Eco-Design e Sustentabilidade
Professora Arabella Galvão
Eco-Design e Sustentabilidade
Entrance Quiz
Prezados alunos,
Este é o Entrance Quis do módulo de Ecodesign e Sustentabilidade.
Após a leitura do artigo, por favor, respondam às questões abaixo:
1. Por que a sociedade de consumo representa uma ameaça ao meio ambiente?
2. Em quais momentos ou situações o design (gráfico e/ou produto) interfere na sociedade de consumo?
3. No contexto do texto, o design pode ser identificado como “mocinho” ou “vilão” da preservação do meio
ambiente?
A entrega das respostas poderá ser feita até 07/12. Porém solicito que a leitura seja feita até 30/11.
Bom trabalho a todos e até breve.
Profª Arabella Galvão
EU CONSUMO, TU CONSOMES...
Maria Elisa Marcondes Helene
André Frazão Helene
A ORIGEM DA SOCIEDADE DE CONSUMO
Em 1800, Henry Maudslay, nos Estados Unidos, descobriu que um parafuso poderia ser copiado por uma
máquina, formando um padrão. Assim, muitos parafusos idênticos poderiam ser feitos num intervalo de
tempo infinitamente menor ao daquele que se vinha observando nas fábricas até então.
A primeira grande produção em série foi em uma fábrica de armas da Nova Inglaterra, Estados Unidos, em
1800. Produzia-se em série o que antes era feito artesanalmente, em partes, peça por peça, ou seja, arma
por arma. As máquinas, operadas por homens muito menos qualificados do que os armeiros europeus, os
substituíam na América. Cada máquina usava uma molde-mestre da peça que se queria produzir. Era uma
máquina e um operário – não mais um artesão – que trabalhavam, e a produção era de muitas e muitas
armas. Esse modelo de produção tornou-se um grande negócio! Mais tarde, no início do século XX, os
americanos Frederick Taylor e depois Henry Ford elevaram os índices de produção num sistema cada vez
mais rápido, preciso e em série. Estava criada a chamada linha de montagem.
No entanto, essa mudança na produção não foi boa nem para o artesão, nem para o operário. O primeiro
perdeu seu trabalho, sua forma de ganhar a vida. O operário, que veio a substituir o artesão, não tinha o
mesmo direito que este último: o de escolher a quem entregar seu trabalho. Perdia o direito de comercializar
o seu produto com quem quisesse, pelo preço que quisesse. Cada operário, por ser responsável por uma
máquina que fazia uma pequena parte do trabalho, deixou também de ter o poder de criação.
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Além disso, podia ser facilmente dispensado e substituído. Assim, o substituto do artesão não decidia mais
para quem produzir, não exercia mais sua criatividade, perdia sua importância e, portanto, era substituível.
O poder de decisão sobre a produção e o comércio passava para as mãos dos donos das fábricas, que nem
sequer precisavam saber como construir o que fabricavam. Portanto, o saber e a criação deixavam de ser
instrumentos de poder, e seus antigos detentores cederam seu lugar aos donos das fábricas: o poder
mudava de mãos.
Essas mudanças nas relações de trabalho possibilitaram o aumento da dimensão dos negócios, ao mesmo
tempo que centralizavam o poder e faziam com que surgissem grandes monopólios. Assim, o único
possuidor de um determinado gênero de mercadorias e, portanto, sem concorrentes, cada grande
monopólio, se fosse de seu interesse, vendia suas mercadorias por preços exorbitantes. As fábricas
passaram então a se organizar em indústrias, que, por sua vez, se organizaram em grandes grupos
empresariais nacionais e multinacionais. Hoje, tais grupos decidem onde, quando, como e para quem um
bem ou serviço será realizado. Por exemplo, no Brasil, as empresas montadoras de automóveis vieram
durante o governo de Jucelino Kubitschek, no final da década de 50, fazendo parte de uma política de
construção de estradas de rodagem que não só privilegiaria o transporte por automóveis e caminhões como
também mudaria o hábito das pessoas que andavam de bonde e trem. Mas nem J. K. nem as indústrias
montadoras de automóveis fizeram isso sozinhos.
CRIANDO NECESSIDADES
Para ajudar nas mudanças dos hábitos da população, as indústrias, empresas de produção de bens, tais
como alimento ou vestuário, contam sempre com as empresas de prestação de serviços, mais
especificamente com os meios de comunicação de massas (jornais, redes de televisão e emissoras de
rádio). Essas empresas têm o poder de criar necessidades de uso de novos produtos, sobretudo por meio
das propagandas. A associação entre este modelo de produção em série, adotado pelas indústrias, e as
empresas de prestação de serviços caracterizam uma nova sociedade: a sociedade de consumo. Esse termo
designa a atual sociedade moderna, urbana e industrial, dedicada à produção e aquisição crescentes de
bens de consumo cada vez mais diversificados.
Para a sobrevivência desta sociedade é essencial que sejam criadas necessidades de uso de novos
produtos, pois, logo que um produto aparece no mercado, ele deve ser consumido intensamente e em
seguida substituído por outro. Contudo, como não conhecemos tal produto nem estamos habituados a usálo, e muitas vezes nem sequer necessitamos dele, é preciso que se faça criar em cada um de nós a
necessidade de consumi-lo, e é preciso que tenhamos meios para consumi-lo. Assim, nos anos 50, J. K.
construía estradas para oferecer os meios para o uso dos carros; a indústria de propaganda crescia para
atender à demanda, ou seja, à necessidade de um número maior de produtos. Governo e indústria de
prestação de serviços estavam, nesse caso, favorecendo as indústrias montadoras de carros.
Essa associação de governo e indústria foi um importante passo para desenvolver nossa atual dependência
dos carros e das estradas. De forma semelhante, dependemos hoje do forno de microondas, do CD-player,
assim como de muitos outros bens de consumo.
Para adquirir um bem, precisamos achar realmente importante possuí-lo. Nesse processo, a formação da
opinião pública – realizada pelos meios de comunicação, comandados por um número pequeno de pessoas
que decidem o que vamos escolher, possuir e usar – colabora de forma vital para a criação de necessidades
de uso de novos produtos. Assim, não é a tecnologia que atende às necessidades, como os meios de
comunicação de massa geralmente nos fazem crer, e sim as necessidades é que são criadas para atender à
crescente produção e à elaboração cada vez mais diversificada dos bens de consumo. Esse processo de
formação de opinião ocorre quando a opinião – que cada um possui como coisa exclusiva e genuína – é
induzida, ou influenciada, pelos jornais, tevês e outras formas de comunicação de massa.
Então, em que a produção de bens de consumo difere da produção artesanal? As diferenças não ficam só
nas mudanças dentro da fábrica, nas mudanças do artesão para o operário, nas mudanças no poder de
decisão do artesão para o proprietário da indústria. Há também uma mudança no usuário final do produto, ou
seja, no consumidor.
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Ao adquirir um bem produzido em série, o consumidor nada sabe sobre quem o criou e não tem com ele
vínculo cultural ou afetivo, como ocorreria, por exemplo, com um objeto de arte. Os objetos da sociedade de
consumo não têm história, o que faz com que possam ser facilmente substituídos e que aceitemos sem
dificuldade esta substituição. Por essa razão é que o gosto de cada um de nós muda conforme os interesses
de produção. Assim, e somente assim, com as mudanças no processo individual e íntimo de escolha, que
são governadas pela indústria de propaganda, é que a sociedade de consumo sobrevive.
A SOCIEDADE DE CONSUMO HOJE
A sociedade em que vivemos se caracteriza pelo uso de uma quantidade muito maior do que a necessária
de bens e serviços. Quando consumimos energia, combustível, alimento, etc., os usamos até exaurir suas
reservas. Assim, o termo “consumismo” se refere à atividade de usar até a exaustão os recursos do planeta.
Até algumas décadas atrás, antes da consolidação internacional da sociedade de consumo, o termo
“consumir” era empregado no sentido de “usar”. Atualmente, é também sinônimo de “usar à exaustão”, com a
idéia de “consumação”.
Por causa do excessivo uso dos recursos naturais e da enorme produção de lixo e de poluição, a sociedade
de consumo global desperta para necessidade de se minimizarem os efeitos da produção desenfreada de
bens supérfluos. Surgem, então, os programas de reciclagem de vidro, metal e certos tipos de papel. O
sucesso desses programas depende não só da participação dos domicílios, mas também, principalmente, do
interesse das empresas em comprar os materiais usados. De que adiantaria as prefeituras recolherem
grande quantidade de papel, vidro e metal para mantê-la estocada? Prefeituras não reciclam, e empresas só
se interessam pela compra de tais refugos quando custam mais barato do que a matéria-prima. De forma
geral, no mundo todo, as regras que nos orientam em nossas relações com o meio ambiente são regidas
pela economia e espelham a sociedade de consumo.
Estudiosos da comunicação afirma que o interesse por temas ambientais, tais como esgotamento dos
recursos naturais e a poluição, é sinal da tensão das sociedades de consumo. Essa tensão é causada pela
distância entre as promessas de tais sociedades e suas realidades. As promessas são perspectivas de
realização dos desejos de todos nós: riqueza, saúde, conforto e felicidade para todos os habitantes da Terra.
As realidades que ocorrem no planeta e se intensificam diariamente são físicas (poluição, exaustão dos
recursos naturais) e morais (fome, pobreza, destruição de ecossistemas naturais).
Atualmente todos os habitantes da terra, com exceção de pequeníssimas comunidades tradicionais (nações
indígenas e habitantes de regiões remotas, tais como as montanhas do Tibete), estão ligados à sociedade de
consumo global. Desse modo, é por causa do consumo que boa parte das pessoas tem empregos, e todos
participam como agentes dessa sociedade.
Nosso planeta é habitado por mais de 5 bilhões de pessoas, dos quais apenas cerca de 1 bilhão vive com
saúde, mora e se alimenta bem, tem acesso à água tratada e à instrução. Esse 1 bilhão de pessoas vive nos
países industrializados, onde são tomadas as decisões importantes sobre o consumo de todos no planeta.
Os cerca de 4 bilhões de pessoas restantes vivem nos países pobres, sendo que 1 bilhão vive em condições
de miséria total. Quando falamos então da sociedade de consumo, nos referimos não apenas às pessoas
que vivem nos países ricos – que são os grandes consumidores – mas, também aos que não consomem –
por serem pobres – e, que trabalham para produzir bens e serviços que serão consumidos por alguém.
As pessoas que pertencem à elite, à classe média alta e à classe média dos países pobres também são
consumidores, pois estão sempre desejando algo novo, como roupas, carros, eletrodomésticos, etc. Desejar
consumir é um fator fundamental para a manutenção da sociedade de consumo, uma vez que esse desejo é
o que impulsiona o consumo.
O BOOM DO CONSUMISMO
Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1945) e a expansão global de uma política capitalista de mercado,
os avanços tecnológicos foram incorporados aos bens de consumo, baixando os custos de produção e
aumentando o consumo desses bens, aumentando também a demanda de energia e de recursos naturais:
minérios, madeira, entre outros.
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Em termos globais, essa demanda quase dobrou; o consumo do cimento e a posse de automóveis
quadruplicaram e o uso de alumínio aumentou sete vezes.
Atualmente a expansão da sociedade de consumo se faz pela globalização da economia, isto é, as grandes
empresas transnacionais produzem partes de seus produtos em diferentes países; a Europa inicia o uso de
uma única moeda; tudo que se vende e se compra é negociado no mercado internacional de mercadorias
(commodities).
É interessante notar que no ápice de uma sociedade de consumo não existe dissidência: todos têm tudo
igual. Seu exemplo mais característicos é a sociedade norte-americana, na qual, em 1988, quase 100% dos
domicílios já continham tevês em cores. Em cerca de 30 anos após a invenção da tevê, praticamente todos
os norte-americanos passaram a achar importante assistir televisão.
Com relação ao transporte, o norte-americano padrão dedica mais de 1,5 mil horas por anos ao seu
automóvel: em seu interior, em marcha ou parado, trabalhando para pagá-lo, para pagar o combustível, os
pneus, os pedágios, o seguro, as multas e os impostos federais sobre propriedade de veículos e as taxas de
estacionamento. Dedica-lhe 4 horas por dia, nas quais se serve dele, se ocupa dele ou trabalha para mantêlo. Esse mesmo indivíduo percorre, nesse período de 1 ano, cerca de 10 mil quilômetros com seu carro, o
que nos leva a uma média aproximada de 6km/h percorridos em seu deslocamento diário (velocidade de um
pedestre!).
Assim, ao falarmos de sociedade de consumo, temos de abordar os países ricos (são apenas 23 ao todo,
correspondendo a cerca de 1 bilhão de pessoas). É lá que encontramos os dados a respeito e em maior
número, de forma organizada, pois é neles que há mais interesse de se realizarem pesquisas sobre vendas,
compras, propaganda, alterações nos hábitos de compra, etc. Apenas em poucos temas específicos temos
informações organizadas sobre os países do terceiro mundo, como o Brasil.
O Canadá, por exemplo, tem um vasto programa de reciclagem de lixo na província de Ontário. É o único
local do mundo onde todos os domicílios, de todas as municipalidades, reciclam papel, vidro e latas. Além
disso, lixo orgânico doméstico é transformado em composto para ser usado nas hortas. O estudo dessa
experiência, apesar de realizada em um país distante e de cultura diferente da nossa, informa muito mais
sobre as melhores rotas, as dificuldades e os limites de sucesso de um programa de reciclagem, do que um
exemplo mais próximo e culturalmente mais semelhante à nossa realidade, como um programa de
reciclagem numa única cidade da Argentina ou do Brasil. O que faz a diferença é o tempo de duração do
projeto e o número de domicílios envolvidos. Afinal, quem compra o material reciclado, seja no Canadá, seja
no Brasil, são as mesmas empresas multinacionais produtoras de papel, vidro e recipientes de metal,
movidas pela busca do mais barato.
Nesse ritmo crescente de consumo pelas sociedades industriais modernas, no entanto, cabe-nos perguntar:
quantos consumidores o planeta terra pode tolerar?
Levando em conta que todo consumidor queira viver como um norte-americano, e sabendo que a energia é o
principal fator que entra na produção de bens e serviços, basta sabermos quantos norte-americanos
poderiam viver sobre o planeta com toda energia nele disponível. Com a quantidade de energia total, que é
atualmente usada em todo o mundo, este planeta poderia abrigar apenas 1,1 bilhão de norte-americanos!
Assim, como a energia é o principal recurso que faz mover a sociedade de consumo, o lixo é seu produto
mais importante. Os maiores produtores de lixo são aqueles que mais consomem: 19% do lixo do mundo são
produzidos nos Estados Unidos. Um jovem que tenha nascido naquele país em 1973 está destinado a
descartar durante toda a sua vida (a expectativa de vida nos Estados Unidos é de 76 anos):
- 10 mil garrafas não retornáveis;
- 17,5 mil latas;
- 27 mil tampinhas de garrafas;
- 2,3 automóveis; e
- 126 toneladas de lixo.
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Ele produz todo esse lixo consumindo:
- 98,4 milhões de litros de água;
- 52 mil quilos de ferro e aço;
- 250 mil litros de petróleo;
- 6 mil quilos de papel;
- 80 mil litros de gasolina;
- 50 mil quilos de comida; e
- 4,6 mil quilos de fertilizantes.
De nada adianta, porém, o desejo de viver como um norte-americano, porque, para se ter seu padrão de
consumo, é preciso mão-de-obra barata; é preciso que países mais pobres comprem dos ricos as
tecnologias que ficaram obsoletas (como os carros pouco eficientes), e com isso os países ricos arrecadem
recursos financeiros para gastar com novas pesquisas automotivas; é preciso que o custo da degradação
ambiental seja considerado zero; é preciso que as indústrias poluidoras se localizem no terceiro mundo;
enfim, numa sociedade de consumo, é preciso que haja pobres em grande quantidade, para que haja, no
máximo, poucos ricos.
É a quantidade de dinheiro disponível para ser gasta por uma pessoas rica, pobre ou remediada o que limita
o consumo. Parece que, para nossa sociedade, o dinheiro compra a felicidade. Mas será que isso é
verdade? Ou nos sentimos felizes comprando alguma coisa porque é assim que estamos condicionados a
nos sentir? Será que a sociedade em vivemos tem realmente o poder de convencer as pessoas de que é
importante ganhar dinheiro para gastá-lo com bens e serviços?
FELICIDADE VERSUS SATISFAÇÃO DAS NECESSIDADES
O ser humano sempre buscou a felicidade; as empresas, o lucro. Será que elas vendem felicidade? É isto
que os meios de comunicação de massa parecem nos dizer: “quem tem mais, é mais feliz”.
Paralelamente, dados de uma curiosa pesquisa revelam que as classes detentoras de maiores posses, em
qualquer sociedade moderna, estão mais satisfeitas com as suas vidas do que as classes menos ricas.
A mesma pesquisa, entretanto, também mostra que, nos países ricos, essas classes detentoras de maiores
posses não estão mais satisfeitas do que as classes mais ricas de muitos países pobres; nem tampouco
estão mais satisfeitas do que as classes mais ricas estiveram, em um passado menos rico.
Em outras palavras, a satisfação trazida pelo dinheiro parece vir não do fato de simplesmente possuí-lo, mas
sim de possuir mais do que os outros. Numa sociedade de consumo, ter dinheiro significa poder consumir e
é sinônimo de busca de felicidade e status.
A compra de um produto tido como importante pelo grupo social ao qual o consumidor pertence produz uma
imediata sensação de prazer e realização e geralmente confere status e reconhecimento a seu proprietário.
Também, conforme a novidade vai se desgastando, o vazio ameaça retornar. Quando isso ocorre, a solução
padrão do consumidor é se concentrar numa próxima compra promissora, na esperança de que a satisfação
seja mais duradoura e mais significativa.
A sensação de vazio que se apossa do consumidor é um dos dois aspectos do individualismo e isolamento
que o caracteriza: contrapondo-se ao vazio interior, está a aparência de segurança e realização.
Esse mundo fantástico de satisfação das necessidades de aceitação social, de realização pessoal e mesmo
conforto físico, mediante o consumo constante, é elaborado pelos meios de comunicação de massa e pela
indústria de propaganda. Assim, um indicador claro do sucesso do consumismo é a propaganda.
Essa verdadeira indústria foi uma das que tiveram o mais rápido crescimento durante a última metade do
século XX: os gastos mundiais totais com propaganda aumentaram de US$ 39 bilhões em 1950 para US$
237 bilhões em 1988, crescendo até mesmo mais rapidamente que a produção econômica mundial no
mesmo período.
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Nesse período, os gastos mundiais per capita com propaganda triplicaram: de US$ 15 para US$ 46. Nos
Estados Unidos, onde os gastos com propaganda são imensos, houve um aumento de US$ 200 para US$
500.
Com tal quantidade de propaganda disponível para ser vista, lida e ouvida, os adolescentes norteamericanos assistem 22 horas de televisão por semana, sendo expostos em média de 3 a 4 horas semanais
de propaganda na tevê, acumulando 100 mil anúncios entre seu nascimento e sua graduação no estágio
equivalente à oitava série do primeiro grau. Essa informação preocupa os educadores, pois, ao contrário das
atividades lúdicas infanto-juvenis, a passividade exigida pela tevê não prepara a criança para o aprendizado.
Como numa sociedade de consumo sempre haverá – por mais que consumamos – um novo produto, ou uma
nova tecnologia a ser lançada, melhor do que a que acabamos de consumir, somos obrigados a conseguir
mais dinheiro para satisfazer nossas novas “necessidades”. É essa a engrenagem principal que faz a
economia girar e que torna ilusória a busca da felicidade por meio do consumo.
Isso tudo nos faz questionar: de quem é verdadeiramente a necessidade que estamos atendendo como
consumidores?
SOCIEDADE DE CONSUMO: SIM OU NÃO?
À primeira vista a sociedade de consumo parece ser sobreposição de duas realidades. Uma mostra os
produtos ligados à boa qualidade de vida, tais como as vacinas, os antibióticos, o tratamento da água e o
esgoto, os marcapassos cardíacos e o aquecimento de ambientes nos países de inverno rigoroso. A outra
mostra a poluição do ar e das águas, principalmente nas regiões mais industrializadas, a mão-de-obra muito
barata nos países do terceiro mundo, como o Brasil, onde a maior parte da população trabalha desde a
infância até a morte, sem higiene, saúde, abrigo e alimentação adequados à dignidade do ser humano.
Essas duas realidades dividem as opiniões acerca da sociedade de consumo. Uns a defendem, outros se
voltam contra ela.
Para que possamos nos definir diante dessas duas realidades, precisamos fazer algumas considerações e
precisamos refletir sobre os efeitos dessa sociedade.
Estaríamos exaurindo os recursos energéticos e os recursos naturais, como a água, e poluindo o ar apenas
para produzir os bens supérfluos dessas sociedades de consumo? Estaríamos, então, exaurindo riquezas
nos excessos de consumo, ignorando a elaboração, transporte e distribuição dos bens e serviços de primeira
necessidade aos carentes? Responder a essas dúvidas é posicionar-se diante da sociedade de consumo.
Parece que um número cada vez maior de pessoas acha que sim: que estamos sacrificando uma maioria
para satisfazer os excessos de um grupo menor de indivíduos. Hoje em dia há em todo mundo muitas
organizações civis que se dedicam à elaboração e execução de programas para conscientizar as populações
das necessidades emergenciais de se diminuir o consumo e a poluição; de se lutar pela igualdade entre os
povos e contra as diferenças sociais num país; e também de se lutar pela preservação do meio ambiente.
Essas organizações, em última análise, estão envolvidas na luta pela sobrevivência, dignidade e liberdade
de todos os seres humanos, tanto daqueles que foram excluídos do consumo, quanto dos consumidores.
No entanto, parece impossível desmantelar um sistema tão poderoso quanto esse, formado pela aliança
entre a comunicação de massa e as indústrias.
O que dá força à sociedade de consumo, porém, é o fato de seus valores estarem presentes em cada um de
nós, representados pela abundância e pela novidade. Todavia, se deixarmos de lado, por um momento,
esses valores que nos fazem consumistas, vamos perceber que a sociedade de consumo só interessa de
fato àqueles que são seus grandes líderes e beneficiários, tais como os donos e presidentes das grandes
corporações ou diretores das grandes instituições financeiras mundiais. Eles não são consumidores de
produtos fabricados em série. As elites, isto é, os grupos mais poderosos e ricos, encomendam carros
produzidos um a um, fazem suas roupas com modistas e não se alimentam nas redes de lanchonetes.
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Além disso, não moram em apartamentos de sistemas financeiros de habitação, e assim por diante. O
consumo que lhes interessa é o dos outros, é aquele que financia seu comportamento extravagante.
Sem nenhuma dúvida, a sociedade de consumo está degradando o planeta quer pelo abuso que se faz dos
recursos naturais, quer pela produção excessiva de lixo.
A essa altura, vale perguntar: como, por quanto tempo e quantos de nós poderão viver sobre a Terra?
O número de seres humanos que pode habitar a Terra depende não só das necessidades alimentares
básicas de cada um, mas também:
-
Da quantidade de recursos naturais disponível;
Da quantidade de lixo produzido;
Da tecnologia usada, que pode ser muito nociva para o meio ambiente, como a energia nuclear e a
queima de combustíveis fósseis, ou não, como o uso de energias alternativas;
De quanto se vais usar dos recursos naturais disponíveis e de que forma eles devem ser usados, sem
que isso leve à degradação dos ecossistemas ao longo do tempo.
Em nível global, o consumo de alimentos dá uma idéia das opções que temos como habitantes da Terra. A
projeção da produção mundial de grãos indica uma colheita de 2,2 bilhões de toneladas no ano de 2030.
Essa quantidade de alimento pode satisfazer populações de diferentes tamanhos. Com o nível de consumo
dos Estados Unidos, de 800jg por pessoas ao ano, tal colheita sustentaria 2,7 bilhões de pessoas – metade
da população atual do planeta. Com o nível de consumo da Itália, de 400kg por pessoa ao ano, ela
suportaria 5,5 bilhões de pessoas, equivalente à população mundial de 1993. Com o nível de consumo da
Índia, de 200kg por pessoa ao ano, ela suportaria 11 bilhões de pessoas.
Observar esses fenômenos sociais e econômicos e refletir sobre eles – desde que nos coloquemos à
distância ao apreciá-los – poderá nos ajudar a escolher: continuar ou não na roda-viva do consumo; buscar
ou não o equilíbrio com a natureza e a preservação do meio ambiente. Cabe a nós a decisão sobre o que
queremos para a nossa geração e para as futuras.
Maria Elisa Marcondes Helene
Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora na área de Energia e Meio Ambiente na
Universidade de São Paulo, junto ao Núcleo de Apoio à Pesquisa em Economia, Sociedade e Meio
Ambiente. É autora de vários livros sobre temas ambientais, dirigidos aos jovens.
André Frazão Helene
Bacharelando em Biologia e Estagiário do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biologia da
Universidade de São Paulo. Professor de Biologia.
Referência:
MARCONDES, M. E. ; HELENE, A. F . Eu consumo, tu consomes... In: Márcia Kupstas. (Org.). Ecologia
em Debate. São Paulo: Moderna, 1998, v. , p. 97-111.
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