O princípio da Integralidade
Seminário Internacional
20 anos do SUS
Secretaria de Estado da Saúde de São
Paulo
São Paulo - Outubro 2008
Emiko Yoshikawa Egry - Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo www.ee.usp.br
[email protected]
1. Introdução
2. Integralidade e a Enfermagem
2.1. Ponderações teórico-conceituais
2.2. Ponderações metodológicas
2.3. Ponderações teórico-práticas
3. Perspectivas nos processos de trabalho para
alavancar a Integralidade
4. Conclusões
5. Bibliografia
Introdução
Integralidade
Senso comum: “objetiva-se que essa diretriz oriente, no
âmbito dos serviços públicos e da ação dos seus
profissionais, uma atenção à saúde de boa
qualidade, que considere as múltiplas dimensões e
dê conta das várias complexidades dos problemas
de saúde (…) bem como os riscos da vida moderna.”
Tesser e Luz 2008
Integralidade…
Princípio normativo
Chamamento ético
Slogan político
…
Problemas concretos como a (des) integralidade
demandam propostas urgentes ao tema.
Há propostas…
Entre muitas, algumas destacadas:
Estudos e trabalhos institucionais de gestão do SUS para viabilizar o
acesso a diversos serviços de tipos e complexidade variada, de
modo a melhorar a integralidade da atenção à saúde. Tesser e
Luz, 2008.
Ampliação na quantidade de serviços de saúde, como também na
qualidade destes. Mendes, 2000. Pinheiro e Mattos, 2003.
Avaliação da integralidade na programação de metas dos sistemas
municipais de saúde. Conil, 2004.
Identificação dos aspectos da integralidade contidos nas propostas
de avaliação da assistência à saúde suplementar. Silva Júnior et all,
2008
Abordagens conceituais, teóricas, epistemológicas, estratégicas e
operacionais da Integralidade. Pinheiro e Mattos, 2003. Luz, 2005.
Tesser e Luz, 2008.
2. Integralidade e a Enfermagem
2.1. Ponderações teórico-conceituais
Integralidade um conceito operacional vinculado ao saberser das competências profissionais.
Integralidade pressupõe uma perspectiva totalizante do
Objeto de atenção
Integralidade, como a totalidade, é sempre um processo de
totalização e não quer dizer ver o todo de uma vez, mas
saber das partes integrantes dialeticamente do todo.
Integralidade está afinada à interpretação dialética da saúde
-doença, ou seja, o entendimento do processo saúdedoença socialmente determinado
2.2. Ponderações metodológicas
Parte do marco teórico-conceitual da saúde coletiva,
ou seja, um campo de teorias e práticas embasadas
na visão Materialista, História e Dialética de mundo.
Teoria da Intervenção Práxica da Enfermagem em
Saúde Coletiva - TIPESC
Bases filosóficas: historicidade e dinamicidade
Bases teóricas
Bases metodológicas
Bases teóricas da Tipesc: categorias
conceituais
 São conjuntos totalizantes de noções e idéias
historicamente construídas que demarcam em seus
espaços as partes interligadas do fenômeno considerado.
 Deve ser compreendida na perspectiva de mediação para
a compreensão do fenômeno e pode ser considerada
também enquanto um conhecimento mais próximo do
particular do que do estrutural.
 Cada categoria conceitual sofre processo de redefinição
contínua, significando que além de afirmar os elementos
de sua constituição interna, abrem pólos para novas
totalizações.
Conceitos principais: sociedade, homem, processo
saúde-doença,
saúde
coletiva,
assistência,
enfermagem e educação.
Bases teóricas da Tipesc: categorias
dimensionais
Conjunto de noções que lidam com o processo de
desenvolvimento da teoria no seu prisma operacional.
 Por serem dimensionais, não têm bordas rígidas, atravessandose uma às outras, tal como a cor, o estilo, a espessura, o
formato, etc.
 Três
categorias
dimensionais:
Totalidade,
Práxis
Interdependência do estrutural, do particular e do singular.
e
 Dá relevância na trajetória processual e práxica da intervenção
às perspectivas da Situacionalidade, do Horizonte e da
participação.
Categoria dimensional: Totalidade
Categoria chave para a Integralidade
 Compreensão da relação de todo com a parte
 Relatividade
histórica
de
toda
totalidade:
mutável,
desintegrável e limitado a um período concreto e
determinado.
 Cada realidade e cada esfera dela são totalidades de
determinações, de contradições atuais ou superadas.
 Compreensão dialética da totalidade: exige a relação entre
as partes e o todo e as partes entre si; a totalidade não
quer dizer todos os fatos nem as partes.
Categoria Dimensional: práxis
A praxis se refere à unidade dialética teoria-prática. A
práxis, no sentido marxiano, é a “atividade concreta
pela qual os sujeitos se afirmam no mundo,
modificando a realidade objetiva e, para poderem
alterá-la, transformando-se a si mesmos. É a ação
que, para se aprofundar de maneira mais
conseqüente, precisa de reflexão, do autoquestionamento, da teoria; e é a teoria que remete à
ação, que enfrenta o desafio de verificar seus acertos
e desacertos, cotejando-os com a prática”.
Konder, 1992.
Categoria dimensional: inter-relação entre o
Estrutural, o Particular e o Singular
ESTRUTURAL
PARTICULAR
SINGULAR
Coletividade
Grupos
sociais
Família
Indivíduo
TIPESC: Etapas processuais
CAPTAÇÃO da realidade objetiva
INTERPRETAÇÃO da realidade objetiva
Construção do PROJETO de INTERVENÇÃO na
realidade objetiva
INTERVENÇÃO na realidade objetiva
REINTERPRETAÇÃO da realidade objetiva
Processualidade
Espiral dialética
A realidade
se
transforma
Realidade
Q2
Realidade
Q1
Realidade
Q0
A realidade objetiva se
transforma com intervenção
consciente e planejada:
Captação
Interpretação
Projeto de intervenção
Intervenção
Reinterpretação
2.3. Ponderações teórico-práticas
 Formação e qualificação da força de
trabalho
 Educação permanente
 Revisão (contínua) dos processos de
trabalho e de produção em saúde
 Avaliação de competências profissionais
3. Perspectivas nos processos de trabalho
para alavancar a Integralidade: os avanços
da enfermagem em saúde coletiva
Algumas possibilidades:
 Aplicação da Tipesc na atenção básica: nas
intervenções para a re-organização dos processo de
trabalho multiprofissional e da enfermagem; nas
intervenções assistenciais da enfermagem.
 Avaliação das competências profissionais críticoemancipatórias para educação permanente e
formação.
 Uso da Sistematização da Assistência de
Enfermagem em Saúde Coletiva na atenção básica:
Classificação Internacional das Práticas de
Enfermagem em Saúde Coletiva
Competências crítico-emancipatórias
A proposta metodológica de avaliação crítico-emancipatória
busca novas referências para identificar, promover e gerir
os
saberes
que
devem
ser
mobilizados,
pelos
trabalhadores, para enfrentarem, com iniciativa e
responsabilidade, as situações e acontecimentos próprios
do campo profissional específico, possibilitando–lhes
inclusive o auto-desenvolvimento.
A proposta de avaliação de competências do Profae é parte
de um processo pedagógico e, portanto, orientada por
uma lógica educativa. Nela, a avaliação das
competências profissionais tem função formativa cujo
princípio essencial é o de auxiliar o aprender. O desafio
colocado hoje é organizar processos avaliativos
potencialmente capazes de mobilizar sujeitos e instituições
para uma prática transformadora da realidade, ao mesmo
tempo, autocrítica e emancipadora dos sujeitos.
Egry, Marques e Fonseca 2006.
A experiência do Profae na Validação de uma
Metodologia de Avaliação de Competências
Profissionais- VMAC
Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação do
Ministério da Saúde
Construção do perfil de competências profissionais do auxiliar
de enfermagem.
Construção de uma metodologia de avaliação
a) 4 Provas: Prova A - ênfase no saber-saber; Prova B - ênfase
no saber-fazer; Prova C - ênfase no saber-fazer
(habilidades); Prova D - ênfase no saber-ser
b) Capacitação de avaliadores-enfermeiros
c) Cinco cenários nacionais das provas: Brasília, Rio Branco,
Natal, Belo Horizonte e Curitiba.
d) Atores envolvidos: Escolas Técnicas do SUS, gestores,
universidades, enfermeiras, auxiliares de enfermagem e
pesquisadores.
Seminário “Avaliação de competências & Certificação Profissional: limites e
possibilidades no âmbito da saúde. Brasília, outubro de 2008.
VMAC – Validação da metodologia de avaliação de
competências
Provas B
Prova A
eC
Ênfase no
Saber-fazer
Ênfase no
Saber-saber
Prova D
Ênfase no Saber-ser
Sistematização da Assistência de Enfermagem
em Saúde Coletiva - SAESC com CIPESC®
CIPESC® : Classificação Internacional das Práticas de enfermagem
em Saúde Coletiva - uma iniciativa da Associação Brasileira de
Enfermagem
Base é a CIPE – ICN – International Council of Nurses - OMS
Proposta de base sistematizada e informatizada de diagnóstico e
intervenção da enfermagem em saúde coletiva, considerando
as necessidades de saúde do indivíduo, da família e grupos da
população. Implantada no Município de Curitiba desde 2004.
Possibilita o reconhecimento dos diagnósticos de fortalecimento e
de desgaste dos grupos sociais e não apenas de indivíduos.
Possibilita o reconhecimento e o enfrentamento das necessidades
e vulnerabilidades em saúde da população, consideradas em
sua integralidade.
3. Conclusões
Caminhamos rumo à Integralidade (em vários
sentidos) mas ainda há muito por caminhar:
 Integralizando os atores dos processos como
sujeitos históricos;
 Integralizando conhecimentos e valorizando
os processos e produtos integralizados e não
fracionados;
 Aprofundar os estudos acerca da face
individual e coletiva do cuidado de
enfermagem
na
perspectiva
da
Integralidade (totalizações)
Bibliografia
Cubas MR, Egry EY. Classificação Internacional de Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva - CIPESC. Revista da Escola de
Enfermagem da USP, v. 42, p. 181-186, 2008.
Egry EY, CubasMR (Org.) . O Trabalho da Enfermagem em Saúde Coletiva no Cenário CIPESC - Guia para pesquisadores.
Curitiba: Associação Brasileira de Enfermagem - Seção Paraná, 2006. 181 p.
Egry EY, Marques CMS, Fonseca RMGS. A avaliação de competências na perspectiva crítico-emancipatória. Ciência, Cuidado e
Saúde, v. 5, p. 238-244, 2006.
Egry EY. Compreendendo a dialética na aproximação com o fenômeno saúde-doença. . In: Egry EY, Cubas MR. (organizadoras) O
Trabalho da enfermagem em saúde coletiva no cenário Cipesc: guia para pesquisadores. Curitiba, ABEn-PR/EEUSP, 2006.
p.63-84.
Egry EY. Saúde coletiva: construindo um novo método em enfermagem. São Paulo: Ícone; 1996.
Fonseca RMGS da, Egry EY, Bertolozzi MR. O materialismo histórico e dialético como Teoria da cognição e método para a
compreensão do Processo Saúde-Doença. In: Egry EY, Cubas MR. (organizadoras) O Trabalho da enfermagem em saúde
coletiva no cenário Cipesc: guia para pesquisadores. Curitiba, ABEn-PR/EEUSP, 2006. p.19-61.
Konder, L. O futuro da filosofia da práxis: o pensamento de Marx no século XXI. São Paulo: Paz e Terra; 1992.
Kosik K. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1963.
Machado MFAS, Monteiro EMLM, Queiroz DT, Vieira NFC, Barroso MGT. Integralidade, formação de saúde, educação em saúde
e as propostas do SUS – uma revisão conceitual. Ciência & Saúde coletiva 12(2)335-342, 2007.
Malta DC, Cecilio LCO, Mehry EE, Franco TB, Jorge AO, Costa MA. Perspectivas da regulação na saúde suplementar diante dos
modelos assistenciais. Ciência & Saúde coletiva 9(2):433-444, 2004.
Reis CB, Andrade SMO. Representações sociais das enfermeiras sobre a integralidade na assistência à saúde da mulher na rede
básica. Ciência & Saúde coletiva 13(1):61-70, 2008.
Silva Jr, Alves MGM, Mascarenhas MTM, Slva VM, Carvalho LC. Experiência de avaliação do setor suplementar de saúde:
contribuições da integralidade. Ciência & Saúde coletiva 13(5):1489-1500, 2008.
Tesser CD, Luz MT. Racionalidades medicas e integralidade. Ciência & Saúde coletiva 13(1):195-206, 2008.
MUITO OBRIGADA
Emiko Yoshikawa Egry
Professora Titular do Departamento de Enfermagem em Saúde
Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo
Consultora do Ministério da Saúde do projeto Validação de uma
Metodologia de Avaliação de Competências Profissionais do nível
médio em enfermagem – VMAC – 2000 a 2008
Membro do Comitê Permanente para o estudo dos sistemas
classificatórios - CIPESC da Associação Brasileira de Enfermagem
[email protected]
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Emiko Yoshikawa Egry