Marcadores moleculares no estudo de populações de Ciconiiformes
Lopes. I. F, Tomasulo-Seccomandi A, Santos M. H. e Del Lama S. N.
Depto. Genética e Evolução, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, S.Paulo
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Os geneticistas de populações tem contribuído significativamente para a genética de conservação
pesquisando a variação dos genes presentes nas populações, no espaço e no tempo. Marcadores
moleculares são utilizados na detecção da variação na sequência do DNA nuclear ou
mitocondrial. O uso simultâneo desses marcadores permite a determinação da estrutura
populacional de uma espécie (padrão) e a compreensão do histórico populacional que deu origem
à estrutura atual (processo).
Espécies piscívoras pertencem a um dos grupos de aves mais vulneráveis à extinção. Quando
apresentam distribuições geográficas amplas, essas espécies podem apresentar populações mais
ou menos vulneráveis ao longo de sua área de distribuição, podendo estar classificadas como
ameaçadas em algumas regiões, enquanto que, em outras não. Mycteria americana e Jabiru
mycteria estão ameaçadas na América do Norte e Central porém suas populações do Pantanal são
estáveis.
A proposição do estudo foi determinar a estrutura genética das populações do Pantanal de
Mycteria americana (M), Jabiru mycteria (J) e Platalea ajaja (P). Populações dessas espécies
sofreram gargalo populacional em outras regiões do continente e são sensíveis aos distúrbios
ambientais, se constituindo em excelentes bioindicadoras das comunidades dependentes de áreas
úmidas. A presença da variação genética e sua distribuição nas populações foram avaliadas pelas
sequências da região controladora do DNAmit ( M=390, J=549 e P=476 pb) e pelos
microssatélites do DNA nuclear (M=16, J=10 e P=2 locos). Os dados gerados foram analisados
pelo método estatístico (Fst e AMOVA) e pelo filogeográfico (TCS, NCA).
Os resultados nos locos de microssatélites indicaram baixa diferenciação genética entre as
populações das colônias reprodutivas de M ( 10 locos, Fst =0,001, 11 colônias, 165 indivíduos) e
entre os ninhos de J (sete locos, Fst=0,102 , 31 ninhos). Os níveis de diversidade foram
semelhantes para M (H=0,30) e J (H=0,40).
Na análise do DNAmit foram detectados em M (19 haplótipos/ 62 indivíduos/8 colônias), em J (
14 haplótipos/24indivíduos/24ninhos) e em P ( 5 haplótipos/13 indivíduos/4 colônias). Ausência
de diferenciação genética foi encontrada entre as colônias de M (AMOVA =0,008, P>0,05) e
entre as três regiões dos ninhos de J (AMOVA = -0,06, P>0,05 ).
Marcadores nucleares e mitocondriais indicam não estruturação genética. Essas populações,
portanto, podem ser consideradas unidades demográfica de manejo para a conservação.
Evidências de expansão populacional das populações do Pantanal nas três espécies foram
encontradas: o padrão “estrela” da rede dos haplótipos ( M e P), a ocorrência de uma grande
proporção de mutações de baixa frequência (diversidade haplotípica altas: M = 0,624, J = 0,920,
P = 0,423, em comparação com a diversidade nucleotídica : M =0,075, J =0,005, P = 0,001) e a
distribuição unimodal das diferenças entre pares de sequências nas três espécies. Além disso, os
valores do teste estatístico Fs para análise da neutralidade das mutações de Fu foram
significativos e negativos (M Fs = -14.544, P = 0.00, J Fs = -7,71, P =0,00). Os padrões
observados podem ser explicados também pelo fluxo gênico alto entre os integrantes das
populações das colônias ou entre os grupos dos ninhos. A direção do fluxo gênico foi
determinada na espécie M. americana como sendo do Pantanal sul para o norte. Esse achado
aponta que as colônias na região sul são antigas e detentoras de maior diversidade, logo a
preservação dessa área deve ser priorizada.
A análise de M. americana foi expandida para a região norte americana e o padrão de não
diferenciação genética foi detectado entre as populações do Pantanal e EUA. Esses achados
podem subsidiar um plano de reintrodução de indivíduos da população pantaneira em áreas onde
a espécie está ameaçada de extinção. Um padrão semelhante poderá ser observado nas
populações de J. mycteria e sua reintrodução na América Central poderá ser proposta.
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