UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE LETRAS
MESTRADO EM LETRAS
DANIELE FELIZOLA DE OLIVEIRA
ESTUDO HISTORIOGRÁFICO - DESCRITIVO DAS PREPOSIÇÕES
PORTUGUESAS NAS GRAMÁTICAS BRASILEIRAS DO PERÍODO CIENTÍFICO
NITERÓI
2010
ESTUDO HISTORIOGRÁFICO - DESCRITIVO DAS PREPOSIÇÕES
PORTUGUESAS NAS GRAMÁTICAS BRASILEIRAS DO PERÍODO CIENTÍFICO
Por
DANIELE FELIZOLA DE OLIVEIRA
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Letras
da Universidade Federal Fluminense,
como requisito parcial para a obtenção
do grau de mestre. Área de concentração:
estudos de linguagem. Subárea: língua
portuguesa. Linha de pesquisa: descrição
linguística.
Niterói
2010
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá
O48
Oliveira, Daniele Felizola de.
Estudo historiográfico-descritivo das preposições portuguesas nas
gramáticas brasileiras do período científico / Daniele Felizola de
Oliveira. – 2010.
104 f.
Orientador: Ricardo Stavola Cavaliere.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Fluminense,
Instituto de Letras, 2010.
Bibliografia: f. 87-90.
1. Língua portuguesa – Gramática - Preposição. 2. Historiografia
linguística. I. Cavaliere, Ricardo. II. Universidade Federal Fluminense.
Instituto de Letras. III. Título.
CDD 469.5
DANIELE FELIZOLA DE OLIVEIRA
ESTUDO HISTORIOGRÁFICO - DESCRITIVO DAS PREPOSIÇÕES
PORTUGUESAS NAS GRAMÁTICAS BRASILEIRAS DO PERÍODO CIENTÍFICO
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Letras
da Universidade Federal Fluminense,
como requisito parcial para a obtenção
do grau de mestre. Área de concentração:
estudos de linguagem. Subárea: língua
portuguesa. Linha de pesquisa: descrição
linguística.
Submetida em agosto de 2010.
Banca Examinadora
_________________________________________________
Prof. Dr. Ricardo Stavola Cavaliere – orientador
Universidade Federal Fluminense – UFF
_________________________________________________
Prof. Dr. José Mário Botelho
Faculdade de Formação de Professores
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – FFP-UERJ
_________________________________________________
Prof.ª Drª. Sigrid Castro Gavazzi
Universidade Federal Fluminense – UFF
_________________________________________________
Prof. Dr. José Pereira da Silva (suplente)
Faculdade de Formação de Professores
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – FFP-UERJ
_________________________________________________
Prof.ª Drª. Edila Vianna da Silva (suplente)
Universidade Federal Fluminense – UFF
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me orienta, acompanha, e ilumina todos os dias de minha vida, que me
permitiu chegar até aqui, na busca da concretização de mais um sonho.
Ao meu orientador, Prof. Ricardo Cavaliere, pela oportunidade, confiança e pelos
ensinamentos.
Aos Professores: Dr. José Mário Botelho, Dr. José Pereira, Dra. Sigrid Gavazzi e Dra.
Edila Vianna por aceitarem compor a banca.
Aos meus pais, Valmir e Fátima, pela constante e incansável dedicação e incentivo em
todas as etapas de minha vida.
Aos meus irmãos, Alex e Alexandre, sempre amigos, carinhosos e grandes
incentivadores, pelas palavras de otimismo.
Aos amigos do curso Ana Cláudia Machado, Adriano Oliveira Santos, Rossana Alves
Rocha pelo apoio e troca de experiências.
Aos amigos Vanessa Candida de Souza, José Cláudio dos Santos Jr., Maria Paz Pizzaro
e Almir Ribeiro Miguel pelas palavras de estímulo a cada etapa desse trabalho.
A Kátia Emmerick pela gentileza e disponibilidade em ajudar.
Às amigas, Patrícia Serrano, Vanessa M. Lima Gomes, e Bianca Walsh pela revisão do
abstract.
A Martha Lopes, que com suas orientações, muito ajudou no meu crescimento pessoal,
despertando-me um olhar crítico, porém, mais generoso a mim mesma, auxiliando-me a
reavaliar minhas próprias limitações, acreditando que seria possível a realização desse
trabalho.
RESUMO
Apresentamos, neste trabalho, a descrição das preposições portuguesas nas
gramáticas produzidas no Brasil no denominado “período científico”. As obras
escolhidas para estudo foram Grammatica da Língua Portuguesa de Julio Ribeiro,
Grammatica descriptiva de Maximino Maciel, Grammatica portugueza de Alfredo
Gomes, Grammatica da língua portugueza, Gramática Secundária de Said Ali, além
disso, utilizamos, também, alguns textos sobre preposição em De gramática e de
linguagem, Novos estudos da língua portuguesa e Novíssimos estudos da língua
portuguesa, Através do dicionário e da gramática de Mário Barreto e em Fatos da
linguagem de Heráclito Graça. Nosso objetivo, ao investigar essas gramáticas, é
verificar a maneira como as preposições eram descritas à época e, se nesse período, já se
notava que essas palavras apresentavam nuances semânticas. Este trabalho insere-se,
portanto, no âmbito da Historiografia Linguística, por conceber suas análises sob a
perspectiva do contexto histórico em que os textos foram produzidos, tal como
estabelece Konrad Koerner, ao propor os procedimentos para a pesquisa historiográfica.
Palavras-chave: preposições, historiografia, descrição.
ABSTRACT
In this work we present the description of the Portuguese prepositions in the
grammar books produced in Brazil in the scientific period. We chose the following
publications for the study: Grammatica da Língua Portuguesa by Julio Ribeiro,
Grammatica descriptiva by Maximino Maciel, Grammatica portugueza by Alfredo
Gomes, Grammatica da língua portugueza, Gramática Secundária de Said Ali and
some texts about prepositions in De gramática e de linguagem, Novos estudos da língua
portuguesa e Novíssimos estudos da língua portuguesa, Através do dicionário e da
gramática by Mário Barreto and in Fatos da linguagem by Heráclito Graça. We
investigate these grammar books in order to verify the way prepositions were described
and if their semantic features were perceived in this period. This work is inserted in the
scope of the Linguistic Historiography as the analyses are conceived under the
perspective of the historic context in which the texts were produced, as Konrad Koerner
establishes when he proposes the procedures for a historiographical research.
Key words: preposition, historiography, description
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Definições de preposição
91
Tabela 2 – Classificações das preposições
92
Tabela 3 – Valores da preposição a
93
Tabela 4 - Valores da preposição ante
94
Tabela 5 - Valores da preposição após, pós
94
Tabela 6 - Valores da preposição até
95
Tabela 7 - Valores da preposição com
95
Tabela 8 - Valores da preposição contra
96
Tabela 9 - Valores da preposição de
96
Tabela 10 - Valores da preposição desde, des
97
Tabela 11 - Valores da preposição em
98
Tabela 12 - Valores da preposição entre
99
Tabela 13 - Valores da preposição para
99
Tabela 14 - Valores da preposição per
100
Tabela 15 - Valores da preposição por
101
Tabela 16 - Valores da preposição sem
102
Tabela 17 - Valores da preposição sob
102
Tabela 18 - Valores da preposição sobre
103
Tabela 19 - Valores da preposição trás
103
SUMÁRIO
1. Introdução
1
2. Historiografia linguística
4
3. Periodização dos estudos linguísticos brasileiros
9
4. Contexto sociocultural
15
5. Origem das preposições portuguesas
28
5.1. Fontes do latim clássico
29
5.2. Presença no latim vulgar (corrente)
30
5.3. Processos de gramaticalização
32
6. Preposições e a sintaxe analítica
38
6.1. Desaparecimento dos casos
39
6.2. Papel sintático das preposições
40
7. Preposições nas gramáticas brasileiras do período científico
41
7.1. A descrição de Julio Ribeiro
42
7.2. A descrição de Eduardo Carlos Pereira
52
7.3. A descrição de Maximino Maciel
55
7.4. A descrição de Alfredo Gomes
59
7.5. A descrição de Manuel Pacheco da Silva e Boaventura Plácido Lameira de
Andrade
66
7.6. A descrição de Manuel Said Ali
74
7.7. A descrição de Mário Barreto
76
7.8. A descrição de Heráclito Graça
78
8. Conclusão
82
9. Bibliografia
87
INTRODUÇÃO
Este estudo visa, em termos gerias, a proceder à análise das gramáticas
produzidas no Período Científico, fase fundadora, dos estudos gramaticais brasileiros
(cf. Cavaliere, 2002), com foco na descrição, por elas oferecidas, das preposições
portuguesas. Subsidiariamente, busca-se identificar as concepções de gramática, de
língua e de ensino acatadas na época em foco, situando os textos gramaticais no
panorama sociocultural em que foram produzidos.
Foram selecionados para a pesquisa as gramáticas de Julio Ribeiro (1881),
Maximino Maciel (1914 [1894]), Manuel Pacheco da Silva Júnior & Boaventura
Plácido Lameira de Andrade (1894), Alfredo Gomes (1920 [1887]), Eduardo Carlos
Pereira (1940 [1907]), Manuel Said Ali (1964) e textos descritivos de Mário Barreto
(1955), (1980a), (1980b), (1986[1927]) e Heráclito Graça (2005).
Temos, como objetivo específico, então, investigar quais eram as preposições
atuantes na língua e apresentá-las, buscando identificar também se neste período já
existia a concepção de língua como produto social, no qual as palavras adquirem sentido
no próprio texto. Dessa forma, verificar se, ao descrevê-las, os autores mencionavam o
fato de tais elementos apresentarem nuances semânticas.
No segundo capítulo, apresentaremos as premissas de nosso estudo, que são os
três princípios da pesquisa historiográfica estabelecidos por Koerner (1996): princípio
de contextualização, princípio da imanência e princípio da adequação.
Considerando-se um dos pontos principais da análise historiográfica linguística
entender o clima de opinião, no capítulo quatro, destinado à apresentação do contexto
sociocultural (juntamente com o capítulo sete, de análise das gramáticas e textos
produzidos pelos autores selecionados), buscaremos corroborar a afirmação de Koerner
2
(1996: 64) de que “alguns relatos históricos são mais verdadeiros do que outros; o uso
de dados históricos e de evidência textual para estabelecer uma interpretação particular
de um documento tem alguma validade e não é simplesmente fantasia de um
historiador.”
O capítulo três destina-se a apresentar a periodização dos estudos linguísticos no
Brasil a fim de que o leitor conheça as características de cada período linguístico e
principalmente do período científico, em que está inserido nosso estudo.
As categorias gramaticais, estabelecidas por Saussure como fatos da língua e não
do discurso, pois se impõem ao falante como um sistema pré-estabelecido, constituem-se
por uma herança histórica em cada estado da língua, e por esse motivo nem sempre
expressam uma noção da cultura do momento. Dessa forma, considerando-se que, do
latim para o português, com o passar dos anos, as preposições sofreram alterações
mórficas e semânticas, e que algumas preposições acabaram por assumir também alguns
domínios semânticos de outras preposições latinas, e que, no latim vulgar, com o maior
emprego das preposições e o quase total desaparecimento dos casos, as preposições
acumularam as funções antes expressas por estes, a dissertação apresentará no capítulo
cinco uma breve abordagem sobre o surgimento das preposições no português, assim
como o estudo dos processos de gramaticalização pelos quais algumas preposições
passaram nesse percurso. Nota-se aqui a possibilidade da categoria acolher novas
palavras, que inicialmente no latim não pertenciam à categoria das preposições, mas que,
posteriormente, passam a integrar o português.
No capítulo seis tem-se o propósito de explicar a sintaxe das preposições no
português. Portanto, para isso, faz-se necessário comentar o desaparecimento dos casos
latinos, suas motivações e consequências para o funcionamento sintático nessa língua,
3
assim como as implicações dessas modificações para a sintaxe das preposições
portuguesas.
No capítulo sete, temos as descrições das preposições portuguesas conforme
estabelecidas por cada autor aqui estudado.
Por fim, na conclusão, destacamos as similaridades e divergências dos textos
produzidos no recorte temporal sob o aspecto histórico, estrutural e semântico na
descrição das preposições portuguesas.
4
2
HISTORIOGRAFIA LINGUÍSTICA
Pretende-se, neste capítulo, tecer algumas considerações genéricas sobre os
princípios da Historiografia Linguística (HL) e sua metodologia.
O conceito de Historiografia surge na França vinculado ao da História, que
inicialmente cuidava apenas de relatar os acontecimentos passados numa sucessão
temporal. A HL nasce da nova concepção de se fazer história que se origina em 1970
com a então eminente ciência, a Historiografia.
No trabalho historiográfico, é bastante pertinente a distinção entre crônica e
história proposta por Croce que circunscreve que “a primeira consiste em registrar
meramente os acontecimentos do passado, sem oferecer qualquer tentativa de distinção
entre uma ocorrência significativa e uma não significativa” (CROCE apud KOERNER,
1996: 47), ao passo que a segunda trata do resgate de registros de histórias vigentes em
um recorte temporal e que se mostram pertinentes à interpretação de um dado objeto em
estudo. No âmbito da HL, história refere-se a toda episteme em que o documento em
análise está inserido.
Lucien Febvre e Marc Bloch foram os idealizadores de uma nova maneira de se
fazer História, compreendendo que, para conhecer o homem e sua história em sua
totalidade, fazia-se necessário dialogar com outras ciências. Desse modo, estabeleceram
a ciência História como interdisciplinar: ater-se somente aos fatos políticos sem levar
em conta aspectos sociais inerentes ao homem não era suficiente. Dessa forma, ao
fundarem a revista Annales, tinham, por objetivo, instituir um novo modo de se fazer
História, estabelecendo a interdisciplinaridade, com a colaboração de disciplinas como
5
geografia, sociologia, psicologia, linguística, e outras. É um momento em que se abrem
os olhares para além da política, abrangendo questões sociais, linguísticas do homem,
em que a colaboração destas disciplinas é importante, o que ficou conhecido por “a
revolução francesa da historiografia” (BASTOS, 2004:16). Nessa perspectiva
documentos como inscrições, cartas, bilhetes (manuscritos) circulantes em dada época
fazem parte do processo de construção do conhecimento linguístico, que considerados
menores, passam nesse momento a ter relevância, tornam-se fontes para o estudo
historiográfico, pois contribuem na reconstrução do passado. A partir de então, surge
uma nova abordagem de estudo da língua, com novos métodos de investigação em
fontes documentais. O historiógrafo recorre ao documento escrito buscando interpretar
o que está contido na materialidade linguística. O que Bastos (2009) aponta como o
rigor científico, dada à circunstância de que os documentos são “vistos como
testemunhas autênticas que devem ser interrogadas criteriosamente.”
Considerando-se a complexidade da tarefa do historiógrafo de compreender os
documentos escritos, como também de descrever a trajetória da língua, é mister que
pesquisador tenha amplo conhecimento, ou seja, que ele tenha
a ‘dupla perícia’ de que o historiador de uma determinada ciência deve ser
equipado, isto é, além do “conhecimento específico sobre um domínio
científico[...]” ele “ deve ter um bom conhecimento da história intelectual
(incluída no domínio matriz da história geral)”. “O historiógrafo da
lingüística, entretanto, precisa mais do que esta perícia dupla, que deve ser
vista como conditio sine qua non para qualquer um empenhado na pesquisa
de acontecimentos passados e no desenvolvimento da lingüística”
(MALKIEL (1983[1969]:52) apud KOERNER, 1996: 47).
A HL, então, fiel à concepção interdisciplinar do estudo do homem, compreende
a língua como um elemento de interação social, “lugar de concretização das dimensões
históricas, culturais e identitárias de um grupo social” (NASCIMENTO, 2009: 2), ao
6
qual o homem recorre para se circunscrever no mundo. Estabelece-se, então, que HL é a
descrição e a explicação de como o conhecimento linguístico foi obtido, formulado e
comunicado e de como se desenvolveu através do tempo (SWIGGERS,1990: 21). É o
estudo crítico dos saberes produzidos sobre a língua, contextualizado histórico e
socioculturalmente.
Desse modo, a contextualização histórica e sociocultural do período de produção
das gramáticas é a face externa que se articula ao conhecimento linguístico, pois “as
línguas refletem a maneira de as ver por parte dos homens que se acham nelas
interessados e até integrados” (CÂMARA JR., 1973, 2), ou seja, a HL, de acordo com o
que entendemos, parte do princípio de que “a língua enquanto produto histórico-cultural
torna-se simultaneamente veículo e expressão de dados socioculturais que pressupõem
um olhar histórico” (NASCIMENTO, 2009:4). A concepção de língua na HL vai além
do seu caráter meramente sistemático.
É importante ressaltar que, para a historiografia, a ideia de contexto e conteúdo
estão intimamente ligadas, de tal sorte que, como nos menciona Swiggers (1990: 22),
“there are important links between content and context of theories, links which are thus
not only relevant to the fact that particular theories appear at a certain time, but also to
the message carried by the theory.”
A tarefa do historiógrafo é a de interrogar o documento a fim de depreender o
que se encontra na materialidade linguística e entender o passado, em um diálogo que se
estabelece entre língua e história. O fazer historiográfico configura a articulação do
trabalho do historiador, que seleciona e ordena os acontecimentos, com o trabalho do
historiógrafo, que explica os dados. Como em todo estudo científico, na pesquisa em
7
HL existe o olhar do pesquisador e o recorte que ele faz de seu objeto de estudo, que é
marcado por suas experiências e papel social.
Dada às diversas abordagens do conhecimento científico em linguística, o fazer
historiográfico tenta, também, reconstruir as correntes linguísticas, visto que há um
movimento de continuidade e descontinuidade dos paradigmas lingüísticos, o que não
implica a eliminação do paradigma anterior.
Seguindo a tendência dos estudos históricos do século XX, a historiografia
trabalha com a interdisciplinaridade e segue três conceitos estabelecidos na França pela
revista dos Annales (BURKE, 1997 apud BASTOS, 2009): a) fazer história deixa de ser
fazer narrativas de acontecimentos, substituída pela narrativa de uma história-problema;
b) história de todas as atividades humanas e não só a história política; c) a colaboração
de outras disciplinas como sociologia, psicologia, antropologia, sociologia e outras.
Assim posto, os princípios norteadores da pesquisa são em HL: princípio da
contextualização, princípio da imanência e princípio da adequação (KOERNER, 1996:
60).
2.1 Princípio de contextualização
Consiste em estabelecer o clima de opinião do período estudado, identificar as
questões políticas e socioeconômicas que intervêm no pensamento linguístico, dado
esse que não caminha isolado.
2.2 Princípio de imanência
As observações feitas em relação aos textos em análise devem ser construídas sob a
perspectiva interna do texto. O quadro geral da teoria e da terminologia adotada deve
ser estabelecido sob o viés interno de texto, que é a materialização desses dados sem
qualquer interferência da doutrina moderna.
8
2.3 Princípio de adequação
Respeitados os princípios anteriores, o princípio de adequação consiste na
aproximação do texto analisado, de forma explícita, através do moderno vocabulário
técnico e definição do quadro conceptual de trabalho em face aos dias atuais a fim de
um melhor entendimento do trabalho por parte do leitor.
Koerner, ao traçar os princípios práticos e teóricos, assim por ele classificados,
para o estudo historiográfico, teve, como objetivo, adotar critérios que pudessem ser
aplicados a diferentes períodos da história e a diferentes aspectos sob investigação, o
que, dessa forma, contribuiriam para sua aceitação, dada sua amplitude, e
possibilitariam uma interpretação do passado mais transparente.
9
3
PERIODIZAÇÃO DOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS BRASILEIROS
Poucos foram os estudiosos que despertaram interesse pelo estudo do
desenvolvimento do conhecimento linguístico no Brasil (cf. CAVALIERE, 2002:100).
As propostas de periodização mais conhecidas são A filologia portuguesa no Brasil de
Antenor Nascentes (1939), Os estudos filológicos no Brasil, de Sílvio Elia (1975), Os
estudos filológicos e lingüísticos no Brasil - uma tentativa de periodização, de
Leodegário A. de Azevedo Filho (2002), e Uma proposta de periodização dos estudos
linguísticos brasileiros, de Ricardo Cavaliere (2002).
A obra de Antenor Nascentes é tida como ponto de partida para novas propostas
de periodização. Nessa obra, o autor estabelece uma linha evolutiva dos períodos de
estudos sobre a língua no Brasil, os quais foram denominados “período embrionário”,
“período empírico” e “período gramatical.”
O período embrionário ficou estabelecido como o período do surgimento da
cultura brasileira até 1834, ano de publicação da obra de Pereira Coruja, Gramática da
Língua Nacional. Em seguida, temos o período empírico, fase com ênfase no estudo
histórico da língua, que perdura até 1881, quando é publicada a Gramática Portugueza
de Julio Ribeiro. E o período gramatical, de Julio Ribeiro até 1939, ano de fundação da
Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil.
Outro autor que dá sua contribuição para elaboração da periodização dos estudos
linguísticos no Brasil é Sílvio Elia com sua obra Estudos de Filologia e Lingüística,
cujo texto Os estudos filológicos no Brasil retrata-nos criticamente o percurso dos
estudos gramaticais no Brasil a partir da metade do século XIX até os anos 60 do século
10
passado, o que é um grande contributo ao tema, visto que o autor emite opiniões acerca
de trabalhos e autores contemporâneos.
Elia propõe, ainda, a divisão em dois períodos: período vernaculista e período
científico.
O período vernaculista marca seu início com a Independência do Brasil. É um
período no qual os gramáticos ainda não tinham como foco a descrição gramatical da
língua, caracteriza-se pelo predomínio da valorização das formas consideradas
exemplares, que expressavam um ideal lingüístico: a gramática era compreendida,
então, como uma coletânea de normas do bem-dizer
Elia divide o período científico em duas fases: a primeira, de 1880 a 1900, é
marcada pelo interesse nas novas tendências metodológicas do estudo filológico, que
visava à proeminência da pesquisa filológica brasileira no âmbito da contemporaneidade
dos estudos internacionais (CAVALIERE, 2002:103). A segunda, de 1900 a 1960, ano
de publicação da obra Estudos de Filologia e Lingüística do referido autor. Todo esse
longo percurso de 1880 a 1960 é compreendido pelo autor como de orientação
filológica, o que Cavaliere (2002: 104) sinaliza como evidente descompasso com as
relevantes manifestações científicas brasileiras vigentes, que seguiam orientações
investigatórias divergentes dessa linha de pesquisa, como, por exemplo, a
desconsideração que Elia faz da grande contribuição de Mattoso Câmara, por volta dos
anos 40, na esfera dos estudos linguísticos brasileiros.
A proposta de Cavaliere, que se adotará nesse trabalho, estabelece a divisão dos
estudos linguísticos no Brasil em quatro períodos:
O período embrionário, termo emprestado de Antenor Nascentes, inicia-se no
ano de 1595, com a publicação da Arte de gramática da língua mais usada na costa do
11
Brasil de José de Anchieta e termina em 1802, com a publicação do Epítome da
grammatica portugueza de Antonio Moraes Silva. Esse intervalo de tempo se
caracterizou por estudos esparsos e sem relevância para a expressão do pensamento
linguístico brasileiro.
O período racionalista, que se estende por longos anos do século XIX, de 1802 a
1881, marca seu início a partir da data de publicação do Epítome da grammatica
portugueza de Antonio Moraes Silva, que aponta uma nova diretriz para os estudos
gramaticais brasileiros, cujo fulcro nos estudos gramaticais partem nesse momento das
gramáticas de bases lusitanas, abandonando-se as bases das gramáticas latinas. Há nesse
período um movimento de expressão da nacionalidade, que é enaltecido após a data da
Independência. Foi um período de grande produção de compêndios gramaticais de viés
nacionalista. As obras desse período sofreram críticas por não focarem seus interesses
no estudo do português brasileiro, limitando-se a produzir gramáticas com regras
copiadas dos compêndios lusitanos e aqui estabelecidas como regras do bem-dizer.
Estabelece-se o ensino da norma literária na escola de nível elementar.
Gonçalves Dias, Odorico Mendes e Francisco Sotero dos Reis são nomes
relevantes desse período, que contribuíram para elaboração de um modelo gramatical
que perdurou por mais de uma geração. A Grammatica Portugueza de Sotero dos Reis é
obra de destaque por trazer considerações importantes a respeito dos limites entre a
ciência linguística e a arte gramatical. E, assim como a obra de outros autores relevantes
do período, demonstra influência da Gramática de Port Royal, sobretudo na
organização sinóptica: etimologia, sintaxe, ortografia e prosódia, e na teoria sintática
fundamentada no tripé sujeito–verbo–atributo.
12
O terceiro período, denominado científico, de 1881 a 1941, em relevo neste
trabalho, subdivide-se em duas fases: a fase fundadora (1881-1922) e a fase legatária
(1922-1941) e tem como obra representativa a Grammatica da língua portugueza de
Julio Ribeiro. O autor inaugura com sua obra o método histórico-comparativo de
descrição da língua no Brasil. Sua publicação marca o início dessa nova vertente dos
estudos gramaticais, em que se abandona a perspectiva da Gramática de Port Royal e
estuda-se a língua sob a perspectiva histórica.
Na segunda metade do século XIX, os estudos linguísticos no Brasil voltam seu
interesse para a história da língua, que, por influência das teses de Schleicher e
Darmesteter (que adotam os princípios darwinistas nos estudos lingüísticos) e
consideram a língua um organismo vivo, dessa forma, sujeito a mudanças, evoluções
através do tempo. Ao contrário dos estudos do período racionalista “o fato gramatical
deixa de ser contemplado para ser analisado” (CAVALIERE, 2002: 111). Adotam-se
dessa forma os mesmos métodos de investigação da Biologia no estudo da língua,
enfatizando-se os estudos etimológicos. É um período de intensa produção de teses de
concurso, gramáticas históricas e gramáticas descritivas. Essa fase é denominada por
Cavaliere (2002) de fundadora.
Uma característica do método histórico-comparativo das gramáticas científicas,
que se contrapõe ao aspecto adotado na gramática de Port Royal é a busca por grande
número de exemplos em obras referências para atestar qualquer proposição a respeito do
fato linguístico, enquanto que, no racionalismo o método matemático foi eleito o
método do conhecimento em geral, em que se utilizava no estudo científico o método
hipotético-dedutivo, o qual formulava, com base na observação dos fatos, uma teoria
13
que iria explicar os fatos conhecidos e poderia prever os que ainda não o eram, que se
autoclassificava teoria geral e universal, útil à análise de fatos de todas as línguas.
Enquanto na fase fundadora os pesquisadores tinham seus olhares voltados para
a palavra, na fase legatária, com início no primeiro decênio do século XX, percebe-se
um novo enfoque de estudo que surge a partir de novas fontes teóricas que tem como
nomes relevantes Diez e Meyer Lübke. Nesta nova fase a atenção à língua fica mais
restrita aos fatos gramaticais do português com abrangente abonação de corpus literário.
Nota-se nesse período um maior compromisso com o empirismo, diferente do
método adotado pela Gramática de Port Royal, em que, com base na observação de
poucos exemplos, chegava-se a premissas válidas para fatos posteriores. Há nessa fase
ênfase nos estudos da sintaxe e da morfologia.
O quarto período, denominado linguístico, que data de 1941 aos dias atuais,
subdivide-se em duas fases: a estruturalista e a diversificada.
A fase estruturalista tem, como marco, a publicação de Princípios de Linguística
Geral de Mattoso Câmara, com predomínio da corrente formalista de estudo nas
produções acadêmicas até os anos 70. O objeto de estudo de então é a teoria linguística
per si, seus paradigmas, sem qualquer referência a uma língua particular, que emerge
como disciplina no curso superior. A obra de Mattoso Câmara consolida a Linguística
como ciência autônoma.
Nessa fase inicial, estiveram presentes também os estudos gerativos, que, por
apresentarem lacunas teóricas, não dispõem do mesmo prestígio que a escola
estruturalista, mas que, concomitante ao estruturalismo orientaram os trabalhos
produzidos até meados de 80, momento em que a perspectiva de estudo da língua
focaliza a oralidade. Nessa fase, denominada diversificada, desvia-se o estudo das
14
gramáticas. É um período de efervescência linguística, com desenvolvimento de várias
correntes linguísticas paralelamente.
15
4
CONTEXTO SOCIOCULTURAL
Com o objetivo de desenvolver um trabalho rigorosamente científico no âmbito
da HL, cabe ao historiógrafo compreender o contexto vigente do período sob o qual
elabora sua pesquisa. Desse modo, assinalaremos o cenário epistemológico de meados
do século XIX aos dois primeiros decênios do século XX para que possamos conhecer
os fatores políticos, sociais, econômicos e culturais que influenciaram a produção das
gramáticas neste trabalho estudadas.
O período sobre o qual discorre nossa pesquisa compreende os anos de 1881 a
1922, que corresponde à fase fundadora do período científico. Representa um período
de significativas mudanças principalmente no final do século XIX, no qual podemos
destacar dois importantes fatos históricos: a Abolição em 1888 e a Proclamação da
República em 1889. É importante mencionarmos, também, a tomada de consciência
política disseminada pela Independência do Brasil no início do século XIX, que
contribuiu para uma mentalidade nacionalista que, em conjunto com o grande índice de
analfabetismo no Brasil, dá origem a uma fase de preocupação com o ensino da língua
pátria.
Após a expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal, em 1759, pouco se
investiu no sistema educacional no Brasil. Novas ordens religiosas assumiram o
compromisso com a educação com aulas avulsas e dispersas, e Portugal, que até então
não investia na educação brasileira, manteve a mesma postura.
O analfabetismo no século XIX não é um panorama restrito aos países latinoamericanos, compreende também grande parte dos países europeus. Porém, nos últimos
16
30 anos do século XIX inicia-se um movimento para superar o analfabetismo, que
comprometia o desenvolvimento das nações. Os países europeus promovem a educação
primária gratuita, reduzindo o índice do número de analfabetos para menos de 5%, por
volta de 1900. No Brasil, o índice de analfabetos é de 67,2 %, em 1890.
Não há nesse período, no Brasil, faculdades de filosofia, ciências e letras, o que
não favorece a realização de pesquisas filosóficas e científicas. Verifica-se também o
desinteresse pelo estudo da ciência e da filologia diferente do que ocorre no mundo
ocidental.
A elite intelectual brasileira, que retorna ao país após a conclusão dos estudos na
Europa, impregnada pelos ideais nacionalistas vigentes por lá, voltam seus anseios para
promover movimentos libertadores. No entanto, devido ao seu distanciamento do povo,
encontra dificuldade de mobilizar a população por esse ideal, que não tem nesse
momento grande alcance e repercussão popular.
Embora o Rio de Janeiro tenha sido a cidade sede da corte, o desenvolvimento
dos estudos humanísticos e linguísticos no Brasil desenvolveram-se nos estados do
norte e do nordeste. Não ao acaso esse atraso ocorre na corte; o Rio de janeiro, no início
do século XIX, é descrito como cidade de cinismo e depravação, gozava de má
reputação (M. ARAGO apud CAVALIERE, 2009), e era desprovido de investimento
estatal.
O Brasil leva cerca de quarenta anos a partir da Independência para expandir sua
produção cultural em dimensão nacional, dada a razão de que o talento brasileiro só se
faz por abeberar-se da cultura lusitana, não havia aqui incentivo da Corte, e também por
sua dimensão territorial, que é empecilho para a disseminação do ideal nacionalista pela
limitação de comunicação que cria entre as diversas províncias.
17
Com a vinda da família real ao Brasil, um novo panorama se configura no
sistema educacional. As novas condições político-econômicas provenientes dessa
transição favorecem uma nova orientação no ensino. Era necessário formar a elite que
ocuparia os cargos públicos da administração. Criaram-se a Academia da Marinha, em
1808, e a Academia Real Militar, em 1810, com o propósito de formar oficiais e
engenheiros encarregados da defesa militar da colônia, o curso de cirurgia, em 1808, no
hospital militar da Bahia e o curso de cirurgia e anatomia do Rio de Janeiro, etc. “D.
João VI fundou o curso superior, dando-lhe um sentido exclusivamente utilitário, pois
tornara-se urgente a formação dos profissionais exigidos pelas novas condições”
(HOLANDA, 1982:367).
O segundo reinado foi um período conturbado, marcado por questões militares,
religiosas e servis, eventos políticos que conduziram o governo à Proclamação da
República. As questões militares têm seu ápice no que ficou conhecido por Questão
Sena Madureira e Questão Cunha Matos, que se referem aos pronunciamentos de dois
militares, o primeiro um tenente-coronel e o segundo um coronel, que utilizaram a
imprensa para fazer discussões políticas, ocasionando a proibição aos militares de se
expressarem através da imprensa e, em 1886, no decreto de prisão do coronel Cunha
Matos pelo Ministro da Guerra Alfredo Chaves, o que promove um imenso
descontentamento no meio militar. Deodoro da Fonseca, com o apoio dos militares,
assina um manifesto contra a ação do governo.
A questão religiosa foi outro fator que contribuiu para a promulgação da
República. Durante o período imperial, o Estado indicava os sacerdotes aos cargos
eclesiásticos. Os membros do clero eram pagos pelo governo e equiparados aos
funcionários públicos, portanto, eram obedientes ao governo, tendo que respeitar tanto
18
as leis do Estado quanto as leis da Igreja, que não poderiam confrontar-se. O governo
Imperial validava as leis da Igreja, porém, somente após submissão aos órgãos da
administração responsáveis por sua autorização. Nesse contexto, no pontificado de Pio
IX, alguns conflitos surgem, visto que certas medidas contra a maçonaria são tomadas e
não são adotadas pelo governo brasileiro, que tem entre seus membros maçons, que
muito contribuíram para orientação política no Império no período regencial.
Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira e Dom Antônio de Macedo e Costa,
bispos de Olinda e do Pará, respectivamente, obedientes às determinações do papa,
expulsam os maçons de suas irmandades religiosas e, ao não voltarem atrás em suas
decisões, contrariam o governo e acabam presos, o que gera uma instabilidade no
governo, pois tal situação não agrada à opinião pública. Em 1875, D. Pedro II,
pressionado pelo papa e por Duque de Caxias, que ameaçava abandonar o cargo de
presidente do Conselho de Ministros, anistia os bispos. A questão religiosa põe em
evidência o declínio da autoridade do governo imperial. Em 1891, com publicação da
primeira constituição republicana, estabelece-se a separação da Igreja e do Estado.
Na questão servil, o que se observa é que, com a Abolição, o governo perde uma
importante base de sustentação, a dos fazendeiros escravocratas, que sem condições
financeiras de adotar outro meio de produção, veem-se prejudicados. A classe crescente
da burguesia sem representação política engrossa a marcha do movimento republicano.
O governo, carente de apoio, no ano seguinte chega ao fim do regime imperial.
O movimento que altera o regime monárquico em republicano tem, como chefe,
o Marechal Deodoro da Fonseca, que se tornou o primeiro presidente do Brasil,
consolidando, junto com Marechal Floriano da Fonseca, o período denominado de
19
República da Espada (1889-1894), dessa forma conhecido por serem os dois primeiros
presidentes militares.
Do período que vai de 1822 com a Independência do Brasil até a fase da
primeira República de 1889 a 1930, poucas transformações ocorreram no que concerne
à educação brasileira. Com a independência do país em 1822, o governo concentra-se
em promover a formação da elite dirigente do país, preocupando-se particularmente
com a criação do ensino superior e em estabelecer as formas de ingresso a seus cursos.
A educação nesse momento no Brasil não é regulamentada, não há regularidade, nem
sequencialidade no ensino, com poucas escolas primárias e algumas secundárias, cuja
precípua finalidade era a de preparar o aluno para o ingresso ao curso superior,
caracterizando-se como um preparatório. O aluno podia tanto ingressar no ensino
primário, quanto no secundário e no superior sem necessidade de ter frequentado o
curso primário como pré-requisito ao ingresso para o curso secundário, assim como não
era necessária a conclusão do curso secundário para o ingresso ao curso superior. O
período republicano herda do império um sistema educacional nacional precário, com
grande número de pessoas não escolarizadas:
Em 1834, o Ato Adicional consumou o desastre para o nosso sistema
educacional, atribuindo competência às assembléias provinciais para legislar
sobre ensino elementar e médio. Apenas o ensino superior em geral e o
elementar e médio do Município Neutro (futuro Distrito Federal)
permaneceram a cargo do governo central (HOLANDA, 1982: 376).
Dessa forma, as províncias criaram os liceus, direcionando as aulas antes
dispersas para um só local, embora o ensino não fosse ministrado de forma igualitária
em todas as províncias.
20
Na Constituição de 1891 amplia-se a competência do Estado, que, além da
competência privativa para legislar sobre ensino superior na capital da República e para
prover a instrução no Distrito Federal, passa a ter competência concorrente para criar
instituições de ensino secundário e superior nos Estados, no entanto, mudanças na
mentalidade do ensino não são percebidas, perpetuando o modelo jesuítico, livresco,
enciclopédico, sem fins práticos, desvinculado das necessidades da realidade vivida pelo
povo.
O governo, em 1837, com o decreto de 2 de dezembro, funda o Colégio Pedro II,
estabelecimento de ensino secundário que “foi a primeira tentativa do poder central de
organizar o ensino secundário regular no país” (PILLETTI, 1995:46). Os estudos lá
eram oferecidos de forma seriada, organizada. Àqueles que lá concluíam o estudo
secundário era conferido o grau de bacharel em letras, o que lhes permitiria o acesso
imediato ao curso superior sem a necessidade de fazer provas.
Com a chegada da família Real ao Rio de Janeiro, a cidade tem sua vida cultural
enriquecida com a instalação da Biblioteca Nacional e da Imprensa Régia, com a
criação do Jardim Botânico e com a mudança de ambiente cultural e social
proporcionada pela presença da Corte. Mudanças que foram lentamente estendidas a
outros estados do país.
No aspecto econômico, do período colonial à primeira República, a atividade
predominante no Brasil é a agrícola, destacando-se o cultivo do café que foi bastante
rentável até os anos de 1930.
Desde o séc. XVIII, o café já apresentava intensa produção e era exportado no
Rio de Janeiro. No período que antecede a proclamação da República (1880-1889), a
produção de café já correspondia a 56,63% da produção mundial. A cafeicultura foi
21
responsável pelo aparecimento da aristocracia do segundo reinado. A aristocracia do
café influenciou bastante a vida política brasileira, que ansiosa por poder político a fim
de poder decidir sobre seus interesses, iam contra a política centralizadora do regime
imperial. Até 1930 quase todos os presidentes eram ligados à cafeicultura, uma política
que ficou conhecida como a política do “café-com-leite”, com apenas três presidentes
eleitos cuja origem não era de São Paulo ou de Minas Gerais.
Destarte a cafeicultura influenciou a vida política, econômica e social do país.
Estradas de ferro foram construídas para o escoamento do café e, após a abolição,
devido à falta de mão-de-obra, o país recebe grande número de imigrantes para trabalhar
nas fazendas, configurando uma nova estrutura social, crescente nas primeiras décadas
de República. Nasce a burguesia. No período traçado em nosso trabalho podemos
assinalar dois fluxos de imigração: 1888 a 1897 e de 1906 a 1914. A abertura dos portos
ao comércio internacional e a posterior autorização para a instalação de indústria não
contribuiu para que nesse momento houvesse um desenvolvimento industrial, pois os
baixos preços das mercadorias importadas e sua boa qualidade não estabeleciam
condições favoráveis para a concorrência, pois, além desses fatores, não havia
infraestrutura. A falta de transportes e comunicação entre as regiões do país, as poucas
fontes de energia, indústria incipiente eram alguns dos problemas encontrados para o
desenvolvimento econômico industrial.
Em 1850, surgem as primeiras indústrias no Brasil, que produzem artigos para
consumo interno. Em 1889, com seiscentos estabelecimentos comerciais, a economia
começa a se diversificar. A produção de café que era de 4,5 milhões de sacas, em 1880,
passa a 17 milhões, em 1919, e a 27 milhões, em1938, ano, no qual o valor da produção
industrial preponderava sobre o da agrícola. E apesar de a produção industrial
22
sobressair, a produção de café contribuiu muito para esse crescimento, impulsionando a
criação de estradas e portos.
A indústria encontra espaço durante a Primeira Guerra Mundial, em que a
produção de produtos anteriormente importados torna-se necessária, visto que a
importação não é possível durante o conflito. Nesse momento livre da concorrência, a
indústria apresenta grande avanço e, com o fim da guerra, a burguesia, fortalecida com
o acúmulo de capital, começa a pleitear mais espaço no poder. No aspecto cultural, as
mobilizações acontecem no sentido de opor-se à transplantação da cultura européia
imposta no período colonial, surge o Modernismo, movimento que propõe romper com
a tradição de influência estrangeira, implantando nas expressões culturais o cunho
nacionalista. Em 1922, intelectuais de São Paulo e do Rio de Janeiro juntam-se para
organizar um evento de divulgação e demonstração do que já se produzia no Brasil com
originalidade e autenticidade brasileira no âmbito da cultura com obras de escultura,
pintura, arquitetura, música e literatura, é a Semana de Arte Moderna.
O advento do Modernismo Brasileiro é uma mostra da vontade de romper
com o passado. Politicamente o Brasil passa por um momento de
estabilização do regime republicano, tornando-se necessária a contratação de
mão-de-obra estrangeira para suprir o trabalho escravo. Com a chegada dos
imigrantes, novas culturas se entrelaçam à brasileira, outras línguas, outras
raças, outras religiões e outros comportamentos vão fazer o governo
brasileiro tomar determinadas precauções no sentido de preservar o
patrimônio e a hegemonia nacionais: faz-se necessária a preservação da nossa
nacionalidade e a Língua Portuguesa passa a ser vista como símbolo da
unidade nacional (BASTOS, 2006:86).
Recorrendo às obras de Barbadinho Neto, fruto de uma ampla pesquisa dedicada
ao estudo da língua do modernismo, temos que as mudanças do uso da língua,
encontradas nos textos de 22, eram também um modo de defesa de um patrimônio
nacional e de repressão das influências estrangeiras, pois a língua aqui falada e escrita
23
não é a mesma dos portugueses, visto que, durante o período colonial, a língua
portuguesa, em contato com as línguas indígenas e africanas, sofreu modificações,
apresentando peculiaridades, que aqui destacamos, dada à pertinência ao nosso estudo, o
uso da preposição em para a indicação de lugar.
Dentre os brasileirismos, ou seja, o que o autor define como as contribuições que
os escritores modernistas legaram para o estabelecimento da norma literária, está o
emprego da preposição em se sobrepondo ao emprego de a, quando utilizada junto a
verbos de movimento, embora se adstringindo a alguns desses verbos, uso consagrado
no português contemporâneo. Outra valorização dos modernistas brasileiros é o
emprego da preposição em para apontar a matéria de que algo é feito. Ex: A figura em
madeira de S. Pedro.
Diferentemente do que ocorreu nos Estados Unidos em que a segregação racial
foi sedimentada por um sistema rígido, ratificado por lei, no Brasil, o longo período de
escravidão propiciou a configuração de uma nação miscigenada. Era comum o abuso
das mulheres negras por homens brancos, fator eminente no sistema colonial brasileiro.
Além disso, o número de mulheres negras em proporção maior do que o de brancas
resultou na ampla miscigenação, que teve o mulato como fruto dessa relação.
A esse novo grupo social eram oferecidas as seguintes condições: ser mantido
escravo, ser alforriado ou educado, o que variava conforme sua cor de pele mais clara e
suas feições mais parecidas com as dos brancos. Nesse sentido, aos mulatos é dada a
oportunidade de circular por “espaços sociais dos brancos”, pois, no Brasil, a distinção
entre as raças é dada por uma linha divisória de comportamento, não há uma rígida
separação de cor como nos Estados Unidos. Distinguem-se o comportamento da
moralidade, dos brancos, e o comportamento da imoralidade, dos negros. Assim,
24
a fim de assegurar um lugar acima da linha de comportamento, um afrobrasileiro deve ter os mesmos interesses e afinidades culturais de um branco,
tendo muito cuidado para portar-se como um branco, ao mesmo tempo que
implicitamente pede desculpas por sua aparência “selvagem”.
(BROOKSHAW, 1983:152)
Em face de tal situação, no contexto literário poderá haver três atitudes à
disposição do intelectual negro: ocultar sua identidade e orgulhar-se de sua aptidão para
escrever, aptidão que impossibilitava a descoberta de sua origem; escrever como um
nativo utilizando as formas dialetais herdadas, imprimindo humor e ternura; e protestar
contra a opressão política e econômica de seu povo, utilizando a linguagem e a forma
literária sancionadas pela tradição européia, conforme observado por Brookshaw em sua
obra Raça e cor na literatura brasileira (BROOKSHAW, 1983: 152).
Machado de Assis e Cruz e Sousa são representantes do primeiro grupo. Temos
em suas obras, respectivamente, o distanciamento das origens e as referências à raça
camufladas por símbolos. Machado de Assis, que era mulato, é defendido por alguns
autores como Domício Proença Filho (2010), já que nunca se preocupara com questões
raciais, talvez por ser casado com uma moça de família branca de ascendência
portuguesa, como afirma Brookshaw (1983: 153). Os autores pretendiam transcender a
linha do comportamento da moralidade, ocultando suas formas físicas por meio de sua
competência intelectual, no entanto, para Cruz e Sousa, isso não era fato simples, já que
estava mais próximo da extremidade negra em suas feições, sendo mais hostilizado.
Mais adiante, com o processo crescente da industrialização, surge no Brasil um
novo conceito de cultura no período republicano, o Brasil vive um período em que os
produtos de cultura transformam-se em mercadorias, em que toda produção está
25
submetida às leis de mercado de trabalho. Aqueles que produzem cultura já não detêm
como outrora os meios de produção em suas mãos.
A cultura integra-se à sociedade como forma de ostentação da burguesia, como
via de acesso social. Em decorrência do desenvolvimento comercial, o interesse pela
instrução começa a se expandir quer, por exigência utilitária, quer como forma de
distinção de classe. Tal como se dá o aprendizado de piano, que se torna típico da
educação feminina de classe superior.
É a pequena burguesia que tem acesso aos bens culturais, pois o
desenvolvimento cultural encontra grande dificuldade de incorporar-se a outras classes
sociais, as quais “a vida mantém distanciadas e indiferentes às suas manifestações”
(SODRÉ, 1982:70)
Ao mesmo tempo em que o desenvolvimento das relações capitalistas torna as
criações artísticas em mercadorias, abre-se um novo mercado. Essas atividades, antes
desvalorizadas, adquirem novo status social, faz com que as atividades que eram
amadoras passem ao plano da profissionalização e adquiram consideração e apreço,
aumentando consideravelmente seu público. Os julgamentos das criações não são mais
restritos aos pares, há o público consumidor que faz o seu julgamento de valor.
No período de desenvolvimento das relações capitalistas, houve interesse na
aceleração da redução da alta taxa de analfabetismo com o propósito de qualificar
intelectualmente a população para que pudessem suprir as demandas da nova sociedade
na esfera profissional.
Ao Estado cabia o ensino primário por exigência do mercado por pessoas para
desenvolver trabalhos físicos, que apresentava maior demanda que as de trabalho
intelectual. Dessa forma, era necessário o conhecimento mínimo: ler, escrever, contar.
26
Até 1930, funcionaram as faculdades isoladas que proviam a quantidade de
profissionais liberais necessárias à sociedade da época. O acesso às universidades era
privilégio de poucos. Os cursos de Direito “tornando-se, muitas vezes, passagem
obrigatória para os filhos das classes abastadas, que buscavam um título para reafirmar
sua posição social” (HOLANDA, 1982: 375), propiciavam a seus egressos os mais
importantes postos na administração pública, prestígio político e social, o que explica a
falta de interesse da classe dirigente do país por problemas econômicos, e o pouco
espaço que foi dado às ciências exatas e à pesquisa científica, pois, nos cursos de
Direito, a ênfase dos estudos era dada à retórica e à eloquência, situações em que o uso
das palavras tem mais peso do que os fatos relatados, pois
a cultura que tinha por finalidade não o saber, mas o diploma – que
funcionava como título de enobrecimento – seria, consequentemente,
“literária e abstrata”, transmitida “por métodos que se baseavam, não sobre a
ação e o concreto, mas sobre a leitura, o comentário e a especulação”,
destinando-se, assim, “a formar pregadores, letrados e eruditos que, com o
título, aspiravam às profissões liberais e aos empregos públicos (SODRÉ
1982: 36).
De posse dos títulos, os bacharéis tornavam-se intérpretes dos interesses da
classe dominante.
Estes cursos foram previstos como provedores do quadro de funcionários das
assembléias, do governo das províncias do país, e ofereciam conhecimentos
humanísticos e filosóficos, habilitando os bacharéis às letras, ao jornalismo, à política,
ao magistério e às funções públicas. Padres e bacharéis constituíam os únicos elementos
dotados de cultura no século XIX e nos primeiros decênios do século XX. Havia um
atraso no domínio das ciências, o Brasil era somente objeto de pesquisa das expedições
estrangeiras. As atividades científicas ficavam restritas ao esforço individual.
27
Inicia-se o desenvolvimento da pesquisa científica devido às necessidades
surgidas pelo desenvolvimento da lavoura do café, impulsionando o estabelecimento de
instituições como Instituto Biológico, Instituto Agronômico, Instituto Butantã, Instituto
Adolfo Lutz, em São Paulo. Por necessidades do desenvolvimento urbano, foram
criados, no Rio de Janeiro, o Instituto Maguinhos, em Belém, o Instituto Goeldi, e na
Bahia o Instituto Nina Rodrigues entre outras instituições para estabelecer medidas de
saneamento e higiene.
Na arte, vemos os esforços para o desenvolvimento da indústria cinematográfica,
que começaram cedo e encontraram muitos obstáculos, por que apesar do grande
número de atores, havia falta de capital e de trabalho de equipe. Até a primeira guerra
somos consumidores de filmes europeus, após esse período nos tornamos os grandes
importadores de filmes norte-americanos.
A música popular brasileira tem seu avanço no final do século XIX com a
marcha carnavalesca Ó abre alas de Chiquinha Gonzaga, em 1897. E como
influenciadores de sua profusão a existência e o prestígio do carnaval, festa popular e
urbana fundada na música e na dança, a urbanização que permite o aparecimento do
teatro musicado, veiculando música popular, e as festas de salão, de residências, de
clubes, os blocos, os ranchos, as escolas-de-samba e o coro da multidão, que se
configuram como grandes divulgadores das novas composições. Esses veículos
propiciam à música popular o caráter urbano. Triunfa a música popular brasileira
quando a pequena burguesia a adota e aceita. Sua fase de qualidade é marcada por
nomes como de Noel Rosa, Orestes Barbosa, que a imprimiam poesia, até que com o
advento do disco perde qualidade e os artistas aristocratizam.
28
5
ORIGEM DAS PREPOSIÇÕES PORTUGUESAS
Inicialmente as preposições começaram a ser empregadas no latim para
subordinar o complemento ao verbo, posteriormente sendo mais usadas em decorrência
da redução dos casos latinos, os quais não eram mais identificáveis pelas flexões; dessa
forma, usa-se as preposições com o objetivo de dar clareza a alguns valores semânticos
empregados no discurso.
“Vieram-nos as preposições parte do idioma latino que conhecemos através da
literatura, parte do românico; outras foram tiradas de advérbios portuguêses
acrescentando-lhes a palavra de: depois de, diante de, em cima de, etc.” (SAID ALI,
1971: 203)
No latim, as funções sintáticas eram marcadas pelas desinências casuais, porém,
com as modificações fonéticas e morfológicas ocorridas na língua, elas se tornaram
imprecisas, fazendo com que fosse necessário o uso de preposições para melhor
expressão do que se estava dizendo. O falante necessitava de novos recursos para dar
mais clareza às informações que ele queria exprimir, visto que, com tais modificações,
ele encontrava dificuldades em expressar determinadas circunstâncias: origem,
instrumento etc., as quais antes eram expressas pelas flexões casuais. Dessa forma,
surgiu no latim vulgar um número maior de preposições, configurando-se como
elemento necessário para estabelecer determinados conteúdos semânticos, que foram
esvaziados dos casos.
Assim o desenvolvimento do uso da preposição foi paralelo à redução da
declinação. Esse desenvolvimento teve seu início em relações concretas (de
lugar, de tempo, de instrumento, de causa, de origem etc.) e os casos que as
29
expressavam se enfraqueceram, chegando a desaparecer. (POGGIO, 2002:
93)
5.1 Fontes do latim clássico
No latim clássico, o emprego das preposições ocorre em uso moderado; há um
uso secundário das preposições.
Dentre as preposições portuguesas, as que originalmente já funcionavam
sintaticamente como preposições no latim, como nos assegura Cândido Jucá (1945:
251), são: a, ante, até, com, contra, de, dês, em, entre, para, per, por, pós, sem, sob,
sobre e trás, as quais veremos abaixo em suas formas primitivas, classificadas por Said
Ali (1971: 203)
Said Ali distribui as preposições em dois grupos, em conformidade ao modo
como elas foram aproveitadas na língua portuguesa, classificando-as da seguinte
maneira:
1) Preposições que passaram para o português sem alterar sua forma: ante,
contra, de, per.
2) Preposições que passaram para o português com suas formas modificadas:
ad>a, post>pós; cum>com; inter>antre, entre; sine>sem; trans>trás;
pro>por; secundum>segundo; in>em, em; sub>sob, so; super>sôbre; e
tenus, que o autor não precisou sua origem, apresentando-nos duas
possibilidades: ataa, até ,té > tenus e a de que tenus viria da partícula árabe
hatta.
Em adição às preposições acima destacadas, tínhamos no sistema português do período
arcaico a preposição atá, de origem árabe e per que se modificava em par: pardês,
pardelhas, assim afirmado por Coutinho. (1973: 269)
30
Adiante veremos no item 5.3 que outras preposições apareceram no português
em decorrência do processo de gramaticalização, como por exemplo: durante, mediante,
tirante, advindas do particípio presente.
5.2. Presença no latim vulgar (corrente)
Latim vulgar, latim corrente ou familiar são denominações da modalidade falada
não-culta da língua, à qual os romanos convencionaram chamar de sermo vulgaris, e da
qual o português originou-se. Contido por muito tempo em suas expansões por
influência da ação dos gramáticos e da literatura, o latim vulgar se expande livremente
após a queda do Império Romano, momento em que ocorre o fechamento de escolas e o
desaparecimento da aristocracia, espaços e pessoas que cultivavam as boas letras.
No latim vulgar, tínhamos os casos nominativo, vocativo, dativo, ablativo,
genitivo e o acusativo, que veremos a seguir, ficaram reduzidos a poucas formas.
Encontramos em Coutinho (1973: 33) as mudanças ocorridas no latim vulgar
que influenciaram o uso das preposições. São elas:
1) Redução das cinco declinações do latim clássico a três, proveniente
da confusão da quinta com a primeira e da quarta com a segunda: *dia, ae
(dies, ei), glacia, ae (glacies, ei); fructus, i (fructus, us). gemitus, i (gemitus,
us);
2) Redução dos casos, tendo-se conformado, em todas, em tôdas as
declinações, o vocativo com o nominativo; o genitivo, o dativo e o ablativo,
já desnecessários pelo emprêgo mais freqüente das preposições, com o
acusativo. Ex.: cum filios (cum filiis), ex litteras (ex litteris), Saturninus cum
discentes (cum discentibus).
A redução das declinações fez com que certos casos ficassem indistintos, nas
palavras de Poggio (2002: 83), criaram-se “morfemas homófonos”, o que dificultou a
clareza das informações.
31
No latim vulgar, como assinala Coutinho (1973: 268), as preposições
apresentavam-se de duas formas: as compostas - combinação de duas ou mais
preposições-, que eram frequentes, e as simples, constituídas por um só vocábulo. Já no
português, teremos também um grande número de locuções prepositivas, que são
combinações de substantivos ou advérbios + preposições e, apesar do grande número
das preposições portuguesas, a maior parte, ter vindo do latim, o número de preposições
no português é maior, porque palavras como adjetivos, particípios passados e particípios
presentes passaram a ser empregadas como preposições.
No português temos as seguintes preposições destacadas por Sousa da Silveira
(1983: 135), em Lições do português, com suas respectivas origens etimológicas:
a < ad.
ante < ante.
após < ad + post.
até < ? Às vezes reduzidas a te.
com < cum.
contra < contra.
de < de.
dês < de + ex.
desde < de + ex + de.
em < in.
entre < inter. Formas arcaicas: antre e ontre
pera, arc.
para
< per + ad.
32
per < per.
perante< per + ante
por < per
por < pro, convertido em * por, talvez por influência de per.
sem < sine (i breve = e)
sob, so arc. < sub (u breve = ô)
sobre < super (u breve = ô)
trás < trans.
5.3 Processos de gramaticalização
Neste momento, observa-se-ão as preposições sob a perspectiva da gramática
funcional, dos processos de gramaticalização pelos quais esses itens se modificaram,
definidos aqui como mecanismos de extensão de sentidos utilizados na língua com o
objetivo de conceituar circunstâncias, relações não passíveis de serem expressas pelos
recursos até o momento existentes, dessa forma reformulando-os. Também
explicaremos o uso de determinadas palavras que, no latim, pertenciam a outras
categorias gramaticais e que, na língua portuguesa, apresentam-se na classe gramatical
das preposições. Tal concepção de estudo da linguagem considera a interdependência
entre langue e parole. Trata-se do estudo da língua sob a perspectiva do uso. (MOURA
NEVES, 2001: 115)
Para entendermos como se processam os mecanismos pelos quais algumas
preposições foram gramaticalizadas, recorremos ao estudo que Poggio (2008) elaborou,
com base na comparação entre os dois primeiros livros de Diálogos de São Gregório e a
sua tradução mais antiga em português arcaico do século XIV, no qual a autora observa,
33
no percurso das preposições do latim ao português, as alterações gramaticais e
semânticas que as preposições sofreram quando gramaticalizadas.
Na versão latina dos Diálogos de São Gregório, Poggio notou que, do ponto de
vista semântico, algumas preposições foram intensamente gramaticalizadas, ao passo
que outras eram bastante transparentes. Dentre as intensamente gramaticalizadas, a
autora destacou ad, in e de, que não possibilitavam uma clareza de sentido na análise,
enquanto que ante, cum, contra excepto, inter, per, pro, secundum, sine, sub, super
eram evidentes na expressão do sentido, por isso transparentes.
Nos dados documentados no corpus analisado pela autora, ela verificou que há
um entrecruzamento do sistema preposicional, em que várias preposições podem
expressar a mesma relação, mesmo com cada uma dessas preposições possuindo um
sentido fundamental e sendo distintas entre si, o que poderíamos dizer, foi ocasionado
pelo apagamento semântico de algumas preposições como exposto acima, denunciando,
dessa forma, que foram gramaticalizadas.
Segundo os dados de Poggio (2008), as preposições foram gramaticalizadas, em
sua maioria, na passagem do latim ao português, por extensão metafórica, e alguns
casos por extensão metonímica, processo o qual as preposições expandem sua função
básica de relacionar vocábulos para relacionar sentenças.
Ao traçar a história das preposições, Poggio (2008) destacou as seguintes
modificações, observadas na passagem do latim ao português:
1- Preposições cujas formas desapareceram e tiveram seus conceitos expressos
por outras preposições ou locuções prepositivas: apud, propter, coram e usque
2- Preposições cujas formas desapareceram na passagem para o português, mas
estão presentes na língua portuguesa na forma de prefixos e que têm hoje seus conceitos
34
expressos por outras preposições ou locuções prepositivas. São elas: a/ab, e/ex, extra,
intra, juxta, e ultra, dentre as quais a/ab, e/ex e extra já eram usadas no latim clássico
como prefixos.
3- Preposições cujas formas sofreram modificações na sua passagem para o
português.
4- Preposições que foram originadas da junção de duas preposições.
O processo de gramaticalização das preposições torna-se evidente diante da
valoração dos sentidos efetivamente possíveis nos diversos contextos de uso, na medida
em que esses diversos valores contribuem para a construção de um referente no
discurso, assim também pelo seu caráter transpositor de atribuir função sintática ao
termo a ela subsequente, ao estabelecer relações entre termos, sejam eles vocábulos ou
orações. Visualizamos nessas preposições um processo de recategorização por
inferências pragmáticas de sentido que se desenvolveram diacronicamente, ou seja, na
evolução da língua (a diacronia). Notamos, então, que a gramaticalização é motivada
pelo léxico, pela sintaxe e pela pragmática, produzindo novos sentidos, assim
modificando seus referentes.
Nas estruturas linguísticas, as preposições podem ser índices sintáticos de
adjuntos adverbiais, adjuntos adnominais, complementos nominais, objetos indiretos e
de objetos diretos preposicionados, assim, recategorizando sintaticamente os termos que
a elas sucedem. Dessa forma, as preposições, em combinação com os verbos e nomes,
complementam também os sentidos de seus antecedentes, tendo, nessa relação, elas
mesmas seus sentidos originários estendidos, modificados, recategorizados.
35
Diante da perspectiva de língua como prática social, na gramática funcional a
língua em uso tem seu “ponto de partida nos propósitos do falante, que constrói seus
enunciados conferindo relevância aos argumentos segundo o que seja conveniente a
esses propósitos” (MOURA NEVES, 2006: 80), nos quais a produção de sentidos está
diretamente vinculada à intenção do falante ao se expressar, que serve de motivação
para o processo de gramaticalização.
Estudarmos as preposições sob a perspectiva da gramaticalização é situarmos
esse estudo numa visão de língua contemporânea, no qual tanto os fatores
intralinguísticos, quantos os extralinguísticos são relevantes para uma análise dos
sentidos; é reconhecermos que tal teoria se sustenta no conceito de estudo pancrônico da
língua, no qual verificamos as diversificações mórficas e semânticas da língua no devir
do tempo.
Nas preposições que surgem no português, o que se nota são palavras funcionais
originadas de palavras de conteúdo lexical, o que se poderia considerar instâncias
prototípicas da gramaticalização (MOURA NEVES, 2001: 120). Como exemplos,
Moura Neves cita as preposições durante e mediante e as locuções prepositivas apesar
de, a par de, a fim de, a despeito de.
Neste momento, trataremos das preposições que foram originadas no português,
dedicando atenção às oriundas do particípio presente latino.
O particípio presente é uma forma híbrida, pois pertencia ao sistema verbal
latino como forma verbo-nominal (OLIVEIRA, 2004: 59), e devido a essas suas
características ora de nome, ora de verbo são formas propícias à gramaticalização. Sua
forma híbrida favorece mudanças tais como sua recategorização em nomes (adjetivos e
substantivos), e em preposição, e sua substituição pelo gerúndio. Dada essa variação,
36
Oliveira está de acordo com Cândido Jucá Filho quando este afirma que a classificação
dos vocábulos deve se dar dentro do contexto, na oração, em que se pode avaliar as
relações entre os vocábulos.
No percurso do latim às línguas românicas, especialmente no português,
Oliveira destacou os vários processos de recategorização pelo qual o particípio presente
passou, e aqui destacaremos o que é de nosso interesse: a recategorização do particípio
presente em preposição. Nessa transição, ocorre o processo de mudança, no qual o
particípio presente se atualiza na língua portuguesa como preposição, seguindo o
princípio da unidirecionalidade, em que um elemento de uma categoria maior modificase e passa a integrar uma categoria menor. Como exemplos de preposições advindas do
particípio presente temos: durante, mediante, salvante, tirante.
As preposições portuguesas que surgem dos particípios latinos são classificadas
nas gramáticas tradicionais como preposições acidentais, o que significa dizer que
foram originadas a partir de vocábulos de outras classes gramaticais.
Em Oliveira (2004: 159), a preposição é descrita como “uma categoria
prototípica, cuja propriedade cuida de organizar, no discurso, os elementos de conteúdo
lexical, relacionando palavras, orações e partes do texto, marcando estratégias
interativas, expressando noções como tempo, aspecto, modo, entre outras”.
As preposições oriundas do particípio presente, ao sofrer gramaticalização,
neutralizam o marcador morfológico –nte, que indicava o tempo verbal, e assumem
características próprias de sua nova categoria, funcionando como elementos de relação,
sem que o sufixo -nte tenha qualquer interferência sintática e semântica no texto. Neste
caso, o que ocorre é o processo de perda da função e produtividade do morfema -nte.
37
Assim, temos que “durante, tirante, salvante, e exceto são formas nominais de verbos,
imobilizadas entre as preposições e, como tais, são empregadas” (PEREIRA,1940: 367).
A preposição tirado surge também de uma forma verbal latina, neste caso, do
particípio passado. “Os particípios que deram origem a preposições figuravam, em
português, em construções de oração reduzida e, em latim, em ablativo absoluto.”
(POGGIO, 2002: 248)
A preposição tirado integra o português pelo processo de recategorização
sintática da forma verbal do particípio passado e compondo a língua para expressar a
ideia da preposição excepto, que ao contrário de tirado, apesar de também ser
gramaticalizado de particípio passado, já compunha o quadro das preposições no latim.
Outras palavras que na língua portuguesa também funcionam como elementos
relacionais são as chamadas locuções preposicionais, comumente definidas pelos
autores como um grupo de palavras formado de uma ou mais preposições essenciais
mais outra palavra de outra categoria. Há, também, a combinação de preposições
essenciais, um processo comum da língua popular por necessidade de comunicação, que
se reproduz nas línguas românicas.
Poggio constatou em seu corpus que 62,5% dos casos das formas preposicionais
são empregadas para denotar espaço, o que se permite dizer que o surgimento de
preposições na língua primitivamente ocorre para expressão da ideia de espaço.
No tocante às locuções preposicionais Poggio (2002) verifica que elas exprimem
ideias mais abstratas.
38
6
PREPOSIÇÕES E A SINTAXE ANALÍTICA
Segundo Faria (1944: 228) as preposições são antigos advérbios usados junto de
alguns nomes, para tornarem mais precisas as relações indicadas pelos próprios casos,
cujo uso não era obrigatório, utilizados para dar ênfases às relações já expressas pelos
casos. Do enfraquecimento do valor significativo dos casos, devido a sua redução, o uso
destes advérbios se torna mais frequente, o que determina a ampliação da classe
gramatical das preposições. Diante dessa mudança o autor conclui que não eram as
preposições que regiam os casos, mas eles que passavam a exigi-las pela necessidade de
clareza da expressão.
No latim, as partículas adverbiais, após se anteporem obrigatoriamente aos
verbos como “preverbos”, aglutinaram-se aos verbos, ou associaram-se intimamente ao
complemento cuja relação com o verbo era recorrente. E foi essa junção da partícula
adverbial ao complemento que deu origem à categoria e ao mecanismo da preposição,
estabelecendo um sistema de redundância em que as preposições e as desinências do
caso acusativo ou ablativo eram empregadas para definir a relação estabelecida entre o
complemento e o seu verbo. Essa estrutura pleonástica é típica do latim clássico,
modificando-se no português e em outras línguas românicas, ao acabarem com essa
duplicidade, eliminando a desinência de caso (CÂMARA JR., 1979: 116).
E então, a partir do desaparecimento do sistema casual, as preposições passam a
ter função obrigatória de estabelecer relações entre os nomes, e os verbos e os seus
complementos, já que determinados conceitos só podiam ser expressos na língua com o
uso da preposição. Nesse momento, surge na língua uma estrutura sintática de maior
39
rigidez, nas quais a posição dos termos relacionados passa a ser fixa, contrariamente ao
que pré-existia no emprego dos casos latinos, principalmente no latim clássico, em que
o emprego de um nome em determinado caso era o suficiente para definir o que se
pretendia expressar em um enunciado, independentemente da ordem que ele aparecesse
na frase.
Passemos a um estudo mais detalhado do desaparecimento dos casos.
6.1 Desaparecimento dos casos
Como já observado, o emprego das preposições se generaliza no latim em
decorrência do processo de apagamento das marcas casuais de seu sistema.
Segundo Mattoso Câmara Jr. (1979: 175), no latim os complementos verbais
(nomes) vinham no caso acusativo ou ablativo, acompanhados pela partícula adverbial
que lhes antepunha, indicando sua subordinação ao verbo.
Dessa forma, as preposições já apareciam antepostas a esses nomes para melhor
definir suas condições de dependência. Com esse uso mais frequente das preposições a
fim de precisar o valor dos casos, as flexões casuais se tornam gradualmente
desnecessárias. Dentre os fatores que contribuíram para o enfraquecimento do sistema
flexional podemos destacar, desde o latim clássico, as mudanças fônicas: apócope do m, marca do acusativo singular; a identidade estabelecida entre -o e -u finais; a perda da
distinção de quantidade, por exemplo, na primeira declinação: -a para o nominativo,-a
para o ablativo e -a(m) para o acusativo etc, o que fez com que essas desinências se
tornassem semelhantes e, consequentemente ambíguas (POGGIO, 2002:82), além dos já
destacados em 5.2: redução das cinco declinações do latim clássico a três, proveniente
da confusão da quinta com a primeira e da quarta com a segunda; e redução dos casos,
tendo-se igualado, em todas as declinações, o vocativo com o nominativo; o genitivo, o
40
dativo e o ablativo, já desnecessários pelo uso mais frequente das preposições com o
acusativo.
Em decorrência, com a queda da flexão casual, no português, a marca da
subordinação recai exclusivamente sobre as preposições. Um traço característico das
línguas românicas é a utilização das preposições para relacionar nomes.
6.2 Papel sintático das preposições
No português as preposições são as responsáveis pela subordinação dos termos
na frase, estabelecendo tanto a regência nominal, relacionando um substantivo a outro,
quanto a regência verbal, subordinando o complemento ao verbo.
“Na regência verbal, as preposições essenciais – a, para, em, de, por, com –
associam-se a determinados verbos para a eles subordinarem seus complementos
básicos que necessariamente os acompanham” (CÂMARA JR., 1979:245).
Ressalta-nos a atenção nos estudos de Mattoso Câmara o fato como descreve a
relação de subordinação entre o verbo e seu complemento, que contrariamente ao que
estamos acostumados a ouvir é que o verbo exige o uso de determinada preposição, em
que o estudioso nos aponta que “o que há, na realidade, é o aparecimento sistemático de
dado tipo de complemento com dado verbo, e, por sua vez, o tipo de complemento
condiciona a escolha da preposição” (CÂMARA JR., 1979:245).
No referente às preposições descendentes do particípio, sua função sintática,
segundo Oliveira (2004:160), é de estabelecer relação semântico-adverbial, funcionando
diferentemente das preposições essenciais fora do sistema de transitividade, o que
significa dizer que não introduzem complemento, no entanto encabeçam as orações
adverbiais.
41
7
AS PREPOSIÇÕES NAS GRAMÁTICAS BRASILEIRAS DO PERÍODO
CIENTÍFICO
Conforme já afirmamos anteriormente, na proposta de periodização dos estudos
linguísticos no Brasil oferecida por Cavaliere (2002), o período científico inicia-se no
ano de 1881, com o marco da publicação da obra Grammatica da Língua Portuguesa de
Julio Ribeiro, e termina em 1941, quando começam a surgir novas perspectivas de
estudo da língua. Tal período se subdivide em duas fases: a fundadora, que vai de 1881
a 1922, ano provável de publicação da Gramática Secundária de Said Ali, e a legatária,
que se situa entre 1922 e 1941, ano em que vêm a lume os Princípios de lingüística
geral, de Mattoso Câmara. Neste trabalho, restringimo-nos à fase fundadora.
Foram escolhidas, para estudo, por serem mais expressivas e representativas do
período em tela, as gramáticas de Julio Ribeiro (1881), Maximino Maciel (1914
[1894]), Manuel Pacheco da Silva Júnior & Boaventura Plácido Lameira de Andrade
(1894), Alfredo Gomes (1920 [1887]), Eduardo Carlos Pereira (1940 [1907]), Manuel
Said Ali (1964) e textos descritivos de Mário Barreto (1955), (1980a), (1980b),
(1986[1927]) e Heráclito Graça (2005). As gramáticas estudadas, à exceção do texto de
Julio Ribeiro, apresentam, em comum, o fato de terem sido produzidas a partir da
reformulação do programa de ensino proposta por Fausto Barreto que, a convite do
então Diretor-Geral do Colégio Pedro II, Emygdio Victorio, remodela os programas de
ensino preparatório para o ingresso ao Curso Superior1 e implementa novas diretrizes ao
ensino da língua vernácula.
Vejamos a seguir as particularidades de cada trabalho:
1
No século XIX, o Curso Superior equivalia ao atual Ensino Médio.
42
7.1 A descrição de Julio Ribeiro
Julio Ribeiro inaugura, com sua gramática, a fase histórico-comparativa dos
estudos linguísticos no Brasil. A gramática de Julio Ribeiro está inserida “no contexto
do século XIX, em que se buscavam as leis que regiam a evolução das línguas: saímos
do estudo mentalista e ingressamos no estudo do evolucionismo na linguagem”
(FÁVERO, 2004: 255), que se conceitua a língua como um organismo vivo, que nasce
evolui e morre.
Na segunda metade do século XIX, o objeto dos estudos gramaticais é a palavra,
desta forma, ao analisarmos a Grammatica da Língua Portugueza de Julio Ribeiro,
verificamos que o autor adota em sua obra a divisão sinóptica Lexiologia e Sintaxe e
aplica o método histórico-comparativo no estudo anatômico da palavra. Julio Ribeiro
descreve as preposições e trata do seu estudo na parte primeira de sua gramática,
destinada à lexeologia, por ele definida como a parte da gramática que considera as
palavras isoladas, em seus elementos materiais ou sons, e em seus elementos mórficos
ou formas. O estudo das preposições começa, então, na seção primeira, Taxeonomia, e
continua na seção terceira, Etimologia e, mais adiante, na parte segunda, Sintaxe, em
que trata das preposições no capítulo VII do livro terceiro, intitulado “regras de
sintaxe.”
Nesta parte primeira, Julio Ribeiro (1881: 68) define preposição: “preposição é
uma palavra que marca natureza de uma relação entre duas idéias.” e observa que, além
de indicar a relação entre dois termos, função bastante reiterada pela pluralidade de
gramáticos, essa palavra exprime também a natureza dessa relação, que para atestar
apresenta-nos os seguintes exemplos: dono de escravos e pão com manteiga, em que de
43
expressa uma relação de senhorio de possessão e com, uma relação de união,
concomitância.
Na seção dedicada à etimologia, Ribeiro tem a preocupação de apresentar as
preposições portuguesas ao lado de suas formas primitivas, as preposições latinas, e o
faz mostrando que, embora as preposições tenham a mesma origem, elas provêm de
construções distintas de preposições latinas, assim pelo autor dispostas2:
a) Preposições portuguesas originadas de preposições latinas simples;
b) Preposições originadas de duas preposições reunidas;
c) Preposições que se originaram de palavras ou grupos de palavras já do cabedal da
língua portuguesa.
As originárias de preposições latinas simples são:
A < ad
Ante < ante
Após (pos) < post
Atrás (trás) < trans
Até (té) < hactenus
Com < cum
Contra < contra
De < de
Em < in
Entre < inter
Para < per ad [baixo latim]
Per < per
Por < per
Por (em favor de) < pro
Sem < sine
Sob < sub
2
Optamos por uma adaptação do texto original de Julio Ribeiro.
44
Sobre < super
Percebemos na gramática de Julio Ribeiro seu compromisso com o modelo
histórico-comparativo, por ele optar em inserir em sua descrição preposições que não
mais são vistas como preposições no português contemporâneo, e que hoje estão
presentes na língua apenas como prefixos; e as que não são mais percebidas como
combinação de duas preposições. Assim cita: extra, infra, pós(t), pro, supra, trans,
ultra, que são usadas em composições de palavras (transatlântico), e deante e perante,
estas últimas exemplificando a junção de duas preposições: de + ante e per + ante.
Excepto, salvo, defronte e enfrente são exemplos de preposições derivadas de
palavras ou grupo de palavras da própria língua portuguesa, que Ribeiro destaca. Ao
comentar sobre as locuções prepositivas, o autor afirma que quase todas provêm de
grupos de palavras do próprio português.
Na parte destinada ao estudo da sintaxe, Ribeiro apresenta os diferentes valores
que cada preposição pode expressar. Para cada preposição comentada, o autor destaca
sua correspondente em latim e para aquelas que não há uma correspondente imediata,
Ribeiro delineia de forma sucinta o seu percurso etimológico de forma a justificar a
presença no português de alguma preposição que não existia no Latim, e assim também
justificar o quase total desaparecimento de outras, como é o caso de per, que perdeu
espaço para a preposição por3.
Na gramática de Julio Ribeiro é evidente a preocupação de resgatar a origem da
língua, característica esta que define o período científico e que tem como fonte as
línguas clássicas, como o Latim.
Seu compromisso com o método histórico-
comparativo torna-se mais evidente quando o autor ilustra a preposição atual por, que
3
Em Ribeiro, para efeito de descrição, per e por são tomadas como preposições distintas.
45
tem hoje diversas acepções em virtude de ter se originado de duas preposições latinas:
pro e per:
Por , com effeito, vem de per e vem de pro.
Até o século XVI a fórma inalterada per era a representante em Portuguez da
preposição latina per, como por o era de pro: dizia-se “Per montes e valles”
e” Pola ley e pola ney”.
Mais tarde, confundidas as significações, per e por tornaram-se indistinctas, e
uma dellas teve de desapparecer: foi per. Por suplantou-a, e é hoje a unica.
“Todavia per teve tambem as suas victorias: as fórmas compostas pelo, pela,
etc. venceram e elliminaram as fórmas rivaes pólo, póla, etc.. Per vive ainda
em muitas palavras compostas, e na locução “de per si” conserva-se em toda
a pureza primitiva. (RIBEIRO, 1881: 269).
Ao apresentar a preposição a, Ribeiro destaca o traço conservador do português
contemporâneo, em falares sociais específicos, presente naquela época, o que ele
chamou de romanicismo extreme, presente também em outras línguas latinas: “A
preposição a liga-se por vezes ao nome que rege de modo que fórma com elle um todo
susceptível de ser regido por outra preposição, ex: “Vou de a pé.- Andamos de a cavalo”
(RIBEIRO, 1881: 263).
Entendemos que Ribeiro estabelece como classificações a menção que faz às
diferenças na origem das preposições – originadas de preposições latinas simples,
originadas de duas preposições reunidas e originadas de grupos de palavras -, assim
como quando ele conceitua as preposições concorrentes: “Preposições concurrentes muitas vezes, para exprimir a natureza complexa de duas relações que dão-se
conjunctamente, unem-se duas preposições, ex.: ‘de sob--de sobre--por entre--por
sobre,etc’ (Ribeiro, 1881: 271).
Ribeiro trata da sintaxe quando se refere ao uso de determinadas preposições
com o objetivo de evitar ambiguidade, ou seja, marcando o complemento do verbo,
definindo sua função sintática: “A preposição a serve (vide 463) para pôr em relação
46
adverbial o objeto de um verbo a fim de evitar ambiguidade, ex “Milão matou a Clodio”
(RIBEIRO, 1881: 263).
O autor apresenta os diferentes valores do uso das preposições de/cum e a/para
em contextos linguísticos, nos quais há a possibilidade de uso das duas formas, que ao
escolher, o falante opta pela que melhor expressará sua intenção de sentido:
De encontra-se aqui com a instrumental cum, si bem que a primeira partícula
propriamente só accrescente um complemento a certas idéias verbaes, ao
passo que a segunda accrescenta uma circunstancia especial ás idéias mais
diversas, porquanto a concepção não é a mesma quando se diz, por exemplo,
“Sustentar-se de peixe” e “Sustentar alguem com dous peixes”.
O emprego da preposição para, quando se quer exprimir logar para onde,
indica a intenção de demorar no logar; quando se pretende passar pouco
tempo no logar usa-se de a, ex.: ”Vou hoje a Londres onde tenho negócios, e
depois de amanhã partirei para Calcutá onde resido” (RIBEIRO, 1881: 266).
E elenca também diversas acepções de todas as preposições portuguesas
apresentadas: a, ante, após, até, e, com, contra, desde, de, em, entre, para, por, sem,
sob, sobre, trás.
7.1.1 A preposição a
A preposição a, do latim ad que indicava movimento para um ponto
determinado, indica:
a) a direção: Estar a oeste; Vir a Madri.
b) a contiguidade: Estar á janella; Estar á beira do rio.
c) a exposição: Viver ao sol; Estar á chuva.
d) o tempo em que: A 4 de janeiro; A oito dias precisos.
e) a tendência: Incitar á ira; Guiar á loucura
f) a hora: Á três horas; A uma hora e cinco minutos.
g) o modo: Vender a retalhos; Comprar a pedaços.
h) a distância: A dezoito kilometros; A doze milhas.
47
i) instrumento: Matar a pistola; Passaro morto a chumbo.
j) matéria: Bordar a ouro; Pintar a oleo.
k) o fim: Antonio vai a capitão, e Pedro a bispo.
l) a realização em futuro muito próximo: Antonio está a chegar; A vaca está a parir.
m) o preço distributivo: Vendo carneiros a dez mil réis; Compro vaccas a quinze
moedas.
n) a taxa de juros: Dinheiro a dez por cento; Tomei um conto de réis a cinco por cento.
7.1.2 A preposição ante
Do latim ante, da mesma forma que sua composta perante, indica confronto,
comparecimento: Ante mim estás tu. Perante o príncipe
7.1.3 A preposição após, pós
Do latim post, indicam posposição, seguimento: Após o exército; Pós eles.
Ribeiro destaca que pós era na época uma forma pouco usada.
7.1.4 A preposição até, té
Do latim hactenus indicam o termo local ou temporal preciso, exacto: Até Paris;
Até aqui; Até hoje; Até hontem á noute. A forma té é pouco usada em prosa.
7.1.5 A preposição com
Do latim cum indica:
a) a companhia: Estou com Pedro; Antonio está com o rei.
b) a permanência sob o domínio ou em poder de alguém: Meu dinheiro está com João.
c) a adjunção, a mistura: Topar com alguém; Cal com areia.
d) o termo de ação: Usa caridade com os inimigos; Sê brando comigo.
e) a comparação: Antonio parece com Pedro.
f) o modo: Andar com pressa; Responder com altivez.
48
g) o meio: Ele ganha dinheiro com seus romances
h) o motivo: Gritar com dores.
i) o instrumento: Matar com faca; Ferir com espada.
j) o preço: Comprar com vinte mil réis.
k) a oposição: Arcar com os males; Atrever-se com os elementos.
7.1.6 A preposição contra
Do latim contra indica:
a) oposição: Pelejar contra os Mouros.
b) posição fronteira: Dista cinco léguas de Diu contra a ilha de Bet.
7.1.7 A preposição de
Do latim de, que primitivamente expressava a ideia de descida e depois o
afastamento em geral, indica:
a) o lugar donde: Venho de Roma; Parto de Stockolmo.
b) a extração, a origem: Sou de Ravenna; Somos de Obidos.
c) a possessão: Casa de Pedro; Servo de Paulo.
d) a limitação, a restrição: O reino Nápoles. A cidade de Coimbra.
f) a posição: Estou de frente; Estou de costas.
g) o estado: Antonio está de sitio; Francisca está de parto.
h) a separação: Limpar o trigo do joio; Apartar cabras de ovelhas.
i) o ponto de partida em relação a lugar e a tempo: De Vianna para cá; De hoje em
diante.
j) o tempo em que, relativo aos fenômenos astronômicos: De madrugada; De dia; De
moute; De verão; De inverno.
k) a participação: Comer deste pão; Beber deste vinho; Ser dos nossos.
49
l) a matéria, ou constituinte, ou componente, ou conteúdo: Livro de ouro Bolo de milho;
cacho de uvas Feixa de canas Calix de Liquor; Copo de vinho.
m) o assunto: Fallar de guerras; Murmurar do rei.
n) a mudança de estado: De leão está feito ovelha; Liberto de servo que era.
o) o agente do verbo passivo: Lavores gastos do tempo Bendito de Deus;
p) o motivo: Morrer de medo; chorar de alegria; Escumar de bravo.
q) o meio: Cercar de muros; Nutri-se de frutas.
r) a determinação: Estar bem de saúde; Formoso de rosto; Ruivo de cabelos.
s) o modo: Estar de lucto; Pôr-se de joelhos; Vir de carro.
t) a intermediação entre o verbo e o adjetivo que representa a natureza ou a propriedade
física ou moral de uma pessoa: Acoimar de feio; Chamar de coxo; Fazer de ignorante.
u) a medida: Fosso de cinco palmos; Fita de trinta pés.
v) a quantidade: Corpo de vinte soldados; esquadra de trinta vasos.
7.1.8 A preposição desde, des
Para desde e des, Ribeiro declara não existir uma preposição correspondente
imediata latina da qual elas teriam sido originadas. Indicam precisamente ponto de
partida, quer local, quer temporal: Desde Sevilha; Desde hontem á noute até hoje pelas
cinco horas.
7.1.9 A preposição em
Do latim in, indica:
a) o lugar onde: Estou em Roma; Moro em Milão.
b) o tempo em que: Em 1814; No terceiro dia. Frequentemente ocultada quando
expressar tempo: Vim Domingo; Dou um baile esta semana.
c) o modo: Braços em cruz; Viver em paz; Andar em guerra.
50
d) o assunto: Pensar em amores; Falar em combates; Crer em Deus.
f) o fim: Declaro-o em abandono da verdade; Digo-o em honra da pátria.
g) a avaliação, a estimativa: Tenho-o em grande conta; Avalio-o em cinco contos de
réis.
h) a transição de estado para outro: Traduzir em Francez; fazer em pedaços.
7.1.10 A preposição entre
Do latim inter, indica:
a) a posição intermediária: Entre Pedro e Paulo; Entre triste e alegre; Entre vermelho e
azul.
b) a reciprocidade: Artes e sciencias têm muita conexão entre si.
7.1.11 A preposição para
Do latim per ad, indica:
a) direção: Virado para o nascente; Voltados para esquerda.
b) o lugar para onde: Vou para Milão; Irei para Macau.
O emprego da preposição para quando usada para exprimir lugar para onde,
indica a intenção de demorar no lugar, quando se pretende passar pouco tempo no lugar
usa-se a: Vou hoje a Londres, onde tenho negocios, e depois de amanhã partirei para
Calcutta onde resido.
c) o fim: Livros para estudo; Ferros para trabalho.
d) a futuridade: Para o anno; Para o mez que vem.
f) a realização em futuro próximo: Pedro está para chegar.Antonio está para fechar o
negocio.
g) a proporção: 3 está para 6, assim com 7 está para 14.
h) atribuição: Zelo para as cousas da religião.
51
i) a aproximação de quantidades: De duas pra tres leguas.
7.1.12 A preposição por
Possui duas séries de acepções diversas por sua dupla origem etimológica. Por
vem de per e de pro. Confundidas as significações, tornaram-se indistintas, o que
ocasionou o desaparecimento de per.
7.1.13 A preposição por derivada de per
a) lugar por onde: Por mar e por terra; Ele anda por lá.
b) a parte por onde se pega habitual ou acidentalmente qualquer objeto: Pegar pelo
cabelo; Segurar pela perna.
c) individuação e a distribuição: Um por um; Grão por grão; Milhares por dia; Seis
contos de réis por anno.
d) a duração: Por duas hora; por tres annos.
f) o meio: Eleva-se pela intriga; Vencer por armas.
g) o motivo: Faltar por enfermo; Occultar-se por vergonha.
h) o agente do verbo passivo: Assassinado por Indios; Cultivados por nós.
i) o juramento, a atestação: Juro por Deus; Affirmo por minha honra.
7.1.14 A preposição por derivada de pro
a) a substituição: Pedro compareceu por Paulo.
b) o preço: Vendi o livro por cinco mil réis; Comprei a casa por seis contos de réis.
c) a opinião, a qualidade em que se tem, em que se recebe pessoa ou coisa: Tenho-o por
sabio; Adoptei-o por filho.
d) a parcialidade, o favor: Estou pelo rei; Somos pela republica.
e) o não acabamento: A casa está por concluir; O muro está por emboçar.
7.1.15 A preposição sem
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Do latim sine, indica privação, falta: Estou sem dinheiro; Pedro está sem mulher.
7.1.16 A preposição sob
Do latim sub, indica a situação inferior: Sob a cama sob os olhos.
7.1.17 A preposição sobre
Do latim super, indica:
a) a situação superior: Está sobre a montanha;Paira a nuvem sobre nós.
b) a aproximação: Sobre a manha; a noite; sobre o branco.
c) excesso: Sobre cem mortos duzentos feridos.
d) o assunto: Fallar sobre physica; Escrever sobre biologia.
7.1.18 A preposição trás
Do latim trás, indica posposição: Trás - os - montes; Trás mim. É uma
preposição pouco usada e substitui a locução atrás de.
7.2 A descrição de Eduardo Carlos Pereira
Eduardo Carlos Pereira, em sua Gramática expositiva (PEREIRA, 1940: 19)
define gramática como a sistematização dos fatos da linguagem. Divide a gramática em
lexeologia e sintaxe. Na primeira parte, estudam-se as palavras isoladamente e, na
segunda, estudam-se as palavras combinadas para a expressão do pensamento. (grifo
nosso). Essa definição de sintaxe nos chama atenção por sinalizar no período científico
a uma influência do racionalismo que estuda a língua sob a perspectiva da razão, como
entidade autônoma.
Pereira define que “preposição é uma palavra conectiva, que relaciona sempre na
frase dois têrmos, um antecedente, que é o seu têrmo regente, e outro consequente, que
é o seu termo regido ou complemento” (PEREIRA, 1940: 363), utilizada na frase para
53
relacionar dois termos e que pode também encabeçar circunstâncias adverbiais,
diferenciando-se dos advérbios por seu caráter conectivo.
Segundo o autor, “as preposições ligam sempre complementos a seus
antecedentes, devendo, na ordem direta ou analítica, colocar-se entre dois têrmos:”
(PEREIRA, 1940: 363). Raramente o consequente ou complemento deixa de vir logo
após a preposição, já o antecedente por vezes pode deixar de preceder a preposição.
Pereira afirma listar apenas dezesseis preposições portuguesas seguindo a lista
proposta por Soares Barbosa, no entanto, encontramos um pouco mais em suas
explicações. São elas: a, para, em, por, per, até, segundo, conforme, consoante,
durante, tirante, salvante, exceto, com, sem, sob, sobre, ante e trás.
De acordo com as relações estabelecidas no emprego das preposições, estas
podem ser dividas em duas classes: preposições de estado ou existência e preposições
de ação ou movimento. Essas relações são variáveis conforme o verbo o qual elas
acompanham, podendo uma mesma preposição indicar estado ou movimento. Da
mesma forma teremos também preposições diferentes para expressar uma mesma ou
semelhante relação. Assim como temos a e para para exprimir a relação de movimento
para alguma parte, também podemos ter cercado de soldados ou por soldados.
Por outro lado, Pereira assevera que as preposições per e por tiveram usos
diversos na língua portuguesa da mesma maneira que suas formas primitivas latinas,
todavia, há um momento em que não ocorre mais essa distinção e há uma invasão de
sentidos de uma na outra, fato que contribuiu para que, no uso atual da língua, per
apareça apenas quando se faz necessário o uso do artigo, em que sua forma contrai-se
com ele em pelo, pela, pelos e pelas e nas expressões de per si, per si e de per meio.
54
Sobre a partícula até, Pereira adverte que ela pode ser advérbio quando usado no
sentido de ainda e mesmo, e preposição, quando vier seguida pela preposição a.
O autor julga o uso da preposição em para exprimir valor de movimento como
incorreto, pois para ele tal preposição deve ser empregada para expressar estado, ou
seja, indicar lugar onde. Ex: Moro na cidade.
Segundo, conforme, consoante são classificadas como preposições derivadas
impropriamente de adjetivos toda vez que ligam palavras, no entanto, quando tais
palavras forem sucedidas por uma proposição eles passam a categoria das conjunções
(PEREIRA, 1940:367). Durante, tirante, salvante e exceto são definidas como formas
nominais de verbos, que imobilizaram-se entre as preposições, e como tais passam a
serem empregadas. A respeito das formas flexionadas excetos e excetas, Pereira
comenta que essas já eram usadas no português arcaico por Pe. Antônio Vieira.
Expressam relações opostas, as preposições com e sem, sob e sobre, ante e trás.
Ao comparar as relações sintáticas no latim e no português, Pereira comenta:
O latim indica a função lógica da palavra ou a sua relação por meio de
desinências especiais chamadas casos, ao passo que o português, não
possuindo êsses processos, lança mão ora da posição ora da preposição, e, às
vezes, do sentido óbvio, para indicar as relações sintáticas dos têrmos na frase
vernácula (PEREIRA, 1954: 229).
Segundo a descrição de Pereira, o latim possuía seis casos, que indicavam todas
as relações sintáticas dos termos na frase, exceto o verbo. Na língua portuguesa, um dos
recursos para indicar a regência é a preposição que, em regra, rege um substantivo,
pronome, ou uma palavra substantivada, ligando-os a um termo regente, que é o
antecedente, podendo também reger um adjetivo no caso das frases adverbiais. Ex.: Ela
sofreu de ATREVIDA.
55
7.3 A descrição de Maximino Maciel
Na obra Grammatica descriptiva, de Maximino Maciel, o autor apresenta a
seguinte definição de gramática: “Grammatica é a systematização lógica dos factos e
normas de uma língua qualquer” (MACIEL, 1914: 1). Nesta definição, percebe-se que a
concepção de gramática empregada é a de ser construída a partir da observação dos
fatos da língua a fim de se chegar às regras capazes de explicar todos os fatos de uma
determinada língua, seja ela qual for.
A gramática de Maciel tem o seguinte quadro sinóptico: Fonologia, Lexiologia,
Sintaxiologia e Semiologia, em que a Semiologia, “tratado da significação das palavras
em todas as suas manifestações”, em nota de rodapé, ele ressalta ser uma inovação de
sua gramática: “a systematização da semiologia é toda nossa, pois ninguem mais do que
nós, lhe deu maior desenvolvimento, tornando-a um corpo de doutrina” (MACIEL,
1914: 411).
Maciel define e classifica as preposições na parte de sua gramática, destinada à
Lexeologia; na Sintaxologia trata das relações sintáticas expressas pelas preposições e
seus valores, pois, para Maximino Maciel a “syntaxologia é o tratado das palavras,
consideradas collectivamente, isto é, nas suas diversas funcções ou relações lógicas.”
(MACIEL, 1914: 254). Percebe-se, nessa definição de Sintaxologia, que Maciel trabalha
com uma perspectiva sintático-semântica do estudo dos fatos gramaticais.
Para Maciel preposição é uma palavra de relação e assim a define: “Preposição é
uma palavra intervocabular que indica a relação sintática entre dous termos. Estes
termos são o antecedente e o consequente” (1914: 141), ou seja, Maciel aborda as
preposições sob uma perspectiva sintático-semântica do estudo dos fatos gramaticais,
56
quando ele as assinala como índice de uma relação sintática entre dois termos
(antecedente/consequente) e as situa no âmbito da Sintaxologia, que tem seu olhar
centrado nas relações lógicas e semânticas.
O autor classifica as preposições em próprias ou essenciais, palavras
preposicionais e expressões preposicionais. Tal classificação é apresentada conforme os
seguintes critérios: as chamadas próprias ou essenciais são as que se originam de outras
preposições; as palavras preposicionais são as palavras que são usadas invariavelmente
como preposições e as expressões preposicionais são grupos de palavras terminados por
preposição própria que equivalem a uma preposição. Entende-se atualmente
“expressão” por “locução”, pois o autor prefere aquele a este, por locução na época
referir-se a um processo de formação de palavras. Exemplos do autor:
Preposições essenciais: a, ante, até, após, com, contra, de, desde, em, entre,
para, per, por, sem, sobre, sob e trás.
Palavras preposicionais: excepto, salvo, visto, tocante, segundo, durante,
mediante, conforme, feito, tirante.
Expressões preposicionais: à roda de, acerca de, defronte de, perto de, junto a,
relativamente a, em attenção a, de concerto com, de accordo com etc.
Para Maciel as preposições geralmente exprimem duas relações: o estado ou
repouso e o movimento com as seguintes modalidades: o ponto de partida, trajeto e
direção. São classificadas como preposições de estado: ante, após, com, contra, em,
entre, sem, sob, sobre e trás; de partida: de, desde; de trajeto: per, perante, por e as de
direção: a e para.
Na abordagem sintática, para Maciel as preposições e as expressões
preposicionais são utilizadas para expressarem as diversas relações sintáticas que ele
57
chamou de adjuntos adverbiais. E por serem tais relações muitas e tão diversas, ele
considera impossível sistematizá-las em um compêndio elementar – a gramática –,
então define e assinala as relações que ele elege como principais, para nos dar como
exemplos. Temos aqui os valores semânticos das preposições proveniente destas
relações:
Assunto: discutir sobre moral.
Causa: morrer de sede.
Companhia: morar com outrem.
Conformidade: proceder segundo a lei.
Distância: desde a cidade até o campo.
Exclusão: excepto tu, todos foram.
Fim: estudar para saber.
Favor: morrer pela pátria.
Instrumento: matar com uma pedra.
Lugar onde: viver na cidade e perto do mar.
Lugar d’onde: partir do porto.
Lugar por onde: andar por montes.
Lugar para onde: partir para a Europa.
Matéria: bordar a ouro.
Medida: vender aos metros.
Meio: conseguir com empenho.
Modo: passar de manso.
Oposição: bater contra o rochedo.
Origem: nascer de paes pobres.
58
Preço: vender pelo custo.
Quantidade: comer com abundancia.
Tempo: era sobre a tarde, por volta das quatro horas.
Substituição: estar em logar de outrem.
Relatividade: conduzir-se bem para com outrem.
Destaca o autor, também, a possibilidade de duas preposições próprias ou
essenciais regerem o mesmo consequente, exemplo: para com, perante, de sobre, por
entre, etc.
Seus exemplos são fornecidos por estruturas descontextualizadas, ele não utiliza
enunciados, o que se percebe aqui como uma incoerência em sua exposição, já que a
Syntaxologia trata das palavras coletivamente, nas suas diversas funções ou relações
lógicas, sendo estas evidenciadas no texto. Talvez tenha feito tal escolha, pelo que já foi
dito acima, pela impossibilidade de uma sistematização devido à gama de relações e
sentidos possíveis no uso das preposições, o que nos aponta o descompromisso de
Maciel com a didática e por acreditar que “a pratica nol-as irá ensinando” (MACIEL,
1914: 319).
Finalizando, Maciel faz a seguinte observação: em toda relação em que a
preposição for igual ao prefixo do verbo, deve-se considerá-la, sempre que possível,
mais uma relação de objeto indireto do que de adjunto adverbial. Exemplos: apresentarse a ..., deduzir-se de..., conformar com... etc.
59
7.4 A descrição de Alfredo Gomes
Na Grammatica portugueza de Alfredo Gomes (1920) encontra-se o estudo da
preposição no capítulo VII, dedicado ao estudo de advérbio, preposição, conjunção e
interjeição, no capítulo XXXIII, dedicado ao estudo da etimologia das palavras
invariáveis e no capítulo XLVII, que trata da sintaxe das palavras invariáveis.
No primeiro capítulo, em que trata das preposições, Gomes somente as define e
classifica. Assim, temos que, para o autor, “preposição é a palavra que estabelece uma
relação qualquer entre dous termos, dos quaes o primeiro se chama antecedente e
segundo subsequente” (GOMES, 1920: 65), nas quais elas podem exprimir com seu
subseqüente circunstâncias de posse, causa, modo, instrumento, tempo, etc. Quanto à
classificação o autor assim estabelece:
Preposições propriamente ditas ou essenciais são as que figuram sempre como
preposições; para o autor são dezoito: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em,
entre, para, per, perante, por, sem, sob, sobre e trás. Das dezoito, Gomes ressalva que a
preposição per já envelheceu e só aparece no português como prefixo e, que trás tem
uso limitado na expressão: Trás mim virá quem bom me fará.
As palavras prepositivas são definidas como quaisquer palavras empregadas
acidentalmente como preposição. Exemplos: durante, visto, excepto, fora etc.
Denominou, ainda, de locução prepositiva a combinação de duas ou mais
palavras que funcionam como preposição; combinação, na qual a última palavra é
sempre uma preposição: em redor de, junto a, para com, por entre, fora de, dentro de,
atrás de, em frente a, defronte de, através de, a fim de, etc.
No estudo da etimologia, Gomes apresenta as preposições com suas respectivas
formas primitivas latinas e lista: a = ad; ante = ante; após = ad + post; até = hac +
60
tenus; com = cum; contra = contra; de = de; desde = de+ex+de; em = in; entre = inter;
para = pera (arch) = per+ad; per = per; por = pro; sem = sine; sobre = super; sob = sub
e trás = trans, das quais até necessita do seguinte esclarecimento: existem duas
prováveis origens da preposição até, a de que a preposição veio da combinação ad +
tenus ou de attá do árabe. Na primeira hipótese, comprovaríamos a existência da forma
arcaica atém, porém hactenus já existia no latim.
Como o uso da preposição até era pouco frequente nas primeiras épocas da
língua portuguesa, e sendo a preposição a utilizada em sua substituição, pode-se dizer
que houve influência das duas línguas, pois para supor a desviação irregular do acento
latino háctenus seria pouco verossímil tal explicação, e sem razão plausível segundo
Pereira, pois segundo Pacheco da Silva Jr., também autor do período científico, em sua
gramática histórica, das três leis que dominaram o processo da formação da língua
portuguesa, a primeira a ser listada é a persistência do acento latino, que “conserva-se
sempre nas palavras do popular na mesma syllaba que em latim (SILVA JR., 1878: 73).
Quanto ao uso da preposição a após até, como preposição reforçadora, Gomes
assinala como desnecessário, já que não há nada que o justifique, pois apesar de
encontrarmos essa junção em textos dos melhores escritores, em expressões como até ao
fim, até ao jardim, não dizemos ou escrevemos até a ver, até a logo. Dessa forma “é
mister voltar á boa e antiga maneira de usar essa preposição” (GOMES, 1920: 416).
Até possui nove variantes: até, atem, atens, attá, attás, tá, té, tê, tem.
Desde é atualmente uma preposição pleonástica visto que antigamente o que
existia era a forma dês: “Dês que homem nasce até que morre...”
Ao comentar os casos de contração da preposição per, em que a forma per é
equivalente a por, o autor observa que na língua portuguesa esta forma só se contrai
61
com os artigos o, a, os, as, dando origem às formas pelo, pela, pelos, pelas, e que não
ocorre a contração com os pronomes como já acontecera outrora. As formas pollo,
polla, pollos, pollas, resultado da contração da preposição por com os artigos o, a, os,
as são encontradas apenas nos textos arcaicos.
No capítulo destinado à sintaxe das palavras invariáveis, o autor cita as
preposições a, com, de, em, para e por, como as mais importantes a serem estudadas e
apresenta seus valores semânticos correspondentes. Gomes afirma que embora a sintaxe
da preposição não ofereça em si curiosidade verdadeiramente notável, ela merece
destaque visto que tem grande importância no emprego dos complementos ou adjuntos
das palavras.
Preposições em Alfredo Gomes:
7.4.1 A preposição a
A preposição a é empregada para indicar:
a) Lugar para onde: vou á casa.
b) Fim de uma ação ou fato: sahi a passeio.
c) Tempo: o facto deu-se a 2 do mez passado.
d) Modo: ás pressas, á vontade.
e) Meio ou causa: morreu á fome, ferido a bala.
f) repetição do ato: pouco a pouco.
g) termo de uma ação indireta: attribuir um facto a outrem.
A preposição a pode, por vezes, substituir de: A este homem lhe vi o rosto,
machina a vapor, e seu uso às vezes também ocorre para marcar o objeto direto: este
menino ama a seu pai.
62
A preposição a contrai-se com o artigo feminino resultando as formas à, às e
com os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), originando as formas àquele(s),
àquela(s). E quando antecede palavras masculinas justapõe-se ao artigo masculino o
dando as formas ao, aos.
7.4.2 A preposição com
A preposição com pode exprimir:
a) Companhia: jantei com um amigo.
b) Modo: vejo-o com prazer
c) Causa: tudo morre com o inverno.
d) Instrumento: quem com ferro fere...;
e) Tempo: e com isto sahiu.
f) O termo de uma ação indireta: dou-me com elle; ou direta: cumpro sempre com o
dever.
O autor observa que a preposição com exige as formas pronominais migo, tigo,
sigo, nosco, vosco, ao contrário do uso que faz o “vulgo ignorante” (palavras dos
autores), que diz com nós, com mim, etc.
7.4.3 A preposição de
A preposição de pode indicar:
a) Lugar de onde: cheguei de Paris, vinho do Porto.
b) Posse ou qualidade: livro do menino
c) Modo: vá de vagar.
d) Simples causa: Faleceu de febre amarela.
e) Instrumento: deu-lhe de pão
f) Causa eficiente: querido do povo.
63
g) Matéria ou conteúdo: copo de vidro, garrafa de licor.
h) tempo: trabalho de dia e de noite.
i) O termo de uma ação indireta: Lembrai-vos da morte.
Às vezes, o uso da preposição de ocorre como simples expletivo, mero termo de realce:
a cidade do Rio de janeiro, o diabo do rapaz.
Pode substituir do que depois dos quantitativos: mais de de cem homens.
Pode exprimir parte ou porção de alguma coisa: comerás da carne.
7.4.4 A preposição em
Preposição em exprime:
a) Lugar onde: Em casa, na Europa.
b) Tempo: em meia hora estudo este ponto
c) Modo ou qualidade: voto em branco.
d) Causa: sinto prazer em vel-o forte e bem disposto
e) Fim: fiz o que pude em teu proveito
f) Quantidade: avalio estes objetos em duzentos.
g) O termo de uma ação indireta: falou-se muito em ti hontem.
Às vezes pode ser mero expletivo: general em chefe.
Às vezes é suprimido por brevidade: “Domingo próximo irei visital-o”.
7.4.5 A preposição para
Preposição para exprime:
a) Lugar para onde: parti para Pernambuco.
b) Tempo aproximado: lá para dezembro.
64
c) Fim, tendência: para ver a festa
d) O termo de uma ação indireta: reservei este presente para ti.
7.4.6 A preposição por
Preposição por (ou per por confusão) exprime:
a) Lugar por onde: passei por este caminho.
b) Espaço de tempo: viajei por dous annos.
c) Tempo aproximado ou incerto: succedeu isto pelos cinco dias do mez de abril.
d) Modo: por passos contados
e) Causa: esta criança chora pelo frio que está fazendo.
f) Causa eficiente: fomos interrogados pelo juiz.
g) instrumento: Estácio de Sá foi ferido por uma flecha.
h) Fim, utilidade: empenhei-me por este desgraçado; reze por mim
i) O termo de uma ação indireta: responsabiliso-me por meus actos.
Conforme as palavras do autor, por “é mero expletivo depois de verbo de
predicação incompleta que peça objeto directo: Espere por mim”. E “Às vezes é mero
expletivo: por justo deve passar quem cego julga.” (GOMES, 1920, 415)
A preposição pode ser suprimida nas circunstâncias de tempo, como no exemplo de
Camões: “O vencedor Joanne esteve os dias acostumados no campo”.
Sobre a preposição até, o autor retoma os comentários, já mencionados, de que a
preposição não carece depois de si da preposição reforçadora a e, de que nada justifica
as expressões: até ao fim; até ao jardim, pois não dizemos até a logo; até a Lisboa,
retomando também as nove variantes de até: até, atem, atens, attá, attás, ta, te, tê, tem.
65
A preposição desde é descrita como uma forma pleonástica, que tem sua forma
antiga dês.
A preposição per (=por) contrai-se com os artigos o, a, os, as dando as formas
pelo, pela pelo, pelas. Era também permitida anteriormente à sincronia descrita a
contração com os pronomes.
O uso de por contraído como per também são encontrados nos escritos arcaicos
dando origem as também antigas formas pollo, polla, pollos, pollas.
Em relação a preposição em (=in), Gomes cita que ela era primitivamente
grafada in ou ĩ, e depois en, no português, que quando seguida dos artigos, o n final soa
sobre a vogal, resultando as formas en-o, en-a e, posteriormente, em no, em na, etc., que
deram as atuais formas no, na, nos, nas.
Como última observação o autor assevera que as preposições em regra repetemse antes de cada adjunto ou objeto preposicional, com exceção dos seguintes casos por
ele listados:
a) os casos em que as preposições regem locuções já feitas ou comumente usadas como
uma só expressão: “Formaram-se ha pouco alguns bacharéis em letras e (em) sciencias.
Pagou-se já o imposto de industrias e (de) profissões.
b) nas enumerações: Em Janeiro, (em) Maio, (em) Julho e (em) Agosto há trinta e um
dias.
c) quando a preposição por seu sentido exige dois termos: entre mim e meu irmão há
grande semelhança.
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7.5 A descrição de Manuel Pacheco da Silva Jr. e Boaventura Plácido Lameira de
Andrade
Pacheco da Silva Jr. e Lameira de Andrade publicaram a Grammatica da língua
portugueza e nela estabeleceram a seguinte divisão: livro I - Lexicologia e livro II Sintaxe. Encontramos o estudo das preposições na parte II e III da lexicologia
destinadas ao estudo da taxionomia e da morfologia respectivamente, em que a primeira
corresponde ao estudo das classes gramaticais, que eram divididas em nominativas, e
conectivas ou relativas, essa última, na qual encontramos as preposições, e na parte II da
sintaxe destinada ao estudo da sintaxe lógica.
Na parte III, morfologia, capítulo VII, etimologia, Pacheco e Lameira iniciam o
estudo das preposições definindo-as desta forma: “preposição é uma particula invariavel
que serve para ligar duas palavras (subst. ou pronome a substantivo, pronome, adjetivo
ou verbo) com o fim de indicar-lhes a mutua relação” (SILVA JR.; ANDRADE,
1894:161). Apresentam a origem etimológica da palavra preposição, proepositio: que
no latim significava palavra que se coloca antes do nome a que se refere, que para os
autores era dada erroneamente, visto que no latim a posição da preposição não era fixa.
Já no português como eles observam a preposição é sempre um elemento precedente.
Quanto à classificação, as preposições são definidas sob o aspecto da forma ou
origem, estabelecendo-se como essenciais ou preposições propriamente ditas as palavras
simples ou assim percebidas pela fusão de seus elementos componentes, e que são de
origem direta latina. Acidentais, as palavras de categorias diferentes (substantivos,
adjetivos, particípios) empregadas com força prepositiva. Ex.: segundo, durante,
consoante, salvo, visto, excepto. E locuções prepositivas, as que, em geral, são formadas
por substantivos ou adjetivos seguidos de preposição (a, de) ou de advérbios ou
67
locuções adverbiais. Ex.: à força de, quanto a, perto de, acima de, concernente a, eis
aqui, eis alli.
Os autores revelam o fato de que são várias as relações expressas pelas
preposições, desta forma não podendo classificá-las segundo suas significações atuais
ou originárias, o que sinaliza a percepção dos autores ao caráter mutável e social da
língua, que agrega valores através do tempo. Entretanto, eles afirmam que, de modo
geral, as preposições indicam relação de lugar, tempo e movimento e estabelecem uma
divisão em quatro classes:
a) Lugar e direção: em, por, sob, sobre, entre, para, após
b) Tempo e duração: antes, depois, desde, durante;
c) Causa, meio e fim: de, por, para, com;
d) Modo: segundo, conforme;
Por conseguinte fazem cinco observações:
a) Preposições são palavras relacionais, geralmente de lugar e de direção; são prefixos
móveis com funções semelhantes as das desinências nominais.
b) Preposições têm a finalidade principal de indicar as relações adverbiais.
c) Exprimem relações de natureza física e intelectuais.
d) Houve um momento na linguagem que a preposição e a flexão nominal coexistiram.
e) Observa que o emprego abstrato e metafórico das preposições requer
desenvolvimento posterior, referindo-se ao que abordamos, denominando de processos
de gramaticalização.
No capítulo destinado ao estudo da etimologia das preposições os autores
propõem as seguintes divisões:
1) Preposições de origem direta latina:
68
de > de, in > em, inter > entre, contra > contra, pro, per > por, ante> ante, antes, sine
> sem, super > sobre, cum > com, hactenus / ad + tenus > até.
2) Preposições formadas por derivação imprópria:
a) de duas preposições simples: (depost) depois, (de ante) deante, (a – trans) atrás,
(após de) após, (de intro) perante, dentro, (por a, per a) para, (de ex de) adeante, desde,
(a + te = hactenus) até ,etc.
b) De substantivos e adjetivos: Apezar, a par
c) Dos particípios passados e das formas antigas em ante, ente, inte dos particípios
presentes: excepto, salvo, junto, tocante, referente, concernente
d) De advérbios: eis aqui, eis alli, dentro de, de fronte de, perto de
Retoma a definição de locuções prepositivas afirmando que elas são muito
portuguesas, o que compreendemos ser uma referência ao fato de as locuções terem
surgido na língua portuguesa.
Ao tratar da sintaxe assinalam que as preposições no português têm mais
importância do que no latim, por hoje substituírem os casos latinos, pois como já visto,
no latim, as preposições tinham função de realce das relações expressas pelos casos. No
português indicam relações adverbiais, podendo uma só preposição exprimir várias
relações ou até mesmo todas, observando-se que no latim elas expressavam relações de
lugar e, metaforicamente, de tempo.
Vejamos as preposições:
7.5.1 Preposição a
Etimologicamente corresponde a preposição latina ad, todavia, em virtude de
seus vários empregos corresponderá também a apud e ab.
69
a) A < ad indica essencialmente direção, movimento, tendência para um lugar ou
objeto. Neste sentido, era mais livre o emprego de a no português antigo.
Por analogia indica tempo: d’aqui a oito horas; a 5 de fevereiro; a uma hora; e
figuradamente indica direção ou tendência moral. Ex.: incitar à cólera.
A preposição a indica também lugar onde, posição, situação: estava em máo estado com
outra a olhos e face do mundo (Szã.V. Arcb.).
Por analogia, em referência ao tempo: chegou á hora (na).
b) Por extensão, a preposição a indica modo: chorar a potes, rir ás gargalhadas, beber
aos goles; e instrumento, meio, correspondendo a com: matar a bala, raspar a navalha,
apanhar á mão.
c) Indica complemento terminativo e objetivo quando este é expresso por nome de
pessoa ou coisa personificada. Dei um livro a Pedro, adoro a Deus.
Logo após o exposto, os autores observam não poder demorar nas considerações
de todas as preposições, restringindo-se a fazer as que julgam como inevitáveis, dessa
forma compreendemos necessárias.
7.5.2 Preposição com
a) Simultaneidade, companhia: e no quarto de prima nos deu uma trovoada com grande
força de vento.
b) Modo: pedir com bom modo, com desprezo
c) Meio, instrumento: Os mesmos que os murmuravam com a boca, os approvam com o
coração (Vieira)
7.5.3 Preposição contra
Usada antigamente para indicar situação fronteira: cydade contra a terra d’Israel,
p. defronte (Ined. d’Alc.) ou direção: foram correndo contra o theatro. (Ined. d’Acol),
70
usos que vieram pela tradição latina, cujos vestígios permaneceram no português, mas
que, no entanto, é mais empregada na língua com a significação de oposição.
7.5.4 Preposição de
a) Lugar de onde, procedência: do porto amado nos partimos; sou de São Paulo; agua de
poço; a lei de Deus. Por analogia indica ponto de partida: de hoje em deante; passados
dous dias de sua chegada.
b) Posse: casa de João.
c) Modo, meio: toda a gente vinha de mulas. (Ramos)
d) Causa: folgaram de o ver.
e) Qualidade, matéria: homem de juízo, o vaso de ouro.
f) Tempo em que: de manhã, de dia, de verão
g) Extensão, medida de tempo, e por transferência, idade: cerca de vinte milhas; homem
de 30 annos.
h) Emprego, serventia, fim: moço de servir, carro de aluguel; copo de água; tinta de
marcar.
Uso expletivo: pobre de mim, o bom do Japão, deu-lhe de tanta pancada (G.
Vic.).
Pode ocorrer a elipse da preposição de ou seu emprego enfático e partitivo: per
de, muito poderoso Senhor per Deus Rei de Castella e de Liam (Coron, Réus de Port.) e
tomou das pedras (F. d’Alm., Trad. do Bibl.).
E resume: de, no tempo, indica ponto de partida, sucessão, duração, movimento
da ação. Em sentido figurado, indica origem, causa, instrumento, meio, modo, matéria,
quantidade e preço
71
De corresponde ao genitivo possessivo ou subjetivo. O genitivo latino indicava
relações de propriedade, causa, conteúdo, dependência, reciprocidade, etc., relações que
podiam ser expressas por de.
De indica pessoa ou coisa de que se trata, equivalendo ao genitivo objetivo:
medo da morte, desejo de viver, o amor de Deus.
De substitui um genitivo de qualidade expresso no latim por um substantivo no
genitivo acompanhado de um qualificativo epitético, que ocorria principalmente com
palavras de significação geral tais como as citadas miles (soldado) e vir (homem). Este
genitivo passa a concorrer com o uso do ablativo que possibilitou no português a
construção: um homem de grande valor, de grande cabeça.
De também precede o complemento dos adjetivos indicando várias relações,
segundo o sentido dos adjetivos.
Uso de de antes de cujo, em situações em que o substantivo que o segue exprime
relação restrita circunstancial ou terminativa, data desde o séc. XII, que os autores
sinalizam como uso de rigor na época.
7.5.5 Preposição em
a) No interior de, dentro de, lugar onde, sobre, no exterior: em Roma, a cidade é em
campo, no chão, na mesa, pôr joelho ou pé em terra, etc.
b) Tempo em que, duração: no verão, em sahindo a lua, em sendo horas, em dous dias.
Os autores destacam que “ainda há mais algumas significações concretas, e muitos são
os sentidos figurados desta preposição” (SILVA JR; ANDRADE, 1894: 681).
Havia alguns usos de em que eram substituídos por para. Ex.: Passando em
África todo o poder e nobreza deste reino (Souza).
7.5.6 Preposição por
72
Sobre a preposição por, os autores asseveram que é dupla sua origem. Vem de
per e pro. A forma derivada de per tem a mesma forma que tinha no português antigo e
médio, e no português moderno, que indicava lugar por onde, na expressão da relação
de lugar e duração, e momento, na expressão da relação de tempo. No sentido figurado,
possui vários sentidos, como o meio, o intermediário e o modo. Ex.: Foram pregar a fé
uns per Italia, per Grecia outros (Luc.)
Essa preposição também pode expressar relação relativa: teem língua per si,
seriam150 homens per todos
Ao expressar transição, passagem pode ser suprimida: e esses foram-se sua vida. (Ined.
dÁlcob.)
Silva e Andrade observam que o uso de per para expressar causa merece
destaque, por que no latim o autor de uma ação era considerado o ponto de partida dela
e deveria seu nome ser precedido da preposição indicativa de ponto de partida ab. No
português antigo houve a substituição de a por de, que também indicava o ponto de
partida, por isso ainda era encontrado o uso de de depois certos verbos cujos
complementos eram causais, em algumas frases: estimado de todos, ornado de flores,
esgorovinhado de somno. No entanto, a construção com per prevalece por não se
considerar mais a causa da ação a sua origem, mas sim instrumento da ação. Dessa
forma, a preposição por era usada como precedente dos complementos de causa dos
verbos passivos que indicavam ação instantânea ou duração determinada: vencidos por
seus discursos.
Por derivado de pro perde seu sentido originário (de lugar) estabelecendo
relações abstratas: de troca, substituição, preço, proporção, favor, interesse, dedicação,
fim, causa etc.
73
Pode indicar também:
Convicção, opinião: Assim se houveram por vencidos (Arraes); Havendo por verdade o
que dizia. (Cam.)
Aposição: Vi eu o senhor face por face. (I. d’Alc.); rosto pro rosto; tantos por tantos, dia
por dia; hora por hora; arca por arca. ( Ramos, Souza, Vieira, Couto, etc)
No português antigo, per era empregado nas relações de espaço, tempo, lugar
meio, instrumento e por nas relações de causa, preço etc.
7.5.7 Preposição para
Preposição derivada de pera que indica:
Direção, inclinação: espírito vivo para tudo. (Bar.)
Lugar para onde: o mandou para Goa; Vou para Paris.
Fim: marearam as velas para emboracarem o estreito
Conveniência: oportunidade tempo para navegar para tal parte. (Bar.)
referência: teve muita autoridade para os graves; teve para si que era obrigado cumprir
aquelle simulado juramento. (Id.)
7.5.8 Preposição depois, pos
Forma utilizada pelos antigos sem a repetição pleonástica de de em substituição
às formas detrás e para tras e empregada nas situações em que hoje adotamos o após.
Quando empregado em sentido figurado, indica inferioridade, degradação: É a
2ª. pessoa depois de Fr. João.
7.5.9 Preposição sobre
Indica superioridade, por extensão de sentido, excesso, eminência; por
transferência, supremacia, sobreexcelência: Em quaes lugares cada hû quer ser sobre os
outros (V. Monast.); Remontae o pensamento sobre as nuvens sobre o céo (Vieira).
74
No sentido figurado indica:
Proximidade: estava sobre Goa, sobre os inimigos, sobre a noite; sobre a manhã, sobre o
inverno, etc.
Referência, assunto, contextura: Ele escreveu sobre philologia; P. fallou sobre anatomia;
logo inquiriram sobre o nascimento; tomando conselho sobree o caminhoque dalli se
fazia (F. Mendes).
Para finalizar, cabe destacarmos uma importante observação dos autores:
São varias as relações expressas pelas preposições; não podemos pois
classifical-as segundo as suas significações, nem tão pouco de conformidade
com as originarias.
O que, porém, se póde affirmar de modo geral, é as preposições indicam
relações de logar, e por extensão – as de tempo. Que o emprego abstracto e
metaphorico é resultado de um desenvolvimento posterior (SILVA JR.;
ANDRADE, 1894: 684).
Os autores sinalizam para o fato de que as preposições possuem significações
diversas e variáveis, que vêm se modificando desde sua origem no latim e que dessa
forma não podemos estabelecer significações a priori, pois estas estão circunstanciadas
pelo uso corrente da língua e pelo contexto enunciativo, o que vem a comprovar o
caráter não prescritivo de sua gramática.
7.6 A descrição de Manuel Said Ali
De maneira objetiva, assim define Said Ali a preposição:
Preposição é palavra invariável que se antepõe a nome ou pronome para
acrescentar-lhe a noção de lugar, instrumento, meio, companhia, posse, etc.,
subordinando ao mesmo tempo o dito a nome ou pronome a outro termo da
mesma oração (SAID ALI, 1964: 101).
75
Said Ali assinala que as preposições poderão ter duas formas: ser um simples
vocábulo; ou uma combinação de vocábulos, a qual o autor denomina locução
prepositiva ou preposicional. Estas são formadas por advérbios ou locuções adverbiais
acompanhadas de de, ou em alguns casos de a ou com. Exemplos:
Os móveis acham-se dentro de casa.
Defronte do jardim passam muitos veículos.
A roupa ficou fora do armário.
Segundo, conforme e consoante são preposições que expressam ideia de
conformidade. Conforme e consoante são adaptações de adjetivos à função de
preposição.
Sem, com, exceto, salvo, salvante, tirante, fora, afora são preposições que
denotam sentido de exclusividade. Destas, as formas participais são as mais expressivas.
Durante é a forma moderna de durando do português antigo.
O autor observa que após as preposições geralmente usaremos as formas
pronominais pessoais oblíquas tônicas: mim, ti, si, etc., à exceção de exceto, salvo, e
fora, afora, que são seguidas pelas formas pronominais pessoais do caso reto, e de com,
que utilizamos as formas comigo, contigo, conosco, etc. No caso da preposição durante,
não ocorre de ela ser seguida dos pronomes retos de primeira e segunda pessoa, no
entanto, ocorre durante ele, durante ela para expressar ideia de tempo.
Abaixo segue a lista proposta por Said Ali das preposições e locuções
prepositivas que têm uso mais frequente na língua:
a
abaixo de
debaixo de
por baixo de
embaixo de
acima de
de cima de
em cima de
por cima de
ante
perante
antes de
ao lado de
ao longo de
a par de
após
a roda de
em roda de
ao redor de
até
atrás de
detrás de
por detrás de
acêrca de
76
com
para com
conforme
contra
de
desde
diante de
por diante de
defronte de
dentro de
de dentro de
por dentro de
durante
em
em vez de
em lugar de
entre
exceto
fora de
afora
fora
junto de
para
por
per
segundo
sem
sob
sôbre
7.7 A descrição de Mário Barreto
Nos estudos de Mário Barreto verificamos um novo olhar sobre os estudos
linguísticos do período científico: nessa fase, o enfoque ocorre nos aspectos
idiossincráticos da língua portuguesa. É a chamada fase legatária.
Em Novíssimos estudos da língua portuguesa, Barreto escreveu um capítulo
intitulado “De, antes dos infinitivos em acusativo”. Nesse capítulo, o autor comenta o
uso da preposição de diante da construção de infinitivo, na função de objeto, datada
desde o século XV nas chamadas, atualmente, orações subordinadas substantivas
reduzidas de infinitivo, o que, conforme relata, era considerado uma anomalia. No
entanto, era construção presente nos textos dos melhores autores dos séculos XVI e
XVII e de sua época (séc. XIX e XX), já que esse uso não ocorria com os nomes,
objetos destes mesmos verbos. A explicação dada para o uso do de, denominado de
“supérfluo” por Barreto, é que esse fato linguístico explica-se porque
a acção dos verbos pode expressar-se por um substantivo da sua raiz
precedido dos verbos fazer, ter, tomar e outros, e como esta maneira de dizer
demanda naturalmente por compl. um infin. com de, a ANALOGIA motivou
o emprego do mesmo complemento com os verbos determinar, jurar,
prometer, ordenar, etc. (BARRETO, 1980a: 205).
Esse uso da preposição de antes de infinitivo é característico também da sintaxe
francesa. Uma importante observação que Barreto traz com exemplos do francês é
77
mostrar que embora a preposição de seja empregada antes do infinitivo, este
complemento do verbo não deixa de ser um complemento direto.
Os verbos resolver, determinar, procurar, prometer, jurar, consertar, ousar,
ordenar seriam alguns dos exemplos de verbos transitivos os quais eram seguidos de
infinitivos precedidos da preposição de.
Já em Novos estudos da língua portuguesa, Barreto apresenta um capítulo sobre
a contração da preposição per com os pronomes o, a, os, as, por considerar demais
trivial a contração desta preposição com os artigos. Todavia ressalta que as antigas
formas lo, la, los, las tanto artigo quanto pronome acusativo da terceira pessoa tiveram
as mesmas origem e evolução. Segue com inúmeros exemplos que, como ele mesmo
afirma, são muitíssimos pelo costume de dá-los largos e não escassos, o que percebemos
como uma característica dos textos do autor que se acredita ser para confiar maior
credibilidade e cientificidade ao seu texto, pois como afirma Cavaliere (2002:104):
“Mário Barreto é um autor de personalidade científica bastante rigorosa, pauta suas
afirmações teóricas sobre exemplos exaustivos de corpora da língua literária.”
Ele registra também que as formas antigas lo, la, los, las reaparecem na língua
atual quando sucedem os infinitivos. No português arcaico, era mais frequente a junção
das formas lo, la, los, las artigos ou pronomes à palavra antecedente.
Na obra De gramática e de linguagem, no capítulo V, encontramos alguns
comentários acerca das preposições portuguesas em e contra, que Mário Barreto fez em
resposta a uma carta enviada por um leitor à seção Consultas da Revista de Língua
Portuguesa, que são as seguintes: no exemplo “Em poucos dias terei o gôsto de
remeter-lhe seu pedido.”, o emprego de em é apontado como um dos abusos do uso da
preposição. Comparando com francês, a preposição em tem a correspondente dans,
78
exceto quando esta serve para exprimir espaço ou decurso de tempo. As traduções
aconselhadas pelo autor são de dentro de ou daqui a, ou dentro em que é um arcaísmo.
Ao referir-se ao uso da preposição contra na frase “Está a sua mesa encostada contra a
parede”, Barreto comenta tratar-se de um galicismo, e sugere o emprego de a nos
contextos em que o contre aparece. Abona exemplos do emprego da preposição a em
obras de autores consagrados portugueses, afirmando: “a preposição francesa contre não
se traduz por contra, mas por a, junto a, ao lado de, se indica vizinhança, justaposição:
S’adosser contre la muraille, encostar-se à parede” (BARRETO, 1995: 76).
As construções parecer e parecido (a e com) é o assunto tratado no capítulo
Preposições do sexto volume de estudos da língua pátria de Barreto, Através do
dicionário e da gramática. Nesse estudo, obtemos a informação de que é mais usual a
construção tanto do verbo parecer-se quanto do seu particípio com a preposição com,
todavia, parecer-se a é uma construção encontrada na língua desde os clássicos, e nas
obras de escritores modernos, é usada por João Ribeiro.
7.8 A descrição de Heráclito Graça
Heráclito Graça foi um dos poucos filólogos que não aliou pesquisa ao ensino
(CAVALIERE, 2000: 120).
Heráclito Graça escrevia no jornal Correio da Manhã artigos sobre aspectos
sintáticos da língua, os quais ele intitulava Notações philologicas, que tinham o
propósito de refutar as observações do Sr. Candido de Figueiredo, publicadas no Jornal
do Commercio sob o título “O que se não deve dizer” e nos três volumes da obra Lições
praticas da língua portugueza, que não pautava suas análises em critérios precisos, com
documentação que as comprovassem (MACIEL, 1914: 447). Foi um trabalho de
79
bastante aceitação nas rodas literárias devido à forma como era conduzido e por
lograrem sucesso em suas emendas. Essas notações foram compiladas no volume de
título Factos da linguagem.
No mesmo ano de publicação das Notações philologicas, Mário Barreto lançou
sua obra Estudos da Língua Portugueza e, posteriormente, inúmeros artigos sobre
peculiaridades da língua vernácula.
Em Factos da linguagem, encontram-se três capítulos, nos quais Graça aborda a
temática preposição. São eles: capítulo XXI - Dentro de, dentro em, XXXVIII - Entre
ele e eu – Entre ele e mim, capítulo XLIII - Exceto – Salvo, e capítulo LXVI – Respeito
a, respeito de, nos quais se obtêm as seguintes anotações:
Dentro de, dentro em é o título do capítulo XXI, que confronta os comentários
de Figueiredo, que questiona: “Deve-se dizer dentro de dois mezes – ou dentro em dois
mezes?”. Nesse capítulo, Graça chama atenção para o descabimento de tal
questionamento, por que, se como afirma Figueiredo, “não haverá desmedida
incorrecção de dentro em que se usa a miude”, por que não poderíamos usar tal
locução? Essa é a primeira incoerência que Graça destaca, a outra está no fato de
Figueiredo classificar dentro, que é um advérbio, como preposição, e que será uma
locução prepositiva quando seguido de uma preposição. Na tentativa de justificar suas
assertivas, Figueiredo cita um exemplo de Frei Luiz de Souza – que em conformidade
com o que Graça assinala, juntamente com seus exaustivos exemplos – usava mais
frequentemente a locução dentro em do que dentro de, o que torna seu texto
inconsistente.
Finalizando, Graça frisa que seria pertinente Figueiredo ensinar que dentro de e
dentro em são formas variantes, em que em alguns contextos uma é mais expressiva do
80
que a outra e, se dentro de é uma expressão mais generalizada, cabe-se proscrever a
locução dentro em, que é muito usada para exprimir a ideia de tempo.
No capítulo XLIII, o autor inicia suas observações com tom de ironia ao
comentar o uso de excpeto no plural e afirma: “a emenda de hoje começa por uma
revista ilustrada, redigida por moços de incontestavel talento. Um d’elles escreve: Tudo
por conseguinte descança, exceptos os Colyseus e exceptos os banqueiros do Estado.”,
em que o cronista interpreta excepto como adjetivo, entretanto, Graça afirma excepto
sempre foi para quase todos escritores e ainda é uma palavra invariável tanto aplicada a
nomes no singular ou no plural, quanto a nomes no feminino ou no masculino.
Adiante, aponta como vulgaríssimo o uso flexionado de salvo com o sentido
sinônimo de excepto. Existem as formas salvo e salva, porém, essas são as formas dos
adjetivos. Expressando a ideia de além de, afora será sempre preposição, portanto,
invariável.
A todas as suas observações Graça traz uma lista de muitos exemplos de usos de
excepto.
Entre ele e eu - entre ele e mim é o título do capítulo XXXIII, no qual Graça nos
adverte em relação aos questionamentos de Figueiredo e suas considerações, nas quais
este autor afirma que no português corrente, tanto se diz entre ele e eu e entre mim e ele,
pois a exigência da forma oblíqua pronominal só se faz quando os pronomes vêm
precedidos imediatamente da preposição.
Então Graça nos alerta para o fato de que a preposição pode reger dois
complementos, e que a presença da conjunção e tem apenas a função de unir os
complementos sem que anule a regência da preposição. Observado isto, temos
81
considerar também que as formas pronominais eu e tu são sempre sujeito no português,
o que invalida a assertiva de Cândido Figueiredo.
E considerando que a preposição é uma “palavra invariável que se põe entre
outras de espécie diversa para marcar uma relação, forma com a adjunção da palavra ou
palavras posteriores que rege, um complemento indireto” (GRAÇA, 2005: 231),
conclui-se, portanto, que preposição só pode reger casos oblíquos e não o caso reto.
Assim conclui Graça (2005: 236): “nem pelas leis da gramática, nem pela lição
dos clássicos é admissível dizer: entre mim e tu, entre ti e eu, entre ele e eu, entre ele e
tu, como ensina o sr. Cândido de Figueiredo, mas sim – entre mim e ti, entre ti e mim,
entre ele e mim, entre vós e mim, entre nós e ti, etc.”
Os exemplos apresentados por Figueiredo são formas isoladas utilizadas pelos
autores a que ele se refere, seja por necessidade de rima, ou mesmo por erro de cópia ou
impressão, que não se reproduzem em seus textos.
No capítulo LXVI, Graça trata das locuções prepositivas respeito a e respeito de
a fim de rebater os apontamentos de Cândido de Figueiredo que afirmam que essas
expressões não podem corresponder a uma forma adverbial quando não precedidas de
preposição a, em, com, etc., o que se percebe no texto de Figueiredo como infundado,
visto que, como afirma Graça, O Diccionnario contemporâneo registra as expressões a
respeito de, em respeito a e respeito a como locuções prepositivas equivalentes a
relativamente a, no tocante a, com referência a e em respeito a, que significa em
comparação de, relativamente a, e à vista de. Como é notório em seus capítulos, o autor
segue seu texto apresentando inúmeros exemplos abonados pelos clássicos que
corroboram sua tese.
82
8
CONCLUSÃO
Ao longo de nossas observações dos trabalhos produzidos no período científico,
pudemos perceber que há, nas referidas gramáticas, dois objetivos, o primeiro é o de
traçar o percurso histórico da língua desde sua gênese e o segundo, o de oferecer uma
contribuição pedagógica, mantendo o ensino da tradição gramatical, o ensino de uma
norma linguística desejável; é a junção do normativo ao descritivo, que se dá baseado
nas concepções de Darmesteter, em que se adota a gramática como ciência a fim de
investigar “as leis naturais que regem a língua em sua evolução histórica”
(CAVALIERE, 2000:43).
Esse aspecto duplo, descritivo e prescritivo é “o princípio norteador da própria
concepção de gramática na virada do século XX, não só no Brasil, mas também nos
grandes centros europeus de estudos vernáculos” (CAVALIERE, 2000:50).
A dupla atividade dos gramáticos lhes proporciona grande autoridade e
prestígio, em virtude de adquirirem em suas pesquisas grande conhecimento da língua,
homens que com suas obras produziram proficientes reflexos pedagógicos, de profícuo
uso nas aulas de língua portuguesa, o que lhes conferiu um número significativo de
edições das obras, como é o caso da Gramática descritiva de Maximino Maciel que teve
oito edições publicadas.
Nesse período científico, a gramática abandona o modelo dos compêndios
lusitanos de base latina, voltando atenção às idiossincrasias do português do Brasil.
Objetiva-se o estudo descritivo da língua, a gramática não se conceitua mais como
83
gramática geral, mas como gramática de um língua particular, como pudemos observar
nas palavras de Julio Ribeiro que assim define gramática:
Grammatica é a exposição methodica dos factos da linguagem.
A grammatica não faz leis e regras para a linguagem; expõe os factos
della, ordenados de modo que possam ser aprendidos com facilidade. O
estudo da grammatica não tem por principal objecto a correcção da
linguagem (RIBEIRO, 1881: 1).
Há também um compromisso em ressaltar as fontes consultadas, pois como bem
observa Maciel (1914:V): “a probidade scientifica aconselha citar-se um autor, desde
que lhe estejamos de accordo com as opiniões attinentes a um ponto, para mostrarmos
as fontes a que recorremos.” E ainda com o propósito de dar credibilidade aos trabalhos,
os autores recorrem a uma farta exemplificação, notável nos estudos de Mário Barreto.
Após a Portaria de 5 de abril de 1887, oficializou-se uma nova tendência
pedagógica, obrigatória nas aulas de língua portuguesa, pautada na programação
proposta por Fausto Barreto, que instituiu o estudo da língua com ênfase nos estudos
etimológicos. Esse programa foi proposto com a intenção de uniformizar os estudos da
língua em todo território nacional e,
não havendo compendios que adscrevessem á nova orientação, foi então que
Pacheco e Lameira, João Ribeiro e Alfredo Gomes, nomes já laureados no
magisterio, tiveram de escrever as suas grammaticas, versadas no
programma que Fausto Barreto traçara, no qual de todo se revelavam o
espirito de synthese, o criterio philologico e o novo rumo que nos importava
trilhassem o ensino e o estudo da lingua portugueza (MACIEL, 1914:444).
As descrições das preposições estão contidas nos dois grandes eixos das
gramáticas: lexeologia e sintaxe, porque como destaca Cavaliere (2000: 53):
A lexeologia é certamente, no projeto de descrição gramatical proposto por
Ribeiro, o núcleo unitário de onde reverberam todos os campos da
investigação lingüística. Isso porque é efetivamente a palavra que sintetiza o
foco das atenções, seja como elemento monolítico isolado, seja enquanto
84
conjunto de segmentos morfológicos, seja como item da organização frasal.
A sintaxe, destarte, embora constitua autonomamente a segunda parte da
descrição gramatical, na prática não vai além de um grande tentáculo da
lexeologia.
A respeito dos apontamentos dos gramáticos cabe-nos tecer o seguinte
comentário:
Nas obras pesquisadas, particularmente, nas gramáticas, os autores, na descrição
das preposições, têm tanto a preocupação de assinalar a morfologia diacrônica quanto os
sentidos destas palavras. E, como pudemos perceber e melhor visualizar nas tabelas em
anexo, o sentido apresentado por cada autor para uma dada preposição, em muitos casos
idênticos, podem também ser diversos. No entanto, chama-nos a atenção o fato de
somente na obra de Pacheco da Silva Jr. e Lameira de Andrade existir a preocupação em
alertar o leitor de que, no estudo das preposições, não se pode memorizar os sentidos,
pois eles serão resultado do contexto sintático em que elas são empregadas. Esse fato
contribui para que o estudante visualize a língua como uma entidade viva, dinâmica e
não como formas presas a um papel, pois, o indivíduo se expressa por meio de seu saber
elocucional, que ele adquire através de sua troca de experiências com seus
interlocutores, seu conhecimento de mundo. As preposições, em particular,
denominadas formas dependentes segundo a teoria de Câmara Jr. não funcionam como
comunicação isoladamente, estando o seu sentido conjugado tanto a sua forma, quanto
às palavras a que estão ligadas ou à qual fazem referência. Assim, cabe aqui uma
citação de Mattoso Câmara que afirma que o sentido não se trata de um conceito
independente, visto que a língua é um instrumento da comunicação entre os homens, e
as significações é o conhecimento compartilhado entre eles, ou seja, uma base comum
para a comunicação, uma “lógica, ou compreensão intuitiva que permeia tôda a vivência
humana e se reflete nas línguas” (CÂMARA JR., 1973: 68).
85
Dessa forma, acredita-se que esse trabalho, além de registrar o estudo das
preposições de um dado momento histórico através do viés historiográfico, possa
também despertar seus leitores para o fato de que a abordagem das preposições deve ser
feita com base na compreensão dos enunciados e não só no processamento de estruturas
linguísticas, mas sim, de forma a agregar o conhecimento de mundo dos alunos,
vinculando o ensino/aprendizado as suas experiências, tornando maior a percepção do
aluno sobre o que se estuda, permitindo-se um estudo abrangente de tais palavras, em
que o processo de produção textual oral ou escrito, os interlocutores, o assunto e a
situação em que se processa o texto entre outros são relevantes.
Nesse caminho, tivemos o intuito de desenvolver um trabalho que oriente o
ensino das preposições de modo que o aluno tenha uma melhor compreensão sobre o
que estuda.
Consideramos que
A língua, portanto, será sempre sincronia E diacronia em qualquer momento
de sua existência. O ponto de vista da ciência lingüística é que poderá ser OU
sincrônico OU diacrônico, dependendo do fim que se pretende atingir. E há
determinados casos, por exemplo, em que a descrição sincrônica pode
perfeitamente ser conjugada com a explicação diacrônica, enriquecendo-se,
desse modo, a análise feita pelo lingüista (CARVALHO, 2010).
Na realização de nosso trabalho, pudemos perceber que, embora exista um
parâmetro de estudo da língua, denominado de estudo científico, característico de um
momento histórico, o estudo das preposições, nitidamente, mostra-nos a não
possibilidade de se estabelecer uma rigidez aos conceitos expressos pelas preposições,
pois eles serão variados, condicionados à estrutura frasal na qual são utilizadas, aos
propósitos comunicativos do falante ao fazer uso da língua, o que evidencia o seu
caráter dinâmico, pois como afirma Carvalho (2010) “a relação entre o significante e o
86
significado é arbitrária, estará continuamente sendo afetada pelo tempo, daí a
necessidade de o estudo da língua ser prioritariamente sincrônico”, quando seu objetivo
for investigar os significados atuais da língua.
Por fim, acreditamos que nosso estudo possa contribuir para uma ampla visão
dos estudos sobre preposições do período científico.
87
9
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90
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W(ed.). Understanding the historiography of linguistics problems and projects.
Münster: Nodus, 1990, p. 21-34.
91
ANEXO
TABELAS COMPARATIVAS
Definições de preposição
Julio Ribeiro
“Preposição é uma palavra que marca natureza de uma
relação entre duas idéias” (RIBEIRO, 1881: 68).
Maximino Maciel
“Preposição é uma palavra intervocabular que indica a
relação syntactica entre dous termos. Estes termos são o
antecedente e o consequente” (MACIEL, 1914:141).
Eduardo Carlos Pereira
“Preposição é uma palavra conectiva, que relaciona
sempre na frase dois têrmos, um antecedente, que é o seu
têrmo regente, e outro consequente, que é o seu termo
regido ou complemento” (PEREIRA, 1940: 363).
Heráclito Graça
“Palavra invariável que se põe entre outras de espécie
diversa para marcar uma relação, forma com a adjunção
da palavra ou palavras posteriores que rege, um
complemento indireto” (GRAÇA, 2005: 231).
Alfredo Gomes
É a palavra que estabelece uma relação qualquer entre
dous termos, dos quaes o primeiro se chama antecedente e
segundo subsequente (GOMES, 1920: 65).
Pacheco da Silva Jr. e “Preposição é uma particula invariavel que serve para
Lameira de Andrade
ligar duas palavras (subst. ou pronome a substantivo,
pronome, adjetivo ou verbo) com o fim de indicar-lhes a
mutua relação” (SILVA JR.; ANDRADE, 1894:161).
92
Mário Barreto
O autor não as define.
Said Ali
“Preposição é palavra invariável que se antepõe a nome ou
pronome
para
acrescentar-lhe
a
noção
de
lugar,
instrumento, meio, companhia, posse, etc., subordinando
ao mesmo tempo o dito a nome ou pronome a outro termo
da mesma oração.” (SAID ALI, 1964: 101)
Tabela 1- Definições de preposição
Classificações das preposições
Julio Ribeiro
Algumas originárias de preposições latinas simples;
Outras originárias de duas preposições reunidas; E outras
que se originaram de palavras ou grupos de palavras já do
cabedal da língua portuguesa e preposições concorrentes.
Maximino Maciel
Proprias
ou
essenciais;
palavras
preposicionaes;
expressões preposicionaes.
Eduardo Carlos Pereira
Preposições de estado ou existência e preposições de ação
ou movimento
Heráclito Graça
O autor não as classifica.
Alfredo Gomes
Preposições propriamente ditas ou essenciais, palavras
prepositivas e locuções prepositivas.
Pacheco da Silva Jr. e As preposições são definidas sob o aspecto da forma ou
Lameira de Andrade
origem, estabelecendo-se como essenciais ou preposições
propriamente ditas as palavras simples ou assim
percebidas pela fusão de seus elementos componentes, e
93
que são de origem direta latina. Acidentais, as palavras de
categorias diferentes (substantivos, adjetivos, particípios)
empregadas
com
força
prepositiva.
E
locuções
prepositivas, as que, em geral, são formadas por
substantivos ou adjetivos seguidos de preposição (a, de)
ou de advérbios ou locuções adverbiais.
Mário Barreto
O autor não as classifica.
Said Ali
Existem as preposições constituídas de um simples
vocábulo; ou uma combinação de vocábulos, a qual o
autor denomina locução prepositiva ou preposicional.
Tabela 2 - Classificações das preposições
Valores da preposição A
Julio Ribeiro
Direção, contiguidade, exposição, tempo, tendência, hora,
modo, distância, instrumento, matéria, fim, 93déia de
futuro próximo, preço distributivo e taxa de juros.
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de movimento (direção),
instrumento, matéria, medida, meio.
Eduardo Carlos Pereira
Movimento para alguma parte.
Heráclito Graça
O autor não trata da preposição a.
Alfredo Gomes
Lugar para onde, fim de uma ação ou fato, tempo, modo,
meio ou causa, repetição do ato, termo de uma ação
indireta.
Pacheco da Silva Jr. e Direção, movimento, tendência para um lugar ou objeto,
94
Lameira de Andrade
tempo, tendência moral, lugar onde, posição, situação,
modo, instrumento, meio, complemento terminativo e
objetivo.
Mário Barreto
O autor não trata da preposição a.
Said Ali
O autor não trata dos valores da preposição a.
Tabela 3 - Valores da preposição a
Valores da preposição ANTE
Julio Ribeiro
confronto, comparecimento.
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de estado.
Eduardo Carlos Pereira
Expressa relação oposta à preposição trás.
Heráclito Graça
O autor não trata da preposição ante.
Alfredo Gomes
O autor não trata dos valores da preposição ante.
Pacheco da Silva Jr. e Tempo e duração.
Lameira de Andrade
Mário Barreto
O autor não trata da preposição ante.
Said Ali
O autor não trata dos valores da preposição ante.
Tabela 4 - Valores da preposição ante
Valores da preposição APÓS,PÓS
Julio Ribeiro
Posposição, seguimento
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de estado.
Eduardo Carlos Pereira
Seu sentido não é mencionado pelo autor.
Heráclito Graça
O autor não trata da preposição após.
95
Alfredo Gomes
O autor não trata dos valores da preposição após.
Pacheco da Silva Jr. e Lugar e direção
Lameira de Andrade
Mário Barreto
O autor não trata da preposição após.
Said Ali
O autor não trata dos valores da preposição após.
Tabela 5 - Valores da preposição após, pós
Valores da preposição ATÉ
Julio Ribeiro
Termo local ou temporal preciso, exato
Maximino Maciel
Distância.
Eduardo Carlos Pereira
O autor não trata dos valores da preposição até.
Heráclito Graça
O autor não trata da preposição até
Alfredo Gomes
O autor não trata dos valores da preposição até
Pacheco da Silva Jr. e Os autores não tratam da preposição até.
Lameira de Andrade
Mário Barreto
O autor não trata da preposição até
Said Ali
O autor não trata dos valores da preposição até.
Tabela 6 - Valores da preposição até, té
Valores da preposição COM
Julio Ribeiro
Companhia, permanência (sob domínio ou poder de
alguém), adjunção/mistura, termo de ação, comparação,
modo, meio, motivo, instrumento, preço, oposição,
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de estado: companhia,
96
meio, quantidade
Eduardo Carlos Pereira
Expressa relação oposta à preposição sem.
Heráclito Graça
O autor não trata da preposição com.
Alfredo Gomes
Companhia, modo, causa, instrumento, tempo, termo de
ação indireta.
Pacheco da Silva Jr. e Causa, meio e fim. Simultaneidade, companhia, modo,
Lameira de Andrade
meio, instrumento.
Mário Barreto
O autor não trata da preposição com.
Said Ali
Exclusividade.
Tabela 7 - Valores da preposição com
Valores da preposição CONTRA
Julio Ribeiro
Oposição, posição fronteira
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de estado: oposição.
Eduardo Carlos Pereira
O autor não trata da preposição contra.
Heráclito Graça
O autor não trata dos valores da preposição contra.
Alfredo Gomes
O autor não trata dos valores da preposição contra.
Pacheco da Silva Jr. e Usada antigamente para exprimir situação fronteira e
Lameira de Andrade
atualmente para exprimir oposição
Mário Barreto
O autor não trata dos valores da preposição contra.
Said Ali
O autor não trata dos valores da preposição contra.
Tabela 8 - Valores da preposição contra
Valores da preposição DE
97
Julio Ribeiro
Lugar
donde,
extração/origem,
possessão,
limitação/restrição, posição, estado, separação, ponto de
partida em relação a lugar e tempo, tempo, participação,
matéria, assunto, mudança de estado, agente do verbo
passivo,
motivo,
meio,
determinação,
modo,
intermediação entre o verbo e o adjetivo, medida,
quantidade.
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de movimento (ponto de
partida): causa, lugar d’onde, matéria, modo, origem,
Eduardo Carlos Pereira
O autor não trata dos valores da preposição de.
Heráclito Graça
O autor não trata da preposição de.
Alfredo Gomes
Lugar donde/a proveniência, posse ou qualidade, modo,
simples causa, instrumento, causa eficiente, matéria ou
conteúdo, tempo, termo de uma ação indireta.
Pacheco da Silva Jr. e Causa, meio, fim, lugar de onde, posse, modo, meio,
Lameira de Andrade
causa, qualidade, tempo, extensão, medida de tempo,
emprego, serventia, fim.
Mário Barreto
O autor não trata da preposição de.
Said Ali
O autor não trata dos valores da preposição de.
Tabela 9 - Valores da preposição de
Valores da preposição DESDE, DES
Julio Ribeiro
Ponto de partida local ou temporal.
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de movimento (ponto de
98
partida): distancia.
Eduardo Carlos Pereira
O autor não trata da preposição desde.
Heráclito Graça
O autor não trata da preposição desde.
Alfredo Gomes
O autor não trata da preposição desde.
Pacheco da Silva Jr. e Desde: tempo e duração
Lameira de Andrade
Mário Barreto
O autor não trata da preposição desde.
Said Ali
O autor não trata dos valores da preposição desde.
Tabela 10 - Valores da preposição desde, des
Valores da preposição EM
Julio Ribeiro
Lugar onde, tempo, modo, assunto, fim, avaliação,
transição.
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de estado: lugar onde.
Eduardo Carlos Pereira
Preposição de estado, lugar onde.
Heráclito Graça
O autor não trata da preposição em.
Alfredo Gomes
Lugar onde; tempo; modo ou qualidade; fim; quantidade;
termo de uma ação indireta.
Pacheco da Silva Jr. e Lugar e direção.
Lameira de Andrade
No interior de, dentro de, lugar onde, sobre, no exterior:
Tempo em que, duração.
Mário Barreto
Espaço, decurso de tempo.
Said Ali
O autor não trata da preposição em.
Tabela 11 - Valores da preposição em
99
Valores da preposição ENTRE
Julio Ribeiro
Posição intermediária; reciprocidade.
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de estado.
Eduardo Carlos Pereira
O autor não trata da preposição entre.
Heráclito Graça
O autor não trata dos valores da preposição entre.
Alfredo Gomes
O autor não trata dos valores da preposição entre.
Pacheco da Silva Jr. e Lugar e direção.
Lameira de Andrade
Mário Barreto
O autor não trata dos valores da preposição entre.
Said Ali
O autor não trata dos valores da preposição entre.
Tabela 12 - Valores da preposição entre
Valores da preposição PARA
Julio Ribeiro
Direção, lugar para onde, fim, futuridade, realização
próxima,
proporção,
atribuição,
aproximação
de
quantidades.
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de movimento (direção),
fim, lugar para onde.
Eduardo Carlos Pereira
Movimento para alguma parte.
Heráclito Graça
O autor não trata da preposição para.
Alfredo Gomes
Lugar para onde; tempo aproximado; fim, tendência;
termo de uma ação indireta.
Pacheco da Silva Jr. e Lugar e direção, causa, meio e fim
100
Lameira de Andrade
Mário Barreto
O autor não trata da preposição para.
Said Ali
O autor não trata dos valores da preposição para.
Tabela 13 - Valores da preposição para
Valores da preposição PER
Julio Ribeiro
Lugar por onde, a parte por onde se pega um objeto,
individuação/distribuição, duração, meio, motivo, agente
do verbo passivo, juramento/atestação.4
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de movimento (trajeto),
favor, preço.
Eduardo Carlos Pereira
O autor não trata dos valores da preposição per.
Heráclito Graça
O autor não trata da preposição per.
Alfredo Gomes
Preposição por (ou per por confusão) exprime:
Lugar por onde; espaço de tempo; tempo aproximado ou
incerto; modo; causa; causa eficiente; instrumento;
fim/utilidade; termo de uma ação indireta.
Pacheco da Silva Jr. e Causa.
Lameira de Andrade
Mário Barreto
O autor não trata dos valores da preposição per.
Said Ali
O autor não trata dos valores da preposição per.
Tabela 14 - Valores da preposição per
4
Per desapareceu no português e por passou a substituí-la de forma que essa preposição derivada de per
pode indicar esses valores.
101
Valores da preposição POR
Julio Ribeiro
Derivada de per
Lugar por onde, parte por onde se pega habitual ou
acidentalmente
qualquer
objeto,
individuação
e
distribuição, duração, meio, motivo, agente do verbo
passivo, juramento, atestação.
Derivada de pro
Substituição, preço, opinião, a qualidade em que se tem,
em que se recebe pessoa ou coisa, parcialidade/favor, não
acabamento.
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de movimento (trajeto),
lugar por onde.
Eduardo Carlos Pereira
O autor não trata dos valores da preposição por.
Heráclito Graça
O autor não trata da preposição por.
Alfredo Gomes
Preposição por (ou per por confusão) exprime:
Lugar por onde; espaço de tempo; tempo
aproximado ou incerto; modo; causa; causa eficiente;
instrumento; fim/utilidade; termo de uma ação indireta.
Pacheco da Silva Jr. e Lugar e direção, causa, meio e fim.
Lameira de Andrade
Vem de per e pro. A forma derivada de per indica
lugar por onde, na expressão da relação de lugar e
duração, momento, na expressão da relação de tempo. No
sentido figurado possui vários sentidos, como o meio, o
intermediário e o modo, relação relativa, transição/
102
passagem, causa.
Por derivado de pro perde seu sentido originário (de
lugar)
estabelecendo
relações
abstratas:
de
troca,
substituição, preço, proporção, favor, interesse, dedicação,
fim, causa etc. Indica também: convicção/opinião,
aposição
Mário Barreto
O autor não trata da preposição por.
Said Ali
O autor não trata dos valores da preposição por.
Tabela 15 - Valores da preposição por
Valores da preposição SEM
Julio Ribeiro
Privação, falta
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de estado.
Eduardo Carlos Pereira
Expressa relação oposta à preposição com.
Heráclito Graça
O autor não trata da preposição sem.
Alfredo Gomes
O autor não trata dos valores da preposição sem.
Pacheco da Silva Jr. e O autor não trata dos valores da preposição sem.
Lameira de Andrade
Mário Barreto
O autor não trata da preposição sem.
Said Ali
Exclusividade.
Tabela 16 - Valores da preposição sem
Valores da preposição SOB
Julio Ribeiro
Situação inferior
103
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de estado.
Eduardo Carlos Pereira
Expressa relação oposta à preposição sobre.
Heráclito Graça
O autor não trata da preposição sob.
Alfredo Gomes
O autor não trata dos valores da preposição sob.
Pacheco da Silva Jr. e Lugar e direção
Lameira de Andrade
Mário Barreto
O autor não trata da preposição sob.
Said Ali
O autor não trata dos valores da preposição sob.
Tabela 17 - Valores da preposição sob
Valores da preposição SOBRE
Julio Ribeiro
Situação superior, aproximação, excesso e assunto
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de estado: assunto, tempo.
Eduardo Carlos Pereira
Expressa relação oposta à preposição sob.
Heráclito Graça
O autor não trata da preposição sobre.
Alfredo Gomes
O autor não trata dos valores da preposição sobre.
Pacheco da Silva Jr. e Superioridade, excesso, eminência; por transferência,
Lameira de Andrade
supremacia, sobreexcelência, proximidade, referência,
assunto, contextura.
Mário Barreto
O autor não trata da preposição sobre.
Said Ali
O autor não trata dos valores da preposição sobre.
Tabela 18 - Valores da preposição sobre
Valores da preposição TRÁS
104
Julio Ribeiro
Posposição. Substitui a locução atrás de.
Maximino Maciel
Preposição que exprime relação de estado.
Eduardo Carlos Pereira
Expressa relação oposta à preposição ante.
Heráclito Graça
O autor não trata da preposição trás.
Alfredo Gomes
O autor não trata dos valores preposição trás.
Pacheco da Silva Jr. e Os autores não tratam da preposição trás.
Lameira de Andrade
Mário Barreto
O autor não trata da preposição trás.
Said Ali
O autor não trata da preposição trás.
Tabela 19 - Valores da preposição trás
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