Anais da X Semana de Estudos Florestais e I Seminário de Atualização Florestal
Comparação da produção de pinhões entre Araucaria
angustifolia (Bert.) O. Kuntze plantada e natural
Flavio A. F. do Nascimento, Enrique Orellana, Afonso Figueiredo Filho, Mario Takao Inoue e
Andrea Nogueira Dias
Curso de Mestrado em Ciências Florestais da UNICENTRO
Rodovia PR 153, Km 7, bairro Riozinho, 84500-000, Irati-PR, [email protected]
RESUMO
O objetivo do trabalho foi comparar a produção de pinhões entre duas populações de Araucaria
angustifolia, plantada, com idade de 59 e 65 anos, e natural, localizada na Floresta Nacional de IRATI-PR.
Os dados coletados são provenientes de dois experimentos com 25 e 10 hectares na floresta natural e
plantada, respectivamente. Foram amostrados 27 pinheiros do sexo feminino na floresta nativa e 26 na
floresta plantada. Nestes, contou-se o número total de estróbilos femininos (pinhas) da safra e realizou-se a
coleta de aproximadamente 3 estróbilos femininos por árvores. As pinhas coletadas foram levadas ao
laboratório sendo que para cada uma mediu-se o peso (g), diâmetro, número de pinhões e peso dos pinhões
(g). Observou-se que a produção por árvore foi maior na floresta nativa. Devido a freqüência, a produção de
sementes por hectare foi maior na floresta plantada.
Introdução
O pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia (Bert.) O.Ktze.) é uma planta dióica e na
região sul do Brasil, a polinização acontece entre os meses de agosto e outubro. O vento transporta
o pólen da flor masculina (mingote) até a flor feminina (pinha). As sementes desenvolvem-se a
partir de óvulos nus, sem a presença de ovários, característica que classifica esta espécie como
gimnosperma (GAMA, 2006). O estróbilo do pinheiro-brasileiro é constituído exclusivamente por
folhas hipobaras, férteis em pequena proporção, estéreis em sua grande maioria (HERTEL, 1976).
A araucária produz anualmente cerca de 40 pinhas, chegando a atingir 200 pinhas por planta.
Quando plantada, árvores isoladas iniciam a produção de pinhões entre 10 e 15 anos; porém em
povoamentos, a produção dá-se a partir de 20 anos. A maturação da pinha se caracteriza pelo
término do seu desenvolvimento, e ocorre em diferentes épocas, dependendo da variedade e do
local. No Brasil, os pinhões são colhidos de março a abril (CARVALHO, 1994).
MANTOVANI et. al (2004), em estudo realizado no Parque Estadual Campos do Jordão, SP,
analisaram a produção de pinhões de uma população natural de A. angustifolia. Neste estudo, a
percentagem de indivíduos do sexo feminino foi de 45,48% e a produção de pinhões, medida em
dois anos consecutivos, foi de 117 kg/ha e 160 kg/ha.
O objetivo do trabalho foi avaliar possíveis diferenças na produção de pinhões entre floresta
plantada e de árvores em ocorrência natural.
Materiais e métodos
Área de estudo
As duas áreas do estudo estão localizadas na FLONA de Irati. Uma delas encontra-se dentro
de um fragmento de Floresta Ombrófila Mista (FOM) de ocorrência natural. A outra esta em um
plantio de pinheiro-brasileiro contemplando dois talhões com idade de 65 e 59 anos.
Em 2001-2002, foram instaladas parcelas permanentes, nas duas áreas mencionadas. As
parcelas permanentes na FOM compreendem uma área de 25 hectares, formada por 25 blocos
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experimentais de 1 hectare cada um. Na floresta plantada, a área de experimento é de 10 hectares,
formada por 10 blocos experimentais. Cada bloco é dividido em 4 parcelas quadradas de 50 m x 50
m (2.500 m2) e cada parcela é subdivida em faixas de 10 m x 50 m (500 m2).
Coleta de dados
A coleta foi realizada nos meses de abril e maio de 2008, época em que os estróbilos
estavam em pleno desenvolvimento. A amostra foi escolhida de forma sistemática buscando
contemplar toda a variabilidade de diâmetros existente em cada área.
Foram coletados amostras de 27 árvores do sexo feminino na floresta nativa, onde foram
colhidas 77 pinhas, e 26 árvores da floresta plantada, onde foram colhidas 74 pinhas. De cada
árvore coletou-se aproximadamente 3 estróbilos e ainda foi contado o número total de estróbilos da
safra, tendo sido necessário subir até a copa das árvores, utilizando-se de técnicas de escalada.
As pinhas coletadas foram levadas ao laboratório, sendo que para cada uma foi medido o
diâmetro, o peso (g), contado o número de sementes (pinhões) e determinado o peso dos pinhões
(g). O diâmetro da pinha foi calculado como o diâmetro médio de três medições realizadas nos
eixos x, y e z da pinha.
Avaliação da produção
Os estudos comparativos para cada tipologia florestal, envolveram a diferença entre: o
número de pinhas por árvore, número de pinhões por estróbilo, peso dos pinhões (kg) por estróbilo
e a produção de sementes por hectare.
A produção de sementes por hectare foi estimada da seguinte forma:
PS
PP = PF ⋅ EP ⋅
1000
onde:
PP = produção de sementes (kg/ha);
PF = número de plantas femininas por hectare;
EP = número médio de estróbilos por planta;
PS = peso médio de pinhões por estróbilo (g).
O número de plantas femininas por hectare foi calculado com base no valor médio da
proporcionalidade dos sexos da espécie encontrados por MANTOVANI (2004) e BANDEL e
GURGEL (1967).
Para avaliar a diferença entre as variáveis consideradas no trabalho utilizou-se o “teste t”,
onde cada uma das tipologias foi analisada como um tratamento.
Resultados e Discussão
Os dados referentes ao número de araucárias e o percentual de indivíduos femininos em
cada uma das áreas de estudo consta na Tabela 1.
Tabela 1: Número de plantas fêmeas estimado para as duas áreas de estudo
Número de
Percentual médio
Número de
Tipologia
Área (ha)
araucárias
de fêmeas (%)
fêmeas (total)
Natural
25
1062
46,0
488
Plantada
10
2762
46,0
1269
Número de
fêmeas/ha
19,52
126,94
A produtividade de sementes foi estimada em 222,44 kg/ha e 477,16 kg/ha, para a FOM e a
floresta plantada, respectivamente. A produção por hectare da FOM foi 46,62 % menor que na
floresta plantada. Isto se deve principalmente ao fato de que existe um número maior de plantas
fêmeas na floresta plantada comparada à FOM.
A produção média de pinhões por árvore na floresta nativa foi de 11,39 Kg,
aproximadamente 3 vezes maior que na floresta plantada, com uma produção de 3,76 Kg.
Por tratar-se de um plantio de araucária, o experimento de 10 hectares possui produção de
sementes maior por unidade de área em comparação com a FOM. No entanto, a produção de
sementes por árvore na FOM é superior. Isto sugere que árvores mais antigas e conseqüentemente
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com copas maiores, são capazes de produzir mais pinhões.
Foram encontradas diferenças significativas entre o número de estróbilos por árvore, número
de sementes por estróbilo e o peso de sementes por estróbilo (Tabela 2).
Tabela 2: Valores médios das variáveis utilizadas para estimativa da produção de sementes nas duas
tipologias
Número de estróbilos Número de sementes
Peso de pinhões por
Tipologia
por planta
por estróbilo
estróbilo (g)
20,48
78,92
556,28
Natural
9,81
57,70
383,26
Plantada
2,45*
Teste t
* significativo ao nível de 2% de probabilidade
** significativo ao nível de 0,01% de probabilidade
3,47**
3,39**
O número de estróbilos por planta variou de 1 a 89 na floresta natural e de 1 a 29 na floresta
plantada. Quanto ao número de sementes por estróbilo, a variabilidade ficou entre 10 e 184 na
nativa e entre 7 e 145 na plantada. O peso de pinhões por estróbilo variou de 46,1 g a 1457,6 g na
floresta nativa e 24,4 g a 1077,1 g na plantada. O diâmetro médio das pinhas na floresta natural
variou entre 18,4 cm e 11,1 cm e na floresta plantada entre 17,2 cm e 10,6 cm.
Em todas as variáveis avaliadas na Tabela 2 a floresta natural foi superior à plantada. Ou
seja, a floresta natural produz um número maior de estróbilos e estes possuem um número maior de
pinhões quando comparada com a floresta plantada. Isto sugere que as árvores de araucária com
maior idade têm uma produção maior de sementes.
Conclusões e recomendações
• A produção de sementes por hectare é maior na floresta plantada;
• A produção de sementes por árvore, é maior na floresta nativa;
• Número de estróbilos por planta, número de sementes por estróbilo e peso de pinhões por
estróbilo, é maior na floresta nativa.
• Estudos envolvendo a produção de pinhões na área de estudo, devem ser executados
anualmente para determinar se o clima é um fator que interfere a produção de pinhões.
• Novos estudos que busquem correlacionar variáveis de produção com variáveis
dendrométricas (DAP, diâmetro de copa, altura de copa, altura total, entre outras) são
pertinentes, para o ajuste de modelos de produção.
Referências
CARVALHO, P.E.R. Araucaria angustifolia (Bertolini) Otto Kuntze: Pinheiro do Paraná. In:
CARVALHO, P.E.R. (Ed). Espécies florestais brasileiras: recomendações silviculturais,
potencialidades e uso da madeira. Colombo: EMBRAPA - CNPF/Brasília, p.70-78.
GAMA, T.M.M.T.B. Estudo comparativo dos aspectos físico-químicos do pinhão nativo e do
pinhão proveniente de processos de polinização de Araucaria angustifolia e da influencia do
tratamento térmico. 2006. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Alimentos), UFPR, Curitiba.
HERTEL R.J.G. Estudos sobre Araucaria angustifolia. A Constituição do estróbilo. Acta Biol. Par.,
Curitiba, n.5, p.3-25, 1976.
MANTOVANI, A; MORELLATO, P. C. e REIS, M. S. Fenologia reprodutiva e produção de
sementes em Araucaria angustifolia (Bert.) O. Kuntze. Revista Brasil. Bot., v. 27, n. 4, p. 787-796,
out - dez. 2004.
BANDEL, G.; GURGEL, J.A.A. Proporção do sexo em Araucaria angustifolia. Silvicultura em
São Paulo, São Paulo, v. 6, p. 209-220, 1967.
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