Falta de transparência na distribuição de residências deixa famílias do
Zango – 1 com “nervos à flor da pele”
O Continente
29 De Março de 2012
A distribuição das moradias na Zona do Zango-I, ficou marcado por alguma "confusão", choros,
tristeza e lamentos à mistura, onde a luta por uma casa própria despertou atenção e ansiedade
daquela população que há mais de três anos aguarda pelo realojamento. Se para uns era o fim de
passar às noites em condições "pouco dignas", para outros não foi neste dia que o sonho da casa
própria se concretizou isto, depois de muito tempo de espera. Segundo apurou o CONTINENTE,
das casas ergui das apenas duzentas foram entregues, um número, de acordo com os populares,
muito "exíguo, atendendo à demanda das famílias carenciadas". No local, o desânimo acentua-se
ainda mais sobre aquelas famílias pelo facto, alegam, dos duzentos fogos construí dos nem todos o
seu destino foi dado à "pessoas certas", pois, dizem os necessitados "das duzentas casas 50% foi
parar nas mãos de pessoas que nunca viveram nas área do desalojamento ou não constam nas três
listas de direito, facto que fez o povo revoltar-se contra os responsáveis e só não aconteceu o mais
"grave" pela intervenção pontual do sub- comissário Ribas, 2° comandante provincial da Polícia de
Luanda, que esteve' presente no local para testemunhar o acto da entrega das moradias. A zona do
Zango-I, está constituída de casas de chapas e está dividido em três sectores, A, B e C e com o
mesmo número de coordenadores que respondem por estas zonas, que de acordo com os
populares, os coordenadores e funcionários da administração local são supostamente os culpados
por colocarem nomes de familiares e amigos nas listas. E face à desordem verificada no acto de
entrega das habitações para o Zango-4, o 2° Comandante Provincial da Polícia em Luanda, orientou
a suspensão do processo de atribuição das residências para os próximos dias.
Alegria de quem recebeu as chaves
Para a maioria das famílias provenientes da Ilha de Luanda, cerca de 2 mil famílias não tiveram
outra alternativa senão viver debaixo de tendas no Zango-l em Viana. A mudança destas famílias
para o Zang-4, não faz esquecer esses anos todos desde 2009, nem as constantes doenças que
afectaram a comunidade, as noites mal dormidas e a desesperança, porque foram quatro anos
vividos com muito sacrifício. Apesar disso, para quem recebeu as chaves de casa não deixa de soltar
o grito contagiado de alegria, acreditando em dias melhores. É o caso de Mário Menezes que não
conteve a emoção ao receber as chaves da sua nova residência das mãos das autoridades de Luanda
para o Zango-4. O cidadão não conteve as lágrimas com a nova realidade, para ele acabou o
sofrimento, depois de quatro anos de espera, com chuva, frio e muita doença à mistura, "estou
muito feliz por receber as chaves da casa, a partir de hoje vou dar novo rumo à minha vida", disse.
Quem também viu-se beneficiada é a senhora Paulina António, de 37 anos de idade, mãe de três
filhos sob sua responsabilidade. Ela, conta que antes das enxurradas que impuseram a necessidade
de ser abrigada nas tendas, era dona de urna humilde habitação, construída a custo de muito suor e
sem marido foi "um deus me acuda". Para ela, as noites passadas à luz de um triste candeeiro, o
débil saneamento básico que facilitava o aparecimento de doenças e o sol abrasador que penetrava
ao raiar de cada dia, são factos que deixaram marcas inesquecíveis e profundas. "Foram anos
difíceis de suportar e que, presentemente, muitos de nós tem dificuldade em explicar como foi
possível aguentarmos, mas sempre acreditei que o fim estava próximo", sublinhou com ar
entusiasmado.
Tristeza dos injustiçados
No grosso das famílias que esperam por uma solução da "casa própria", houve pelos menos nesta
primeira triagem famílias que "ficaram de fora". Para estas, não é desta vez que o sonho vai se
concretizar, a estas famílias, o ambiente até altura em que fazíamos esta reportagem era desolador e
de muita tristeza. Maria do Céu, mãe de três filhos, não foi contemplada, desesperada era uma
mulher inconsolável, "como é possível a minha vizinha de porta-a-porta receber a casa e eu não,
onde está a justiça, é questão de filhos e enteados, ou tenho que pagar como algumas pessoas?",
interrogou-se a senhora com o rosto carregado de lágrimas. A mesma "sorte" de Maria do Céu
esteve com o senhor Pedro André, pai de quatro filhos, e esposa, que também não foi
contemplado, afirmou que é muito triste depois de um longo tempo de espera e chegado o dia, por
espanto, quem recebem as casas são outras pessoas. "Na verdade, os culpados neste processo
foram os coordenadores e seus comparsas, que atribuíram as residências a outras pessoas que nem
se quer conhecemos ou viveram nesta zona de sofrimento", disse Pedro. "Enquanto há saúde, há
esperança", durante os momentos de maior desespero vividos na tenda, com chuva e calor
mesclado, este foi o pensamento da senhora Domingas Bernardo, que também não teve a "santa
sorte" ao seu lado, os vizinhos receberam e ela não. "Estamos a ser injustiçados, o meu nome
estava nos primeiros lugares da lista para ser contemplada e tudo muda, quem recebe são outras
pessoas, como é possível?" interroga-se dona Domingas.
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