A grana que jogamos fora. “Faça a sua parte, que juntos faremos o resto”’Lenine, cantor. Como costumamos dizer: o que colocamos no "lixo" deixou de ser chamado como tal em boa parte do mundo, há muito tempo, sendo substituído pela expressão resíduos. A maioria dos resíduos é “grana preta” por aquilo que vale, pelo que deixa de ser gasto em coleta, aterros e no sistema público de saúde. Poucas vezes conseguimos quantificar de forma adequada e transparente a receita potencial do que descartamos. Recentemente, a SEMULSP – Secretaria Municipal de Limpeza Pública de Manaus – realizou estudo abordando o tema. Excelente, por sinal. Metodologia observando normas da ABNT, amostras coletadas de 12 roteiros distintos, homogeneização das amostras, treinamento da equipe e ponderação das médias com as características demográficas de cada região da cidade. Cuidados importantes que dão credibilidade aos números. Em 2013, a massa média coletada na cidade de Manaus foi de 1.659/toneladas/dia, apenas de na coleta domiciliar, traduzindo-­‐se em 0,83kg hab./dia, em linha com a média nacional, entre 0,9 e 1,2kg hab. Dia. Apenas para comparação, a cidade de São Pulo gera entre 11.000 e 13.000 toneladas/dia de resíduos. Os resíduos foram divididos em 12 subconjuntos: (i) Matéria orgânica, (ii) Papel e Papelão, (iii) Polietileno de Baixa Densidade (PEBD), (iv) Polietileno de Alta Densidade (PEAD), (v) Polietileno de Tereftalato (PET), (vi)Polipropileno (PP), (vii) Embalagens Longa Vida, (viii) Isopor, (ix) Madeira, (x) Metais, (xi) Vidro e (xii)Rejeito. A composição final dos Resíduos Sólidos Domiciliares resultou na seguinte tabela: Tabela 1: Composição Gravimétrica dos Resíduos Sólidos Domiciliares -­‐ Manaus, 2013. Componente Média % Matéria Orgânica 26,25 Recicláveis 53,50 Madeira 6,91 Rejeitos 13,34 Recicláveis Longa Vida Papel e Papelão PET PEAD PEBD PP Metais Isopor Vidro TOTAL 1,40 23,55 5,89 3,98 2,11 3,33 7,40 1,24 4,60 100 Na comparação com as medições anteriores (2001) houve retração expressiva na participação da matéria orgânica, saindo de 58% para 26% na composição total. Os programas governamentais para substituição de geladeiras, substituição de produtos frescos por industrializados -­‐ devido ao incremento de renda ou alteração de padrões de consumo -­‐ e diminuição nas porções dos alimentos industrializados são algumas das causas que conjuntamente alteraram este padrão, tanto em Manaus, como em outras regiões do Brasil. Na Capital Amazônica, a fração da matéria orgânica é bem menor que a média nacional. Também diminuiu a fração de plásticos, 15%. Papel e Papelão os quais têm apresentado aumentos consistentes, sinalizando uma tendência. Vidros e metais praticamente dobraram. Madeira quase triplicou. Sempre comparando com a média das últimas medições – 1992, 2001 e 2006. Tabela 2: Estimativa do Potencial Econômico dos materiais recicláveis em Manaus. Componentes Recicláveis % R$ médio Kg R$/Tonelada Receita por dia (R$) Papel e Papelão PET Plástico Duro Plástico Mole PP Metais TOTAL 23,55 (1) 5,89 3,98 2,11 3,33 7,40 46,3 0,23(²) 0,83 0,57 0,50 0,40 0,96 -­‐ 230,00 830,00 570,00 500,00 400,00 960,00 477,07 90.510,68 81.759,65 37.884,05 17.659,92 22.253,62 118.807,46 368.875,37 1
Quantidade estimada calculada descontando o porcentual médio de 25% de umidade presente no Papel e Papelão; ² Preços no mercado Manaura, base MAR/2014. Para resumir, cada tonelada de resíduo domiciliar teria um potencial de geração de R$ 477,07/dia, considerando apenas os recicláveis. Esta equação não contempla: a possibilidade de cogeração de energia através da madeira; geração de gás através da matéria orgânica e a economia pela redução da utilização dos aterros, tanto na sua operação, como maior longevidade. Qual o desafio que este estudo impõe? Caso a sociedade queira se apropriar destas receitas e economias, deverá urgentemente adotar a coleta seletiva, separando em suas próprias casas cada tipo de resíduo. Apesar de a PNRS estimular a inclusão social dos catadores de resíduos, devemos prover as condições mínimas para que este processo seja realizado de forma digna, segura e salubre. Se o Resíduo for corretamente segregado na origem – após o término de um ciclo de vida – retornará facilmente ao mundo econômico como matéria prima de outro ciclooduto. Caso contrário, será considerado rejeito -­‐ materiais sem condições de reaproveitamento -­‐, seja por estar misturado ou por ter sofrido ação de outros resíduos, tornando inviável seu reaproveitamento. Cristiano Faé Vallejo, Administrador Público, Professor do Inbrasc – Instituto Brasileiro de Supply Chain – e da Universidade Corporativa Fenabrave. Secretário Executivo do INRE – Instituto Nacional de Resíduos. Colaborou com este post Jaqueline Gomes de Araújo, Administradora, Mestra em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia (UFAM), Professora na Universidade Nilton Lins. A equipe responsável pelo trabalho é formada por: Alcemir Ramos de Oliveira Filho; Marcos Sampaio Sepulveda; Elisa Teresinha Muller; Paulo Ricardo Rocha Farias e Neilton Marques da Silva. 
Download

A grana que jogamos fora. - International Supply Chain Solutions