atualizaram
e se renovaram na segunda fase caracterizada por efervescente movimentação e renovação
cultural, expressas, por exemplo, na literatura, música, teatro e cinema. Nesse tempo de desenvolvimentismo a literatura ganhou enorme projeção e alguns escritores se destacaram,
tanto por sua marca modernista, inspirada na primeira fase do modernismo, quanto pela
atualização de sua escrita. Entre os livros dessa geração, escolhemos analisar “O Encontro
Marcado de Fernando Sabino”, publicado no ano de 1956. O livro de Sabino expressa o encontro do tempo do desenvolvimentismo/História, com o tempo da memória/construção
de lembranças e do esquecimento. Modernidade, ethos de uma geração, temporalidade e
representação social são temas presentes em uma obra literária que fala da vida privada e da
nostalgia, além de traduzir os modos de vida de um tempo histórico específico.
Crônicas “Na Rua do Ouvidor:” o imperceptível
e o sensível na leitura da cidade
Marina Haizenreder Ertzogue
Doutorado – USP/Professora – UFTO/Pesquisadora do CNPq
marina@uft,edu.br
Este texto aborda a Rua do Ouvidor, a principal artéria da capital do império, Rio de Janeiro,
através da escrita de seus cronistas: Gregório de Almeida e Arthur Azevedo, entre outros. A rua,
na época era um beco estreito e mal calçado, entretanto, ela era considerada palco dos acontecimentos sociais e políticos do país. A rua que abrigava casas comerciais, café e confeitarias
onde se reunia o high-life fluminense e as últimas novidades vindas da Europa, ditava moda e
costumes. Nessa rua também se popularizou a figura do flanêur parisiense de Baudelaire, que se
confundia com o cronista da cidade, o jornalista e o repórter. As crônicas sobre a Rua do Ouvidor
publicadas na imprensa carioca registram o imperceptível e o sensível na cidade.
Cartas de favorecimento:
missivas e ensino nas Minas coloniais
Paulo Miguel Moreira da Fonseca
Professor de História do IFPE
[email protected]
A presente comunicação visa analisar as singularidades do território mineiro colonial no que
se refere às questões relativas à educação e ao ensino religioso e leigo. Para isso, utilizaremos
como fonte principal de pesquisa um conjunto de cartas proveniente da Coleção Casa dos
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Contos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, que tratam da educação leiga e das formas de
acesso a essa educação pela população das Minas. Através das cartas dirigidas a João Rodrigues
de Macedo, percebemos uma rede de auxílio que ajudava a sustentar estudantes mineiros no
ensino das primeiras letras até os Estudos Superiores em Coimbra. Irradiada pelo contratador
Macedo, essa rede de contatos e favores atravessou gerações de colonos, utilizando um tipo de
comunicação que, devido a sua natureza, ora nomeamos “cartas de proteção”.
A História e as histórias de Machado
de Assis nas críticas e crônicas de folhetins
Paulo Thiago Santos Gonçalves da Silva
Faculdade CIMAN/JK
[email protected]
A historiografia sobre o Brasil oitocentista é amplamente marcada pelas discussões sobre a
formação de uma identidade nacional que se articula com o projeto imperial de consolidação
da Nação e que tem no IHGB o lugar institucionalmente autorizado para a execução dessa
missão. A partir da criação do IHGB, a história ali produzida se revestiu de um caráter oficial
e se encarregou de escrever a história pátria, apta a forjar um passado comum, capaz de imprimir unidade a um país marcado pelo regionalismo e suas disputas. Mas, se a historiografia
oitocentista é um campo rico de fontes que nos facilitam compreender como se dá o processo
de objetivação da nação e da identidade nacional, ela não é única. Intimamente atrelada à
história, nesse período, a literatura se constituiu como lugar privilegiado de profusão e de
divulgação de imagens sobre o Brasil. Atento a esses debates, em quase duas décadas de
publicações de críticas e crônicas em jornais e folhetins, Machado de Assis nos presenteia
com um apurado e irônico olhar sobre os acontecimentos que o cercam, sem deixar de lado
os debates que circulam em torno da nação. Assim, seus escritos se tornam fontes que possibilitam olhares outros e que nos revelam que uma identidade não se constitui apenas nos
espaços institucionais.
Palavras chaves: História, Literatura, Machado de Assis.
A reafirmação da lei através da
transgressão na literatura sadiana
Rafaela Nichols Calvão
Mestranda – UFRJ/Bolsista CAPES
[email protected]
A subversão da lei é um dos fundamentos para o prazer dos personagens criados pelo Marquês de Sade. Esse prazer é fruto de atos transgressores, como o roubo ou o assassinato. A
transgressão necessita da lei para poder existir, sem ela não há a possibilidade de violação.
Partindo desse pressuposto, podemos afirmar que os atos transgressivos dos personagens
sadianos reafirmam a lei. A violação e a proibição são complementares, e juntas formam um
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conjunto que define a vida social. A transgressão é a exceção necessária para que possa existir a lei. Sade defende a existência da lei em seus livros, através da idéia de um equilíbrio da
Natureza, na qual ele defende que a Natureza segue apenas esse princípio, e não a noção de
bondade, idéia divulgada em sua época.
Palavras-chave: Transgressão, Lei e Marquês de Sade
Controverso conflito: a Guerra do Paraguai
(1865-1870) nas crônicas de Machado de Assis
Tiago Gomes de Araújo
Doutorando UnB - Professor Faculdade CIMAN - DF
[email protected]
Esta reflexão pretende apresentar algumas possibilidades analíticas para a interpretação
histórica da Guerra do Paraguai, conflito que envolveu Brasil, Argentina e Uruguai contra o
Paraguai, privilegiando o estudo das crônicas de Machado de Assis elaboradas no transcorrer
e após as ações bélicas. Além de incitar a promissora relação interdisciplinar entre História e
Literatura enquanto campos do conhecimento, ressalto a riqueza de elementos evidenciados
pelas fontes literárias. Reforço a ideia de compreendermos estes materiais como instrumentos válidos e sugestivos para os estudos históricos. Nessa medida, apresento duas opiniões
diversas do Bruxo do Cosme Velho sobre o conflito platino, dotado de emoções ufanistas e
posteriormente, questionadoras dos próprios embates.
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ST 16
Literatura e sociedade – produção,
circulação e recepção
Interações culturais entre Brasil e Europa:
o movimento simbolista brasileiro
Alexandro Neundorf (UFPR)
[email protected]
O referente deste trabalho localiza-se no movimento simbolista brasileiro, tomado como
produto de diferentes processos culturais e que se ancora nos chamados países centrais da
produção cultural, tais como França, Portugal e Bélgica. Sob outro foco e escala nosso interesse também recai nos “lugares” onde ocorrem os processos de transferência, recepção, circulação e adaptações culturais, entre outros. Nesse aspecto, determinados personagens, de certa
forma, “encarnam”, ou elucidam, esses “lugares”. Um problema principal então se encontra na
compreensão das vicissitudes dos processos, acima mencionados, e na relação estabelecida
entre um Simbolismo europeu e o que se desenvolve no Brasil, assim como a dinâmica interna
de relação entre os demais movimentos locais no país. Ideias, visões de mundo, concepções
estéticas e filosóficas, acabaram por interferir na recepção e adaptação de um sistema de pensamento e valores simbolistas no Brasil, tornando-o um fenômeno híbrido.
Palavras-chave: simbolismo, transferências culturais, movimentos literários.
Os dois Pedros: uma análise das narrativas
de crime no Brasil
Ana Gomes Porto (Unimep)
[email protected]
Os produtores de livros e jornais começaram a publicar narrativas de crime no Brasil desde
a década de 1870. Obviamente, histórias de criminosos já existiam anteriormente, mas é
a partir dessa década que se pode inferir um interesse cada vez mais crescente por essas
narrativas. Assim, criavam-se características próprias de publicações e efeitos específicos de
narrar crimes e criminosos. A intenção nesta comunicação será analisar duas obras sobre um
mesmo criminoso, Pedro Espanhol. A primeira foi escrita por Moreira de Azevedo no início
da década de 1870, sendo uma das três narrativas do livro Criminosos Célebres. Episódios
Históricos. A segunda foi publicada sob a forma de folhetim e livro por José do Patrocínio em
1884: Pedro Espanhol. Romance original. Com essa análise será possível notar as mudanças
em relação à forma de construção narrativa de cada uma das histórias, as diferenças relacionadas às publicações e, finalmente, possibilitará uma compreensão em torno da história da
produção de narrativas de crime no Brasil.
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Em nome do dissenso: Tobias Barreto
e a criação de uma opinião pública
alternativa no Brasil Imperial
Aruanã Antonio dos Passos (UEG)
[email protected]
Tobias Barreto de Meneses (1839-1889) é considerado o pai fundador e um dos grandes expoentes do movimento filosófico-cultural que se avolumou em torno da Faculdade de Direito
do Recife (“Escola do Recife”) e que agregou Silvio Romero, Castro Alves, Joaquim Nabuco,
Clóvis Beviláqua, Capistrano de Abreu, Graça Aranha dentre outros. Além de advogado e
filósofo e poeta. Em vida seus poemas circularam nos jornais de Recife, sendo que sua única
obra de poesias (Dias e Noites) só fora publicada após sua morte. Apesar de ser considerado
o fundador do condoreirismo na poesia brasileira os críticos taxam seus poemas de “sensualistas” e “triviais”. Entendido mais como crítico ácido que poeta, Tobias Barreto publicou alguns jornais mesmo quando viveu por dez anos no interior de Pernambuco (Escada).
Merece destaque o jornal Deutcher Kampf (O lutador alemão). A publicação do jornal todo
em alemão revela a dimensão da crítica de Tobias ao Brasil que via na França o grande modelo cultural a servir de paradigma. Assim compreendemos a obra poética além dos textos
publicados por Tobias nos jornais como complementares a sua crítica aos intelectuais que
viviam na corte imperial e se sujeitavam a ela. Não à toa Tobias Barreto jamais concordou
em se mudar para a capital e mesmo no interior de Pernambuco buscou uma alternativa
para expressar seu pensamento com a pretensão de criar uma opinião pública alternativa ao
centralismo cultural da corte imperial. Projeto esse inegavelmente articulado a sua crítica a
cultura nacional, em suas dimensões literárias, filosóficas e políticas.
Júlio Ribeiro e o universo de produção e
recepção literárias no Brasil (1870-1890)
Célia Regina da Silveira (UNICAMP)
[email protected]
Pretende-se, nesta comunicação, examinar a recepção da obra literária de Júlio Ribeiro pelos
jornais, pela crítica literária e pelo “grande público” das últimas décadas do século XIX, com
o objetivo de (re)compor o universo literário no qual o autor estava englobado. As práticas
de leitura com respeito a Padre Belchior de Pontes e A Carne, poderão proporcionar indícios
não só dos embates do escritor, mas também como os seus textos foram apropriados pelas
distintas instâncias de consagração da época. Portanto, no horizonte da pesquisa busca-se
responder a seguinte indagação: De que maneira os romances foram lidos pelas distintas
esferas de leitores.
Palavras-chaves: Júlio Ribeiro; Romances; Universo de Recepção
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Os experimentos de Machado de Assis
nas páginas de A Estação
Daniela Magalhães da Silveira (INHIS - UFU)
[email protected]
Machado de Assis começou a colaborar no suplemento literário de A Estação a partir do número de 30 de julho de 1879, com a primeira parte do conto “Um para o outro”. Essa participação
durou até 1898, quando publicou “Relógio parado”, conto que, na coletânea Relíquias de casa
velha, receberia o título de “Maria Cora”. Além dessa contribuição como contista, Machado
ainda publicaria, naquelas mesmas páginas, o romance Quincas Borba. Boa parte daquelas
histórias, para que ganhasse o formato de livro, passou por um processo de reescrita minucioso. O objetivo da apresentação será o de tentar compreender as motivações desse literato
como colaborador de uma revista com aquele perfil e como suas páginas serviram de espaço
de experimentação de algumas fórmulas literárias que mais tarde seriam desenvolvidas, por
meio da publicação sob o formato de livro ou da possível reescrita de novas narrativas.
Palavras-chave: Machado de Assis, A Estação, leitura.
Jorge Amado e Pepetela: afinidades e
dissonâncias em Tenda dos Milagres e Mayombe
Derneval Andrade Ferreira
[email protected]
O presente trabalho pretende colocar em diálogo duas obras publicadas na segunda metade
do século XX, um de autoria de um singular escritor baiano e outra de um escritor angolano,
objetivando investigar as afinidades e dissonâncias presentes nas construções discursivas
dos autores em relação à construção da identidade nacional e da construção da identidade
racial. Tenda dos Milagres e Mayombe são o locus desta pesquisa, tendo em vista que, a literatura reflete as relações do homem com o mundo e com os seus semelhantes. Por isso, as
obras literárias de um determinado período histórico, ainda que se diferenciem uma das outras, possuem certas características comuns que as identificam, tendo em vista que as relações se transformam historicamente e a literatura é sensível às peculiaridades de cada época,
aos modelos de encarar a vida, de problematizar a existência, de questionar a realidade e de
organizar a convivência social.
Palavras- chave: Literatura; História; Jorge Amado e Pepetela.
Dom Casmurro: memória, narrativa
e hierarquia social
Jefferson Cano
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[email protected]
Nesta comunicação pretende-se analisar os possíveis significados de Dom Casmurro, de
Machado de Assis, considerado de uma dupla perspectiva: por um lado, a presença de significados sociais na narrativa é discutida por meio da construção da posição de um narrador
claramente marcado pela sua classe; por outro, sugere-se que tal entendimento do romance
divergia de sua recepção contemporânea, a qual era, em certa medida, limitada pelos significados estéticos disponibilizados pela experiência de seus primeiros leitores.
Dois irmãos de Milton Hatoum:
um olhar que vem do Norte
Kárita Aparecida de Paula Borges
Mestre em Teoria Literária pela UnB
[email protected]
O intuito do presente trabalho é averiguar a construção narrativa da obra Dois irmãos (2000),
do escritor amazonense, de origem libanesa, Milton Hatoum, como produção artística pertencente ao corpus da tradição literária brasileira e os possíveis questionamentos suscitados
em torno dessa mesma tradição. Nesta análise da obra literária, pretende-se compreendê-la
atrelada ao contexto sócio-histórico, não como representação do real enquanto documentário, mas perceber a realidade como instrumento (matéria-prima) que o escritor utiliza para
recriar, transfigurar, por meio de um discurso ficcional, a realidade em que se insere. Desse
modo, sabe-se que é estreita a relação entre literatura e os fatores sociais no processo criativo
de um escritor, ao se considerar que, por meio de uma redução estrutural, a literatura produz
um mundo à parte e transfigura, por modo estético-ideológico, a realidade. Com essa ressalva, faz-se necessário inferir a noção de espaço geográfico (no caso específico o território
amazônico brasileiro) como veículo problematizador das relações sociais no âmbito da obra
hatouniana em questão, haja vista que tal concepção propicia uma narrativa ambientada
na Manaus das décadas de 1910 a 1960 (desde o fim do Ciclo da Borracha, passando pela 2ª
Guerra Mundial até a ditadura militar com O Golpe de 64). Desse modo, tem-se a narrativa
contemporânea Dois irmãos como produção artística que engendra uma interpretação do
Brasil na medida em que os processos históricos de uma determinada época em Manaus e,
também no restante do país, são revelados pelo olhar de um arguto observador (o narradorpersonagem Nael).
A literatura e o mercado de bens simbólicos
Dra. Larissa Warzocha Fernandes Cruvinel (UEG)
[email protected]
Dra. Poliene Soares dos Santos Bicalho (UEG)
[email protected]
O objetivo deste trabalho é refletir sobre o papel do mercado editorial na circulação e prédeterminação da obra literária. Para isso, partiremos de uma conhecida coleção de narrativas
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voltadas para o público leitor jovem, a Série Vaga-Lume, da editora Ática, que surgiu na década de 1970 e, até os dias atuais, alcança um grande aceite nas escolas e vendas expressivas
no mercado editorial. A literatura juvenil se apresenta como uma arte em trânsito entre a
necessidade de legitimidade, a preocupação de atrair o público alvo e a pressão das editoras
para conseguir altos índices de vendas. Neste sentido, faz-se necessário refletir sobre as confluências da obra de arte ligada, na contemporaneidade, aos padrões impostos pelo mercado
e a qualidade estética. Tendo em vista esses norteamentos, analisaremos a obra Açúcar Amargo, de Luiz Puntel, publicada na Série em 1986, e que narra a trajetória de uma adolescente
em meio aos conflitos familiares e à exploração dos trabalhadores dos canaviais, para observar como as normas do mercado podem interferir na tecitura literária.
Entre a pena e a tribuna: os enlaces do discurso
político e literário de uma intelectual capixaba,
Judith Leão Castello (1898-1982)
Lívia de Azevedo Silveira Rangel
Mestranda em História Social das Relações Políticas (UFES)
[email protected]
O objetivo desta comunicação é discutir a contiguidade entre a linguagem política e a linguagem literária de uma das mais proeminentes figuras da intelectualidade feminina capixaba, a
educadora, política e literata Judith Leão Castello. Nascida no Espírito Santo, no ano de 1898,
esta escritora também se destacou como colaboradora da revista Vida Capichaba – órgão
da imprensa local fundado em 1923. A proposta será a de identificar, a partir dos textos que
publicou no respectivo periódico, os pontos de interseção estabelecidos entre sua prática
literária e sua posterior inserção no mundo político, desde a adesão ao movimento feminista
até o desfecho como deputada estadual. Para se pensar tal transição parte-se da noção de que
os discursos literários, assim como os discursos políticos, só fazem sentido enquanto observados como resultado de uma negociação entre quem emite o discurso e o seu meio social.
E, por esta abordagem, torna-se indispensável considerar o papel da imprensa na formação
de uma rede de sociabilidade, que permite constituir tanto circuitos de divulgação quanto de
circulação de ideias, advindas de diversos diálogos socialmente construídos.
Palavras-chave: Discurso Literário; Discurso Político; Intelectualidade Feminina
Capixaba
Construção da memória e resistência
na autobiografia “Diário de um detento”
Marcela de Paolis (USP)
[email protected]
O livro “Diário de um detento”, publicado em 2001, é uma autobiografia sobre a trajetória pri-
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sional do autor. Preso durante o período de 1994 a 1998, Jocenir se apresenta como mais um
preso comum que procura descrever o cotidiano das prisões paulistanas por onde passou.
A despeito de não transitar no meio literário ou de ter qualquer familiaridade anterior com
o trabalho da escrita, Jocenir se empenha na elaboração e publicação desse livro. Quais os
motivos que o levam nessa empreitada; qual o diálogo dessa publicação com outras semelhantes; e a repercussão de sua obra na imprensa serão os eixos da comunicação proposta.
Escrever sob censura
Márcia Abreu
Instituto de Estudos da Linguagem - UNICAMP
[email protected]
A comunicação “Escrever sob censura” pretende discutir a elaboração de obras literárias no
Antigo Regime luso-brasileiro, considerando a ação da censura. Ao contrário do que, em
geral, se pensa, os censores não eram responsáveis apenas pela supressão de trechos e eliminação de obras. Eles interferiam nos textos, não apenas para cortar passagens suspeitas, mas
para emendar, corrigir e aprimorar alguns dos textos que examinavam. A existência de uma
negociação entre censores e autores, assim como a percepção de que os censores atuavam
como “revisores” e, em alguns casos, como “co-autores”, têm impacto sobre a compreensão
do processo de elaboração das obras literárias. Quantos versos tidos como composições da
mais fina elegância verbal não terão chegado a essa forma a partir da intervenção dos censores? Quantos romances não deverão seu sucesso às negociações com os censores? Noções
de autoria, criação individual e gênio criativo poderiam ser revistas se considerado o modo
de composição e produção dos textos no Antigo Regime luso-brasileiro.
Palavras-chave: autoria, censura, criação literária.
Histórias famosas de presos e prisões
nos jornais cariocas
Marilene Antunes Sant´Anna
Universidade Gama Filho
[email protected]
No início do século XX, as prisões no Rio de Janeiro, bem como histórias de famosos prisioneiros ganharam maior visibilidade nas páginas dos jornais e da literatura carioca. Nossa
comunicação busca apresentar alguns desses relatos e seus autores, analisando os argumentos pelos quais tais espaços – principalmente as Casas de Correção e Detenção – e seus habitantes eram observados e encaminhados à opinião pública. Além de discutirmos as relações
com teorias científicas do período, esclarecer o perfil dos crimes cometidos na cidade e tratar
das tensões desenvolvidas com o Estado Republicano no tocante a exclusão e violência de
determinados setores da população, as histórias produzidas sobre a vida atrás dos muros das
prisões permitem desvendar comportamentos e tradições dos presos - um grupo largamente
estigmatizado no país.
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“A edição é a indumentária do livro”:
Benjamim Costallat e o mercado editorial
carioca na década de 1920
Patrícia de Souza França (UFRJ)
[email protected]
Em 1923, um dos nomes mais festejados da literatura nacional, Benjamim Costallat, associou-se a José Miccolis, inaugurando a editora Costallat & Miccolis que, na década de 1920,
se tornou famosa pela publicação de obras de visível apelo popular. Buscando atingir um amplo público leitor, Costallat e seu sócio dispensaram grande atenção ao tratamento gráfico
de seus livros, a fim de torná-los atraentes. Investiram nas encadernações em brochura; nas
capas ilustradas; e nos títulos e enredos sensacionais. O mercado editorial brasileiro vivenciava, na década de 1920, um período de profundas transformações e inovações, caracterizado
por uma nova concepção do livro como objeto gráfico industrial. Diante da importância no
cenário cultural carioca da empresa Costallat & Miccolis – cujas publicações atingiam cifras
surpreendentes de venda e esgotavam sucessivas edições-, este trabalho pretende examinar
a atuação editorial de Benjamim Costallat.
Palavras chaves: Benjamim Costallat – mercado editorial – Rio de Janeiro
Uma Martinha vale uma Lucrécia? - Literatura,
história e anonimato em Machado de Assis
Raquel Machado Gonçalves Campos (UFRJ)
[email protected]
Há, na literatura de Machado de Assis, um procedimento que consiste em comparar anônimos - gente sem importância aparecida em histórias de jornais e personagens de suas obras
- com grandes personagens históricas ou literárias. É assim que a dor de Bentinho diante da
obrigação de elogiar Escobar morto é maior que a de Príamo, que teve de beijar a mão ao assassino de seu filho; ou que a baiana Martinha e seu punhal nada fiquem a dever a Lucrécia,
eternizada por Tito Lívio na História de Roma. Examinando tal procedimento à luz de uma
prática semelhante, dos historiadores brasileiros contemporâneos de Machado, trata-se de
explicitar suas implicações para o estabelecimento de uma concepção de história que revoga
a divisão entre memoráveis e condenados ao esquecimento, e que permite que qualquer um
seja pensado como sujeito da história.
Agualusa vendendo passados e Antunes
nos Cus de Judas: literatura e representação
identitária no contexto histórico colonial
lusófono pós-moderno
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Romilton Batista Oliveira (UNEB)
[email protected]
A memória reorganiza os acontecimentos que abalaram as estruturas sociais das antigas
tradições diante de um novo paradigma que traz à tona um novo constructo social: a identidade pós-moderna. Nessa perspectiva, propõe-se aqui investigar os processos de construção
de memória e das representações identitárias no espaço literário, através de dois textos vistos
como emblemáticos das relações entre a literatura e os contextos histórico-político-social
que ela evoca. O Vendedor de Passados, do angolano J. Eduardo Agualusa, e Os Cus de Judas,
do português A. Lobo Antunes, tratam de momentos e situações da história recente de Angola, envolvendo colonizadores e colonizados em seus dramas em torno da independência
do jovem país africano. A pesquisa busca seguir a linha metodológica dos estudos comparados e apoio teórico em certos conceitos-chave de Le Goff (2003), Pollak (1992), Hall (1990),
Bakhtin (1995), Halbwachs (2006), Hutcheon (1991), Iser (1996), entre outros.
Inscrições históricas e literárias em
Cascalho, de Herberto Sales
Valter Guimarães Soares
Universidade Estadual de Feira de Santana
[email protected]
Nas representações acerca dos territórios identitários baianos, onde geralmente se entrelaçam ficção, memória e história, é possível verificar na produção discursiva a presença de pelo
menos quatro Bahias: do Recôncavo, do Cacau, a Sertaneja e, dentro desta, a do Garimpo. No
caso desta última, destaca-se o arquivo de textos do escritor Herberto Sales, onde se traça um
amplo painel social dos garimpos diamantinos (Cascalho, 1944; Garimpos da Bahia, 1955;
Além dos Marimbus, 1961). A re-escrita da história, não mais pela perspectiva do coronel,
mas dos ditos subalternos (garimpeiros, pauzeiros, prostitutas, retirantes), é um traço marcante desta escritura, deixando à mostra uma influência do marxismo como forma de ver e
dizer a realidade, como modelo de interpretação social e como agenda de atuação política.
Considerando que uma época não apenas escreve mas também se inscreve nos textos, nesta
comunicação procuro fazer uma leitura do romance Cascalho, procurando perceber como
vai sendo tecida, pela via do discurso literário, esta “outra Bahia”, ao tempo em que, atento
à historicidade da produção, busco rastrear as implicações éticas, estéticas e políticas que
habitam a narrativa, um rebento tardio do chamado regionalismo de 30.
Entre o nacionalismo e o pensamento
ilustrado: Cultura política, história e
ficção nas representações ambivalentes
de Eça de Queiroz, em Os Maias
166
V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Virgílio Coelho Oliveira (PUC – Minas)
[email protected]
Este artigo propõe uma análise das representações políticas de Eça de Queiroz, sobre Portugal no século XIX. Nessa conjuntura, em que a Europa ocidental vivia a consolidação de
muitos dos elementos da modernidade, já anunciados nos séculos XV e XVI, Eça de Queiroz,
por meio de uma escrita primorosa e por vezes “ácida”, tece uma crítica à insípida modernização e ao desenvolvimento letárgico da sociedade portuguesa dos oitocentos. Partindo do
princípio de que a política não se limita ou materializa nos “lugares” convencionais e ou
tradicionais, isto é, partidos e demais componentes sociais ligados às esferas oficiais de exercício de poder; tomamos uma das principais obras de Eça de Queiroz, ou seja, Os Maias,
com o objetivo de analisar as representações políticas queirosianas. O foco será o de destacar
as ambivalências dessas representações, na medida em que, se por um lado, Eça de Queiroz
considera que a sociedade portuguesa é altiva, beata e conservadora, devendo abrir-se para
as “luzes” do pensamento ilustrado; por outro, suas representações colocam em relevo a
ideia de que tal sociedade deveria preservar e resgatar valores tradicionais da nação que em
outrora fora grande e poderosa.
Mulheres na imprensa: a Revista Feminina
e a luta pelo direito ao voto,
trabalho e instrução (1920-1930)
Virgínia Maria Netto Mancilha
Mestranda em História pela Unicamp
[email protected]
Na primeira metade do século XX, proliferou no Brasil uma série de revistas que se dedicaram a refletir sobre o papel da mulher na sociedade daquele momento. Nesta comunicação
pretende-se analisar como a Revista Feminina (RF), periódico que circulou entre as décadas
de 1920 e 1930, construiu e se constituiu como um novo espaço de visibilidade feminina
no campo da imprensa. Em geral, a historiografia atribuiu à RF um caráter exclusivamente
conservador, cujo mote era sustentar uma imagem da mulher mãe/esposa/dona-de-casa.
Procuro discutir, porém, que ao longo de sua existência a revista se empenhou em diversas
campanhas articuladas por um corpo de colaboradoras engajadas na luta pelo direito ao
voto, ao trabalho e à instrução feminina, o que estabeleceu uma rede de interlocução com a
grande imprensa e com os projetos discutidos pelo Senado.
Palavras – chave: Imprensa feminina, Revista Feminina, Questão de gênero.
167
V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
ST 17
História cultural da saúde e das doenças – paisagens
educativas e sensibilidades médicas
O beijo maldito: Flávio Maroja
e o grande perigo social
Azemar dos Santos Soares Júnior (UFPB)
[email protected]
Este trabalho tem por objetivo analisar a divulgação do beijo enquanto “um grande perigo
social” pelo médico sanitarista Flávio Maroja na década de 1910. O beijo passou a ser visto
como algo que deveria ser evitado constantemente por todos que de alguma forma empregasse o ato como forma de carinho. Beijar, poderia comprometer a saúde das pessoas, colocar a vida em risco, em especial, pela quantidade de epidemias que assolavam o estado da
Paraíba nos primeiros anos do século XX. O beijo tornou-se um sério problema, pois, representava uma via, um agente de fácil contágio de doenças. Assim, o discurso do sanitarista
alertava não apenas para os riscos da transmissão de doenças, mas, também, para os perigos
políticos associados ao beijo de Judas. Metodologicamente, utilizo a História Cultural para
problematizar o discurso médico moralizante, que agiam como disciplinador de corpos e
educadores da população. Tais discursos podiam ser encontrados em periódicos de grande
circulação no estado, como o jornal A União, atuando como estratégia para normatizar os
diversos segmentos da população.
Palavras chave: Beijo, perigo e História Cultural.
Traçando e trançando os caminhos
da saúde pública em Araguari
no período de 1940 a 1950.
Damaris Naim Marquez (UNICAP)
[email protected]
Milena Karla Silva (UNICAP)
[email protected]
Paula kessy Silva (UNICAP)
[email protected]
Este artigo apresenta resultados parciais da pesquisa sobre saúde pública que vem sendo realizada
pelo grupo de pesquisa “História, Gênero e Cotidiano” composto por professores e alunos da Universidade Presidente Antônio Carlos/UNIPAC - Araguari/MG. No presente trabalho, temos como
objetivos discutir e pontuar questões relativas á saúde pública em Araguari, cidade do interior
do Triângulo Mineiro, no período de 1940 a 1950. Utilizamos como fonte de pesquisa as crônicas
do jornal Gazeta do Triângulo, de distribuição e circulação local, que discutem a saúde pública
araguarina, para apropriação de conhecimentos e como facilitador para uma melhor compreen-
168
V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
são da relação saúde/política/sociedade, articulados aos discursos científicos como divulgadores
dos saberes médico-higienistas enquanto estratégias políticas educativas sobre o pensamento
higiênico-sanitarista da época acima mencionada. Percorrer caminhos que permitam refletir sobre esta complexa questão implica repensar as práticas da saúde não como meras mediadoras da
vida/morte, mas, e antes de tudo, como práticas atravessadas por relações de poder constituidoras
de posições de sujeitos, normatividades, diferenças e desigualdades de classe.
Palavras-chave: saúde pública – discursos científicos – práticas de saúde.
Cidade da ordem: A construção de
Goiânia e a Psiquiatria
Éder Mendes de Paula
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
Utilizando-se de conceitos de Michel Foucault, Canguilhem e Bauman este trabalho propõese a realizar uma análise da construção de Goiânia na década de 1930 sob o viés da psiquiatria.
Isso se vale dado ao momento histórico específico e sobre as discussões acerca do conceito
de modernidade que estava em voga naquele momento. Assim, a contribuição é possibilitar
a visualização da edificação desta cidade, mediante os discursos de ordenação social que a
modernidade até aquele momento imputava para a sociedade goiana. A construção de um
sanatório público na cidade acontece na década de cinquenta, mas é a consolidação das
políticas nascentes pós-revolução de 1930.
Reconfigurações, vivências e tessitura
da saúde pública em Araguari na década de 50
Gilma Maria Rios (UNIPAC)
[email protected]
Mariana M. Rios (UNIPAC)
[email protected]
Lívia Coutinho (UNIPAC)
[email protected]
Esta pesquisa representa a concretização de um trabalho desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa “História, Gênero e Cotidiano”, composto por docentes e discentes de vários cursos da
Universidade Presidente Antônio Carlos/UNIPAC – campus Araguari. Trabalho que estimula
e testemunha o início do desenvolvimento de novos caminhos para a pesquisa na UNIPAC.
A proposta desta comunicação é analisar e refletir sobre os percursos históricos, as práticas
sociais e os jogos de força que constituem a prática da saúde em Araguari. Para atingirmos
esses objetivos, escolhemos como fonte de pesquisa os artigos do jornal Gazeta do Triângulo,
referentes à temática “Saúde Pública”, que circulou pela sociedade araguarina na década de
50. Este trabalho é fruto do esforço e sensibilidade das pesquisadoras que indagaram e in-
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
terpretam os indícios deixados por agentes sociais que viveram em um determinado tempo,
procurando apreender significados. Estes significados vão sendo moldados pela percepção,
das permanências e rupturas, das configurações que atuam como fios condutores explicativos
da história. Assim, ao analisar os discursos científicos como divulgadores dos saberes médico
– sanitaristas, como os artigos do jornal local, estamos descobrindo os fios, tecendo a trama
desse modo de pensar e fazer a medicina sanitarista em uma cidade do interior mineiro.
Palavras-chave: Saúde pública – Araguari – Saberes médico – sanitaristas.
Saúde, doença e medicalização:
Uma perspectiva historiográfica
Iêda Moura Silva
Universidade Federal do Piauí
[email protected]
Com base na implantação e trajetória da política de saúde pública no Brasil entre fins do
século XIX e meados do século XX, este artigo pretende discutir algumas das perspectivas da
historiografia brasileira sobre a saúde, doença e medicalização. Entretanto, através das análises de determinadas produções historiográficas dedicada ao tema da saúde, abordaremos o
processo de modernização e urbanização de determinadas cidades brasileiras, a exemplo de
São Paulo e Teresina (PI), que face à realidade de uma política de saúde pública autoritária e
excludente, foram medicalizadas.
Palavras- chave: Historiografia. Políticas de saúde pública. Modernização.
O discurso médico-higienista nas
escrituras femininas do segundo império
Iranilson Buriti de Oliveira
Universidade Federal de Campina Grande
[email protected]
“Um banho de água fria todas as manhãs é um meio excelente para um refrigério e saúde”,
escrevia a missionária Sarah Kalley, nos idos do Segundo Império, mais precisamente em
1866, quando a escritora escreveu o livro “A Alegria da Casa”, um texto voltado para orientações particularmente das mulheres que integravam a Igreja Evangélica Fluminense, fundada
pelo seu marido, o médico Robert Kalley. A circulação e recepção aos impressos de Kalley
foi tanta que o referido livro passou a ser adotado nas escolas fluminenses a partir de 1880,
demonstrando a circulação do discurso médico-higienista voltado para o ambiente familiar
no cotidiano da população carioca. Esta pesquisa, portanto, visa contribuir com a temática
voltada para a escrita, circulação e recepção de discursos moralizadores, higienizadores e
doutrinadores no Segundo Império, problematizando como esse tipo de literatura circulava
entre o público leitor brasileiro. A análise do livro “A Alegria da Casa” desenha as aproxi-
170
V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
mações entre os discursos médico, o religioso e o educacional, tomando como referência
o período compreendido entre 1866 e 1880, no Rio de Janeiro. Nessas aproximações, problematizamos o saber médico na orientação do saber pedagógico e sua recepção no discurso
dos educadores. Para tal análise, iremos dialogar com a teoria que repensa os conceitos de
leitura e de apropriação de discursos construídos pela Nova História Cultural, como estratégia metodológica para problematizar as formas de ler e os modos de prescrever a sociedade
higienizada, civilizada e educada.
Palavras-chave: asseio, higienização, feminino
Palmatória da Saúde, Estetoscópio da Educação:
leitura, circulação e recepção dos discursos médico-pedagógicos na Parahyba (1919-1945)
Iranilson Buriti de Oliveira
Universidade Federal de Campina Grande
[email protected]
Esta pesquisa desenha as aproximações entre os discursos médico e o educacional, tomando
como referência temporal o período compreendido entre 1919 e 1945, no Estado da Paraíba.
Nessas aproximações, problematizamos o saber médico na orientação do saber pedagógico e
sua recepção no discurso dos educadores. Como fontes, iremos analisar os escritos de políticos (presidentes de Estado e presidentes da União) sobre a higiene e a educação sanitária;
os textos jornalísticos e os da Revista Era Nova e da Revista do IHGP assinados por médicos,
educadores e demais autoridades públicas, bem como os documentos referentes às reformas
educacionais no Brasil e na Paraíba no referido período. Para tal análise, iremos dialogar
com a teoria que repensa os conceitos de leitura e de apropriação de discursos construídos
pela Nova História Cultural, como estratégia metodológica para problematizar as formas de
ler e os modos de prescrever a Paraíba higienizada, civilizada, moderna e educada.
Palavras-chave: saúde, educação, Paraíba.
Juventude Transviada. Alguns aspectos
médicos-sociais(1950-1960)
Lidia Noemia Santos
Doutoranda em História (PUC-SP)
[email protected]
Em mil 1966, Napoleão L. Teixeira, médico das forças armadas e professor do curso de medicina da Universidade Federal do Paraná tem seu livro Juventude Transviada. Alguns aspectos
da problemática médico-social publicado pelas Edições Letras Províncias. Ao longo do texto, o autor busca explicar porque jovens e adolescentes, inclusive de boa formação familiar e
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
educacional, estão se tornando transviados. Dez explicações conclusivas para os desvios de
comportamento juvenil são apontados, motivos que vão da prática de assistir filmes hollywoodianos ao consumo de álcool e outras drogas. Fonte inédita nos estudos acadêmicos sobre a juventude, o livro de Napoleão Teixeira se revela uma fonte preciosa para compreensão
da atuação das gangues juvenis e da juventude transviada no Brasil. A opção por uma análise
pautada em argumentos médicos é reveladora pois expressa um momento de inqueitação da
sociedade em saber como tratar com seus filhos ditos rebeldes. Além disso, é um vestígio do
como se constrói uma psiquiatria e uma psicologia no Brasil, direcionadas especificamente
para o tratamento dos jovens e dos adolescentes, ainda hoje estigmatizados pela possível
indolênscia prórpia da pouca idade.
Rompendo correntes e grades: o sanatório
meduna como novo espaço psiquiátrico em
teresina na década de 1950
Márcia Castelo Branco Santana
Universidade Estadual do Piauí-UESPI
[email protected]
À medida que as mudanças começaram a se avolumar Teresina em relação ao saber médico e
sua importância para a constituição de uma sociedade mais civilizada foi se formulando entre os teresinenses a idéia de um tratamento mais humanizado para os doentes mentais. Tal
imagem se consolidaria entre os teresinenses na década 1950, bem como o que se entendia
por loucura. Assim, o trabalho objetiva compreender como se formularam a construção dos
discursos e ações normatizadoras do comportamento para homens e mulheres na sociedade
teresinense dos anos 1950. Como fontes para elaboração do trabalho, utilizamos as fichas
de internação dos pacientes do Sanatório Meduna internados na década de 1950, artigos,
poemas e reportagens, sobre o Sanatório, publicados no jornal O Dia e no Diário Oficial
do Piauí. A análise das fontes foram delineadores do que era registrado como sintomas de
loucura e a inteligibilidade da doença, o que nos possibilitou compreendermos as nuances
do saber psiquiátrico e a configuração de um novo espaço desse saber em Teresina.
Palavras-chave: Teresina. Psiquiatria. Sanatório Meduna
A santa casa de misericórdia de cuiabá
e os enterramentos dos pobres na cidade
no limiar do século XX
Maria Aparecida Borges de Barros Rocha (UFG)
[email protected]
O artigo tem por objetivo apresentar uma discussão sobre a atuação da Santa Casa de Miser-
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
icórdia da cidade de Cuiabá no nascente século XX e suas atividades de atendimento aos
pobres quando eles se deparavam com infortúnios como a doença e a morte, assim como
seu trabalho referente aos serviços funerários da cidade. A Misericórdia era reconhecida
como irmandade da elite, pois, aglutinava entre seus irmãos pessoas da mais alta estirpe,
no entanto, seu Compromisso a diferenciava das demais irmandades, pois além de propor
atendimento aos irmãos, quando diante da morte propunha também a obrigação de prestar
socorro aos pobres e desvalidos. O desenrolar do processo de construção, transferência dos
enterramentos e por último a questão da secularização dos Cemitérios Públicos da cidade
de Cuiabá em andamento na Assembléia Provincial e na Câmara Municipal contarão com
atuação da Misericórdia e demais irmandades religiosas da cidade. A prática de atuação da
Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá se assemelhará à de outras instituições com o mesmo
nome e os mesmos propósitos, como a Santa Casa de São Paulo e a Santa Casa da Bahia, que
como em Cuiabá atenderão os pobres e também procurarão deter o monopólio dos serviços
funerários dessas cidades.
Palavras-chave: Misericórdia; Morte; Enterramentos.
Medicina popular e saber médico no Real Hospital Militar de Vila Boa de Goiás, 1750-1832
Mônica Paula Age
Doutoranda em História UFG, Mestre em História UFG, pesquisadora sobre História da
Medicina, Gênero e educação
[email protected]
Este trabalho representa o resultado parcial de minha pesquisa, que ora desenvolvo, sobre o
Real Hospital Militar de Vila Boa de Goiás, 1750-1832. Através da pesquisa documental e do
diálogo interdisciplinar, pretende-se analisar a presença dos conhecimentos médico e popular na cura dos doentes quando acamados no Hospital Militar vilaboense. Considera-se, no
presente estudo, a influência do saber médico-científico lusitano bem como os aspectos peculiares da medicina colonial brasileira: número de médicos insuficientes, ausência de cirurgiões e medicamentos, a impopularidade do ambiente hospitalar e o universo das práticas
e valores populares relativos à cura. Crê-se que o estudo ora empreendido contribui com
a história da medicina, com o fazer história e, ao mesmo tempo, privilegia um setor social
ainda pouco valorizado na historiografia goiana: a área da saúde.
“Entalados e estalecidos”: o sertão e seu
habitante sob a ótica das narrativas
de viagem de Arthur Neiva e Belisário
Penna ao Nordeste do Brasil – 1912
Pávula Maria Sales Nascimento
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Universidade Federal do Vale do São Francisco
[email protected]
Em 1912 três expedições científicas financiadas a serviço da Inspetoria de Obras contra a Seca
foram realizadas pelo Instituto Oswaldo Cruz ao interior do Nordeste com o objetivo de realizar estudos sobre as condições de saúde das populações do sertão. A terceira expedição,
que teve como figuras centrais os médicos Belisário Penna e Arthur Neiva, foi realizada entre
março e outubro de 1912, percorrendo o norte da Bahia, o sudeste e sul do Piauí e o estado
de Goiás. A viagem de Neiva e Penna foi registrada em diários de viagem e em fotografias
onde, além das descrições relativas às condições de saúde da população sertaneja, são delineadas também as condições higiênicas das localidades de acordo com os preceitos médicohigienistas em voga na época. Este trabalho tem como objetivo compreender as narrativas de
cunho etnográfico presentes no relatório da “Viajem científica pelo Norte da Bahia, sudoeste
de Pernambuco, sul do Piauhí e de norte a sul de Goiaz” à luz da medicina, bem como sob a
ótica dos pesquisadores que tinham como missão levar a ciência às populações mais afastadas da “civilização”.
Palavras-Chave: Medicina, Nordeste, Higienização.
Narrativas de vida de familiares de doentes
de tuberculose em Campina Grande-PB
Regina Coelli Gomes Nascimento
TUTORA/PET/HISTORIA/UFCG
[email protected]
Nesta pesquisa analisamos questões relacionadas ao preconceito enfrentado por doentes
com tuberculose na década de 1970 na cidade de Campina Grande-PB. Buscamos problematizar as narrativas que circularam, demarcar os lugares e as diferenças entre os sujeitos no
espaço doméstico e social. Embasados nos pressupostos pensados por Michel de Certeau
acerca das práticas cotidianas, as histórias narradas serão analisadas a partir de um lugar
social, buscando perceber as sutilezas e operações do fazer e do saber dos doentes diante das
reações mais comuns de separar talheres, pratos e objetos pessoais e/ou evitar falar, tocar e
se aproximar das pessoas. Assim, a partir desse recorte temporal, espacial e metodológico,
procuramos problematizar as Histórias narradas pelos sujeitos que vivenciaram o estigma e
o preconceito relacionado à doença.
Palavras-chave: tuberculose – preconceito – Campina Grande
A configuração do campo da saúde
pública no Piauí (1930- 1945)
Sorailky Lopes Batista
Universidade Federal do Piauí
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[email protected]
[email protected]
A configuração do campo da saúde pública no Piauí, entre 1930 e 40, aconteceu como conseqüência da emergência de um Estado autoritário edificado sobre uma base centralizadora, burocratizante e racionalizada. Tais características somaram-se a um discurso nacionalista exacerbado que foi posto em prática pelo Governo Getulista. Objetivamos com o presente trabalho
analisar o desenvolvimento e institucionalização do campo da saúde pública, moldado sobre o
centralismo, a burocracia e a racionalidade. Tentamos entender como esse processo deu-se no
Estado do Piauí, quais meios e estratégias foram utilizadas pelos governantes locais na tentativa de implantação do novo modelo de saúde pública que foi instituído com a Era Vargas.
Palavras-chave: Estado Novo – Saúde Pública - Campo
Menstruação: tabus e tradição
Virginia Palmeira Moreira (UFCG)
[email protected]
Esta trabalho busca analisar discursos e tabus que são construídos sobre o corpo feminino,
enfocando o ato da menstruação como uma prática para se pensar códigos e valores presentes no contexto sociocultural no qual as mulheres estão inseridas. Esta pesquisa atenta
para o simbolismo cultural da menstruação, decorrente das transformações biológicas e psicológicas desenvolvidas durante a puberdade. Para tal, nos apoiaremos nos depoimentos
orais de dez mulheres, com idades que variam de 60 a 70 anos de idade. Vale ressaltar, que
todas as entrevistadas nasceram e foram educadas no meio rural, bem como vivenciaram sua
primeira menstruação neste espaço. Desse modo, a presente pesquisa procura problematizar
como mulheres, a partir da experiência menstrual constroem representações do feminino.
Sob uma perspectiva da história cultural, à medida que abordamos práticas e representações
e suas manifestações dentro de uma lógica cultural específica a sociedade a qual estas mulheres pertencem. Para tanto, buscamos aporte teórico nas questões de gênero e identidade,
analisando símbolos e significados que são atribuídos ao corpo menstruado para se pensar
as práticas e representações que são elaboradas e reinventadas na cultura.
Palavras-chave: corpo, identidade feminina, relações de gênero, representação
Influência dos princípios higienistas nas
transformações urbanas, na educação e nos
espaços escolares no Brasil no final do século
XIX e começo do século XX
Zilsa Maria Pinto Santiago
Universidade Federal do Ceará
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[email protected]
Trata de parte da pesquisa em andamento que se insere na História da Educação dentro do
contexto de formação da identidade nacional do projeto republicano. Analisa as influências
dos princípios higienistas vigentes que se acentuaram no Brasil no final do século XIX e
começo do século XX nas transformações das cidades, na educação e nos espaços escolares,
tendo a Capital Federal como fonte de conflitos e problemas, cenário de epidemias e de precárias condições de salubridade nos espaços habitacionais de vias urbanas, ao mesmo tempo
centro das discussões das idéias fundamentadas no pensamento científico e centro das atenções das outras cidades brasileiras, incluindo Fortaleza, particularmente no inicio do século
XX quando a influência estrangeira moldava o espírito das classes dominantes.
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ST 18
História, afeto e textualidade – novos olhares para a
experiência do passado eou presente
Memorial do Fim: a apropriação na obra
de Haroldo Maranhão
Aiana Cristina Pantoja de Oliveira
Estudante do Curso de Mestrado em Estudos Literários da UFPA
[email protected]
O presente trabalho se direciona ao estudo dos aspectos pós-modernos na obra Memorial do
fim: a morte de Machado de Assis, de Haroldo Maranhão. O pós-modernismo, movimento
cultural e social em voga na história contemporânea, possui como principal característica a
desconstrução de conceitos surgidos na modernidade. Alojando-se no âmbito da ficção, o
referido movimento instaura uma nova narrativa que desconstrói o texto literário cânone.
Memorial do fim se configura em um exemplo bastante esclarecedor de tal desconstrução,
pois coloca em xeque não só o cânone literário como também discursos modernos até então
considerados verdadeiros, irrevogáveis e naturais. A relação da linguagem com seus referentes, a relação entre os textos e a história oficial são exemplos de discursos abalados por essa
narrativa pós-moderna. O referido livro, por meio de trechos narrativos e personagens, apropriados das obras machadianas, reinventa os últimos dias de Machado de Assis, fornecendo,
por conseguinte, uma versão alternativa para a biografia dos momentos derradeiros do autor
carioca. Para embasar teoricamente a discussão, serão utilizadas as teorias de Jaques Derrida,
Roland Barthes, Antoine Compagnon, Silviano Santiago, Affonso Romano de Sant’anna, entre
outras, as quais abordam conceitos como escritura, desconstrução, apropriação e pastiche.
Palavras-chave: pós-modernismo, desconstrução, apropriação.
Franklin Cascaes: saudade e solidão reflexões iniciais
Denise Araujo Meira
Doutoranda do Programa de pós-graduação em Educação, Arte e História da Cultura da
Universidade Presbiteriana Mackenzie
[email protected]
Franklin Cascaes (1908-1983) como artista/folclorista foi profundamente comprometido com
as tradições pesqueiras da Ilha de Santa Catarina. Sensível ao desmonte da cidade buscou
nos relatos dos moradores nativos da Ilha de Santa Catarina uma estratégia para registrar um
tempo que estava terminando. No final dos anos 30, freqüentou o Curso Noturno da Escola
de Aprendizes e Artífices de Santa Catarina como aluno ouvinte. No dia 01 de outubro de
1941, o então aluno passa a condição de mestre, dando início a uma carreira que iria durar
até 27 de novembro de 1970 quando se aposenta. Este artigo tem como objetivo aproximar a
idéia de saudade e solidão sugerida pelo professor/artista nas suas narrativas no período da
sua aposentadoria e a relação do envelhecer e morrer analisada por Norbert Elias. Trata-se de
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
uma trajetória apreendida a partir de um campo empírico específico, dos fragmentos autobiográficos preservados no arquivo do Museu Universitário Osvaldo Rodrigues Cabral.
Palavras-chave: Franklin Cascaes, saudade/solidão, fragmentos autobiográficos.
Corpo e beleza feminina nas
textualidades contemporâneas
Edna Maria Nóbrega Araújo
Profa. Doutora do Dep. de Geo-História - Centro de Humanidades/UEPB
[email protected]
A presente comunicação discutirá conceitos como o de corpo e beleza feminina a partir da
análise das textualidades elaboradas pelas Revistas Veja, Isto É, Boa Forma, Dieta Já, Corpo a
Corpo e Plástica & Beleza, entre o final do século XX e início do século XXI. Nestas textualidades os corpos femininos são afetados pelo desejo de transformação. A partir da década de
1990, os cuidados com o embelezamento são apropriados como uma necessidade. Se em outros momentos as mulheres já se preocupavam com o corpo e a beleza, vive-se um momento
da história humana em que a beleza tem sido cultuada, procurada, quase como uma fixação.
Nunca a beleza e os cuidados com o corpo foram tão colocados em evidência quanto nos dias
atuais. Ter um corpo perfeito, trabalhado, esculpido à imagem e semelhança do desejo de
cada uma é uma tendência que vem se firmando. Nesse sentido, pretendemos mostrar que,
a partir das últimas décadas do século XX, diferentes textualidades disseminam um modelo
de corpo para as mulheres brasileiras associado a tríade beleza-saúde-juventude.
História, cinema e sensibilidades: amor e ódio
nos díspares caminhos da “força” em Star Wars
Joedna Reis de Meneses
Profa. Doutora em História/UEPB
[email protected]
Anakin Skywalker ou Darth Vader? Lugares opostos de sujeito e ocupados por um único indivíduo? Amor e ódio ajudam na elaboração da subjetividade dos personagens presentes na
trama de George Lucas. Padmé, Mestre Ioda e próprio Imperador ilustram uma saga em que
os sentimentos marcam as experiências dos indivíduos. O objetivo deste trabalho é destacar
o papel das imagens sobre as sensibilidades, na trama de Guerra nas Estrelas, como signos
das experiências sobre os afetos vivenciados pelos indivíduos no final do século XX e início
do século XXI.
Palavras-chave: cinema, Star Wars, sensibilidades
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
O teatro goiano no contexto da ditadura
militar: a dramaturgia de Miguel Jorge
e o Gen (grupo de escritores novos)
José Carlos Henrique (PUC/GO)
zecahenrique @yahoo.com.br
O presente trabalho propõe uma análise do Teatro realizado em Goiás durante o regime militar e suas principais repercussões nos campos da cultura e das relações de poder estabelecidas neste período.Norteando a análise utilizaremos a dramaturgia do escritor Miguel Jorge
e seus textos censurados à época.O Grupo de Escritores Novos, do qual foi um dos fundadores, se tornou de extrema relevância ao aglutinar diversas tendências literárias tornandose um pólo importante de difusão de idéias para a arte goiana neste recorte em questão.O
teatro era uma das vertentes de estudo para o GEN e repercutiu de forma intensa dentro
deste contexto estudado.Por meio de toda uma simbologia conseguiu plasmar diversas vozes
que se levantaram contra as leis vigentes se utilizando da transfiguração da linguagem e do
imagético.
Palavras-chave: Teatro - Ditadura Militar - Miguel Jorge
A intencionalidade “implícita” do texto,
enquanto fator determinante de opiniões?
Leyde Dayana Athayde Silva de Lyra (UEPB)
[email protected]
Este trabalho tem como objetivo demonstrar as mais variadas nuances que o sujeito está
exposto com a expansão das “literaturas” e como as mesmas influenciam seu contexto sociocultural; verificar como a opção de gênero e/ou estilo de vida é uma influência direta da
literatura que está sendo absorvida pelo indivíduo; analisar como o contexto está “servindo”,
como uma ferramenta intencionalista por parte dos indivíduos que “manipulam” a escrita,
para se adequar dentro do seu conceito de “correto” ou “incorreto”, desta forma usaremos
como escopo teórico metodológico Maingueneau (2006), Foucault (1971), Kleiman (2008),
para discutir a intencionalidade que conduz o indivíduo aos conceitos de gênero, literatura
e ensino.
Palavras-chave: intencionalidade, teoria histórica/literária, escrita.
Literatura de aventura como fonte histórica:
uma proposta metodológica
Lorena Beghetto
Doutoranda do Departamento de História/UFPR
[email protected]
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Este artigo pretende apresentar uma metodologia de leitura, interpretação e análise de fontes literárias na pesquisa histórica. Como a utilização da literatura pode ser feita em diferentes ramos da pesquisa histórica, como a história cultural, política, artística, social, etc.,
estabelecemos como limite de análise o desenvolvimento de uma pesquisa sobre a história
do imperialismo europeu, ocorrido durante o final do século XIX e início século do XX, mais
precisamente sobre o imaginário imperialista presente na literatura de aventura. Para tanto
dividiremos o artigo em três partes. A primeira versa sobre as aproximações existentes entre a
Literatura e a História, e sobre a utilização da literatura como fonte histórica; a segunda sobre
a análise da literatura, partindo da metodologia de leitura de textos; e a última foca no imaginário imperialista europeu difundido durante o final do século XIX e início do século XX.
Palavra chave: Literatura e história, leitura, literatura de aventura.
La teta asustada: uma poética
feminista da memória
Maria Célia Orlato Selem (Unicamp)
[email protected]
Esta comunicação propõe realizar uma análise do filme “La teta asustada”, pensando os
usos da memória com base nos estudos feministas e pós-coloniais. Focaliza a importância
da relação entre história, feminismo e cinema, atentando para as potencialidades do olhar
por trás da câmera no trabalho de movimentação de sentidos que constituem os sujeitos e
objetos da história. A linguagem cinematográfica de Claudia Llosa utiliza de elementos da
memória traumática das mulheres andinas pós o terrorismo de Estado no Peru para realizar
um diálogo entre poética e política. Fazendo emergir questões como os silenciamentos da
mulheres, a impossibilidade do presente diante do peso do passado, o tensionamento entre
o eu e o outro, o filme aposta na estetização da memória como resistência aos poderes que
despotencializam a vida no presente.
Palavras-chaves: cinema, feminismo, memória
A carnavalização do cinema de Almodóvar
como instrumento construtor de identidades
Mônica Horta Azeredo
Doutoranda em Português/Université Rennes 2 e em Teoria Literária/ UnB.
[email protected]
A representação da sociedade contemporânea no cinema de Almodóvar é o retrato de uma
carnavalização que busca revolucionar e jogar por terra a tradição de uma cultura que durante décadas viveu sob o autoritarismo de um ditador. Ao dizer não a esse mundo oficial,
nos termos de Bakhtin, o diretor constrói novas subjetividades e identidades tornando o
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
campo fértil para outras formas de ser e amar. Travestis, lésbicas, mulheres enlouquecidas e
transgressoras compõem estes cenários coloridos de um vermelho intenso e embebido em
sangue. O objetivo desta comunicação é abordar estas temáticas a partir da análise da representação de duas heroínas do cinema almodovariano : Rebeca e Manuela, protagonistas de
De Salto Alto (1991) e de Tudo Sobre Minha Mãe (1999), respectivamente.
Palavras chave: cinema, identidade, sociedade, gênero.
Amaros, territórios e memórias: cotidianos de
uma comunidade negra. Paracatu/MG
Paulo Sérgio Moreira Da Silva
Doutorando/PPGHIS-UFU
[email protected]
Objetiva-se apresentar a história da comunidade negra, Família dos Amaros, bem como compreender os significados de memória e território por eles vivenciados. Trata-se, de uma comunidade negra certificada pela Fundação Cultural Palmares em 2004, como Remanescente
das comunidades dos quilombos, localizada no bairro Paracatuzinho, da cidade mineira de
Paracatu. Neste sentido, a pesquisa sobre a família dos Amaros é um aprofundamento de seu
contexto ritualístico, cujo diálogo que se pretende estabelecer vai além de uma leitura do
simples cotidiano por eles representado e a trajetória vislumbrada, passando pelo entendimento da rede de parentesco familiar e cultural tecida como forma de enfrentar e sobreviver
às questões sociais e políticas vivenciadas. Neste viés, está em pauta à luta política pelos
direitos sociais da terra original da família dos Amaros, situada na fazenda Pituba, de onde
foram expulsos a partir dos anos 40. Neste processo político se evidencia a persistência de
valores e tradições inscritos numa memória afro-descendente que deslocada para a periferia
urbana recria sua cultura, sua forma de viver, aglutinando 400 famílias em torno de suas
festas, sociabilidades, atividades artesanais e artes de viver, isso como forma de manter sua
identidade cultural. Seguindo este ponto de vista, ressaltamos a luta política pelo reconhecimento de suas terras e direitos sociais entranhadas no seu cotidiano, suas práticas culturais
populares, daí então, o enfoque não só na sua movimentação em torno da Fundação Cultural
Palmares e do Instituto Fala Negra, mas também no conjunto de representações simbólicas
que resguardam sua identidade cultural por meio de uma memória social em contínua recriação/reinvenção. Assim, esta luta dos Amaros por sua terra cujo espaço –fazenda Pitubamaterializa-se como lócus de resistência dos familiares do escravo forro Amaro Pereira das
Mercês em busca de seus direitos civis e acima de tudo por justiça social.
Palavras-chave: quilombolas; território; identidade, memória, Paracatu.
Textualidade e sensibilidade nos discursos
das assembléias de chefes indígenas
Poliene Soares dos Santos Bicalho
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Profa. Doutora em História Social/UEG
[email protected]
Os discursos das falas transcritas pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) de algumas
das Assembléias de Chefes Indígenas, iniciadas na década de 1970, são tratadas como formas
de resignificação da história indígena no Brasil. Repletos de sentidos, estes textos traduzem
muitas das angústias dos povos indígenas no Brasil: relações e tensões com o Estado (FUNAI); as dificuldades de organização da luta social iminente; e as preocupações com direitos
à terra e à cidadania.
Sá, Rodrix e Guarabyra:
muito além do “rock rural”
Thiago Hausner
Mestrando em Historia/PUC-SP
[email protected]
Este trabalho originou-se com o intuito de situar a importância do trio musical Sá, Rodrix
e Guarabyra na historiografia cultural brasileira do século XXI. Criador do chamado rock
rural, o grupo formado na década de 1970 representou em suas canções um Brasil em constantes mudanças em vários campos sociais. Até então são inéditos os estudos acadêmicos
que abrangem a influência inegável das canções do trio numa época marcante da música
popular brasileira. Este trabalho buscará jogar luz sobre as canções do grupo, estudá-los
muito além do rótulo do rock rural, um resgate de uma obra que andou lado a lado com a
história social brasileira, um trio que representou o seu tempo em canções que se aproximavam das mudanças observadas pelo clássico estudo de Antonio Candido, Os Parceiros do Rio
Bonito, um estudo que colocava no centro das discussões acadêmicas um Brasil esquecido, o
Brasil do interior, assim com as canções do trio Sá, Rodrix e Guarabyra.
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
ST 19
Brasília – 50 anos de história para além
do aço e do concreto
Devastação e preservação ambiental
nos 50 anos de Brasília
Cesar Mateus Goulart Goi
Graduação em História/Uniceub
[email protected]
Deusdedith Alves da Rocha Júnior
Regina Coelly F. Saraiva
Professora Doutora em Desenvolvimento Sustentável - CDS/UnB [email protected]
A pesquisa aborda o processo de construção e consolidação de Brasília sob a perspectiva da
história ambiental. Brasília nasceu com o rótulo da modernidade e precisou intervir diretamente sobre o meio ambiente natural – o cerrado - para que o seu projeto de fato se realizasse. Para isso, foi preciso que grande parte de sua vegetação nativa cedesse espaço para
o concreto. A arquitetura moderna foi o princípio que legitimou e conferiu um estilo único
para o espaço urbano da cidade. O urbanismo encontrou na técnica paisagística o parceiro
ideal para a configuração da paisagem de Brasília que em nada poderia se parecer com as
demais cidades brasileiras. Surgiu assim uma cidade com prédios de arquitetura arrojada e
uma “natureza exótica” que negou o cerrado – marca da devastação. Da mesma forma que
seus prédios e monumentos, o verde em Brasília também foi projetado e “construído”. Assim,
surgiu uma “natureza artificial” no lugar onde antes existia o cerrado. Na década de 70, foram
dados os primeiros passos no sentido da preservação ambiental em Brasília, principalmente
estimulados pela necessidade de substituição de espécies exóticas pela vegetação nativa. Os
anos posteriores sinalizaram para medidas mais eficazes e foram marcados pela criação de
leis e unidades de conservação, principalmente parques ecológicos, preocupados em preservar a natureza do cerrado. No Plano Piloto de Brasília, destaca-se a criação do Parque Olhos
D’Água: o concreto cedeu ao cerrado. Hoje, espécies nativas como o pequi e o buriti são reconhecidas como patrimônio ecológico da cidade.
Palavras-chave: história ambiental, Brasília, devastação, preservação.
Nos bastidores de Brasília: o processo de formação de Vila Planalto.
Christiane Machado Coelho
Pós-doutorado no Centro de Investigação e Estudos em Sociologia (CIES, Lisboa)
[email protected]
O processo de formação de Brasília, no Distrito Federal brasileiro, é analisado a partir de
Vila Planalto. Trata-se de um antigo acampamento pioneiro, instalado de maneira provisória
para construção da nova capital nacional. Este espaço permaneceu ilegal durante mais de 30
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anos e foi posteriormente reconhecido como patrimônio do Distrito Federal, em função de
seu papel como testemunho dos primórdios da cidade. As questões do direito à moradia, do
direito à história e do direito à memória são igualmente estudadas neste contexto.
Uma proposta de livro didático
para o Distrito Federal
Cristiano Alencar Arrais
Professor adjunto da UFG
[email protected]
Eliezer Cardoso de Oliveira
Professor adjunto da UEG
[email protected]
O objetivo desta comunicação é relatar uma proposta de história didática do Distrito Federal, realizada pelos autores no livro História do Distrito Federal (Editora Scipione, 2008),
destinado ao 4º ou 5º ano do Ensino Fundamental. O pressuposto que norteou essa obra
foi o de que os livros didáticos regionais devem suprir as carências de sentido, levando-se
em conta as especificidades histórico-culturais de cada unidade da federação. Levou-se em
conta na proposta, a especificidade sócio-cultural do DF e como o livro didático de história
iria contribuir para satisfazer as carências simbólicas de sua população. Utilizando os pressupostos metodológicos da História Cultural, valorizou-se a questão da identidade, na construção de uma história que fosse pertinente aos valores simbólicos dos alunos distritais.
Desse modo, a história do DF não se resume à construção de Brasília, tendo uma visão mais
ampla do seu passado que engloba várias tradições (indígenas, negras, européias, goianas,
etc.), dando uma base mais sólida e realista as utopias surgidas com a construção de Brasília,
depurando os excessos de uma ingênua utopia moderna desenvolvimentista.
Palavras-chaves: Brasília, livro didático, história cultural
Brasília: A cidade do texto ao contexto social
Eloísa Pereira Barroso
Doutora em Sociologia/UnB
[email protected]
Esta pesquisa focaliza o processo de urbanização da cidade de Brasília através do estudo da
produção literária que aí se deu a partir de sua inauguração em 1960 até o início do século
XXI. Nela Brasília é tratada como um lugar de estudos, um espaço da vida e da conquista da
cidadania. A pesquisa subentende que os textos literários que tematizam a cidade fazem
surgir uma espécie de imagem “bricolée”, arlequinal, onde os escritores tecem a imagem
de uma cidade grande e moderna, exposta ao circuito da mercadoria. No caso específico de
Brasília, os autores a serem analisados fazem parte do quadro de uma literatura brasiliense
quase sempre desconhecida do grande público.
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Brasília representa uma espécie de ideal de racionalidade feliz. Seu espaço sugere uma vida
ordenada, livre de qualquer esfera da ambivalência. Ela é a visão da cidade perfeita, que
embora não rejeite a história, pois resgata o mito da descoberta do Brasil, omite os vestígios
palpáveis de capital de um país periférico.Ao imputar a “felicidade racional” e desmaterializar
o tempo histórico, a cidade torna-se uma moldura urbana da qual só é possível extrair os significados previamente determinados. Os textos selecionados serão compostos por poemas,
crônicas e romances nos quais se refletem a fragmentação e a polifonia da nova cidade.
Memórias escolares da cinqüentenária
cidade de Sobradinho
Ivany Câmara Neiva
Doutora em História Cultural/UnB
[email protected]
O texto traz histórias vivenciadas em Sobradinho - uma das trinta cidades que hoje compõem o cinqüentenário Distrito Federal. Trata de memórias de práticas escolares desenvolvidas no ensino das disciplinas de Sociologia e Estudos Sociais, para o Ensino Médio, no
Colégio de Sobradinho, entre 1970 e 1973. À época, completavam-se 10 anos da mudança do
Distrito Federal para o Brasil Central, da inauguração de Brasília como capital brasileira e da
fundação de Sobradinho. A partir de narrativas de professores e estudantes da época, contextualiza-se o período político brasileiro, são lembradas estratégias educacionais cotidianas, e
são registrados fragmentos de histórias do Distrito Federal.
Palavras-chave: memórias escolares; Sobradinho; cinqüentenário.
Brasília: religiosidade tradicional
no âmbito da modernidade
Lindsay Borges
Doutoranda em História/UFG
[email protected]
A proposta desse trabalho é refletir sobre a questão de como a Igreja Católica atuou durante a
construção de Brasília para que a cidade - pensada como precipuamente laica - incluísse em
seu projeto, de modo destacado, a concepção de tradição religiosa como sustentáculo cultural
de uma sociedade em emergência. A instituição religiosa mobilizou seu capital simbólico,
representado particularmente por meio de mobilizações de massa e aprofundamento das
relações com o poder político, tendo em vista conquistar espaço para a igreja católica na nova
capital erguida no planalto central. Para o sucesso dessa iniciativa, foi fundamental o suporte
consignado pela Arquidiocese de Goiânia, na organização das sucessivas etapas de consolidação da política de imbricação entre o âmbito religioso e o político na nova capital federal.
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Memória, Cultura, Cultura Popular,
Identidades, e Educação – Um diálogo
identitário-cultural trasndisciplinar
Luciana de Maya Ricardo
Museu Vivo da Memória Candanga/SEC-DF
O tempo faz-se presente para contar histórias de diversas culturas populares que são a matriz
dos fazeres e dos saberes, base da educação brasileira. O criar, como forma essencial de existir,
mostra-se na necessidade da expressão que legitima o produto artesanal e a produção popular.
Memória, Cultura, Cultura Popular, Identidades, e Educação – Partes de um mesmo todo,
que formam a cidade e dialogam transdisciplinarmente com a realidade da comunidade do
Varjão, no Distrito Federal, são aqui apresentados como integrantes de referencias identitário-culturais de origem, de translados e de fixação que desvelam caminhos percorridos e
direcionam caminhos a serem descobertos com dignidade, identidade e prazer, até a fixação
no Distrito Federal.
Palavras-chave: memória, cultura, identidade.
E do sertão se fez Brasília
Marcia de Melo Martins Kuyumjian
Professora do Departamento de História/UnB
[email protected]
Kenia Erica Gusmão Medeiros
Mestranda do PPGHIS/UnB
[email protected]
O termo sertão tem variações de sentido incrustadas no tempo e no espaço. Refere-se a diferentes realidades geográficas e sociais. Sem dúvida, após a publicação de Os Sertões e a relação
daquela paisagem com o Nordeste, o uso e a compreensão que se encontra no senso comum é
aquela que remete essa paisagem ao deserto. Daí muitos defenderem sua origem em uma corruptela da palavra “desertão”. Daí sertão.
Mas há outras possibilidades. A pesquisa do intelectual brasileiro Gustavo Barroso (1938) afiança ser a palavra usada na África e em Portugal. Nada tinha ver com a noção de deserto (aridez,
secura, esterelidade), mas sim com a de interior, de distante da costa: por isso o sertão pode até
ser formado por florestas, contanto que sejam afastadas do mar. O vocábulo se escrevia com “c”
– mulcetão em língua Bunda de Angola e diz-se locus mediterraneus por ser um lugar que fica
no centro ou no meio das terras.
Eis uma definição que bem se enquadra no Brasil do Centro-Oeste onde foi construída a cidade
de Brasília. Região que não pode ser delimitada por contornos geográficos fixos, mas que foi relegada à marca da decadência econômica, social, enfim, unidades menores de nossa federação.
Imagem e concepção decadentista, rejeitada por muitos historiadores que identificam um
equívoco de interpretação, uma vez que desde a Colônia o sertão se inscrevia também na prob-
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lemática nacional de sustentação do mercado interno e acumulação primitiva de capital.
E o que dizer dos tempos atuais, no viés da história cultural, no recorte do tempo presente, em
que Brasília se relaciona com o sertão, do qual reservou o quadrilátero pertencente ao Distrito
Federal? Argumentamos que a modernidade que Brasília trouxe não apagou os rastros do sertão,
permanência de costumes e práticas culturais que se fundiu ao longo da história brasileira. Se
o sertão era visto como a representação do atraso ainda hoje se mantém, sustentando inclusive
a modernidade. E embora silenciada, o olhar do historiador faz emergir interpretações desse
sertão no interior da própria cidade modernista que é Brasília. E este é nosso intento, utilizar
imagens que revelam esse rico universo da confluência do ideal de modernizar com a vontade
de reter as bases culturais tradicionais.
Memória e cidade: Brasília 50 anos
Maria Salete Kern Machado
Professora Colaboradora do Departamento de Sociologia da UnB
[email protected]
A pesquisa busca reconstruir a memória de Brasília por meio da produção literária. Crônicas,
contos, romances foram selecionados e entrevistas realizadas com os autores para identificar
as representações sociais existentes sobre a cidade desde a sua criação.
Imagem e Representação:
O homem favelado x o cidadão brasileiro
Patrícia Martins Assreuy
Mestranda em Urbanismo no PROURB/UFRJ
[email protected]
Baseando-se na premissa de que não existe fato despido de interpretação, pode-se dizer que a
imagem que o senso comum guarda da favela e do morador da favela é na verdade uma representação, que se presta a definir não apenas o espaço físico da favela como também o próprio
favelado. Nesse sentido, o presente artigo se propõe a discutir a associação entre as representações que a favela carioca vem assumindo junto ao imaginário social desde o seu aparecimento, em fins do século XIX até o fim do século XX e a noção construída junto à sociedade de
quem seria o homem favelado. A partir dessa associação, propõe-se que essa caracterização
serve ao propósito de forjar uma definição do que seria o cidadão brasileiro ideal, em oposição
à imagem do homem existente na favela.
Palavras-Chave: Imaginário social, representação, Rio de Janeiro, favela.
Cultura e natureza na poesia
brasiliense de Paulo Tovar
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Regina Coelly Fernandes Saraiva
Prof. Adjunta de História da Faculdade UnB Planaltina – FUP-UnB.
[email protected] / [email protected]
Brasília é uma cidade muito além do aço e concreto. A cidade, nos anos 70, configura sua
identidade a partir das expressões culturais que vão se delineando pelas ações de jovens que,
ao se transferirem para Brasília com suas famílias, percebem a cidade e seu potencial cultural.
A cidade é traduzida por esses jovens por meio da música e da poesia e entre eles destaca-se a
figura de Paulo Tovar. Sua poesia, muitas vezes musicada, vai traduzir Brasília como a cidade
modernista, mas também como a cidade sertão, bem aos moldes de quem vivenciou e carrega uma tradição sertaneja. Paulo Tovar nasceu em Catalão, interior goiano. Observador da
natureza do cerrado, impactada com a construção de Brasília, a poesia de Tovar traduz a cidade por meio de um movimento poético que se tornou conhecido entre aqueles jovens como
“poesia de mimeográfo” ou “poesia ambulante” que se fortaleceu como expressão cultural de
Brasília nos seus primeiros anos. Paulo Tovar traduziu a cidade e sua natureza sertaneja – a
natureza do cerrado – em meio a cidade moderna, num momento em que ainda não se falava
da necessidade de preservação ambiental; transgrediu, por meio da sua poesia, o momento
político – a ditadura militar – e junto com outros poetas e músicos da cidade lideraram um
movimento poético que denunciava a “cidade silenciada”; a poesia, expressão ativa da cultura
da cidade daquele momento, era “publicada”, tornava-se pública, nas paredes, nas paradas,
nas ruas, como reação ao contexto repressor. Paulo Tovar, músico e poeta, Cidadão Honorário
de Brasília, post mortem, desde agosto de 2010, soube como poucos, reconhecer Brasília, nos
chamando atenção para a natureza que a acolheu: falou de juritis, siriemas, lobos, vacas e
bois, que ruminavam no meio da Esplanada quando a cidade era somente uma forma imaginária. Traduziu a cidade-sertão, a cidade moderna, marcou época com sua poesia, que contribui para que a gente possa entender o que é Brasília.
Escola Peripátética: Educação
Patrimonial- Brasília museu e arte a céu aberto
Rinaldo Ferreira Oliveira
Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal
[email protected]
Este projeto tem como objetivo firmar a Educação Patrimonial como alternativa para o reconhecimento e interpretação do patrimônio histórico, arquitetônico, urbanístico e cultural
de Brasília proporcionando a ampliação do imaginário coletivo sobre a Capital Federal e
incentivar o sentimento de pertencimento nos alunos, ao promover a valorização da Capital
Federal como Patrimônio Cultural da Humanidade. É dividido em duas etapas:
Primeira, palestra: a História da Capital, discorremos sobre a ocupação do centro-oeste desde
a pré-história, o Brasil Imperial e Republicano, a Missão Cruls, o governo de JK, o projeto de
Lúcio Costa onde enfatizamos as características urbanas do Plano Piloto explicitando as Escalas
Arquitetônicas implementadas por ele: Monumental, Residencial, Bucólica e Gregária.
Segunda, Uma caminhada para vivenciar e sentir as 04 escalas arquitetônicas e formar um
conceito próprio sobre a cidade, percorrer o Eixo Monumental, passando pela Torre de TV,
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Praça do Cruzeiro; Complexo Cultural da República, a Catedral Metropolitana de Brasília, a
Esplanada dos Ministérios até a Praça dos Três Poderes e a área residencial.
Representações da morte do índio Galdino
Jesus dos Santos na imprensa brasileira
Rodrigo Piubelli
[email protected]
Este artigo busca discutir o cotidiano como palco das relações sociais, tendo como lócus a cidade de Brasília. Cidade onde as diversas representações sobre os motivos de sua construção,
sua arquitetura, mais principalmente sobre as relações entre seus indivíduos dentro do espaço urbano, tem produzido diversas imagens acerca da capital do Brasil. Portanto é dentro
dessas preocupações, que o presente ensaio tem por objetivo debater sobre os sentimentos
produzidos na sociedade brasileira a partir do assassinato do índio Galdino Jesus dos Santos
cometido por cinco jovens da classe média de Brasília, bem como identificar, nas diversas
opiniões emitidas por autoridades, especialistas e pessoas comuns, em dois jornais da época
(Jornal de Brasília e O Globo), que valores são apresentados, que princípios são defendidos,
que direitos são reivindicados, que representações da cidade de Brasília são apresentadas.
Paisagens fraturadas da cidade sob o olhar
do forasteiro: uma leitura de os signos
e as siglas de H. Dobal
Silvana Maria Pantoja dos Santos
Doutoranda em Teoria da Literatura /UFPE
[email protected]
Pensar a cidade na literatura, mais especificamente no texto poético, é dar a ela um relevante
significado em função da carga subjetiva que a norteia Os poetas não buscam na cidade o
que está reconhecido socialmente, mas a sua substância. Assim, diante de objetos, imagens,
lugares, importa ao poeta menos as coisas em si, que a relação que estabelecem com elas.
Nesse esteio, objetivamos com este trabalho analisar o impacto da cidade sobre o homem
na obra Os signos e as siglas do poeta piauiense H. Dobal. Por meio da linguagem literária,
a cidade ficcional funde-se com a cidade real a partir do olhar e/ou da vivência do escritor,
deixando transparecer as fraturas pessoais e sociais de quem observa a cidade mas não se
sente espelhado nela. Como um flanêur, o poeta observa Brasília em mutação e registra
suas impressões sobre uma realidade que não traz as marcas das suas referências. Do olhar
de viajante, bem como, das suas anotações saltam traçados urbanos, indivíduos sem rostos,
aridez nas relações, etc., que se transmutam em formas poéticas.
Palavras-chave: Litratura; cidade; memória.
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
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Patrimônio imaterial – novas paisagens, diversidade e
diferença na cultura popular na contemporaneidade
Os contadores de histórias e os
contadores da história
Aldanei Menegaz de Andrade
Mestranda em História Cultural/PPGHIS-UnB
[email protected]
Este artigo é parte da pesquisa que venho desenvolvendo para a dissertação do Mestrado
em História Cultural na UNB, na linha de pesquisa: identidades, tradições e processos; com
o projeto: “A ARTE DE QUEM CONTA OS CONTOS E AUMENTA OS PONTOS NO DISTRITO FEDERAL”, de 1996 a 2010. Adoto como fio condutor a metodologia da História Oral,
buscando a identidade do contador de histórias contemporâneo. A construção da história
parte do presente e procura também pelo passado a compreensão do objeto pesquisado.
Hoje, como afirma Michel de Certeau, o historiador trabalha nas margens, vai até ‘as zonas
silenciosas’ (2006, p.87). Com a descoberta do ‘mundo novo’ a história passou a ser contada na voz, na escrita e no desenho dos que aqui vieram e voltaram levando as notícias e
alimentando o imaginário do povo europeu. O contador de histórias é um personagem que
pode ser encontrado nas entrelinhas, nas lacunas da história oficial que pouco valor deu aos
sujeitos anônimos e secundários.
Palavras chave: narrativa, identidade, imaginário.
Tradição e Sociedade no Sertão de Goiás
Amanda Alexandre Ferreira Geraldes
UniEvangélica – GO
[email protected]
Paula Groehs Pfrimer Oliveira Stumpf
UFG – GO
[email protected]
O presente artigo busca identificar qual a função social e quais os impactos sócio-culturais da
Feira do Troca na comunidade de Olhos D’Água no interior de Goiás, valendo-se de pesquisas
e análises de corpus documental fundamentadas na História Oral. Estudos de memória, construção de identidade e formulação de consciência comunitária nortearão o projeto de Tradição
Oral. Este trabalho justifica-se ao identificar os modos de saber e de fazer da comunidade, bem
como os comportamentos da mesma nos eventos que se relacionam à prática da troca.
A “volta ao mundo” da capoeira: resistência,
contravenção e patrimônio cultural brasileiro
190
V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Carlos Bittencourt Leite Marques
UFRPE
[email protected]
A luta pelo reconhecimento e inclusão, não apenas da capoeira, mas de maneira geral da
cultura popular como influenciadoras da identidade nacional, vem de longos tempos. No dia
15 de julho de 2008, na cidade de Salvador-BA, a capoeira se tornava o mais novo patrimônio
imaterial brasileiro. Embora hajam registros dessa “brincadeira” escrava há mais de 200 anos,
e uma entidade com o propósito de registrar e preservar estes patrimônios desde 1937, só a
partir do ano passado que a mesma foi “legitimada”, como tal. Todos esses anos de repressão
e preconceito estão marcados por fortes interesses das camadas dominantes em exorcizar
da “sociedade brasileira” as manifestações culturais das camadas subalternas. Pretendemos no trabalho proposto analisar o processo que irá propiciar o registro da capoeira como
Patrimônio Imaterial do Brasil, observando algumas especificidades da capoeiragem recifense.
Palavras-chave: patrimônio cultural, cultura popular, identidade.
Mãos que cortam, cantam e contam:
Joaquim Mulato e suas narrativas
Cícera Patrícia Alcântara
Mestre em História/UFPE
[email protected]
Este trabalho tem como principal objetivo analisar a trajetória pessoal e religiosa do líder
da Irmandade da Cruz Joaquim Mulato de Souza a partir das narrativas orais e escritas construídas por/sobre o mesmo, bem como pensar de que maneira essas narrativas contribuem
para o processo de patrimonialização de sua trajetória através de práticas discursivas que se
intercambiam constantemente e que atribuem valor simbólico ao universo de enunciados
que lhe cercam. Tendo iniciado ainda na adolescência suas atividades místicas com o grupo
barbalhense em questão, Joaquim Mulato ocupou a função de Decurião por mais de sessenta
anos interruptores. Foi, porém, a partir da década de 1970, quando a Irmandade deixou de
ter caráter secreto, se inserindo então numa serie de programações turístico-culturais em
nível estadual e também nacional, que a imagem do líder foi alvo de construções representativas que fizeram emergir por sua vez uma intensa política de patrimonalização do seu
saber/fazer. É por entre as nuances dessas imagens e desses enunciados diversos que aqui
tentaremos construir nossa travessia.
Tradição e pós-modernidade na Festa do Vão
do Moleque da Comunidade Kalunga de Cavalcante – Goiás
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Guilherme Talarico
Mestre em História pela UFG
[email protected]
Com o apoio da Bolsa FUNARTE de Produção Crítica em Culturas Populares e Tradicionais, analiso as mudanças que vem ocorrendo na Festa do Vão do Moleque da Comunidade Kalunga, decorrentes da exploração do potencial turístico dos festejos, advindo da melhoria do
acesso e crescimento do número de visitantes. O conflito entre a manutenção das tradições e
a espetacularização da cultura do povo Kalunga deve ser explorado nos contextos histórico,
cultural e social, uma vez que a Festa do Vão do Moleque representa um evento anual de
convívio social entre os quilombolas daquela comunidade.
O estudo sobre a Festa do Vão do Moleque irá contribuir para o entendimento dos problemas
gerados para a comunidade com o crescente interesse da sociedade pelas suas manifestações
culturais, mas, em contrapartida, mostrará que estes problemas são mitigados pela própria
comunidade que busca nesta visibilidade momentânea garantir algum ganho financeiro e simbólico. Assim, pretendo mostrar que, apesar de aparentemente isolado, o caso da Festa do Vão
do Moleque serve como exemplo aos problemas gerados pela inevitável abertura de uma nova
área de atuação do mercado sobre as manifestações culturais de comunidades tradicionais.
O estudo mostrará as dificuldades de infra-estrutura para a realização da Festa, a mobilização da comunidade no apoio ao “Imperador”, a atuação dos poderes públicos e os impactos
ambientais decorrentes dos mais de dez dias de festividades e as medidas que poderiam
mitigá-los. E ainda, fortalecer a identidade dos Kalunga, uma vez que o trabalho será apresentado à comunidade em oportunidades adequadas, fortalecendo ainda mais o espírito associativo daquele povo.
Patrimônio imaterial e interculturalidade
em perspectiva comparada
Irmina Anna Walczak
Ceppac/ Universidade de Brasília
[email protected]
O presente artigo propõe discutir a relação entre as políticas de salvaguarda do patrimônio
cultural imaterial e a interculturalidade em perspectiva comparada, utilizando-se dos casos
brasileiro e equatoriano. O objetivo principal da discussão é averiguar se existe a possibilidade - postulada pela UNESCO e pelas instituições brasileiras como a realidade existente
(Sant’Ana, 2001) - de incluir os bens imateriais, isto é conhecimentos OUTROS, e com eles
seus produtores historicamente subalternizados aos espaços sociais e ao imaginário nacional com o estatuto de iguais. Visto que os portadores de patrimônios material/histórico e
imaterial/intangível pertencem às cosmovisões ou aos paradigmas distintos (Lander, 2005)
é pertinente perguntar: É possível que dois paradigmas convivem? Como se faz a igualdade
na diferença? Em busca pelas respostas propõe-se uma reflexão crítica sobre o conceito de
interculturalidade teorizado e reivindicado pela academia andina. Cada vez mais praticado
pelo estado equatoriano, pode ser uma proposta e exemplo para os processos brasileiros. Em
relação à metodologia, o trabalho é desenvolvido a partir da pesquisa documental e de cam-
192
V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
po, realizadas junto às instituições decisórias e com atores atingidos no Brasil e Equador.
Palavras-chave: patrimônio imaterial, interculturalidade, salvaguarda.
Inventário cultural dos maracatus nação de
Pernambuco: pensando a diversidade
Isabel Cristina Martins Guillen
Professora do Departamento de História da UFPE
[email protected]
Este trabalho visa pensar o processo de inventário cultural dos maracatus nação de Pernambuco, e que congrega dois projetos financiados pelo FUNCULTRA. O primeiro objetiva
registrar a diversidade sonora dos grupos de maracatu, gravando seus batuques. O segundo
objetiva registrar a memória dos organizadores e membros mais antigos dos grupos com
vistas a produzir um acervo documental sobre esta manifestação cultural. Estes projetos
envolveram a participação direta de jovens membros dos grupos culturais, e é sobre esta
experiência que o trabalho deve centrar foco, pensando os modos de transmissão do saber
entre as culturas populares na contemporaneidade.
Histórias sobre o patrimônio cultural da cidade
de Joinville: culinária, festas e etnicidade
Janine Gomes da Silva
Doutora/ UNIVILLE e AHJ
[email protected]
A partir da perspectiva dos estudos de gênero, memória e patrimônio cultural, o presente
trabalho pretende apresentar algumas discussões sobre o patrimônio imaterial de algumas
estradas que compõe a região rural da cidade de Joinville, situada no nordeste do estado de
Santa Catarina. Por intermédio das pesquisas “Lugares de memória, memórias de lugares...
Diferentes olhares para o patrimônio cultural de Joinville” e “A Estrada Mildau e a Festa do
Cará: (re)significando memórias e identidades”, financiadas pelo FAP/UNIVILLE, procuramos problematizar, especialmente a partir de memórias femininas, aspectos do patrimônio
cultural da cidade relacionados principalmente ao patrimônio alimentar, as festas consideradas “típicas” e a paisagem rural.
Palavras-chave: patrimônio cultural, gênero, Joinville.
Cidade e subjetividades: educação, memória e
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
cultura - vivendo e aprendendo em Brasília
Lúcia Helena Cavasin Zabotto Pulino
Doutora em Filosofia (UNICAMP)
[email protected]
Este trabalho relata e problematiza a criação de uma escola, associativa e democrática, durante
o Regime Militar, em Brasília, Distrito Federal. Em 1981, quatro anos antes da retomada da democracia no Brasil, depois de um longo período de ditadura, iniciado em 31 de março de 1964,
foi criada a Associação Pró-Educação Vivendo e Aprendendo, na capital do pais. Nasceu como
associação, espaço de encontros visando criar um lugar de educação para crianças, os filhos das
pessoas envolvidas com a Associação. Em 1982, essas pessoas criaram um Espaço de Convivência e Escola de Educação Infantil, para escapar ao modelo restritivo do sistema público autoritário proposto pelo regime vigente. A Associação, auto-gerida, estabeleceu como sua instância
máxima de tomada de decisões a Assembléia Geral. A pré-escola, sem dono, ou tendo todos os
associados como seus donos, hoje, em 2010, completa 28 anos de funcionamento, educando
crianças em um clima democrático, numa perspectiva critica e criativa. A Vivendo e Aprendendo candidatou-se, recentemente, a fazer parte do patrimônio imaterial de Brasília.
Por trás da festa: as representações
do povo através do folguedo cavalo-marinho
de Pernambuco
Maria Ângela de Faria Grillo
Doutora em História pela UFF
Profa. do Dep. De História da UFRPE
O trabalho aqui apresentado busca fazer um levantamento dos bens culturais que envolvem o
Folguedo Cavalo-Marinho dos municípios de Ferreiros e Condado situados na Zona da Mata
Norte de Pernambuco. Cavalo Marinho é a denominação atribuída ao folguedo popular que
se caracteriza como um teatro, incluindo música, dança e poesia, representado por aproximadamente setenta personagens, que se apresentam por cerca de oito horas. A história é
contada pelas toadas e loas (versos falados) de forma poética, pelo diálogo conduzindo o
enredo através das figuras. Seus cacoetes, vícios e mazelas remetem às vitimas dos personagens reais, representando um grande desabafo. Todo enredo mostra a relação entre dois
extratos básicos da sociedade canavieira: o dos escravos – atualmente trabalhadores rurais
– e dos senhores de engenho – atualmente usineiros e políticos. Durante toda brincadeira,
os participantes trocam de figuras, mudando apenas uma peça de roupa ou uma máscara. O
objeto fundamental dessa pesquisa é investigar as práticas culturais presentes no folguedo e
as disputas políticas aí representadas.
Palavras-chave: cultura popular, práticas e representações culturais.
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Mulheres negras pernambucanas têm história
Maria Aparecida Oliveira Souza
Professora de História/UFPE
[email protected]
O desfio de romper o esquema binário em que o masculino e o feminino se constroem em
oposição um ao outro tem sido desafiador para nós mulheres, daí o interesse em procurar
experiências que apontam para a possibilidade de construção do mundo de outras formas.
Investigar as mulheres negras do sertão deita suas raízes na infância. Queira-se ou não, a
vivência, a emoção e o meio social interferem no pensamento. Recuperar estas histórias
baseia-se na sabedoria popular para a qual “escolher bem entre as velhas coisas é quase inventar coisas novas”. Embora já se tenha avançado em formulações teóricas sobre as questões
voltadas para as construções das identidades, maiores investigações ainda são necessárias,
particularmente em relação aos potenciais e limites da abordagem de gênero e da construção
das identidades etno-raciais no sertão central pernambucano. Nesse caso, o corpo biológico
das mulheres negras fica marcado como fundamento “natural” da inferioridade, e seus papeis
pré-definidos. Apesar de toda a diversidade que representou o período da escravidão, o que
se conduz, a partir desse momento, é falar das negras que conseguiram quebrar os domínios
dos “corpos dóceis” e “inverter as evidencias” do lugar das mulheres negras do Sertão.
Palavras-chave: gênero, mulheres, negras, sertão
Histórias de cá e de lá: o processo histórico
de formação da literatura de cordel brasileira
Maria Helenice Barroso
Doutoranda do PPGHIS/UnB
[email protected]
O presente artigo analisa os modos como se efetivou o processo histórico de formação da
literatura de cordel brasileira, no período compreendido entre fins do século XIX até 1930.
Acredito que tal estudo possibilitará perceber como ocorre a ressignificação, adaptação e
atualização das práticas culturais no processo de transmissão das tradições. As narrativas
do cordel são aqui tomadas como formas imagéticas e discursivas, capazes de instituir realidades, legitimando e desestabilizando saberes, dando visibilidade ao sonhado, instaurando
sensibilidades capazes de produzir sentidos e significados para as experiências cotidianamente vividas em um determinado contexto histórico permeado por relações de poder (Foucault, 1979).
Essa pesquisa tem como base metodológica a análise qualitativa a partir de diferentes tipos
de indícios historiográficos (Guinzburg, 1987). Além dos folhetos e registros de arquivos
públicos, adota a história oral em busca da apreensão das representações presentes nas imagens construídas na prática do fazer cordel. Desse modo, intento aqui a construção de uma
forma do conhecimento do real a partir de sua apreensão pela esfera do sensível, do subjetivo
e também do racional.
Palavras chave: cordel, tradições, representações.
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A Escrita do Folclore em Goiás: Histórias de Intelectuais e Instituições (1940/1970)
Mônica Martins da Silva
Prof. Doutora do Departamento de Metodologia de Ensino do Centro de Ciências da Educação/UFSC
[email protected]
Analisa-se, por meio de um conjunto de publicações dos anos de 1970, o processo de construção de uma escrita intelectual que colaborou para a construção das noções de “povo”, de
“cultura popular” e de “folclore” em Goiás e as suas relações, tanto com a organização de um
campo intelectual do folclore iniciado no final dos anos de 1940, como com as políticas culturais dos anos de 1960 e 1970 que ampliaram as reflexões sobre o passado e possibilitaram a
sua perpetuação por meio da publicação e a reedição de diversos tipos de textos, assim como
a gravação de discos e a produção de imagens, nos quais as festas, as danças dramáticas,
a culinária popular e as religiosidades são recorrentes. A discussão dessas questões possibilita refletir historicamente sobre o processo que dá início a muitas das indagações contemporâneas a cerca dos limites e das tensões envolvendo a cultura popular.
O chefe mandou....
Paula Braga Zacharias
Pós-graduanda em Docência na Educação Superior do IESB
[email protected]
Resultado de uma interação prática contínua entre teatro e educação no ensino fundamental
em uma escola pública na cidade de Brasília, minha dissertação de mestrado sustentou a interface e a interação dos jogos infantis de rua, Polícia e Ladrão, Pique-Bandeira e o Garrafão
(jogos presentes na cultura popular) por meio de suas diversas semelhanças com os elementos da linguagem teatral, apontando ser sua natureza um eficiente exercício espontâneo de
dramaturgia para crianças.
Os jogos infantis de rua são especialmente dotados de linguagem cênica; constituídos por
elementos dramáticos que educam e direcionam o pequeno discente à procura de novas formas e contextos ficcionais dramáticos. Estes jogos são potencializados enquanto exercícios
espontâneos de dramaturgia. O jogo é um objeto de reflexão inerente e tangível para professores que almejam aliar à educação formal o ensino das artes cênicas, com ênfase para a faixa
etária de 07 a 10 anos de idade.
Palavras-chave: jogo; educação; imaginário
Percepções sobre o olhar da comunidade
de Serranópolis – GO frente à arte rupestre
na Pousada das Araras
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Pollyanna de Oliveira Brito Melo
Mestranda em Cultura Visual FAV/ UFG
[email protected]
O objetivo desta comunicação é divulgar um estudo preliminar sobre o sentimento de pertença (construído a partir da diferenciação social, de lugares de sentido social e da memória
coletiva) e o patrimônio imaterial (manifestações culturais, crenças e saberes) que a comunidade de Serranópolis desenvolve a partir das imagens rupestres da Pousada das Araras.
Buscando respostas a perguntas como — Existe um vínculo de afetividade entre os moradores e esses registros históricos? Se esse vínculo existe, como ele se manifesta?Seria através
de artesanatos, discussões ou do ensino de arte? Ou ele não se concretiza e são necessários
“ganchos”, como ações de educação e gestão patrimonial que levem a comunidade à consciência histórica da riqueza dessas imagens rupestres, que têm aproximadamente 11.000
anos e pertencem a um dos sítios arqueológicos mais importantes do Brasil, a Pousada das
Araras, que está localizada em Serranópolis no estado de Goiás.
Palavras-chave: arte rupestre, sentimento de pertença e patrimônio imaterial.
Da macaíba ao alumínio: experiência
do inventário dos cocos em Pernambuco
Sanae Souto
Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPE. Formada em Comunicação Social pela Sophia University, Tóquio, Japão.
[email protected]
Co-autor: Frank Sósthenes S. Souto Maior Jr.
Graduando em História da UFRPE
[email protected]
Entre setembro de 2009 e janeiro de 2010 uma equipe de pesquisadores sob coordenação do
professor Carlos Sandroni trabalhou na etapa pernambucana do projeto “Nos quatro cantos
do mundo – os cocos do nordeste brasileiro”, financiado pelo IPHAN/MinC. O objetivo deste
projeto é realizar um levantamento para instruir a possível patrimonialização dos cocos do
Nordeste. Durante a pesquisa, foi privilegiado o uso da história oral de vida nas entrevistas com os atores sociais. Neste trabalho abordaremos algumas questões ocorridas durante
o processo da transmissão da cultura popular. Segundo observamos, este processo está se
transformando durante a vida dos participantes e, no caso de coco-de-roda da Zona da Mata
Norte, em maior parte apenas resta na memória das pessoas idosas. Pretendemos discutir
também sobre o procedimento de registro para melhor descrição dos bens intangíveis que
incluem cantos, danças e execução e fabricação de instrumentos musicais. Serão relatados
depoimentos dos coquistas da região, com destaque para o mestre cantador e artesão de
bombos de macaíba, José Agripino, 89 anos, e do Mestre Paulo Faustino, 89 anos, que afirma
de ter introduzido o pandeiro no coco-de-roda.
Palavras-chave: Patrimônio Imaterial - Coco – Danças tradicionais
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ST 21
Entre (In) Visibilidades – imagem e conhecimento
Imagens do carisma de Hitler. A celebração
das massas e o fascínio pela estética do mal
Albene Miriam Menezes
Coordenadora do PPGHIS/UnB
[email protected]
O propósito deste ensaio é abordar, de forma panorâmica, o significado das imagens do mito
e do carisma de Hitler e as engrenagens e mecanismos do nazismo para construir e reforçar
o apelo popular da figura do Führer. Meta central é instigar algumas reflexões sobre a organização das manifestações de massa promovidas pela Alemanha nazista sob a perspectiva
da fabricação cultural para fins políticos - o aparelhamento da arte e da cultura a serviço de
uma ideologia. Os movimentos totalitários, segundo Hannah Arendt, objetivam e conseguem organizar as massas – e não as classes ou os cidadãos. Sob Hitler a massa é parte do
espetáculo, não apenas espectador. O uso intensivo dos meios de comunicação existentes
(grafismo, cartazes, cinema, rádio, jornais, música, fotos, panfletos, livros, revistas), de signos, símbolos, marchas e paradas organizadas contribuem substancialmente para a difusão
e incorporação pela sociedade de preceitos totalitários que amalgamam a ideia de nação
e nacionalismo com postulados racistas e reforça a conjectura que o nazismo corresponde
a uma era de política de massas. Simetria, sincronia, geometria estudada dos gestos (estética
corporal) tanto dos atores políticos quanto das massas organizadas e fascinadas em espetáculos grandiloqüentes em espaços arquitetônicos monumentais, como os das concentrações do Partido Nazista no Zeppelinfeld, em Nuremberg, e documentários fílmicos, como
o exemplo mor do Triumph des Willens, de Leni Riefensthal, tornam-se instrumentos de
celebração, conquista das massas e propaganda do regime e mitificação da figura de Hitler.
Neste contexto, produzem-se imagens que materializam uma estética de apelo sensorial que
corrobora o ponto de vista de Walter Benjamin que fala da transformação da política em
estética - no caso em foco, pelas razões subjacentes, estética do mal.
Palavras-chave: celebrações das massas nazistas; estética do mal;
A representação de Batman nas graphic
novels da década de 1980: o cavaleiro
das trevas (1986)
Alexandre de Carvalho
Mestrando em História/UnB
[email protected]
Passada 20 anos no futuro da cronologia do personagem até então, a graphic novel que originalmente foi lançada em quatro minisséries, apresenta um personagem já “idoso” e apos-
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entado da carreira de herói. No entanto, Batman volta à ativa no momento em que Gothan
City está afundando no crime e o mundo passa por uma crise bélica que envolve os Estados
Unidos e a União Soviética. Representado nesta contextualização, Batman sai das sombras
para impor a justiça de acordo com o seu olhar de vigilante, rompendo com uma visão de
herói que se tinha antes do próprio personagem que perdurava por anos, retornando a combater o crime em plena década de 1980. A velocidade da narrativa gráfica, que lembra muito
o cinema, e a construção de um modelo de narrativa nas histórias em quadrinhos no qual o
personagem tem sua concepção identitária permeada de representações e concepções que
até então não eram encontradas nos quadrinhos do gênero de super-heróis, se tornaram
referência para toda uma geração de roteiristas e desenhistas da atualidade na composição
de seus personagens em suas graphic novels. Buscamos estabelecer uma relação dos estudos
presentes na história cultural sobre a representação com a concepção da narrativa gráfica
do álbum, sobretudo sobre a historicidade das imagens de Batman inseridas na linguagem
própria característica e construída para as histórias em quadrinhos.
Palavras-chaves: representação, histórias em quadrinhos, Batman
Diálogos entre a vanguarda Dadá e o manifesto
cinematográfico Dogma 95: mediação do caos
Allex Rodrigo Medrado Araújo
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
Neste trabalho, o objetivo é discutir e propor um diálogo entre o manifesto cinematográfico
Dogma 95 e a vanguarda Dadá, a partir de suas imagens e conceitos, aparentemente caóticos sob o ponto de vista de outras realidades possíveis. Valho-me em Mirzoeff, no livro An
introduction to visual culture, publicado em 1999. Ali, a força estabelecida entre imagem e
texto é abordada como forma de desconstrução desta relação binária,em favor do hibridismo
possibilitado pelos recursos técnicos e estéticos das mídias contemporâneas. É um olhar que
pretende desconstruir, em alguma medida, o modo como o indivíduo percebe e representa
a realidade, por meio de estruturas hegemônicas sistemáticas de ver, interpretar e formular
mensagens no contexto sócio cultural contemporâneo. É uma forma de potencializar o indeterminado, o acaso e ampliar o espectro de formas de percepção das visualidades, para possibilitar reaprender a visada de mundo. Se pensarmos o caos como um mundo do complexo
numa dinâmica não linear, esta pesquisa produzirá ainda mais incertezas do que seguranças.
No entanto, é capaz também de vislumbrar horizontes da intensidade para além da simples
extensão, como argumenta Demo (2002).
Palavras-chave: Dogma95, Dadá e Caos.
Tinta papel e prensa: a arte gráfica na coluna
Garotas da Revista O Cruzeiro
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Daniela Queiroz Campos
Doutoranda em História UFSC
[email protected]
O universo das Garotas do Alceu. Um universo de tinta papel e prensa. As polianas cuidadosamente traçadas pelo ilustrador Alceu Penna estavam inseridas em um mundo gráfico. Era o
mundo gráfico de O Cruzeiro. A coluna Garotas foi editada durante 28 anos (de 1938 à 1964)
naquela que foi a grande revista brasileira de então. As Garotas do Alceu povoaram duas
folhas em formato tablóide de O Cruzeiro por quase 3 décadas, tranformando-se, assim, em
famosas personagens do Brasil dos anos dourados. Personagens que eram personificadas
por tinta e papel. O presente artigo pretende debruçar-se justamente nesse arranjo de tinta,
papel e prensa. Para tal, buscar-se-á analisar os arranjos dos elementos que compunham a
coluna. Tipografia do título, distribuição de textos e ilustração, eleição de cores. Perceber a
coluna como imagem, imagem, que por sua vez, transbordava a ilustração. Tratando, assim,
Alceu Penna, como artista gráfico e, quiçá, como designer.
Movimentos de memórias entre Angola
e o Quilombo Kalunga
Edymara Diniz Costa/UnB
[email protected]
Este trabalho tem como proposta a socialização de alguns resultados que vêm sendo obtidos através do projeto de pesquisa e extensão “Abrigos da memória na região de Brasília”,
sob a coordenação da professora Dra. Nancy Alessio Magalhães. Sendo assim, procura-se
obter outras versões da história de Angola relatadas por meio de entrevistas com estudantes
angolanos na UnB, em cotejo com as de moradores Kalunga do município de Cavalcante
Goiás. Estes também têm participado deste projeto, relatando suas experiências dentro e
fora da sua comunidade. É por meio da realização dessas entrevistas com esses estudantes
e moradores que temos levantado temas que nos permitem relacionar semelhanças e diferenças entre essas experiências, assim como também realizar outras interpretações de acontecimentos já difundidos na história escrita, pelo contato com outras versões obtidas pelo
recurso da história oral. Chamo atenção para a utilização da fotografia por ela estar muito
presente na metodologia de trabalho do referido projeto, juntamente com outros recursos
audiovisuais. Isto tem nos possibilitado perceber como a memória tem sido acionada por
estes estudantes e moradores, para percorrerem processos de identidade a identidades, na
medida em que confrontamos relações ou não com outros documentos correlatos, também
já identificados e produzidos através desse projeto de pesquisa e extensão.
Arte, história e instituição: João Câmara
e as apropriações da história da arte
Emerson Dionisio Gomes de Oliveira
Departamento de Artes Visuais/IdA/UnB
200
V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
[email protected]
O presente trabalho procurou investigar de que modo o artista paraibano João Câmara tem
se apropriado, pelo vocabulário da arte contemporânea, de estilos e estéticas visuais do passado. A pesquisa mirou no confronto entre os elementos da linguagem visual oriundos da
tradição classificatória da história da arte ocidental com elementos da história da arte brasileira e seus desvios. Nesse confronto explicitam-se usos, jogos, críticas e procedimentos realizados pelo artista, ao mesmo tempo em que se evidencia a história constitutiva dos valores
da disciplina História da Arte dentro do contexto sócio-histórico brasileiro. Ao apoderar-se
de valores estéticos do passado, Câmara também expõe outros elementos importantes na
imbricação entre a história cultural, a história da arte e a história das instituições. Com diferentes obras, Câmara nos oferece pela arte o questionamento do estatuto artístico em diferentes momentos históricos; o papel do artista diante das fontes visuais do passado; o sentido
de autoria e suas restrições culturais; o processo narrativo do passado por meio de fontes
visuais derivadas; a hierarquia dos gêneros e suportes; a circulação e a percepção de obras
derivadas; a memória como elemento conceitual mediador; o papel das instituições de arte e
sua relação com as identidades regionais; e, sobretudo, o próprio conceito de apropriação.
Uma etnografia do urbano das Minas escravistas:
a visão e a escritura dos registros naturalistas
Francisco Eduardo Andrade
Professor adjunto do departamento de História/Universidade Federal de Ouro Preto
[email protected]
Pretendemos, nesse trabalho, explorar a problemática da invenção das imagens documentais
de cunho naturalista (século XIX) – imagens da composição urbana das Minas no período
de sólido incremento da escravidão. Residindo a autenticidade do registro no cruzamento
entre a ciência natural e a arte de sensibilidade romântica, enfocamos os elementos visíveis/
invisíveis específicos do urbano nesse interior, definindo assim a visualidade da paisagem
citadina. Para os naturalistas, desde a prática propriamente documental – esboço ou desenho – até a concepção imagética final – gravura, sobretudo -, toda a produção de imagens visa
testemunhar o percurso da viagem, um relato de pesquisa de campo. Contudo, as representações das gravuras descolam-se do texto, cujos recursos narrativos apreendem o confronto
das visões. Mesmo as representações dos espaços urbanos são “distanciadas”, constituídas
nos quadros paisagísticos de uma natureza exuberante (a da fisionomia geológica, pelo menos) e rústica, aqui com quase nenhuma alternativa para a subsistência humana.
“A construção da identidade
capixaba na mídia: identidades líquidas, paisagens contemporâneas”
Isabel Regina Augusto
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Professora FACITEC/DDI - UFES
[email protected]
Karolina Broetto
Nilo Kulnig Musso
Thiago Sales
Graduandos DDI - UFES
Este trabalho é resultado de pesquisa que analisa através de estudo de caso a construção na
mídia de uma periférica identidade regional brasileira, qual a capixaba, na chamada pósmodernidade. Alain Herscovici (1995 e 2004), Manuel Castells (2006), Zygmunt Bauman
(2005), Denilson Lopes (2010) e Luisa Passerini (2005) formam a base para reflexão teórica,
enquanto Maria Ciavatta (2002) e Lúcia Santaella (2004) auxiliam na construção da abordagem metodológica de analise das peças criadas para a mídia (talonários, cartões, vídeo, site,
etc.), ou seja, aquela produzida pelo Banco do Estado do Espírito Santo - BANESTES, entre
1999-2009, no emprego do método de análise da imagem denominado histórico-semiótico.
Parte-se se da novidade do caráter autoconsciente, instrumental e mediado da construção
desta identidade como iniciada no final do século XX e início do XXI no Estado do Espírito
Santo e reflete sobre seus significados no complexo contexto global contemporâneo.
Palavras-chave: mídia, identidade cultural, pós-modernidade.
Cineastas angolanos e reconfigurações
culturais no pós-independência (1975- 1980)
Leandro Santos Bulhões de Jesus
Doutorando em História PPGHIS/UnB
[email protected]
Nos primeiros anos que se seguem à independência de Angola (1975- 1980), são produzidos
dezenas de filmes. Esta produção cinematográfica foi um importante elemento de intermediação de perspectivas, pela linguagem visual, entre os distintos mundos que constituíam o território angolano, como as várias etnias existentes, os legados coloniais portugueses, as novas
políticas de trabalho, a reinserção nas relações internacionais, a rearticulação das fronteiras, a
reinterpretação das heranças ocidentais, entre outras. Ao realizar outras leituras das práticas
coloniais, os cineastas angolanos revisitam a própria história, redimensionam as premissas culturais, realinhando princípios da nova nação. Assim, num contexto em que as imagens fílmicas
foram feitas para serem vistas tanto pelos angolanos quanto pelo mundo inteiro, nos primeiros
suspiros das assinaturas nacionais angolanas, o visível e o invisível se constituem como problemas passíveis de serem estudados. Com esta comunicação, pretendo problematizar o papel
desses cineastas como organizadores de novas narrativas, que ao oferecerem outras leituras de
angolanidades promoviam uma dinâmica que envolvia uma reescrita do passado que, inevitavelmente, reescrevia o presente, e o reescreve ainda hoje, nos dias atuais.
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Sobre a Vuelvilla de Xul Solar: técnica
e liberdade - Ou a Revolução Caraíba
Maria Bernardete Ramos Flores
Professora titular UFSC/CNPq.
[email protected]
Trata-se de compreender as coincidências técnico-utópicas entre Xul Solar (artista plástico
argentino) e de Oswald de Andrade (poeta brasileiro), na fase artística de 1950. A Vuelvilla,
de Xul Solar, uma cidade espacial que funcionaria como centro de cultura, sua abordagem
dos autômatas, andróides, robôs, de cérebros quase mecânicos, que trabalhariam pelos homens, e seus mestiços de avião com gente, homens-máquinas que potencializariam as capacidades humanas, representam o desejo do artista na conquista do homem novo, síntese
da liberdade humana, depois de uma longa evolução espiritual. A Antropofagia II, conforme
preconizada nos textos de Oswald de Andrade, na década de 1950, com seu programa de
emancipação do ser humano da monogamia e do trabalho, com a tecnificação da produção,
representa a síntese do homem primitivo- tecnizado. Para ambos, era a América, com seus
sistemas de crenças e mitos originários da cultura pré-colombiana, que poderia fornecer ao
mundo o novo homem, artístico, lúdico, intersubjetivo, Finalmente, o progresso realizaria a
promessa da humanidade: “os fusos trabalhariam sozinhos”.
Ulisses e a Odisséia na arte contemporânea
Mário Mendes Cavalcante
Dra. Rosana Horio Monteiro
Mestrado FAV/UFG
[email protected]
Esse trabalho apresenta três trabalhos em artes plásticas que tem em sua poética o tema,
a relação entre arte e literatura, a partir de Ulisses da Odisséia. Para isso parte do ensaio
visual Ulisses a odisséia de um corpo, de um dos autores deste trabalho, e o relaciona com
os trabalhos em pintura de José Roberto Aguilar e Lenir de Miranda, para discutir possíveis
relações criativas entre arte e literatura na arte contemporânea.
Palavras-chave: Ulisses, Odisséia , Arte contemporânea
“Nos detalhes”: figuras da resistência
em Persépolis e Maus
Michelle dos Santos
Professora Mestra em História UEG/UnU Formosa
[email protected]
Persépolis (2000-2003), de Marjane Satrapi, e Maus: a história de um sobrevivente (1986-
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
1991), de Art Spielgeman, são romances gráficos que narram, respectivamente, as oposições
da própria autora à República Islâmica do Irã, e a obstinação de Vladek Spielgeman, pai do
quadrinista e sobrevivente de Auschwitz, no intuito de escapar à escalada da perseguição
nazista aos judeus e do Holocausto. Minha intenção é discutir como em ambos proliferam
imagens de resistência, mas, elas adquirem, sobretudo, uma forma silenciosa, subterrânea,
pormenorizada, fato este que se deve, em grande parte, ao terror institucionalizado por esses regimes, onde a discordância aberta culmina em punições severas e em morte. Tanto a
história de Marjane quando a de Vladek, cada qual mergulhada em seu ambiente político
específico, fizeram de Persépolis e Maus espaços da “poética do detalhe”, expressão cunhada
por Beatriz Sarlo, para designar uma abordagem que valoriza a exceção à regra, as originalidades e não o padrão, enfim, os detalhes em relação à unidade. Aí, os grandes movimentos
coletivos, a formação de milícias armadas, cedem espaço para resistências cotidianas, veladas e sutis, que não querem se revelar como tais. P-C: repressão, resistência, detalhes.
Entre limiares de fotos e relatos,
ressonâncias entre Brasil e Angola.
Nancy Alessio Magalhães
NECOIM/CEAM e PPGHIS/UnB
[email protected]
Desde 2004 venho colhendo memórias de estudantes angolanos na Universidade de Brasília. Nesta trilha, centro este trabalho na discussão metodológica de montagem de narrativa de livro já publicado - Entreveres-Memórias de estudantes angolanos e moradores
Kalunga (Brasil-Angola) - constituído de fotografias e alguns relatos orais transcritos destes
estudantes - transformados, primeiramente, numa exposição fotográfica -, e de moradores
quilombolas em Cavalcante, Goiás, com quem realizamos oficinas de pesquisa e extensão,
nesta UnB, em 2008 e 2009.
Exponho como procuro tecer seus cotidianos em textos e fotos, que testemunham acontecimentos e, ao mesmo tempo, exprimem-se em linguagens e instituem diversas temporalidades, ressignificadas por tensões, conflitos, sonhos, vontades, desejos. As formas narrativas são tratadas como resultantes de diálogos, interações entre diferentes produtores
de conhecimentos e saberes, diferentes pensadores. Todas potencialmente constitutivas de
experiências singulares como legados para outras gerações, segundo Benjamin, abertos a
outras possibilidades e desfechos.
Trilogia da revolução: memórias da revolução
mexicana sob o olhar cinematográfico
de fernando fuentes – (1930 – 1940)
Robson Nunes da Silva
Mestrando em História Cultural/UnB
204
V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
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A presente proposta tem como objetivo abordar a revolução mexicana 1910 – 1920, pautada
na relação existente entre cinema e história, compreendendo o artefato fílmico como fonte
e objeto para a releitura do passado e do presente. A partir de uma discussão teórico-metodológica e da utilização da “Trilogia da Revolução”- filmes realizados pelo cineasta mexicano
Fernando Fuentes - procurarei repensar alguns aspectos dessa rebelião enquanto representação de uma memória social, construída à luz do discurso cinematográfico. Nesse sentido,
coloco, inicialmente, algumas indagações: como esses três filmes representam, na década de
1930, esse levante armado no México, seus protagonistas, suas relações, e os desdobramentos
sociais, econômicos e políticos desse acontecimento? Que questões emergem das relações
entre diferentes agentes sociais em torno das dimensões lembrar e esquecer no processo de
construção dessas memórias fílmicas? Como o discurso imagético produzido por Fuentes
representa a revolução na memória mexicana da década de 1930?
Palavras-chave: Cinema, memória, revolução mexicana.
Modernidade em desalinho: Raul Pederneiras
e as representações caricaturais da vida urbana
carioca na Revista da Semana
Rogerio Souza Silva
Pós-Graduando em História da PUC-SP
[email protected]
Esta comunicação pretende discutir a produção caricatural de Raul Pederneiras na Revista
da Semana, onde atuou em grande parte de sua vida profissional. O artista teve como uma
de suas preocupações os impactos do modelo de modernização que era adotado pelas elites
brasileiras e que tinha o espaço urbano do Rio de Janeiro como um de seus cenários principais. Em suas criações ele observava as contradições entre uma modernidade desejada e a
sua aplicação diante da realidade do país. Raul tem como uma de suas características a utilização de uma linguagem onde os trocadilhos são empregados nas legendas e nos desenhos.
Além de caricaturas, o autor produziu poemas, um dicionário de giras e conferências sobre
humor onde a sincronia entre as imagens e as palavras estava presentes.
A imagem entre a arte e a ciência.
Um estudo de trabalhos colaborativos
entre artistas e cientistas
Rosana Horio Monteiro
Professora adjunto Fav/UFG/Pós-doutorado na Universidade de Lisboa
[email protected]
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
A complexa relação entre arte e ciência tem sido retomada nos últimos anos, sobretudo a
partir da última década do século 20, quando um número crescente de artistas passaram a
migrar de seus ateliês para o interior de laboratórios científicos, sobretudo na área de biologia molecular. Ao utilizarem os princípios, instrumentos, ou contextos institucionais da
ciência, alguns artistas aproximam-se e apropriam-se das práticas da zoologia, botânica, ornitologia, criando complexas iconografias e narrativas, instalações e ambientes.
A partir de um diálogo entre a história da arte e a história da ciência, esse trabalho investiga
os processos de interação entre artistas e cientistas em diferentes períodos históricos, tendo
a imagem como mediadora. De que maneira o saber científico tem sido lido e reconfigurado
pela arte, como a arte contribui para a construção do conhecimento científico; como os espaços de produção e sociabilidade são (re)definidos — ateliê e laboratório? O texto é resultado
de um estudo de trabalhos colaborativos entre artistas e cientistas desenvolvido em Lisboa
de agosto de 2009 a julho de 2010.
Palavras-chave: imagem, arte, ciência
Lembrar é esquecer redimindo: memórias
da última ditadura argentina no cinema
argentino contemporâneo
Salatiel Ribeiro Gomes
Mestre em História/UnB
[email protected]
Este artigo corresponde a uma síntese de uma proposta de pesquisa de doutoramento em
História Cultural, e se insere num campo geral de investigações que articulam a relação entre
cinema, memória e história. Traz no seu corpo uma discussão sobre o objeto da pesquisa, a
problemática e o referencial teórico-metodológico. Na proposta, intento analisar o caráter
ativo do cinema argentino, no que diz respeito à escritura /e construção/ das memórias das
vítimas do terrorismo de Estado praticado pela última ditadura militar instaurada naquele
país (1976-1983), e à abertura do passado operada por essas memórias. Tomo como horizonte
teórico a filosofia de história de Walter Benjamin para defender que o cinema argentino
segue sendo um instrumento necessário ao processo de rememoração que evita o recalque
desse passado. As produções aí referidas não apenas impedem que se dissolva no esquecimento a experiência e os projetos daqueles sujeitos – desaparecidos, torturados, presos e
assassinados –, mas também burlam as estratégias de esquecimento operadas por grupos
hegemônicos, abrindo frente numa disputa entre memórias conflitantes.
Intervenções artísticas urbanas em três casos:
Orlândia, Processo Pedregulho e Gordon Matta-Clark
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Tatiana Drummond Moura
PUC-RJ
[email protected]
O presente trabalho propõe uma análise, através da abordagem de algumas obras de Gordon Matta-Clark, o projeto “Processo Pedregulho” e a intervenção “Orlândia”, da relação de
manifestacões artísticas no espaço urbano e seus desdobramentos. Qual a intenção de tais
ações? Como as intervenções ampliam o campo da arte? Estas são apenas algumas das muitas questões que norteiam esta pesquisa.
Impressões da Paisagem: Merleau-Ponty
e a dúvida de Cézanne
Ulisses Fernandes
Professor-Adjunto do Departamento de Geografia Humana (IGEOG /UERJ)
[email protected]
O trabalho ora apresentado é parte constante do estudo pertinente à elaboração da tese de
doutorado intitulada “Paisagem: uma Prosa do Mundo em Merleau-Ponty” defendida junto
ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense ao final
do ano de 2009. Considerando tal estudo, constituiu-se uma linha mestra de investigação
calcada na própria compreensão de que na filosofia de Maurice Merleau-Ponty há um esforço
em suplantar uma antinomia entre o objetivismo ou empírico e o subjetivismo ou transcendental. As observações feitas por este mesmo filósofo sobre a arte pictórica de Paul Cézanne
se enquadram perfeitamente nesta assertiva inicial e permite premissa básica ao que ora se
apresenta: tendo o pintor dedicado grande parte de sua obra à representação da paisagem,
é possível, a partir da análise da mesma estabelecer conexões entre o real representado e a
própria percepção do artista sobre o mundo.
Aponta-se, de antemão, a construção de um aporte teórico a partir da leitura da obra de
Merleau-Ponty e da compreensão daquilo que o próprio filósofo designou como tentativa
de construção de uma nova ontologia. Dentre as obras do referido filósofo há aquelas que
falam de uma linguagem indireta ou de uma prosa do mundo, onde a figura de Paul Cézanne
é sempre recorrente por se aproximar, enquanto expressão artística, da própria leitura do
mundo pretendida por Merleau-Ponty. E neste resgate está presente o objetivo maior deste
trabalho, o de interagir a leitura da paisagem enquanto um sensível objetivado com a de uma
construção subjetiva, inerente à percepção humana, onde a interação das mesmas permite
melhor qualificar este conceito tão caro junto à Geografia e outras ciências humanas.
Palavras-chave: paisagem, objetivismo, subjetivismo, Merleau-Ponty , Paul Cézanne
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ST 22
A fotografia e a construção de paisagens (modos de
ver) na cultura visual dos séculos XIX e XX
A fotografia de Mario Cravo Neto em Laróyè
Adriana Aparecida Mendonça
UFG
[email protected]
O presente trabalho detém-se no estudo da (re)significação da herança religiosa e mitológica
dos orixás na produção artística afro-brasileira, com ênfase na presença simbólica do mensageiro Exu na obra de Mario Cravo Neto.
Nesta pesquisa buscamos a compreensão do contexto artístico afro-brasileiro e as diferentes
formas de representação do mensageiro Exu, especificamente na fotografia do artista contemporâneo Mario Cravo Neto. Promovemos um diálogo entre a mitologia dos orixás, principalmente os mitos que narram as histórias de Exu, com a produção da série fotográfica denominada Laróyè. Esta produção elucida a filosofia africana, onde religião e arte não se separam.
Palavras-chave: arte afro-brasileira, fotografia, Exu, Mario Cravo Neto
Imagens cemiteriais: imagens dos
vivos aos vivos
Alberto Gawryszewski
Doutor – Professor associado - UEL
[email protected]
A questão central a ser desenvolvida neste trabalho de pesquisa é o uso das imagens fotográficas encontradas em sepulturas em cemitérios brasileiros. Buscar-se-à também sua possível
correlação com os epitáfios. Inventários tipológicos foram realizados: arquitetura funerária,
esculturas, adornos; jazigos, capelas, túmulos; anjos, imagens sacras e/ou profanas; altos e/
ou baixos-relevos, piras, grades. (BORGES, 173) Alegorias foram igualmente catalogadas: ressurreição, saudade, desolação, esperança, oração. Cristo foi construído como homem crucificado e/ou elevado. Os devotos traziam seus santos para os túmulos: Santo Antonio, São Sebastião, Imaculada Conceição entre outros. Bustos de eméritos fazendeiros/burgueses eram
acompanhados ou não da imagem da pranteadora. Acompanhando as sepulturas temos os
adornos: cordeiro, coroa de flores ampulheta, nuvens, trombetas, harpas, arabescos brasões,
epitáfios e festões entre outros tantos. Relevos que diziam a ocupação de trabalho do morto:
militar, advogado, artista plástico, escultor, pintor, músico etc. O tema ora proposto possui
um caráter de ineditismo, não só pelo aspecto espacial, como temporal e de amplitude. Ao
escolher cemitérios de várias cidades brasileiras, pudemos criar uma tipologia a partir de um
estudo comparativo com uso da fotografia e dos epitáfios pelos vivos. Há similitudes? Houve
mudanças de forma, aspecto, vestimenta, suporte, mensagem visual e mensagem escrita no
aspecto espacial e temporal?Por que do uso da fotografia e do epitáfio em sepulturas? Com
certeza busca-se a construção de uma perenidade pelo uso de palavras e de uma imagem.
Mas, para quem foram construídas essas mensagens? As palavras traduzem ações em vida do
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morto: bom pai, marido, funcionário, cristão etc. Às vezes o epitáfio traz palavras que seriam
escritas pelo próprio morto. Talvez tenha deixado escrito, ou encomendado a placa ainda
vivo. O epitáfio não só se remete ao morto, mas ao que ficou, pois quer demonstrar seu laço
afetivo e de parentesco. Os epitáfios podem traduzir o amor conjugal, filial ou maternal. As
imagens dos mortos trazem em seu conteúdo muitas mensagens: sua beleza física, juventude, relações afetivas, idade, felicidade, ocupação, formação profissional entre outras. Marcar a profissão do morto é construir e manter na memória dos herdeiros e da comunidade
que ele foi um homem (mulher) com uma profissão, uma ocupação, o que é valorizada em
nossa sociedade. Assim são recorrentes as fotos com o morto vestido sua toga de advogado
ou como professora. Imagens de bebês e crianças também podem ser encontradas. Bebês são
retratados com se dormissem estivessem, ou nas nuvens. Da mesma forma, um rol de fotos
de casais podem ser encontrados nos cemitérios. Casais em fotos separadas, seja por opção,
seja pelo falecimento em dadas distantes. Casais juntos, em fotos reunidas pelo laboratório
fotográfico ou em foto em que estavam realmente juntos. Partimos dos conceitos de representação, narrativas, memória e práticas sociais elaborados por Chartier. Assim, os relatos
acima vão ao encontro deste conceito, pois os vivos deixam impressões sobre si e sobre os
mortos. Esses produzem seus próprios documentos, dando significados e sentido à vida.
Representam seus sentimentos, sensibilidades, aspirações sociais e coletivas, sejam vinculadas às relações humanas terrenas ou “celestiais”. Segundo pesquisadores cemiteriais, as fotos
e as esculturas buscam tornar presente o ausente. O vivo, ou o morto, ao construir uma imagem (bela foto e/ ou epitáfio) pensa em deixar uma memória para os outros contemplarem,
partindo, como vimos, de valores e idéias socialmente aceitas. Portanto, podemos pensar
que a fonte cemiterial é importante para compreender o mundo dos vivos, seus valores, seus
desejos de permanência e/ou mudanças? Acreditamos que sim, pois as formas de vestir, as
palavras, os signos, as expressões dos epitáfios, entre outros, ajudam a conhecer e dar sentido ao mundo de outrora. O que propõe, portanto, é mostrar a utilização de estudos sobre
a imagem fotográfica como fonte histórica, mas investindo numa análise que considera a
relação entre vivos e mortos. Isso implica numa inserção destes objetos, as fotografias cemiteriais, em seu tempo e condições de produção, e na observação de sua evolução, além do
desenvolvimento de uma tipologia para estas imagens tão particulares, considerando-as em
diferentes localidades.
Transformação dos padrões de representação
do espaço urbano na fotografia (1886-1950):
da figuração à abstração
Carolina Martins Etcheverry
[email protected]
Esta comunicação tem como proposta analisar diferentes padrões de representação do espaço urbano, ao longo do final do século XIX até a metade do século XX. Para tanto, busca-se
exemplos nas fotografias de Porto Alegre e São Paulo, nas quais é possível observar modificações nos padrões visuais propostos pelos fotógrafos. Tais modificações têm a ver com
mudanças que ocorrem na sociedade e na própria técnica fotográfica, proporcionando novas
modalidades de olhar a cidade. Assim, se a cidade do século XIX é representada na fotografia
a partir de seus elementos figurativos, de maneira tradicional - especialmente na vertende
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pictorialista, predominante no primeiro momento do fotoclubismo nacional -, vemos uma
mudança significativa a partir dos anos 1940, em direção à abstração e à experimentação
fotográfica. A cidade aparece em representações ousadas, como as de Geraldo de Barros e de
José Oiticica Filho (no caso do Rio de Janeiro e de Ouro Preto), que dialogam com as artes
visuais e com a história da fotografia, experimentando novas formas de representar fotograficamente a cidade.
Fotografia: a possibilidade de criação
de imaginários deformados
César Bastos de Mattos Vieira
Prof. Arq. M.S. Doutorando- UFRGS
[email protected]
Airton Cattani
Prof. Arq. Dr.
O artigo aprofunda o modelo metodológico de investigação de imagens fotográficas, proposto por Boris Kossoy, abordando a questão das lentes fotográficas e suas possibilidades de
“manipulação” no registro da espacialidade. Diversas áreas do conhecimento têm nos registros fotográficos testemunhos da existência de objetos cujas dimensões e proporções são
fundamentais. A máquina fotográfica surge como possibilidade da reprodução fiel, mecânica
e óptica, do percebido pelo olho humano. Assim, as lentes deveriam reproduzir as mesmas
proporções das percebidas pelo olho. Com a evolução dos equipamentos fotográficos experimentam-se novas possibilidades de lentes com diversas vantagens, como o uso das grandes
angulares para registro de panorâmicas ou ambientes naturais grandiosos, sem haver uma
tomada de consciência das distorções espaciais resultantes. O uso de lentes com diferentes
distâncias focais vem acostumando o olho a deformações cada vez maiores. Acreditamos
que a falta de consciência destas distorções possa estar criando imaginários deformados.
Percebe-se a necessidade de uma melhor acuidade visual para desvendar o que o documento
nos revela. Além de apresentar e ocultar informações há uma grande possibilidade de deformações das “realidades” registradas nestes documentos.
Palavras-chave: Fotografia; Arquitetura; Imaginário
A construção da visualidade urbana de Porto
Alegre na revista Máscara (1918-1928):
entre tradição e modernidade
Charles Monteiro
Doutor - Professor Adjunto do PPGH/PUCRS
[email protected]
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A proposta do trabalho é discutir o estatuto da fotografia em relação a outros tipos de imagens na revista ilustrada Máscara. Problematiza-se também a forma de edição dessas imagens fotográficas nessa revista ilustrada no sentido de compreender a construção de uma
nova imagem de indivíduo no espaço público, as novas formas de sociabilidade e de consumo modernos na sociedade urbana brasileira.
Máscara se apresenta como revistas de literatura, arte e mundanismo e tornam-se veículos
do modernismo e do cosmopolitismo no contexto local, mesclando temas regionalistas à
divulgação de novos autores modernistas. As revistas ilustradas respondiam a uma demanda
de informação e entretenimento das camadas sociais médias urbanas nas grandes cidades
brasileiras. Nelas a fotografia ganha um lugar de destaque ao lado da charge e da publicidade,
fazendo parte de uma nova cultura visual em expansão e uma nova pedagogia do olhar. As
revistas ilustradas buscaram um perfil editorial que fosse ao encontro dos interesses dos seus
leitores-consumidores da elite política, social e econômica local. Entre outras coisas, isso
significava participar dos rituais sociais de uma cultura urbana moderna, visando a escapar
do anonimato. Fazer-se fotografar, consumir imagens e produtos era uma forma de distinção
social em uma cidade em processo de crescimento e modernização.
No Rio Grande do Sul, o campo fotográfico se organizou em paralelo ao campo da pintura. A
organização formal do campo artístico local é tardia e desenvolve-se gradualmente a partir
da criação da Escola de Belas Artes em 1908. Em 1910, inicia-se o primeiro curso de pintura
na Escola de Belas Artes, que estava baseado nos cânones estéticos clássicos e em princípios morais. Nesse contexto, as artes gráficas nas revistas ilustradas eram uma alternativa
profissional, pois os salões eram ocasionais e aceitavam amadores. Dessa forma, escritores e
pintores reuniram-se em grupos e criaram revistas para divulgar seu trabalho, como no caso
de Máscara (1918-1928). Nos anos 1920, essas revistas eram espaços de inovação para novas
linguagens e práticas artísticas, bem como espaços de elaboração de uma nova visualidade
urbana e de um imaginário social moderno.
Livros ilustrados: narrativas da diversidade
cultural brasileira para crianças
Claudia Mendes
Mestranda /PPGAV/EBA/UFRJ
[email protected]
No universo contemporâneo da produção cultural para crianças no Brasil, nota-se nos livros
ilustrados uma singular interação com expressões regionais da tradição popular, que encontram pouca receptividade em outros produtos das culturas oficial e industrial. Especialmente
no campo das narrativas visuais, destaca-se um movimento protagonizado por ilustradores
brasileiros, a partir dos anos 1990, em prol do reconhecimento de uma linguagem própria e sua
valorização no cenário da arte internacional. Um destes artistas é Roger Mello, cuja trajetória
de vida formou-lhe o gosto pelas viagens e por contar histórias para compartilhar suas multifacetadas visões de mundo. Tendo no livro ilustrado seu mais destacado meio de expressão,
encontramos em suas obras elementos característicos da diversidade cultural brasileira, presentes tanto nos temas que aborda quanto nos estilos que emprega para representá-los.
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Imagens no fluxo do tempo: configurações
espaciais do Vale do São Francisco nas narrativas fotográficas do período desenvolvimentista
Elson de Assis Rabelo
Doutorando /UFPE
[email protected]
Este trabalho se propõe a discutir o lugar da fotografia na configuração do Vale do São Francisco entre os anos 1950 e 1970. Relacionadas ao emaranhado de práticas e discursos do desenvolvimentismo pós-Segunda Guerra, as imagens se colocam como formas de articular e
elaborar a visualização dessa categoria espacial nesse período. Em torno de cidades como
Juazeiro, na Bahia, e Petrolina, em Pernambuco, o também chamado Submédio São Francisco se destacou como domínio territorial estratégico por sua localização fronteiriça no Nordeste e entre outras regiões do país, e pela abundância de recursos naturais, como o próprio
rio, que unia “climas e regiões diferentes”. Apesar de periférico em relação às capitais litorâneas nordestinas, esse espaço se posicionou como centro aglutinador de instituições que
se tornaram ícones da expansão do desenvolvimentismo brasileiro, tais como a Companhia
de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF) e a Companhia Hidrelétrica do
São Francisco (CHESF). Enquanto era delineado geopoliticamente, o espaço também o era
culturalmente, de modo especial na fotografia, que privilegiava visualmente, sob diferentes
enquadramentos na produção das vistas e paisagens, o chamado “rio da integração nacional” e a transformação de suas cidades ribeirinhas, sob o impacto da transição do transporte
fluvial e ferroviário para a predominância nacional do transporte rodoviário, sinalizada, por
exemplo, pela construção da ponte Presidente Dutra.
O álbum de Berzin: entre presentes,
imagens de um mesmo Recife
Fabiana Bruce Silva
Professora Adjunta - Departamento de História da UFRPE
[email protected]
A comunicação trata do desvelamento das fotografias do “Álbum do Recife e arredores” de
autoria do fotógrafo Alexandre Berzin, produzidas entre 1937 e 1963. A pesquisa, em andamento, faz parte de um projeto que tem por objetivo investigar e divulgar a ação de fotógrafos (a escrita de fotógrafos) e a formação de acervos fotográficos no Recife da primeira
metade do século XX: nosso espaço expositivo e reflexivo. Através das fotografias do Álbum
que pertencem à Coleção Alexandre Berzin/Foto Cine Clube do Recife da Fundação Joaquim
Nabuco e, igualmente, ao Museu da Cidade do Recife, está sendo possível relacionar seus arquivamentos identificando espaços discursivos de produção e destinação, além das temáticas fotografadas. Percebemos através de seu estudo, as esferas pública e privada em incoatividade, o que, supomos, pode permitir compreender igualmente como se configuram, no
campo social, as diversas imagens de um mesmo Recife.
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História e historiografia: as abordagens
do governo e da morte de d. Afonso Furtado
Guilherme Amorim Carvalho
Mestrando em História - UnB.
[email protected]
A presente comunicação tem por objetivo dar a conhecer o andamento de um estudo que
analisa o documento histórico, “As Excelências do Governador - O panegírico fúnebre a d.
Afonso Furtado, de Juan Lopes Sierra (Bahia,1676)”, sob a ótica da teoria da sociedade corporativa. Trata-se da construção da imagem ideal de governante a partir da exaltação da figura
de d. Afonso, e a criação de um exemplo de virtude e moral que é produto da cultura política
do império português e ao mesmo tempo viria a servir como diretriz para a população do
Brasil colônia, conformando as estruturas tradicionais do poder. Pretende-se também fazer
uma análise historiográfica sobre o tema, para sublinhar as diferentes formas como a história
tem se referido e interpretado o governo e a memória desse governador.
Imagem digital e outros sentidos: novas formas
de interação com a imagem
Joana Francisca Pires Rodrigues
Mestranda em Comunicação – UFPE
[email protected]
O formato digital modifica as imagens e nos faz modificar nosso relacionamento com o
visual. A partir da análise do impacto da revolução digital na produção contemporânea de
imagens, promovida por Fred Ritchin no livro After Photography (2009), proponho uma discussão de como nossos modos de ver têm sofrido as conseqüências da transposição da nossa
cultura ao formato numérico. Novas formas de interação com a imagem surgem a partir do
momento em que o contato com elas passa a também ser mediado pelo computador. A análise das características desse novo contexto nos possibilita estabelecer novos relacionamentos com a tecnologia.
Palavras-chave: imagem digital; hiperfotografia; Fred Ritchin
A ordem antes do progresso: o discurso médico
– higienista e a educação dos corpos no Brasil
do início do século xx
Leonardo Querino Barboza Freire
[email protected]
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A regulamentação dos serviços de saúde pública no Brasil, a partir da criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) em 1919, durante o governo do paraibano Epitácio
Pessoa, revela um novo interesse do Estado em ampliar e sistematizar estes serviços. Com
especial interesse para as questões de salubridade e higiene pública, conforme os preceitos
do discurso médico – higienista de então, nosso já “adolescente” Estado Republicano junto
com suas elites intelectuais e econômico – sociais, elegeu a doença e a sujeira como alguns
dos elementos que impediriam a modernização e o progresso de uma nação que se pretendia
civilizada. Neste artigo discutimos como o discurso do poder se apropriou da educação com
o fim de viabilizar este projeto de nação moderna e higienizada, a partir da discplinarização dos sujeitos, do controle dos seus corpos e da normatização dos cidadãos que assim
poderiam compor os quadros de uma sociedade que se queria moderna. Para esta discussão,
dialogamos com estudiosos que problematizam a historiografia da saúde, da doença e da
higienização, como Revel e Peter (1995) e com autores vinculados aos estudos em história da
educação, como Rocha (2002), apropriando-nos, ainda, de alguns conceitos ofertados por
Foucault (2001).
Palavras – chave: Brasil; Modernização; higienização; educação; disciplina.
Porto Alegre vista do Guaíba: foto[grafias]
de uma paisagem em três tempos.
Letícia Castilhos Coelho
Arquiteta e Urbanista - Mestranda no PROPUR/ UFRGS.
[email protected]
A paisagem possibilita um olhar para a cidade que integra diversos aspectos da relação
homem-natureza, e, ao expressar diferentes momentos da ação de uma cultura sobre o espaço é também uma acumulação de tempos. Enquanto fenômeno visível, a paisagem expressa
as trajetórias de uma sociedade, sendo portadora de significados e adquirindo uma dimensão simbólica passível de leituras espaço-temporais.
Este trabalho surge da necessidade de compreender a cidade em relação às suas dinâmicas de
(trans)formação, buscando desvelar o “agora” das múltiplas camadas superpostas na paisagem, a partir de uma perspectiva histórica. Para a aplicação do método de análise utilizamse, como objeto de estudo, as vistas da cidade de Porto Alegre a partir do Lago Guaíba obtidas
em fotografias de três diferentes períodos, considerados emblemáticos em relação às transformações urbanas. Acredita-se que essas vistas veiculem um “padrão temático-visual”, dando a ver e a ler as características estruturais, formais, funcionais e simbólicas da paisagem.
Palavras-chave: Paisagem, Cidade, Fotografia.
O Vale do Paraíba Fluminense através das
lentes dos fotógrafos oitocentistas
Mariana de Aguiar Ferreira Muaze
Professora e coordenadora - História UNIRIO.
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[email protected]
Durante o Oitocentos, a região do Vale do Paraíba fluminense gozou de predominância política e econômica alavancada pela ascensão do café no mercado internacional. Neste período,
muitas de suas cidades, lugarejos e fazendas foram registrados pelas lentes de fotógrafos
renomados tais como - Marc Ferrez, Christiano Jr, Victor Frond - além de outros com circulação restrita, a exemplo de Manoel de Paula Ramos, e vários profissionais anônimos. O que a
fotografia e os estudos da cultura visual trazem de contribuição para as análises sobre o rural
e o urbano no Vale do Paraíba fluminense do século XIX? O que elas revelam sobre a forma
como a sociedade oitocentista percebia sobre estes espaços e a própria região do Vale? Que
diálogos podem ser estabelecidos entre os registros visuais e escritos? Estas são provocações
que buscaremos responder ao longo desta comunicação.
Fotografia e memória nas fazendas
históricas paulistas
Marli Marcondes
Doutoranda em Multimeios – IA/UNICAMP.
[email protected]
A documentação fotográfica pertencente às fazendas históricas do Estado de São Paulo constitui-se numa das tipologias documentais abordadas no projeto denominado “Patrimônio
Cultural Rural Paulista: espaço privilegiado para pesquisa, educação e turismo”, o qual integra o Programa de Pesquisa em Políticas Públicas da FAPESP. Desenvolvido pela UNICAMP,
USP, UNESP, Universidade Federal de São Carlos e Associação das Fazendas Históricas Paulistas, o projeto tem por objetivo definir metodologias para inventariar o patrimônio rural e
propor tecnologias de preservação e salvaguarda. Tendo em vista a ampla prospecção efetuada nos distintos acervos fotográficos das fazendas, surgiu a necessidade de uma análise
para compreender como a fotografia estabelece uma narrativa sobre o viver e o morrer na
sociedade rural paulista durante a segunda metade do século XIX e início do XX.
Imaginário provincial e imaginário global:
proposições analíticas para o ensaio fotográfico
Fin de Zona Urban de Carlos Bittar.
Patrícia Câmera
Doutoranda /PPGH/PUCRS
Bolsista CNPq
[email protected]
Este artigo aborda a visualidade do território denominado Três Fronteiras (Brasil, Argentina
e Paraguai). O objeto de estudo são as fotografias que compõem o catálogo fotográfico Fin
de Zona Urban, desenvolvido pelo fotógrafo paraguaio Carlos Bittar entre 1995-2003. O ob-
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jetivo é analisar a representação espacial e suas relações com sujeito no mundo globalizado.
O estudo parte para o levantamento de signos visuais que mostram a região como lócus do
comércio ilegal e formal. Propõe-se discutir essa fronteira apontando algumas questões sobre imaginários provinciais e imaginários globais.
Palavras-chave: Três Fronteiras; fotografia; local e global
A Cultura Visual na Amazônia brasileira:
uma análise comparativa entre os fotodocumentários dos séculos XIX e XX
Rafael Castanheira Pedroso de Moraes
Mestrando Cultura Visual FAV/UFG.
[email protected]
Este trabalho é parte de uma pesquisa que discute o estatuto da fotografia documental contemporânea a partir de uma série de fotografias produzidas por mim entre 2006 e 2009 sobre
o manejo de pirarucu (Arapaima gigas) desenvolvido pela Colônia de Pescadores Z-32 de
Maraã, no Amazonas. Enquanto os fotógrafos pioneiros que atuavam na região norte do
Brasil em meados do século XIX encontravam-se voltados aos registros de aspectos naturais
e antropológicos explorando a representação da paisagem e seus tipos exóticos, uma nova
geração tem investigado tais aspectos com características particulares, ampliando possibilidades tanto de produção quanto de uso de imagens. Dessa forma, serão apontados importantes momentos da fotografia documental na região amazônica nos séculos XIX e XX. Posteriormente, irei narrar minha experiência de documentação junto aos pescadores de Maraã
e apresentar algumas fotografias deste trabalho para colocá-las em diálogo com as imagens
de outros fotodocumentaristas que atuaram na região.
Palavras-chave: Fotografia documental, Amazônia, Pirarucu
A trajetória de uma “paisagem natural”
brasileira: o caso da vitória-régia
Rafael Dall’olio
Mestrando História Social-USP/ Bolsista FAPESP
[email protected]
Este trabalho pretende demonstrar a trajetória visual da planta vitória-régia destacando o
processo de transformação em uma das imagens-ícones da “paisagem natural” brasileira.
Buscaremos demonstrar como esta planta de origem amazônica, descoberta no século XIX
na Guiana Inglesa, embora não tenha a atenção dos viajantes estrangeiros que reproduziram iconograficamente as paisagens brasileiras do período, terá outro tratamento no século
seguinte. Somente no início do século XX a vitória-régia ganhou espaço como fonte para
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as artes decorativas, juntamente com outros exemplares da flora brasileira pelo pintor Theodoro Braga por meio de suas obras. É transformada em imagem-ícone da “paisagem natural” brasileira por Mário de Andrade na fotografia “Lagoa do Amanium”, resultado de sua
expedição ao norte e nordeste do Brasil na década de 1920. Ao longo da primeira metade do
século XX observamos uma recorrência de imagens da vitória-régia no imaginário brasileiro,
sempre associada à idéia de natureza e identidade brasileiras. Buscaremos apresentar a trajetória das representações visuais em torno desta planta, num momento de redefinição da
identidade nacional promovida pelo movimento modernista.
Palavras-chave: paisagem, imaginário, imagem-ícone.
217
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ST 23
Suportes contemporâneos do escrever, do ler
Verdade narrativa, ou, Peixe grande e a história
André Pereira Leme Lopes
Professor Núcleo de Estudos Clássicos/CEAM Departamento de História- UnB
[email protected]
Durante milênios, as narrativas foram pensadas como representações (mímesis) do mundo.
Nesta comunicação, tento discutir a narrativa, não como reflexo, representação ou imitação
de uma realidade pré-existente, mas sim como definidora e criadora de realidades próprias.
Para tanto, partirei do romance Big fish: a novel of mythic proportions (1998), do americano
Daniel Wallace (1959-).
Um novo olhar sobre a Roma Antiga: a utilização
do filme Júlio César nas aulas de História.
Augusto Neves da Silva
UFPE
[email protected]
Vivemos no mundo da tecnologia, da imagem e do multiculturalismo, temáticas que podem
ser problematizadas nas aulas de História. Neste sentido, nós, enquanto educadores, devemos pensar a história como um conhecimento que está em constante movimento que deve
ser compreendido e pensado na sala de aula. Nossa proposta parte do pressuposto que ficcionando, poetizando e lucubrando o ensino de História faríamos esses novos sujeitos – os
alunos – olharem de forma crítica os homens no continuum tempo.
Partindo dessas premissas, iniciamos nosso trabalho na tentativa de contribuir para a construção de mais uma ferramenta que poderá auxiliar os professores da área de História.
Fizemos uma reflexão teórico-metodológica, no sentido de (re)pensar o ensino de História,
especificamente da Roma antiga, com a utilização do filme Júlio César, produzido no ano
de 1953 e dirigido pelo famoso diretor Joseph L. Manckienwicz. Pensamos que, a utilização
dessas representações do passado, podem contribuir para uma (re)leitura do espaço e tempo
histórico, dialogando tanto com as ideologias/vontades que circundam sua produção, como
também, os conceitos históricos ali encenados.
A intenção de nosso trabalho é mostrar que a construção do conhecimento histórico se dá de
forma recíproca entre professor e aluno, passado e presente, objeto e sujeito. Neste sentido
nossa proposta metodológica dialoga com espaços virtuais, com a cultura midiática e o conhecimento histórico escolar.
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Histórias em quadrinhos: possibilidades
e produção de conhecimentos e saberes
no ensino de História
Cláudia Sales Alcântara
Doutoranda em Educação Brasileira/UFC.
[email protected]
Atualmente as histórias em quadrinhos são mais aceitas como produção artística e cultural
por parcelas cada vez maiores da sociedade. Esse trabalho as trata como uma ferramenta
educacional muito eficaz, possuindo a capacidade, através do seu currículo cultural, de divertir, transmitir uma forma de ser, sentir, viver e se comportar no mundo, podendo ser utilizadas de maneira interdisciplinar nos diversos conteúdos escolares, inclusive no ensino de
história. Como referencial teórico será utilizada a idéia de cultura defendida pelos Estudos
Culturais britânicos, da Universidade de Birmingham, que se preocuparam com produtos
da cultura popular e dos mass media que expressam os sentidos que vêm adquirindo a cultura contemporânea. Para tal trabalho ser realizado foi realizado uma pesquisa bibliográfica,
onde todo material recolhido – livros, periódicos, documentos, artigos, revistas, etc – foram
lidos de maneira atenta e sistemática, fichados, analisados e interpretados, a fim de estabelecer uma fundamentação teórica do conteúdo apresentado.
Palavras-chave: histórias em quadrinhos, história, ensino.
A variação documental na escrita da história
Giselda Brito Silva
Professora Adjunta em História /UFRPE.
[email protected]
Nossa participação no evento tem como meta discutir aspectos da prática de pesquisa histórica sob a variação documental, especialmente quando o tema envolve práticas da política cultural, relacionando política com religião, como o movimento integralista.
Entre História e ficção: autobiografia
como gênero híbrido
Isabel Cristina Fernandes Auler
PUCRJ
[email protected]
Minha proposta consiste em analisar os depoimentos e autobiografia de Lacerda a partir das
considerações supracitadas referentes à mímesis. Pretendo concebê-las como uma mímesis
de representação, na qual o sujeito possuidor de uma intenção à composição de seu mímema,
– que não se confunde com a pulsão originária, uma vez que, por estar inserido no mundo, as
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
diversas representações nele contidas influenciam tal proposta – não transgride o horizonte
de expectativas de sua composição, no entanto, por meio deste não se é capaz de dominá-la.
A partir da tese de Costa Lima, na qual autobiografia é um gênero literário híbrido, entre a
história e a ficção, analisarei a obra autobiográfica de Carlos Lacerda, Rosas e pedras de meu
caminho. Pretendo demonstrar que a autobiografia supracitada, mesmo a manter seu caráter
híbrido, está mais próxima do campo ficcional. A autobiografia de um personagem político
é orientada por seu projeto para o futuro e, portanto, mesmo que mantenha a preocupação
com a referencialidade, consiste na construção de uma identidade narrativa retórica, a qual
concretize o seu plano de ação para o futuro. Palavras chave: Autobiografia – História – Ficção
Escrever a História através das imagens; filmes e
narrativas em perspectiva historiográfica
João Pinto Furtado
Professor Associado do departamento de História /UFMG
[email protected]
O atual estágio de desenvolvimento dos estudos e discussões histórico-historiográficas parece
estar evidenciando cada vez mais a fluidez dos limites e fronteiras que até então conformavam a disciplina. Se há cem anos seria praticamente inviável afirmar o estatuto de verdade
das narrativas orais, mesmo que colhidas e registradas através das mais rigorosas metodologias cientificas, hoje a questão decididamente merece outro tratamento, menos radical com
certeza. Segundo nosso entendimento, um movimento parecido tem ocorrido com as assim
chamadas narrativas cinematográficas produzidas em torno de eventos históricos. Tomando
como referência os filmes “O resgate do Soldado Ryan” (“Saving Private Ryan”, Steven Spielberg, 1998) e “Cidadão Kane” (“Citzen Kane”, Orson Welles, 1939), procuraremos analisar
como a rigorosa seleção de suportes visuais quanto ao primeiro filme, no caso a fotografia
documental de Robert Capa, associada á construção de um vigoroso “set piece”, pode construir uma narrativa historiográfica de intensidade tal que, provavelmente, poucos textos
escritos conseguirão igualar. No caso do segundo, em perspectiva comparada, pretendemos
abordar a questão da memória revisitada em três seqüências-chave para a compreensão do
filme e sua inserção na sua própria historicidade..
Pensando o ofício do historiador no ambiente
escolar: práticas pedagógicas e a incorporação
do xadrez nas aulas de Idade Média.
José Luís de Oliveira e Silva.
Doutorando em História/UFG.
[email protected]
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
O presente artigo é fruto de uma reflexão acerca do meu ofício como profissional da história
em salas de aulas do ensino básico e superior, em especial dos trabalhos relacionados com
os eixos temáticos que atravessam a história medieval. Para tanto, tomo minha prática pedagógica em sua utilização do jogo de xadrez como suporte para pensar as tensões que marcaram as relações sócio-culturais do ocidente medieval. Assim, problematizo minha escrita
sob três questões: frente às novas mídias, em especial dos novíssimos games, o que esse jogo
secular pode ainda nos ensinar e, sobretudo, auxiliar nas práticas educativas? Como pensar o
xadrez sob as categorias de monumento e documento tão caras ao ofício de historiador? Em
que medida o universo lúdico do xadrez pode nos servir à compreensão das subjetividades
envolvidas no momento de sua introdução e adaptação para a cultura ocidental?
Palavras-chave: Ensino de História, Idade Média, Xadrez.
História oral: as (in)verdades narradas pelas
trabalhadoras safristas sobre o passado do
setor de conservas de frutas e da cidade de
Pelotas/RS
Laura Senna Ferreira
Doutoranda/UFRJ
[email protected]
Klarissa Almeida Silva
Doutoranda /UFRJ
[email protected]
A história oral busca a versão que os sujeitos possuem sobre os eventos sociais. Por mais
(in)verdades que narrem, a linguagem e a imaginação não escapam ao tempo e lugar. Compreende-se que as narrativas orais são memórias seletivas que passam pelo recorte das subjetividades e envolvem um rol de (in)verdades/ficções que permitem o acesso às representações que expressam valores do narrador e/ou dos protagonistas daquelas vivências. Não
está em questão se é realidade ou ficção o que narram os sujeitos, mas as verdades presentes
nos “mundos de mentiras” narrados. Partindo dessa discussão, investiga-se a importância da
história oral para se conhecer sobre a memória que os atores formulam sobre o objeto investigado. No caso específico deste artigo, busca-se compreender o passado do setor de conservas de frutas de Pelotas/RS a partir da visão das trabalhadoras safristas. A pesquisa mostrou
que este é narrado como um tempo de fartura, quando não havia desemprego e, pela manhã,
a “cidade era branca”, uma referência aos uniformizados que seguiam em direção às fábricas.
Não se pretende questionar a credibilidade desses discursos, mas entender que por mais irreal que possam ser esses relatos, encontram-se em intertextualidade com o concreto.
Palavras-chave: história oral, trabalho, Pelotas/RS
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Civilizar-se, harmonizar-se: quesitos
de polidez e urbanidade
Maria Cecilia Barreto Amorim Pilla
Professora Adjunta/PUCPR
[email protected]
A presente pesquisa pretende refletir sobre algumas normas contidas nos manuais de civilidade no que concerne ao viver no Brasil do início do século XX. Frente à implementação de
reformas urbanas empreendidas nas principais capitais do país, experimenta-se o sonho de
construir uma “Europa possível”. Entre tantos melhoramentos era necessário também, no
encalço da civilização, extirpar um passado de “barbárie”. Tais ideais tentavam acompanhar o
pensamento reformista que já inspirava as grandes metrópoles ao longo do século XIX. Esse
cenário urbano em construção tem elementos que balizam e instruem a população, leis que
regulam o viver citadino, regras que ditam o bem-viver. É preciso saber como se comportar.
Esse é o cenário em que circulavam os manuais de conduta, veículos orientadores de uma estética comportamental que serviriam como parâmetro aos distintos habitantes das cidades.
Palavras-chave: civilizar-se; urbanidade; manuais de civilidade
Práticas distintas do crer e do fazer nos sertões
amazônicos
Maria do Socorro de Sousa Araújo
Unemat/Fapemat/Unicamp
[email protected]
Esta Comunicação é parte de um projeto de pesquisa que investiga os festejos comemorativos
de um conflito pela posse da terra entre posseiros e funcionários da Companhia de Desenvolvimento do Araguaia – Codeara – ocorrido em Santa Terezinha, na região do Araguaia/MT,
em 1972. Na configuração dos enfrentamentos, destaca-se a figura do padre francês François
Jentel, da Prelazia de São Félix, cujas atitudes atingem dimensões que misturam “vocação”
religiosa com ação política. A significação de seus atos lhe credita a condição de protetor do
povo e do lugar e, assim, se pode pensar os atos comemorativos como representações de um
passado celebrado, presentificado. Analisar essas práticas sociais e culturais possibilita conhecer códigos de convivência com os quais os grupos humanos articulam suas alianças operando seus propósitos, por isso os eventos festivo-comemorativos expõem comportamentos
sociais que precisam ser compreendidos, interpretados, decifrados.
Modos de ver e viver: referências históricas e
ambigüidades de gênero no figurino da popstar Madonna no show The Confessions Tour.
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Mariana Christina de Faria Tavares Rodrigues
Centro Universitário Una
[email protected]
Além de ser considerada uma artista irreverente e ousada Madonna é também aclamada pelo
rigor profissional com que realiza suas produções, sejam gravações inéditas ou os seus subprodutos como vídeo-clips, turnês de shows tecnologicamente elaborados e os posteriores
DVD’s. Produto das décadas finais do século XX, Madonna, ao elaborar suas apresentações
utiliza-se de um mix de referências da história social que podem ser analisadas através dos
figurinos que apresenta em cena. Na constituição desta roupagem de palco a artista elabora
conexões com representações de gênero e identidade, muitas vezes subvertendo estereótipos e recriando formas de ver e apreender, construindo e fortalecendo um significado cambiante entre o masculino e o feminino. Este trabalho se propõe a analisar, tendo como foco de
estudo o figurino da turnê The Confessions Tour de 2006, as relações ambíguas de gênero no
contexto contemporâneo construídas sobre referências históricas e exploradas pela artista e
seu corpo de dançarinos em seus figurinos. Madonna oferece ao espectador de seus shows,
ao vivo ou em suporte eletrônico – o que facilita a percepção de detalhes – informações articuladas de forma nem sempre óbvias, mas onipresentes, e estas, ao trafegar paralelamente
aos artefatos cênicos e às letras de suas canções, vão constituindo e se constituem em novas
maneiras de ver e viver os códigos da sociedade moderna.
Sociabilidade, auxílio mútuo e cultura associativa na capital do império (1860-1882)
Mateus Fernandes de Oliveira Almeida
Doutorando em História Social/PUCSP
[email protected]
Pesquisa sobre o associativismo na capital do Império entre os anos de 1860 e 1882. Período
em que esteve em vigor uma lei sancionada pelo governo imperial que obrigava a todas as
associações submeterem seus estatutos à apreciação da Seção de Negócios do Conselho de
Estado. Destarte, torna-se possível investigar as relações existentes entre o poder público e a
sociedade civil carioca a partir de entidades representativas, neste caso sociedades de auxílio
mútuo e beneficentes. No âmbito dos fenômenos ligados à prática associativa, as manifestações de reciprocidade, equidade, lealdade, solidariedade e cooperação se constituem em
elementos indissociáveis à cultura associativa, subjacente aos espaços de sociabilidade aqui
abordados: as sociedades beneficentes e de socorros mútuos.
Palavras-chaves: auxílio mútuo, cultura associativa, Brasil Império.
A literatura dos membros da Academia
Pernambucana de Letras: práticas,
representações e apropriações da cultura
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escrita no Recife (1901-1910)
Rômulo José F. de Oliveira Júnior
Professor/FAL.
[email protected]
Buscando suporte em alguns debates teóricos da História Cultural, este trabalho tem por objetivo analisar as várias representações da literatura produzida pelos primeiros integrantes
da Academia Pernambucana de Letras (APL) entre os anos de 1901 a 1910. Tal análise demonstra uma aproximação das fronteiras entre a História e a Literatura e nos conduz a perceber
como essa produção estava envolvida em práticas sociais e era carregada de apropriações
e da propagação dos gêneros literários como: biografias, poemas, versos, romances, etc. O
Recife no início do século XX viveu significativas mudanças que interferiram na produção
literária dos escritores, principalmente mudanças urbanísticas e sociais. Situamo-nos entre
1901 e 1910, pois na primeira data é criada a Academia Pernambucana de Letras e a produção
literária se intensifica e ganha mais prestígio social e findamos a análise no ano de 1910, pois
as disputas políticas que se acirram no Recife dividem as opiniões dos literatos da APL, além
do que a morte de 8 membros da APL faz essa produção declinar. Esperamos com essa pesquisa apresentar um singelo panorama da cultura escrita produzida pelos membros da Academia Pernambucana de Letras e apresentar como é possível analisar a tessitura das relações
entre literatura e sociedade.
Palavras-chave: Academia Pernambucana de Letras, literatura e cultura escrita.
A mulher na Literatura Libertina: um diálogo
entre Marquês de Sade e Restif de la Bretonne
Stefani Arrais Nogueira
Mestrando em História/UFPR
[email protected]
O tema central desse trabalho é a análise dos pensamentos de dois autores libertinos, Marquês de Sade e Restif de La Bretonne, sobre o problema da figura da mulher e suas características de feminilidade. Sade e Restif foram contemporâneos do Século XVIII e vivenciaram
o Iluminismo, movimento que influenciou profundamente suas obras. As fontes utilizadas
nessa pesquisa englobam obras clássicas do Marquês de Sade (Philosophie dans le boudoir
e Histoire de Juliette), e de Restif de la Bretonne (Le Pornographe e Les Gynographes). No
século das Luzes, os filósofos refletiram muito sobre o papel da mulher na sociedade e sobre
a sua relação com a natureza. As noções de feminilidade oriundas do pensamento ilustrado
foram absorvidas nas obras pornográficas de ambos, porém de formas distintas. Restif dotou
a figura da mulher de valores e papéis caros a ilustrados como Rousseau (ex.: mãe e esposa).
Sade, por outro lado, abominou e subverteu em suas escritos todos esses papéis e valores.
Palavras-chave: Literatura Libertina; Iluminismo; mulher
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A modernidade no LP Gilberto Gil 1969
Suelen Maria Marques Dias
Mestranda em História/UFMG
[email protected]
Através da análise das canções do Lp Gilberto Gil 1969, buscaremos penetrar na atmosfera do
período verificando a concepção do autor a respeito das idéias de progresso e modernidade
tão freqüentes nesse momento de Guerra Fria. Procuraremos ainda estabelecer uma relação
entre tais idéias e o programa proposto pelo movimento Tropicalista.
O Brasil nas telas e nos campos: cinema, futebol
e a questão da identidade nacional brasileira
Walderez Costa Ramalho
UFMG
[email protected]
Suzana Cristina de Souza Ferreira
Professora Doutora/FAFICH-UFMG
[email protected]
Este artigo tem por objetivo analisar como os filmes brasileiros sobre futebol contribuíram
para que o esporte suscitasse e suscite ainda hoje o debate em torno da sua possibilidade
constituídora de um fator de identidade nacional. Levantaremos alguns aspectos interessantes que irão auxiliar em nosso estudo: os instrumentos teórico-conceituais; o processo
de disseminação do futebol pelo território nacional; e por fim uma análise do filme – mas
sobretudo da recepção da crítica “especializada” –, de Garrincha, alegria do povo (Joaquim
Pedro de Andrade, 1962). Para reafirmar o nosso argumento, faremos também uma leitura
da recepção, também pela crítica, de um outro filme: O Rei Pelé (Carlos Hugo Christensen,
1963), em contraposição à Garrincha.
Palavras chaves: cinema, futebol, identidade nacional
Fogo na Babilônia: ganja, reggae e
rastas em Salvador
Wagner Coutinho Alves
Secretário Geral da Associação Brasileira de Estudos Sociais do Uso de Psicoativos - ABESUP
[email protected]
Na década de 1960, após o sucesso de Bob Marley e da banda The Wailers, os rastafáris ficaram
mundialmente conhecidos. Suas canções, baseadas na crença Rastafári, são protestos contra
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a desigualdade social e o sofrimento do povo devido às seqüelas de um passado escravista
e do sistema capitalista. A Cannabis sativa, conhecida entre os rastafáris pela alcunha de
ganja, é considerada sagrada, tida como erva da sabedoria e é um dos principais elementos
do Rastafarianismo. Paralelamente ao sucesso do Reggae, difundiu-se no Brasil um estilo de
indumentária e uso de cabelos conhecido como rasta, que adquiriu fortes conotações identitárias, independentes de filiação religiosa ou situação social do indivíduo. O que a priori
era uma expressão das tendências pan-africanistas do início do século XX, restrita à população negra, difundiu-se. O Reggae divulgou pelo mundo a cultura rastafári e a estética rasta.
Contudo, não foram estes os únicos elementos disseminados, já que vieram acompanhados
pelos estigmas que já sofriam por razões sociais, aliados às já existentes restrições ao uso
de canabis. As resignificações decorrentes das especificidades do contexto social brasileiro
impuseram novas configurações na produção musical, na religião, na maneira de gerenciar a
vida cotidiana e fazer frente a estigmas. Esta apresentação problematizará as relações entre
estigmas, religiosidade, reggae, rastas e ganja em Salvador, BA.
Palavras chave: cannabis, reggae e rastafarianismo.
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ST 24
Memória e sensibilidades
Memórias identitárias e sensibilidades
etnográficas: um estudo de caso.
Ádria Borges Figueira Cerqueira
UFG
[email protected]
Com ênfase no processo histórico de surgimento de povos indígenas no cenário nacional e
de afirmação de uma pluralidade de identidades em um contexto global nas últimas décadas. A presente comunicação objetiva investigar como os Tapuios do Carretão (um dos três
povos indígenas do Estado de Goiás) articulam sua visão de mundo e suas experiências. Assim, concebemos como lócus de pesquisa a história do povo indígena Tapuios do Carretão
que vivenciou uma situação traumática de negação de sua identidade e de direitos antes
adquiridos. As discussões aqui apontadas fazem parte de um conjunto maior de considerações a respeito da maneira usada pelos Tapuios do Carretão para compor sua trajetória
histórica. Tais discussões trazem algumas reflexões sobre a relação entre memória e identidade na construção da história do povo indígena Tapuio do Carretão em Goiás, dando ênfase
à produção de narrativas orais. As narrativas orais tiveram grande peso ao longo do processo
de reconhecimento étnico do povo indígena Tapuio do Carretão. Foi por meio delas que os
Tapuios reavaliaram a sua identidade no momento de crise. Por meio delas é possível rastrear as trajetórias inconscientes da memória – esquecimentos, representações, imaginários
– e, por meio desses fatores, compreender os diversos significados que os indivíduos desse
povo conferem às suas experiências no tempo e no espaço.
Palavras Chave: Memória, Narrativas orais e identidade étnica.
Escrever e sentir, as sensibilidades da
prática de escrita de cartas
Adriana Angelita da Conceição
Doutoranda em História Social – FFLCH – USP (FAPESP)
[email protected]
“Escribir y sentir son uno y lo mismo…” escreveu Lope de Vega, e assim, podemos compreender
o ato de escrever, como um ato plural, pois aquele que escreve sente. Especialmente, quando
estamos a tratar da prática de escrita de cartas, na qual cada palavra brota de um sentimento;
e escrever e sentir se fundem em sensibilidades humanas que se expressam através da materialidade da palavra que penetra o papel e ali permanece. Eis a proposta desta comunicação,
apresentar algumas discussões que permeiam a prática de escrita de cartas, evidenciando
intenções de memória e sensibilidade. Portanto, através de diferentes exemplos de cartas,
literárias ou que pertenceram ao passado colonial luso-brasileiro setecentista, discutiremos
a carta e suas problemáticas para o estudo da História. Analisar sensibilidades e intenções de
memória no Brasil colonial, não é algo comum, mas necessário, pois mesmo diante de espa-
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ços indefinidos na complexidade de serem públicos ou privados, os Homens não deixaram
de sentir e escrever, mesmo que esse sentir estivesse envolvido pela pragmática. Contudo,
essa comunicação almeja expor algumas considerações em torno da prática epistolar e suas
sensibilidades.
Palavras-chave: Cartas – Sensibilidades – História Colonial
Lendo e relendo a cidade: a “escrita de si”
e o estudo da história da cidade de Boa
Vista/RR na década de 1950
Carla Monteiro de Souza
Professora Doutora/ UFRR
[email protected]
Esse trabalho enfoca a obra 1953, Ah! Anos de minha juventude, de Laucides Oliveira (2007),
uma das fontes utilizadas no projeto Memória e História de Boa Vista na década de 1950
(CNPq), que estuda as mudanças ocorridas em Boa Vista com a sua elevação a capital do Território Federal do Rio Branco, em 1943, quando se inicia um período de reestruração do espaço urbano e de rearranjos nas relações sociais, culturais e políticas. A obra, situada no campo
da “escrita de si”, apresenta uma espécie de mix narrativo, pois mescla autobiografia, crônica
e descrições, mas acima de tudo narra a relação afetiva, de pertencimento e de inserção total
do autor ao lugar. Levando em conta que através do registro das lembranças e das vivências
é possível acessar imagens, representações, fatos e discursos, o livro é uma contribuição para
a abordagem da identidade da cidade de Boa Vista e para a individualização da sua história.
O seu potencial como fonte liga-se à configuração de uma “carga de significados” sobre a cidade narrada, aquela vivida, sentida e sonhada, situada em outro tempo, mas cuja memória
repercute nos dias de hoje.
Palavras-chave: cidade, escrita de si, memória
Tancredo Neves: entre rupturas e continuidades, a construção do mito político no
ensino de história
Cássia R. Louro Palha
Professora Adjunta História /UFSJ.
Daniel Lopes Saraiva
Graduando em História / UFSJ e Bolsistas CAPES/ PIBID
Denis Andrade Almeida
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Graduando em História/UFSJ e Bolsistas CAPES/ PIBID
Raína de Castro Ferreira
Graduando em História/UFSJ e Bolsistas CAPES/ PIBID
Tiago Saraiva de Sabóia
Graduando em História /UFSJ e Bolsistas CAPES/ PIBID
Este artigo tem por objetivo apresentar o trabalho realizado com alunos de uma escola pública na cidade mineira de São João del Rei. O foco principal é compreender os parâmetros
através dos quais foi construída simbolicamente a imagem de Tancredo Neves, tido como
herói nacional e de grande importância na cultura e no imaginário local. No ano em que as
escolas e os espaços de memória da cidade e região comemoram o centenário do nascimento
e os vinte e cinco anos da morte do político, o nosso objetivo é o da análise dos referenciais
simbólicos em torno dos saberes locais e do processo de ressignificação do mundo políticocultural a partir da imagem política de Tancredo Neves, tendo como foco a construção das
narrativas dos alunos e de suas concepções de história.
Palavras-chave: Ensino de história - Imagens políticas - Saberes locais.
“E nunca mais se ouviu o apito do trem naquele
lugar...” - memórias de trabalhadores sobre a
estrada de ferro de nazaré: 1960-1985.
Cristiane Puridade de Melo
Pós-Graduanda Latu Sensu em EAD/UNEB
[email protected]
Ao ser inaugurada em 1875, a Estrada de Ferro de Nazaré (EFN) trouxe os “ares” da modernidade e do progresso e foi vista durante muito tempo como propulsora do desenvolvimento
para a região, onde as cidades começaram a crescer às suas margens. Ao ser desativada, no
início da década de 70 do século passado, por ter sido considerada improdutiva, a EFN ganha
um lugar de destaque no imaginário da população local. Na memória construída pelos moradores há uma ressignificação do prestígio da EFN para o município. No contexto histórico
local as pessoas frequentemente associam o fracasso econômico da região ao término da ferrovia. Este trabalho, portanto, com o auxilio de fontes orais, se propõe a estudar a construção
do imaginário político, social e econômico em Nazaré durante o período de decadência e
após sua extinção.
Palavras Chaves: Memória, Ferrovia e Fontes Orais.
História oral e memória
Daiane Dantas Martins
[email protected]
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Carmélia Silva Miranda
Professora Adjunta- Universidade do Estado da Bahia
[email protected]
Neste trabalho propomos apresentar aspectos da História Oral e suas relações com a memória.
Visamos discutir algumas questões de ordem teórica e metodológica concernentes à utilização da Histórica Oral como fonte, em estudos realizados por nós acerca de comunidades
localizadas no interior do Estado da Bahia. Nestas pesquisas analisamos experiências de
sujeitos históricos, que vieram à tona através do despertar da memória. Assim, conseguimos
recuperar vestígios experienciados que mostraram os costumes, manifestações culturais,
vivências cotidianas, relações de trabalho e compadrio, religiosidade, crenças e solidariedade, em diferentes comunidades localizadas no interior da Bahia.
Palavras-chave: História Oral; Memória; Vivências cotidianas.
Memória e sensibilidade da mulher negra
professora na cidade de palmas – to.
Edineuza da Silva Brandão
[email protected]
Jocyleia Santana dos Santos
Orientadora /UFT.
[email protected]
A pesquisa investigou a mulher negra/ professora e sua trajetória na educação básica como trabalho de conclusão do curso de Pedagogia. Referiu-se ao papel das mulheres negras professoras e dificuldades enfrentadas por estas no ensino fundamental nas escolas públicas da cidade
de palmas. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo uma
vez que não se encontrou publicações sobre a mulher professora negra no contexto regional.
A relevância científica se deu quanto a escolha da temática, do universo da pesquisa e da viabilidade de execução no prazo estabelecido. A metodologia de história oral foi significativa
pela possibilidade de construção de acervos e fontes de pesquisa sobre a sensibilidade e cultura
destas mulheres e conseqüentemente sobre o sistema de ensino de Palmas. Nas considerações
finais destacamos que as professoras mesmo se auto-declarando negras, não perceberam a
dimensão do seu papel social, diante das reivindicações de direitos igualitários e para o desenvolvimento de um trabalho diferenciado junto à diversidade presente na sala de aula.
Palavras- chave: Mulher negra, profissão docente, Palmas, Tocantins.
A cidade de Teresina não poderia ganharpresente melhor no seu aniversário de centenário
Eliane Rodrigues de Morais
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Mestranda em História do Brasil – UFPI
[email protected]
Francisco Alcides do Nascimento
Professor História do Brasil - UFPI - Produtivista do CNPq.
[email protected]
No ano de 1952, na cidade de Teresina, foi comemorado o seu centenário de fundação. Esse
momento provocou, nos intelectuais piauienses, um desejo de homenagear a cidade aniversariante através do esforço da arte narrá-la. O poeta H. Dobal presenteou sua cidade natal,
em gênero de crônica, através da escrita de um “Roteiro Sentimental e Pitoresco de Teresina”.
Nele, Dobal expressa sua sensibilidade atentando para o que acredita que merece ser conservado ou reconstituído na sua paisagem física e social, a partir da rememoração de suas
lembranças. Nesta comunicação trataremos dos modos de percorrer uma cidade que estava
completando um século de fundação, numa época em que estava passando por modificações
para as comemorações da efeméride, com o objetivo de analisar as representações construídas sobre Teresina no “Roteiro Sentimental” de H. Dobal.
Palavras-chave: Centenário, Roteiro, Teresina.
A FOLIA NO ALTAR: as práticas cotidianas da
Festa de Nossa Senhora das Dores em Teresina
[Piauí] na segunda metade do século XX
Francisca Márcia Costa de Souza
Mestranda – PPGHIS – UFPI - CNPq/CAPES/MinC/Programa Pró-Cultura.
[email protected].
A Festa de Nossa Senhora das Dores remonta ao século XIX. No Piauí e em outras partes do
Brasil acontecem as mais variadas manifestações e expressões do sentimento religioso, da
devoção popular. Muitas festas em louvor a santos preservam determinados aspectos e se
transformam em outros: romarias, ex-votos, cânticos, espaços de sua realização, promessas, festas, missas, altares, santinhos, outros caminhantes. A festa de N. S. das Dores é parte
fundamental nas histórias de muitos caminhantes da cidade de Teresina. Em seus relatos,
é possível sentir e olhar através de suas práticas, símbolos, gestos e rituais variadas formas
de comunicação e (re) significações dos espaços da cidade de Teresina. A Festa de N. S. das
Dores, ao longo dos anos, adquiriu novas significações, sentidos e tensões possíveis no interior de uma nova trama da comunidade urbana na qual está inserida. A violência e a (re)
estruturação urbana de Teresina estimularam os habitantes da urbe a repensar suas tradicionais práticas nos interior da comunidade paroquial e, portanto, a Festa. Por outro lado, a comunidade mantem o contato com o sagrado, compartilha aspectos de um sistema simbólico
e ritual, além do aspecto social, pois esses mesmos caminhantes adentram o sistema social
da cidade, da igreja, da economia urbana, na organização da Festa. Assim, a Celebração à N.
S. das Dores é um lugar social, religioso múltiplo, rico, fundamental para se estudar aspectos
rituais, simbólicos do cotidiano, da religiosidade da cidade de Teresina.
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Palavras-chave: Festa de N. S. das Dores; práticas cotidianas; Teresina
Cidade, memória e (res)sentimento
Francisco Alcides do Nascimento
Prof. Associado II do Programa de Pós-Graduação em História do Brasil UFPI.
[email protected]
Esta comunicação reflete sobre Teresina, capital do Estado do Piauí, na década de 1970,
período em que a cidade passou por muitas intervenções que determinaram a transformação da paisagem urbana da capital do Piauí, tendo como principal agente o próprio Estado.
Tais intervenções atraíram pessoas, vindas de pequenas cidades do Piauí e de outros estados, sonhando com oportunidades de trabalho, educação formal, aquisição da casa própria
e atendimento de saúde. Mas ao chegarem à cidade, sem recursos financeiros que possibilitassem a contratação de casa de aluguel, ocuparam áreas consideradas de risco e terrenos
públicos, fatores que, posteriormente, o processo modernizador excludente, determinou a
transferência delas para regiões periféricas da cidade, na oportunidade sem nenhum instrumento básico (água, luz, telefone, transporte público, calçamento). Foram essas transferências e suas implicações para os moradores transferidos que foram tomadas como foco central
deste artigo
Palavras-chave: Cidade. Memória. (Res)sentimentos.
O alcance da memória como
expressão das sensibilidades
Gisafran Nazareno Mota Jucá
Professor Doutor/ UECE
[email protected]
Para captar o sentido revelador das representações, que emolduram o imaginário social, os sinais observados nos remetem ao alcance das sensibilidades, como testemunhas das experiências vividas. Embora as sensibilidades estejam envoltas nas individualidades observadas, o
cenário cultural nos remete à observação das experiências plurais, onde o coletivo se manifesta, mas sempre envolto no aspecto revelador da ação dos agentes individuais. Uma experiência de pesquisa, relativo ao estágio de pós-doutorado, com um projeto apoiado na historia
oral, intitulado “Seminário da Prainha: uma outra Fortaleza”, permite-nos novas perspectivas
de análise sobre a história urbana, além dos limites estabelecidos pela tradição acadêmica. A
memória social, apoiada em lembranças pessoais e as sensibilidades manifestas propiciam a
compreensão de expressões individuais, que se mesclam à memória coletiva.
Palavras-chave: memória e sensibilidades; memória social e representações culturais; memória social e história cultural.
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“A Grande Vontade de Ser”: Memórias
e Sensibilidades de um cowboy sertanejo.
Helder Remigio de Amorim
Pós-Graduando em História /UFRPE
[email protected]
O presente trabalho trata das relações entre memória e sensibilidades, mas pretende percebê-las através do relato oral de memória de José Leite Duarte, mais conhecido como Rock
Lane. Esse personagem que parece ter saído da tela de um cinema, onde trabalhou boa parte
de sua vida, assumiu o cognome do ator de filmes de faroeste norte americano. Além de
transitar por várias temporalidades em seu depoimento, também caminha por gêneros como
tragédia, drama, aventura, romance e em alguns momentos pelo gênero épico. A metodologia, bem como os aportes teóricos utilizados no trabalho ampararam-se nas discussões
sobre história cultural, oralidade, memória, cidades e cinema. Desse modo, nosso objetivo
é entender como José Leite Duarte através de sua relação com o cinema em que trabalhou se
“ausentou” deixando Rock Lane assumir o papel principal na sua vida.
Paco Sanches: armas, poder e memória.
A construção da memória de um adepto do
Partido Republicano gaúcho.
Itamar Ferretto Comarú
UCS
[email protected]
O espaço social não é neutro, mas sim um território onde se manifestam/representam zonas
de conflitos, geralmente por poder ou pelas representações desse poder, o que acaba por selecionar memórias, criar identidades, impetrar costumes locais ou regionais. Paco Sanches
é um personagem histórico, um fato histórico, que representa o poder, os imaginários e a
cultura de parte da região nordeste do Rio Grande do Sul entre o fim do século XIX e início
do século XX, cuja violência não deve ser desconsiderada, por significativa dos caminhos
políticos e sociais de então. Esse artigo problematiza as questões de memória tendo como
objeto o individuo Paco Sanches. Analisa-se sua memória, construída através de fontes orais
e textuais e analisadas por meio da análise de conteúdo de Laurence Bardin, destacando a
complexidade das questões de memória em torno de sua imagem. Os resultados preliminares demonstram uma pluralidade de memórias fragmentadas, mediadas culturalmente e
ideologicamente.
“Horas inteiras passo lembrando”: memória,
história e sensibilidades femininas – Cariri
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Paraibano (1930 a 1950)
Paula Faustino Sampaio
Tutora Virtual/UFPB
[email protected]
Entre os anos 1930 e 1950, a região do Cariri Paraibano, lugar comum a tantos outros do interior do Brasil, estava distante dos projetos modernizadores que marcaram o período nos
principais centros urbanos do país. Mas nem por isso não ficou alheia às transformações.
Neste âmbito, as discussões sobre moral sexual, valores e modos de comportamento para
as mulheres ganhavam novos elementos, muitos deles no esteio das mudanças da educação
escolar no período. Em contraponto, a Igreja Católica e a Justiça precisam reinventar formas
de controles desses comportamentos femininos em tempos de mudança. Neste trabalho,
propomos reconstituir este momento histórico por meio das memórias e sensibilidades de
um grupo de mulheres, hoje com idade superior a setenta anos, moradoras do Cariri Paraibano em sua juventude. A intenção é mostrar, com seus relatos orais de memória, quais
significados elas construíram sobre si e sobre o outro em sua existência comum de moças
que, cotidianamente, tinham de lidar com as curiosidades despertadas pelas notícias de um
mundo novo e exigências sociais da realidade a que estavam submetidas. Para tanto, muito
contribuiu para lidar com a memória dessas mulheres corpus documental formado por correspondência, canções e poesias.
Palavras-chave: memória, história e sensibilidades.
Ação, liberdade, história e memória em
Hannah Arendt e suas relações com a
cultura de memória no mundo contemporâneo
Rebecca Coscarelli Cardoso Bastos
PUCRJ
[email protected]
O Trabalho visa uma reflexão teórica que tem como tema principal os conceitos de ação,
liberdade, história e memória em Hannah Arendt. Para a autora é propriamente a condição
humana da pluralidade que torna de extrema importância o espaço da aparência através da
ação e do discurso na esfera pública [1]. Isto implica um espaço que possibilita o aparecimento do singular, do individual entre seres que biologicamente são iguais, o que, ressalta as características propriamente humanas dos homens. Porém, esta singularidade somente pode
aparecer na medida em que o homem é cercado pela mundanidade, isto é, por um mundo
onde a realidade é feita de coisas e de objetos fabricados pelo homem e que é diferente da
realidade natural. Este mundo humano dá certa segurança em relação a ação e é ele mesmo
que permite uma esfera pública onde questões comuns e não privadas devem ser discutidas e
onde através da ação e do discurso, através das opiniões individuais os homens aparecem em
sua singularidade. Além disso, para Arendt o conceito de ação trás consigo uma imprevisibilidade e uma ilimitação inerentes à condição humana da pluralidade. É justamente porque
os seres humanos em sua singularidade são diferentes que não é possível prever de que forma
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cada homem vai agir e é pelo fato dessa ação se dar em um mundo de relações sociais préexistente que não é possível calcular as conseqüências dessas ações. Sob estas condições, a
história é refletida pela autora como aquela disciplina que através dos historiadores pode
dar certa interpretação das ações, isto é, dos eventos que ocorreram na esfera pública, já que
para os próprios homens que agiram esta interpretação e coerência discursivas são inviáveis,
pelas características da ação mencionadas acima. A história, portanto, funcionaria de certa
maneira como um relato de memória, na medida em que ajuda no não esquecimento e no
encadeamento destas ações que pelo fato de não serem ações condicionadas pelo critério de
meios e fins, devem ter como incentivo a glória, isto é, a imortalidade das ações e dos feitos
de seres humanos mortais em sua condição biológica. Portanto, a história e a memória tornam-se conceitos fundamentais, na medida em que é através delas que os eventos passados
são levados para a posteridade, para as gerações futuras e dão certa garantia e estabilidade
de um mundo especificamente humano onde estas gerações futuras possam continuar exercitando sua liberdade em relação às suas condições biológicas de necessidade e mortalidade
naturais, que é o que têm em comum com todos os outros seres, e que pode se concretizar
em seu aparecimento singular na relação com todos os outros homens na esfera pública, isto
é, política por definição. Vidas incertas: o processo de migração para cidade de Teresina-PI durante a década de 1970
Regianny Lima Monte
Instituto de Ciências e Tecnologia do Piauí - UFPI
[email protected]
Este trabalho é uma reflexão em torno do processo migratório que ocorreu na cidade de
Teresina durante a década de 1970. Temos como finalidade principal analisar os fatores que
influenciaram estes moradores a saírem de seus locais de origem e rumarem para a capital
do estado do Piauí. No percurso deste processo verificamos de que maneira o poder público
atuou no sentido de instigar essas famílias a realizarem o processo migratório, bem como a
própria conjuntura nacional que convergia para que ocorresse um verdadeiro “inchaço” dos
centros urbanos, como foi o caso de Teresina. A análise recai, ainda, sobre as lembranças
que os moradores guardam dessa experiência enquanto migrantes e moradores de Teresina
na década de 1970 e de que maneira avaliam essa experiência. Portanto, estamos lançando
mão da História Oral para nos aproximarmos das trajetórias de alguns desses migrantes, por
considerar a memória de tais atores sociais como de fundamental importância na constituição de trabalhos dessa natureza.
Palavras-Chaves: Migração. Memória. Cidade.
Carris: memórias e sensibilidades
no imaginário urbano porto-alegrense
Renata Cássia Andreoni
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[email protected]
A Cia. Carris Porto-Alegrense é a empresa de transporte coletivo mais antiga do país em atividade, fundada em 1872. Sua história mantém uma relação simbiótica com a cidade, desde os
antigos bondes à tração animal, passando pelos elétricos, até os modernos ônibus. Por meio
de uma metodologia de história oral pretendemos, através dos depoimentos de seus antigos
e atuais colaboradores, bem como de seus usuários, reunir as representações sobre sua trajetória centenária na Capital. A evocação de memórias individuais e coletivas, despertando
vivências e sensibilidades, constitui um sentimento de pertença nos porto-alegrenses em
relação a essa empresa, tornando-a um patrimônio citadino.
Palavras-Chave: Memória – História Oral – Carris Porto-Alegrense.
Memória, Escola Noturna e Trabalho
Roney Gusmão do Carmo
Mestrando – UESB.
[email protected]
Ana Elisabeth Santos Alves
Professora Doutora UESB (orientadora)
[email protected]
Observa-se uma próxima relação entre o Ensino Noturno e o mundo do trabalho. Pressupomos que tal proximidade se configura como alternativa única para que os membros da classe
trabalhadora mantenham acesso ao espaço escolar. Diante disso, vislumbra-se uma busca
frequente do trabalhador pela escola, movido pela tênue expectativa de que ela forneceria
subsídios necessários capazes de munir o indivíduo na ascensão profissional, papel este não
assumido pela educação escolar. A hipótese de trabalho que norteia esta pesquisa é que o
trabalhador insiste na escola por que herda uma memória na qual situa esta instituição dentro de uma pedagogia tecnicista. Para fundamentar esta análise, aprecia-se o que Michael
Pollak (1992) chama de “memória por tabela”, ou seja, a memória, que através das relações
sociais, é transferida, de modo que muitas gerações, embora não tenham vivenciado diversos
dos fatos precedentes, herdam representações e conceitos formulados em outros contextos
históricos.
Palavras-chave: Memória, Escola, Trabalho.
As relações de consumo no MoMA:
o melhor de viajar é ter viajado
Sanântana Paiva Vicencio
Mestranda em Arte/UnB
[email protected]
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O presente artigo pretende investigar dados acerca dos tipos de souvenirs vendidos na loja
do Museum of Modern Art (MoMa) em Nova York (E.U.A), assim como características dos
consumidores que compram esses produtos. A pesquisa se realizou em caráter informal
onde eu estava na condição de turista na cidade de Nova York. Ou seja, este artigo aponta os
resultados obtidos com as entrevistas e os discute relacionando-os com os seguintes temas:
autenticidade, consumismo, turismo, liminaridade e arte. Para isso dialogo com os seguintes
autores: Nelson Graburn, Marc Augé e Braudillard, entre outros. Os dados obtidos com a
pesquisa são muito mais qualitativos do que quantitativos, pois se trata de um país onde o
consumo é quase que um dogma imposto na e pela a sociedade, a rapidez com que as compras acontecem não deixava muito espaço para perguntas e respostas.
Palavras-chave: Turismo – Arte – Consumo
O jogo da diferença na obra o tetraneto del-rei
de Haroldo Maranhão
Thais do Socorro Pereira Pompeu
Mestranda em estudos literários - UFPA. Bolsista da Capes.
[email protected]
A comunicação objetiva fazer uma análise da obra O Tetraneto Del-Rei do autor paraense
Haroldo Maranhão priorizando a diferença que a mesma estabelece em relação aos primórdios de nossa colonização. O romance inserido em um contexto pós década de 50, do século
XX, se constrói a partir de um processo intertextual complexo, em que transitam outras
escrituras literárias, sobretudo ao processo de descobrimento das terras brasileiras. Assim
a obra possui uma grande importância no contexto de nossa literatura, já que reproduz um
diálogo aberto com as transformações do romance moderno brasileiro além de demonstrar
o processo de amalgamento das culturas formadoras de nossa nação por suas motivações
ventrais de baixo para cima. O romance inverte e difere pela ficção e pela paródia os sentidos
de nossa colonização. A obra O Tetraneto Del-rei ainda possui poucos estudos ou raros no
que tange esse recorte critico comparativo de nossa história oficial.
Palavras-chave: Literatura comparada; Literatura da Amazônia; Diferença.
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ST 25
Interartes – paisagens urbanas, memória e etho
A cidade existe?
André Assunção
Mestrando/UFRJ
[email protected]
Este artigo tem como objetivo central construir argumentos que nos distanciem de pensar
a cidade como um objeto natural. Procuraremos discutir por quais vias a cidade, essa “objetivação” absolutamente datada, se torna algo cheio de sentido para seus habitantes. Na
trajetória ainda será enfatizada a importância da abordagem a partir das práticas, que é por
onde nascem as objetivações, para a reflexão das atribuições de valor ao espaço urbano.
Palavras-chave: cidade; objeto natural; objetivação; prática.
Ritmos plásticos: os bailados de Eros Volúsia e os
desenhos de Rugendas e Debret.
Andréa Casa Nova Maia
UFRJ
[email protected]
Ana Paula Brito Santiago (co-autora)
UFRJ
[email protected]
Em artigo publicado no Suplemento em rotogravura do Jornal Estado de São Paulo de setembro de 1939, Mário de Andrade faz uma crítica ao trabalho de Eros Volúsia, então considerada a criadora do “bailado nacional”. No texto, ele compara os movimentos coreográficos
da bailarina com os desenhos de Rugendas e Debret. A partir deste diálogo proposto por
Mário de Andrade, vamos friccionar as obras, analisar os possíveis cruzamentos entre planos
artísticos e temporais distintos. Através de algumas aquarelas de Debret e Rugendas e de
fotografias de Eros Volúsia no palco, mapearemos seus respectivos trajetos de apropriação
das manifestações populares dentro do território brasileiro; seus respectivos ethos artístico.
Perceber como se constitui este “olhar de fora”, olhar estrangeiro, que ressignifica as culturas
populares brasileiras em suas linguagens –performance do corpo em movimento e em linhas, traços e cores.
Palavras-chave: Cultura brasileira; ethos artístico; dança; Eros Volúsia.
A maçonaria: mitologias, tradições e simbolismo
na modernidade.
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Anizio Antonio Pirozi
Mestrando em Sociologia/UENF
[email protected]
A proposta deste trabalho é analisar os discursos e os interesses de indivíduos que se filiam a
uma sociedade iniciática: a Maçonaria. Para isso, é necessário conhecermos seus princípios,
símbolos, conceitos e sua evolução da Maçonaria, segundo o seu próprio discurso, é uma organização formadora de indivíduos esclarecidos e dotados de virtudes. Percebe-se que, dado
ao seu caráter secreto, a Maçonaria é vista pela maioria das pessoas de forma limitada, pois
não podendo ou não sabendo interpretar os conceitos maçônicos, muitos estereotípicos e
lendas ganham dimensões conspiratórias e pouco compreensivas a respeito deste grupo.
A partir de todas essas considerações norteia-se o presente estudo pelo seguinte problema:
Por qual motivo os homens ainda hoje se filiam nesta sociabilidade? Este estudo visa compreender tradições e costumes culturais que conectam esta antiga organização com o presente, com a intenção de proporcionar uma chave para entendermos sua atuação na sociedade contemporânea.
Palavras chave: Maçonaria, Sociabilidade, Modernidade.
Do camponês ao flâneur: uma breve
análise histórico-literária de Guimarães
Rosa e Walter Benjamin
Denise Pirani
Professor Adjunto/PUCMG
[email protected]
Esse trabalho tem como objetivo fazer uma análise das paisagens e seus personagens sócioculturais nas obras literárias de Guimarães Rosa e Walter Benjamim. Apesar de ambos os
autores apresentarem particularidades muito distintas - o campo e a metrópole, o arcaico e o
moderno, o rústico e o civilizado – eles possuem uma característica comum a ser explorada: o
viajante. Cada autor possui contextos históricos e personagens sociais bem específicos, mas
ambos exploram um aspecto essencialmente humano: o nomandismo. De forma que, nesse
trabalho serão privilegiadas duas obras principais: Sagarana, de Guimarães Rosa e Paris:
capital do século XIX, de Walter Benjamin
Traços modernos da cidade: um estudo sobre
as representações da paisagem urbana de Florianópolis através de imagens artísticas.
Elizabeth Ghedin Kammers
Mestranda em História /UFSC
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Esse projeto pretende orientar uma pesquisa focada em representações da cidade de Florianópolis, sendo essas, imagens artísticas produzidas principalmente entre as décadas de
1950 e 1980. Dentro desse recorte temporal temos um período de intensas mudanças no visual da cidade e, nesse sentido, visamos promover uma reflexão acerca da construção de sua
paisagem urbana. Baseando essas análises estão imagens representativas desses momentos
de transformações, contribuições pictóricas de artistas locais como Martinho de Haro e Hassis, personagens que dotaram de significado aquilo que lhes servia de inspiração, contribuindo para a revelação e fixação de outra imagem da cidade. Por fim, estaremos enriquecendo
e valorizando o universo das artes pictóricas regionais e desenvolvendo outras formas de
pensar as artes e a cidade.
Palavras-chave: cidade, paisagem, artes visuais
O espaço como autoria: a moderna cidade do
natal na escrita da história cascudiana
Francisco Firmino Sales Neto
Doutorando -PPGHIS/UFRJ
[email protected]
Entre 1946 e 1950, a cidade do Natal passou por um importante processo de modernização,
sob os auspícios do prefeito Sylvio Pedroza. Inspirado na modernização ocorrida nos anos de
1920, a municipalidade natalense se propôs a empreender um salto em direção ao progresso
material da cidade. Não descuidando dos aspectos simbólicos desta reforma, o prefeito nomeou o escritor Câmara Cascudo como historiador oficial da cidade do Natal e fez dele o
responsável por fornecer as linhas de entendimento a partir das quais a população local vivenciaria as alterações urbanas. Por meio de crônicas em jornais e de livros, Cascudo fez uso
da escrita da história para mostrar como o processo de modernização era necessário à cidade
e, desse modo, sensibilizou a população a recebê-la – e aproveitá-la – de bom grado. Diante
disso, este trabalho se propõe a examinar o processo da modernização da cidade do Natal na
década de 1940 sob o viés da sensibilidade, analisando as paisagens construídas pelo texto
cascudiano e recebidas pelos natalenses.
Palavras-chave: cidade do Natal, Câmara Cascudo e escrita da história.
Intervenções urbanas – o organismo “RHR”
e Laura Lima: a artista como propositora
Gianne Chagastelles
Professora - UNESA/RJ.
[email protected]
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O artigo trata da instância “RhR” Representativo-hífen-Representativo criada pela artista
brasileira contemporânea Laura Lima, nos anos 90. A artista prefere denominar instâncias,
em vez de séries, a divisão de seus trabalhos, pois, segundo Laura, série lembra sequenciamento, algo feito em grande escala e segundo um mesmo padrão, lembrando algo industrializado, enquanto instância remete a instâncias de pensamento, ao conjunto de atos de um
processo. Cada instância é constituída por um conjunto de ideias que possuem semelhanças
entre as imagens. Na instância RhR, Laura trabalha com a produção de um corpo coletivo,
que se reinventa continuamente na paisagem urbana. Portanto, pretendo discutir o ambiente da arte e de existência do homem em seu cotidiano e as possibilidades de utilização das
inumeráveis produções imagéticas resultantes desse vivido como fontes para a escrita da
História social da cultura contemporânea. Busco ainda refletir sobre a problemática da visualidade. Analisarei as formas de controle do espaço e do corpo do sujeito na nova urbe, bem
como as estratégias de resistência através da busca do anonimato e das formas singulares de
apropriação do espaço.
Sociologia Pedestre: uma leitura de João
do Rio com filtro simmeliano
Goshai Daian Loureiro
Mestrando em História Social /PUCRJ.
[email protected]
Faz sentido, afinal, comparar João do Rio e Georg Simmel? É possível, ou antes, desejável
interpretar filosoficamente/sociologicamente um texto de ficção? A questão só se coloca se
tomamos filosofia, sociologia, história e literatura como campos distintos e institucionalizados, algo que apenas começava a se delinear no Brasil no início do século XX. Cumpre,
portanto, pensar estes saberes enquanto práticas significantes, que compartilham um mesmo horizonte epistemológico de desconfiança sobre o senso comum. Sob essa perspectiva é
possível a escrita de Paulo Barreto capta um conjunto de relações presentes na rua e mostra
como elas se autonomizam em relação ao ser humano, passando a incidir sobre ele, qualificando os tipos que ali transitam e diferenciando os espaços no interior da cidade. Neste
sentido, há nas crônicas de João do Rio uma intuição sociológica, paralela à que vinha sendo
simultaneamente inaugurada por Georg Simmel no âmbito da sociologia, no sentido de interpelar as conseqüências da modernidade no espaço social urbano, em especial o da grande
metrópole.
Palavras-Chave: João do Rio, Crônica, Sociologia
Ver, sentir, e viver a urbe: memórias,
práticas culturais e sensibilidades
da cidade de Garanhuns – Pe
José Eudes Alves Belo
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
UFPE
[email protected]
Pensar a cidade a partir da produção de suas sensibilidades e múltiplas linguagens e travessias. Eis a proposta deste trabalho que busca compreender as múltiplas relações que configuram as paisagens, sociais, visuais e culturais da cidade de Garanhuns – PE. O trabalho
utiliza como fontes, jornais que circularam na cidade, depoimentos de antigos moradores,
e fotografias da época. O cruzamento destas fontes (re)velam a paisagem em travessia de
uma cidade em suas múltiplas formas de (com)vivências, modos de ver, ler, sentir a cidade.
A paisagem da urbe se delineia a partir representações de seus discursos, produzidas por
práticas híbridas que ajudam a ler a paisagem urbana sob um ângulo sensível de personagens
e vestígios que mostram sua sedução, seus encantos, suas inquietudes, suas provocações. A
urbe surge em suas representações enquanto “Suíça Pernambucana”, “cidade do clima maravilhoso”, “cidade da educação”, compreender a constituição destes discursos de cidade vigiada, bem como tentar vê-los a partir de sua violação, orienta as análises deste trabalho que
ora desenvolvo. Guiado pela ideia de Certeau de espaço como lugar praticado, tento compreender práticas a partir de coisas miúdas, onde a paisagem vai sendo (re)velada aos nossos
sentidos por nossas sensibilidades.
A biblioteca pública: espaço de
leitura e de leitores
Keila Matida de Melo Costa,
Doutoranda e Professora - FE/UFG,
[email protected]
Este estudo tem como objetivo expor e discutir um projeto que visa analisar não apenas as
políticas públicas destinadas à constituição dos espaços formais de leitura, como as bibliotecas públicas, mas também apontar por meio da história de uma biblioteca municipal
- Biblioteca Municipal Zeca Batista - a vinculação da constituição desse espaço com o desenvolvido do município de Anápolis – Goiás. O tempo de delimitação desta pesquisa é de 1950,
época de comemoração do Cinquentenário de Anápolis, até 2007, ano de comemoração do
Centenário desse município. Aspectos simbólicos do passado são, para isso, constituídos e
reconstituídos tendo em vista uma projeção de uma sociedade “moderna” e “civilizada”. Sustentada teoricamente pela História Cultural, tal proposta abrange, enquanto procedimento
metodológico, o estudo bibliográfico, a análise de fontes históricas, como documentos oficiais (leis, portarias, resoluções, decretos, manuais de funcionamento etc.) e a história oral.
A relação da cidade com a Feira Livre Central;
práticas em Campo Grande, MS
Lenita Maria Rodrigues Calado
UFGD
[email protected]
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
Esse texto faz parte das reflexões feitas no desenvolvimento da pesquisa sobre a cidade de
Campo Grande, MS e sua Feira Livre Central. Como analisou Michel de Certeau, a cidade é
um lugar de práticas que delineiam espaços, ou seja, espaços construídos pelas vivências. As
entrevistas realizadas colocaram as memórias e as práticas à vista, assim como também, um
ideal de cidade existente no imaginário dos habitantes. Uma cidade que se inventa com valores tradicionais e se propõe “moderna”, tendo a Feira como evento representativo de muitas
transformações ocorridas no período de 1974 a 2004, culminando com a fixação da Feira num
espaço construído para seu funcionamento, retirando-a das ruas centrais da cidade.
A Criação de Paisagens Turísticas no
Extremo Oeste do Paraná
Mauro Cezar Vaz de Camargo Junior
Mestrando /UDESC
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Este trabalho tem como objetivo debater as relações construídas pelo turismo nas cidades
existentes nas margens do Lago da represa de Itaipu, este ultimo um dos principais motivos para o desenvolvimento de tal atividade, em 1983 quando foi fechada a barragem da
hidroelétrica binacional, a região foi alagada, tendo uma grande área de terra agricultável
submersa, e desde então o turismo se apresenta como uma forma alternativa de renda para
os municípios da região. O turismo que é uma atividade socioeconômica que tem na vendagem de paisagens seu principal mote, necessita da construção e divulgação de “pontos turísticos” empreendimento que modificam física e discursivamente estas cidades, aqui pretendo
analisar alguns destes impactos, como na organização urbana e no discurso presente no
material de divulgação
A memória dos lugares praticados e
seus subterrâneos: Palmas – TO.
Patrícia Orfila Barros dos Reis
UFRJ /UFTO
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O presente trabalho tem a cidade como objeto de estudo da história, com interdisciplinaridade nas áreas da arquitetura e do urbanismo. Palmas é a cidade tomada como objeto
de reflexão, a mais nova “capital planejada” brasileira, tendo sido inaugurada em 1990 para
ser capital do recém criado Estado do Tocantins. Este artigo abordará o cotidiano do sujeito, dentro de uma análise contemporânea de Palmas; bem como a apropriação do espaço
e a experimentação da cidade nova. Tratará das apropriações e ressignificações plurais dos
símbolos e emblemas arquiteturais pelo caminhante, sujeito, pessoa comum de Palmas, a
partir de um apanhado metodológico baseado na história oral, movimentando este espaço
de vivências com os diálogos desses personagens.
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Palavras-chave: Memória, Palmas, Arquitetura.
Certa mítica do Corcovado: o assassino Febrônio
Índio do Brasil e o Cristo Redentor (1926-7)
Pedro Felipe Marques Gomes Ferrari
Bolsista do CNPq e Doutorando/ PPGHIS-UnB
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Febrônio Índio do Brasil, ao ser acusado por vários homícidos em 1927, justificara-se alegando sacrificar crianças em nome do Deus-Vivo que diz testificar em seu livro As Revelações do
Príncipe do Fogo, publicado no ano anterior. Nele, reapropria e ressignifica a cidade do Rio
de Janeiro tornando-a mítica. Em fevereiro, sendo surpreendido nu e portando uma espada
pela polícia nas matas do Corcovado, diz estar esperando Lúcifer para um duelo. O morro
torna-se, segundo sua representação, um espaço místico. A presente pesquisa envereda no
sentido de contrapor seu livro a outras fontes que, àquela época de primórdios da construção
do Cristo Redentor, comparavam tal formação rochosa a montes bíblicos. Perceber, enfim,
a ressignificação que Febrônio arquiteta das subjetividades do espaço urbano e sua monumentalidade. Tomando-o enquanto indício de uma pluralidade generativa, notar filiações e
sentidos para além de suas próprias linhas.
Presentes em andamento: A edificação da
Estação Central do Brasil em Belo Horizonte e sua
relação com a história, patrimônio e memória
Rita Lages Rodrigues
UFMG/FUMEC
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Os diversos sentidos atribuídos pelos indivíduos às paisagens urbanas e às edificações pertencem ao presente, mas relacionam-se ao passado, a memórias compartilhadas pelos seres
humanos. Existem sentidos atribuídos no momento em que foram construídos e sentidos
atribuídos pelos diversos presentes que existiram ao longo da existência destas construções. O
objeto de análise desta comunicação será a presença de uma obra de autoria do arquiteto italiano Luiz Olivieri na cidade de Belo Horizonte, a edificação Estação Central do Brasil, situada
no centro da cidade de Belo Horizonte. Esta obra reflete um ethos do momento em que foi
concebida, mas também reflete o tempo transcorrido desde o momento inicial de sua criação.
Ao se analisar historicamente um determinado bem, deve-se fazê-lo sob a luz dos diversos
momentos históricos, presentes em andamento, como diria o historiador Bernard Lepetit. Os
sentidos atribuídos a esta edificação foram modificados e hoje ela transformou-se em museu,
utilizada para abrigar coleção de objetos relacionados a artes e ofícios do passado. O prédio
que abriga o Museu de Artes e Ofícios possui múltiplos significados, relativos ao presente e
aos passados da cidade, que deveriam ser levados em consideração ao se transformar a edifi-
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cação em monumento. No entanto, a monumentalização da obra não significou a guarda da
memória de diversos tempos e, sim, o esvaziamento destes inúmeros significados.
Modernidade em desalinho: Raul Pederneiras e
as representações caricaturais da vida urbana
carioca na Revista da Semana
Rogério Souza Silva
Professor licenciado /UNEB – Doutorando /PUCSP
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Esta comunicação pretende discutir a produção caricatural de Raul Pederneiras na Revista
da Semana, onde atuou em grande parte de sua vida profissional. O artista teve como uma
de suas preocupações os impactos do modelo de modernização que era adotado pelas elites
brasileiras e que tinha o espaço urbano do Rio de Janeiro como um de seus cenários principais. Em suas criações ele observava as contradições entre uma modernidade desejada e a
sua aplicação diante da realidade do país. Raul tem como uma de suas características a utilização de uma linguagem onde os trocadilhos são empregados nas legendas e nos desenhos.
Além de caricaturas, o autor produziu poemas, um dicionário de giras e conferências sobre
humor onde a sincronia entre as imagens e as palavras estava presentes.
Palavras-Chave: caricatura, modernidade, urbano.
Trilhas e atalhos da coluna prestes no
semiárido do nordeste brasileiro
Rubia Micheline Moreira Cavalcanti
Professora Adjunta - URCA.
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Partindo de um paradigma epistemológico que dialoga com a História Ambiental, vertente
historiográfica que busca interrelacionar os homens, as naturezas e as sociedades, buscamos
compreender as experiências construídas pelos integrantes da Coluna Prestes ao percorrer
vinte e quatro mil quilômetros Brasil adentro. Intentamos, assim, investigar a natureza das
representações dos homens e do mundo natural construídas ao longo da jornada da Coluna
Prestes pelos biomas e biotas do semiárido do Nordeste Brasileiro, e registradas nos relatos
de viagem que relacionavam paisagem, cultura e memória. Espera-se, portanto, articular
e compreender a pluralidade e ambigüidade de representações que tiveram os integrantes
da Coluna Prestes, que lhes permitiram construir um imaginário sobre as características
naturais dessa região face às dificuldades encontradas pelos mesmos quando da sua permanência no Nordeste.
Palavras-chaves: História Ambiental; Coluna Prestes; Biomas de Semiárido
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Ilha de Santa Catarina: o olhar dos navegantes
estrangeiros no século XVIII.
Sergio Luiz Ferreira
Doutor em História Cultural/UFSC
Professor /Centro Universitário Municipal de São José.
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Existem poucos relatos sobre o século XVIII na Ilha de Santa Catarina. Há alguns relatórios
oficiais dos governadores da capitania e os relatos dos navegantes estrangeiros. Como os
relatórios oficiais não costumam se ocupar da vida cotidiana dos habitantes, o que chegou
até nós sobre esta dimensão da vida dos moradores da Ilha de Santa Catarina foram as impressões dos viajantes estrangeiros que, de modo geral, estavam interessados em impressionar seus leitores europeus. O que percebemos é que eles liam os relatos de seus antecessores,
de modo que costumavam sempre repetir o que os viajantes anteriores tinham escrito, sobretudo sobre o passado da ilha do qual nenhum deles fora testemunha. A imagem de paraíso perdido também é recorrente na descrição da ilha feita pela maioria dos viajantes. Costumam caracterizar os habitantes como sem ambição e desprovidos de ganância. A desinibição
das mulheres também é tema recorrente entre os viajantes. Elas não só participavam dos
banquetes oferecidos aos estrangeiros como tomavam parte nas danças. De qualquer modo,
muitos dos preconceitos explicitados pelos navegantes estrangeiros sobre a Ilha de Santa
Catarina permaneceram na historiografia e continuam a ser repetidos pelos desavisados.
Esta comunicação pretende discutir a função da publicação destes relatos na Europa e o
desejo de seus escritores de “venderem” uma imagem estabelecida.
Brasília 50 anos: (re) sentir a fundação
Silvana Seabra
Professora/ PUCMG
[email protected]
As comemorações são momentos privilegiados para o repensar das fundações. Este trabalho
pretende ir além das discussões sobre os ideários modernistas que ensejaram a construção
de Brasília e pensar a questão das sensibilidades alocadas nas cidades. No caso de Brasília, o
desenvolvimentismo se aloca numa formação sensível que podemos qualificar como de eufórica e com uma temporalidade onde o passado é anulado e o passado só existe como superação. Contudo, toda essa formação sensível é (re)sentida em função de sua origem pulsional
que se liga às questões da identidade nacional.
História e Imagens: Pedagogia social
e moralizante em Hieronymus Bosch
Tiago Varges da Silva
UFG
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O presente trabalho se propõe a discutir aspectos inerentes ao imaginário social cristão no
que se refere às imagens pintadas por Hieronymus Bosch (1450-1516). Neste tempo transitório entre o medievo e a renascença teve início uma intensa preocupação com o pecado e
suas consequências após a morte. Esse temor foi representado através de imagens, que registraram o imaginário social acerca dos medos do Inferno e do encantamento com o Paraíso.
A obra bosquiana é aqui compreendida como elemento pedagógico e moralizante que exorta uma sociedade pecadora a viver uma vida de penitência e fuga constante de um mundo
ameaçador dominado pelos sete pecados. Palavras chave: Hieronymus Bosch, Imagem e Pedagogia Moralizante.
As contradições da paisagem amazônica
e sua representação na literatura
Viviane Dantas Moraes
Mestranda – UFPA /bolsista CAPES - CNPQ.
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As diferentes nuances que a paisagem da Amazônia apresentam chegam a ser contraditórias
dependendo do ponto de vista. As visões do estrangeiro e do caboclo nativo da região em
relação a sua exuberância são controvertidas. A construção e desconstrução dessa paisagem
se fazem de acordo com as expectativas e o olhar de cada um mediante seus valores e preconceitos, a partir da estrutura simbólica que a paisagem lhes oferece. Na literatura, sobretudo
na paraense, a representação da paisagem amazônica e sua relação com o homem é uma
constante. Na maioria das vezes, a paisagem não é tratada apenas como cenário na narrativa,
pois sua significação e influência no decorrer da história fazem com que se torne, muitas
vezes, o elemento condutor das ações dos personagens. Quando isso acontece, a relação
dos personagens com a paisagem gira em torno de uma expectativa que, de acordo com o
sociólogo francês Pierre Bourdieu, se baseia na relação de construção e desconstrução dos
elementos a partir do campo simbólico que a paisagem oferece. As estruturas simbólicas são
essenciais na leitura de mundo e cada agente, ou seja, cada personagem, no caso da literatura, dá sentido a esses símbolos a partir da referência que cada um tem. Com base na teoria do
“Campo Simbólico” de Bourdieu, este trabalho irá abordar como se constroem as diferentes
paisagens, na obra literária, pelo narrador e pelos personagens, que variam desde a idealização (construção) ao pesadelo (desconstrução) em que esta paisagem se transforma. A partir
das obras dos autores paraenses Dalcídio Jurandir, Osvaldo Orico e Inglês de Souza veremos
de que forma esses olhares sobre a paisagem se encontram e se desencontram.
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