Trabalhos X EGEM
Comunicação Científica
X Encontro Gaúcho de Educação Matemática
02 a 05 de junho de 2009, Ijuí/RS
INTUIÇÃO, VISUALIZAÇÃO E TECNOLOGIA NO ENSINO DE
LIMITES NA LICENCIATURA EM MATEMÁTICA
GT 02 – Educação Matemática no Ensino Médio e Ensino Superior
Ana Regina Gregory Brunet – ULBRA – [email protected]
José Carlos Pinto Leivas – ULBRA – [email protected]
Magda Leyser – ULBRA – [email protected]
Resumo: Este trabalho representa um recorte de um projeto de pesquisa mais amplo que busca
envolver a Geometria nas diversas áreas do conhecimento matemático, particularmente na formação
inicial do professor de Matemática. Utiliza-se intuição, visualização e a tecnologia computacional com
o uso do software GeoGeobra para construção e posterior formalização do conceito de limite de uma
função real de variável real. O projeto de pesquisa está em andamento desde o ano de 2006 e aqui é
apresentado um recorte na perspectiva do Cálculo Diferencial e Integral e da Análise Matemática na
Licenciatura em Matemática. Utilizou-se inicialmente pesquisa bibliográfica junto ao International
Group for Psychology of Mathematics Education e no sentido de identificar interesse pelo tema em
Educação Matemática para posteriormente utilizar a pesquisa experimental junto a grupos de alunos da
Licenciatura em que os autores são docentes. A pesquisa encontra-se em andamento e espera-se
comprovar a hipótese de que o uso de tecnologias computacionais pode representar um diferencial no
ensino e na aprendizagem do Cálculo Diferencial, Integral e Análise Matemática na formação inicial
do professor.
Palavras-chave: intuição; visualização; tecnologias; limites.
Introdução
Cálculo Diferencial e Integral é uma das disciplinas que é oferecida a uma grande
diversidade de cursos na Universidade e também para muitas escolas técnicas de Ensino
Médio. Observa-se, em uma rápida passagem pelos livros destinados a esse conteúdo
matemático, que não ocorreram diferenças substanciais nas últimas décadas sobre a forma
como os conteúdos dessa disciplina são abordados. Esta comunicação científica, como um
recorte de um projeto de pesquisa dos proponentes sobre o ensino de Geometria, tem a
intenção de apresentar uma possibilidade de trabalhar o conceito de limite de funções reais de
uma variável real, por meio da intuição e visualização, mostrando que, juntamente com o uso
de recursos tecnológicos, a Geometria pode se apresentar como um interlocutor entre diversas
subáreas do conhecimento matemático, especialmente na formação inicial do professor de
Matemática.
Reformulações curriculares nos cursos superiores ocorrem frequentemente em nosso
país. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores (BRASIL, 2001)
têm fornecido subsídios para tais reformulações. Entretanto, essas ainda não são percebidas na
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forma como os conteúdos matemáticos são tratados na formação inicial, especialmente no que
diz respeito à formação de professores, foco de nossa pesquisa. Para Cury (2001, p. 16)
ocorre um distanciamento grande entre na formação docente entre as áreas específicas e a
pedagógica, ocorrendo o mesmo com o bacharelado.
Já opinamos que o professor da Licenciatura em Matemática deve ter um
conhecimento abrangente sobre os conteúdos das disciplinas do curso. Mas o corpo
de conhecimentos dessa ciência atualmente é muito grande, como em qualquer
outra, e os docentes não conseguem ter uma visão global de todas as disciplinas para
fazer as pontes entre os diversos conteúdos. Além disso, os professores, mesmo
trocando de disciplinas periodicamente, não conseguem se atualizar e lecionam,
muitas vezes, uma Matemática “antiga”.
A generalização de uso de calculadoras e computadores, por exemplo, já
desatualizou uma série de conteúdos ensinados em todos os níveis de ensino, mas
muitos professores (e livros-texto) insistem em repeti-los, em aulas que poderiam ser
aproveitadas para desenvolver outros conteúdos e capacidades.
Nossa pesquisa busca criar alternativa que ofereça ao futuro professor formas
diferenciadas de desenvolver conteúdos tendo como fundamento a intuição geométrica
ancorada pelas tecnologias computacionais como forma de utilizar a visualização, pois
concordamos com Cury (2001, p. 19) quando afirma:
Consideramos, então, que um terceiro ponto a ser levado em consideração na
discussão sobre formação dos docentes para a Licenciatura em Matemática é a
necessidade de pesquisas, de forma que o ensino esteja ancorado no conhecimento
produzido pelo próprio docente.
O intuicionismo, como corrente filosófica, tem sido estudado por matemáticos cuja
contribuição para a ciência é inegável como Poincaré e também por psicólogos que dirigiram
sua atenção para questões envolvendo Matemática. Skemp (1993), por exemplo, diz ser um
conceito um termo utilizado de forma ampla e de difícil definição, sendo essencial uma
distinção do próprio conceito ao nome que lhe é associado. Para ele, um conceito é uma idéia
e o nome do conceito é um som, uma marca sobre um papel associada a ele; por exemplo,
números são conceitos matemáticos enquanto que numerais são os nomes que se atribui aos
números; pontos ou retas são conceitos e seus desenhos numa folha de papel são uma forma
de representá-los. Muitas vezes é difícil a comunicação de um conceito, como por exemplo,
no caso de limite de uma função em um ponto. A intuição se faz necessária para compreender
tal conceito juntamente com as representações geométricas de números e de aproximações.
Uma das formas com que Poincaré descreveu intuição foi relacionada aos sentidos e
à imaginação. Para Fischbein (1987) a intuição tem uma variedade de significados, sendo
aceito por uns e rejeitada por outros na ciência, por ser considerado um tema de difícil
abordagem. Esse autor destaca que a função primordial da intuição é a de produzir certeza
sobre representações e interpretações de fatos matemáticos aparentemente evidentes.
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Klein (1927, p. 6) afirma que “antes de tudo, deve-se dar grande importância a uma
forte educação da intuição espacial; depois se deve aumentar o ensino até chegar aos limiares
do Cálculo Infinitesimal...”. Nesse sentido ele indica a importância, por exemplo, de começar
uma familiarização imediata com os alunos “sempre sobre a base do constante emprego de
métodos gráficos na representação de quaisquer leis no plano das variáveis (x, y), que hoje se
utilizam em todas as aplicações da Matemática pelo caráter de evidência que presta.” (Ibid.,
p. 5. Grifo nosso).
A intuição para Davis e Hersh (1995, p.360) tem os seguintes significados:
1.)
Intuitivo é o oposto de rigoroso;
2.)
Intuitivo significa visual;
3.)
Intuitivo significa plausível ou convincente na ausência de demonstração;
4.)
Intuitivo significa incompleto;
5.)
Intuitivo significa confiramos num modelo físico ou em alguns exemplos
importantes;
6.)
Intuitivo significa holístico ou integrativo, em oposição a pormenorizado ou
analítico.
Para os autores, os formalistas afirmavam que nossos antecessores conseguiam
encontrar teoremas corretos partindo de raciocínios incorretos, por responderem à própria
intuição que possuíam e por isso Cauchy, apesar de não conhecer o significado formal da
teoria de conjuntos, não conhecer o que é um número complexo ou até mesmo saber o que era
uma integral ou uma curva, conhecia o teorema de Cauchy e sabia calcular corretamente um
número complexo utilizando a integral sobre uma curva, uma vez que sendo um grande
matemático podia confiar em sua intuição, segundo Davis e Hersh (1995).
Possuímos intuição pelo fato de que concebemos representações mentais de objetos
aos quais estamos associando um determinado conceito, nesse caso, o de limite de uma
função. Essas representações, quando feitas somente por métodos analíticos, segundo nossa
experiência profissional, não leva a uma compreensão duradoura do conceito e não conduzem
a soluções de problemas em níveis mais avançados no transcorrer das disciplinas do currículo
da Licenciatura, como em Análise ou Matemática Aplicada, por exemplo.
No sentido de repetir muitas experiências que conduzam a uma representação mental
de um mesmo conceito, o de limite de uma função talvez seja aquele em que o uso de
tecnologias computacionais pode trazer inovações para o ensino de Cálculo.
Segundo Sancho e Hernández (2006) as tecnologias da informação e comunicação
apresentam três tipos de efeitos transformadores, capazes de responder às necessidades
formativas de nossos alunos: alteram a estrutura de interesses, ou seja, as coisas em que
pensamos, que priorizamos, que julgamos fundamental ou obsoleto; mudam o caráter dos
símbolos, ou seja, as coisas com as quais pensamos, pois as tecnologias ampliaram
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significativamente os signos e a capacidade de armazenamento de informações; modificam a
natureza da comunidade, ou seja, a área em que se desenvolve o pensamento.
Assim, utilizar um software para a construção do conceito de limite de uma função
oferece muitas vantagens, dentre as quais a rapidez na reprodução de representação gráfica de
muitas funções, com uma variedade muito grande de pontos de aproximação, tanto na variável
dependente quanto na variável independente. A visualização de gráficos dessas funções, suas
representações e variações é uma das formas como a Geometria pode estar contribuindo para
a formalização do conceito de limite de uma função a partir de deltas e épsilons.
Uma das funções da visualização apontada pelo National Council of Supervisors of
Mathematics (NCSM), em 1990, quanto a competências fundamentais necessárias para que os
alunos desempenhem com eficiência e eficácia suas funções no próximo século em
Geometria, é visualizar como os objetos se movem no mundo. Assim, pensar no limite de
uma função utilizando tecnologias computacionais possibilita esse aspecto dinâmico e não
estático como é usualmente utilizado nas disciplinas de Cálculo.
Visualização tem sido um tema de pesquisa em Educação Matemática, especialmente
nos encontros do International Group for Psychology of Mathematics Education (PME). No
PME 13, de Paris, em 1989, o termo visualização surgiu em estudos de Mariotti e Arcavi,
segundo Gutiérrez e Boero (2006). Mariotti identificou em crianças, de 11-13 anos, dois
níveis de complexidade de pensamento intuitivo visual por meio de métodos que incluíam o
clínico. Arcavi usou métodos computacionais. Arcavi e Nachmias envolveram adultos num
ambiente computacional como forma de comparar representações em eixos paralelos para
representação de funções lineares e seu envolvimento com a visualização de declividade.
Pensamento visual dos estudantes em Cálculo
Na medida em que o Cálculo prioriza método algorítmico em seu desenvolvimento,
pode-se pensar se essa não seria uma razão pela qual estudantes que iniciam seus estudos
matemáticos perdem ou não adquirem, até certo ponto, gosto pelas construções conceituais. A
esse respeito, Vinner (1989, p. 149) questiona: “Em que medida considerações visuais em
Cálculo pode ser ensinado aos estudantes universitários? Até que ponto considerações visuais
podem se tornar uma parte natural do pensamento matemático de estudantes universitários?”
Esses questionamentos do autor conduzem a questões investigativas sobre ser ou não
relevante considerar a habilidade de visualização para a aprendizagem de Cálculo, pois para
alguns essa é uma habilidade nata, com o que não concordamos. Para o autor, “Assim, parece
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que não há provas evidentes de que pensamento visual não é uma necessidade para maior
sucesso em Matemática”. (p.150).
“O conceito matemático de limite é particularmente uma noção difícil, típica da
espécie exigida em Matemática avançada”, segundo Cornu (1991, p. 153) para quem essa
noção “ocupa uma posição central no papel da Análise Matemática como um fundamento
para a teoria de aproximações, de continuidade e de cálculo diferencial e integral” (idem). Ao
nos questionarmos sobre o que é uma Matemática avançada, encontramos guarida em Tall
(1991) a respeito de pensamento matemático avançado. Foi criado, junto ao PME em 1985,
um grupo de estudos, com o mesmo nome, envolvendo matemáticos e educadores
matemáticos para a escrita de um texto também com esse mesmo nome, o qual foi publicado
em 2001 e do qual extraímos o seguinte:
[...] criatividade está preocupada com a forma como as idéias sutis de investigação
são construídas na mente humana e uma prova disso é a forma como essas idéias são
ordenadas em um desenvolvimento lógico tanto para verificar sua natureza quanto
para apresentá-las à aprovação da comunidade matemática. (Tall, 1991, p. xiii).
Para o autor,
Um aspecto muito mais valioso da teoria de Piaget é o processo de transição de um
estado mental para outro. Durante essa transição, é possível que comportamento
instável, com a experiência de idéia prévia, conflite com novos elementos. Piaget
usou os termos assimilação para descrever o processo pelo qual o indivíduo toma um
novo dado e acomodação ao processo pelo qual a estrutura cognitiva do indivíduo
deve ser modificada. Ele vê assimilação e acomodação como complementares.
Durante uma transição muita acomodação é necessária. Skemp (1979) coloca idéias
semelhantes de uma forma diferente pela distinção entre o caso onde o processo de
aprendizagem causa uma simples expansão da estrutura cognitiva do indivíduo e o
caso em que há conflito cognitivo, exigindo uma reconstrução mental. É esse
processo de reconstrução que provoca as dificuldades que ocorrem durante a fase de
transição. (TALL, 1991, p. 9)
Dreyfys (apud Tall, 1991), ao fazer considerações sobre o processo de pensamento
matemático avançado, estabelece relações entre representação e abstração no processo de
aprendizagem e entre representações mentais e matemáticas, podendo e devendo ser utilizadas
nos procedimentos didáticos para aprendizagem. Tais processos podem consistir de quatro
estágios: “usando uma única representação; usando mais que uma representação em paralelo;
utilizando links entre representações paralelas e integrando representações e flexibilizando
conexões entre elas.” (p. 39).
A pesquisa
Na primeira fase da pesquisa buscamos levantamentos na literatura a respeito do
tema. Encontramos em Gutiérrez e Boeiro (2006, pp. 173-204) trabalhos como o de Mariotti,
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abordando provas e demonstrações em Educação Matemática, como um fato consensual de
que sejam tratadas nos currículos. Para a autora, o caso da indução matemática pode ser visto
como uma generalização atingida pelo reconhecimento de padrões gerais obtidos durante um
dado processo, por exemplo, após uma série de representações de aproximações de valores de
uma função real e, por uma seqüência de pontos no conjunto imagem, pode-se obter a
aproximação de um valor a determinar nas pré-imagens, intuindo daí o conceito de limite.
Também se pode ter uma generalização derivada de um processo de obtenção de padrões de
regularidades ocorridas durante esse processo de obtenção de um dado resultado.
Encontramos também pesquisas relacionando às tecnologias e o ensino de Cálculo
como o de Ferrara, Pratt e Robutti (idem, pp. 237-273) ao desenvolverem aspectos:
epistemológicos, cognitivos e curriculares em Cálculo pelo poder da tecnologia como um
importante e particular facilitador do trabalho dos estudantes. Dizem os autores,
“As mesmas soluções podem então ser usadas para planejar projetos curriculares:
Desse modo, a pesquisa pode ser útil para a prática docente. Nossa análise é focada
na mediação da tecnologia e do papel do professor sobre esses obstáculos
epistemológicos: limites, derivadas, somas infinitas, integrais.” (p. 257).
Utilizamos como metodologia em nossa pesquisa, num primeiro momento, a
pesquisa bibliográfica, a qual para Fiorentini (2006, p. 71) é “a modalidade de estudo que se
propõe a realizar análises históricas e\ou revisão de estudos ou processos [...]” e, num
segundo momento, as pesquisas experimentais, quase-experimentais ou de laboratório, as
quais se “caracterizam pela realização de “experimentos” que visam verificar a validade de
determinadas hipóteses em relação a um fenômeno ou problema”.
O experimento
O presente trabalho desenvolveu-se como um estudo de caso cujos sujeitos foram
alunos do curso de licenciatura em Matemática em sala com recursos de informática do
campus de Canoas da Universidade Luterana do Brasil. O experimento foi realizado no
ambiente virtual do software de matemática dinâmica GeoGebra, que combina GEOmetria
dinâmica com álGEBRA, com foco na construção do conceito de limite de função. Cada um
dos dez participantes dispôs de um computador com o software instalado.
Iniciamos o experimento com a idéia intuitiva de limite de função em um ponto.
Representou-se no ambiente computacional o gráfico de uma função contínua f, introduzido
no software pela expressão algébrica. Escolheu-se um ponto a e seu limite L associado e,
lançando mão de conceitos geométricos, marcou-se um ponto x sobre o eixo das abscissas,
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sua imagem f(x) e o ponto (x, f(x)) com suas âncoras. Com os recursos de movimentação de
ponto do software visualizamos o comportamento da imagem f(x) ao x se aproximar do ponto
a escolhido.
A partir da idéia de proximidade induziu-se a idéia de vizinhança. Explorou-se as
idéias de vizinhança, vizinhança simétrica e vizinhança perfurada usando representações de
ponto sobre segmento no ambiente virtual.
Figura 1 – Exemplo de f(x)
Figura 2 – Exemplo de g(x)
Dando continuidade a exploração, retomou-se a função f para observar a relação
entre vizinhança e limite de função em um ponto, conforme exemplo da figura 1. A seguir, se
introduziu uma função g com descontinuidade de salto em um ponto como na figura 2 e,
novamente, marca-se um ponto x sobre o eixo das abscissas, sua imagem g(x) e o ponto (x,
g(x)) com suas âncoras. Com os recursos de movimentação de ponto do software visualizouse o comportamento da imagem g(x) ao x se aproximar do ponto de descontinuidade.
A partir dessa etapa foi proposta ao grupo a seguinte investigação: “Como
diferenciar as situações das funções f e g nos respectivos pontos escolhidos utilizando
vizinhança?”.
Síntese e Análise dos dados
Os três pesquisadores registraram suas observações durante o experimento e se
reuniram posteriormente para elaboração da síntese e análise dos dados.
Todos os sujeitos declararam que f(x) se aproxima de L ao x tender ao ponto a,
verbalizando “os x vizinhos de a tem imagem f(x) vizinhas ao L” e “quanto mais próximo de a
estiver x, mais próximo de L estará f(x)”. Também todos perceberam que a situação da função
g no ponto de descontinuidade é diferente da situação que ocorreu com f no ponto a, pois
falaram “... pelo movimento do ponto x, g(x) se aproxima de dois pontos diferentes...” e
“primeiro g(x) se aproxima de um, depois de outro ponto” e, ainda, exibindo o movimento do
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ponto x “se vem por aqui (direita), g(x) se aproxima de 3 e se vem por aqui (esquerda) g(x) se
aproxima de 1, não vai para um ponto só”.
Durante o desafio proposto se observou maior troca de idéias entre os participantes.
Todos concluíram que no caso da função f, como no exemplo da figura 1, uma vizinhança do
ponto a tem como imagem uma vizinhança do ponto L, e, no caso da g, uma vizinhança do
ponto de descontinuidade possui uma imagem “furada”. Nenhum deles pensou em tomar
primeiro uma vizinhança do contradomínio e verificar a existência de vizinhança no domínio
de tal forma que x desta vizinhança possua imagem na primeira.
Considerações Finais
O uso de tecnologias computacionais foi um facilitador no entendimento de limite
pelos alunos, visto que todos eles conseguiram diferenciar, mesmo sem nomear, as duas
situações propostas, a saber, continuidade e descontinuidade de função em um ponto por
vizinhanças. Conforme as considerações de Vinner (1989) a visualização geométrica do
gráfico das funções e a dinâmica do software favoreceram a intuição que acreditamos
necessária a compreensão desse conceito como também faz referência Fischbein (1987) uma
vez que no diálogo dos alunos a intuição foi a ferramenta essencial para produzir a certeza
sobre as representações e interpretações dos fatos matemáticos aparentemente evidentes.
A experiência nos levou a pensar que a formalização do conceito de limite deva ser
induzida, pois nenhum dos alunos considerou a idéia formal. É possível que com a
experiência de idéia prévia, exista conflito com novos elementos. No caso, a idéia prévia é
considerar a imagem a partir de valores do domínio, e o novo elemento é considerar valores
do domínio a partir de valores da imagem.
Pretendemos dar seqüência a este projeto de pesquisa elaborando e aplicando outros
instrumentos de investigação na tentativa de comprovar a hipótese de que o uso de
tecnologias computacionais pode representar um diferencial no ensino e na aprendizagem do
Cálculo Diferencial, Integral e Análise Matemática na formação inicial do professor.
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