1%]
1%]
GREVES E MOVIMENTOS DE REIVINDIERADÃ
e o SAC
o
%A o
exigência...
na decisao da escolha.
No simples gesto de o acender No prazer de o fumar Na alegria de o oferecer!
EXIGÊNCIA, marcando o ritmo no trabalho, na acção e no prazer!
IM Um cigarro completo. Equilibrado. IM Um cigarro totalmente conseguido.
a.
o
1MII
Um acontecimento histórico e verdadeiramente ,transcendente domina. neste
momento a vida de Moçambique e como que monopoliza o interesse de todosquantos aqui nasceram e aqui vivem: as conversações preliminares de Lusaca, que
estão a decorrer à hora em que esta nossa edição sai para a rua, entre o Governo
Provisório de Lisboa, cuja delegação é chefiada pelo Ministro Mário Soares, e a
FRELIMO, que fez deslocar à capital zambiana uma representação encabeçada
pelo próprio 'presidente daquele movimento, Samora Machel.
Tão histórico e transcendente é esse acontecimento que ele se impõe a todos nós e
nos dispensa de dramatizações ou acentos tónicos. Para o cobrir tão
completamente quanto possível e dele dar total conhecimento aos nossos leitores,
«Tempo» fez deslocar a Lusaca uma equipa de reportagem constituída por José
Quatorze e Ricardo Range!.
Nesta edição tratamos de vários assuntos e problemas que, neste momento,
julgamos de interesse fundamental para Moçambique e para os nossos leitores..
Além de um extenso e esclarecedor dossier sobre o PAIGC, abordamos também
em estilo dossier, que terá a indispensável continuidade, aquilo a que poderemos
chamar a desmontagem da PIDE/ /DGS. O dr. Domingos Arouca, no seu
«retiro» de Inhambane, foi entrevistado pela nossa repórter Maria Pinto de Sã.
Depoimento n ecessário cuja oportunidade fica demonstrada pela sua leitura.
*Publicamos também uma lista significativa dos «tachos» distribuidos pelo'favor
político do regime fascista, em que figuram algumas empresas moçambicanas e
esperamos, completar em breve essa lista com a dos favores distribuídos pelo
anterior poder local.
O movimento grevista e reivindicativo é também alvo de uma. reportagem. E
outros assuntos são tratados nesta nova era da comunicação entre todos nós, que
de todos nós exige uma crescente consciencialização.
o«
Dlr"' :, Eng.* Rogério do Moura, A~
Noti : Franco,
Praia. Inter Notionas o Dias da Silva. Pro a : Tmpográfica. SARL. Raedar,
Adminl
O cinas: Av. Afonso da Albuquorque, 1017.A a 5 (Prédio
Invlcta). Telefono 2619112/3.
Caixa Postal 2917 - Lourenço Marques.
t2/2iJc
-SUMAIOi
Nota da Redaco. . . ..
1
Conversações em Lusaca e novo
director-2
Palavras Cruzadas .... ... 4 Greves e Reivindicações * Dossier PIDEIDOS
. 10
Massacros em Moçambique ,
19
alglaldade de direitos no ensino
oficia23 Chissano em. Lisboa . ; 25 Dossier Guiné-Bissau -a m orte
de Amilcar Cabral .. . . 29 Lista oficial dos 4tachos,. distri.
buida pelo poder político. 41 Tempo Desportivo . .
. .4
Entrevista com o Dr. Domingos
Arouca .... ... ..50
'A Redacção.... . .
Factos e Fotos .....
. -59
Venda da uTempou . .. 62
Opinião .. ........ 64
A NOSSA CAPA:
Movimento grevistas e relvindIcativos tnr ourgo que por todo o lado em
Moçambique nos últimos tempo.
A noea capa reproduz um deses movimentos
algures em Lourenço Marques
O OR. RUI BALIAZLAR
novo director do "Tempo"
Foi escolhido e acedeu ao convite que lhe foi dirigido para assumir as funções de
Director do «Tempo» o dr. Rui Baltazar, conhecida figura do foro de
Lourenço,'Marques, democrata tom larga e brilhante folha de serviços prestados à
causa da liberdade, que há muitos anos, apesar de sempre ter sabido viver com a
discrição que marca os espíritos verdadeiramente superiores, pôde granjear um
prestigio que nos dispensa de quaisquer encomios.A sua escolha reflecte, de resto,
esse prestígio: convidado pela Administração e tendo declinado na altura o
convite, foi o dri Rui Baltazar igualmente abordado por representantes do corpo
redactorial, aos quais igualmente agradeceu ,pediu escusa. Mas esta convergência
aliada 'à hora que passa terão talvez decidido o dr. Rui Baltazar a rever essas
solicitçóes e a entender aceitá-las. Julgamos poder dizer que estamos todos de
parabéns.
Por motivos de diversa ordem, não deve o dr. Rui Baltazar pc,¿r tomar posse do
seu cargo senão dentro da segunda quinzena do corrente mês. Como quer que seja
e até porque a noticia já foi tornada pública pela imprensa diária, é com todo o
gosto e muita honra que a trazemos hoje ao conhecimento dos nossos leitores.
No momento em que um novo Director vai assumir tão importantes funções, não
pode o Conselho de Administração do «Tempo» deixar de exprimir aqui
publicamente os seus mais sinceros agradecimentos ao Director que, dentro em
breve, deixa o referido cargo, eng. Rogério Filipe de Moura, o qual, durante cerca
de quatro anos, sem qualquer interesse material e até com prejuizo da sua vida e
actividade profissionais, exerceu tão espinhoso quanto delicado papel. Por todos
os sacrifícios e dificuldades que lhe foram exigidos aqui fica a expressão desse
agradecimento.
Como já referimos, acedeu o eng. Rogério de Moura a fazer parte do Conselho de
Administração da «Tempográflca», cargo que passará a ocupar quando deixar,
efectivamente, a Direcção dã Revista.
CAMINHO DA "PAýZ
Tiveram inicio na passada quarta-feira, em Lusaca, capital da Zâmbia, as
conxversações preparatórias para o estabelecimento de um cessar fogo em
Moçambique. A notícia, divulgada inicialmente pela- própria FRELIMO, foi
cerca de 24 horas depois confirmada oficialmente pelo Governo Provis6rio de
Lisboa.
A delegação da FRELIMO. chefiada pelo respectivo presidente. Samora Moisés
Machel, é composta de 11 membros, que se encontram desde segunda-feira à
noite em Lusaca, ênquanto que a delegação portuguesa, chefiada por Mário
Soares, Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de Lisboa. não inclui
nesta primeira fase outros membros do Governo, mas écnicos e assessores do l%
nistro.
A espectacular decisão de abrir já os primeiros -contactos entre Lisboa e a
FRELIMO cdusou enorme expectativa não só em Moçambique,. mas em todo o
Mundo. Na realidade, não se esperava que, enquanto
vão continuar em Londres as conversações com o PAIGC. sobre o íutuko da'
Guiné-Bissau, fosse possível abrir simultaneamente os contactos directos com a
Frente de Libertação de Moçambique.
Mas a maior parte dos observadores interpretam esta rapidez e a aparente
-facilidade de estabelecimento destes contactos, como um desejo manifesto de
ambas as partes abrirem o mais depressa possível a via da paz. sem a qual não
será propício um clima para as verdadeiras negociações sobre o futuro de
Moçambique. E, por outro lado, véem no faéto um sinal de boa fé -e perfeita
consciencialização de ambas as partes.
Está ainda previsto, como foi acentuado pelo Ministro Mário S0oares e
confirmado pelo Ministro da Coordenação Interterritorial, -que AImeida Santos
deverá participar na fase seguinte das conversações, isto é, nas negociações
propriamente ditam.
Os observadores subli-
COMECA EM LUSACA
nham ainda o papel do Presidente Kenneth Kaunda neste primeiro contacto. Ao
referir-se à visita de Mário Soares -e marcando a diferença abissal de' atitudes
dos. países africanos que mais têm apoiado os movimentos de libertação em
relação ao novo Governo de Lisboa, o presidente Kaunda disse que o Ministro
português se deslocava à Zâmbia «"nas asas da democracia» e que ele «tragia
consigo os ventos da mudança-.
t pois, neste clima de boa vontade e de esperança que se iniciam as negociações
entre o mais re-: presentativo movimento do povo moçambicano e o Governo de
Lisboa sobre o futuro deste grande pais. Que elas abram na realidade o caminho
da paz e desse futuro que é o de quantos aqui vivem e fiteram desta a sua Terra.
EXPECTATIVA E DESCOMPRESSAO
Em Moçambique, a abertura do diálogo está a ser seguida, desde as primeiras horas, com justiíficada expectativa e interesse, aobrepondo-se a todos os
problemas. Pode mesmo dizer-se que tal, expectativa gerou, ao contrário do que
seria de esperar, um clima de descompressão: estava diante dos olhos de todos um
fCcto que, ainda há dois meses, se afiguraria no total domínio do impossível e
que a propaganda do regime anterior se encarregava de enquadrar
sistematicamente no campo da traição e da ignomínia. como se os supremos
valores a defender fossem a institucionalização da guerra, o medo e a divisão.
Ultrapassadas a cada momento pelos acontecimentos que, desde 25 de Abril
marcam a nossa vida, as pessoas vão-se dando coanta, lenta mas.
irreversivelmente, dos mitos e falsidades em que eram envolvidos os problemas
que nos enredavam e nos condenavam a uma vida sem esperança e sem
horizontes. Pois á paz' é possivel e para ela, estão a- ser dados os primeiros
passos.
CONTRA O MEDO
- PELO FUTURO
Que possibilidades haverá de se chegar a bom termo neste diálogo? A
perplexidade domina ainda alguns espíritos. Muitos de nós não nlIs demos ainda
conta de que uma das mais espantosas revoluções se deu à nossa volta. Muitos de
n6s têm ainda medo - desde o medo das próprias palavras ao medo total, medo
das mudanças, medo do futuro. Há muito que fazer na nossa frente e acabar com o
medo, com todos os medos, é uma das tarefas prioritárias em que cada um tem a
sua contribuição a dar.
O Governo de Lisboa tornou bem -claro que reconhecia aos povos dos
territórios africanos até aqui sob a administração portuguesa o direito de eles
escolherem livremente os seus destinos. Por outras palavras aquilo que a
FRELIMO exigiu como condição prévia para quaisquer negociaç*ões, asquais
versariam não sobre esse princípio, que não se discute, mas, como
acentuou Samora Machel, «sobre os mecanismos que levarão à independência».
Há aqui uma indiscutível convergência.
E parece-nos que não temos que temer as palavras. Nem as palavras nem o futuro.
A independência é, para nós, irreversível. Vamos escolh8-la todos. Não no caos,
com o qual ninguém terá nada a ganhar, mas na 'dignidade, no respeito mútuo, até
- e porque não? - na tolerância, mas principalmente na paz.
Aquilo que separa, alguns de nós é muito mais frágil do que aquilo que nos pode
unir: a vontade e a determinação de construirmos, pelas nossas próprias mãos, um
pais novo onde caibam todos os homens de boa vontade e boa fé. digno dos que
ficaram pelo caminho e dos nossos filhos.,
Na aurora da grande esperança que nasce no horizonte, uma nova era se abre
diante de todos nós. Saibamos merecê-la. Com coragem, com fé, com grandeza de
alma. *
RUI CARTAXANA
ALMEIDA SANTOS ANUNCIA VISITA DO PRESIDENTE SPINOLA E
REFORMAS DA ORGANICA DO GOVERNO
O Ministro as Coordenação
Interterritorial anunciou na passada terça-feira, em Lisboa, numa comunicação
diri.
gida ao Ultramar, reformas de base da orgânica dos governos dos estados de
Angola e Moçambique e confirmou a próxima visita a estes esta- os do
Presidente da República, general António de Spinola. O Ministro, que anaiísou
ainda os resultados das suas. viagens e consultas a Angola e Moçambique, as
conversações em curso com o PAIGC e- os primeiros *coDtactos com a
FRELIMO, em
Lusaca, dirigiu inequívocas Palavras de fé e de esperança a todos quantos vivem e trabalham nos territórios africanos.
Afirmando, sobre as reformas orgânicas legisladas, que o Governo Provisório não
se' afoitara, para já, a ir mais longe, Almeida Santos esclareceu:
«Não obstante, foram criados os seguintes novos secretariados: - cinco lugares de
Secretários Adjuntos do Governador - Geral (designação que. subsiste apenas
transitoriamente), com a função de coadjuvarem o governador no exercício da
função executiva; ,- uma Secretaria da
Administração Territorial destinada a consumir no futuro a função do actual
Secretário-Geral, lugar que entre. tanto não será provido; uma Secretaria da
Justiça, que constituirá a cúpula da orgânica judiciária de cada Estado, em breve
ampliada com a transladação para o Ultramar de pelo menos aígumas das
instâncias judicatiras sediadas na Metrópole;
- uma Secretaria da Coor. denação Económica, integrada por cinco
Subsecretários: de Planeamento e Finanças, de Comércio, de Indústria e Energia,
de Agricultura, de Pecuária e Pescas; - Secretaria da Comunicação Social e do Turismo; - Secretaria da Educação éCultura
passara a ser assistida, no exercicio das suas funções executivas, por um
Subsecretário da Educação. Física e Desportos, na sequência do propósito de
independentizar as estruturas desportivas do Ultramar das suas actuais cúpulas
metropolitanas. Não é, pois, ainda, una reforma de base. Mas é ój, sem dúvida
uma reforma tendencial».
PAGINA 4
Olá nigos!*
Cá estou de novo para anunciar os meninos que obtiveram zero. golos no
Matobola da semana n.° 6.
DE LOURENÇO MARQUES
Victor Manuel Ferreira.
José Jacobetty (2 boletins)
João Carlos Campos
Filipe de Carvalho (2 boletins)
Pedro Silva (2 boletins)
DA BEIRA
Rui Daniel Louro Adrde
DA MANHIÇA
António Carlos
Depois de feito o sorteio foi vencedor do Matobola da semana n. 6 o menino José
Jacobetty, morador na av. Ant6nio Enes, 931.11-22, em Lourenço Marques.
este menino .deverá passar pelos escritórlos da Agência «Produções 1001» (ou
telefonar para o n.o 29277) para escolher o prémio a que tem direit.
um par de, patins ou ma bola de futebol.
E malta! Continuem a jogar porque o Matoboa do
Matolinha foi feito para durar.
COMPANHIA INDUSTRIAL DA MATOLA, S. A. R. L.
1
2
3 .4
5
6
7
8
9
10
12
13
I- 2 3 4 5 6 7 6 O 10 11 12 13
---PALAVRAS CRUZADAS
HORIZONTAIS: 1 - sýome da 6., 7., e 26.1 letras do
alfabeto árabe, imagem ou estátua de mulher, com pés de pata, que se encontra.
em alguns monu.mentos da Idade Média; nome de letra. 2 - Fêmea da formiga
saúva (Bras.); instrumento cirúrgico para examinar as fracturas do crâneo; vurmo.
3Fluido aeroforme;
vedeta, caudilho (ant.); textualmene. 4 -- Soluco com que ficam as érianças
depois de chorar (prov.); abrev. latina que se usa para significar recebido;
aparo de escrever. 5 - Nota de música; cubata; pref.
de. direcção, fim, movimento, 6 - Categoria de judoca; indignação, raiva. 7 - A
mão do mángual (transm.); espécie de lanceta para sangrar bestas. 8 - Oásis;
pedra, rochedo (bras.). 9 - Antes de Cristo; planta 'aquática, tipo. das ninfeáceas;
nota de música. 10 - Palmatoada; espécie de sapo do Amazonas; obra,
composição de um autorý a que multas vezes se dá um n. Qrdem (Mús.). 11Género de árvores blgoneáceas do Brasil e da Afri.
ca; antiga flauta pastoril; nome de letra. 12 - Concre. çóes nos dedos dos gotosos;
que desce até ao tornozelo; 5.° satélite de Saturno. 13 - Artigo; choco ou lula;
cidade
da caldeia, pátria de Abraão.
VERTICAIS: 1 - De perfeita saúde; antigo dialecto
italiano. 2 - Mordaça; guarda da mão, na espada. 3 «Acção Socialista
Portuguesa», fundada em 1964, pelo Dr.
Mário Soares, com Tito de Morais e Ramos da Costa (sigla); espaço de tempo;
abrev, de Leste. 4 - Que tem a cor ou os reflexos da opala. 5 - Pronome pessoal;
nome próprio masculino, de origem grega, . que, significa varonil; fruta.do.conde.
6 - Pequena quantidade dum liquido; relativo, à navegação e a navios. 7 Agacha.
mento; faixa estreita e horizontal no escudo (heráld.).
8 - Designativo de um ácido resultante da ureia com o oxigénio; mercadejam,
,traficam; 9 - Óxido de cálcio; género de plantas malvãceas, de flores medicinais;
lavra. 10 - Inferno (fig.). 11 - Letra grega; governanta; prep.
antiga. 12 - Rato anfíbio malhado de preto e branco (bras.); cordão que se passa
por dentro duma bainha, .permitindo que esta fique franzida ou desfranzida. 13 Martelo dentado com que os canteiros alisam a pedra
já desbastada ao picão; fundamentado, posto sob base.
SOLUÇÃO DO PROBLEMA ANTERIOR
HORIZONTAIS: 1 .. Cachamorras. 2 - Anais,
- Rural, buril. 4 - Pai, are, ala. 5 - Ileo; ar Moital 7 - Eaco, amen. 8 - Içá, caa, add.
9 later. 10 - Adiar, clama, 11 - Salgadeiras.
VERTICAIS: 1 - Carpideiras, 2 - Anual, a5C
Cárie, canil. 4 - Hia, omo, Dag. 5 - Asla, c Ruiva. 7 - Orbe, alce. 8 - Réu, aaa,
ali. 9
matar. 10 - Atila. edema. 11 - Salamandras,
!ata. 3 tenda,
3
o6
Rarar,
Ao lado: empregados da COOP, reunram
em
assembleia-geral para discutir e aprovar o Cademo de Reivindicações a apresentar
à entidade patronal. Na imagem, dois dos presentes (sentados no lado esquerdo)
tapam o rosto com as mãos o que -poderd fazer supor que receiam
qualquer espécie de represdlia. Será?
No espaço moçambicano, os movimentos reivindicativos sucedem-se. Aumento
de vencimentos e melhoria das conídições de trabalha é o objectivo imediato dos
trabalhadores, a grande maioria paga com salários de fome.
Em muitos casos os movimentos até agora 'desencadeados têm trazido à evidência
a fragilidade das estruturas de uma política colonialista que, desde há muitos anos,
se sabia estar condenada ao desmoronamento.
Hoje, aqui e agora, começam a abrir-se novos horizontes, na justa medida em que
o trabalhador está a adquirir uma noção exacta da importância do seu trabalho e
reivindica justamente uma quota maior da riqueza que produz. É na greve,
princípio fundamental que sempre lhe foi negado,'que hoje se apoia para fazer
valer os seus direitos. Mas, acontece, no entanto, que a greve é uma arma
perigosa, capaz de produzir resultados desastrosos, quando não utilizada com a
devida prudência. E dela se têm valido certos elementos da reacção, com o único
propósito de lançar a confusão entre os trabalhadores unidos e empenhados na
melhoria das suas condições de vida.
A última semana proporcionou aos trabalhadores mais algumas vitórias.
Contudo, tem de se atentar no procedimento que começa a ser tomado por várias
entidades patronais, ao díspensarem parte do pessoal ao seu serviço, especial e
concretamente no que se refere à indústria hoteleira.
Nas linhas que se seguem tentamos dar ao leitor uma breve panorâmica do que foi
o movimento grevista e reivindicativo na última semana, nela se incluindo alguns
apontamentos sobre o que se está a passar no campo sindical, sem dúvida de
grande importância no futuro dos trabalhadores de Moçambique.
Outro ponto deveras importante e que não pode ficar esquecido, é o do custo de
artigos e géneros considerados de primeira necessidade. A não ser sustido de
imediato o seu preço, é fácil adivinhar que poucos seráo os benefícios colhidos
pelos trabalhadores que começam a ver os seus salários aumentados em algumas
centenas de escudos. Dai a necessidade de con-. gelamento temporário de preços,
intensificação da luta contra a esl5eculação e uma maior abertura na importação
de artigos, de comprovada necessidade, tendo em vista pôr cobro a perigosas
manobras de açambarcamento
6500 ESCUDOS SALÁRIO MINIMO PEDIDO NOS C.T.T.
Vencimento mínimo de 6500 escudos, com efeitos retroactivos a partir de 1
Maio, e congelamento imediato dos vencimentos superiores a 15000 escudos,
foram, as reivindicações prioritárias apresentadas pelos trabalhadores da Estação
Central dos C.T.T. da dapital, que entraram em areve e ocuparam as instalacões
até serem satisfeitas as suas pretensões.
Segundo o «Nottcma ria Beira», os trabalhadores informaram o carácter
renresentativo da sua luta e. responsabilizaram a corn,1.Rc, oró-sindical de ter
emanado um comunicado em au. afirmava aue o movimenta are vista teria sido
desencadeado por elementos alheios àquela comissão que tentou impedir a
efectividade da greve.
Um trabalhador informou que a comissão pró-sindical não defende os interesses
dos trabalhadores mas trabalha de *acordo com a administração, reforçando a sua
opinião no facto de nunca em sindicato algum elementos da administração
fizeram parte de uma comissão pró-sindical.
ALTERAÇAO DE LETRAS NA IMPRENSA NACIONAL
A fim de discutirem quatro pontos do documento elo borado numa primeira
reunião e já divulgado, cerca de 60 funcionários da Impensa Nacional reuniu no
passado dia 30.
Os referidos pontos respeitam a alterações de letras e a actualização de cqtegorias
de pessoal técnico, auxiliar e administrativo, com o consequente alorqariento do
quadro, tendo sido aprovados por unaniTambém no Hotel Tivoli o pessoal esteve em greve, conseguindo melhoria
salariais.
GREVES E REIVINDICAÇES TRABALHADORES LUTAM POR,
MELHORES SALARIOS
midade, depois de discufidos.
Foi ainda estabelecido fazer um manifesto sobre as reivindicações, para ser
apreseritado mais tarde a uma entidade superior.
SANEAMENTO" NO AERO CLUBE DA BEIRA
Locutores e técnicos do Aero Clube da Beira, após
terem controlado a emissao durante o dia 28, entraram em greve às 7 horas do dia
seguinte, com a finalidade de.levarem a direcção daquela emissora a aceitar as
suas .reinvindicações. As, co64ersaçóes entre locutores e técnicos e um
representante do Aero Clube da Beira duraram cerca de cinco horas, tendo os
resultados obtidos sido franca
mente favoráveis aos pra. fissionais da informação que, posteriormente,
distribuiram a seguinte informaÇãO
«Al4ós terem suspendido os trabalhos da Emissora do Aero, Clube da Beira
durante cerca ýde 10 horas, os signatários estiveram reunidos com elementos
directivos do Aero Clube da Beira tendo, nas conversações que terminaram às
13;30 horas, ficado deliberado o seguinte:
a) Reabertura da estação émissora às 17 horas de 29-5-74;
b) Suspensão imediata dos elementos de chefia para quem os signatários pediam,
a demissão ou destituição
-de funções;
c) Essa suspensão verificar-se-á até estar concluído um inquérito aos mesmos
elementos levado a efeito por uma comissao a nomear pela Direcção do Aero
Clube da Beira;
d) Enquanto decorrer o inquérito e, portanto, a consequente suspensão dos
elementos de chefia em questão, o bom andamento dos serviços de radiodifusão
propriamente ditos, será assegurado e da inteira responsabilidade dos signatários;
e) As reivindicações apresentadas pelos signa' ýrios foram dirigidas
exclusivamente contra elementos de chefia da Emissora do Aero Clube da Beira,
*e nunca contra qualquer elemento da Direcção do Aero Clube da Beira».
Os elementos afastados foram Filipe de Sousa, Agnelo Pereira, Raul Guterres e
José Moura.
TRABALHADORES DA TZR PEDEM MELHORIA DF VENCIMENTOS
Trabalhadores da TZR, em Inhaminga, entraram em greve no dia 1,
reivindicando melhorias de vencimento&ý Esta atitude foi moti,vada pelo facto
de em 1 de Outubro de 1973 o pessoal superior da companhia ter recebido um
aumento considerável - segundo um comunicado de uma comissão de
lferroviários - o m1smo não acontecendo com o pessoal malor e menor embora
estivessem já, então, a ser envidados todos os esforços nesse sentido pelo pessoal,
junto da empresa.
Em Janeiro deste ano e
com ýfeitos retroactivos desde 1 de Outubro de 1973, a TZR deu um subsidio de
custo de vida de 10 por cento, informando que os salários iarn ser revistas e que
esse subsidio seria incluido no vencimento base, Passados oito meses sobre a data daquela promessa e,
segundo o mesmo comunicado, esgotados que foram todos os esforços, o pessoal
não viu outra alternativa a não* ser entrar em greve a partir das zero horas do dia
1 de Junho.
TREM NAVAL: GREVE COMO OLTIMO RECURSO
Quarenta e oito horas, contadas a partir do passado dia 29, foi o prazo concedido
pelo pessoal do Trem Naval da Capitania do Porto de "Lourenço Marques ao
capitão do Porto, para satisfazer as suas reivindicações.
Esta decisão foi tomada durante uma reunião realizada na rua, dado ter Isido impedida a entrada dos ýnossos acamaradas de
trabplho do -Noticias» no refeitório onde a reunião devia ter tido lugar.
No decorrer da citada reunião foram eleitos os elementos com vista à formação do
Sindicato, que são os seguintes: Manuel de Brito, (classe de contramestres),
António Manuel Branco Sena (maquinistas), Francisco Conceição Cruz
(fogueiros assalariados), Filipe Maniate :(marinheiros auxiliares),- Daniel
Manhiça (fogueiros auxiliares), Júlio Fernandes Arrota (pessoal de cais) e
António da Silva Leite (delegado dos mestres de rebocadores). Decidiram ainda
os trabalhadores escrever ao capitão do Porto
solicitando, dentro do prazo de '48 horas, resposta escrita às pretenções
oportunamente apresentadas pelos trabalhadores.
Caso as reivindicações apresentadas não forem atendidas, os trabalhadores
dirigir-se-ão ao Governo Provisório, por intermédio do Ministério da Marinha,
pois decidiram que a greve só seria utilizada como último recurso dada a
obrigação que entendem ter de colborar com o Governo que restituiu a liberdade
ao Pais.
No cais da Beir«. DIFERENÇAS SALARAIS POD9M CONDUZIR A GREVE
As diferenç s salariai s existentes nr o vário pesOs Caminhos de Ferro de Moçambique foi um dos sectores mais duramente
atingidos pela onda de preves desencadeadas após o 25 de Abril. Os salários de
fome pagos por aqueles serviços terãó forçosamente de desaparecer, uma vez
desaparecida a tenebrosa PIDE/ /DGS que fazia sentir a sua implacável acção
junto dos trabalhadores. A hora é de repensar toda a estrutura, acabando-se de vez
com promessas nunca
cumpridas.
soai da secção de cais dos Caminhos de Ferro de Moçambique, na Beira, levaram
o pessoal ligado ao sector de electricidade a expor a sua situação de
inferioridado, em relação a outro pessoal, antes de 25 de Abril.
A referida situação foi exposta ao eng. Caldeira Pinto por um grupo de quatro
trabalhadores ligados ao sector da electricidade, em extenso memorando.
Apontam os electricistas os motivos porque se consideram preteridos e as
reivindicações a que se açham com direito, sendo de notar que as desigualdades
surgiram quando há. alguns meses atrás o restante pessoal foi beneficiado e os
electricistas ficaram, para «trás».
Ao exporem a sua situação, pretendem os electricistas do cais da Beira que, a sua
situação seja, revista, de acordo com o pedido feito em devido" tempo,- sem
terem necessidade -de tomarem atitudes, no seu dizer, pouco dignificantes.
Na Mwar«
4000 TRABALHDOIS EM GREVE
Reivindicando aumento de venciméntos, cerca de quatro mil trabalhadores da
Maragra estiveram em gre've de segunda a sexta-feira da última semana, dia em
que acederam em 'voltar ao trabalho após terem visto satisfeitos os seus pedidos.
As melhorias salariais ciiram-se num, aumento geral de 50 por cento dos 7encimentos e cerca de 20 por
cento de aumento no subsidiq recebido pelos cortadores de cana, em cada dia detrabalho. Esta decisão foi cdmunicada aos trabalhadores na manhã da última
sexta-feira, por um representante da entidade, patronal, tendo aqueles acedido em
voltar -ao trabalho no dia imediato após cinco dias de paralisação total. ,
A referida grevw abrangeu apenas o pessoal não sindicalizado e decorreu sem
incidentes, no que se refere aos grevistas. Contudo, um elemento qualificado da
empresa viria a ser acusado de ter instigado os trabalhadores a pararem o trabalho,
e ameaçado com uma
imagem eluwidativa do estado em que há pouco tempo se encontrava o refeitório
dos trabalhadores da Maragra, que durante a última semana
estiveram em greve.
arma pelos seus colegas.
Ao que conseguimos apu
rar, o elemento em questão chegou à Maragra no momento em que prin~7iuva a
greve, após ter' passado o fim-de-semana na capital.
Depois de ter estado algum tempo na messe viria a deslocar-se à Manhiça, a
pedido de um. seu colegg e levando a esposa deste, onde almoçou. Cerca das
15.30 horas, quando o pessoal em greve se dirigia aos seus lares, abeirou-se de
um dos citados elementos perguntando-lhe se era do sctor E.
tendo obtido resposta afirmativa.
«No dia seguinte - contou-nos o regente-agrícola visado - cerca das 14 horas
entraram quatro elementos no meu gabinete de
Plantações de cana de açgcar pertencentes Maragra, onde cerca de quatro mil
trabalhado recrutados em diversos pontos de Moanbiç
ganham o seu pão.
CONGELAMENTO DE PIECM:
- medida a tomar
trabalho e intimaram-me a comparecer na presença de um grupo (cerca de 50
pessas) concentrado em frente à direcção-geral, onde me acusaram de ter
instigado à greve, de ser o actiíísta do que se estava a passar, e de na Manhiça ter
estado à frente dos trabalhadores, instigando o pessoal do sector E, com os
braços no ar».
Ainda de acordo com o que nos foi contado, o regente-agrícola em questão ao
pretender ir chamar pessoas com quem havia estado no dia anterir, a fim de poder
provar a sua inocência, foi intimado a sair do carro por um seu colega que
empunhava uma pistola.
No local viria a aparecer o Director-geral da Maragra que acalmou os ânimos e
convidou o citado empregado a afastar-se uns dias para Lourenço Marques, até a situação ser resolvida.
BANCAMOS:
EVITADA A GREVE
Os funcionários bancários de Moçambique viram satisfeitas as suas
reivindicações salariais, prometidas desde há bastante tempo, quando o respectivo
Sindicato já havia instruído os trabalhadores para a" partir da passada segundafeira começarem a retardar progressivamente a entrada ao serviço em uma hora
por dia.
Aquela decisão havia sido tomada em reunião dos trabalhadores, e o acordo das
entidades patronais só" foi conseguido às primeiras horas de sexta-feira. Falta
agora homologação superior para que as melhorias de vencimentos concedidas,
que
são consideradas "para fazer face ao aumento do custo de vida, entrem em vigor.
EMPREGADOS DA COOP EM ASSEMBLEIA
Empregados da COOP reuniram rb passado sábado em assembleia-geral para
discutirem as reivindicações a apresentar à entidade patronal.
Antes da assembleia foi distribuído um «Caderno Reivindicativo, - elaborado
pela Comsisão de Trabalho, que foi- discutido ponto por ponto. O ponto três da
convocat6ria referia-se &s medidas a tomar, para apoio das reivindicações
determinadas pela Assembleia.
As deliberações tomadas, foram, entretanto, apresentadas à entidade _patronal.
DESPEDIMENTOS NA INDOSTRIA HOTELEIRA
Os movimentos reivindicativos que praticamente se fizeram sentir em toda a
Província dir-se-ia terem obtido pleno êxito, se não fora cei'tas tentativas de
boicote entretanto postas em prática ou que funcionaram apenas como ameaça por
parte das entidades patronais. Referimo-nos, evidentemente, aos despedimentos
em massa, processo que começou já a ser utilizado na indústria hoteleira e que
poderá vir a constituir perigoso prece.dente. De facto, se a greve deve ser utilizada
apenas como último recurso o despedimento colectivo, total ou parcial, não pode
!ser aceite de animo leve e deverá motivar a abertura de rigoroso inqué-ý rito,
com vista a apurar-se
a justiça da medida.
Os primeiros despedimentos tiveram lugar no hotel Pol'ana, onde 55 dos 325
empregados foram mandados embora, .enquanto foi noticiado o encerramento do
terceiro piso do hoel. Esta decisão foi tomada após os empregados terem
reivindicado melhorias de vencimentos que, em principio, lhes haviam sido
concedidas. Porém, a parte caricata da questão está em a decisão haver sido
tomada na Africa do Sul, onde se encontram os «patrões» do hotel, e -para onde,
naturalmente, serão canalizados os lucros do mesmo. Esta uma situação que
precisa ser revista e devidamente esclarecida.
Também no Hotel Girassol cerca de 50 empregados estão em risco de serem
despedidos, após terem cotseguido uma melhoria de vencimentos na ordem dos
cem por, ento, Câsb esta' hipótese se venha a confirmar, e devido a alegado e
incomportável aumento de despesas, o referido hotel deverá passar a funcionar
apenas .como «residenci6l'.
Ao que parece, estas medidas estão, em parte, a ser fundamentadas na crise que a
indústria hoteleira atravessa presentemente, crise essa que assenta em vários
factores é que, também é facto, desde há muito era prevista atendendo à não
existência de uma verdadeira "política de turismo.
MOVIMENTOS SINDICALISTAS
Paralelamente aos movimentos 'reivindicativos, os trabalhadores tomam
consciência da importância de se organizarem em sindicatos livres, por forma a
que o seu trabalho possa ser prestigiado e conseguidas melhorias salariais e
sociais. Neste momento, assume especial importância a actividade desenvolvida
pelos funcionários do Estado, com vista. á criação do seu sindicato livre. Várias
foram as reuniões já efectuadas e os pontos aprovados, nomeadamente no que se
réfere à criação das secções «Dós Delegados», «Atribuições das Comissões dos
Delegados» e «Pré-ýindical».
Também no sector das
Obras Públicas se têm realizado várias reuniões, tendo em vista renovar e restituir
o prestigio daqueles Serviços onde, segundo foi afirmado numa reunião, reina o
«clima fascista».
Algumas das reuniões decorreram em clima de agitação. .A par do aprovação de
alguns pontos respeitantes a reivindicações do pessoaI com menores vencimentos,
foram postos à discussão vários- outros pontos, nomeadamente no que se refere a
inquérito a possIveis responsáveis com a consequente exonèração dos mesmos,
constituição de comissões directivas e de vigilância e admissão urgente
de técnicos jovens.
Por outro lado, o pessoal
do Montepio de Moçambique, reunido em Assembleia-Geral, deliberou por
aclamação aderir ao Sindicato dos Bancários, encontrardo-se presentemente a
respectiva comissão pr6-Sindicato a accionar os necessários -meios para uma
rápida sindicalização de todos os trabalhadores.
*,
e
PAGINA 9
ESPECIAL
PARA DONAS DE CASA
*
ants ira um detergente
As 3 condições mais imnportantes Par mEtegft
de icôs elrs ropa ser considerado excepcional.
Sde mâãquinas de lavar 1 rouP
ACCAO BIOLOGICA
P OXIGENIO ACTIO ip ESPUMA CONTiROLADA
0 quee a acao biolgica
É a resultante da accão das. enzimas contra as nõdoas de suor. manchas de ovo,
sangue, urina e outras. As enzimas devoram a sujidade!
E o oxígenio activo
O oxigénio activo; branqueia, desinfecta, destrõl as causas do contágio e elimina
os maus cheiros.
A oxidação suave, natural, proteje as fibras têxteis e desencade todos os tipos de
tecidos.
E a espuma controlada
Todos os detergentes tém espuma. Alguns maisoutros menos No detergente para
máquinas de lavar, a espuma tem que ser produzida por medida e controlada, pois
em demasia prejudica as máquinas. A espuma controlada serve de lubrificante
para o escorregamento das peças de roupaumas sobre as outras, evitando o
desgaste prematuro das mesmas.
PAGINA 10
Ao inicíarmos a publicação de um dossior sobre a famigerada PIDE/DGS,
não podemos deixar de registar aqui uma explicação necessária. Entendemos que
6 urgente desmontar não s6 esse nefando aparelho de repressão fascista, mas
principalment, a ideia, comum entre algumas camadas da população, de que tal
organizaçío teve nos territ6rios africanos um papel diferente do que sempre
desempenhou em Portugal - e não faltava mesmo quem lhe átribuisse alguns
méritos. Esta inagem tem de ser confrontada com a realidade, que 6 de facto
bastante diferente: a PIDE/DGS era uma máquina de repressão inu-' mana e
hedionda, impla'cvel, que não escolhia as suas vítimas pela cor da pele e que
contava entre os seus algozes irmãos de raça de todas as suas vítimas. Na
realidade, se o maior contingente das suas vítimas era constituído por
moçambicanos negros, negros se contavam igualmente entre os seus piores
carrascos, se m u i t o s moçambicanos brancos foramn torturados e vítimas de
repugnantes sevícias e perseguições, brancos foram os seus mais tenazes
torturadores.
Não pretendemos também com estes traba- lhos que se desencadeie uma «caça
às bruxas». Mas entendemos que as autanticos responsáveis pela nefasta
actividade da organização sejam real e efectivamente chamados 4
responsabilidade, sujeitos a um julqamento imparcial e, sempr, que for o caso,
justamente punidos. . .
PÁGINA 11
3 A FERROS
GA OU NO ESTRANGEIRO
A /maior parte dos agentes da extinta Pl11*DG8 ainda sencontram à solta.
Embora as su act v k já estejam sob o controlo das Forças Armadas, apenas 3
elementos se encontram detidos, dos quais 30 em prisão domiciliária e os três
restantes a ferros.
Para um total que não atinge as oito centenas de agente. o número de polícias
políticos detidos 6 realmente irrisório, não nos tendo sido possível por outro lado,
obter os seus nomes e o quantitativo exacto dos pide. em efectividade de serviço
em Moçambique.
,Para além do extraordinariamente grande mas 'indeterminado número de
informadores, cujo* nomes-e* desconhecem, toda esta situação já permitiu a fuga
dos. principais obreiros das torturas, prisões e campos de concentração tipo nazi,
arquitectados para impor e servir um dos mais sinistros sistemas coloniais
fascistas em Africa.
Milhares de vítimas que verteram o seu sangue pelo povo clamam contra a livre
circulação desses agentes da tortura e da morte - contra todos sem excepãopara
bem do futúro desta terra.
Texto: CALANE DA SILVA Fotos: RICARDO RAIG.
PAGINA 12
Inspector Santos Correia, dirigente da famigerada PIDEI /DGS em Moçambique,
pôs-se pm fuga tendo. sido visto na África do Sul. Consta ter partido para o
Brasil.
A partir do dia 26 de Abril e logo que a nova máquina militar se pôs em
funcionamento para o cumprimento integral do Programa das Forças Armadas,
foram dadas aos agentes da PIDE/DGS em Portugal ordens para se apresenta-rem
nos quartéis mais Próximos, enquanto por outro lado as fronteiras eram
guarnecidds por tropas para deter a impedir a fuga dos pides e tmbém a de muitos
outros indiv duos a soldo ou coniventes dos crimes do regime fascista.
Mesmo assim sabe-se que durante aquele período centenas de agentes conseguirtm fugir, pelo que se estipulou um prazo rigido para a
sua entrega, ameaçando-os com a publicação das suas fotografias nos jornais. A
popul_ção colaborou activanente na captura dos pides em fuga forçando muitos'
deles à entrega imediata.
Em Moçambique o problema tomou logo desde o inicio um outro cariz., A D.G.S.
no território moçambicano e por especial incumbência do regime colonial
fascista, estava estritamente ligada às operações militares em curso, o que
retardou o processo de desmantelamento daquela sinistra organização, detentora dos arquivos de
valor e segredos especificamente militares.
Digaýse em abono da verdade que essa transferência de funções para os militares
foi, ou tem sido, demasiado lenta se atendermos ao facto de que durante tal
período esses mesmos agentes e seus informadores à solta nas cidades e nos
campos, foram os principais orquestradores de situações de confronto social
propício ao recrudescimento da violência entre negros e brancos, havendo a
apontar como
exemplo aigumas muiiesi-i tações pró-D. G. S. na cidáde da Beira e os massacres
do Inchope.
SITUAÇAO ACTUAL DOS AGENTES DA PIDE/DGS
Muito embora a referida transferência de funções, principalmente nas áreas
.operacionais tenha de levar, certo tempo, uma vez que as Forças Armadas estão a
organizar o P.I.M. (Policia de lnformação Militar) julga-se que por essa mesma
razao haveria mais possibilidade de não deixar
DI
escapar os licia politicc No entani imprensa di bique tem vários agei res têm
destacado aéreo do i da cidade de ter orde naquela ár «Tempo» bém terei fuga o i
Correia, o trão, o insp pes, figura das, nomea< renço Marq
PAÃGINA 13
SMONTA-SE LENTAMENTE
DAS FORCAS ARMADAS
Inspector António Vaz, ex-director-ger'al da PIDE/DGS. Foi visto ultimamente
em Joanesburgo. Passaira há tempos à ýreforma e trabalhava num emprega do Grupo Champalimaud, da qual se
demitiu.
agentes da po1,.
o, e conforme a ária de Moçamrindo a anunciar ntes e inspectofugido,. tendo-se a
fuga em táxi nspector Sabino, de Tete, acusado enado massacres sa.
constatou tomn-se posto em nspector Santos inspector Lonector Gomes Los
bem conheci:amente -em Louues.
O número de inspectores em Moçambique não ultrapassava as duas dezenas, não
nos ,tendo sido--informa4 do quantQs destes se encontram detidos. Conforme
pudemos constatar, as detenções dos elementos da PIDE/DGS são efectuadas
«conforme a gravidade da suspeita, que há sobre crimes cometidos». De Porto
Amélia e, por aquele motivo, já foram detidos e enviados para Lourenço
Marques sete pides, cujos nomes também não nos foram revelados. A população
de Moçambique, ínsciente de que enquanto estiverem agentes da D.G.S. na rua a sua
liberdade -se - encontra- ameaçada, interroga-se sobre a situação e das
responsabilidades das fugas já empreendidas ou a empreender por alguns daqueles
criminosos.
Por outro lado, no mistério das avenidas das cidades e vilas de Moçambique
milhares de informardores, cuja responsabilidade em alguns crimes é manifesta,
continuam na sombra protectora do anonimato, que só ..os próprios agentes
poderiam denunciar..
O LEIO AINDA NAO ESTA MORTOI
Este & o primeiro capítulo do nosso «dossier» sobre a famigerada , PIDE/DGS
em Moçambique. E s p e r a m o s. completá-lo com mais dois outros trabalhos,
que darão uma ideia da tenebrosa actuação daquela policia política nesta terra,
para que não subsistam dúvidas sobre o aspecto criminoso de toda aquela sinistra
organização policial fascista. A maior parte das torturas e crimes de morte são
ópia fiel do que a Gestapo e os SS hitleriana fartam
rAGINA 14
Inspector Gomes Lopes, visto por testemunhas oculares na Suazilândin e
actualmente ao que ~rece na Alemanha,.
nos campos de concentração nazis na Alemanha e nos paises ocupados durante a
H Grande GuerrL
A completar este primeiro capitulo do referido dossier 'inserimos uma cartadenúncia do ex-preso politico E. Ionwana, que nos alerta com nomes e factos
referentes & PIDE, e cujo titulo
«O leão ainda não está
a minha vida durante os
morto l» é por demais signi- três anos e um mês nas ficativo. Eis o teor da carta:
masmorras da tenebrosa Hoje, segunda-feira, vi-me PIDE/DGS. Posso afirmar
obrigado a traçar umas li- com a minha voz erguida nhetas para o jornal que
bem ao alto que durante
V. Ex.' dirige. Apoiado pe- o tempo acima citado vivi los meus companheiros de
maus e bons momentos.
Infância que me sugeriram Bons na medida em que comandar umas «lascas» no
nheci bons camaradas e,
jornal, relatando o que foi maus momentos em que conheci os chamados «olheitos» e «ouvidos» do chefe, que à mínima palavra
considerada antipatri6tica, corriam e denunciavm-nlos ao seu chefe. Meus
Senhores e Minhas Senhoras, a vida na
_Machava nao era um paraíso, mas sim um inferno na terra. lá o ffeu camarada de
reclusão o Manuel
33 DOS SOB o
ITES DETIDOS ACHAM-SE ... E[ DE PRISÃO DOMICILIARIA '
Inspector Sabino, que fUgiu de Tete num táxi aéreo, desconhecendo-se o
paradeiro. Estará na Rodésia? Este elemento é acusado de crimes hediondos
contra o povo
moç~mbicano.
dos Santos Pereira Van-Dúmem homem a quem rendo as minhas homenagens
frisou este ponto. Partindo do princípio que eu que traço estas linhas, fui preso
tinha 17 anos de idade, mas podem ter a certeza absoluta que não escapei à
tortura da palmatória, do
*chicote, de ajoelhar no pau com as mãos estendidas, devo frisar que não escapei
às bofetadas do senhor agente de 1.' classe Aires Moreira, jamais esquecerei os
socos que me foram dirigidos pelo guarda de raça negra o senhor Francisco
Langa, com o posto de guarda de 1.' classe dos
quadros da PIDE/DGS. Nunca.- mas nunca, esquecerei sehýýespancamentos que
nos etr dirigidos pelos' senhores agentes Barata, Simões, Tapadinha, Moreira e
pelos guardas Cardoso, Alves, conhecido pela alcunha de Marracuene, Carneiro,
Flora, Dinis e Mendes. Não esquecerei aquela figura chamada Ilidio dos Santos,
um Aires Moreira, um Semblano, este último que matou o Zacarias a sangue frio.
A «dieta» não é de perdoar, os 18 dias sem comer nem beber, não são dossier de
se arquivar, as algemas que me foram postas pelo guarda Alves quando eu ia
para o Hospital, doentinho de míorrer, não esquecerei!! O Subinspector
Gonçalves, secretário -do ex-inspector adjunto da PIDE/DGS Manuel dos Santos
Corieia, não esquecerei as suas «obras».
A comida racionada e mal feita, que até os cães da minha casa não comem, não é
problema, de se meter numa gaveta. A temível cela disciplinar onde o individuo
que lá entrava não sabia donde nascia o sol nem as horas do dia o -X» na porta da
cela, sinal de «dieta» por uns 15 dias são coisas para se meditar. Até me custa
acreditar que vivemos
dentro de uma era de Democracia. O negro moçambicano foi e continua a ser o
mais explorado da África. Não tenhamos dúvidas meus senhores, mas é clara,
foi obra dos salazaristas que ainda continuam à solta. Meus senhores, onde está a
democracia? Pergunto eu! Olhem, ainda ontem encontrei-me com o agente
Lemos, um dos yerdugos da tenebrosa PIDE/DGS, e, não me esqueço que foi ele
que esteve na origem da morte do Pastor Protestante Zedequias Manganhela. É
um ultraje e um atentado às nos sas consciências. Vejo-me na contingência de
declaPÁGINA 16
0$R OTRDS-ATE
QUANDO?
Em ima: Inspector Lontrãao, figura si2istra e muito conhecira tanto em Angela
como em, Moçsambique. Também se pôs em
fuga ,
Em baio: Gilberto Campos, outro elemento da PIDE/DGS. Não se sabe se se
encontra detido ou no estrangeiro.
rar que a Junta de Salvação Nacional ainda não contentou o povo do caniço, que
foi o mais visado pela repressão fascista e, também alguns europeus liberais,
inclusive os Democratas de Moçambique, visto os 'PIDES ainda continuarem à
solta. A prisão de todos os agentes, colaboradores e demais pessoas ligadas a este
tenebrosa organização, é urgente e impõe-se, para que não seja traído o povo de
Moçambique. Porque não houve nenhum elemento activo da DGS que não
tenha praticado crimes con-" tra a Humanidade, até o simples servente daquela
tenebrosa corpõração era um algoz. Lembram-se do Joaquim Piçarra Sabino, e
dos actos praticados por ele e pelos seus homens? Lembrem-se de que andam por
aí muitos Sabinos, muitos Santos Correias e é necessário que essa gentalha vá
visitar a Machava, o Tarra fal ou Caxias mas como hóspedes Petmanentes.
Afianço-vos. meus senhores de .que nunca haverá unidade racial, nem o velho
chavão do multirracialismo enquanto os PIDES continuarem ¿( solta, Podem ter
acerteza absoluta de que essa gentinha representa um perigo para uma sociedade.
democrática. O que eu e nós queremos não é a morte dos PIDES por fusilamento
nem julgamentoq em tribunais plenários ou administrativos, mas sim, um
julgameno em,. que os jurados sèjam: todosi quantos passaram pelas mãos
tenebrosas da PIDE/DGS. E, mesmo assim eles têm medo, fogem como cães
medrosos, come foi o caso do Inspector Sabino, de Tete, tão pesada é a sua
consciência que até têm medo do povo que disseram sempre defender. Mais
uma vez friso que quero que se faça uma justiça democrática que selam julgados
como seres humanos e tenham a possibilidade de se defenderem. Eu não tenho um
mínimo de ódio para com o «senhor» Aires
-Moreira, nem contra alguns «bufos» do Dionisio e AImeida que levaram eu e os
meus companheiros até ao Caxias de Moçambique, onde alguns dos meus
companheiros foram condenados a penas que iam de quatro a cinco anos de
prisão. t bom nãO, esquecer que um Dais democrático não se faz com ódio nem
vinqanças, mas sim com amor e carinho.
" wma
seguranca inabalaveL.
na base dumavida serena
Companhia de Seguros MUNDIAL E CONFIANCA DE MOcAMBIQUE
7moda nova!'
A moda ,Jeanscomeçou em Saint-Tropez e depois pegou!
Actualmente em França, Inglaterra, Jugosidvia, Hong-Kong e nas lojas Saks, na
Quinta Avenida, Atlanta, Beverly Hills, Boston ou Chicago, nos Estados Unidos,
os "Jeans'simples ou enfeitados
com bordados e dppliqués são a grande moda. 99W 9 Veja já, a classe da linha
welwitschia
Av. Antõnio Enes, 946 o pronto a vestir em L. Marques!
CAFRICA 74.25
Padre José Martens, superzor da Missão de Inhaminga. Nas rugas do seu rosto
jovem, todo o sofrimento dum povo. (Foto de Rui Pacheco).
MASSACRE EM MQÇ AMBIQUE "EU ~/i -o TEMROR, DE. INHAMINGA"
'Há centenas de Wiriamus em Moçambique e desde Janeiro a Mar-o oram
massacradas umas quinhentas pessoas em" Inhaminga. lso afirmou-nos o padre
José Martens, sdperior da Missão de Inhaninga, que se Viu obrigado a abandonar
a Africa para testemunhar o que viu e ouviu.
«Quinhentos é o meu cálculo- precisou - mas os negros falam de milhares». Saído
de lMloCambique em 26 de Abril, a sua voz ainda vem marcada pelos gritos dos
torturados, pelo medo de 35 mil pessoas fugidas para o mato, pelas dores que lhe
vincaram sulcos na face e toldaram o brilho dos olhos azuis.
Veio à Europa com uma missão: continuar a luta pela defesa dos direitos do seu
povo africano, agora já não nas escolas do mato mas nas redacções da Imprensa
mundial. Para quê? Para que se tome consciência dos abismos a que pode
conduzir uma guerra contra a libertação dos povos, criando circunstâncias de
sçlvajaria e de medo que levam as pessoas a ýcometer monstruosidades
inadmissíveis no seu estado, normal.
Culpados? Pois há èulpados, aqueles que são responsáveis nelas circunstâncias
em que o povo e os soldados se encontram. «Os soldados são os nossos soldados,diz-nos o padre Martens - rapazes normais com família que amam, noivas para
casar, juventude para viver. Todos nós temos culpa daquilo, como povo inteiro
que não evitou a guerra. O que é triste é que apenas meia dúzia de cristãos e
marxistas tenham conseguido ver isto a tempo. Os verdadeiros culpados dos
massacres sio Os exploradores do trabalho africano, os maniacos das glórias
pátrias, os bispos que sabiam e não quiseram falar, os brancos
que não querem perder pri-vilégios e também aqueles comandantes militares e
chefes de posto que, mal chegados a África, se julgam deusinhos èom direito de
vida e de morte sobre os negros. Os principais culpados não são os so1dadinhos
que executam ordens ou actuam debaixo do medo e do terror são os pides e todos
aqueles que actuam a frio.»
Apressou-se a declarar-nos o padre Martens que não o anima qualquer sentimento
anti-português. O que está em causa é a guerra colonial sustentada hoje pelos
potugueses, utilizando processOs semelhantes aos que foram utilizados pelos
holandeses na guera da Indonésia.
AC)ÇAO PSICOLÓGICA
DA FRELIMO
Os primeiros ataques em força da Frelimo ao quartel de Inhaminga deram-se em
23 de Janeiro, mas já nesse mês vários comboios da Trans-Zambezia R a i 1 w
a y s (TZR) tinham sido atingidos e, desde fins de Julho,, diversas acções armadas
haviam sido conduzidas pelos guerrilheiros contra 'objectivos estratégicos. As
prisões e torturas foram a resposta sobre a população. Mas a Frelimo já estava na
zona desde os fins de 1970, num persistente trabalho de mentalização. Pelo menos
desde que, nesta data, o Governo fez conhecer o projecto de alargamento do
Parque da Gorongosa, o que implicaria o desalojamento compulsivo de muitas
aldeias de africanos. Militantes da FreHmo, alguns deles ori dos desta região,
infiltraram-se entre os descontentes explorando a sua revolta. E assim a revolta
alastrou do Parque da Gorongosa para o Norte, até à linha férrea internacional da
Trans.Zambezia Railways, onde se situa o
PÁGINA 20
centro ferroviário de Inhaminga, vila com uma popula.
ção de oito mil africanos e 1100 europeus, num concelho com cerca de 45 mil
habitantes.
O missionário descreve-nos
os métodos psicológicos da Frelimo para cativar o povo, de resto facilitados,
porque -diz-nos-a Frelimo é do povo, é o próprio povo. Há episódios desta
táctica psicológica realmente interessan.
tes. Outro missionário contou-nos alguns.
Um dia entraram dois mo.
ços na loja duma aldeia do mato e, enquanto o empregado, negro lhes servia duas
cervejas, travou-se este simpies diálogo:
-Olá, sabes o que é a Fre. limo?
¥.-$A ouvi mais ou menos,
mas não sei bem.-respondeu o moço.
-Olha, a Frelimo somos
nós! E agora vai dizer ao teu patrão que a Frelimo passou
aquil
Dito isto, sumiram-se no
mato, mas na mesma tarde já toda a gente sabia que a Frelimo estava na aldeia e
todos os brancos da zona começaram a tremer.
A outra história pode não
ser tão objectiva mas os ne.
gros contam-na já como uma «legenda» reveladora do prestigio da Frelimo. Um
dia, perto de Inhaminga, os guer.
rilheiros montaram uma em.
boscada num sitio muito aper.
tado. Passou um camião cheio de tropa e logo trinta frelimos cercaram o camião,
de metralhadora em punho. Tão rápida foi a operação que os soldados nem
tiveram possibilidade de saltar do camião e ficaram gelados de medo, enquanto, o
motorista, desesperadamente, tentava uma manobra impossível para fazer marchaatrás Foi então que os frelimos, sem disparar um tiro, desataram a rir e deixaram
Os soldados em paz.
Mais tarde explicaram a história pelas aldeias. «N6s que.
ríamos provar-lhes - diziam eles- que podemos dominar Moçambique Inteiro e
que até somos capazes de nos dominarmos a nós». Verdadeira ou não, é assim que
Os negros contam a' façanha, para maior prestigio dos guerrilheiros.
Ao fim de três anos de
mentalização política e reivin.
dicativa, toda a zona de Inha.
minga está completamente infiltrada pela Frelimo, a qual se apresenta ao povo
como um movimento de libertação.
CONDIÇÕES
DE EXPLORAÇÃO
As condições de exploração
dos africanos eram terreno fácil para os militantes da
Frelimo e, por isso, o sucesso do movimento estava há muito assegurado. Os 400
quilómetros de linha férrea da TZR foram construídos com sangue negro, há
cinquenta anos. Os salários dos trabalhadores das serraões e da TZR não
passavam de 180$00 por mês, antes da eclosão da guerra. Nas serrações de
Cheringoma, uma das zonas mais ricas em toda a Africa em madeiras preciosas,
os negros trabalhavam, vestidos com um saco enfiado, e partiam das aldeias às 4
horas da manhã em camiões apinhados. O imposto de palhota era de 290$00 por
ano, sob pena de trabalho forçado para os que se desleixassem no pagamento.
Embora suspenso o trabalho forçado em 1961, a verdade é que os administradores
continuam a usar de todas as arbitrariedades para arregimentarem trabalhadores, à
custa de uma comissão paga pelos fazendeiros e donos das serrações. O
missionário contou-nos, a este respeito, uma histõria recente:
Há duas semanas, apresentaram-se à porta do posto dois moços africanos pedindo
certidão de nascimento para tirarem o bilhete de identidade. Mas como não
tinham em dia o pagamento do imposto de domicilio (cerca de 300$00), o chefe
de posto mandou-os trabalhar para aserração. Com todo o requinte acrescentou:
«Já agora, primeiro que tudo, vocês vão ali encher-me o tanque de água!». E os
rapazes não tiveram outro remédio, mas pode-se imaginar a revolta que sentiram!
Não longe de Inhaminga, a Sena Sugar arregimentou 30 mil negros para
trabalharem nas plantações do açúcar, em circunstâncias tais que, durante o ano
de 1973 e apesar da repressão, os trabalhadores desencadearam quatro greves
importantes. Os de Inhaminga não foram arregimentados desta feita, mas
estavams sujeitos ao mesmo. Os negros nunca esquecerão terem sido espoliados
das terras que os missionários ensinaram a cultivar (a partir de 1957). Depois das
terras preparadas, os brancos Iam á administração e conseguiam facilmente dois
ou três mil hectares, abrangendo terras já arroteadas pelos negros. (Grande parte
destes negros eram empregados da TZR que tinham fora da vila as suas pequenas
plantações).
A FRELIMO
E OS BRANCOS
Nestas circunstâncias, foi fácil à Frelimo apresentar-se çomo libertadora da
opressão. Todo o trabalho político precede a acção armada, e esta só se revela quando a população se mentalizou. Os
próprios negros dizem que a Frelimo ainda não fez ir pelos ares os cabos
eléctricos e as condutas de água da cidade da Beira porque não tem pressa nem
preparou ainda a população negra.
De resto- insistem os homens da Frelimo- há. em Moçambique muitos brancos
que não terão de sair, porque não são culpados dos crimes contra os negros. Mas
os pides, os patrões das serrações, Os bispos comprometidos, os fazendeiro5
exploradores e toda a gente que roubou não tem outra coisa a fazer senão partir.
Os militantes da Frelimo dizem assim ao povo: «Moçambique é grande e tem
riqueza para todos, os brancos não prec. sam de sair, mas nós fare. mos a
escolha».
A escolha já começou: salvo alguns enganos (como a morte daquele maquinista
do comboio da Beira, cuja mor. te consternou os negros de Inhaminga) os
atentados dos guerrilheiros atingiram apenas os brancos exploradores, os
denunciantes, os que têm amantes negras e mesmo alguns régulós que, depois de
avisados, persistem em colaborar com as tropas portuguesas. E o missionário
comenta: se os brancos fossem tão lúeidos .como -os africa. nos, se tratassem os
negros como estes são capazes de tratar os brancos, não haveria problemas,
porque este povo é amigo dos brancos que o respeitam, sente-os como gente sua,
não olha para a cor da pele.
Sorriem-se com os desmandos dos brancos, como um adulto sorri de uma criança
que faz disparates. «Mzungo não pensa» (o branco não pensa) dizem, abanando
a cabeça com pena. Mas eles sabem muito bem quem são os «Jorges Jardins»comentou o missionário.
AS TORTURAS
Os -sofrimentos da populaçâo de Inhaminga começaram no final de Julho de
1973, como em pormenor se descreve no relatório dos missionários.
O padre Martens recorda: eu vi o terror de Inhaminga. Era a varrer nas lojas, nas
aldelas. Era a Pide, eram os soldados, eram as milícias, eram os cípaios. As duas
prisões foram-se enchendo de suspeitos, mas a Pide não conseguiu prender um
único guerrilheiro porque o povo nunca os denuncia nem mesmo debaixo de
tortura. Nos últimos dias de Dezembro, é preso o régulo Pangacha, surpreendido co m elementos suspeitos. É um chefe nativo de 45 anos
muito estimado em toda a região. Foi levado para o quartel de Inhaminga mas a
Frelimo quis ilbertá-lo desencadeando o primeiro ataque em força às instalações
militares, depois de ter enviado ao comandante um ultimato escrito em .portugués,
inglês e chissena .(a língua nativa). Durante o ataque, os soldados fizeram fogo
sobre a prisão, morrem alguns presos mas Pangacha nada sofreu. Continua sob
vigilância apertada, sua filha Sebastiana, jovem cristã recém-casada, que vem ao
quartel trazer-lhe co. mida. Em 6 de Março, são abatidos pela Pide cinco
suspeitos da Frelimo durante uma festa organizada por um cabo-verdiano
desertor do PAIGC que
se instalara como colabora-dor da Pide entre os traba. lhadores de uma serração.
Entre os mortos estão dois filhos de Pangacha,. que este se negou a reconhecer.
Sebastiana, chamada depois e não sabendo da recusa do pai identifica os
cadáveres dos Irmãos A morta, ao lado do pai, que entretanto fica ferido e é
sepultado vivo. Não conseguindo p i s t a s através dos adultos tortura. dos, a
ýPide prende crianças de sete e oito anos que também são torturadas e fornecem
Indicações. Um dos métodos de tortura baseia-se sela-se em choque eléctricos
aplicados nos ouvidos e nou. tros pontos sensíveis com uma máquina inventada
pelo caça. dor Faria, conhecido como informuador da Pide. Mas em muitos casos,
reforça-se mes. mo a resistência dos tortura. dos, para quem a morte é semente de
libertação do povo inteiro. Um rapaz de 14 anos, liberto depois das tor. turas disse-nos o padre como exemplo - chega à al. deia e declara: «agora nunca mais
tenho' medo dos mzungos».
Por, seu lado, a população branca estimulada pelas recentes manifestações da
Beira, pressiona as autoridades a toJ mar medidas cada vez mais drásticas: exigem
a expulsão dos padres, blindagem dos comboios, helicópteros para
acompanharem ai formações ferroviárias, limpeza da zona. O pessoal branco da
TZR entra em greve, a população é compelida a residir na vila sem poder sair para
as plantações.
Fora dos limites da vila, fugidos no mato estão mais de 35 mil negros e tudo o que
mexe é abatido (são ordens oficiais). Mas também nos disse o padre Martens que
toda a gente simpatiza
com a Freilmo, que as aldeias estão todas minadas pela sua mentalizaç-o, até ao
Dondo, a 30 km da Beira. Impressionante aparelho militar e de repressão policial
(mais de 1500 homens), mas o que os negros mais temem é a população branca.
O ESPIRITO
DOS MISSIONÁRIOS Finalmente em 19 de Mar. ço, os missionários retiram,
como já tinham feito sessenta padres da Beira, 11 de Nampula, 30 de Tete, e ante.
cipando-se a outras equipas missionãrias que se preparam para sair de
Moçambique. Porquê? Porque são amigos dos negros e por isso suspeitos das
autoridades, porque estas os isolam do povo, porque não querem
mais sujeitar-se aos compromissos impostos por um sistema de missionação
apoiado no colonialimo do Acordo Missionário. Voltarão um dia? O padre
Martens não duvida, mas adianta que o missionário já não volla a ser o que foi até
agora, há toda uma reformulação, a fazer do papel da igreja ,-na sociedade nova
de Moçambique. «Há excepções, deixámos lã alguns amigos» diz-nos o padre
Martens.
E os brancos? Sairão os culpados, os que fingiram patriotismo para disfarçarem a
vóntade de não perder a vida que levavam «Os chica. cas» peles de tambor) assim
chamados pelos negros que não lhes reconhecem mais valor do que uma pele
seca.
Ainda sobre os massacres. Valerá a pena divulgar factos tão repugnantes? O
missio, nário não hesita agora, É precisoque se saiba até onde, pode descer o
«bicho-ho. mem», para que compreendam os seus excessos e a repulsa que estes
provocam nos oprimidos. Para que se acabe a guerra quanto antes e se faça tudo
para evitar condições de guerra que levam as pessoas a descer abaixo das feras
do mato.
Uma última palavra de compreensão: Vai ser preciso muito tempo e muito
esforço dos portugueses para recuperar os soldados- intervenientes nos massacres.
É um trabalho que Portugal tem de começar imediatamente, colhendo a lição de
outra guerras coloniais. E
contou-nos que os psiquiatas holandeses detectam ago. ra, entre os antigos
combaentes da guerra da Indonésia, traumatismos psíquicos graves provocados
pelo medo no mato e pelas atroci. dades então cometidas.
Também nós -aqui lança. mos, mais uma vez, este grito de alarme: Quando é que
esta guerra acaba? Quando é que se vislumbra uma saida para negociações e
cessar-fogo? Ainda que se saiba que outros problemas políticos, relacionados com
a pró. pria independência dos ne. gros, talvez obriguem a manter em Africa forças
de segurança portuguesas aliadas aos movimentos de liberta.cão.
a força crescer
duma técnica jc
impulsionadora.
Estruturas Metálicas Carroçarias Caixilharia Metálica Grades e Poitões Perfis
Metálicos Tectos Falsos ~Casas Pré-fabricadas Serralharia Civil Reservatórios
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Telefone,733360 Lourenço Marques-Moçambique
PÁGINA 2.
IGUALDADE
DE DIREITOS AOS DOS COLEGAS DO ENSINO OFICIAL
- reivindicam centenas de estudantes do ensino
particular em manifestação ordeira
«Queremos a oficializaçao do ensino particular com os mesmos direitos do ensino
oficial» - reivindicaram, e reivindicam, centenas de alunos dos colégios do
ensino particular, concentrando-se frente aos edi'fcios dos órgãos da Informação
para «darem conhecimento público da sua legitima aspIração».
A concentração, ocorrida na tarde de 31 de Maio passado, teve início frente ao
Rádio Clube de Moçam'bique, onde várias dezenas de estudantes se reuniram em
ambiente ordeiro mas exultante', («Os colégios, unidos, jamais ser&o vencidoei") ostentando diversos cartazes com os seguintes
dizeres: «Pedimos a oficializaçáo, queremos a igualdade». .Igualdade de direitos,
queremos justiça». «Queremos os mesmos direitos», «Justiça para todos: também
temos direitos» e «Por um ensino livre».
Dois elementos da comissão composta para estabelecer diálogo com os
representantes dos órgãos da Informação revelaram-nos que depois de várias e
inúteis tentativas no sentido de conseguirem que as suas rei~ vindicações fossem
atendidas, resolveram con entrar-se para, publica e manifestarem a sua' disò,dância
sobre a injustiça e a desigualdade de que enferma a sua situqção docente.
Soubemos ainda que uma outra comissão apresentou, há dias, o problema ao
Secretário Provincial de Educação - nomeado pelo antigo regime - que, em
virtúde do «actual momento». não soube ou não quis dar andamento à petição que
lhe foi entregue pelos alunos do ensino particular: «O Secretário Provincial de
Educação não sabe o que há-de fazer. Assim, vai «acumulcmdo» * tudo, enquanto nós vamos continuando à esper,-..», afirmaram-nos,
alguns jovens. estudantes.
A, comissão eleita para representar os estudantes do ensino particular entregou
pessoalmente no Rádio Clube de Moçambique é nas Redacções dos jornais, o
texto da petição onde são apresentadas as suas ý'eivindicações.
O TEXTO DA PETIÇAO DOS ALUNOS
DO ENSINO PARTICULAR É o seguinte o texto da petição dos alunos do
ensino particular:
«Os alunos do ensino particular pretende- pacífica e ordeiramente, apresentar
alguns pontos que, injustamente, -os diferenciam dos seus colegas do ensino
oficial o oficializado.
Assim, chamam a atenção de quem de direito para o seguinte:
1. Qualquer que seja a média final que tenham obtido nos seus -estudos, ver-se-ao
obrigados à prestação de exames, enquanto que cs seus colegas do ensino oficial e
oficializado serão dispensados dos mesmos exames, bastando-lhes, para isso, ter
média final de 12 valores no quinto ano.
2. Sabe-se que no ensino particular as turmas são menores, pelo que o rendimento
-obtido será, evidentemente, maior do que o do ensino oficial.
3. Por outro lado, muitos alunos vêem-se obrigados a recorrer ao ensino particular
em virtude de no oficial não haver vagas.
4. Nas provas orais, enquanto os alunos internos são examinados pelos seus
professores e no seu p6prio ambiente, s do ensino particular prestam provas
perante jurio que inteiramente desconhecem a capacidade do aluno, pelo que
muitas ves* bons alunos são reprovados.
S. Também acontece habitualmente que, no d corre' das provas escritas. kalu. nos
do ensino oficial declarani que o professor não ensinou a matéria relativa a certas
perguntas - não respondem, mas a cotação 4 considerada por completo. 40 ouno
do ensino particu3w pxige-ase-lhe o conhecimento inteiro do todos os programas.
6. Outro ponto importante é o de os alunos do ensino oficial terem ensino
praticamente gratuito. an passo que os do ensino particular se vêem obrigados ao
pa. gamento de uma elevadIa mensalidade.
Assim, pedem que a sua situaçao seja revista e que beneficiem dos mesmos
di,reitos dos seus colegas do ensino oficial.,
Também s alunos maiores que frequentam escolas particulares desejam ser
abrangidos pelas mesmas regalias, desde que apresentem prova de ter
frequentado o ensino particular durante o ano lectivo.» A petição é subscrita por
dezenas de assinaturas.
UMA OUTRA PETIÇAO
Embora a margem, de certo modo apenas, com as reivindicações acima
transcritas, mas no fundo correlacionadas, foi-nos entregue, por vários alunos
presentes
-naquela concentraçao, um outro texto, referindo diversos pontos «que reputamos
profundamente injustos e para os quais pedimos a atenção das entidades
competopt -',no sentido d ep~
c-eder «&r urgente ~unirfzação dos colégios». Eis a seguir, os mencionados
pontos:
-1. O facto de os alunos
dos colégios bem organizados serem, muitas' vezes, mais intensamente
preparados do que os pr6prios alunos do ensino oficial.
2. A situação clararneaite
injusta dos alunos dos eolgios impedidos de oficialização por, nas localidades correspondentes, existirem
escolas ou liceus oficiais. Caso concreto: os alunos de colégios da Namaacha
isentam-se de exames; os- de Lorenço Marques - a 78 quilómetros... - têm de se
submeter a exames.
3. O risco de os alunos que as circunstancias forcem a recorer ao i ensino
particular não encontrarem, de futuro, nesta modalidade, a necessária segurança.
pois tais desigualdades abalam a estrutura económica dos colégios, já de si sem
qualquer protecção, pela fuga para o ensino .oficial ou oficidalizado.
4. Os problemas que resultam para o Estado pelo afluxo de alunos ao ensino
oficial ou oficializado, dada a carência de-professores. instalações e estruturas que
não podem rapidamente firmar-se, Mas apenas improvisar-se.
5. No caso particular do Ultramar tais problemas são de maior acuidade, pois a e
i a de um eficiente ensno a rticular permite «espaços agos» no ensino oficial
e- a consequente abertura aos estudantes das elaçses economicamente dêbeis'»'
QUASL A MARGEM
Problema de capital importância, o ensino - oficial e particular- terá de ser
totalmente reformado e reestruturado, de forma a evitarem-se - e futuramente
imppedirem-se - injustiças táo
flagrantes como as apresentadas pelos alunos do ensino particular. essa, de resto,
a preocupação dominante do actUal Ministro da Educação do Governo
Provisório.
Entretanto, e como, ao que saibamos, no ensino moçambicano não foram ainda
introduzidas quaisquer medidas tendentes a coarctarem os resquícios fascistas que
por lá continuam a circular livremente, espalhando a confusão e revoltando os
espíritos, temos conhecimento de que nos diversos estabelecimentos de ensino da
capital e provavelmente de Moçambique - certos professores, aproveitando-se da
sua posição de «mestres», estão a minar, com -palavrinhas mansas», o espírito da
Revolução de 25 de -Abril, fazendo uso da sua experiência demag6gica, durante
largo anos ao serviço do fascismo, deformando em vez de formar a mentalidade
de milhares e milhares de jovens.
Neste sentido, daqui apelamos para os representan' tes em Moçambiéiue do
Movimento das Forças Armadas e da Junta de Salvação Nacional, a fim de
tomarem uma rápida e enérgica posição face as manobras contrarrevolucionárias
e perigosamente reaccionárias de vários professores, tanto mais graves por
estarem a envolver a juventude, futura responsável pelos caminhos da liberdade
finalmente ao alcance de todos.
ROBERTO CORDEIRO
'C'H ISSA NO
UM homem que .quer a verdade
"CONTINDO A APOIAR A
FRELIMO"
Quem fez esta escultura avó? Perguntará
assustado um menino negro que ainda não nasceu e que não sentirá já a guerra, a
fome e a opressão. Foi um artista do povo chamado CHIISSANO que lutou para
também nos dar a Liberdade. Um homem valente, puro e bom. A sua maior arma
eram as obras que lhe sairam das mãos. Coisas
terríveis que feriram os olhos do Mundo.
Por um insondável capricho d1o Destino a 2.1 exposição das obras de Chissano,
em Lisboa, seria inaugurada a 25 de Abril. O artista-combatente encontrou nessa
manhã na rua a expressão máxima de um Povo conquistando a Li. ''rdade. Com
ele tivemos uma longa conversa da qual extraímos sobretudo, para os nossos
leitores, as suas declarações.
Colhido de surpresa em Lisboa, Chiss*no foi testemu. nha ocular dos
acontecimentos. Perguntámos-lhe a que horas se deu conta do levantamento
militar? «Eu vou-te explicar tudo. Eu estava em casa de uma amiga e tocou o
telefone ás 4.30 da madrugada. Ela correu e atendeu o telefone. Disseram-lhe: houve uma revolução
aqui em Portugal. E pôs o auscultador perto do rádio que estava a transmitir a
noticia. Eu procurei ter calma e aguardei. As 9 saí de casa para ir preparar a
exposição que se inaugurava nesse dia. Mas não pude lá chegar porque aquela
zona estava cercada pela tropa. Voltei a casa mas sal logo. Andei a assistir e a ver
tudo. * vontade, sem problemas. Assisti no Carmo à entrega do Marcelo
Caetano. Há noite regressei a casa e no dia seguinte continuei a ver tudo que se
passava.»
Do que sentiu fazendo parte de um Povo que derrubou o fascismo disse-nos: «Eu, dou um grande abraço aos
Portugueses. Fiquei muito satisfeito porque vi a grande alegria deles. Quando
digo os meus irmãos, não é de cor é de sangue.» E acrescenta: «Ê que da primeira
vez que cá estive pensava que o Povo andava alegre. Afinal eu es. tava enganado.
Agora é que sei que a partir do dia 25 é que estão muito alegres. O meu desejo é
continuar a ser bom. Não nos esquecemos que era capaz de a gente estar com
grande alegria. Se há «um milhão» que está alegre há «outro milhão» que não está
alegre. O meu agrado era que «os dois milhões» estivessem alegres. É isso que eu
apoio.»
Sobre o futuro de um Mo. çambique novo, Chissano dei. xa.nos a sua opinião: «2
pái,
vou.te dizer uma coisa. Não vais desconfiar nada de mim. Segundo, pede desculpa
para a gente nesta fase de Moçambique. Eu sou um que olha Moçambique com
muito cuidado. Se há 24 africanos que olham muito Moçambique em pura união,
comigo são 25. Eu posso ler o jornal, ouvir a rádio e as pes soas, ver a televisão,
tud. Eu sou uma pessoa que ama a verdade e enquanto eu não chegar lá no dia 19
eu não posso dizer a verdade daquilo que sinto Mas há uma coisa que te vou
dizer. Eu continua a apoiar a FRELIMO. A FRELIMO tem que fazer como o
Spinola fez. Depois se resolve pá. Há brancos, há chineses, há mulatos, há pretos.
Porque não é só o br~lico que pode Ir embora. HÁ muitos pretos que hão-de' ir
presos. Pelos crimes que também fizeram.»
Quisemos saber se tinha já alguma linha de acção eng!obando outros camaradas
artistas: «Nunca tive unidade em reuniões. Eu tenho reuniões na rua, sózinho,
ouvindo as pessoas. Como se entendem, como se tratam. Para mim é suficiente
Dizer que vou fazer, que vou prometer, que vou arranjar, isso para mim não é
nada.» E referindo-se aos recentes partidos políticos em Moçambi que. «Aqueles
que estão fazendo agora aqueles movimentos para a independência não são eles
que hão-de tomar o poder. É mentira. Esses são oportunistas. Mas se isso
acontecesse eu era capaz nessa altura de arranjar o meu partido. Eu não quero
ser membro do Governo. Eu não quero nada: Eu quero é trabalhar a minha arte,
livre, alegre, mais nada. Não quero ser polícia, nem orde.
nança, nada. Quero a verdade.» Mais adiante, «0 que é que tu sentias se eu che.
gasse a tua casa e me desses cama, lençóis, mesa, comida, tudo e passado
algum.tempo eu te dissesse que também mandava lá em casa. Ficavas satisfeito?
Eu não digo que os brancos que lá estão têm que ir embora. Têm os seus
negócios. Se houver algum capaz de ser ministro pode ser. Mas não é eles
dizerem que são naturais de lá. É uma coisa à força, estás a compreender. Por isso
apoio a guerra se não houver acor. do. Pode a gente acabar séculos de anos. Eu
ofereço o meu filho também para lu. tar na FRELIMO. Temos é que chegar. a
acordo, entendes. Se é uma coisa á força então vamos, pronto. Moçamýique
precisa dos brancos. Mas muitos moçambicanos não precisam daqueles brancos que roubaram 'os meus bisavós, os meus avós, os meus, pais e eu que ainda
sou roubado.» E nota o facto de ra altura de regressar a Moçambique ter de
apresen. tar 30 contos em escudos europeus tendo ou não vendido as suas obras.
Caso contrário implica prisão. E como até à data devido ao retraimento provocado
pelos acontecimentos pouco vendeu, está na contingência de ter que pagar novo
transporte das peças para Lourenço Marques. Dissemos-lhe que neste momento as
coisas se modificaram e que por certo agora não será assim. Retorquiu: «Ainda
tenho o golpe das feridas. Enquanto não chegar a Moçambique não posso dizer
que está como Portugal.»
LUIS FILIPE BATISTA
de Luís Filipe Batista
Na hora em que um Portugal ressuscitado se lança na construço 'das bases para
uma verdadeira democracia, no momento em que milhões de Portugueses
identificados com o Movimento das Forças Armadas desmantelam os últimos
redutos do poder fascista existem ainda sobretudo em Africa grupos reaccionários
que tentam perigosamente desvirtuar o espirito do Programa apresentado pela
Junta de Salvação Nacional. E é pena que assim seja porque o sangue inútil não
vai torna, irreversível o direito do Povo à Liberdade. O Povo recebeu-o no dia 25
de Abril. O Povo conquistou-o ine. quivocamente no 1.o de Maio.
As noticias chegadas a Lisboa da «azáfama» política em Moçambique provocam
certas apreensões. É natural que certo sector da minoria branca juntamente com
um número reduzido de negros e mestiços se sinta logicamente ameaçado na
viragem para um novo tipo de vida. Mas que o pânico esconda a verdade e se
refugie em posições que só irão agravar uma solução que se pretende justa, isso
não. O Povo Livre saberá escolher o seu caminho. Mesmo com a lucidez ,ue
longos decénios procuraram distorcer.
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INTEIR ADAPT.
*A MORTE DE AMILCAR CABRAL
DOSSIER
gI8SSRUl
- 2:
A opíressão, a violência, a necessidade de resistir pela luta armada, a guerra, o
sangue e d morte quotidiana dão lugar ao diálogo: as negociações de paz entre o
Governo -Português e o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo
Verde (PAIGC) prosseguem em Londres, Pela primeira vez em muitos séculos
de uma hist6ria comum, dois povos podem finalmente, olhar-se de frente e,
partindo de um
DOSSIER APRESENTADO CARLOS ALEXANDRE
desejo de paz desde sempre partilhado por ambos, iniciam a construção de um
futuro mais justo e mais digno. Para o povo guineense isto é o culminar de 13
anos de esforços no sentido de ver reconhecido o seu inálienável direito à
independência e :à autodeterminação. Por isso se bateu sem esmorecer desde 3
de Agosto de 1961. Para o povo português o entabular desse dilogo foi mais um
passo em direcção
E COLIGIDO POR
'5
w
PÁI A O
Depois da tomada do campo «Guiledje» pelas forças do PAIGC, um soldado
iça umu bandeira com as cores do Partido >%nto ao momnumento
aos mortos portugueses, sobre ,o qual foi colocado um retrato do líder assassinado
do PAIGC, Amílcar Cabral.
à concretização dos objectivos de democracia e liberdade que soube conquistar e
consolidar a partir de 25 de Abril de 1974. Conversaç6es que tudo indica serão
encetadas em breve com os movimentos de libertação de Angola e Moçambique,
constituirão, com essa finalidade, outras importantes etapas. Só então, em toda a
acepção da palavra, sé poderá falar num povo português prestes a ser livte. Na
verdade, um povo que oprime, um povo submetido a uma estrutura de domínio
colonialista que oprime outros povos, não é nem pode ser um povo livre. Acabado
o fascismo é ainda necessário destruir o colonialismo.
RECORDANDO AMILCAR CABRAL «Quando Marcello Casta.. no tomou o
poder de Sala&ar, ele poderia ter terminado com as guerras coloniais mas não o
quis fazer. Estamos certos que esta missão será levada a cabo pelo povo portuguas
pelos seus trabalhadores e camponeses. pelos seus jovens, pelos seus intelectuais
progressistas e anticolonialistas. de facto por todos aqueles que verdadeiramente
amam e respeitam Portugal e que sabem que lutar contra a guerra colonial
significa salvar Portugal do sofimento, da ruína e do perigo de perder a sua
independincia que a guerra constitui..
agora mais do que nunca começamos a compreender, foi um dos mais destaca.dos
heróis da luta de libertação de Guiné-Bissau. Seu nome era Amilcar Cabral e a
sua obra, de uma lucidez e verdade a que não estávamos habituados em
português, constitui não só um decisivo instrumento de luta para todos os povos
subdesenvolvidos do mundo, como um dos mais importantes contributos à teoria
política contemporânea. Podemos estar certos que a sua memória e a verdade
revolu"cionária das suas análises teóricas profundamente enraizadas na prática
estarão muito concretamente presentes nas conversações que agora serão ,
iniciadas em
Londres. Recordar agora seu nome é um imperat de justiça. Lembrar os t mos em
que ele tão lucic mente equacionou o sig ficado terrível e desgaslaý da guerra
colonialista que Portugal se envolveu longo da última década t a importância de
um av que não pode nem deve ignorado por ninguém.
É também "por isso c TEMPO hoje reabre, c documentos inéditos na prensa de
língua portug sa, o longo processo da morte na noite de 21 Janeiro dê 1973. Trata
com efeito, de um assa nato a que não foi all a PIDE/DGS mas que ,m
concretamente foi caus por um colonialismo
PAGINA 31
sentia cada vez mais em perigo o seu domínio. Acrescente-se que com Amilcor
Cabral não morreu a distinção que ele e o seu povo em armas sempre souberam
estabelecer entre o governo colonial fascista de Salazar-Caetano e um Portugal
oprimido e amordaçado. E é esta certeza, sublinhada pelo facto de a GuinéBissau se ter já declarado como república independente - reconhecida
oficialmente por grande número de países e organiações internacionais - que
estão- talvez na base das razões que tão prontamente levaram os dirigentes do
PAIGC, em representação do povo guineense, a aceitar o convite para
negociações que um novo e consciente Governo Português formulou logo após ter
assumido o poder.
Paralelamente ao dossier sobre a morte de Amilcar Cabral, incluimos excertos do
relatório da famosa visita da Missão Especial da Organização das Nações Unidas
à Guiné, em Abril de 1972. Trata-se de um documento oficial daquela
organização agora igualmente pela primeira vez publicado na imprensa -de língua
portuguesa.
O «COMPLOT» CONTRA AMILCAR CABRAL
Após a morte de Amilcar Cabral, o quinzenário Afrique-Asie foi o único jornal
internacional autorizado pela Guiné ti proceder a um inquérito local sobre o
conjunto de circunstâncias e as peripécias que culminaram com aquele crime. Em
Conakri, um dos seus enviados especiais, Aquino de Bragança, viveu durante
três semanas com os dirigentes do PAIGC então reunildos com os comandantes
do interior e seguiu de perto os trabalhos da comissão de inquérito preliminar
durante a qual foram interrogadas 465 pessoas. Quarenta ,e três destas pessoas
foram acusadas de participaçãao activa; nove foram acusadas de complicidade; e
42 consideradas como suspeitas. Eis o relato dos acontecimentos conforme feito
por Aquino de Bragança na edição de 19/2/73 de Afrique Asie:
A 15 de Janeiro último, Amilcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC, voltava a
Conakry vindo de Accra, onde tinha assistido a uma reunião do Comité de
Libertação da O.U.A.
Graças à ajuda fraterna do -Partido e do Governo da Guiné (Conakry), os.
combatentes do P.A.I.G.C. dispõem livremente de uma base na Guiné, -com
serviços, residências e facilidades portuárias para a sua frota.
Nesse dia porém, chegando a Conakry, Cabral constata com surpresa que um dos
navios do P.A.I.G.C. que deveria fazer rota para Guiné-Bissau com um
carregamentõ de -armas para as regiões libertadas, se encontra ainda no seu
ancoradouro. Convoca o comandante Joaquim da Costa, que deveria comandar a
vedeta.
«- Por que razão .não executaste as directivas do Conselho de Guerra?»
pergunta-lhe Cabral.
«- Os motores não estão em condições» - responde J. da Costa.
«- Não percamos tempo»
- diz o secretário-geral «Os comandantes do interior esperam por estas armas
para desencadeaíqm uma ofensiva decisiva.»
Na realidade a acção traidora estava já iniciada.
Da Costa fazia parte do «complot». Esperava directivas do seu cúmplice
Inocêncio Kany, outro comandante de vedeta. J. da Costa já sabia qual iria ser a
sua missão.
Com efeito, em princípios de 1973, que segundo os colonialistas portugueses seria
um ano decisivo, já todos os dados estavam lançados.
A D.G.S./P.I.D.E. tinha, há já alguns anos, começado a trabalhar no sentido de
engajar agentes guineenses e introduzi-los no movimento de resistência.
Aventureiros, prisioneiros recuperados, antigos militantes fatigados e
descontentes... 'Sem dúvida, eles não so numerosos em" relação à massa de
bombatentes e seus quadros. O que é grave, é que alguns tinham ascendido a
postos essenciais, a responsabilidades importantes. O que é ainda mais grave é que eles tinham conseguido iludir a
confiança da Direcção do Partido e do seu Secretário-Geral.
FARÓIS NA NOITE
Na tarde, desse sábado de 20 de Janeiro, Joaquim Chissano, membro do Comité
Executivo da Frelimo, de passagem em Conakry, dava uma conferência na Escola
de Quadros do PAIGC. Naturalmente este acontecimento iria reter ao anoitecer
um grande número de militantes e responsáveis.
Cabral, entretanto não poderia estar lá. Assistia com a esposa a uma recepção na
Embaixada da Polónia. 'Aíistides Pereira, seu adjunto, também não estava na
conferência. Ficara no seu gabinete onde esperava o regresso de Cabral, previsto
para as 23 horas. Foi pouco antes desta hora que Cabral acompanhado da
esposa, Ana Maria, deixou a embaixada da Polónia, ao volante *do Volkswagen
que ele próprio conduzia.
O .militante africano estava particularmente calmo, essa noite. Os últimos
comunicados das frentes interiores confirmavam que as tropas do PAIGC
conservavam a iniciativa dos combates. As recentes modificações efectuadas na
estrutura da Direcção do Partido pelo Comité Executivo da luta, reunido em Boké
(Guiné Conakry), iriam permitir que se desse um novo impulso à ofensiva. A
última reunião 'da O.U.A. tinha s'do favorável aos combatntes guineenses. E,
sobretudo, a Assembleia Popular que acabava de ser eleita nas zonas libertadas
iria proclamar a sua soberania na Guiné, Numerosos Estados ,'africanos e não
africanos tinham prometido um reconhecimento, imediato. A estrada de Ratoma
está tranquila e o Volkswaqen avança na noite. A residência já está à vista. Mas
repentinamente, o condutor é atingido pelos faróis de uma viatura. Cabral espanta-se e reconhecendo um jeep do Partido, pára o seu carro e désce.
-«O que se. pass?»
Três homens saem da viatura militar e apontam as suas armas ao secretáriogeral. -O que parece dirigir a operação, é bem conhecido de Cabral. Trata-se de
Inocêncio Kani, um veterano que tinha sido um dos comandantes da marinha e
que depois tivera certos problemas...
-«Segue-nos» - diz tnocêncio.
Cabral recusa-se e chama a guarda que deveria estar a vigiar a sua residência .e
ninguém responde.
Nabonia, conhecido por Batia, membro da guarda pessoal do secretário-geral,
tinha informado os conjurados do programa da noite. Eles sabem que Cabral está
só, que Pereira o espera no seu gabinete e que os outros militantes estão retidos na
conferência dos moçambicanos.
- «Sobe» - repete Inocêncio - «Sendo, levc&-te-emos à força». Um dos agressores
avança com uma corda.
- «No me levarão à força» - diz Cabral. "Nunca ninguém conseguiu amordaçarme... E nunca aceitei que amordaçassem ninguém... É \Precisamente por isso
que lutamos, para rÔmI per as mordaças..."
O medo e a desorientação desenham-se no rosto de Kani. Mas já é tarde. Ele
hesita um instante, depois levanta a sua arma e atira Atingido pelo fogo, Cabral
verga-se e cai na estrada sangrando abundantemente. Inocêncio Kani disparou
pora o ar, sem dúvida, para informar os seus c<plices do desenrolar dos
aontecimentos. Entretanto na estrada onde cresce uma poça de sangue, Cabral
tenta erguer-se. O homem ainda não está morto. O chefe ainda está lúcido.
Dirigindo-se aos dois homens que estão imóveis fala pela última vez.
«ACABA COM! ELEI»
- «Porquê, camaradas? Se existem divergências é necessário discuti-las-- O
Pairtido ensinou-nos ...
- «Como? Ainda falas?»
- Ruge Kani que repentinamente faz um sinal:
PAGINA Uý
.Acaba com *lei Depresa.'
Uma rajada curta. CaÉral atingido na cabeça torna a cair. Morto. Ana Maria,
aterrorizada e impotente, seguiu toda a cena, do carro onde tinha ficado.
- Trá-la para a «Montanha. - ordena Kani.
A «Montanha» é a prisão do PAIGC. O jeep parte a toda a velocidade. Outras
acções tinham já sido iniciadas. Pouco antes das 23 horas, os conjurados
apossaram-se de surpresa de Aristides Pereira, secretário-geral adjunto, o qual
trabalhava no seu gabinete. Foi Mamadou N'Diaye em pessoa, membro dos
Serviços de Segurança e chefe dos guardas, quem o agarrou e imobilizou.
E enquanto vários presos
- responsáveis importantes pela sedição - são libertados, enclausuram Ana Maria
e outros dirigentes fiéis, entre os quais Vasco Cabral e José Araújo.
- «Vocês serão fusilados às seis horas da manhã,,dizem os agressores.
Naquele momento, eles tinham muitas outras coisas a fazer, embora o seu plano já
tivesse começado a falhar.
As ordens eram no sentido de não matar Cabral, mas sim raptá-lo e levá-lo para
Bissau.
E o tiros deviam ter certamente sido ouvidos nalgum sitio.
Inocêncio retoma a direcção da operação. Aristides Pereira, imobilizado, tinha
sido transportado numa viatura que se dirigiu para o porto. Todos os veículos do
PAIGC .têm um'a placa especial (F.F.) que lhes permite segundo um acordo
com os dirigentes de Conakry circular livremente. As barreiras formadas pelas
brigadas da polícia e da milícia da Guiné, são franqueadas sem demora. Inocêncio
Kani, chega por sua vez ao porto e constata que as ordens estão a ser executadas.
Aristides Pereira é transferido para a vedeta n. 4-comandada por Joaquim da
Costa - o qual prepara aparatosamente um grupo de homens armadbs e um barco
de reboque carregado de armamento. O assassino de Cabral toma o comando da
vedeta n.'- 7 e deixa o porto, seguido pela vedeta n.° 5. A frota faz-se ab largo. Os
serviços do porto guineense conhecem-no bem e não lhe embargam a passagem.
Entretanto em terra, o barulho dos tiros tinha com efeito sido ouvido, O coman.
dante Osvaldo Vieira, mem-
bro do Conselho de Guerra, que reside não longe dali pega na sua arma e sai para
o local. Chega também uma enfermeira. Ela encontra o corpo de Amilcar Cabral.
O pulso já deixou de bater.
- cEI est morto - comunica ela.
Encontram no chão os óculos do dirigente e um papel, uma carta que começara a
escrever para a sua filha.., e algumas notas para uma obra que Cabral preparava.
Nesse momento vai chegando muita gente, e entretanto, terminada a conferência
moçambicana, a assistência vai tomando cònhecimento do caso. Reina uma certa
confusão.
Apenas duas horas depois, Ana Maria Cabral e os seus dois companheiros seriam
libertados.
Mas, desde as 23,30 horas, o presidente Ahmed Sékou Touré está informado. Um
pouco mais tarde, quando Óscar Oramas, -embaixador de Cuba, telefona ao
presidente para lhe dizer que tinha sabido do assassinato de Cabral, o seu
interlocutor responde que com efeito, já estava ao corrente.
Primeiro reflexo: Sékou Touré dá ordens à direcção do porto para interditar todas
as partidas. Mas, respondem-lhe os responsáveis que três vedetas do PAIGC já
tinham partido. Touré dá ordens para que sejam perseguidas e aprisionadas. Ao
mesmo tempo, com uma rapidez exemplar, as forças guineenses isolam a capital.
A meia noite Conakry está fotalmente isolada. O e'xército está de alerta nas
fronteiras. As forças aéreas estão em missão. São depois os -Mig» de uma
patrulha,e os «Radares de vigilância» que vão descobrir do alto os barcos
fugitivos ao largo de Bouké.
As vedetas rápidas de Conakry, avisadas, põem-se no encalço. As cinco da manhã
abordam os fugitivos e conduzem os barcos para o estuário do rio Nunes na Guiné
Conakry próximo de Bouké.
É dada voz de prisão a da Costa,' Inocêncio e seus homens.
- 'Onde está A.xistides Pereira?» - perguntam-lhes.
-«Ele já se encontra algures nas zonas libertadas da Guin6-Bissau» - respondem
os traidores com afrontamento.
As autoridades da -Guiné não se deixam convencer. Está lá o comandante José
Pereira, responsável pela região frontal da Guiné-Bis<:a, que acompanhou o
governador da região.
Decidem então revistar os navios de acompanhamento também aprisionados, os
quais contêm um carregamento de armas. Perto do meio dia, encontram enfim
num subporao Aristides Pereira, amarrado e amordaçado, as mãos gangrenadas.
Este confirma que os seus raptores lhe tinham dito que tinham a intenção de o
oferecer de «presente» às -autoridades portuguesas de Bissau.
A MANOBRA DESCOBERTA
Porém, o «complot» tem muitas facetas. Rapidamente se chega à conclusão de
que o objectivo era muito mais vasto.
Voltemos à noite dramática de 20 para 21 de Janeiro:, enquanto os
acontecimentos prosseguem no mar e na cidade, um grupo de conspiradores fazse conduzir junto do presidente Sékou Touré. Nesse grupo encontram-se
nomeadamente Mamadou Touré, conhecido por Momo, Aristides Barbosa, João
Tomás e Soares da Gama, três personagens que tinham sido eliminados do
PAIGC há vários meses. Momo e 4Aristides Barbosa tinham estado na prisão
até essa noite trágica, acusados de traição. Tinham sido liburtados pelos
assassinos de Cabral. João TomáS, acusado de entendimento com os portugueses,
tinha sido condenado a dez anos de trabalhos forçados e depois amnistiado por
ocasião do 5.° aniversário do Partido. Soares da Gama, em liberdade provisória,
esperava julgamento por um caso de corrupção. A meia noite, o grupo conduzido
pelo -chauffer» Sana Kassama, apresentou-se no gabinete do presidente Touré.
Foi Momo o porta-voz:
.-«Viemos dar parte ao responsável supremo da revolução, que acabamos de
assumir as nossas responsabilidades. Era necessário afiastar C.abral, matá-lo se
necessário para salvar o nosso pais. Os militantes de base, os. comandantes do
interior, delegaramn-me para assegurar a direcção do PAIGC.»
Sékou Touré tem um ,ar grave. O «complot» monstruoso afigura-se-lhe claro.
-'Não vos quero ouvir por agora» - diz ele. E marida convocar de. urgência
Samora Machel, Presidente da Frelimo que se encontra em Conakry em. visita
'oficial, os embaixadotes amigos da Argélia, M. Zitoni, e de Cuba, M. Óscar
Oramas.
Momo insiste: - 0O que
se ~pqou esta noite. ora antes de mais nada. pra me libertar da prisão'...
-«'J¿ vo 1 diSe: que. ao vos poderia o~cuta agora. Esperai.» - Cortou o,presidente com uma voz acutilante,
Os-tactos estão já cnsumados, Cabral :está morig, a cidade isolada, o, mar
j:echado, "os principais conspiradores presos. , a hora ,do ajuste, de contas e
também da aprendizagem dos ensinamentos que é necessário coordenar e revelar
à-Africa e ao mundo inteiro.
E foi assim, que por iniciativa do presiderite Sékou Touré, a 21 de Janeiro alguns
minutos ap6s a meia noite, uma comissão de inquérito preliminar se reuniu em
Conakry«. Dela faziam parte os responsáveis da FRELIMO, de, Partido
Democrático da Guiné (PDGD) aos quais se juntaram os embaixadores de Cuba
e da: Argélia. Mais tarde, a comissão seria alargada a outros países.
Os traidores, desmascarados, iriam falar :durante doze horas sem interrupção. É
certo que os principais 'acusados negavam todo o conluio com os portugueses.
Mas os outros acabaram por confessá-lo. A confissão de Valentino Mangaa .pôs a
nu o plano maquiavélico da PIDE/DGS. Ele estabeleceu der maneira precisa o
processo de organização e aplicação de diversos métodos de subversão- visando,
nãa a eliminação do ,secretário-geral do PAIGC em si, mas a liquidação do
movimento.
-Ele explica,, com efeito que as autoridades coloniais portuguesas .tinham tido,
com ele a seguinte conversa:,
- .Portugal está pronto a dar aos negros da Guiné-Bissau a independência, nas
seguintes 'condições:
- Primeiramente, que o PAIGC seja suprimido.
- Em segundo lugar,. qe todos os caboverdianos seiam excluídos- de todo o
movimento *nacionalista, porque os portugueses pensam conservar as ilhas de
Cabo Verde, que constituem para eles e seus aliados uma base estratégica de
importância capital.,
- Assim, os negros devem desembaraçar-se de todos os mestiços, após; o que
Portugal constituirá um- governo com os que tiverem cumprido eficazmente esta
missão. E as forças portuguesas conservando-se nas ilhas de Cabo Vede darão
,aos negros da Guiné-Bissau todo a cooperaçao para assegurar a sua protecção.'
Mangana ýprecisou quO certos responsáveis foram
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V DULO FLTR
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1/ .
1 COM DUPLO FILTRO
sensíveis a estas promtessas dos colonialistas e consequentemente, organizaran-se
tendo em vista a execuçao da tarefa que lhes era pro'"psta. Foi então que se
orýganizaram infiltrações nas fileiras do 'PAIGC. Agentes (negros) 'da
PIDE/DGS apresentavam-se frequentemente como desertores do exército
ç:olonial, sendo também utilizados para o mesmo efeito, nacionalistas comprados.
Este depoimento de Mangana é confirmado e completado pelo- Lansana Bangura,
outro desmascarado à última da hora, que explicou os, detalhes de um plano de'
agressão preparado contra a -República da Guiné e as Repúblicas da Tanzânia e
Zâmbia. Previa-se o fomento de desordens nos três pai-ses, através da acção
subVersiva traidora de pessoas infiltradas no PAIGC, FRELIMO e MPLA. Pela
cohfusâo assim criada no interior dos três países, visavam-se também ataques
aéreos, marítimos e terrestres. Ao mesmo tempo, as forças portuguesas deveriam
desencadear uma grande ofensiva nas zonas liberta-, das, em Bissau, Angola e
Moçambique. O ano de 1973 era considerado segundo a estratégia portuguesa/
como o ano decisivo para a liquidaçao dos movimentos de
libertdçâo nacional.
Foi depois a vez de Nene.
um do$ responsáveis pelas
telecomunicações da PAIGC.
Entre a espada e a parede, admite que já comunicara com Bissau pela rádio,
anunciando a liquidação do «homem grande» (Cabral). As --suas declarações
contêm a prova irrefutável de que os conjurados eram totalmente manipulacios,
pelos: serviços portugueses, e que Mamadou Touré era o seu delegado em
Conakry.
Um outro traidor, Nabonia,
conhecido por Batia, era membro da guarda pessoal de Cabral. Foi ele quem
forneceu aos assassinos o programa da noite fatal.
Agora, está positivamente desnorteado. Disfrutara desde sempre, da confiança de
Amilcar Cabral. Foi ele quem pediu que as suas declarações fossem registadas;
citou os nomes dos seus ,cúmplices e precisou sobre as ligações com os serviços
secretos portugueses.
No dia seguinte, após ter
tomado o pequeno almoço sob vigilância e juntamente com os seus co-réus, Batia
pede para ,ir à casa de banho. Ao aproximar-se de 4jma sentinela, atira-se
ines,peradamente sobre *o miliciano, derrubando-o, e com uma rapidez de
relâmpago
apodera-se da arma, um fusil «AK2» e volta-a sobre si mesmo, atirando. Morreu
no hospital.
Inocêncio Kani, o assassino de Cabral, também preso no mar,: com os 21 homens
que estavam sob seu comando, procurou, incoerentemente justificar-se:
- «tei Cabral no momeonto em que elo tentava sacar de uma arma, metendo a mao
no bolso. (Ora precisamente nesse dia; Cabral nâo estava armado). Nfio erm
intenço minha. matá-lo.»
O seu móbil? t necessário procurá-lo na sua vida agitada: Sempinarista, pertenca às fileiras do movimento desde o desencadeamento da luta armada. Tinha
grandes responsabilidades, mas após alguns anos de luta, o homem » esmorecera;
já não estava à altura da sua missâo. Foi Cabral, que em 1967, com a sua
verdadeira ânsia em salvar homens, insistiu para que Inocêncio fosse encarregado
de tarefas de menor responsabilidade, coocando-o na parte de reforço da malrinha
do PAIGC. Nessa altura, é enviado para a Academia Naval Soviética como
estagiário; no regresso, chefia o comité tripartido que dirige a Marinha e entra
para o Comité Executivo da Luta.
OS VERDADEIROS CONSPIRADORES
A queda de Inocêncio dá-se em 1971. É excluído do Comité Executivo por
unanimidade e ao mesmo tempo, suspeito de ter participado na venda de um
motor naval. Inocêncio nega as acusações, e é aberto um inquérito suplementar.
Cabral, confia-lhe provisoriamente o comando de uma vedeta. Tal é o homem que
o iria matar.
Ele não é senão o braço armado pelos conspiradores; o braço que era manejado
pelo principal executante, Mamadou Touré, o Momo,
há 18 meses enviado para
há 18 meses enviado para
Conakry, por Bissau. Este antigo caixeiro, que conta hoje 33 anos, foi membro do
Comité Central do PAIGC antes do inicio da luta armada. A 13 de Março de
1962, Momo é preso pela PIDE numa tabanca em Bissau. Era então activo e
corajoso, responsável pela 3.' zona da capital e agente de ligação com a Direcçâo,
já na altura em Conakry. Julgado sumariamente por um tribunal militar
português, Momo é condenado a oito anos de trabalhos for-" çados e enviado para
o sinistro campo do Tarrafal na ilha de S. Tiago no arquipélago de Cabo Verde. É
lá que encontra um perPÁGINA 33
sonagema que vaiÍ -desempeýnhar um papel decisivo na. sua futura carreira de...
traidor: trata-se de Aristides Barbosa, de 30 anos, um agente português infiltrado
no Tarrafal para ganhar a confiança dos nacionalistas. Perito em acção
psicológica, Barbosa é muito activo e desenvolve um trabalho intensivo de
educação política, de luta contra o analfabetismo, entre os detidos provindos do
PAIGC que se encontram no campo. Depressa se torna amigo de Momo, e
consegue recrutá-lo para os serviços secretos portugueses.
.Amnistlados» em 1970,
MomQ ~ Aristides Barbosa
Momo 9 Aristides Barbosa regressam a Bissau para se porem à disposição das
autoridades portugues's; e é em Bissau que Momo renova os seus contactõs com
*o mais importante personagem do caso: Rafael Barbosa (homónimo de Aristides
Barbosa sem no entanto ser seu parente).
Quem é este último? Como e porquê este antigo presidente do PAIGC se rendeu
aos portugueses e aceitou participar do complot»?
Filho de pai caboverdiano e de mãe guineense, R. Barbosa, conhecido por Zain
Lopes, foi contramestre dos trabalhos públicos, assim que aderiu ao PAIGC nos
primeiros tempos de luta,
Amíl 4Cabríl, secretdsio-geral do PAIGC, asassinado em 31-1-78.
Foi em breve colocado na presidência do pequeno Comité Central de então. Era
de certo modo umi posto honorifico, não se podendo contudo negar que Barbosa
foi um chefe histórico. Era corajoso, activo, e antigo companhei'o de armas de
Amilcar Cabral.
Em 1962 é preso pelos portugueses. Dutante sete anos, o seu comportamento na
prisão parece exemplar. Porém, em 1969, vem a «amnistia", e eis-que ele se ride & política de colaboração com o ocupante a chamada «política para uma
-Guiné melhor», pelos colonialistas. Com efeito, o que na realidade se passara
,tinha sido uma «recuperação» de .Rafael Barbosa, durante o tempo de prisão.
Tinha-lhe sido prometida a chefia dos destinos do Pais, logo que este fosse
tornado «autónomo» no contexto da comunidade portuguesa. E segundo tudo leva
a crer, tinham-no deixado interpretar isto como uma possibilidade de ser ele a
conduzir um dia o seu pais à «independência», concebida sob o controlo
neocolonial de Lisboa, na condição de se renunciar das ilhas de Cabo
Verde É com esta intenção que a PIDE/DGS constitui em BissaU uma
organização secreta, chamada Frente Unida de Libertação .(FUL) sob a direcção
de Rafael Barbosa.
Com Rafael Barbosa, Momo estabeleceu sob a chefia e controlo dos serviços
secretos portugueses, ob detalhes mais minuciosos do «complot» que seria
destinado a destruir a Direcção do PAIGC; os traidores «assumi-la-iam» por
sua vez, para depois negociar com Lisboa a «independência» de Guiné-Bissau.
Para isso, era necessário que Momo e o seu cúmplice Aristides Barbosa,
regressassem a Conakry, se infiltrassem no seio do PAIGC e recrutassem
partidários entre os corruptos e os ambiciosos; mais tarde, com o apoio de
numerosos «desertores» que se deveriam entregar ao PAIGC às ordens dos
serviços secretos portugueses e preparar e executar o plano traçado.
Foi isto que Momo e o seu cúmplice fizeram em Agosto de 1971.
- -Queriam prender-me novamente» - apregoava Momo, desde a sua chegada
a Conakry para justificar a sua presença inesperada.
Cabral recebeu-o de braços abertos e enviou-o a repousar num país socialista. Por
seu lado, Morn , ao falar da sua vida no Tarrefal na Escola de Quadros do Partido,
concluía por um elogio a Rafael Barbosa, «homem Integro». Dizia ele:
-«É- certo que Rafael Barbosa fez declarações a favor -dos portugueses, mas em condições difíceis. Elas não devem ser tomadas à lera, pois que melhor do que
ninguém eu sei que ele eodtinua a ser o patriota que sempre foi.»
Esta tentativa de reabilitar o ex-presidente do Partido, o qual tinha sido
anteriormente severamente condenado pelos militantes, teve oefeito de uma
bomba. Cabral, poém, não foi inteiramente crédulo. Disse: «Rafael foi um homem
cora. joso. Conheço-o bem, o seu comportamento na prisão foi
-muito digno. Porém, torna-se necessário tirar a limpo esta situação ambígua,
antes de tomar uma posiçao definitiva em relação ao seu caso.» Mas Momo
continuou ,a sua acção desmobilizadora de subversão.
Momo é .Malinka e muçulmano. Aos responsáveis Fulas e' Mangingas qué
constituem a minoria muçulmana, ele dizia que os Balantas aliados aos
caboverdianos são um perigo para o Islão.
O CHEFE DOS GUARDAS
Em reuniões muitas vezes semiclandestinas, ~Momo opunha os guineenses aos
caboverdianos: "Se Cabral não teimasse em libertar Cabo Verde, após dez anos
de luta, estou certo que Portugal renunciaria a Guiné-Bissau e nós seríamos
independentes...»
Finalmente desmascarado pelos serviços de segurança do PAIGC em Junho de
1972, ele é preso ao mesmo tempo que o seu cúmplice e colaborador próximo
Aristides Barbosa. Momo confessou nessa altura ter contactado, entre 'outros, o
Inocêncio Kani e o Inácio Soares da Gama, dois responsáveis
pela Marinha do PAIGC com o fim de destruir a direcção d6 Partido. Mas estes
dois últimos negaram categoricamente as «calúnias de um traidor que queria
desacreditar a marinha». Acreditou-se neles, tanto mais que se tratava de oficiais
que combatiam há muito tempo, de armas em punho contra o ocupante português.
E depois sabia-se bem que Momo, querendo semear a confusão, já acusara vários
outros camaradas absolutamente ilibados.
Detidos na «Montanhçi» aguardando a conclusão do seu processo, Momo e
Aristides Barbosa prosseguiam, não obstante, os preparativos do golpe., Os
seus'contactos ' com Bissau e com os seus cúmplices são mantidos graças à ajuda
do chefe dos guardas;, Mamadou N'Diaye.
COMO FOI CONCEBIDO E ORGANIZADO O «COMPLOT» CONTRA
AMILCAR CABRAL
O dia X estava, inicialmente previsto para 15 de Dezembro. Foi no entanto
modificado e alterado para 20 de Janeiro devido à partida de Cabral para assistir à
reunião da OUA em Acra e à incerteza que havia quanto ao seu regresso a
Conakry. O inquérito trouxe à luz diversos nomes de implicados na concepção e
organização do "complot, contra Amilcar Cabral mas hoje torna-se evidente os
principais responsáveis pertenciam a um sector da PIDE/DGS encarregado de
missões de responsabilidade a nível internacional sob direcção directa do Major
Silva Pais, o director daquela policia fascista agora desmembrada.
OS PRINCIPAIS EXECUTANTES
Rafael Barbosa: antigo
presidente da PAIGC, comprado pela nova estratégia neocolonial portuguesa.
Mamadou Touré (Momo):
antigo membro do Comité Central do PAIGC, antes do desencadeamento da luta
armada. Infiltra-se na base,
bh.~
1
~dd
DOSSIER
GUINE DISSAU
do PAIGC, em Conakry em 1971, após ter-se rendido às teses portuguesas.
Desmascarado epreso pelo PAIGC em 1972.
Aristides Barbosa: agente português da PIDE infiltrado no campo de concentração
do Tarrafal para ganhar a confiança dos detidos nacionalistas. Desmascarado e
preso (com Momo) pelo PAIGC em 1972. João Tomás: membro do PAIGC
desýe, a sua criação, membro d6 Comité Central e Sindicalista até à sua prisão em
Kundara, região fronteiriça ao Norte da República- da Guiné, pelos serviços de
segurança do PAIGC, sobre a acusação de conluio com os portugueses.
Condenado a dez anos de reclusão, e depois amnistiado em 1972.
Soares da Gana: membro do PAIGC desde o inicio da luta armada, comandante
de operações na Frente Sul, antes de ser destituído do seu, comando. Comissário
político da Marinha até Agosto de 1971, e depois afastado por um caso de
corrupção. Estava em curso ,um inquérito a seu respeito.
Mamnadou NDiaye: antigo comandante do PAIGC em diversas frentes durante
vários anos; duas vezes ferido gravemente, tratado, em hospitais de países
socialistas. A sua condição física não lhe permitia assumir tarefas de combate; foi
transferido p!a os serviços de segurança que Aristides Pereira dirigia
pessoalmente. Parece actuahnente difícil explicar a sua venda ao inimigo.,
Koda Ncbonia (Batia): membro da guarda pessoal de Cabral. Suicida-se após ter
feito uma confissão complta.
Valenting Mangana: agente dos serviços portugueses desde o momento da sua
«deserção» do exército colonial. Graças à cumplicidade de Soares da Gama, vê-se
promovido a comandante-adjunto da vedeta n.' 5.
Nene: um dos responsáveis pelas telecomunicações do PAIGC. Colabora
estreitamente, com os conspiradores nos seus contactos regulares com Bissau..,
Inocêncio Kani: lazendo parte do PAIGC desde a sua formação. Membro do
Comité Executivo da Luta, é excluído em 1971 por um voto unãnime, e
desapossado da sua participação no comité tripartido que dirigia a marinha.
Assume depois o comando de uma vedeta. É este quem vem a matar Cabral.
UMA ESTRATÉGIA GLOBAL
-'Podemos ter uma ideia exacta de uma manobra diabólica do imperialismo contra
a Revolução da Guiné-Bissau e das ilhas de Cabo Verde, um empreendimento
criminoso que não visava apenas matar o combatente Amilcar Cabral, mas que
tinha objectivos mais profundos, com consequéncias políticas inestimáveis.
Posso mesmo' dizer que esta manobra não visava unicamente a Guiné-Bissau e as
ilhas de, Cabo Verde, mas uma estratégia global tendia a consolidar a investida
imperialista eqn ,Africa. -Mas esta manobra malogrou-se completamente.
Devemos antes de tudo, como africanos, render uma homenagem à Revolução
Guineense e ao Presidente S,ékou Touré, pelo conjunto de medidas que
imediatamente tomou paa poder esmagar a acção perpetrada pelos imperialistas
portugueses. Devemos dizer também que a nível de frenite, a luta não tó contínua,
mas que após o* final desta semana, intensificou-se consideravelmente.>
(M. Mohamed Benyahia, enviado especial do presidente Boumediene às
exéquias de Amilcar Cabral.)
OS TRÊS GRUPOS DA CONSPIRAÇAO
Três grupos, a níveis diferentes, participaram na execução do -complotE:
9 O primeiro grupo era
composto por antigos militantes do periodo pré-revolucionário do PAIGC,
recrutados pelos serviços secretos portugueses em
Bissau. O seu líder era Rafael Barbosa antigo presidente do PAIGC. O seu
principal executante era Mamado.p Touré (Momo).
*, O segundo grupo compreendia elementos do PAIGC que viviam em Conakry,
os quais, corrompidos ou esmorecidos pela guerra tinham-se tornado presas
fáceis para os recrutadores dos agentes portugueses. Entre eles: o assas.sino de
Cabral, Inocência Kani, N'Diaye, Tomás, Soares da Gama, e Nabonia, etc.
O terceiro grupo compreendia os especialistas indígenas 'em contra-guerrilha,
formados nos melhores centros da NATO, e que se infiltraram no PAIGC como
«desertores do exército colonial».
PRMEIRAS TENTATIVAS
O «complot» de 20 de Janeiro, que viria a custar a vida a Amilcar Cabral, não foi
o primeiro organizado pelos serviços secretos portugueses contra o secretáriogeral do PAIGC. Vários outros o precederam, mas a vigilância dos serviços de
segurança do Partido tinha permitido desmascará - 'os sempre a tempo.
Antes de 20 de Janeiro, Cabral tinha sido poupado à morte num atentado à
bazuca, numa das suas passagens por Dakar. Se esta tentativa não se tivesse
gorado, o plano dos conspiradores, visando liquidar a actual direcção do PAIGC,
não se teria modificado. A sua execução seria apenas antecipada.:.
Sekou Tour6:
«Esmagijuemos as pontas de lança do ImperIalismo em Africa»
Para ser claro o imperialismo é frio, lógico, racional, absolutamente coerente na
defesa dos seus interesses próprios os quais se resuinem na pilhagem e violação
dos povos.
Face a esse imperialismo, como reage a África? Ela ,está dividida:
Primeiramente o imperialismo tinha em Africa numerosas pontas de lança, tais, como a administração
colonial fascista e racista da África do Sul, Rdé_sia ecolónias portuguesas... Em
seguida, o imperialismo conseguiu «manbrar certos governos africanos e
bloquear os seus povos na realização da respectiva so, berania, na disposição livre
dos recursos naturais, no exercício das suas responsabilidades com vista ao futuro.
Incontestavelmente o imperialismo conseguiu encaminhar o neo-colonialismo
para os nossos países já independentes mas 'não soberanos nem responsáveis
UMA NOVA CATEGORIA. DE HOMEN'
Daqui res,l a que os governos aesses países, objectivamente Lie comportam
como aliados do imperialismo...
Mas é igualmente justo que aqui, tal'c<,,no no caso dos países ainda sob
dominação colonial, os povos não restaram inactivos, e que, sem a acção várias
desses governos neo-colonialistas, reconsideram Já seriamente a sua posição...
Enfim, devemos observar que em -África, o imperialismo tenta criar uma 5."
colund em todos os países que escapam à sua. dominação. Tomemos como ,
exemplo o caso da República da Guiné: ai o imperialismo tentou destruir o regime
popular guineense pela acção conjunta da sua 5.- coluna e dos bandidos e
mercenários de todas as raças que interferiram na repelente manobra de agressão
militar contra nós, a 22, 23 e 24 de Novembro .de 1970 em Conakry e a. 25 e 26
de Novembro de 1970 em Kongara e Gaoual.
Assim se apresenta a África vitima da sua divisão, uma África que nalguns dos
seus territórios faz o jogo do imperialismo através de alianças condenáveis, mas
também, uma África cujos povos cada vez mais conscientes e determinados, se
comprometem ro luta decisivr contra o imperialismo e todos os seus lacaios.. já
que <a luta de liberto-'
ção não é Uma tarefa fácil, à medida que as dificuldades vão surgindo, nós temos
que fazer face a uma nova categoria de homens: os desertores...
Vindos do campo inimigo inúmeros desertores se juntam a nós. Podemos agrupálos em duas categorias: a) Os que por ideal ou
coplvicção, por terem tomado consciência de que a causa do colonialista não é
justa nem nobre, seguem a voz da razão e o sentido da " História.
b) Os que fingem, os verdadeiroý camaleões, os agentes do inimigo disfarçados
de
amigos.
Como distingui-los, e qual
a atitude a tomar em relaçao a eles? Assim se põe
o problema.
Primeiramente, convém esclarecer (e isto é justo) que aqueles que se juntam às
nossas fileiras por livre opção, por posição política e ideológica não devem ser
chamados desertores na acepção de traição, venda e desonra que geralmente
esse termo comporta. Esta categoria de homens abandonou uma causa injusta/,a
do colonizador, para abraçar uma causa historicamente justa, a do colonizado.
Estes homens devem ser plenamente integrados e associados ao nobre e justo
combate pela libertação do
povo.
Outros há, porém, que
abraçando aparentemente a causa justa, estão totalmente a soldo do inimigo. Eles
são o verme que penetra no movimento para o devorar interiormente e desagregar.
Esses têm um trabalho de térmite..
Se eles operarem em terreno ideologicamente sólido, depressa serão
desmascarados e aniquilados; mas se porém, trabalharem em terreno virgem, terão
oportunidade de fazer um bom trabalho para a inimigo que os utiliza. Daqui, a
necessidade de minar o terreno contra o inimigo, educando política e
ideologicamenteos homens, informando-os, mantendo-os em vigilância
constante, endurecendo-os.
Poderemos juntar a esta
última categoria (os falsos desertores), aqueles antigos camaradas que começaram
pol provar coragem na luta, conquistando por isso uma larga audiência no seio
das massas, as quais continuam a acreditar neles mesmo depois destes homens se
terem Vendido ao inimigo. Isto sucede quáhdo esses antigos camaradas são
feitos prisioneiros pelo inimigo e sofrem uma lacvagem ao cérebro; ao serem
libertados podem tornar-se agentes dos colonialistas, fazer o seu jogo,
desmobilizar os militantes servindo-se da sua influência anterior. Deve exercer-se
pois uma grande vigilância a estas duas categorias de homens. Não devem ser
directa e li,vremente postos em contacto com o grosso das tropas, porque i podem
cultivar insidiosamente um ódio e hostilidade ferozes, 'esultantes de um plano
metodicamente dirigido pelo inimigo. Sendo um dos princípios sobre os quais se
apoia a dominação «dividir para reinar», é frequente o imperialismo, por
intesmédio destes indivíduos, convencer os combatentes provindos de certos
etnias que compõem a nação, que ele está pronto a outorgar a independência ao
seu grupo, se ele se separar das outras etnias.
Geralmente estes elementos infiltrados servem-se do. estado de ignorância dos
homens em presença, ignorância essa resultante da dominação colonial, que
sabiamente a criou, organizou e manteve o obscuraAtismo ao nível do
colonizador para melhor o explorar.
POR UMA LINHA DE MASSAS
... Eis porque, paralelamente à luta de libertação e para evitar que aqueles que
detêm as armas, as voltem contra o povo, é necessário empreender uma vasta e
profunda campanha de educação e instrução, de luta contra o analfabetismo,
escolhendo resolutamente a linha de massas e apoiando-se na sua cultura briginal,
a cultura própria do Povo. Aqui, as línguas nacionais serão uma arma terrível
contra o imperialismo, se ao serem restauradas, elas forem 'escritas e utilizadas
para alfabetizar todo o povo.
Um Movimento de Libertação que negligencie a. educação permanente das
massas, a sua organização sobre bases ideológicas sólidas, avançará mais
lentamente e dará mais oportunidades ao inimigo...
SAMORA MACHEL:
«0 verdadeiro sentido de um- ASSASSINIO IGNÓBIL»
- Atingindo o PAIGC. atingindo a Guiné-Bissau, atingiriam não só a República
da Guiné como também Moçambique e Angola. Destruindo o combate do
PAIGC, isolariam em certa medida a Revolução Guineense e disporiam 'de mais
electivos e material para o combate em Moçambique e Angola.
Eis o verdadeiro sentido do ignóbil e odioso assassinato de Ailcar Cabral. Mas é a
este nível também que devemos dizer que o inimigo foi abatido.
O combate prossegue, o PAIGC de Amilcar Cabral mantém-se, a linha política
mantém-se, em'ora não tenha sido um homem más
um gigante, aquele que mataram.
É importante para nós, tirarmos as nossas lições...
Após cada derrota, o inimigo responde com novos métodos e novas tácticas. Énos necessário encontrar a fórmula para impedir as manobras inimigas, detectá-las
a partir do embrião, e esmagá-las. Para isso, dispomos da arma decisiva: temos o
povo do nosso lado; eles não têm nem jamais terão o povo...
Não se trata de um combate -individual do homem metido consigo pr6prio, é um
combate de massas, no qual nos entregamos à critica popular e à auto-critica,
para que a sua força nos^ purifique, nos torne conscientes da via a seguir, nos
encha de. ódio contra os valores negativos e a velha sociedade.
Logo que descuramos este processo, por um lado a implantação de estruturas
populares do poder político, económico e social, e por outro, o combate pela
aquisição de uma nova mentalidade e de um novo comportamento, abrimos .as
portas a sérias contradições no nosso seio. Surgirão descontentamentos: todos os
que ambicionam explorar o povo, substituir o colonialismo, opor-se-nos-ão.
Companheiros da primeira hora, que em princípio aceitam os fins populares da
nossa luta, mas que, na prática, recusam o combate interno para modificar os seus
valores e hábitos, afastar-se-ão de nós a ponto de desertar ou mesmo trair.
Os sucessos atingidos no plano militar, a sensação de eminência da vitória,
aceleram o processo de descontentamento do punhado de elementos frustrados
nas suas ambições e gostos corrompidos. Assim se cria pois a abertura das nossas
fileiras, por onde o inimigo colonialista e imperialista penetra.
As forças reaccionárias, os elementos descontentes verão na aliança com o
inimigo a salvaguarda dos seus interesses mesquinhos- e antipopulares: o inimigo,
com esta aliança encontra opor-
tunidade de ouro para perpetrar um golpe mortal à Revolução.
O «CASO»
DOS CABOVERDIANOS
Comentando os resultados do inquérito realizado em Conakry por Aquino de
Bragança, o grande sociólogo francês Jacques Vignes referiu o significado que a
morte de Amilcar Cabral poderia ter tido se o movimento de libertação de
_.Guiné-Bissau não tivesse já ultrapassado a fase da simples teoria e união em
redor de um «líder». A certa altura, e referindo-se concretamente ao chamado
«caso», dos caboverdianos no interior do PAIGC, escreve:
A força de Amilcar Cabral foi precisamente ter conseguido impôr no mundo
inteiro a imagem da força e coesão do seu movimento. Para todos os observadores
de boa fé, não havia a mínima dúvida: o PAIGC era verdadeira e totalmente
representativo do povo gu.neense. Ele era o único in-' terlocutor com o qual se
podia contar para entabular negociaçoes que o conduzissem à independência da
Guiné-Bissau. Fomentando o seu «complot», não é somente o secretário-geral do
PAIGC que os portugueses procuravam eliminar. Eles procuram igualmente
incutir nos espíritos esta certeza. E é por isso que é indispensável voltar-se sobre
certos aspectos essenciais do -caso, porque convém tomar consciêncio do facto de
que com a morte-de Cabral não se dissipa um grande mito; mas para lá de uma.
acçao criminosa levada a cabo pox um punhado de homen#, é a realidade
guineense tal como Cabral a descrevia que se afirma uma vez mais.
Primeiramente os conjurados. , Aquino Bragança explica quem eles são, com se
puderam pr em acção, nâc sem levantar algumas dúvidas, pois que vários de entre
eles tinham provocado suficientes suspeitas para que se achasse necessário
prendê-los o tempo necessário para instruir o seu processo e esclarecer o seu
comportamento. Mas quem se admirará do "facto de existirem homens capazes
de trair o movimento com o qual estão comprometidos? Quanto
*mais longa, áspera e difícil é uma luta, mais ela, desgasta os que o suportam, É
necessária uma força de carácter pouca comum para sustentar durante anos
acções de guerrilha e acções
4
A'ritides Per eira, 49 anos, Secretário-Geral da PAIGC.
DOSSIER
GUINÉBISSAU
PAGINA 37
clandestinas. Todos aqueles que participam em lutas de libertação sabemt-no
perfeitamente. O inimigo também o sabe, aliás ele espera a mínima abertura que
lhe possa permitir trazer para o seu campo um dos adversarios a fim de o utilizar
em seguida. E quanto mais a luta se desenvolve, mais :iumenta o número de,
partidáriòs, mais o sistema se torna vulnerável e sujeito a infiltrações de maus
elemen. Um movimento de libertaçáo poderá recusar-se d' receber um desertor
qUe se lhe apresente? Mas um Povo é um Povo. É rrecessário aceitá-lo com todos
os seus componentes. Não se poderá reconhecer como sendo nossos apenas os
heróis. Mas ao mesmo tempo, e apesar de todas as precauções tomadas, corre-se o
risco de abrir. as portas à traição. Cabral sabia isto, assim como sabia que não era
possível evitar de todo, este risco. Este guerrilheiro endurecido tinha um sentido
de amizade e' um respeito pelo homem, que constituia ao mesmo tempo a sua
força e a sua fraqueza. Aqueles que prepararam a sua morte sob a capa de
lealdade sem limites, souberaim pcrleitamenie explorar essa fraqueza. E depois,
há o famoso caso dos cabo-verdeanos, avivado pelas circunstâncias. Um velho
caso.
O arquipélago de Cabo Verde, situado ao largo. das costas da Guiné-Bissau é
constituído por quinze ilhas de diferente importância numa superfície total de 4
930 km2 e tendo uma população de cerca de 200 000 pessoas, na maioria
mestiços (65%), coabitando com n e g r o s (30%) e uma pequena minoria
port.iguesa (5%).
A este respeito convém referirmo-nos a um terrível mito: segundo ele, os caboverdeanos constituiriam uma verdadeira aristocracia no interior 'do império
português em Africa. Na realidade, 90% dos habitantes das ilhas são rurais (por
vezes semi - camponeses e semi- pescadores), com um nível de vida
extremamente baixo: o que produzem é insuficiente para cobrir o conjunto das
recessidqdes. A maior parte de entre eles são analfabetos.
Porém, não é menos ver'dade que existe nas ilhas de Cabo Verde uma pequena
camada social relativamerite privilegiada que o governo português utilizou
frequentemente na qualidade de funcionários subalternos nas suas outras colõnias
e em particular na Guiné-Bissau. Daqui advém uma certa tensão que apareceu entre as populações locais e
estes «mestiços» abusivamente assimilados aos colonizadores.
Era esta tensão étnica que Amílcar Cabral iria durante anos de incessante acção
politicia, tentar fazer desaparecer, tal como faz.a para reduzir as oposições tribais
cuidadosamente fomentadas pela adinistração portuguesa -no seio do território da
Guiné.
O SENSO POLITICO DE SÉXOU TOURÉ
Filho de pai cabo-verdeano e de mãe guineense Cabral tinha a posição ideal para
assegurar a unidade. Uma das principais' directiv as do iseu combate foi recusar
sempre quadros racistas que se preocupavam em manter o baixo nível das
populações. É facto que talvez pela sua origem e popularidade conseguiu que
caboverdeanos e guineenses independentemente de todas as particularidades
étnicas, vivessem em conjunto na luta dirigida pelo PAIGC. Para Cabral, era inconcebível abandonar as
populações de Cabo Verde à voracidade portuguesa. Não se transige perante a
unidade de um povo. Aceitar a independência da Guiné sem as ilhas seria
menosprezar o trabalho de decénios pela libertação dos habitantes dessas ilhas. O
autor destas linhas conserva uma recordação preciosa da entrevista que teve . em
1964 em Argel com Amilcar Cabral sobre este problema.
Nessa altura o secretário geral do PAIGC contava já poder levar um dia a luta às
próprias ilhas, onde clandestinamente o Partido estava já solidamente organizado.
Mas ele sabia como essa etapa seria difícil de realizar dada a situação geográfica
do arquipélago, a falta de água, a relativa exiguidade das terras, e a concentração
das populações nalguns pontos. Presentemente em 1973, já que no continente a
maior pcrte do Pais estava já libertada, tornava-se ainda mais possível encarar
este' género
de acção; eis uma razao mais que suficiente7 para que Lisboa interviesse, tentusse
reacender a questão entre guineenses de Cabo Verde e guíneenses do continente,
incitando alguns elementos à traição, com a promessa de uma possível
independência, isto na condição de se eliminar Cabral, designado como obstáculo
para a negociação, e de se renunciar ao arquipélago, uma base estratégica que
deveria fosse como fosse permanecer território portuguêo.
Um belo programa na verdade. Desmantelar o PAIGC num dos aspectos mais
positivos da sua. ideologia, o aspecto da Unidade Popular, e ao mesmo tempo
liquidar outro aspecto importante d e s t a ideologia, queé o seu conteúdo
fundamentalmente socialista, dizendo aos traidores que seriam instalados nas
poltronas da neo-burguesia futura. Desgraçados! Eles já se imaginam ministros ou
altos funcionários no contexto de uma independência outorgada. Ao diabo com
Çabo
A organização que imediataýmente antecede a formação do Partidio Africano
para a Independência da Guiné e Cabo Verde foi um movýimento clandestino
constituído em Bissau em 1953. Fundado por um grupo de intelectuais que
estudara em Portugal, esse movimento auto-intitulara-se Movimento para a
Independência Nacional da Guiné (MING) e defendia teses de teor
vincadamente nacionalista.
Em breve se concluía pela sua ineficácia prática. Tratava-se de um grupo
divorciado das massas e enfronhado em meras declarações de princípio sem
qualquer relação com a realidade concreta do território. Em 1956, descontentes
com o rumo que as suas ideias iniciais afinal traduPÁGINA 39
Numa zona libertada na parte oriental do territóro "da Guiné-Bissau, reuniu-se, de
18 a 22 de Julho de 1973,. o 2.' Congresso do PA.I.G.C., com a presença dos seus
principais dirigentes, 'a fim de ser criado um. secretariado permanente do Partido.
À frente de duas bandeiras do P.A.I.G.C. e da fo¿o de Amílcar Cabral (secretáriogeral, assassinado em 21-1-73)
Verde. ao diabo com a Revolução1 Eles querem instalar-se enfim nos palacetes de
Bissau para disfrutar dos múltiplos privilégios que certamente não irão faltar! Não
terão eles tido consciência da fragilidade disto tudo? Melhor ainda: tinham sido
enviados, o golpe estava dado; indo falar a Sékou Touré, estavam convencidos,
aliás insensatamente, que este cobriria a sua traição reconhecendo-os como os
novos dirigentes do PAIGC e deixando assim que Lisboa instalasse quase
publicamente a sua antena em Conakry. Acreditariam eles, que a' sua manobra
tinha a menor hip6tese de sucesso? Que &o Presidente da Guiné fecharia os olhos
abandonando os dirigentes legítimos do Movimento? A este Movimento nunca ele
tinha negado a sua ajuda no sentido de não sacrificar as esperanças dos homens e
das mulheres da Guiné
- Bissau.
Assim sendo os traidores provaram um desconhecimento total da verdadeira
personalidade de Sékou, e da acuidade do seu senso político; se não é possível
fazer-lhes esta acusação
que procuravam eles apresentando-se a meio da noite na Presidência da
República? Tudo poderia ter acontecido se Sékou não provasse a sua vigilândia
costumeira retendo os seus interlocutores, reunindo imediatamente uma
verdadeira comissão de inquérito composta pelos mais acreditados observadores
internacionais presentes em Conakry, tomando todas as medidas úteis para
bloquear a situação, prender os culpados e
perseguir os fugitivos. Uma coisa é incontestavelmente certa: uma vez mais, o
governo português não atingiu os seus objectivos. A sua conspiração foi
desmantelada os seus complots esmagados; porém, tanto na Guiné Conakry como
na Guiné-Bissau os que lutam pela liberdade não viram as suas posições em
perigo. Acontece que eles perderam A. Cabral, que todos nó- o perdemos, e ai
está uma coisa de que aqueles quc o conheceram se lamentam, e não perdoarão
nunca aos que directa ou indirectamente foram os au:or-s do seu assassinato.
Jacques Vignes
ziam, parte do mesmo grupo de intelectuais resolve tundar um novo partido para
lutar contra o colonialismo e pela independência. Agora com o apoio de artesãos e
trabalhadores manuais de Bissau fundam o Partido Africano para a
Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) que destemidamente se lança
num trabalho de politização dos operários urbanos
Depois da supressão sangrenta das greves que desencadeara em Julho e Agosto
de 1959 e do massacre de Pdjiguiti, o partido reune secretamente em Bissau, em
Setembro, e fáz a sua auto - critica. Amilcar Cabral, tirando a. conclusão do que
fora discutido, afirma que «as áreas urbanas eram da fortalezas do colo-. nialismo
onde as demonstrações e exigências eram nao só ineficazes, mas ofereciam um alvo fácil à
repressao e destruiçao pelas autoridades coloniais». A
organização política das vastas massas camponesas do território passou assim a
ser o seu objectivo imediato.
Muito embora, o s e u quartel general clandestino continuou a ser em Bissau
onde, secretamente, o número de aderentes operários continuava a aumentar.
Em Julho de 1961 o PAIGC publica a primeira exortação à unidade* de
todas as organizaç§es anti-colonialistas da G u i n é. Entretanto, de um mero
corpo de teses nacionalistas africanas, a ideologia do partido com6çava a tornajse nitidamente revolucionária. Isto ia contra os intereses de algumas outras dessas organizações, como a Frente Unida de Libertação
da Guiné e Cabo Verde (FUIL) que não aceitou esse apelo à unidade e, numa
acção perfeitamente aventureirista, se 1 a n. ç a numa acção armada na noite,
de 17 para 18 de Julho de 1961, com base em Dakar e contra São Domingos. Os
ataques são sustidos pelo próprio, governo do Senegal e a FUL deixa de
desempenhar qualquer nova actiVidade de vulto. Em 3 de Agosto de 1931, o
PAIGC lança-se na acção directa, numa primeira fase que inclui o apelo às
deserções, à recusa do pagamento de impostos, ã sabotagem ' seleccionada. Em
Janeiro de 1963, são lançadas as primeiras acções 'rmodas, no Sul.
Um dos mais notáveis fundadores e primeiro secretário - geral do PAIGC,
Amilcar Cabral era caboverdiano por nascimento e qUineense por parte do pai.
Formara-se em agronomia na Universidade de Lisboa tendo trabalhado como
técnico em Angola e na Gu iné. Assassinado em vésperas do seu partido
declarar a independência da Guiné-Bissau foi substi-: tuido por Vasco Cabral,
seu irmão, e por Aristides Pereira na liderança do PAICGC.
Molas
a prova dos nove
Resistentes. Fabricadas por medida. As molas de folha Molaço são a resposta
adequada
Fa.ri..das
a exigências especiais.
* po encomda
São duma resistência fora de vulgar a medida devido ã sua extensão e
distensão. da sua exigência, Maleãveis e flexiveis.
. da sua necessidade.
à prova de choque.
A prova dos nove!
h-tLa=o, Lda,
Apoadsnv!Caixa Postal 4183 Lda.
Lourenço Marques
(DAFRICA 73-69
PÁGINA 40
DOCU E
SE;SASOAL
LISTA OFICIAL DiSIIBIUDOS POlITiCO
DOS "TACHOS" ,PELO, PODER
* AS MAIS DESTACADAS FIGURAS DO ANTIGO REGIME
NA ENGRENAGEM DA CORRUPÇÃO
* VÁRIOS «PATRIOTAS» DE MOÇAMBIQUE NA LISTA
-DO nosso enviado eçpecial RUI CARIAXANA
O documento que publicamos a seguir é uma lista oficial dos «delegados do
Governo» e «administradores por parte do Estado» junto das maiores empresas
privadas, públicas e semi-públicas portuguesas. A sua simples leitura dispensa
comentários: os favores do poder político do antigo regime, através dos
quais ele conspguia as mais «sinceras» adesões, revela-se inteirinho aos nossos
olhos, confirmando aquele dito segundo o qual em Portugal o que era bom era ser
«ex-ministro». A maior parte destes cargos, cujos ocupantes inais não faziam do
que receber o cheque ao fim do mês, eram pagos ao nível da
centena de contos, a 1 g u n s mesmo mais. Num pais onde o próprio Governo
brandia o «slogan» de sermos «um pais pobre» é uma pesada ironia.
Eis, por ordem alfabética das empresas, a lista dos favores políticos do regime
sala'arista, com Os nomes dos f( ,izes contemplados:
ADMINISTRADORES
EMPRESAS
DELEGADOS DO GOVERNO
POR PARTE DO
ESTADO
- Amoníaco Portuguès
-Aquitaine de Moçambique-Comp."
de Petróleos, SARL.
- Banco de Angola
- Banco de Fomento Nacional
--Banco Nacional Ultramarino
- Banco de Portugal
-Beral Tin e WolFram (Portugal),
SARL
.-Cabinda Gulf Oil Company
Eng. N. Azevedo Coutinho
Com. O. Baptista Borges Dr. F. Alves Machado (ex-Secretário de Estado do
Comércio)
Dr. M. Tarujo de Almeida (ex-Subsecretário Estado Orçamento)
Eng.~ J. Torres Campos
Dr. Nuno Morgado Dr. Mário de Oliveira (ex-ministro de Estado Adjunto na P.
Conselho)
Prof. Eng."" Daniel Barbosa .(ex-ministro Ind. e Eng.)
Dr. M. Santos Loureiro Dr. L. Pereira Coutinho Dr. J. Dias Rosas (exMinist.
Econ. e Finan,)
Prof. Nuno Espinhosa Gomes da Silva
Prof. Dr. A. Pinto Barbosa (ex-Minist. Finanças)
Dr. Jacinto Nunes (ex.Subsect. Est. Orçamento)
Coronel Themudo Barata Eng.- F. Ferreira Martins
m
------------EMPRESAS
DEEADSD GOVERNO
ADMINISTRAD)ORES
DELEGAOS DoPOR PARTE 1>O ESTADO
- Caixa Geral de Depósitos Créditb
e Previdência
- Combustíveis Industriais e Domésticos, SARL - CIDLA
-Companhia de Cabinda
-Comp." Caminhos de Ferro de
Benguela
- Comp., Caminhos de Ferro Portugueses
- Comp." Carnes de Angola - CON.
CAR
- Comp., Carris de Ferro de Lisboa
- Comp., Celulosa Ultram. Portug.
- Comp.« Colonial de Navegação
- Comp., Diamantes de Angola
- Comp., Diamantes do Oeste de
Angola, SARL - OESTEDIAM
- Comp.* Eléctriça Alentejo e Aigarve
- Comp., Eléctrica das Beiras
- Comp., de Electricidade de Macau
- Comp.ý Fosfatos de Angola, SARL
- Comp.^ Geral Crédito Predial Portuguás
- Comp., Hidroeléctrica do Norte de
Portugal - CHENOP
- Comp.. Manganés de Angola
-Comp., Minas de Ouro de Penedonó Comp., Mineira do Lobito
- Comp., de Moçambique Comp." Nacional de
Diamantes,
-SARL - DLNACO
Eng." A. Costa Macedo Dr. A. Ribeiro da Canha Eng., A. Gonçalves Rato Cont.
Almit A. Morgado Belo Dr. J. A. Teixeira Canedo D. Hen. Carvalho Costa Dr.
Jorge da Fonseca Jorge Dr. A. d'Amaral Marques Lopes
Dr. A. J. Mota Veiga (ex-Minist Esí
Adjt na P. Conselho)
Prof. Dr. Pires Cardoso (ex-minis
Interior)
Dr. José Nascimento Neves Dr. José Beleza (ex.Subs. Est. do Or
çamento)
Eng:, Vasco Leônidas (çx-Secret. Est
Agricultura)
Dr. Aníbal Oliveira
Dr. A. Franco Nogueira (ex-Mmnist
Neg. lstr.)
Gen. A. Andrade e Silva (ex.Minist
Exército)
Dr. F. Neto de Carvalho (ex-Ministr,
Saúde)
Cor. F. Oliveira Valença
Eng., Manuel F Maia dpo Vale
Eng., Júlio Mendes Gameiro
ConL Alm. J. Henrique Jorge
Cont. AIm. V. Lopes Alves (ex.Minist.
Ultramar)
Dr. J. Calvet Magalhães
Manuel Guilherme Veiga
Com. Joaquim Morais Alves Dr. Pais d'Assunção Dr. Correia Montenegro
Coronel F. da Costa Freitas
Dr. J. V. Paulo Rodrigues (ex-SUbs Est. da P. C.) Dr. Joaquim Manuel Manso
Mendonç1
Eng. Pedro de Pessoa de Carvalho
Dr. Félix Bernardfno Freitas Veloso Dr. José Francisco Rodrigues
Cap. Frag. Eduárdo Serra Brandão Dr. L. Góis Fernandes Figueira
Insp. Paulo Paixão Barradas
PÁGINA 43
DEEGDO DOGVEN
ADMINISRADOIWS
EM .E
AO PRESGVERN
POR PARTE DO ESTADO
*-Comp." Nacional de Navegação
-Comp.* Nacional Petroquímica
- Comp., de Pesca e Congelação de Cabo Verde - CONGEL
- Comp.* Petróleos de Angola
PETRANGOL
- Companhias de Petróleos de Moçambique- ANMERCOSA
-Comp., dos Petróleos de Timor
Cont° Alm. A. Monteiro de Barros
Eng., J. Canto Moniz Eng.<, Décio Teixeira dos Santos Eng.' Luls Anibal Sá
Fernandes Cap. Frag. José Soares de Oliveira
hcar Diogo de Carvalho
E
ADMINISTRAD)ORES
EMPRESAS,
DELEGADOS DO ÜAOVERNOP A
POR PARTE DO ESTADO
- Cop. ipelne oçamicaa d
- Comp., Pipeline Moçambicana da
Rodésia
- Comp," Portuguesa de Celulose
-Comp.* Portuguesa de Electricidade
- Comp., Portuguesa de Rádio Mar.
coni
- Comp., Pozolana de Cabo Verde
- Comp., Reunidas Gás e Electricidade
- Comp., Seguros de Crédito
- Comp." Ultramarina de Diamantes
- Comp., da Zambézia
- Consórcio Mineiro de Diamantes
- CONDIAMA
Distribuidora de, Combustíveis, MO.
ÇACOR
-Empresa Carborífica do Douro,
SARL
-Empresa. Hidroeléctrica Alto Alen.
tejo
- Empresa Hidroeléctrica do Coura
- Empresa Hidroeléctrica Serra da
Estrela
- Empresa Insular de Electricidade
- Empresa Mineira do Alto Ligonha
- Esso Exploration Guiné, -Inc.
- sso Exploration and Production
Portugal; lnc.
- Hidroeléctrica Alto da Catumbela
-Hidrocarbonetos de S. Tomé e
Príncipe - HIDROCARBO
RDOES
- Internacional de Exploração de
Diamantes, SARL - DIVERSA
-Metropolitano de Lisboa
- Mines et Industries, S. A.
-Mozambiqpe Amoco Ol Comp,
- Mozambique Gulf Oi Company
-Nitratos de Portugal
Dr. Serafim Silveira Júnior Gen. Arnaldo Schultz
J. de Aguiar Monteiro Eng." Antõnio Costa Macedo Dr. Luis Pereira Coutinho
Eng.1' Filipe Paiva Brandão Eng.« José Jorge de Pinho Eng.° Dinis Agostinho
Silva
Dr. A. Osõrlo Vaz Eng.o Luís Moura Vicente Brig. Vitor Novais Gonçalves
Eng.* António Costa Macedo
Eng.o Fernando Soares Seixas
Eng.o Fernando Camilo Teixeira Dr. Mário Fonseca Roseira Gen. Horácio Sã
Viana Rebelo (ex.
-Ministro da Defesa Nacional) Eng.o Ivo Gonçalves Dr. J. Oliveira Campos Eng.o
Manuel Amaro da Costa (exSub, do Fomento Ultramarino, das Obras Públicas e
Sec. da Indústria) Dr. Pedro Reis Prof. Rodrigues Queiró Dr. José Manuel da
Costa Eng.o José Diogo d'Albuquerque
d'Orey
Dr. Antônio Alves Caetano Dr. Luis Cantos Fernandes Dr. António Monteiro Pais
Dr. José Carlos Moreira Eng., Mário Rodrigues Carvalho Coronel Rebocho Vaz
Eng., 'José Aguiar Monteiro
Comp. Portuguesa de Electricidade
Gen. Carlos Nascimento e Silva Dr. António Medeiros Patrício Dr. Raul da Silva
e Cunha Araúio
Eng., Jorge Júlio Mestre Insp. Sup. Jeremias Godinho
Dr. António Augusto de Almeida
Cap. José Diogo Ferreira Martins
PÁGINA 45
-EMPRESAS
- Pirites. Alentejanas, SARL
- Radiotelevisão Portuguesa
-SACOREX - Soe. Cone. Exp. de
Petróleos em Portugal
- Sacor Marítima
- Sheli Prospex Portuguesa, SARL
- Siderurgia Nacional, SARL
- Soe. Agrícola Pátria e Trabalho
- Soe. Algodoeira de Fomento Colo.
nial
- Soe. Anónima Concessionária da
Refinação~dos Petróleos em Portugal, SARL
Soc. Anônima Electra deI Lima
- Soe. dos Armadores de Pesca em
Angola
- Sociedade dos Armadores de Pesca
de Moçambique - ARPEM
Soe. Comercial e Industrial de Moagem - SOCIMOL
Soe. Desenvolvimento e Turismo da
Ilha do Sal
-.Sociedade Eléctrica do Oeste Sociedade Estoril
- Sociedade Hidroeléctrica do ftévuè
Sociedade Marítima de Transportes
Frigoríficos - TRANSFRIO
- Sociedade d4 Estudos e Financia.
mentos Uítramarinos - SONEFE
Sociedade Nacional de PetróleosSONAP
-.Sociedade Phillips Petroleum Com.
pany Portugal
--SOe. Portuguesa de Exploração de
Petróleos - ANGOL
- Soc Portuguesa de Lapidação de
Diamantes
- Sociedade Portuguesa -de Navios
Cisternas TRANSNAVI
- Soe. Portuguesa ^de Navios Tanques
SOPONATA
- Soe. Portuguesa Petroquímica
- Soe. Portuguesa de Refinação de
Petróleos - PETROSUL
-,. Soe. Reunidas de Fabricações Metá.
licas - SOREFAME
-TOTAL-Compagnie Mricaine de
Petroles
-Transportes Aéreos PortugusesTAP
-Trans.Zambézia Railway Comp.
- Turistela - Turismo da Serra da
Estrela, SARL
-União Eléctrica Portuguesa. -UEP
DELEGADOS DO GOVERNO
Eng., António Costa Macedo Eng.o Antônio Costa Macedo Dr. Nuno Cabral
Basto Eng." Pedro Cabral Moncada
Eng." Antônio Costa Macedo
Dr. Carlos Costa Cont. Alm. Joaquim Carvalho Com. Antônio Santos Gaspar
Eng.?.. Ricardo Ferreira Martins Dr. Clemente Iogeiro (ex-Ministro
da Saúde)
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Cruz Cap. Frag. Rui do Carmo Fernandes Dr. Fezas Vital
Gen. Kaulza Oliveira de Arriaga (ex.
-Sec. de Estado da Aeronáutica) Gen. José Augusto Cõsta Álmeida Cap, Frag. Rui
do Carmo Fernandes Cap. Frag. Alfredo de Oliveira Eng.o António Costa Macedo
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Correia Guedes
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Figueira Eng.o AlVaro Roquele
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Câmara Pestana
Gen. David dos Santos Eng., Jorge Meio Vieira Eng., José da Cruz Morais Dr.
Armando Elisio Morais Rocha
Prof. Eng." António Barreto
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Comunicações)
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Dr. José Carlos Ferreira
Eng., Fernando Marques Videira Dr. Jorge Feiner da Costa Dr. Joaquim Correia
da Silva Dr. Manuel Cruz Alvura Dr. Mário Rogeiro
Dr. Mário Rogeiro
PAGINA 40
DESP RIF{ .
VAMOS REVER A
Agora sim, agora está em curso (ainda que muito lentamente) a criação de
condições indispensáveis para o estudo ,da revisão do Diploma Legislativo n.o
3043, de 19 de -Novembro de 1970 que, como se sabe, regula as actividades
desportivas em Moçambique. Que não todas, pois uma tal mocidade Portuguesa
(agora extinta) e o Instituto do Trabalho gozam de uma certa autonomia (toda, não
é?).
Acerca de tão importante matéria temos por necessário ordenar todo relativo àquele apenas por faze portanto, consti de ensinamentos
por se intuir d espírito burguê que tem domina< de Moçambique pará «élites» ou
espectadoras Sumariamente de enunciar a condições que de momento es rápido
andame ções, caminho a
,REGULAMENTAÇÃ O
o processo tes das relormus de base. assunto, não Assim, evidentemente que
er história e, sem embargo de outras sutuir recolha gestões julgadas mais pertis,
mas ainda nentes, e visando alcançar lo mesmo o os primórdios para se inis e
sectário ciar o estudo da revisão do lo o desporto já referido diploma, será de:
talhando-o a) Extinta que foi a Mopraticantes cidade Portuguesa (masculina e
feminina - era esquigostaríamos sita esta separação), como Igumas das
se
impunha, deve igualmennos pareceu te ser dissolvida a Liga dos
star a pedir Antigos Graduados da M. P. nto e solu- (também com
empenhamenencetar an- tos no desporto).
DAS
ACTIVI[
b) Integrar a actividad
desportiva do Instituto d Trabalho nas associaçõE
desportivas.
c) Anular imediatamente
prática do disposto, no art 51.' (e seus parágrafos), d Diploma Legislativo n.' 304
de 19 de Novembro de 1971
O teor daquele artigo é
seguinte:
«Art.' 51.0 - 1. As -ele
ções para os corpos gerei tes serão sempre feitas p<
escrutínio secreto.
Em Moçambique, em matéria desportiva, tudo na mesma como alesma que o
mesmo será dizer: tudo como dantes quartel general em Abrantes. Situação que
atesta bem as raizes aqui lançadas pela filosofia do regime político agora
deposto.
De facto na dita actividade desportiva nada aconteceu. Na imprensa -s, mesmos
títulos, o mesmo objectivo de servir o processo a alienatrio da competição com
absoluto desprezo por, um desporto sem trofétis nem desejos de vas gl6rias. A
mesma preocupação mútua, o, mesmo veículo de satisfação de vaidades. Na rádio
Idem, com o processo envolvido nas exigências do mercantilismo com a
agravante de nem sempre haver a preocupação de qualidade.
Tudo está parado neste feudo. Não há, ainda, frestas para o arejamento. Veja-se:
No dia 3 do corrente mês de Maio um dos matutinos da capital moçambicana e do
seu capital - publicava na página desportiva um
anúncio do Instituto do Trabalho respeitante a um tal desporto corporativo.
Mais:
Que saibamos- nenhum clube ou associação se lembrou que os (seus) corpos
gerentes em exercício não foram livremente eleitos dado que os nomes votados
nas assembleias estavam sujeitos à aceitação ou não do G.G. (art.° 51.' do D.L.
3043, de 9.11.70).
Entretanto se não se passou coisa alguma no sentido ou de tendência progressista, surgiu com um certa surpresa (pelo men para nós) um comunicac da
Associação Provincial ( de Futebol de Moçambiqu dando nota do seguinte:
«A Direcção da Associ< ção Provincial de Futebol d Moçambique, perfeitamen
identificada com o program da Junta de Salvação Naci nal e dados os condicon
lismos que presidiram à su escolha, põe à disposiç8 das Exmas. Associaçõ s Di:
tritais, como sócios elÉitore os lugares para que forcu designados.
'e i'~
.&.,.~ #$i544~~,~ K~
- ,.
.
~7; ~,
~..
5 DESPORTIVAS EM MOÇAMBISUE
'2. As eleições estão sujeitas a homologação do Governador-Geral eý só
prodjizem efeito depois, de comunicada pelo C.P.E.F. ou suas delegações a
declaração da homologação haver sido concedida.
3. A competência para conceder a homologação...
4. Os indivíduos eleitos... d) Dissolver quaisquer comissões administrativas que
porventura possam estar a gerir os destinos de clubes ou associações, quer elas
tenham sido impostas quer
tenham apenas sido sancionadas (o caso dos, actuais corpos gerentes da
Associação Provincial de Futebol de Moçambique).
e) Considerando que a existência do já citado art.' 51.° do DL. n, 3043, de 19-11970 terá impedido òu pode impedir a livre escolha de dirigentes desportivos,
ficam os clubes e associações em posição, se assim o entenderem, de proceder a
novas eleições para a totalidade dos corpos gerentes ou
simplesmente para algum(s) lugar(es).
f) Actualizar a nomenclatura de algumas associações e campeonatos para, pelo
menos,._evitar o ridículo de, ,por exemplo, termos «campeonatos provinciais do
Estado.»
Parecem-nos ser estas, em principio, as Condições necessárias para se começar o
estudo para a revisão daquele documento.
Obviamente, e em nosso entender, alguns dos desportistas interessados neste
PAGINA 47
tão importante caso lerao de reflectir em termos de não enjeitar a quota parte de
responsabilidade do passado. Estamos a recordar algumas das posições' algo
demagógicas então assumidas que remeteram o caso para um beco sem salda (no
qual entraram com alguma ingenuidade uns quantos que aceitaram constituiremse em comissões para a, então pedida revisão). Claro, ninguém fez qualquer
revisão e também, de então para cá, os cpntestatários silenciaram o assunto. O tal
«remédio santo» que, como em tempo dissemos, -o C.P.E.F., e cremos que a
Secretaria Provincial de Educação, aplicaram democratican~nte e com êxito
(para si). Como então dissemos por várias vezes - na imprensa e na rádio - o
caminho a seguir primeiramente teria sido o pugnar-se pela realização e pelo
cumprimento, do que ali - no D. L. 3043 era oferecido e nunca foi dado ou
inteiramente satisfeito. Alcançados os direitos ali conferidos partir-se-ia para uma
escalada de contestações visando novas metas.
Nada se fez se não perder tempo numa prova inequívoca do processo que
movimenta o desporto em Moçambique - um desporto de 9' para «élites» na
maioria dos casos. De resto as não «élites» que a ele têm tido acesso, por regra
funcionair apenas, e só, como engrenagem da maquineta que entretem uma
minoria desprezando as necessidades gimnodesportivas da maioria das gentes
moçambicanas.
E aqui fica mais uma achega para a elaboração de uma agenda de trabalhos para
reformar o emburguesado desporto moçambicano.
Agostinho de Campos
EM DESPORTO TUO NA MESMA
A DirecçãoTemos de confessar, na verdade, não perceber o porquê desta .
decisão, abstraindo, naturalmente, o facto de não duvidarmos dos sentimentos
da APFM para com a JSN. Lá que os dirigentes da APFM .ponham agora os seus
cargos à disposição dos filiados da mesma (as .associações distritais) é uma coisa;
agora que aleguem o facto de terem sido eleitos com condicionalismos não nos
parece procedimento correcto por estas razões:
Os actuais dirigentes
do futebol de Moçambique tiveram perfeita consciência dos «condicionalismos
que presidiram à sua escolha», no entanto não só aceitaram voluntariamente
desempenhar
os cargos como ainda'
aceitaram livremente o sancionamento superior de uma eleição (a sua) com
condicionalismo. E mais, logo se dedicaram ao trabalho, etc. Não percebemos
pois tão singular
atitude. Qual o fim?
Bem, deixemos este equívoco e passemos a outros casos e situações que atestam a paragem e uma certa
habilidade do desporto local em querer manter um «statu quo» que apenas
interessa a uma minoria de moçambicanos. Mas continuemos.
Por aqui e por ali subsistem nomenclaturas ao serviço do desporto que s6
recordam um passado (ainda recente) que não deixou saudades. De resto,*
bastaria a circunstância de esse passado de quase meio século apenas nos ter
legado um dsporto mdilocr. e um ospectáculo desportivo enganador para hoje constituir afronta a existência de umas
certas designações e títulos em instalações desportivas e provas, até porque elas
foram produto de. circunstâncias do momento de então e nunca como verdadeiro
tributo de homenagem a serviços prestados ao desporto pelas individualidades
distinguidas.
Muito há a fazer em desporto.
UM BAPTISMO CERTO E NA HORA
"ESTADIO DOS FERROVIARIOS"
Logo que triunfante, em 25 de Abril findo, o Movimento das Forças Armadas, em
Portugal, seguiu-se, loglaamente, o desmantelar de quanto constituia pontos de
apoio do quase cinquenten" o e odiado rogime. Também logo foi gahando vulto a
ideia de ríformar certos top6nimos. Lá e c& Prova. velmente óm 4.mais paraelas. Não, não havia de ser. Ora daqui já nos apercebemos que logo ganhou vulto
o pensaménta de rebaptizar o chamado «Está-dio Salazar»; na verdade o «Estádio
do Ferroviário», na Machava (perto de L. Marques).
A ideia vai, logicamente, ganhando vulto, e terá o seu breve andamento ou
cairá de madura pois cada vez, cada minuto tem menos sentido aquela
nomenclatura.
Entretanto apontam-se nomes para o verdadeiro baptismo do Estádio. Quanto a
nós só vimos um que possa congregar agora, amanhã e sempre os ddsportistas
em geral - Estúdio dos Ferroviários.
props toi
...Dais
algum.a coisa
Lamentamos a não saída na semana passada, destc já habitual secção desporti va,
até pelo motivo de E poder supor que a dita ac(. vidade ( desportiva ) nc actual
conjuntura, perdeu c seu interesse,' nada signili. ca, não tem qualquer expressão.
O que nem é verdade pois no desporto subsiste todo um esquiema sei. horizontes
por dpor demáiadc burgués e sectarista. Aindc se anunciam tacontecimento (na
imprensa e na rádio) para o «íEstádio Salazar» e mesmo actividades do desporto
corporativ). O que terá acabado, por força das circunstâncias (e quem sabe se
com algumas mágoas) foi aquela história ridicula e caricata do toma-a-taça. levaa-taça improvisos e subsidios.
Mas muito bem, qui e agora queremos referir que fomos dos primeiros a Iamentar
a não sciçda -do tempo-desportivo, não pelas razões atrás apontadas mas ainda
por assim não termos podido cumprir o programa traçada para o concu so dos
«Desportistas mais populares de Moçambique» (para os leitores desta revista).
Reconheçamos porém ter sido um atraso que em nada alterou o processo de
eleição e a verdade final, Assim, noutro lado, o leitor éncontrará os resultados da
penúltima contagem feita sendo que, na próxima semana contaremos oferecer
os resultados finais de um concurso que não foi conduzido
- insistimos no pormenorde molde a tentar influenciar o leitor. Foi um concurso
inteiramente livre.
PÁGINA 49:
OS LEITORES DO «TEMPO» ELEGERAM OS (SEUS) «MAIS POPULARES»
1oSF SIVEIDA
E ISABEL SANTOS
uma escolha livre e certa
Feita a última contagem dos votos recebidos para a eleição dos praticantes de
desporto mais populares de Moçambique - por parte
MASCULINOS
1o- JOSE SILVEIRA
atleta do Ferroviário
2.o - FERNANDO MOREIRA
basquetebolista
do Ferroviário 3- CARLOS SERRA
nadador do Ferroviário
dos leitores do, «Tempo» -, temos que se classificaram nos três primeiros lugares,
nos ditos lugares de honra, os seguintes praticantes:
FEMININOS
1._ ISABEL SANTOS
atleta da Académica 2.0 - CLÓ BOTELHO DE MELO
nadadora do D. L. M.
3.0 - CRISTINA PEREIRA
nadadora do Ferroviário
Aqui ficam pois os grandes vencedores desta votação dos nossos leitores José
Silveira e Iscibel Santos foram considerados «OS MAIS» do desporto
moçambicano. Os nossos parabés aos vencedores.
Na próxima ediçáo contamos poder publicar a classificação final, revelando mais
pormenores acerca deste concurso que, de certa maneira, se inseria numa tradição
(embora deliberada e conscientemente a tivéssemos quebrado nalguns pormenores
- o que ainda nos
José Silveira, atleta do Ferroviário, o vencedor do nosso
concurso
parece ter valorizado mais os triunfos de José Silveira e Isabel Santos). Cremod
dizer que, de futuro, ta: bém teremos de refundir este tipo de concurso muito
embora, insistimos, já nos tenhamos antecipado um pouco. Concluímos
renovando os parabéns aos vencedores que o foram, afinal, não apenas do agrado
dos leitores da «Tempo» mas são ainda, estamos certos, de igual agrado de
muitíssimos desportietas.
E até à próxima semana.
PÁGINA 50
BRANCOS E NEGROS DE MOCAM BIOE
A MESMA PATRIA EO MESMO DESTINI
voto do dr. Domingos Arouca que analisa
em entrevista ao «Tempo» o actual momento potco
Preso em Lourenço Marques, em Maio de 1965, acusado de ser militante da
Freli. mo, o dr. Domingos Arouca foi encarcerado durante oito anos nas prisões
do colonialismo. Liberto em Junho de 1973, foi-lhe fixada residência em
Inhambane, sua terra natal. Após o 25 de Abril, amigos e conhecidos esperam o
seu regresso a Lourenço Marques e houve até quem o sugerisse para GovernadorGeral de Moçambique. Em Inhambane, onde pretende permanecer, ele não está
no entanto alheio ao actual momento político de Moçambique.
Fomos encontrá-lo em
Inhambane, cultivando a sua propriedade, semeando paimeiras, rodeado pelos
seus. Calmo e sorridente, numa atmosfera de afabilidade e simpatia, o dr.
Domingos
Arouca aceitou falar à nossa reportagem:
PROFUNDA VIRAGEM
DA HISTÓRIA
-Qual é a sua opinião, dr. Arouca, sobre o actual momento político
Moçambicano?
- Acho que Moçambique ainda não pode ter neste momento as mesmas razões de
euforia que assistem, e com razão, a Portugal. Pelo contrário, sinto-me até
bastante apreensivo com o, rumo que Os acontecimenos pare. cem tomar.
Efectivamente, decorrido um mês após o histórico golpe de Estado Militar, temos
a sensação de que tudo permanece na mesma, salvo pequenos pormenores, ainda
que com alguma relevância política, mas que não são suficientes para nos dar uma
Imagem evolutiva coeEntrevista de Maria Pinto de 56
PÁGINA 5;
PROFUNDA VIRAGEM DA HISTORIA QUE EXIGE DE NOS PRUDENCIA
E SI
rente e tranquilizadora dos factos. Por exemplo, a maior parte dos reacclonárlos e
entidades comprometidas até à ponta dos cabelos com o 'regime derrubado
continuam a dirigir os serviços públicos, pressionando e Intimidando os
funcionários deles dependentes, procurando até travar e sapar a marcha para a democracia, mesmo que para tanto tenham que se
rotular tardiamente de «¿democratas». Mas até quando?
Muitos discursos, é certo, muita dispersão de esforços, alguns ataques a nível
pessoal, mas o tão proclamado e desejado sentido constru.
tivo parece quase ausenteda maioria dos manifestos e proc~lamaes que em
catadupa têm inundado a Imprensa e a Rádio. Tenho a consciência, aliás como
todos nós, de nos encontrarmos numa profunda viragem da História, tanto mais
perigosa quanto é certo, que alguns
não a sabem ou não a querem contornar com a prudência e -serenidade que o
momento exige. É fácil cometer erros, mas -difícil repar4-los. Por absurda que
pareça a fórmula, dá-me a ideia de que a atitude mais consentânea com a situação
é a de uma expectativa construtiva.
PAGINA 53
* DIZEM-SE AGORA
DEMOCRATAS
INIDADE
Expectativa, até porque não estão ainda em Jogo todas, as pedras que hão-de
preencher o nosso xadrez político; Construtiva, porque é supremo dever de cada
Moçambicano contribuil com uma achega de civismo, de bom-senso e de
respeito e compreensão mútua. Esta ultima, mais necessária agora do que nunca.
- Acha que os oito anos de prisão fascista-colonialista que sofreu, concorreram de
algum modo para alterar a sua maneira de encarar os problemas de Moçambique?
- É óbvio que um longo cativeiro Iroduz sempre lesões na alma do encarcerado,
mormente quando ele resulta de um profundo embate ideológico, como é o
meu caso. Todavia, é no sofrimento prolongado que o homem adquire o
estoicismo necessário para suportar as forças adversas que jparecem apostadas na
sua destruição, sendo igualmente do sofrimento que brota a maturidade e o
espírito de tolerância para com os erros e ideias dos outros. Sinto, na minha
qualidade de ex-prisioneiro poli.tico, que devo ser tanto mais tolerante para com
os outros, quanto menos q foram para comigo. Não representa esta atitude a
dádiva cristã da «outra face», mas o reconhecimento. de que nenhuma vida social
é possível na base de «olho por olho, dente por dente», sobretudo nesta
encruzilhada em que os extremistas e os fanáticos não cessam de usar uma
linguagem de força, numa tentativa de intimidar os tolos. De resto, a linguagem
de força reflecte quase sempre fraqueza e medo.
No entanto, devo acrescentar que uma tolerância excessiva à escala territorial é
susceptivel de causar os mesmos males que uma violência sem freio. Por isso,
entendo que os autores de certas opressões físicas ou psíquicas e de injustiças
gritantes devem ser chamados com a maior brevidade possível a prestar contas
dos seus actos à sociedade, antes que se esca. pem pelas malhas. Toda a gente
sabe o que foram os crimes da PIDE/DGS, .mas parece, no entanto, esquecer-se
que está instituição não foi a única a cometê-los, como também não foram
certamente criminosos alguns dos seus membros, embora estes muito raros. A
justiça hí.de ser cega e isenta para ser justa., Há informadores moçambicanos que
causalam mais mal a Moçambique que alguns funcionários brancos da
PIDE/DGS, o que,' além de ser, extremamente grave, se torna repugnante por
haverem apoiado uma instituição odiosa que oprimia o seu próprio povo.
Há ainda a acrescer que muitos administradores, salvo raras e honrosas
excepções, levaram a cabo contra os moçambicanos crimes verda.
deiramente hediondos. Mas há mais e multo mais. Para exemplo, citarei o caso de
muitos directos e chefes de serviços públicos que passavam o tempo a enviar
confidenciais à PIDE/DGS acerca de atitudes ou palavras inteiramente alheias ao
serviço, de subordinados seus. Muitos deles ainda se encontram em exercício e
dizem-se agora «democratas»!!!
Assim, torna-se desnecessário e urgente desmantelar toda a máquina da PIDE/
/DGS, seus afins, como os serviços de Centralização e Coordenação de
Informações e outros, assim como grande parte da engrenagem administrativa,
pois todos eles colaboravam intimamente entre si para cilindrar. o cidadão
moçambicano. O saneamento há-de ser total e completo.
* BRANCOS E NEGROS
Com certeza que o doutor já reparou que inúmeros brancos estão receosos com a
imprevisível (ou previsível) seqýuência dos acontecimentos. Quer dizer-nos o que
pensa acerca dos fundamentos desse receio?
-Só a tremenda incógnita em relação a um futuro que parece muito próximo pode
explicar tamanhos receios. Tudo o que posso dizer é que todos os moçambicanos
se devem mostrar à altura das suas responsabilidades, sabendo respeitar os
outros para que possam igualmente merecer o repeito e a segurança que procuram
e à qual tém indiscutível direito, dado que a violência só gera violência e se
extingue a si própria, quando alimentada pelo ódio e pela intolerância.
Entretanto, todos temos de nos mentalizar no sentido de que não serão fáceis Os
tempos que se avizinham, pois o leite e o mel não brotarão expontáneamente mas
com o esforço de todos os moçambicanos e daqueles que realmente elegeram
Moçambique como sua pátria. Com efeito, para a gigantesca tarefa do
desenvolvimento harmonioso deste pais em todos os seus sectores, serão
absorvidas, em sobra, todas as energias humanas disponíveis. Todos os homens
vão ser necessários para tio imperiosa obra, que só poderá ser levada a cabo com
êxito se, brancos e negros, vencendo velhos ressentimentos e estúpidos
preconceitos enraizados compreenderem a tempo que têm em comum a mesma
pátria e o mesmo destino histórico, consequências naturais da sua livre opção
nesta viragem histórica.
* INDEPENDÊNCIA
TOTAL E COMPLETA
- Como encara o futuro governo de Moçambique?
- Pondo desde já de parte as veleidades de alguns políticos reaccionários e os
utopismos de muitos «democratas» da Undécima hora, entendo que o futuro
governo de Moçambique deverá revestirse de autenticidade plena. Com isto
pretendo significar que tal governo deverá ser constituído de uma maioria negra,
representando efectivamente pelo número, como também pela sua qualidade, os
milhões de negros, filhos deste pais.
Porém, como já tive ocasião de referir atrás, penso que todos os homens de boa
vontade, independentemente da sua raça, serão chamados a colaborar na
construção do novo pais, de acordo com a sua experiência, méritos profissionais e
honestidade comprovada, pondo-se definitivamente cobro ao sistema
institucionalisado do «compadrio», da «cunha» e da «panelinha», se me é
permitido utilizar termos tão chãos para classificar uma das causas mais
profundas do marasmo e angústia política a que Moçambique foi arrastado.
-E quanto à forma do Estado?
-0 momento não é para sofismas, pelo que lhe direi o que penso sem tergiversar.
Assim, sou pessoalmente a favor de um Estado verdsdeiramente soberano com a
bandeira de Moçambique a flutuar no espaço, símbolo do inicio de uma nova era
his. tórica para o país. Independência total e completa, pois vejo ,com
desconfiança as ,federações, que facilmente degeneram no neo - colonialismo.
* VISITA AO MALAWI
- Quais os motivos que originaram a sua recente visita ao Malawi?
-Havia-me sido feito convite para visitar aquele pais, há mais de três meses;
contudo, nenhuma data me pareceu melhor e também ao Presidente Banda, do que
a do dia das celebrações naciomais, o «Kamuza-Day>», que teve lugar no passado
dia 14. Escusado referir que esta visita foi não, só oportuna como também muito
útil, até porque há todo o interesse em conhecer -um pais de independência
recente. £omo . sempre acontece, houve múltiplas e variadas interpretações,
algumas entrando até pelo absurdo, com as quais se pretende explicar
os ou[ ASE DIZEM "DEINCIATAS" E -OS 0iO5u..
a minha viagem, que só para os outros foi nesperada.
Os povos moçambicanas e inalawiano são dois povos Irmãos que outros
dividiram à mesa do Congresso de Berlim. Acho que devem manter um convívio
autenticamente fraternal.
, FRELIMO
- Consta com certa insis. tência que o doutor teria em mente a formação de um
novo grupo político. Quer dizer-nos algo sobre o assunto?
- Posso assegurar-lhe que neste momento tal boato não tem o menor fundamento,
até porque nunca tive, nem tenho, quaisquer pretensões a liderança nem ambições
poli. ticas pessoais.
Acontece, porém, que as minhas ideias, por vezes, se identificam em alguns
aspectos com este ou aquele agrupamento, pois não tenho pretensões de descobrir
caminhos nunca antes trilhados na panorãmica política moçambicana. Apenas sei
que sou coerente com os meus Ideias, Os quais possuo desde a primeira hora em
que tive consciência que vivia num pais oprimido por um pais igualmente
oprimido. Inevitavelmente, esta tão 'simples e ljpear posição colocou-me logo de
acordo com milhões de meus irmãos de raça, combatentes silênciosos ou activos,
na sombra ou às claras, e com muitos dos meus conterrãneos pelo nascimento ou
pelo coração, de raça branca, que desde sempre
encararam de frente as rea. lidades políticas prementes e as opções decisivas que
esta terra exige.
Sempre que forem necessárias e úteis as minhas ideias, o meu esforço construtivo
e até o meu sacrifício, encontrar-me-ão pronto a dar o melhor que puder e souber,
até porque já o fiz há dez anos, quando muitos dos meus conterrâneos se
escondiam nas tocas do medo e da comodidade oportunista. E tenho vindo
sempre a fazê-lo. Mas isso não me conduz necessariamente à liderença política,
que não ambiciono, nem desejo, pois sou fundamentalmente um homem do lar,
um chefe de família e um profissional de foro que até ama a vida, rural.
Aliás se me decidisse a formar um novo grupo político, neste momento, praticaria
um acto manifestamente impolitico, que apenas serviria paar dividir, confundir e
enfraquecer o nosso povo, à velha maneira romana.
Ora, eu entendo que neste momento a união de todos os moçambicanos é mais
necessária do que nunca, assim como entendo igualmente que o povo já sabe
que é a FRELIMO o seu Partido Válido.
--Quais os os seus projectos futuros?
- Intensificar a plantação de coqueiros na minha propriedade.
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MOMENTO POLITICO
OS LEITORES OPINAM
Em face do elevado número de cartas que começámo' a receber de toda a parte
contendo opidktes e apreciações ao momento que vivemos, fiel ao ldeário de uma
verdadeira sociedade aberta e democrática, resolvemos abrir estas páginas de
diálogo sobre, tudo quanto cada. um, respeitando as regras do jogo, entenda dever
manifestar.
As cartas e artigos publicados nesta secção são, pois, da responsabilidade dos seus
autores e não vinculam, nem representam, as ideias e opiniões de quem dirige este
jornal e nele trabalha.
Senhor Director,
Em primeiro lugar, desejo antecipadamente agradecer a V. Exa. a publicação
destas honestas linhas que, por sinal, são escritas com tinta da mesma cor
A honestidade pode ser a melhor conduta, mas um homem deve tentar primeiro
ser tudo o que puder, mesmo assim nunca se conhece por completo, até que se
tenha que _repartir com ele qualquer ganho.
O maior mérito do homem consiste em determinar, na medida do possível, as
circunstâncias e nunca deixar que as cir. cunstãncias o determinem a ele.
0 crime é uma hidra de muitas cabeças, uma medusa, que se reproduz por um dos
tentáculos perdidos. Não é altura para se lavar a roupa suja, devido à falta de
sabão, o momento, é para se passar a ferro a roupa que estiver lavada porque a
suja lava-se depois.
Acredite, Sr. Director, que; neste momento, vagueiam a cada esquina muitos
tentáculos perdidos a querer reproduzir vidas novas. Toda esta minha prosa vem a
propósito da honestidade e lealdade manifestada publicamente pelo sr. José
Aguiar e Sousa, gente grande no Caminho de Ferro, devido à sua lealdade e
honestidade como servidor do Estado. Como aderiu à Junta de Salvação Nacional,
mercê da sua honestidade, que quer continuar, segundo afirma, é altura de poder
informar, através da Imprensa de Moçambique, quem denunciava os
funcionários dos Caminhos de Ferro que eram considerados como de ideias su:versivas e obrigados a abrirem fichas na falecida PIDE (graças a Deus e que lá se
conserve).
E também, quem prestava informações políticas para efeitos de concursos.
Por- exemplo eu fui obrigado a ir à PIDE em 1956, preencher uns papéis que
era para ficar registado na «falecida» porque era um homem de idéias subversivas
porque tinha uma filha chamada Lénia portanto era simpatizante da Rússia, isto
foi-me dito por um agente já falecido e porque a minha filha Ilda tinha este nome,
era considerado simpatizante da Alemanha Oriental.
Tudo isto foi um espectáculo, uma comédia dramática.
Eu, .que me considero com o curso superior de analfabeto, com estágio, que
nunca tive peso para deslocar o fiel da balança política Nacional sou considerado
perigoso. . fantástico! Graças a Deus, nunca fui da falecida situação, nem de
Partido nenhum que ela criou, muito menos seria «soldado do tacho». Se
aderisse, conforme Os tubarões queriam tinha uma posição melhor que à ,que
tenho hoje, pelo menos correspon. dente aos anos de aeviço. Como eu, deve haver
outras tantas vitimas a marcar passo no mesmo terreno há uma série de anos.
Como em todos os serviços do Estado, havia no Caminho de Ferro, uma auténtica
Gestapo e desgraçado daquele que lhe caísse nas malhas, era o fim. Se não
queimaram os dossiers da falecida PIDE, deve haver a relação dos nomes no
quadro de honra, assim como a ficha das suas vitimas para o primeiro repouso.
Naquele tempo, «a justiça era uma casa vaga que raramente se alugava» aqui, ali e
acolá.
Apesar de pobre em instrução sou rico em história sobre a vida interna dos
Caminhos de Ferro, mas a história é uma velhota que se repete sem cessar - no
conjunto das outras histórias que ainda, não foram incluídas nas vestes dessa
velhota. A velhota tem direio à aposentação, deviam agora começar uma nova
história na nova concepção da vida para que cada um tenha direito ao que merece
sem ser necessário conquistar favores nem simpatias dos chefes, se não for assim,
ora bolas!.... digo ora bolas, não sou a favor das torturas mas sou adepto do
deprezo, por isso, ora bolas!!!
Ao sr. José dos Santos Aguiar e Sousa, como outros, honestamente iguais, não
devia ser autorizada a sua transferância, devido à sua leal honestidade.
Amigos verdadeiros não se conseguem com tal processo.
Napoleão tentou fazé-lo,. mas, pas no seu último encontro com Josefina disse
«Josefina, tenho sido mais afortunado do que qualquer outro homem na terra; no
entanto, nesta hora, sois a única pessoa no Mundo em que posso confiar». Os
historiadores duvidam se ele teria razão, falando assim se ele poderia confiar nela.
O falecido Alfredo Adler, famoso psicólogo vianense escreveu um livro intitulado
«O que a vida deve significar para si» onde se lê «o individuo que não se interessa
pelo seu semelhante é o que tem as maiores dificuldades na vida e causa os
maiores males aOs outros. Há entre tais individuos que se verificam todos os
fracassos humanos».
As palavras de Adler são tão ricas em significação que utilizadas no caso presente
definem bem «os soldados do tacho».
Desejo a todos «os soldados do tacho» e às sua leais e honestas adesões que antes
sofreram colapsos cardíacos multas melhoras e que justiça lhes seja feita, pelas
suas vitimas e pela liberdade a bem de todos e da Nação.
Aproveito- a oportunidade para juntar, um soneto, que não tem metrificação mas
que tem o peso de 48 anos de torturas ao serviço desses malditos. Agradecendo
antecipadamente o favor
da publicação desta minha carta, aprc sento a V. Exa. os protestos da minha el
vada consideração e estima, sou,
Antónlo dos Santos
(Beira)
REUNIÃO FASCISTA
SOB A CAPA DA DEMOCRACI>
Sr. Director,
Como funcionário do quadro dos CTI em Lourenço Marques, fui convidado
assistir a uiia reunião dos funeionário do quadro e contratados dos mesmos seg
viços, realizada pelas 17.30 horas de 8 d1 corrente no salão de festas da pgiróquia
dý Munhuana.
Fiquei naturalmente muito satisfeit,
- até porque tinha também multas rei vindicações a fazer- e logo me prontifi quei
a assistir ã aludida reunião a favo da liberdade de direitos, e de expressãc com
vista à recuperação, segundo depreen di e achei oportuno, dos legítimos inte
resses de todos os funcionários lesados isentos de qualquer liberdade ou autono
mia responsável, pelo anterior regime fas cista, aliás ainda alinhado, segundo tud
leva a crer, pela presente Direcção do, CTTM, bem como pela maior parte do,
funcionários superiores o dos seus se quazes «tachistas» qyle, infelizmente, pro
liferam.
Todavia, fiquei desiludido, bem com< um bom número de colegas que mostra
ram a sua surpresa profunda e muit desagrado perante as primeiras palavra do
apresentador das normas que deverian vigorar em tal reunião com vista a um
futuro encontro dos representantes ént#c escolhidos, de cada classe, com o
Directoi provincial dos CTT, a fim de tratar «cor dialmente» dos dois seguintes e
princ pais assuntos:
1 - Promoção imediata dos funcionário$ com concurso;
2- Pleno direito a3 gozo de licença gra. ciosa.
Seguidamente, uma vez seleccionados os representante de cada classe de serviçq
nos CTT, seriam interrogados todos os presentes sobre quem concordaria ou
discordaria com este ou aquele ponto jul gado positivo des§es referidos dois
assuntos apenas, considerados erroneamente do interesse geral e imediato de
todos Os funcionários.
Na realidade, as perguntas que foram feitas aos presentes sobre os referidos temas
haviam sido prévia e definitivamente respondidas pela comissão organizadora,
cuja consultora técnica não dava azo a que alguém formulasse opiniões diferentes
a fim de serem posteriormente apresentadas à Direcção.
E asim alguém perguntotu qual era afinal o verdadeiro motivo dessa reunião,
pelo que o orientador informou que iam ao sr. Director para apresentar tais
problemas e, sobretudo-, note-se! manifestar-lhe o seu apoio e lealdade,
acrescentando que se ele não manifestasse o devido interesse então pedir-lhe-lam
licença para apelar à Junta, de Salvação Nacional....
Alguém, entretanto, propós que tais assuntos deviam-ser debatidos na imprensa,
tendo o apresentador respondido que não convinha mostrar aos de fora os males
que havia por dentro.... A certo passo, porém, o orientador do programa em causa
interrompeu, sensivelmente muito preocupado e entristecido, para anunciar o
seguinte, de que alguém lhe dera entretantp conhecimento: «Ao contrário do que
se recomendara a princípio com vista á.:boa ordem e disciplina que devem
presidir a esta reunião, ia acontecendo um incidente que poderia ser muito grave: Um colega nosso convidou pelo 'telefone um repórter da imprensa diária a assistir
a esta reunião.... Vejam lá com que cara ficaria amanhã o nosso Director o abrir
o jornal e ler a reportagem de tudo quanto aqui foi dóbatido'...»,
* Com tal insinuação muitos poucos aplaudiram, e a grande maioria ficou calada,
deveras perplexa, talvez por cobardia, talvez por conveniência, mas alguns mais
destemidos protestaram, alegando que mais valia que se fizesse uma manifesta.
ção através da imprensa falada e escrita, 'uma vez que agora a expressão era livre
e que o momento assim exigia ... - Apoiado! Bravo! -E uma ruidosa salva de
palmas ecoou por todo aquele salão, não porque fossem muitas, mas realmente
entusiastas.
Entretanto, certos funcionários deram o
seu parecer, aliás quase todos contraditórios ao actual regime de autenticidade,
igualdade e liberdade que a Junta de SalJ vação Nacional em muito boa hora
recuperou e restituiu, intacto, ao Portugal Novo, muito embora com, esta sã
democracia se procurassem identificar.... Foi quando alguns dos novos paladinos
da liberdade que tiveram a necessária coragem para proclamar a verdade
incontestada, começaram, indignados, mas ordeiramente, a abandonar a, sala,
apenas porque chegaram à conclusão que era escusado dar ouvidos a quem tanto
evidenciava ainda, apesar de tudo, a tirania dum fascismo de sinistra memória e
de triste história, visando não a igualdade mas apenas e sobretudo os interesses
das classes directivas e mais privilegiadas, em detrimento do trabalhador humilde.
Considero assim tal reunião desprovida
de qualquer interesse superior para a grande maioria dos funcionários que, como
eu, lutam com os mais diversos problemas, que ali nem sequer foram abordados.
Pois que todos se unam, sem receio, para uma reivindicação imparcial!.....
Falo em nome de todos aqueles que aderem inteiramente à verdadeira democracia,
implantada pelas gloriosas Forças Armadas Portuguesas.
Um Funcionário dos CTT
CARTA DE CHAMADA
A Junta de Salvação Nacional, na delinição de princípios e nas medidas já
tomadas, tem corroborado a linha de raciocínio que o General Splnola desenvolve
em «Portugal e p Futuro».
No que toca ao Ultramar, o preconizado no livro veio ao encontro dos naturais
anseios de uma grande parte da população já que, para quem vive e tra,balha nos
territórios ultramarinos, a sua ambição natural é ter voz e voto em plano de
igualdade com quem vive e trabalha no Portugal europeu,
Também a solução final proposta, de uma comunidade de nações, uma Pátria de
nações, ligada por substracto e interesse comuns, é de inteira coerência se
tivermos em mente a complexidade étnica e geográfica do conjunto nacional.
De facto, se a existência do subs. tracto e a ocorrência de interesses gerais é fonte
de coesão, também cada um dos territórios possui e tende a acentuar uma feição
própria, mercê de problemas e contextos diferentes em múltiplos campos e, bem
assim, de vivência e culturas que se edificam na amálgama de elementos diversos,
criando mentalidades peculiares.
Tudo isto afasta uma tese integracionista radical, mas em nada contraria a
possibilidade de uma coligação Intima, de uma frente única que, uma vez
estabelecida nos âmbitos do direito e da liberdade universalmente reconhecidos,
permitiria admitir, inclusivamente, uma participação efectiva do Bsil.
Sendo este o plano, .a sua concretiza. ção, para além de implicar fases transitórias,
exige que a representação das massas populares seja livre e judiciosamente
atribuída às instituições próprias.
Ora não é gratuitamente que, ao longo de quase meio século, as decisões e
deliberações tenham sido aberta -ou camufladamente impostas; não é
inconsequentemente que, nesse mesmo período, se tenham obstruído ou vedado
os direitos de associação, expressão e acesso a uma informação verdadeira não é
irrelevantemente que, há 13 anos, existe uma situação de guerra na Africa
portuguesa. Não. Estas - e outras causas-entravaram a natural integração de
etnias e culturas, motivaram o alheamento das responsabilidades colectivas,
consentiram numa grave ausência de formação política.
Daqui que, neste estado de coisas, um referendo hoje levado a efeito, apenas iria
colher os reflexos de opiniões apressadamente informada§ e construidas. Tendo
várias alternativas em presença, a opinião pública necessita de calmamente as
penetrar, debater e ponderar.
A criação e consolidação de uma mentalidade política deve ser a tarefa
primordial do Governo português. Trabalho que 'exige tempo: tempo para
amadurecimento.
Todavia, Os manifestos dos partidos socialista e comunista recentemente vinnão
se dispõem a conceder, ao futuro dos a público, indicam que estes grupos
governo, o prazo que se julga indispensável para estabelecer as condiçoes que
permitam, aos mais directps interessados, intervir no debate sobre a questão ulramarina convenientemente prepara.
dos.
Logo que a Junta, no cumprimento do seu esquema, entregue os destinos do pais
aos órgãos .entrçtanto constituídos, os pontos de vista até ao momento por ela
anunciados, concernentes a me, didas futuras, ganham a expressão singela de meros conselhos ou advertências. Esta situação, de acordo com o previsível,
yerificar-se-á a breve trecho, e, temos de admitir a possibilidade de aqueles
grupos políticos alcançarem posição majoritária na próxima assembleia
constituinte.
E nós? Nós, todos aqueles portugueses que vivemos no -Ultramar e queremos
dêsenvolver a nossa sociedade multirracial?
Pois corremos o risco de, mais uma vez, ter um problema que nos respeita a ser
tratado e orientado por entidades para as quais o Ultramar não tem outro valor que
o de tema político.
Claro que o acordo a realizar entre um governo socialista português e os «gruposo
nacionalistas» africanos, ficaria repleto de garantias de segurança e estabilidade
para as gentes das várias etnias, naturais ou radicadas, que desde a eclosão do
terrorismo se têm manifestado portuguesas. Claro! Mas temos ainda frescas as
garantias que os fiéis a uma Argélia Francesa obtiveram no acordo de Evian e
como elas foram «honradas» pelo governo da Argélia independente..
Perante a gravidade da situação, é indispensável e urgente que nós, os portugueses
do Ultramar que queremos preservar o. desenvolver a nossa sociedade
multirracial, nos unamos em organizações políticas capazes dc uma ac ividade
constante, incansável e organi. zada para, lutando com todas as arma que a
liberdade nos concede, promovei a informação e o diálogo democrático e impedir
a hegemonia e ditadura. ídeológica, sobre o Governo Central a constituir,
daqueles que advogam a imediata entrega dõ Ultramar às organizações terroristas.
Que estas linhas sejam uma CARTA DE CI-AMADA. De chamada aos postos.
JOÃO MARCO
CRIADOS DOMÉSTICOS
Senhor Director:
Agradeço o favor da 'publicação desta carta em que peço a atenção de quem de
direito para o problema dos serviçais domésticos.
Diversas classes trabalhadoras têm aproveitado a viragem política para
apresentar as suas reinvidicações. Multas são justíssimas outras completamente
loucas. No en*+.nto talvez não haja nenhuma tão necessitada de protecção como a
dos criaMOMENTO POLiTICO
dos domésticos. A começar por que os rapazes chegados à cidade são levados a
procurar empregos sem futuro, mais próprios para raparigas, pelas dificuldades
em serem admitidos em fábricas ou empregos. Não trazem dinheiro que permita
adquirir um Bilhete de Identidade pois nem mesmo têm meios de subsistência.
Alguns nunca tentaram arranjar o Bilhete de Identidade no receio de serem
chamados para o serviço militar, o que deixaria os seus familiares sem a sua
protecção material. Poderia ainda referir-me à quase impossibilidade de um
homem preto conseguir emprego depois de cumprido o serviço militar, mas não
posso desviar.me
do intento com que vim.
Os orçamentos caseiros dificilmente podem fazer face à carestia de vida, au.
mentando o pessoal nesse sentido. Dir-me-ão que se caminha para uma redução
do número de criados. Concordo, o que aliás é universal e inevitável. Não me
preocupa ter que fazer mais pelo meu ambiente familiar, o que me está a preo.
cupar há muito é a vida dos meus criados. Nunca pude abordar este assunto sem
que me deitassen olhares paternais e, no entanto, é óbvio que uma Previdência
-Social aos serviçais domésticos é indis. pensável.
Enumeraria um sem ,fim de razões para
lembrar as -dificuldades que um criado chefe de família tem que enfrentar para
manter a sua casa e familiares:
--Poderei começar pelos horários que não permitem que um homem veja os seus
filhos menores,. E digo ver porque
sal de madrugada e regressa á noite
-Esse regresso á noite é por demais
conhecido como um risco de vida quase permanente, devido aos tenebrosos
«mabandidos» que tornam o dia a dia numa
insegurança tremenda.
* -A renda dessas casas -- duas divi-,
s5es de caniço -. que ficam a 300$00 men.
sais. Situadas a cerca de 8 Km da cidade, com autocarros a 9$00 diários, das
cercanias de casa até à periferia ca, eidade.
Isto é - longe do local do trabalho. E temos de conc,rdar que deve ser
desagradável fazer essa distância em jejum.
-A família fica nos subúrbios- e tem
que enfrentar diariamente os preços e pesos muito «especiais» em relação aos
da cidade.
-Se o .chefe de família adoece o quadro é tão negro que não me referirei senão ao
que um pobre doente piora para provar que é pobre. A estas pioras virão juntar-se
as que as noites de vigília por uma senha para a consulta ríos hospitais
do Estado. trazem.
- Poderá um criado doméstico aspirar
a férias? E a reforma? Há muitos patrões que lhas dão, mas a maioria não o pode
fazer.
Permita Deus que seja, muito breve.
mente possível uma Previdência . Social eficaz neste campo. Até porque os
nossos criados, nem na terra, poderão acabar os seus dias em sossego. Vejamos
esse lado
da vida -destes homens:
-Já aqui em Lourenço Marques não
podem pagar o imposto pelas vias competentes. Terão que correr o risco de serem
roubados e mandar o imposto para a terra porque, se não o fizer, um dos
familiares trabalhará dois meses na maèhamba do régulo. Ficará encarcerado
durante a noite e as alfaias e alimentação serão fornecidas pelos familiares do
«contribuinte».
- Aliás, como ajuda ao régulo, isto su. cede sistematicamente, todos os mses, por
três dias. Assim como essa ajuda organiza-se numa sociedade em que devem ser
entregues galinhas e OVOs todo§ os meses porque, não havendo nada disto terão
que haver 15$00. E é aqui que a ajuda em latas de cafanha de caju, entre. gues ao
régulo, lhe permitem ter um automóvel para seu uso exclusivo.
- A colocação de postos telefónicos implica 75$00 por casa, que nunca viu uni
telefone, nem verá, pois fica na casa do régulo a quilómetros.
--Tão fácil colecta sugere a ideia de unia anibuláncia, por exemplo. Serão 20$00
por pessoa maior de doze anos. Mas será muito difícil que têm caminhos que nem
a cam.ioes dão passagem.
- Agora pergunto como poderá o pobre homem quçixar-se ao régulo do cantineiro
que: - Entre outras habilidades, compra o amendoim a 20$00 cada lada se trocar
por cobertores, visto que essa lata Valerá 60$00 caso o mesmo vendedor passar a
comprador; Se a lata de caju vale 50$00 a troco de roupas, mas apenas 30$00 a
troco de dinheiro; Se Os produtos alimentares são declarados -bons para preto
mesmo deteriorados; Se o ponteiro da balança recua sempre que o cantineiro se
afasta..., e nunca mais acabariam as queixas. E pergunto se poderá queixar-se ao
régulo, se os seus problemas só poderão interromper os inúmeror negó. cios do
régulo, mediante o pagamento adiantado de 150$00? E posso garantir que tudo
isto é verdade, pelo m.enos em Banguza.
Já fui demasiado longa, esperando ao menos ter sido suficientemente
esclarecedora das condições de ,vida daqueles que nos servem diariamente. Pelo
menos são um exemplar, impar de paciência infinita e de doçura de carácter para
nos servirem nas nossas tão boas condições de vida, em confronto diário com as
dos 'seus familiares.
Gostaria de ter eco em quem possa fazer muito por melhorar tais condições.
M. C. S. T.
(Uma dona de casa
de Lourenço Marques)
TERRENOS PARA CONSTRUÇÃO
Senhor Director:
Como todos nós sabemos que V. Exa. sabe apreciar e expor as coisas como deve
ser, e como também sabemos que a Fazenda precisa de dinheiro, lembrei-me de
lhe apresentar e pedir a sua intervençã para o seguinte:
Desde alguns anos que me tenho dcdi cado a transaccionar terrenos nesta cidad de
que se faziam as respectivas escritura na maioria, logo a seguir:
Desde que foi publicado o Diploma U< gislativo n., 148/72 em à0 de Dezembri
de 1972, que estabelece que o vendedo de terrenos para construção tem de paga á
Fazenda a taxa de 20% sobre a difE rença entre o valor -por que foi sisadi e a
avaliação que a Fazenda fizer, valo: que consideram lucro, - pois a Fazend; agora
avalia certos terrenos por muit< mais que o preço que são vendidos
-movimento de escrituras de compra e ven da de terrenos para construção na
cidadi e arredores quase que parou 100%, poi: estou convencido que há centenas
di transacções de terrenos num valor tota talvez, de centenas de milhares de conto
que estão em contratos de promessa d compra e venda e com procuração do
vendedores para os promitentes compra dores os irem passando de mão em mã,
sem fazerem escritura e assim sem paga rem a sisa dos mesmos à Fazenda, certa
mente na ordem de dezenas de milhare de contos, pois o vendedor entende muito
bem que não deve pagar os 20, à Fazenda ainda com o agravante de el avaliar
como bem entende para que referido imposto seja maior, e o compra dor pensa da
mesma maneira e toca passar com promessa de venda a outr, que fará o mesmo ou
irá construir cor procuração'do primeiro, vendendo depoi os andares em nome
deste fugindo assiíi á tal taxa de 20% e assim passando pagar 5% de sisa em vez
de 10%.
Como V. Exa vê, quem fica a perdei é a Fazenda, o que não aconteceria si não
fosse o referido imposto, numa alturn que muito fica por fazer 'por falta d, verba,
pois estou convencido que se ta imposto for anulado muitas centenas d, escrituras
se farão a seguir e dezenas 4 milhares de contos de sisas entrarão n, Fazenda, pois
embora possam fugir ã r( ferida taxa, prefeririam arrumar 1og, com as escrituras,
não o fazendo só pO que dói.
Estou certo que V. Exa. também nâá concordará com tal taxa, pois toda a
IMarques conhece V. Exa. como imparcia e justo naquilo que escreve para
público, pelo que deixo este assunto seu critério na certeza que a sua pen não
deixará de apresentar este caso pi blicamente chamando a atenção das ent dades
competentes no sentido de se anulado o referido Diploma. Certament a Fazenda
poderá dizer algo sobre o se efeito negativo após a sua publicação. Queira aceitar
os meus sinceros cumpr mentos e me subscrevo com muita cons
deração
De V. Exa.
Albino dos Santos Braga
__ Li
",KARINGANA UA KARINGANA"
«Karingana na Maringana» é o título do 'livro de poemas de José Craveirinhà que
dei-. xou a clandestinidade e apareceu recentemente à venda, numá edição da
«Académica».
Acerca do poeta e do homem, que é Craveirinha, escreveu, em 1963, o dr. Rui
Baltazar:
«Vamos assentar num ponto: o poeta CraveirInha, que é o homem Craveirinha a
realizar-se artistl camente, situa-se numa dimensão diferente da nossa, quase
sempre hostil ou pelo menos indiferente ao outro Ilado do muro que
habitamos e onde assentam seus frágeis alicerces as nossas complacinlas, a
tragédia e vil renúncia de que é feito o nosso viver quotidiano>. «Karingana ua
karingana», com capa e vinheta de José Craveirinha (Filho), apareceu nos
escaparates numa altura em que o seu autor se encontra em Dar-es-Salaam para
conversações a nível no-oficial sobre Moçambique, com Os dirigentes da Frelimo,
e mereceu #os responsáveis pela edição algumas ameaças, por parte de certo
sector do público da capital.
O novo Presidente da República francesa Valéry Giscard d'Estaing teve
recentemente um importante encontro com o Chanceler alem&o Helmut
Schmidt, em Paris. Na imagem, um aspecto do encontro dos dois «leaders», que
durou dois dias.
O DepOsito de bagagens d9 Aeropor'to Gago Coutinho, em Lourenço Marques,
encontra-se superlotado. De tal modo que a bagagem começa já a ocqpar toda a
varanda exterior do edifício.
Terá isto alguma relação com o alegado êxodo de gente que, receosa do prõximo
futuro, pensa abandonar Moçambique?
e
*
~
1
O golpe de estado em Portugal tamb6m teve as suas repercuss5es na *klca do
SuL
Na imagem, um aspecto de uma concena de estudantes na entrada da
Universidade de Wltwatersrnd. em Joanesburgo. onde decorreram manifestações
e discursos durante todo o dia 28 do Maio e em que repetidisemas vezes foi
proclamado aos estudantes que a Jfrica do Sul tinha urgentemente do seguir o
exemplo de Portugal.
e
BASQUETEBOL
Disiputou-a em Lourenço Marques o cam.ponat nacional\ de basquetebol no qual
estiveram interessados os campe6es da Metr6pole (5. L. Benfica) de Angola (F.
C. de Luanda) o os dois primeiros do campeonato de Moçambique (Sporting o
MalhangcIne, ambos de Lourenço Marques). A prova foi emotiva, com os seus
excessos dentro e fora do rectãngulo, bem de acordo com a 6ptica do desporto que
se desenvolveu ao longo das últimas d6cadas. O triunio final veio a caber ao
Malhangalene - pela primeira vez - o que reuniu muitos aplausos e foi (ainda)
motivo para todo um desbobinar *da costumada fraseologia e que tanto tem
contribuído para a situação presente do fen6meno, isto sem embargo do real
merecimento do tiunfo do popular clube daquele barroý de L M.
II
EMBAIXADA
MOÇAMBICANA
REGRESSOU DE DAR-ES-SALAM
Regressou Jã a Loureno Marques a embaixada moçambicana que se deslocou a
Dar-es-Salaam a fim de contactar com os dirigentes da Frente de Libertação de
Moçambique. Aquele grupo de simpatizantes da Frelimo era composto por
Josefarte Machel, Rui Nogar, Jos Craveirinha.. Malangatna Valente, Rogério
Njawane e Matias Mboa. A chegada daqueles elementos ao Aeroporto Gago
£outinho verificou-se cerca das 21 horas desta úlima terça-feira, estando à sua
espera uma pequena multidao que entoou um hio alusivo ao mesmo tempo que
vitoriava a Frelimo e Samora Mahel.
Sobre o resultado dos contactos estabelecidos que visavam o inicio das
conversações entre Portugal e â Frente de LibertadÃo de Moçambique, os portavozes do gupo limitaram-se a afirmar que «tudo tinha corrido bem e que a viagem
foi bastante <tU».
Foi também informado ao Jornalista da «Tempo» que durante a permanência em
Dar.es.Salaam o grupo tinha estabelecido contacto directo com o Governo de
Lisboa, que eomo se verificou, originou de imediato o inieo do dilogo para a paz
na capital de ZAmbia, Lusaka.
e
MISSÃO
COMERCIAL
AO
JAPÃO
CONTACTE-NOS
SERVIÇO COMERCIAL
Edilicio dos Orgamismos Econ6micos, Praça 7 de Março, 8. andar.. Caixa
Postal 1831. telelone 27204 Lourenço Marques
SECRETARIA PROVINCIAL
DE COMÉRCIO E INDOTRI0A
ESGOTOU-SE EM POUCAS -HORAS O OLTIMO NOMERO DA NOSSA
REVISTA
O público, ávido a ansioso, formou longas bichas junto dos postos de venda da
nossa revista, esgotando-a, rapidamente em poucas horas, apesar de novo
aumento da nossa tiragem.
As imagens reportam-se. uma, ao vivo interesse com que o povo, em plena rua, lia
atentamente o último número da «TEMPO» e, na outra, uma das várias «bichas»
formadas imediatamente após ter sido posto à venda.
Ao registarmos o facto. fazómo-lo no apenas com o -natural orgulho de quem se
sente tao amplamente preferido mas, sobretudo, por sentirmos que o nosso
trabalho vai ofectivamente de encontro às aspirações do Povo Moçambicano,
bemnecessitado, neste momento, da urgente e válida campanha de esclarecimento
e politiz«ço que lhe foi recusada ao longo de meio século.
NOVO PREÇO A PARTIR DA PRÓXIMA EDIÇÃO
Forçada por imperativos que são estranhos à sua vontade, mas que conhecidos de
toda a gente 1e. que etio na base de decisões semelhantes, a Adminis-tr94ão "do
«Tempo» vê-se obrigada a aumentar o preço de venda da Revista em 50% a partir
do próximo número. O fenómeno toínou-se universal nos' últimos meses: depois
dos jornais diários moçambicanos, os jornais de Portugal aumenitarem o seu
preço de 66%, o mesmo acontecendo com diversos seman ários, como o nossò
prezado, colega «Expresso», que há duas semanas se viu igualmente forçado a
'subir de 50% o seu preço.
Esta nossa decisão. foi retardada até aos limites do possível. Mas o preço do
papel, que há poucos meses
ainda andava -pelos 8 contos a tonelada é agora por nós adquirido a mais de 18
contos cada toneleada, os salários de todo o pessoal tiveram de acompanhar a até
agora imparável inflaç6o (só a última revisão salarial custará mais de 4 mil contos
por ano) e a premente necessidade de uma mais ampla cobertura dos
acontecimentos, agora que a imprensa é finalmente livre, nao nos deixaram outra
alternativa. «Tempo» vai passar assim a custar 1550Q.
Esperamos que os nossos leilores compreendam esta inelutável decisão e
prometemos, pela nossa parte, fazer mais e melhor pela nossa Revista e por
Moçambique.
e
COMBOIO DA PR.OTAL
Por lapso. no anúncio referente ao Comboio da Protal publicado no nosso
Suplemento dedicado à FACIM. saiu que1 areceita se destina à Obra do ZÉ DOS
POBRES, quando de facto reverte a, favor da CASA DO GAIATO.
m
. . . . .G.I. . .3
ENTRE A UTOPIA E O REALISMO
AI por Moçambique fora - e o ien6mono estende-se igualmente a Portugal uma onda de reivindicaçõos dos trabalhadores que, em muitos casos, se
transforma em situação de greve. -Entre nós mais do que em Portugal. onde se fez
uma implantação rápida dos sindicatos e estes começaram quase imediatamente a
funcionar em moldes correctos, estes movimentos podem definir-se por aquilo
que em linguagem sindical se costuma designar por greves «selvagens». Ora a
greve é uma forma de luta, um processa legal e democrático, universalmente
reconhecido, de as classes trabalhadoras se anteporem ao poder económico que,
som os mecanismos deste tipo, se torna senhor absoluto de todas as situações,
procurando obter. através delas, mais justas condições de trabalho e salários,
numa palavra, uma mais equilibrada distribuição da riqueza nacional. Mas uma
orma de recurso, a última a dever ser utilizada, pois numa sociedade livro há
outros meios de pressão e de luta - o s6 quando se esgotam esses meios a greve 6
utilisada.
intenso e quase sempre justo movimento reivindicativo que surgiu entre n6s com
o destampar da opressão, por mais compreensiva e aberta que seja a nossa atitude
- e todos temos de entender a pressa com que as pessoas desejam ver
restabelecido um mínimo de justiça social-, não pode deixar de merecer uma séria
meditação. Na realidade, começa por ser meridiano e evidente que não ao podem
resolver, 10 mil problemas ao mesmo tempo e que não se poderá fazer, em 48
horas ou 49 dias, aquilo que todos consentimos - todos temos as nossas
responsabilidades na longa noite fascista por que acabamos de passar, pois a
repressão e o medo não explicarão á luz da história a abulia cobarde de tantos
milhões de homens dominados meio século por uma clique que jogou sempre na
nossa incapacidade de reagir à intimação - que não se 'tenha feito em 48 anos.
Esta 6 uma utopia que pode custa muita desilusão e amargura, e, curto prazo.
CONTECE que muit
raciocionar e a termos de oposiça
bar que estamos revolução social que paralelo na revolução e que opôr-se, neste
refiro, é criar dificulda luta.
a gente aparece a actuar ainda em 0o, sem se apercediante de uma só achará talvez
cultural chinesa, sentido a que me dos ásua própria
Por outro lado, não é menos evidente que todas as reivindicações, sejam elas as
mais justas e pertinentes, não poderão nuncc. exceder a capacidade da economia
moçambicana, a qual, não só incipiente e em graves dificuldades, servida por
estruturas obsoletas e Inadequadas, não poderá parar e, em muitos casos, não
estará em condições de suportar um tratamento de choque como o que se esboça
no quadro dos actuais movimentos reivindicativos. É outra ilusão que sã correrá
quem não estiver atento.,
E U sei que a miragem de uni rápido
aumento de salários, num pais pobre, ainda por cima saqueado e pauperizado por
uma adminlstração incompetente, corrupta e elitista, tem uma força terrivelmente
fascinante. Também estou 'certo de que, em alguns sectoreq ou actividades de
maior rentabilidade, não será difícil nem inviável fazer comportar às estruturas
económicas correspondentes o justo preço dessas legitimas aspirações. Mas estou
igualmente convicto de que, em muitos outroas, forçar de imediato, som uma
profunda dinamização e reconversão estrutural, uma subida sensível de custos
salariais poderá desencadeaer uma crise económica grave, com todo o seu cortejo
de tensões, falências, desemprego, etc. Numa palavra, fazer o jogo da reacção,
abrir o caminho &s ainda arreigadas nostalgias da «ordem» e dos «governos
fortes", que todos sabemos onde nos levdm.
OR tal preço parece-me que ninguém.
a não ser os contra-revolucionários, quererá cobrar, de corrida e em tumulto, os
dividendos de uma revolução que só agora ainda começou.
O recurso Indiscriminado à greve selvagem», em que grupos e grupinhos, numa
espécie de circuito fechado reivindicam muitas vezes pequenos interesses
imediatos, desligados no contexto geral, é, neste momento e neste pais, sangrado
por uma guerra -colonial de 11 anos e por uma administração económicofInanceira que roça pelo descalabro, uma arma de dois gumes que pode ferir
gravemente' aqueles que a manejam. Cada vez que pára uma fábrica, duas
fábricas, que empresas e inatituições entram em colapso, que os trabalhadores do
campo * da cidade paralisam esta ou aquela actividade, não é apenas o poder
económico, o patronato ou as grandes empresas que são afectadas:.6 também a
economia moçambicana e, em última análise, os que, quantas vezes manipulados
por oportunistas e aventureiros, fazem as greves.
5 grandes patrões do Chile deram-nos
uma boa lição, que devemos ter sempre presente, com a sua luta tenaz e o seu
obstrucionismo ao bem intencionado mas ingénuo programa de justiça social de
Salvador Aliene, não hesitando mesmo, como hoje está provado, em fomentar
greves o tensões económicas, que lhes custaram algum dinheiro, mas que eles
sabiam, os iria conduzir ao «stato que» anterior.
O general António Spnola,,, tal, como os elementos mais responsáveis dc M.F.A.
e do próprio Governo Provisórir têm multiplicado os seus alertas sobre este
problema que pode comprometer a própria revolução e que está já, neste
momento, com as actividades produtivas a funcionar a meio gás, a comprometer a
produção e a riqueza nacionais. Nas palavras .do Prof. Palma Carlos, era
"necessário pôr fim a excessos que a libertação de um povo sufocado durante
quase meio século subitamente fez explodir», pois «uma revolução faz-se num
dia, uma alteração de estruturas sociaí é6obra que exige longõ estudo e
ponderação.»
EPOIS da paz, a reconstrução naci. D nal tem de ser o objectivo mais
premente, aquele de que depende a verdadeirà solidificação das liberdades que
agora temos, mas que não conquistámos. e que eu desejo não nos tirem a lucidez
indispensável para esta hora alta, mas grave, que vivemos.ç
Temos de ter todos consciência desta situação. O próprio Alvaro CunhaL afli nal
um homem profundamente sensato, que não come criancinhas nem atira bombas,
tem repetido as condpnações públicas destas greves e relvindicações em magsa,
«que não servem os intores, as dos trabalhadores- e que, come afirmou há dias a
um Jornal alemãoj «significativamente têm sido bem acolhi das pelo patronato *
até pelos fascisOtQi»
palavra de ordem tem de ser justi çq A mas também e principalmente tra. R
balho. Temos de produzir primeiro
para depois dividir melhor * mais justamente («de um bolso vazio não se pode
tirar nada», realmente) e na me* talização desta tarefa tém um papel importante a
dõsempenhar os novoi chefes políticos desta Terra, os daquI como os de Portugal,
que, agora livrei terão de optar entre a demagogia e responsabilidade.
Se nesta hora de euforia, liberdade e bem fundadas esperanças, estas pala vras não
agradarem a muita gente, bu troco conscientemente o risco de parecer menos
popular pela miragem de uma ilusão para que não estou disposto a arrastar
ninguém.
RUI CARTAXANA
CAFRICA 74.10
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