FOL • Faculdade de Odontologia de Lins / UNIMEP
PRESENÇA DE CANDIDA SP EM
LEUCOPLASIAS DA MUCOSA BUCAL
CANDIDA SP IN ORAL MUCOSAE LEUKOPLAKIAS
LEANDRO ARAÚJO FERNANDES
Aluno de graduação e bolsista de Iniciação Científica/Fapesp,
do Departamento de Patologia e Propedêutica Clínica, Faculdade de
Odontologia, campus de Araçatuba, Unesp
MARCELO MACEDO CRIVELINI
Professor adjunto do Departamento de Patologia e Propedêutica Clínica
da Faculdade de Odontologia, campus de Araçatuba, Unesp
RESUMO
ABSTRACT
Leucoplasias bucais são placas ou manchas brancas hiperceratóticas na mucosa, que não podem ser removidas por raspagem
e nem caracterizadas clinicamente como qualquer outra doença.
Um dos possíveis agentes etiológicos é o microrganismo Candida
sp, devido à sua freqüente correlação com essas lesões. Neste trabalho objetivamos verificar a presença de Candida sp em uma
ampla amostra de leucoplasias, bem como correlacioná-la com
dados clínicos e histopatológicos. Para isso, analisaram-se todos
os casos de leucoplasia bucal, diagnosticados no período de 1995
a 2000 no Serviço de Histopatologia e Citopatologia da Faculdade de Odontologia do campus de Araçatuba/Unesp, em um
total de 134 biopsias. Em 30,5% dos casos detectou-se o fungo.
Leucoplasias com presença de Candida foram mais comuns
nas regiões de fórnix e gengiva inferior, apresentando-se clinicamente como manchas e com displasia epitelial no exame histopatológico. Apesar das diferenças percentuais, a análise estatística demonstrou não haver relação significativa da Candida sp
com os dados clínicos e histopatológicos observados.
Oral leukoplakias are hyperkeratotic white patches or plaques
that cannot be scraped away nor be characterized clinically
as any other disease. One of the possible etiological agents is
Candida sp, due to its frequent correlation with these lesions.
In this study, we aimed to verify the presence of Candida sp
in a wide range of leukoplakia samples, as well as correlate
them with the clinical and histopathological data. Thus, all
cases of oral leukoplakia diagnosed from 1995 to 2000 at the
Service of Histopathology and Cytopathology of the School
of Dentistry of Unesp in Araçatuba were analyzed, which
totaled 134 biopsies. The fungus was detected in 30.5%
of the cases. Leukoplakias with the Candida were more
common in the regions of the fornix and lower gum and
were seen as clinical patches and epithelial dysplasia in
the histopathological examination. Despite the percentage
differences, the statistical analysis showed that there is no
significant relation between Candida sp and the clinical and
histopathological data analyzed.
UNITERMOS: LEUCOPLASIA – CANDIDÍASE – FUNGOS.
UNITERMS: LEUKOPLAKIA – CANDIDIASIS – FUNGI.
Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 16 (2): 25-32, 2004
25
26
A leucoplasia bucal é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como
“uma placa ou mancha branca que não pode
ser caracterizada clinicamente ou histopatologicamente como qualquer outra doença”.
Regezi; Sciubba16 e Shafer et al.21 definiram
como “mancha ou placa branca que não pode
ser removida por raspagem”. Para Rodriguez et al.,17 o termo leucoplasia não teria
conotação histopatológica e seria utilizado
apenas no sentido clínico para denominar
uma placa predominantemente branca da
mucosa bucal, não removível por raspagem,
cuja superfície poderia se apresentar lisa,
rugosa ou verrucosa.
A leucoplasia é considerada a lesão cancerizável mais freqüente da cavidade bucal,
desenvolvendo-se em qualquer região, no
entanto, a mucosa jugal, o lábio inferior e a
língua têm sido as áreas mais afetadas. Em
torno de 4 a 6% dos casos evoluem para carcinoma, sendo necessário diagnóstico correto
e precoce, além de tratamento adequado, para
a prevenção do câncer de boca.2, 17
As lesões iniciais brandas apresentam-se
como placas cinzas ou brancas acinzentadas, levemente elevadas, podendo exibir um
pouco de translucidez ou corrugação, e constituindo-se tipicamente moles e planas. Com
a manutenção do fator causal, a mucosa pode
se tornar corinácea ao toque, e exibir sulcos
de profundidade variada. A partir dessa fase,
algumas lesões desenvolvem irregularidades
superficiais, chamadas de leucoplasias verrucosas.14 Rodriguez et al.17 realizaram um estudo
com 28 pacientes portadores de leucoplasia
e chegaram à conclusão de que 78,6% possuíam a forma homogênea (superfície lisa)
e 21,4% apresentavam lesões não homogêneas (superfície exofítica), ao passo que em
nenhum dos casos foi relatada candidose.
Barbachan et al.2 citaram as dimensões
dessas lesões variando de pequenas manchas
bem localizadas, até áreas envolvendo toda a
mucosa. Quanto à cor, aparecem com tom
branco pérola amarelado até marrom claro.
Com relação à superfície, podem ser lisas,
levemente granulosas ou intensamente sulcadas.4, 9, 10 Eventualmente tais lesões brancas assentam sobre uma base eritematosa,
enquanto outras se alternam com zonas de
eritema, representando formas crônicas de
candidose ou eritroplasias.10, 15, 22
Para Fleury et al.,8 o desenvolvimento
da leucoplasia dependeria de fatores locais
e gerais, havendo quase sempre um caráter
multifatorial. Os fatores locais seriam tabaco,
álcool e vários irritantes crônicos, como próteses mal adaptadas e arestas dentárias cortantes. Como fatores gerais, citaram anemia,
alergia a certos alimentos e efeitos sistêmicos do alcoolismo. Microrganismos como o
Papilomavírus humano (HPV 16 e 18) e
fungos, particularmente a Candida sp, têm
sido estudados como possíveis fatores etiológicos.14, 16, 21 Ainda existem dúvidas se a Candida sp infecta a mucosa primariamente, predispondo ao aparecimento da leucoplasia ou
se esta infecta a mucosa secundariamente,
após a instalação da lesão. Vidas et al.25 mostraram que 67,9% das leucoplasias estudadas apresentavam candidose. A prevalência
foi maior naquelas de mucosa jugal, seguidas
de lábio e língua. Na amostra de 520 lesões
estudadas por Banoczy et al.,1 13,5% delas
continham o fungo. Nos 35 casos analisados
por Lipperheide et al.,12 a taxa foi de 76%.
Sciubba et al.20 e Victória24 afirmaram que a
candidose seria um dos agentes etiológicos
das lesões leucoplásicas. Jerry et al.11 relataram que a presença da Candida sp é freqüente e que o termo leucoplasia por cândida
seria comumente citado nesses casos. Bendick et al.,6 em um estudo com 101 pacientes
HIV-positivos no Camboja, observaram que
as lesões leucoplásicas e as candidoses eram
as doenças bucais mais freqüentes, demonstrando que a debilidade do paciente seria
um fator comum para desencadear o aparecimento dessas lesões e a razão para que as
duas estivessem relacionadas.
Barbachan et al.2 mostraram que a infiltração de pseudo-hifas no epitélio da cavidade bucal, por si só, produz alterações que se
assemelham às lesões leucoplásicas, principalmente em pessoas com resposta imune deficiente. Por outro lado, Roitt et al.18 afirmaram que a Candida albicans prolifera com facilidade em tecidos alterados. A exemplo disso,
Barrett et al.3 analisaram 223 biópsias coradas
pela técnica do PAS e encontraram relação
entre infecção fúngica e presença de displasia
epitelial severa e moderada, sendo que 21,9%
das displasias infectadas por fungos apresentavam maior severidade, comparadas às 7,6%
de displasias que não foram infectadas pelo
fungo. Mccullough et al.13 analisaram 223
Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 16 (2): 25-32, 2004
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INTRODUÇÃO
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biópsias de lesões orais variadas e identificaram displasia em 44,6% dos casos, nas quais
eram freqüentes os fungos.
As alterações histopatológicas encontradas nas leucoplasias compreendem espectro
amplo de modificações, como: acantose, hiperceratose, paraceratose, displasia epitelial ou
carcinoma in situ.5, 7, 10 A hiperceratose pode
ser tanto hiperortoceratose como hiperparaceratose, ou uma mistura de ambas. Segundo
Rued et al.,19 a hiperparaceratose seria invariavelmente encontrada na candidose leucoplásica, com atividade mitótica quatro vezes
maior do que a registrada na hiperortoceratose. Quanto à displasia epitelial, esta pode ser
classificada como leve, moderada e severa.
Existe consenso geral de que não há
relação definida entre o aspecto clínico e
o quadro histopatológico das leucoplasias,
o que torna a biópsia necessária, precedida
geralmente pelo rastreamento com azul
de toluidina. Leucoplasias, clinicamente de
aspecto grosseiro, podem ter alterações histopatológicas discretas, enquanto que outras
aparentemente banais podem exibir alterações histológicas graves.5, 10
PROPOSIÇÃO
Diante do exposto, e questionando as
implicações da Candida sp nas leucoplasias,
este trabalho se propôs a verificar a presença
do fungo em uma amostra de lesões leucoplásicas e correlacionar os achados clínicos e
histopatológicos.
MATERIAIS E MÉTODOS
Analisaram-se todos os casos de leucoplasia bucal, diagnosticados no período de 1995 a
2000 no Serviço de Histopatologia e Citopatologia da Faculdade de Odontologia, campus de
Araçatuba/Unesp, totalizando 134 biopsias.
Após revisão do diagnóstico histopatológico nos cortes corados em HE, as lesões
foram qualificadas e enquadradas nas seguintes características microscópicas: hiperceratose, acantose, exocitose, displasia (leve,
moderada e severa), inflamação subjacente
(leve, moderada e intensa). Após a realização
de novos cortes microscópicos, as amostras
foram coradas com metanamina-prata para
visualização das hifas de Candida.
Para comparação clínica e histopatológica, coletaram-se os dados pessoais e clínicos dos pacientes da ficha de encaminhaRev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 16 (2): 25-32, 2004
mento, anotando-os em formulário próprio,
a fim de permitir o levantamento de informações demográficas, tipo de lesões elementares e sua localização. Os dados clínicos e
histopatológicos foram tabulados e submetidos a análise estatística pelos testes do Quiquadrado (X2) e P valor (P.V.), para determinação das variáveis qualitativas, com nível de
significância de 5%.
RESULTADOS
Os resultados encontram-se resumidos
nas tabelas 1 a 5. A mucosa jugal foi o
principal ponto de localização da leucoplasia (52 casos), seguida pelo rebordo alveolar
(31 casos) e a área retromolar (14 casos). A
maior parte das lesões ocorreu em pacientes
da raça branca e faixa etária entre 30 e 60
anos, com discreta prevalência para o sexo
masculino. Raras foram as lesões de aspecto
verrucoso (sete casos), sendo mais comum
sob forma de manchas ou placas (tab. 1 e 2).
A tabela 3 mostra que o fungo Candida sp
foi evidenciado em apenas 30,5% das lesões,
que, em valores percentuais, era mais comum
nas lesões de fórnix (sulco gengivo-geniano,
50% dos casos) e gengiva (100%), ao contrário daquelas de lábio inferior (18,2%).
Histologicamente, era mais comum o
epitélio da leucoplasia ser ortoceratinizado,
qualquer que fosse a localização, exibindo
freqüentemente acantose (27%), por vezes
exocitose, e inflamação leve subepitelial em
quase todas as amostras (fig. 2 e tab. 5). Displasia epitelial foi observada em apenas 24
casos, estando as outras 110 lesões livres de
algum grau de atipia (tab. 4).
Ao confrontarmos a presença da Candida
sp com alguns parâmetros desta pesquisa,
notamos, em termos percentuais, maior afinidade de sua ocorrência nas lesões de tipo
mancha (37,3%), histologicamente com displasia (45,8%), acantose (27%), inflamação
leve (28,5%) e sem exocitose (41,7%), independente do tipo de ceratinização: orto ou
paraceratose (tab. 5). Na coloração histoquímica com metanamina-prata, as hifas
de Candida foram detectadas nas camadas
superficiais de hiperorto ou hiperparaceratose, exibindo coloração negra (fig. 1). Lesões
sem o fungo geralmente eram placas, histologicamente caracterizadas por hiperorto ou
hiperparaceratose, sem displasia, porém com
exocitose e inflamação intensa (tab. 5).
27
CLÍNICOS DAS LEUCOPLASIAS BUCAIS REFERENTES AO NÚMERO DE CASOS, SEXO, RAÇA E LESÃO
FUNDAMENTAL.
Localização Número
Sexo
Raça
Masculino Feminino Branca
Mucosa jugal
Lesão fundamental
Negra
Mancha
Placa
Lesão
verrucosa
52
27
25
44
08
24
23
05
Rebordo alveolar 31
17
14
26
05
21
10
-
Área retromolar
14
07
07
10
04
07
07
-
Lábio inferior
11
09
02
11
-
04
07
-
Palato
06
04
02
03
03
02
03
01
Mucosa labial
06
03
03
06
-
01
04
01
Língua
05
02
03
04
01
03
02
-
Fornix
04
01
03
01
03
02
02
-
Assoalho bucal
03
01
02
03
-
01
02
-
Gengiva inferior 02
01
01
02
-
02
-
-
Total
72
62
110
24
67
60
07
134
TABELA 2. DISTRIBUIÇÃO DAS LEUCOPLASIAS BUCAIS DE ACORDO COM A LOCALIZAÇÃO E FAIXA ETÁRIA.
Faixa etária 11-20
Localização
28
21-30
31-40
41-50
51-60
61-70
71-80
81-90
Mucosa jugal
-
6
15
14
11
6
-
-
Rebordo alveolar
-
-
5
6
9
9
1
-
Área retromolar
-
2
4
3
2
1
2
-
Lábio inferior
-
1
3
4
2
2
1
-
Palato
-
-
2
2
2
-
-
-
Mucosa labial
-
-
1
2
1
1
1
-
Língua
-
-
-
2
1
-
-
1
Fornix
1
-
-
-
2
1
-
-
Assoalho bucal
-
-
-
-
-
1
2
-
Gengiva inferior
-
-
2
-
-
-
-
-
Total
1
9
32
33
30
21
7
1
Apesar dessas diferenças percentuais, as
análises estatísticas utilizando o Qui-quadrado (χ2) e o P valor (P.V., tab. 6 e 7) não
demonstraram haver qualquer relação significativa da Candida sp com quaisquer dados
clínicos e histopatológicos analisados (nível
de significância de 5%).
DISCUSSÃO
O aspecto mais relevante no que se
refere às leucoplasias é o fato de comporem o
grupo das lesões cancerizáveis, isto é, aquelas potencialmente perigosas em originar um
tumor maligno. Nesse sentido, a displasia
epitelial detectada no exame histopatológico
Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 16 (2): 25-32, 2004
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TABELA 1. DADOS
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é motivo de preocupação. Estima-se que 4
a 6% dos casos evoluam para carcinoma, o
que faz necessário cuidados clínicos redobrados, biópsias preventivas, diagnóstico correto
e precoce, além de tratamento adequado.2, 19
A etiologia dessa doença envolve, inclusive,
fatores coincidentes com aqueles de risco do
câncer bucal, como tabaco, álcool, irritantes
crônicos e hipovitaminose A.8, 21 Talvez, por
esse motivo, a maioria das pesquisas atuais
volte-se para o estudo dos fenômenos da
transformação maligna.
O fungo Candida sp há muito tem sido
apontado como um dos fatores etiológicos
da leucoplasia,14, 16, 20, 21, 24 porém tal afirmativa ainda gera polêmica, uma vez que existem dúvidas se tal infecção seria meramente
oportunista. No entanto, é notória a associação desse fungo com a leucoplasia, como
demonstrado em vários estudos.1, 11, 12, 25 Dos
134 casos por nós estudados, 41 (30,5%)
apresentaram o fungo, resultado diferente
aos de Vidas et al.25 (67,9%), Banoczy et al.1
(13,5%) e Sciubba20 (76%).
Nesta breve revisão literária, notamos
que a displasia epitelial e a candidose são eventos comuns nessa doença. Trabalhos como o
de Barrett et al.3 e Mccullough et al.13 têm
demonstrado relação entre infecção fúngica
e ocorrência de displasia epitelial. Barret et
al.3 afirmaram que 21,9% das displasias infectadas por fungos apresentavam maior severidade, comparadas às 7,6% de displasias não
infectadas pelo fungo. Supostamente é de se
suspeitar que a presença do fungo teria um
FIGURA 1. LEUCOPLASIA: SUPERFÍCIE EPITELIAL CONTENDO
HIFAS DE CANDIDA SP. METANAMINA-PRATA.
400X.
TABELA 3. PRESENÇA DA CANDIDA SP NAS LEUCOPLASIAS, DE ACORDO COM A
LOCALIZAÇÃO
Localização
Candida
Presente
(%)
Ausente
(%)
Mucosa jugal
18 (34,6)
34 (65,4)
Rebordo alveolar
7 (22,5)
24 (77,5)
Área retromolar
4 (28,5)
10 (71,5)
Lábio inferior
2 (18,2)
9 (81,8)
Palato
2 (33,4)
4 (66,6)
Mucosa labial
2 (33,4)
4 (66,6)
Língua
1 (20,0)
4 (60,0)
Fórnix
2 (50,0)
2 (50,0)
Assoalho bucal
1 (33,4)
2 (66,6)
Gengiva inferior
2 (100,0)
- (00,0)
Total
41 (30,5)
93 (69,5)
efeito carcinogênico, aumentando o risco de
malignização de epitélios. Nossos resultados
inclusive mostraram que, em termos percentuais, quase a metade das leucoplasias displásicas estudadas continha Candida (45,8%), o
que coincidiu com os números de Mccullough
et al.,13 nos quais, a partir de 223 lesões orais
variadas e com displasia epitelial, 44,6% apresentavam o fungo. Porém, estatisticamente
isso não foi significante.
Por outro lado, Bendick et al.6 observaram alta freqüência de lesões leucoplásicas
e candidoses nos pacientes HIV-positivos,
FIGURA 2. LEUCOPLASIA
DE MUCOSA JUGAL: EPITÉLIO EXIBINDO HIPERPARACE-
RATOSE E ACANTOSE, ALÉM DE DISCRETO INFILTRADO INFLAMATÓRIO
MONONUCLEAR NA LÂMINA PRÓPRIA.
H. E. 200X.
29
Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 16 (2): 25-32, 2004
Localização
Hiperceratose
Acantose Exocitose Displasia
Inflamação
Ortoceratose
Paraceratose
23
29
40
12 38 14
9
43
8
22
14
8
Rebordo alveolar 29
2
25
6
15 16
6
25
3
25
3
-
Área retromolar
10
4
10
4
7
7
1
13
1
10
3
-
Lábio inferior
10
1
7
4
8
3
3
8
-
7
3
1
Palato
4
2
3
3
2
4
2
4
2
2
2
-
Mucosa labial
3
3
5
1
4
2
2
4
-
3
2
1
Língua
3
2
4
1
4
1
-
5
-
3
2
-
Fornix
2
2
3
1
2
2
-
4
1
3
-
-
Assoalho bucal
1
2
3
-
-
3
1
2
1
2
-
-
Gengiva inferior
1
1
-
2
-
2
-
2
2
-
-
-
Total
86
48
80
24
77
29
10
Mucosa jugal
Sim Não Sim Não Sim Não Não Leve Moderada Intensa
100 34
24 110 18
TABELA 5. RELAÇÃO CLÍNICA E HISTOPATOLÓGICA DAS LEUCOPLASIAS COM A PRESENÇA OU AUSÊNCIA DO FUNGO CANDIDA SP.
Candida
Lesão fundamental
Mancha Placa Lesão
Verrucosa
Hiperceratose
OrtoParaceceratos
ratose
Acantose
Sim Não
Exocitose
Sim Não
Displasia
Sim Não
Não
Inflamação
Leve Moderada Intensa
Presente
37,3%
23,3%
28,5%
31,3%
29,1%
27,0% 20,5%
27,5% 41,7%
45,8% 27,2%
16,6% 28,5%
24,1%
10,0%
Ausente
62,7%
76,7%
71,5%
68,7%
70,9%
73,0% 79,5%
72,5% 58,3%
54,2% 72,8%
83,4% 71,5%
75,9%
90,0%
67
60
07
86
48
29
10
Total de casos
100
34
80
24
24
110
18
77
TABELA 6. ANÁLISE ESTATÍSTICA DAS CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DAS LEUCOPLASIAS RELACIONADAS COM A PRESENÇA
DO FUNGO CANDIDA SP.
Candida
Localização
Sexo
Raça
Lesão fundamental
χ2
8,4
0,44
0,00
4.24
P.V.
0,58
0,5
0,97
0,11
TABELA 7. ANÁLISE
ESTATÍSTICA DAS CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS DAS LEUCOPLASIAS RELACIONADAS COM A
PRESENÇA DO FUNGO
Candida
CANDIDA SP.
Hiperceratose
Acantose
Exocitose
Displasia
Inflamação
c2
1,29
0,07
0,03
0,41
1,84
P.V.
0,52
0,79
0,86
0,52
0,76
30
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TABELA 4. CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLOGICAS PRINCIPAIS DAS LEUCOPLASIAS E RESPECTIVAS LOCALIZAÇÕES.
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o que demonstraria que a debilidade imunológica seria um fator comum e contributivo para a etiologia dessas lesões, razão
esta para que as duas alterações estivessem
relacionadas. Os resultados de nosso trabalho demonstraram que a displasia epitelial
também ocorre em lesões não infectadas, em
valor percentual até maior que o das lesões
infectadas (54,2%). A nosso ver, as evidências literárias e os resultados apontam para
uma infecção oportunista da Candida nas
leucoplasias. O epitélio displásico, por estar
atípico, ofereceria menor resistência à proliferação fúngica local. Aliás, o próprio epitélio
da leucoplasia já seria um epitélio alterado e
menos resistente imunologicamente. Assim,
concordamos com Roitt et al.18 que afirmam
que a Candida albicans proliferaria com facilidade em tecidos estruturalmente modificados. Obviamente, a imunidade geral diminuída de um indivíduo, como no HIV-positivo, também favoreceria a infecção fúngica,
inclusive resultando no quadro de candidose
mucocutânea.6
Rodriguez et al.17 demonstraram que o
aspecto clínico da leucoplasia não necessariamente se correlacionaria à presença da
Candida. Nenhuma das leucoplasias homogêneas (superfície lisa) ou não homogêneas
(superfície exofítica) de seu estudo exibiu
candidose. Em nossos resultados, parte das
leucoplasias estava infectada, incluindo aquelas que se apresentaram clinicamente como
manchas, placas ou lesões verrucóides, porém
com maior porcentagem de casos positivos
naquelas de tipo manchas. O aspecto clínico
da lesão fundamental branca aparentemente
não influenciou na ocorrência de candidose
local. Pelo contrário, quando tais lesões brancas se assentaram sobre uma base eritematosa ou se alternaram com zonas de eritema, poderiam representar formas crônicas
de candidoses ou eritroplasias.10, 15, 22
Segundo Rued et al.,19 a hiperparaceratose seria invariavelmente encontrada na
candidose leucoplásica. Nossos resultados
não concordaram com esses autores, pois, ao
confrontarmos a presença da Candida sp com
alguns parâmetros da pesquisa, sua ocorrência foi independente do tipo de ceratinização
epitelial: orto ou paraceratinizado.
Com relação à localização das leucoplasias, Rodrigues et al.17 e Barbachan et
al.2 citaram que as regiões mais freqüentes
Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, 16 (2): 25-32, 2004
seriam a mucosa jugal, lábio inferior e língua.
Nosso trabalho demonstra que a maior parte
também ocorreu na mucosa jugal, totalizando
52 amostras, em um universo de 134 lesões.
CONCLUSÕES
Assim, concluímos que:
1. a Candida sp foi detectada histoquimicamente pela metanamina-prata em 30,5%
das leucoplasias estudadas;
2. leucoplasias com presença de Candida
foram mais comuns nas regiões de fórnix e
gengiva inferior em números percentuais;
3. leucoplasias com presença de Candida se apresentaram mais freqüentemente
como manchas clinicamente (37,3%) e exibindo displasia epitelial no exame histopatológico (45,8%) em números percentuais;
4. a hiperortoceratinização ou hiperparaceratinização do epitélio da leucoplasia não
influenciou na maior freqüência da infecção
pela Candida sp;
5. apesar das diferenças percentuais, a
análise estatística demonstrou não haver relação significativa da Candida sp com os dados
clínicos e histopatológicos analisados.
Agradecimentos
À Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp; Proc. 01/10362-0).
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presença de candida sp em leucoplasias da mucosa bucal