PRÁTICAS DE UMA PROFESSORA, SONHO DE UM IDEAL: A CONTRIBUIÇÃO
DE JÚLIA MEDEIROS NA EDUCAÇÃO NORTE-RIO-GRANDENSE
Manoel Pereira da Rocha Neto
Maria Arisnete Câmara de Morais
UFRN
O Presente trabalho é vinculado à Base de Pesquisa Gênero e Práticas Culturais:
abordagens históricas, educativas e literárias, e tem como objetivo analisar as práticas
pedagógicas da professora Júlia Medeiros empreendidas no Grupo Escolar Senador Guerra,
em Caicó, no Rio Grande do Norte. Investigo também a sua participação na imprensa daquela
cidade, por meio do Jornal das Moças (1926-1932), e a sua contribuição na luta pelos direitos
das mulheres nas décadas de 1920 e 1930.
Utilizo como referencial teórico-metodológico os conceitos da História Cultural, que
tem o seu olhar para a história periférica, para as práticas culturais, ao contrário da história dos
grandes objetos, tais como as revoluções, as lutas de classe, os grandes personagens e os
grandes heróis.
A História Cultural tem sua atenção voltada para as práticas culturais e
experiências sociais trazendo, por exemplo, alunos, professores, famílias e
costumes. As manifestações humanas, como pequenos gestos, sentimentos,
festas, o corpo, a loucura, a marginalidade, assim como a morte, a criança, a
mulher, desde que consideradas sob a ótica da História Cultural estão no
mesmo nível de importância que os objetos estudados pala História
tradicional, como o Estado, a luta de classes, as grandes revoluções, os
modos de produção, entre outros. Portanto, a distinção feita tradicionalmente
entre o que é central e o que periférico perde sentido. Desta forma, os
diversos níveis da atividade humana podem ser analisados sem que se tenha
necessariamente a recorrer a outros níveis supostamente mais centrais
(PINHEIRO, 1997, p. 32).
Essa concepção de História é aplicada às atividades humanas consideradas
descentralizadas, como as práticas culturais de alunos, das famílias, dos costumes, professores
entre outros. A História Cultural narra a história das minorias, entre as quais, a história das
mulheres.
Esse novo olhar epistemológico ampliou os campos de pesquisa da história com a
inclusão dos “excluídos”, dos “pequenos”, do “ordinário”, como advoga Certeau (2002), por
meio, por exemplo, da construção da história dos gestos, do trabalho, dos costumes, do corpo,
de perfis de mulheres, enfim, da vida cotidiana.
Busco entender as práticas complexas, múltiplas, diferenciadas que constroem o
mundo como representação. Como era a representação de mulher e de educadora nas décadas
de 1920 e 1930? O conceito de representação, a partir do pensamento de Chartier (1990)
compreende as exclusões e classificações que formam as configurações sociais e conceptuais
próprias de uma época, ou de um espaço. Elas são originadas pelas práticas políticas,
discursivas e sociais. Práticas estas que busco, por meio de diversas fontes, em diversos
lugares. Nessa perspectiva, desejo elucidar, em parte, a sociedade e o perfil de Júlia Medeiros,
os movimentos das mulheres naquela sociedade. Os seus escritos revelam o que pensava essa
pedagoga sobre a mulher, sobre a educação, sobre o casamento, sobre o seu espaço e seu
cotidiano escolar.
Segundo Nóvoa (1995, p.19) o estudo historiográfico da educação deve abrir espaço
também para a compreensão de práticas e histórias de vida de professores. Segundo ele, esses
estudos podem “produzir um outro tipo de conhecimento, mais próximo das realidades
educativas e do cotidiano dos professores”. De acordo com ele, a história da educação nas
últimas décadas vem questionando a abordagem tradicional, uma vez que ela não privilegia as
experiências dos atores educativos, suas vidas e projetos pessoais.
Baseado na reflexão de Nóvoa (1995), percebi que era possível, por meio das práticas e
histórias de vida de Júlia Medeiros, reconstituir parte da educação primária no município de
Caicó, do cotidiano escolar da instituição na qual lecionava, como também a sua contribuição
na imprensa e na construção da sociedade letrada norte-rio-grandense.
Para a realização desta pesquisa utilizo, como uma das fontes, os jornais da época ora
investigada. Entre esses periódicos destaco os exemplares disponíveis do Jornal das Moças
(1926-1932), folha em que Júlia Medeiros desempenhava a função de redatora. Dessa forma
configuro, em parte, a sociedade e o perfil de Júlia Medeiros e os movimentos das mulheres
nesse espaço.
Os jornais, de maneira geral, contam diariamente a história, o movimento da sociedade
e dos cidadãos comuns, esquecidos com o passar dos anos. Eles remetem a um passado e
narram a história localizada, periférica, desprovida de “grandes vultos”, comum à
Historiografia tradicional. Esses jornais trazem, em suas páginas, marcas e resquícios de uma
época:
É fascinante ler a história através dos jornais. Em cada página nos deparamos
com aspectos significativos das vidas de nossos antepassados, que permitem
recuperar suas lutas, idéias, compromissos e interesses. Manancial dos mais
férteis para o conhecimento do passado, a imprensa possibilita ao historiador
acompanhar o percurso dos homens através dos tempos (CAPELLATO, 1994,
p.13).
Desse modo a imprensa também desempenha a função de reconstituir a história de um
dado lugar e de um dado período. De acordo com Michel de Certeau (2002, p.109) “as práticas
cotidianas estão na dependência de um grande conjunto, difícil de delimitar e que, a título
provisório, pode ser designado como o dos procedimentos”. Ou seja, as práticas diárias como,
por exemplo, trabalhar, ir às compras, participar dos eventos sociais ou religiosos, ir à escola,
entre outras inúmeras práticas cotidianas, em diversas sociedade e épocas. Elas correspondem
aos procedimentos dos indivíduos no seu espaço e no seu tempo, as suas operações na
sociedade. São as articulações dos indivíduos que Certeau (2003) advoga como “maneiras de
fazer”.
A investigação das “maneiras de fazer” não centra sua análise no atomismo social dos
indivíduos, mas na relação entre esses indivíduos. As práticas cotidianas têm como
pressuposto a investigação dos seus modos de operação social ou seus esquemas de ação.
Neste sentido, “concebe-se que a dimensão da análise histórica em diferentes espaços e
momentos a partir de crenças, representações e práticas cotidianas, tidas como aparentemente
banais, são tão importantes quanto os grandes objetos” ( PESAVENTO, 2003, p.1).
O recorte histórico do presente trabalho, as décadas de 1920 e 1930, é um período
marcado por um conjunto de acontecimentos que refletiam as mudanças pelas quais passava o
país. Tais mudanças se caracterizavam pelas lutas operárias, cujo caráter reivindicatório
contemplava melhores condições de vida – incluía aí a regulamentação do trabalho das
mulheres; o movimento modernista no qual se destaca a Semana de Arte Moderna, em 1922,
entre outros, que configuram o perfil de modernidade que vivia o Brasil.
Nesta época algumas mulheres se constituíram mulheres notáveis, numa sociedade
patriarcal, na qual a educação era privilégio dos homens. Elas venceram barreiras e tiveram
acesso á educação, indo na contra da mão da história, principalmente no meio rural, distante
dos centros urbanos. Nesse contexto, destaca-se a professora Júlia Medeiros, nascida no sertão
norte-rio-grandese em 28 de agosto de 1896. Desde menina, Júlia Medeiros teve acesso às
primeiras letras, devido à visão pedagógica do seu pai, o fazendeiro Antônio Cesino de
Medeiros, que não fazia distinção de sexo. De acordo com Félix (1997), essa linha de
pensamento era uma exceção naquela região. Essa autora observa que, mesmo exercendo a
função de educador, o professor Juvenal Chagas Teixeira Campo Verde não escolarizou as
próprias filhas, ao passo que os filhos do sexo masculino receberam a educação escolar
oferecida na época.
No entanto, Júlia Medeiros seguiu caminho inverso da maioria das meninas do sertão.
Foi alfabetizada em sua própria residência, numa das salas da Fazenda Umari, sob a orientação
de Misael Barros, o seu mestre-escola.
O mestre-escola era privilégio de uma elite rural, excludente, tanto do ponto de vista
econômico, quanto como em relação à condição feminina. O interesse maior das famílias do
sertão era instruir os filhos homens, todavia as meninas tinham permissão de assistir às aulas
com a autorização do pai. Esses educadores entraram pelo sertão adentro instruindo os futuros
políticos, padres ilustres, entre outros:
Mestre-escola e Professore Régio atravessaram a segunda metade do século XVIII
e enfiaram pelo século XIX, entocados nos sertões, prestando serviços relevantes,
desarnando com beliscões, palmatória e vara de marmeleiro os futuros chefes
políticos, padres ilustres, soldados valorosos e fazendeiros onipotentes, saudosos
do tempo da escola, da oração inicial e de pedido de benção ao mestre cujos
direitos morais jamais prescreveram (CASCUDO, 1977, p. 262).
Após ser alfabetizada Júlia Medeiros seguiu para a capital potiguar em busca de
ampliar seus conhecimentos. Segundo Euza Monteiro em seu depoimento, em maio de 2002,
Júlia Medeiros e as suas colegas Maria Leonor Cavalcante e Olívia Pereira foram levadas nas
costas de burro pelo coletor estadual Eulâmpio Monteiro. A viagem até Natal durou cerca de
oito dias.
Na capital norte-rio-grandense freqüentou inicialmente o Colégio Nossa Senhora da
Conceição. Posteriormente decidiu ser professora e com esse objetivo ingressou, em 1921, na
Escola Normal de Natal. Após concluir seus estudos foi diplomada no dia 30 de janeiro de
1926.
De volta a Caicó, com o propósito de fundar um externato para as crianças, faz
publicar no Jornal das Moças (1926-1932), uma nota, por meio da qual, oferecia os seus
serviços como professora particular.
Júlia Medeiros, diplomada pela Escola Normal do Estado, tendo o propósito de
abrir um externato para crianças de ambos os sexos, oferece os seus serviços aos
pais de família da nossa terra (JORNAL DAS MOÇAS, 03/05/1926).
O desejo de fundar um externato não se concretizou. Com o intuito de instruir as
crianças de sua terra, essa professora entra para o quadro pedagógico do Grupo Escolar
Senador Guerra, em 30 de junho de 1926. Assina, junto com a professora Maria Leonor
Cavalcante – colaboradora do Jornal das Moças (1926-1932) – perante o diretor Joaquim
Coutinho, um termo de compromisso de professora suplente da Cadeira Infantil-misto
Suplementar, e começou a lecionar em 1 de julho daquele ano. O programa do Infantil-misto
constava de Canto, Leitura e Escrita, Língua Materna, Aritmética, Geografia, História Pátria,
Moral e Civismo, Desenho Natural, Trabalhos Manuais, Exercícios Físicos.
As práticas da professora Júlia Medeiros se assemelhava à Pedagogia do Amor, às
concepções pedagógicas da Reforma Pinto Abreu (Lei nº 249 de 22 de novembro de 19077 –
operacionalizada por meio do Decreto nº 178, de 29 de abril de 1908), que davam uma nova
orientação pedagógica ao ensino norte-rio-grandense. O princípio básico da Pedagogia do
amor é a bondade expressada numa forma de responder às exigências reais dos jovens.
O método adotado por essa professora era o intuitivo, que não fazia o uso de nenhum
castigo físico. Segundo Cambi (1999), os princípios intuitivos de ensino foram elaborados a
partir das idéias organizadas pelo educador suíço Pestalozzi no século XIX. Nessa concepção
de aprendizagem é o produto da observação, e da experiência entre aluno e o objeto do
conhecimento. Os sentidos, como o olhar, o ouvir, o tocar, eram pressupostos para o raciocínio
e aprendizagem. Eles despertavam o interesse e a curiosidade do aluno a partir das impressões
e das atividades propostas.
Os processo intuitivos de ensino configuram as práticas educativas brasileiras desde o
final do século XIX, perpassando a educação norte-rio-grandense até final da década de 1930.
Na sala de aula da mestra Júlia Medeiros, a palmatória havia sido abolida e suas práticas eram
da conciliação na relação professor-aluno. Segundo entrevista dos seus ex-alunos, como Elza
Filgueira, uma vez por semana Júlia fazia o Argumento, geralmente nas quintas-feiras ou nos
sábados. O argumento era feito de voz alta numa sucessão de vozes.
No ensino infantil era adotado como primeiro livro a carta do ABC e a tabuada. A
carta de ABC começava pelo alfabeto, depois passava pelas sílabas, por último para as frases
curtas e os provérbios, alguns extraídos da bíblia.
Vários são os alunos que recordaram do entusiasmo com que Júlia Medeiros regia, de
apontador na mão, os seus alunos nos dias de marcha. Distribuídos em fila, seus alunos
marchavam na própria sala de aula, contornando as carteiras e entoando cânticos que eram
aprendidos de cor. Cantavam também para iniciar e terminar as aulas. Eis a letra de uma das
músicas cantadas na entrada do Infantil-misto:
Deixemos os brinquedos, vamos estudar.
O mestre é nosso amigo, a escola o nosso lar
Atentos, pois, ouçamos dos mestres
As lições que ilustram nossas mentes e nos tornam bons.
A escola não fadiga quem amor lhe tem
Nos mostra a existência e nos aponta o bem
Colegas, estudemos nesta quadra (sic)
Infantil para sermos no futuro
A glória do Brasil.
(FÉLIX ,1997, P.28)
Escolheu a profissão de professora para participar efetivamente da vida letrada e social
de sua terra. Além de ser remunerada por esse ofício, conquistou, por meio dele, respeito. Seu
prestígio se alargava devido às influências que adquiria em suas constantes viagens a Natal,
Mossoró e Rio de Janeiro; nesses lugares mantinha contatos com lideranças políticas, como a
feminista Bertha Lutz, entre outras.
A missão de professora, na sua concepção, não bastava. Acreditava que era possível
fazer mais. Começou atuar na imprensa e a reivindicar instrução para as mulheres. Colaborou
para a revista Pedagogium, órgão oficial da Associação de Professores do Rio Grande do
Norte, na qual publicou o artigo intitulado A missão da mulher. No referido artigo Júlia
Medeiros questiona o papel da mulher:
A missão da mulher poderá se estender além do lar, cujo programa será sempre a
dedicação, não procurando vencer senão pela virtude, visando que a nossa força e o
nosso prestígio representam a modéstia e as delicadezas inerentes ao próprio sexo
(REVISTA PEDAGOGIUM, Nº 21, OUT/SET DE 1925).
No mesmo ano que entra para lecionar no principal Grupo Escola de Caicó, Júlia
Medeiros passa a fazer parte do corpo redacional do Jornal das Moças (1926-1932), folha
fundada em 7 de fevereiro de 1926 pela professora Georgina Pires e sob a gerência de Dolores
Diniz. Esse jornal tinha técnicas jornalísticas dentro dos padrões dos grandes jornais do Rio
Grande do Norte, e direcionado ao público feminino. A edição de 28 de julho de 1926 registra
a sua chegada ao jornal:
Temos hoje o prazer de contar com mais uma distinta e inteligente companheira, a
nossa brilhante colaboradora professora Júlia Medeiros que entra para o corpo
redacional. Aos nossos bons leitores e às nossas gentis leitoras, levamos os nossos
parabéns pelo belo ornamento que vem realçar o nosso modesto jornalzinho
(JORNAL DAS MOÇAS, 28/07/1926).
Professora querida por uns e “não agradável” para outros, por causa de seu
comportamento avançado, foi chamada de “louca”. Nas primeiras décadas do século XX,
diversas mulheres tentaram fazer uma revolução nos costumes, exigindo a participação no
espaço público, mas muitas foram impedidas, e as que conseguiram foram, assim como Júlia
Medeiros, foram consideradas mulheres loucas. Elas diferenciavam-se das demais, atuavam no
espaço público e reivindicavam seus direitos.
Possuidora de comportamento diferenciado, Júlia Medeiros também chocou ao dirigir
um automóvel. O casamento para ela era uma maneira de ficar presa no espaço privado, o lar.
Em virtude desses dois aspectos renderam-lhe versos cantados pelas crianças nas calçadas da
cidade: “Júlia Medeiros, no seu carro Ford, virou a princesa do caritó” (FÉLIX, 1997, p.32).
Segundo a tradição do sertão, a moça passa por três oportunidades na vida para
conseguir um casamento. Segundo depoimentos de moradores e populares da região, a referida
expressão é caracterizada nas seguintes fases da vida da moça: o “primeiro tiro da macaca”
seria por volta dos dezoito anos de idade. O “segundo tiro da macaca”, por sua vez, era aos 21
anos de idade aproximadamente, e por fim, aos 25 anos, a última esperança.
Caso não conseguisse um casamento estava destinada a ficar solteira, gerando
preocupação na sua família. “ O último tiro da macaca” seria portanto, a última esperança de
se casar, caso contrário, se tornaria moça no “caritó”, expressão popular para designar moça
solteira.
De acordo com Cascudo (1977, p.142-143), na sua obra Locuções Tradicionais do
Brasil, a expressão “Morte da macaca”, nos veio dos Galibis das Guianas e é pouco usado no
Brasil letrado. Ele explica:
Morte da macaca significa desgraçada. Pela terminação feminina, o
português julgou-o feminino, concordante com o gênero de morte [...], seria,
inicialmente, morte de macaca, sucumbir com ela, caçada a tiro de pedra,
flecha e bala. Macaca passou a ser infelicidade [...]. Dar tiro na macaca
significa ficar sem casar, perder as esperanças.
Era a cobrança do comportamento das moças da época, pois toda mulher deveria se
casar, caso contrário, ficaria no “caritó”. Este termo faz referência a um móvel, uma prateleira
bastante usual chamada de “caritó”, que era localizado no canto do quarto ou sala das
residências sertanejas (ROSUT, 1994, p.180).
Dessa maneira, a mulher sem marido, sem o cônjuge, estaria destinada a ficar
esquecida, no canto, tal qual o móvel dos sertanejos. A opção de ficar solteira desafiava as
normas, pois na maioria das vezes restava às solteiras cuidar dos sobrinhos, “ficar pra titia”.
A professora Júlia Medeiros pensava diferente. Sintonizada com a causa das mulheres,
escreve mais uma página na história de Caicó. Foi a primeira mulher de Caicó a se alistar
como eleitora. Juvenal Lamartine, político norte-rio-grandense simpático à causa feminina,
concedeu o direito de sufrágio às mulheres antes de assumir o governo do Rio Grande do
Norte. O estado foi o primeiro do Brasil no qual as mulheres podiam votar e ser votadas,
representadas pelas professoras Celina Guimarães; primeira mulher a se alistar, na cidade de
Mossoró/RN; e Alzira Soriano, primeira mulher a se eleger prefeita de um município no
Brasil, a cidade de Lajes/RN.
Com o desejo de avançar na sua luta pelo direito da mulher, Júlia Medeiros candidatase a uma vaga na Câmara Municipal de Caicó. Em 1950, aos 54 anos de idade, é eleita
vereadora pelo Partido Social Democrático - PSD. Obteve na eleição 214 votos, num universo
de 4.469, correspondendo a 4,78% da votação. Concorreu com 28 candidatos e foi a 6ª
colocada. Reelegeu-se para novo mandato para o período de 1954 a 1958.
Após encerrar o mandato como vereadora, Júlia Medeiros se encontrava perturbada
mentalmente. Segundo seus familiares, ela se trancava em sua casa e permanecia dias sem
comunicação. Segundo O historiador Adauto Guerra, a debilidade de Júlia Medeiros pode
estar associada a sua trajetória de mulher sempre atuante naquela sociedade: “Júlia Medeiros
trabalhava mais do que a força humana”, assinala ele.
A professora Júlia Medeiros foi uma mulher de vanguarda. Ela quebrou regras e tabus
na Caicó de outrora, com seu comportamento avançado e, na maioria das vezes extremado
para os padrões sociais vigentes. Ela chocou a sociedade como forma de questionamento, foi
contra o casamento. Torna-se mulher no “caritó” para ela foi uma opção, enquanto para a
maioria das mulheres do seu tempo seria o fim da sua vida, o tiro de misericórdia. Nesse
contexto, ela não aceitava as convenções sociais. Sua vida sempre foi vinculada ao espírito de
luta, liberdade, conquistas e evolução.
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II – Documentos
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DE 1908.
REGIMENTO DO GRUPO ESCOLAR AUGUSTO SEVERO: LEI Nº 249 DE 22 DE
NOVEMBRO DE 1907. (DECRETO DE Nº 178, DE 29 DE ABRIL DE 1908).
DIRETORIA GERAL DE EDUCAÇÃO. NATAL, 15 DE MAIO DE 1925.
III - Periódicos Pesquisados
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A CONTRIBUIÇÃO DE JÚLIA MEDEIROS NA EDUCAÇÃO NORTE