ADOLESCÊNCIA - MOMENTO DE RECONSTRUIR A RELAÇÃO (Ana Emília Rosa Campos - Psicóloga) Quando nosso filho nasce, não sabemos nada sobre ele e sobre nós. A partir daí, precisamos construir nossa relação com ele. Na infância, tudo corre de forma lenta e gradual, temos de ir nos acostumando. É um projeto em longo prazo, feito com muitas adaptações e ajustes. Aos 9, 10, 11 anos, nosso filho começa a se modificar, e nos vemos diante de uma outra pessoa, e não mais daquele que conhecíamos tão bem. Só que agora, tudo acontece de forma brusca e rápida. Chegou a adolescência! A maioria dos pais se sente bastante embaraçado nessa fase de desenvolvimento dos filhos, e muitas famílias entram em verdadeiras crises. Além dos pais terem que lidar com as próprias lembranças, com suas experiências pessoais, ainda tem que enfrentar essa situação nova. É como se a partir de agora convivêssemos com um filho diferente, estranho a nós. Da mesma forma que os adolescentes passam por várias transformações, os pais também passam. a relação que havia sido estabelecida com o filho na infância não serve mais. É um momento de reconstrução, tudo o que foi construído precisa ser revisado, modificado; os pais estão diante de mais um processo de aprendizagem. Aprender a conviver com o filho adolescente. De todas as fases de desenvolvimento, adolescência é o período que suscita mais dúvidas nos pais sobre como agir. É um período cheio de questionamentos e instabilidades, que se caracteriza por uma intensa busca de si mesmo e da própria identidade. Os pais precisam ser capazes de se adaptarem as rápidas mudanças que os filhos estão passando e já não se tem tanto tempo como se tinha na infância. A relação entre pais e filhos adolescentes, depende basicamente da habilidade que os pais tenham em se adaptar a esse período de transição e amadurecimento. A vida familiar desorganiza-se, podendo muitas vezes acabar em verdadeiro caos. As regras familiares constituídas durante a infância já não servem mais e precisam ser reconstruídas. Diferentemente da criança, o adolescente não obedece cegamente às regras. Para aceitá-las e respeitá-las é preciso que ele próprio ajude a formulá-las, e principalmente entenda suas razões. É muito importante dividir com ele a responsabilidade de uma boa política familiar. Aquela criança que via os pais como verdadeiros heróis, sem questionar muito, que sempre obedeciam, não é mais a mesma. O adolescente questiona para poder escolher o que quer, que nem sempre é o mesmo que os pais querem. é natural, nesse período, eles deixarem de aceitar as posições políticas e religiosas dos pais. e é difícil para os pais aceitarem algumas opções dos filhos. O adolescente está buscando sua identidade, sua independência. Quer decidir sobre sua própria vida e poder questionar "as certezas" dos adultos, em vez de aceitá-las. A vivacidade e a intensidade do novo que o adolescente vive, incomoda os pais, pois nem sempre é agradável ser questionado quanto a nossas escolhas, valores e principalmente razão de ser. A rebeldia decorre daí, e faz parte do desenvolvimento normal. É o primeiro movimento em direção à independência. Os pais precisam permitir aos filhos escolherem e serem responsáveis por suas escolhas, Muitas vezes é preciso deixar o adolescente fazer da maneira dele para que possa descobrir qual é a melhor maneira. Frente a isso, os pais precisam ser tolerantes, o que não quer dizer, admitir tudo. O adolescente como as crianças precisam de limites. E se sentirão mais seguros quando sabem até onde podem ir. Os pais sentem que perderam o controle sobre o filho, e para a maioria, essa perda é bastante dolorosa. Há pais que se ressentem muito com a separação do filho adolescente, muitas vezes pelo motivo de ter feito do filho o centro de sua existência. Eles já não passam tanto tempo ao lado dos pais e já podem sair sozinhos. A influência que os pais exerciam em suas vidas vai diminuindo. Para a grande maioria dos pais é difícil aceitar que seu filho tem uma vida privada da qual não faz mais parte; que freqüenta lugares que os pais não tem acesso. Muitos dos planos e do que está acontecendo com eles, os filhos não dizem mais. Uma das maiores queixas dos adolescentes é a de que não são ouvidos pelos pais. O adolescente precisa falar o que sente, e sentir que o que fala interessa a você. Só ouvindo, os pais poderão entender o seu ponto de vista e suas dificuldades. É preciso tempo e disponibilidade para sentar e conversar sobre seus problemas e dificuldades. Ouvir com atenção é uma das ferramentas mais eficientes que você dispõe para entender o que seu filho sente, porque sente e como sente. Está sempre muito absorvido pelos seus interesses, por isso nunca subestime o que ele sente, e se interesse verdadeiramente pelo que ele está passando. O que geralmente acontece é que os pais monopolizam as conversas, que quase sempre assumem um tom moralizador. Sermão deteriora a comunicação e com o adolescente é a pior forma de se comunicar. Quando seu filho é ouvido há muito mais probabilidade de que ele venha a lhe ouvir. Deixá-lo falar é importante, mesmo que depois você coloque sua opinião. Outro ponto importante é a influência do grupo de amigos. O adolescente deixa de ser centrado na família e passa a se centrar no grupo de amigos. Os amigos passam a exercer um papel cada vez maior em suas vidas. Os amigos são fontes de vital importância nesse período para alcançarem a independência. Muitos pais ficam ressentidos por serem colocados em segundo plano. e também têm muita dificuldade em lidar com a importância exagerada que o adolescente dá à aparência. A auto-estima do adolescente depende muito dos amigos. Aparência nessa fase é fundamental, por isso, “andar na moda” para ele é imprescindível. Escolher o que vestir para impressionar e obter a aprovação dos amigos é fundamental. Nem sempre os pais entendem a necessidade do filho de comprar tal e tal roupa daquela marca. Além do grupo de amigos, temos também a questão da liberdade. Enquanto criança é fácil os pais "segurarem as rédeas". Já com o adolescente, não possuem mais um controle significativo. Enquanto a criança depende totalmente dos pais para sair o adolescente não precisa mais. Muitos pais se interrogam qual o limite e quando se deve começar a dar a liberdade que os adolescentes tanto almejam. Vale ressaltar que o desenvolvimento emocional não necessariamente acompanha o desenvolvimento físico e que nem sempre o adolescente será capaz de comportar-se como "gente grande". Deve-se levar em conta a maturidade do adolescente para decidir qual o grau de liberdade que ele vai ter. O dever dos pais é estimular seus filhos a crescerem. E nesse momento de dar maior responsabilidade aos filhos sobre suas próprias vidas, é um momento de mudanças também para os pais. Com todas essas mudanças radicais sofridas na relação entre pais e filhos adolescentes, é sempre bom lembrar que esse período é apenas uma passagem. E que quando passar, a relação que muitas vezes era difícil, tornará a ficar normal, que apesar de todas as dificuldades, os pais devem sempre estimular seus filhos a crescerem integralmente.