DEZ ANOS SE PASSARAM
DESDE A TRÁGICA
NOITE QUE MUDARA AS
VIDAS DE AUSTIN,
HUNTER E ALEX.
AGORA, CADA QUAL
DEVE CUMPRIR COM
SUA PARTE NA
VINGANÇA CONTRA O
HOMEM QUE ARRUINOU
TUDO.
Dono de uma determinação ferrenha, Alex Diaz
superou sua origem pobre ao criar um império
da comunicação. Mas ele ainda tem um
objetivo a atingir: vingar a morte de sua amiga
destruindo o responsável por ela. A
apresentadora Chelsea Maxwell tem uma
entrevista marcada com Jason Treffen em seu
talk-show ao vivo. Essa é a chance que Alex
precisava para desmascará-lo publicamente – e
seduzir Chelsea ao mesmo tempo. Entretanto,
por ter subestimado sua atração por ela, Alex
percebe que para aniquilar Treffen também terá
que destruir a vida que Chelsea havia
construído para se proteger…
O terceiro passo para a
vingança.
Alex possui o poder!
Kate Hewitt
QUERO QUE VOCÊ
ME REVELE
Tradução
Angela Monteverde
2014
CAPÍTULO 1
ALEX DIAZ se inclinou para a frente no
assento enquanto a limusine parava no
meio-fio entre a Seventy-Second Street e
a West End Avenue, diante do luxuoso
arranha-céu moderno e envidraçado,
exatamente o lugar onde esperava que
Chelsea Maxwell morasse.
Seus lábios se curvaram em um
sorriso gélido de antecipação enquanto
apertava o botão do interfone para falar
com o motorista:
– Espere alguns minutos, por favor.
– Muito bem, senhor.
Alex relanceou um olhar para o
relógio de pulso e retirou um fiapo
imaginário da manga do smoking. Sete
horas e vinte e cinco minutos. A festa
começaria dentro de cinco minutos, mas
é claro que Chelsea Maxwell se
atrasaria de modo elegante.
Assim como ele, já que pretendia dar
uma carona para ela.
Lá fora as luzes de Manhattam
brilhavam na escuridão e as pessoas se
apressavam pelas calçadas largas da
West End Avenue, as cabeças baixas
para se proteger do vento cortante de
inverno.
Era o início de fevereiro e Nova York
estava mergulhada em um frio
implacável sem o alívio da suavidade
da neve.
Entretanto, o tempo, impiedoso e frio,
combinava perfeitamente com Alex.
Nessa noite começava sua vingança
pessoal contra Jason Treffen, muito
sonhada e há muito merecida. Dizia-se
que a vingança era um prato que se
comia frio, e, se fosse verdade, Jason
iria engolir cada bocado gelado.
E para tanto Alex precisava de
Chelsea Maxwell, ou, pelo menos, de
seu programa de televisão.
Sete e vinte e sete. Será que ela
resolvera não comparecer à festa? Ele
deixou o ar escapar dos pulmões com
impaciência. Hoje seria a festa de
aniversário do chefe de Chelsea,
Michael Agnello, e, se os boatos tinham
fundamento, o homem com quem ela
dormira para ser a anfitriã do principal
talk show diurno da televisão. Chelsea
precisava comparecer.
Sete e vinte e nove. Alex se remexeu
no assento, sufocando um suspiro de
irritação. Onde estava ela?
Então as portas de vidro fosco do
prédio se abriram, e ela saiu para o frio
da noite, o corpo envolto em um paletó
longo e elegante de cashmere marfim.
Os cabelos castanhos estavam presos em
um coque elaborado, e longos brincos
de brilhantes luziam e dançavam em
suas orelhas. Alex a viu relancear um
olhar para a limusine, e depois suas
feições se contraíram, aborrecidas. Ele
adivinhou que Chelsea estava irritada
porque o motorista não saíra para lhe
abrir a porta. Pensara que a limusine era
sua, mas se enganara.
Justamente porque ele telefonara para
a agência e cancelara o pedido dela.
Curvando os lábios em um sorriso de
pura antecipação maldosa, Alex
pressionou o botão para descer a janela.
Inclinou-se para fora recebendo um
sopro de vento invernal que despenteou
seus cabelos, enquanto Chelsea se
encaminhava para a limusine, muito
confiante e radiante.
– Srta. Maxwell?
Ela parou e estreitou os olhos
enquanto Alex se inclinava mais para
que fosse visto.
– Alex Diaz – apresentou-se, embora
Chelsea devesse saber quem era, pois
haviam se visto em alguns eventos, e a
maioria do setor de mídia o conhecia.
De qualquer modo, Chelsea Maxwell
não parecia alguém que se esquecia de
um rosto. – Se não me engano, estamos
indo para o mesmo lugar, certo?
– Depende de que lugar seja esse. – A
voz dela soou baixa e rouca, atraente,
mas ao mesmo tempo fria, enquanto
continuava a estreitar os olhos. Quando
aparecia enrodilhada nos sofás de
veludo cor-de-rosa, marca registrada de
seu talk show, Chelsea Maxwell estava
sempre com os olhos bem abertos e com
uma doçura sexy. Na vida real era mais
dura, sagaz, porém Alex refletia que não
se chegava aonde ela chegara sendo tola
ou molenga.
– A festa de 40 anos de Michael
Agnello? – disse ele, e ela apenas
inclinou a cabeça para um lado,
aguardando.
Em geral Alex não se daria o trabalho
de comparecer a uma festa desse tipo.
Não tinha tempo nem paciência para
maquinações mesquinhas e conversa
mole, contudo sabia que Chelsea
compareceria, e precisava conversar
com ela. Precisava descobrir o que ela
sabia e o que pretendia fazer.
Enfim, usá-la ou usar o seu programa.
Abriu a porta da limusine quando uma
nova lufada de vento gelado fez o paletó
de Chelsea se enroscar em suas pernas
longas e bem torneadas.
– Posso lhe oferecer uma carona?
Ela hesitou e Alex esperou,
adrenalina e impaciência correndo por
suas veias mesmo que continuasse
imóvel. Não considerara a hipótese de
Chelsea negar seu convite. Jamais
pensava em fracasso.
– Obrigada – disse ela finalmente, e
se sentou ao seu lado no carro.
Alex se afastou um pouco, mas a coxa
de Chelsea pressionou a sua e ele sentiu
seu perfume, caro e suave.
Estirou um braço por cima do encosto
quando a limusine deixou o meio-fio, e
Chelsea se voltou para ele com um
sorriso de pessoa entendida.
– Então, não vai me dizer por que
roubou minha limusine?
Ele ficou surpreso e divertido ao
mesmo tempo. Então ela queria flertar
um pouco? Ótimo. Ele podia brincar
também. Arqueou as sobrancelhas e
sorriu de volta.
– Tenho cara de quem faria isso?
Ela lhe lançou um olhar significativo
da cabeça aos pés. O corpo de Alex
reagiu à análise, e ficou excitado.
Refletiu que havia algo de muito erótico
na maneira como Chelsea o olhava.
– Tem, sim – murmurou ela.
Alex balançou a cabeça com
zombaria.
– Como é desconfiada.
– E não somos todos nesse ramo? –
Ela parou com a voz macia e o fitou de
modo severo. – Por que está agindo
como um personagem de filme de capa e
espada? O que quer?
Ele tornou a sorrir e franziu a testa.
– Por que pensa que quero alguma
coisa?
– Não nasci ontem, sr. Diaz.
– Chame-me de Alex.
– Adoraria. – O sorriso era de flerte,
mas o olhar continuava frio. Ela tinha
lindos olhos. Verde-acinzentados com
longos cílios negros. – Então, Alex,
alugo uma limusine para hoje e encontro
você
me
oferecendo
carona.
Coincidência? – O tom era sussurrante e
ela arqueou as sobrancelhas, sempre
sorrindo. – Acho que não.
Alex reparou na boca da mulher, que
era linda também.
Achou graça, embora a sagacidade de
Chelsea Maxwell descobrindo sua
artimanha devesse alarmá-lo ou, pelo
menos, aborrecê-lo. Não seria tão
simples como pensara. Nem um pouco.
Ainda bem que gostava de desafios. E
que pretendia arruinar Jason Treffen
publicamente a qualquer custo. E saber
que poderia fazer isso na televisão ao
vivo era ainda melhor.
Deu de ombros e se recostou no
assento.
– Muito bem. Quero uma coisa, srta.
Maxwell.
Percebeu que ela não pedira para ser
chamada de Chelsea. Apenas esperou
com os olhos estreitados e o sorrisinho
frio.
– Há quanto tempo está na AMI? –
perguntou ele, mencionando o nome do
canal.
Um brilho de surpresa nos olhos dela
foi tão rápido que Alex mal percebeu.
Chelsea Maxwell era boa em esconder
as emoções. Trabalhar em televisão
devia ajudar.
– Dez anos – respondeu ela.
– E tem o Bate-Papo com Chelsea
há...
– Quase quatro. – Ela inclinou a
cabeça mais ainda e arqueou as
sobrancelhas.
– Por que pergunta...?
– Estou interessado em seu programa.
Ela nem piscou.
– Não me parece o tipo que assiste à
tarde celebridades fazendo confidências,
mas todo mundo tem seus vícios
secretos, não?
Ele riu de mansinho, divertindo-se
com a tirada inesperada. Estava
acostumado com lisonjas, e ela o
surpreendia com ironias.
– Seu programa é campeão de
audiência – argumentou Alex.
– Sei disso – retrucou Chelsea,
sempre sorrindo.
– Não estou interessado em seu
programa da tarde – disse Alex após um
segundo. Precisava tomar cuidado e
saber quanto revelar. Até que ponto ser
honesto. Não daria mais informações do
que o necessário... até saber o que
Chelsea faria com elas. – Estou
interessado na entrevista de uma hora
que fará com Jason Treffen no horário
nobre em março.
– Verdade? – Ela cruzou as pernas, o
paletó se abriu, e Alex viu a fenda até a
coxa no vestido cinza, que revelava toda
a pele bronzeada. A excitação o
dominou de novo, e ele tentou se conter.
Não iria complicar a situação com sexo.
A não ser que servisse a um propósito, é
claro.
– Verdade – respondeu.
Ela inclinou a cabeça com um olhar
cuidadoso, fitando-o de cima a baixo
como fizera antes. Alex pensou que
talvez fosse interessante complicar a
situação com sexo. Às vezes sexo era
um meio de se chegar ao fim, e com
Chelsea sem dúvida seria agradável.
Imaginou como ela seria na cama.
Selvagem e solta ou controlada?
Suspeitava que pertencesse ao segundo
tipo, porém gostaria de vê-la perder as
estribeiras e queimar de desejo.
– Está querendo me fazer uma
proposta? – perguntou ela em um claro
tom de duplo sentido, seguido por uma
risada de flerte. Fora por isso que
Michael Agnello não pudera resistir?
Alex compreenderia.
Ele esticou o braço mais um pouco
sobre o assento e roçou o ombro de
Chelsea, sentindo a maciez do cashmere.
– Não, apenas dizendo que sou
curioso.
– Deu-se a um enorme trabalho por
mera curiosidade, sr. Diaz. – Ela
sacudiu a cabeça e os brincos reluziram.
Apesar do amigável flerte Alex sabia
que Chelsea não era nenhuma tola.
E ele também não.
– Esperar em uma limusine não é
muito trabalho – replicou ele, enquanto
ela continuava a sorrir de um modo que
ele não sabia se desejava beijá-la ou
apagar aquele sorriso de sua boca. Isso
o aborrecia e intrigava. Chelsea parecia
tão segura de tudo. Era perturbador.
Percebeu que esperara um pouco de
lisonja e interesse por parte dela. Não
gostava de bajuladores, mas presumira
que Chelsea morderia a isca e se
sentiria grata pela possibilidade de
trabalhar no canal Diaz News.
Entretanto, agora que falara com ela,
sabia que Chelsea Maxwell não mordia
isca nenhuma.
Exceto por Michael Agnello. Raios,
ela iria ceder a Alex Diaz também.
– Tenho um contrato de mais três anos
com a AMI – revelou ela, e Alex
aquiesceu com um gesto de cabeça.
– Eu sei.
– Então...?
Alex
olhou
pela
janela.
Aproximavam-se de Columbus Circle e
só dispunham de mais alguns minutos
antes de chegar à festa e Chelsea ser
arrebatada pelo grupo de amigos íntimos
de Michael Agnello.
– Vamos conversar no jantar.
Ela riu delicadamente.
– Não sabia que tínhamos algo para
conversar.
– Não brinque comigo, Chelsea. –
Alex falou com aspereza e a fitou nos
olhos, mas, em vez de ver raiva ou
aborrecimento,
ou
mesmo
arrependimento, ele viu rapidamente
outra coisa que quase o fez pular no
assento.
Desejo. Luxúria. Mas desapareceu
logo, apesar de deixar seu órgão rijo
sob a calça.
Teve o súbito impulso de passar a
mão pela perna bem torneada, enfiar os
dedos sob o vestido cinza e descobrir o
que havia por baixo. Parecia que
Chelsea queria a mesma coisa.
Que interessante. Complicado, talvez,
mas muito interessante. Talvez não
precisasse fingir que a desejava em sua
rede de notícias. Quem sabe bastasse
demonstrar que a queria na sua cama.
E talvez o complicado se tornasse
simples.
– Acha que estou brincando? – quis
saber ela com expressão misteriosa. –
Foi você quem se escondeu em uma
limusine agindo como James Bond. –
Sacudiu os brincos e riu de leve. –
Quando quiser falar a sério comigo,
Diaz, ouvirei. – Tornou a olhá-lo de
cima a baixo se detendo um segundo na
protuberância que surgia da calça de
Alex. – Talvez.
Ele quase disse um palavrão. Sentiase como um adolescente cheio de
hormônios, incapaz de se conter, e o
absurdo da situação o constrangia.
Quando fora que perdera o controle com
uma mulher? Com qualquer pessoa?
A limusine estacionou em frente ao
Mandarin Hotel. Um porteiro se
adiantou para abrir a porta para
Chelsea.
Ela acenou de leve com os dedos e
acrescentou:
– De qualquer modo, obrigada.
E foi embora.
Alex voltou a se recostar no assento,
furioso, frustrado, mas animado. Então
Chelsea Maxwell era um desafio maior
do que imaginara.
Embora seu olhar alerta devesse ser
levado a sério... ou não. Talvez pudesse
fazer um jogo diferente do que
planejara.
Quando ele, Hunter e Austin haviam
discutido sobre arruinar Treffen para
sempre, seu plano fora atrair Chelsea
com a possibilidade de um programa no
Diaz News. Assim ela o deixaria
participar na elaboração da entrevista
com Treffen. Parecera simples. Sem
dúvida ela queria se firmar como
jornalista séria, e, como principal
executivo da maior rede de notícias do
país, Alex poderia realizar seu sonho.
Contaria a verdade sobre Treffen
quando tivesse certeza de que ela
entenderia.
Quanto a oferecer de verdade algo no
Diaz News para Chelsea... essa era
outra história.
A vingança era um negócio caro, um
preço alto a ser pago, e sem dúvida
Alex pagara o seu.
Mesmo nesse momento a lembrança
da última vez em que vira Sarah o
deixava gelado e muito determinado.
Iria vingá-la e todas as outras mulheres
que Jason Treffen usara e enlameara.
Faria o que fosse preciso, e que Chelsea
Maxwell se danasse!
– Senhor? – O motorista escrutinou o
interior da limusine e Alex tratou de
descer.
Não desistia tão facilmente. Ainda
não acabara com Chelsea Maxwell.
Prometera a Hunter e Austin. Os outros
dois haviam feito sua parte, e era hora
de Alex fazer a sua, custasse o que
custasse. Sorrindo de modo sombrio,
rumou para o hotel.
CHELSEA TIROU o paletó e entregou à
moça na chapelaria, desatenta ao tíquete
que recebeu e ao elevador que a levou
para o trigésimo quinto andar onde se
realizava a festa de Michael. Fechou os
olhos e respirou fundo.
O inesperado encontro com Alex Diaz
a deixara tonta e sem fôlego. Um pouco
agitada e preocupada também. Era muito
experiente para saber que devia se
preocupar quando um homem queria
negociar com ela.
E, sem dúvida, Alex Diaz queria
alguma coisa.
A adrenalina percorreu suas veias
quando se lembrou do modo como ele
preenchera a limusine com sua presença,
as pernas levemente abertas, os dedos
roçando seu ombro.
Mesmo sob a espessura do cashmere
ela sentira seu toque, e Alex também.
Era evidente que a leve carícia fora
intencional. Chelsea fizera muita força
para não estremecer.
Não gostava de se sentir tão atraída
por um homem, qualquer homem, e
especialmente alguém como Alex Diaz.
Ele era másculo demais, potente e
primitivo, e seu corpo reagira mesmo
quando seu cérebro se negara a ceder às
palavras dele.
Estou interessado em seu programa.
Não no programa da tarde, mas na
entrevista de horário nobre que ela suara
em bicas para conseguir. Desde que
iniciara
o Bate-papo com Chelsea
soubera que queria mais. Queria ser
levada a sério como jornalista, e isso
não aconteceria enquanto se sentasse em
um sofá de veludo cor-de-rosa e
entrevistasse chorosas cantoras country
e artistas de novelas. O programa podia
ser popular e tê-la feito enriquecer, mas
sem dúvida não significava que fosse
respeitado de verdade... ou que ela fosse
respeitada.
Chelsea sabia o que falavam a seu
respeito e de Michael; não era tola nem
surda. Mas nem mesmo Michael poderia
lhe dar uma entrevista de uma hora
sobre um assunto sério. Porém, se a
entrevista com Treffen fosse a sensação
da década como esperava e planejava,
todos saberiam. E teria feito tudo
sozinha.
Deixou escapar o ar dos pulmões. E
se a entrevista com Treffen levasse a
algo no Diaz News? A um emprego de
âncora ou mesmo ao seu próprio
programa no segmento de jornalismo
sério? Sentiu o estômago apertado e
voltou a divagar.
Não, não podia pensar assim. Ainda
não. Não até saber o que Diaz desejava
de verdade. Lembrou-se do volume sob
a calça dele quando descera da
limusine. Sabia que o deixara faminto,
como fora sua intenção. Diaz se sentia
atraído por ela, sem a menor dúvida.
Porém, a vida a ensinara a ser cética
e cínica. A se proteger. E não iria pular
na cama com um homem como Alex
Diaz nem mesmo por um trabalho.
Especialmente não por um trabalho.
Mesmo
assim...
a
remota
possibilidade de estar no Diaz News
fazia seu coração acelerar e suas mãos
se crisparem. A rede de notícias de Diaz
era a mais respeitada da TV, e a única
que conseguia se destacar entre as outras
redes alarmistas envolvidas em
mexericos e rixas políticas. “Fatos, não
opiniões” era o lema de Alex Diaz, que
transformara seu canal de notícias no
mais visto da televisão.
E ela poderia trabalhar ali como uma
jornalista séria e respeitada...
Torceu a boca com cinismo. Ou talvez
Alex Diaz só a quisesse na cama.
E não seria um lugar ruim...
Talvez, porém Diaz não fazia seu
tipo. Era arrogante e controlador
demais. Chelsea gostava de homens
mais submissos, que aceitassem as
condições dela.
Mas se conseguisse que Alex Diaz se
submetesse...
Sorriu em antecipação.
Seria
satisfatório. Alex Diaz de joelhos na sua
frente. Implorando.
Como ela já implorara.
Entretanto, nunca mais. Agora não
implorava, não rogava nem mesmo
pedia “por favor”. E, quando queria
sexo, tinha.
Mas precisava parar de pensar em
sexo.
Chelsea respirou fundo de novo e
ergueu o queixo quando o elevador
parou no trigésimo quinto andar.
Caso Diaz tivesse algo concreto em
mente iria procurá-la de novo. Com
franqueza. Ela não iria correr atrás dele
pedindo favores.
A festa já estava muito animada
quando Chelsea se viu no salão
particular com vista para Manhattam,
Central Park, e pontos escuros em meio
às luzes da cidade. Adiantou-se de
cabeça erguida, acenando para alguns
conhecidos, pessoas que se diziam suas
amigas, mas Chelsea sabia que não
eram. Ela conhecia milhões assim,
porém ninguém a conhecia de verdade;
ela não deixava.
Continuou a avançar pelo salão,
rindo, conversando, lançando beijinhos
no ar e acenando. Era cansativo, porém
isso também Chelsea ocultava de todos.
A maioria sentia inveja dela pelo
rápido e enorme sucesso como
apresentadora de um talk show aos 28
de idade, e os boatos de que dormira
com muitos para chegar ao auge ainda a
perseguiam quatro anos depois, embora
os ignorasse com ares de quem pouco
ligava. E não ligava mesmo.
Não ligaria.
Aquele caminho para o sucesso podia
ter funcionado no passado... ou não...
porém, agora era outra mulher. Mais
forte, mais esperta, e não faria papel de
boba... ou de objeto... para ninguém.
– Chelsea. – Michael se aproximou
com as mãos estendidas.
Chelsea as segurou e se inclinou para
ele, que a beijou na face. Podia sentir os
olhos dos outros sobre eles, olhos
aguçados, ouvidos atentos para qualquer
fragmento de conversa picante. Não que
essas pessoas precisassem ouvir.
Podiam inventar. E Chelsea nunca
negava nada. Negar boatos a deixaria na
defensiva, e os rumores acabavam se
tornando mais sérios com a imaginação
aguçada das pessoas. Que sorrissem
com malícia. Ela acabaria driblando
todos.
– Suas mãos estão frias – observou
Michael, e ela riu.
– Está gelado lá fora, Michael.
Afastou as mãos, de súbito consciente
de que alguém a observava. Não
precisava procurar para saber quem era.
Sentira os olhos dele desde que saíra do
elevador. Sentira sua presença morena e
forte mesmo sem um olhar de esguelha.
Alex Diaz estava ali. E ela podia
senti-lo.
Michael se afastou para examiná-la
com uma expressão preocupada que
acentuava os dignos pés de galinha nos
cantos dos olhos. Estava sempre
preocupado com ela, mesmo com
Chelsea garantindo que não havia
motivos para isso. Fingia não precisar
dos cuidados de ninguém, porque senão
pareceria fraca e carente.
Mas precisava de Michael. Ele a
descobrira quando ela estava com 22
anos,
desesperada,
sofrida
e
determinada, e para ele Chelsea se
abrira mais do que para a irmã.
Mesmo assim ainda não lhe contara
tudo e jamais contaria.
– Parece cansada – comentou ele.
– Muito obrigada. – Ela fez graça se
fingindo ofendida.
– E linda, é claro – acrescentou
Michael, sorrindo. – Nem preciso dizer.
Mas espero que não esteja trabalhando
demais.
– Não comece.
Apesar da diferença de apenas oito
anos de idade entre os dois, Michael
insistia em bancar o pai dela ou irmão
mais velho. Protetor e um pouco
mandão. Nunca tiveram um romance,
mas Chelsea não desmentia os boatos. E
nem Michael, a pedido dela. Era melhor
manter a cabeça erguida e não dar
explicações em vão aos outros. Afinal,
ninguém acreditaria. E se soubessem do
passado de Chelsea seria pior. Mas não
sabiam.
– Está bem. – Michael exibiu os
dentes brancos no rosto bronzeado...
fora esquiar em Aspen na semana
anterior... e Chelsea refletiu como era
carismático, bonito e boa praça. Se
desejasse um bom relacionamento, sem
dúvida escolheria Michael, que quase a
fazia se sentir segura.
Contudo,
jamais
desejara
um
relacionamento; os homens eram para
encontros casuais e a satisfação dos
sentidos apenas. Tal pensamento a fez
lembrar-se de Alex Diaz. Raios!
Não conseguia deixar de procurá-lo
com o olhar. Estivera determinada a não
fazer isso nos últimos 15 minutos, mas
não resistira. Ele estava no centro do
salão com seu smoking elegante,
moreno, poderoso e um pouco
intimidador.
Chelsea
concluiu
que
era
extremamente atraente.
Michael Agnello tinha carisma, porém
Alex Diaz possuía algo mais poderoso e
primitivo. Apelo sexual, puro e simples.
Musculoso, parecia ocupar todo o
espaço no salão. Devia ter no mínimo
1,90 m de altura. Chelsea tinha quase um
1,80 m, e com os saltos altos – jamais
andava sem saltos apesar de muito alta –
continuava mais baixa que ele. Gostava
de estar ao lado de um homem que não a
fazia se sentir uma girafa, mas afastou a
ideia.
Não gostava dos homens. Usava.
Imaginou como seria usar Alex Diaz.
Perigoso.
E perigoso também era constatar que
ele vinha na sua direção. Chelsea
estremeceu de antecipação e de alarme.
Algo em Diaz parecia... fora de lugar.
Seu olhar era intenso demais, seu
caminhar, predador demais. Se a
desejasse para sua rede de notícias seria
fácil agir. Ele procuraria o agente de
Chelsea e marcaria um jantar no Le
Cirque. Dariam muitas risadas regadas a
vinho, e ele não seria esse homem
sombrio com ar de fera que se
aproximava dela como se Chelsea fosse
um carneirinho indefeso.
Ela aprumou os ombros e sorriu. Não
há carneirinhos aqui, idiota, pensou
sem deixar de fitá-lo.
Os lindos olhos de Alex eram
castanhos com toques dourados. Os
cabelos eram negros e curtos, fazendo
Chelsea imaginar como seria tocá-los,
se de fato lembrariam seda entre seus
dedos.
Quanto ao físico... cheio de confiança
e força em cada músculo. Chelsea
afastou os olhos das coxas firmes, e
sorriu com ar de flerte.
– Olá de novo.
– Olá, Chelsea. – Como era possível
ser tão sexy dizendo palavras tão
triviais? Ser tão... sensual?
Chelsea
percebeu que
estava
descontrolada por não se sentir atraída
por alguém há muito tempo.
Talvez a vida toda.
– Posso lhe trazer uma bebida? –
perguntou ele, chegando tão perto que
ela sentiu o aroma de loção de barba.
Chelsea deu um passo atrás.
Resistiria. Não iria para a cama com
ele. Seria tolice e loucura. Não cederia,
quando o que ele queria era discutir
negócios.
Chelsea era esperta demais para cair
na esparrela.
– Água com gás, por favor.
Ele rumou para o bar, sexy e atraente.
Sim, era muito bonito. Isso já ficara
decidido. Agora era seguir em frente.
Chelsea suspirou, desejando acabar
com a tensão. Detestava festas há dez
anos, e começava a sentir a costumeira
ansiedade de quando estava no meio da
multidão. Alex voltou com o copo de
água e uma garrafa de cerveja.
– Aí está – disse com delicadeza, mas
com determinação a empurrou para um
local isolado perto da janela. Chelsea
não resistiu, porém guardou uma
distância apropriada.
– Vista incrível – comentou Alex,
tomando um gole da garrafa. – Jamais
me canso de admirar.
Chelsea nem olhou para a janela
panorâmica. Tinha a mesma vista de sua
cobertura, e só queria olhar para Alex.
– Por que está interessado no meu
programa? – Achou melhor ir direto ao
ponto.
Ele sorriu de leve.
– É boa no que faz.
– No que faço?
– Sim. Parecer simpática enquanto
enfia uma faca no entrevistado.
Ela piscou diversas vezes, surpresa, e
logo sorriu de volta porque era verdade.
Deixava as celebridades à vontade para
que confessassem o que queria ouvir,
porém todas gostavam. Precisavam da
catarse que seu programa parecia
oferecer.
– E você gosta disso? – Não
pretendera soar sexy, porém notou que
as pupilas de Alex se dilataram com o
mesmo desejo que ela sentira na
limusine. Doloroso. Inoportuno.
– Gosto de gente boa no que faz.
– Mesmo assim, não parece ser o tipo
de coisa que precise ter na sua rede, se é
que de fato quer persistir na ideia.
– Sim, não parece. – Alex tomou
outro gole de cerveja, e Chelsea se
manteve serena. Esperando... o quê?
Voltou a sentir as aguilhoadas do
desejo. Sabia que ambos se sentiam
atraídos e imaginou como essa história
poderia ficar complicada.
Não gostava de complicações. Não
misturava prazer ou sexo com emoção
ou com qualquer outra coisa. Não mais.
Para ela, sexo era como o exame de
saúde anual que fazia ou a limpeza
semestral dos dentes. Às vezes
divertido, às vezes, monótono, mas
necessário para se manter saudável.
Alex a fitou atentamente, baixando a
garrafa.
– Como conseguiu que Treffen
concordasse em lhe conceder uma
entrevista no horário nobre?
Ela ficou irritada com seu descrédito.
Como se ele duvidasse que uma ex-loura
fosse capaz disso.
– Foi difícil – respondeu.
– Treffen nunca deu entrevistas na
televisão.
– Sei disso, mas trabalhei bem. – Ela
soou na defensiva. Patética. Algo raro.
Alex sorriu. Tinha o sorriso mais
sensual que ela já vira, e Chelsea
estremeceu. Bastava ele mover os lábios
para enlouquecê-la.
– Conte-me – incentivou ele com voz
suave. – Como conseguiu?
– Com paciência. – Agora só o
cinismo a salvaria do desejo que
dominava seu corpo, minando suas
forças. – Passei um ano tentando
conhecê-lo bem, comparecendo às
mesmas festas, admirando seu trabalho...
– Bajulando.
Chelsea recuou, espantada com o tom
de zombaria. E pensar que segundos
antes brincara com a possibilidade de
dormir com Alex.
– Ele é uma pessoa incrível – resumiu
– que fez muito pelos direitos das
mulheres...
– Sei o que ele fez. – Alex sorriu com
frieza, e os olhos, antes com frisos
dourados, agora estavam negros como
carvão. – Mas me pergunto se você
sabe.
– O que quer dizer com isso?
– Vai sentá-lo no seu sofá? Fazê-lo
confessar seus segredos e chorar?
A voz de Alex não passava agora de
um sussurro, porém Chelsea ainda
notava a zombaria. Sentia.
– Não será esse tipo de entrevista –
respondeu com igual frieza. – Não estou
interessada em causar escândalos com a
entrevista de Treffen. Mas o que isso
interessa a você?
– Interesso-me por Treffen.
– Parece que o odeia – comentou
Chelsea.
– Ódio não é a palavra certa. Mas
gostaria de vê-lo dando a entrevista. Ver
como você se sairá. – Ainda com o
sorriso frio e o ar duro, tomou outro
gole da cerveja.
Chelsea estava farta das insinuações e
da ironia. Alex não gostava de Jason
Treffen. Estranho, considerando que as
atividades de advogado e a atuação com
direitos humanos haviam convertido
Treffen em um santo moderno. Mas ela
não tinha nada a ver com isso, tinha?
Talvez sim. Porque iria entrevistar o
homem, e se queria ser uma jornalista
séria precisaria escavar por baixo do
que já conhecia.
Porém, não nesse momento. Não
quando Alex Diaz a deixava fraca
apesar da zombaria, e a enchia de
desejo. Era como um rio que a
arrastasse.
Quase.
Chelsea endireitou os ombros e
lançou um de seus sorrisos mais bonitos.
– Bem, então deixe seu aparelho de
televisão ligado. Será ao vivo no dia 20
de março.
E, sem esperar resposta, ela deu as
costas e foi embora, altiva, os ombros
eretos e o queixo firme.
ALEX A seguiu com os olhos, tomando
mais um gole de cerveja. Por um
momento pensara em lhe contar a
verdade sobre Jason Treffen, mas por
sorte desistira. Não seria uma
conversinha para um coquetel, e não a
conhecia o suficiente para lhe confiar tal
barril de pólvora. Pelo menos ainda não.
Sabia que Chelsea era ambiciosa e
dura. Tinha certeza de que possuía
coragem suficiente para acabar com
Treffen ao vivo na televisão se assim
quisesse.
A pergunta era: Chelsea iria querer?
Poderia convencê-la? Alex ansiava por
destruir o mundo de Treffen aos olhos
de todos. O maldito não iria mais
enganar as pessoas se fingindo de santo.
Todos iriam conhecê-lo. Não apenas
como pecador, mas como o próprio
demônio.
Austin já desmascarara Treffen para
sua família com a ajuda de Katy, a irmã
de Sarah. Hunter agia para expulsar
Treffen de sua firma de advocacia, e
Alex fora incumbido de confrontar o
homem em rede nacional de televisão,
mostrando ao mundo sua verdadeira
personalidade: um monstro que usava as
mulheres em vez de salvá-las. Que as
forçava a uma vida de vergonha,
escândalo e pecado. Alex ansiava por
expor Treffen publicamente... e faria de
tudo para conseguir.
Incluindo usar Chelsea como pudesse.
Ela era fria. Dormira com muitos para
chegar ao topo. Não sentiria remorsos
por usá-la. Dormiria com ela se
chegasse a esse ponto, e já estava um
pouco frustrado. Sexualmente.
Independentemente
de
Treffen,
desejava Chelsea sob seu corpo, os
olhos verdes cheios de excitação.
Queria vê-la desesperada, implorando
por seus beijos, desejava tornar sua
risada um suspiro de prazer.
Queria ser o homem que derreteria
aquela camada de gelo. Para seu próprio
prazer.
Fitou-a caminhando com o vestido
esvoaçante. De frente era discreto e
casto como um hábito de freira, mas o
decote nas costas ia até a cintura. Alex
sempre fora um apreciador de seios,
mas as costas de Chelsea, bronzeadas e
perfeitas, o fizeram reconsiderar suas
preferências.
Viu-a se afastar da multidão e,
instintivamente, seguiu-a, curioso para
saber por que deixava a festa tão cedo.
Parou ao ver que apenas se dirigia ao
toalete feminino. Por que ele estava
agindo assim?
Permitia que essa mulher o levasse
pelo cabresto, e ela nem sabia disso.
Ou talvez soubesse.
CHELSEA CHECOU a maquiagem no
espelho e suspirou. Festas como essa... e
conversas como a que tivera com Alex
Diaz... a deixavam à beira de um ataque
de
ansiedade.
Não
que
ela
demonstrasse. Em dez anos aprendera a
se controlar e esconder.
Fitou seu reflexo no espelho e desejou
não estar tão pálida e trêmula.
Você pode, Chelsea. É mais forte.
Vai se controlar.
Respirou fundo. Mais uma vez.
Continuou a se fitar no espelho. Por fim
a cor voltou ao rosto e o coração bateu
normalmente.
Pronto. Viu?
Com mais um suspiro, se afastou do
espelho e saiu do toalete.
Mais vinte minutos e iria embora. A
ideia a aliviou. O diálogo com Alex
Diaz a enervara, fazendo-a se sentir
exposta. Mas conseguira ocultar.
Graças a Deus.
Nem Michael sabia como essas
ocasiões eram uma tortura para Chelsea.
Apesar da carreira brilhante, eventos
sociais a deixavam abalada. Aquelas
pessoas a aterrorizavam.
Pessoas como Alex Diaz.
Continuara a sentir os olhos dele
enquanto se movia pelo salão, deixandoa preocupada e atenta, porque mesmo à
distância ele a influenciava. Era poder
demais.
De volta à festa, alguém bloqueou seu
caminho.
Paul Bates, o âncora dos noticiários
da AMI e um completo idiota.
Idiota e bêbedo, a julgar pelo hálito.
Chelsea tentou se esquivar.
Ele
a
segurou pelo
braço,
machucando-a com os dedos que
apertavam sua pele sob o tecido do
vestido.
– Aonde vai, beleza? – disse com a
voz rouca.
Chelsea não se moveu nem retirou o
braço. Sabia como agir com homens
como Paul Bates, que gostavam de um
pouco de resistência. Ou muita.
– De volta à festa – respondeu com
calma. – Mas sugiro que largue meu
braço se não quiser ser processado por
assédio sexual.
– Oh, deixe disso, Chelsea. – Ela
voltou a sentir o bafo de bebida. – Podia
ser mais amigável comigo. Posso ajudála como Agnello ajudou.
Pois sim. Já sentira os olhares de
Paul no estúdio, suportara alguns
insultos velados, indiretas ofensivas,
mas nunca antes ele a assediara. Nem a
tocara.
– Oh, tenho certeza que sim, Paul. –
Sorriu para desanuviar a tensão.
Então ele levou a mão dela até seu
órgão sexual sob a calça, e Chelsea
sentiu o volume inexpressivo. Sorrindo
com doçura, apertou os testículos com
tanta força que o fez engasgar.
Praguejando, ele a soltou.
Chelsea tratou de caminhar, mas foi
detida por outra figura.
Alex Diaz.
– Estava indo salvá-la – murmurou
ele.
– Tome cuidado para não ser o
próximo – avisou ela, mantendo um tom
de voz displicente.
– É melhor eu sair do caminho. – Ele
riu.
Assim dizendo, Alex abriu passagem,
e Chelsea passou por ele roçando os
seios em seu peito. Sua respiração
acelerou, e ela ergueu os olhos para fitálo, sorrindo.
– Talvez você fosse gostar muito –
murmurou ela, enquanto ele a olhava
com expressão neutra.
– Talvez sim.
O coração de Chelsea disparou. Por
que estava agindo assim? Alex Diaz era
perigoso e o tipo errado de homem. E
ela o estava provocando.
Mas brincar com fogo provava sua
força e esperteza, não? Caso não se
importasse em chamuscar os dedos.
Então, ainda sorrindo, ela deixou a
mão roçar o meio das coxas de Alex,
tateando sua excitação, mas ele não se
moveu, apesar de tudo.
– Não preciso ser salva, Diaz –
murmurou, inclinando-se para alcançar
seu ouvido, o desejo queimando seu
corpo. O brinco fez cócegas no queixo
dele, mas mesmo assim Alex não se
moveu.
– Sem dúvida que não, srta. Maxwell
– replicou ele junto à sua boca.
Antes de perder o controle, Chelsea
se afastou.
Podia sentir os olhos dele quando se
dirigiu ao elevador.
CAPÍTULO 2
ALEX VIU Chelsea ir embora e balançou
a cabeça. Ela era incrível, mas não
sabia se no bom sentido.
Mas talvez soubesse. Pelo menos
certa parte de sua anatomia sabia,
porque quando deslizara os dedos pelo
seu corpo ele lutara para não agarrá-la,
encostá-la na parede e beijá-la até
perder o fôlego. E mais ainda.
O que o igualava a Bates, que ainda
se contorcia de dor com o aperto de
Chelsea.
Ela não era uma vítima. Não era
Sarah, usada e abusada pelos homens
poderosos. O pensamento lhe deu uma
selvagem satisfação porque Chelsea era
o tipo de mulher de que precisava.
Porém, primeiramente era necessário
fazê-la concordar.
Estreitou os olhos ao vê-la rumar para
o elevador. Indo embora tão cedo?
Pensou em segui-la, mas resolveu que
não. Lançara a rede esta noite, agora
necessitava refletir em como manipular
Chelsea Maxwell antes de voltarem a
conversar. E também precisava refrear a
atração por ela. Não gostava de se sentir
fora de controle, em especial a respeito
de sexo. Os homens tomavam decisões
erradas quando se deixavam guiar pela
parte do corpo abaixo da cintura.
E Alex não queria isso. Se dormisse
com Chelsea teria que ser sob suas
condições e para seus propósitos.
Mesmo suspeitando que seria
maravilhoso.
Ela entrou no elevador com a cabeça
erguida em desafio. Estava linda como
uma rainha do gelo... até que Alex notou
a mão crispada agarrando a saia do
vestido.
O
insignificante
gesto
disfarçado o surpreendeu e denotava
alguma coisa. Raiva por causa do
bêbedo que a assediara? Chelsea
parecera apenas achar levemente
engraçado quando Bates se aproximara
dela cambaleando.
Às suas costas ouviu Bates praguejar:
– Vadia – murmurou, e Alex o fitou.
– Só diz isso porque ela se vingou.
– Digo e repito.
– E você mereceu. – Alex fitou o
homem quarentão cuja beleza viril ia
desaparecendo por causa dos olhos
injetados, dos capilares rompidos no
rosto... sem mencionar a barriga
protuberante... que revelavam uma vida
de dissipação.
– Sabe que ela é a amante de Agnello,
não sabe? – perguntou Bates.
Alex deu de ombros.
– Mas não é sua amante – retrucou
com zombaria, se afastando enquanto
Bates continuava a respirar com
dificuldade.
NA MANHÃ seguinte rumou para seu
escritório na Hudson Street, lendo as
manchetes dos jornais no seu
smartphone enquanto subia até a
cobertura.
Entrou na sala toda de vidro e aço,
ligou o computador e refletiu se
telefonava ou não para Chelsea.
Precisava ser cauteloso com o próximo
passo, mas não negava que ansiava por
revê-la e travar um duelo verbal. A
conversa com ela o deixara ansioso.
Não havia muitas como Chelsea:
impiedosa, ambiciosa e sexualmente
confiante.
Sim, sem dúvida combinariam na
cama. E, fosse lá o que acontecesse com
Treffen, decidiu que faria sexo com
Chelsea.
Mas primeiro... Treffen. Voltou a
sentir um aperto no estômago, um misto
de remorso e determinação.
Jason Treffen era glorificado como
advogado dos pobres e oprimidos, em
especial do sexo feminino.
Ganhara uma boa reputação por
ajudar mocinhas a cursar as escolas da
Ivy League com bolsas de estudos... sem
que o público soubesse que, na verdade,
as obrigava a cometer os atos mais
sórdidos.
Sentiu um aperto no peito ao se
lembrar do que Austin, filho de Jason e
grande amigo seu, descobrira por
intermédio da irmã de Sarah, Katy, antes
do Natal. Todos aqueles anos após a
morte de Sarah haviam presumido que
se tratara de um triste, mas comum
assédio sexual que ela sofrera. Porém,
depois souberam da terrível verdade
quando Katy se aproximara de Austin
informando que Treffen não apenas
assediava suas jovens funcionárias, mas
que as colocava na prostituição.
Sarah não fora apenas assediada por
Jason, mas forçada a se prostituir com
seus clientes. A verdade ainda trazia
bílis à boca de Alex. Desde aquela noite
do décimo aniversário da morte de
Sarah, quando Austin atirara aquela
bomba enquanto conversavam sobre
trabalho e mulheres, haviam descoberto
mais sujeira. Jason não só dirigia uma
rede de prostituição como também
chantageava os clientes, homens
poderosos e de posição, para não
revelar seu envolvimento com as
garotas.
Austin revelara a verdade para sua
família, afastando o pai da esposa e dos
filhos. Junto com Hunter e contando com
a ajuda de Katy, começara o processo
para expulsar Jason da firma de
advocacia.
Até o momento Treffen conseguira
manter sua imagem pública de homem
honesto e benfeitor. Sua separação da
esposa fora explicada pela vida
estressante e de muita responsabilidade
com o trabalho que tinha.
A esposa, mãe de Austin, ficara
envergonhada demais para admitir a
verdade.
Hunter agia para fazer Treffen desistir
da advocacia, mas até o momento o
homem se agarrava com unhas e dentes
ao prestígio e à sua reputação de santo.
Alex, Austin, Hunter e Katy Michaels
não descansariam até que Jason Treffen
estivesse completa e publicamente
arruinado, até que a verdade fosse
revelada e a memória de Sarah fosse
vingada.
E a maneira perfeita de conseguir isso
seria no programa ao vivo de Chelsea,
visto
por
trinta
milhões
de
telespectadores.
Entretanto, após conversarem na noite
anterior, Alex não se sentia pronto para
confiar em Chelsea revelando a
verdade. Não tenho interesse em causar
escândalos.
O que Treffen fizera fora a obraprima dos escândalos!
Bastava Alex convencer Chelsea
disso... e sobre a necessidade de
arruinar o sujeito.
Alex pegou o telefone.
Ligou para a American Media
Industries, o canal de Chelsea, e dentro
de segundos falava com sua assistente,
que disse que Chelsea estava em reunião
e que o chamaria depois.
Alex refletiu se de fato ligaria.
Definitivamente Chelsea era do tipo que
o faria esperar. Endureceu os lábios. Ela
podia pensar que controlava, mas iria
provar o contrário. Tiraria todo o
controle de Chelsea... na cama e fora
dela.
Impaciente, tamborilou com os dedos
sobre o tampo da escrivaninha. Podia
estar louco para despir Chelsea
Maxwell de sua arrogância... e de outras
coisas também... mas no momento era
ela quem dava as cartas. Só lhe restava
trabalhar e esperar que ligasse.
Oito horas depois Alex deixou o
escritório e rumou para o centro a fim de
se encontrar com o amigo Jaiven
Rodriguez para uma cerveja. Ambos se
conheciam desde a infância vivida nas
vizinhanças do Bronx dominadas por
dominicanos. Enquanto Alex escapara
com uma bolsa de estudos para a
exclusiva escola preparatória Walkerton
em Connecticut, Jaiven ficara no Bronx
e abrira caminho com o suor do rosto e
os punhos.
Da primeira vez que Alex voltara de
Connecticut, Jaiven lhe dera um soco.
Ainda sorria ao lembrar-se da
expressão beligerante do amigo, e de
seu próprio espanto ao sentir o lábio
cortado e um olho roxo.
– Se vai se tornar um almofadinha
arrogante – dissera Jaiven –, não se dê o
trabalho de voltar para cá.
Essas palavras doeram em Alex.
Estava diferente, apesar de não ter
percebido. De camisa polo, rolando os
olhos quando Jaiven falara dos velhos
amigos, mencionando nomes de gente
rica, garotos que frequentavam a escola
e que sempre humilhavam o menino
meio dominicano com uma bolsa de
estudos do Bronx. Alex usava uniformes
de segunda mão e ia à escola de ônibus,
e não de carro com motorista. E estivera
fingindo para Jaiven que esses ricaços
eram seus novos amigos.
Até agora sentia vergonha de como
perdera depressa o bom senso, mesmo
que, na época, só tivesse 14 anos.
Desejara se encaixar no novo meio, em
vez de proclamar quem era de verdade.
Nunca mais fizera isso, jamais
esquecera suas raízes fingindo que não
tivera que trabalhar muito para obter
sucesso. Nada lhe viera de bandeja
como para os outros em Walkerton e,
mais tarde, em Harvard.
Fora isso que primeiro o atraíra em
Sarah. Ambos cursavam aulas de
finanças e possuíam a mesma ambição e
esperanças. Eram grandes amigos,
mesmo depois que Sarah começara a
namorar Hunter, jogador de futebol
americano, e fizera amizade com Austin
e Zair, colegas de quarto. Alex não tinha
tempo para três filhos de ricaços até que
Sarah lhe mostrara que eram boas
pessoas.
Após a faculdade, Zair voltara para
seu país no Oriente Médio, e Alex,
Austin, Hunter e Sarah se tornaram
inseparáveis até a morte dela.
Depois que Sarah falecera, Alex se
concentrara na tarefa de construir uma
rede de notícias comprometida com a
honestidade. E vencera. Era conhecido
no meio por sua integridade.
Quem sabe deveria ser honesto com
Chelsea também, e ir direto ao ponto.
Hesitou e deixou o pensamento
dominá-lo por algum tempo. Não, ainda
não. Podia ter baseado sua carreira na
honestidade, mas a vingança contra
Treffen era outra coisa. Os meios
justificariam os fins dessa vez.
Entrou no bar do Bronx que era quase
uma espelunca, e procurou por Jaiven. O
amigo estava em um cubículo nos fundos
já tomando sua cerveja. Alex se
aproximou e fez seu pedido.
– Você está um lixo – comentou
Jaiven.
– Muito obrigado – resmungou Alex,
recebendo a cerveja da garçonete. – Não
dormi bem a noite passada.
Jaiven arqueou as sobrancelhas.
– Por um bom motivo?
– Não o que está pensando –
respondeu Alex, imaginando Chelsea
nua e seu vestido cinza atirado ao chão.
Os cabelos soltos e longos. Os lábios
entreabertos e inchados...
Raios. Estava ficando excitado só em
pensar nela. Remexeu-se no assento e se
forçou a encarar Jaiven, que riu,
percebendo do que se tratava.
– Quer dizer que o grande Alex Diaz
não teve sorte ontem? Inacreditável.
Alex sorriu e balançou a cabeça.
– Não tentei.
Jaiven se espreguiçou e tomou um
gole.
– Certo. Onde esteve? Em algum
evento da mídia?
– Uma festa de aniversário.
Jaiven deu de ombros. Embora fosse
tão rico quanto Alex, recusava-se a se
familiarizar com as pessoas que
considerava
esnobes,
e
nunca
comparecia a festas ou eventos da alta
sociedade.
Largara a escola aos 16 anos e dera
início ao próprio negócio de navegação,
contando apenas com sua força de
vontade e uma van velha, mas nos 15
anos seguintes erigira um negócio
multimilionário. E jamais deixara o
Bronx.
Ainda morava lá, é claro que em
situação muito melhor, e tinha orgulho
de suas origens, de quem era e de quem
seria ainda. Sempre dizia a Alex que lhe
daria outro soco se começasse a agir
como um idiota, e Alex sabia que ele era
mesmo capaz de fazer isso.
– Mas existe uma mulher, não? –
insistiu Jaiven.
– Pode ser – murmurou Alex com
displicência.
– Está bancando a difícil?
– Não exatamente.
Jaiven tornou a rir.
– Seja quem for, deixou você de
quatro, meu amigo. Está precisando
fazer sexo.
– Pode ser – admitiu Alex com um
sorriso sem alegria.
Ele e Jaiven tinham a mesma teoria
sobre sexo e amor: encontros de uma só
noite ou romances de uma semana de vez
em quando, e nada mais. Era honesto
sobre isso como sobre tudo o mais.
Garantia que a moça entendesse as
regras antes de tirar seu sutiã.
Porém, duvidava que Chelsea
Maxwell estivesse atrás de um
relacionamento. Tinha certeza de que
encarava o sexo do mesmo jeito que ele.
Algo mutuamente agradável por uma
noite e nada mais.
Sentiu uma onda de antecipação.
Seria demais.
CHELSEA OLHOU para o pedacinho de
papel cor-de-rosa com o recado e o
nome de Alex Diaz, e refletiu de novo
sobre o que ele quereria.
Alex ligara duas horas atrás, e ela não
largaria tudo para responder. Não. Que
ele esperasse. Que imaginasse se ela
iria responder ou não. Guardou o recado
na bolsa – ninguém precisava saber que
Alex Diaz a chamara – e pegou o laptop.
– Chelsea? Tem um minuto?
Ergueu o rosto para Michael Agnello,
que entrara no seu escritório.
– Claro. – Fechou o laptop, empurrou
a cadeira para longe da escrivaninha e
cruzou as pernas. – Ia só responder
alguns e-mails.
– Quero falar sobre a entrevista com
Treffen.
– Muito bem.
Parecia que todo mundo queria falar
sobre isso, pensou ela. Coincidência?
Não. Provavelmente todos, até Michael,
estavam surpresos por ver que ela
conseguira uma entrevista no horário
nobre com alguém tão importante.
Todos menos ela. Lutara para isso,
vencera, e esperava que essa entrevista
impulsionasse sua carreira.
– Sim? – perguntou, enquanto Michael
se sentava na sua frente.
– Treffen e seu advogado querem
encontrá-la antes para saber exatamente
como a entrevista será.
Chelsea franziu a testa, embora não
estivesse muito surpresa.
– Parece contraproducente. Pretendia
que nossa conversa fluísse naturalmente
na entrevista – respondeu.
– Treffen quer mais controle.
– Por quê?
Michael deu de ombros.
– E por que não? O homem tem uma
reputação a zelar, Chelsea, e não vai se
debulhar em lágrimas no seu sofá de
veludo cor-de-rosa.
Chelsea ficou aborrecida, embora
soubesse que Michael tinha razão.
– Sabe que essa entrevista não será
assim.
– Sei, e por isso deve se encontrar
com Treffen. Faz sentido – explicou
Michael.
– Talvez.
Na última semana Chelsea gravara
dois programas, um com uma campeã
olímpica que tivera que devolver a
medalha de bronze depois de um
escândalo sobre doping; o outro com
uma cantora country que tentava reerguer
a carreira após vários fracassos e um
público que lhe dava as costas. Chelsea
fizera as duas chorar.
Contudo, sua entrevista com Treffen
seria diferente. Nada de segredos
sórdidos nem choros convulsivos.
Apenas
jornalismo
honesto
e
respeitável. Afinal, Treffen não era uma
celebridade
decadente
tentando
reaparecer.
Sei o que ele fez.
De súbito se lembrou do olhar
sombrio de Alex Diaz quando falara de
Treffen. Fosse lá o que houvesse dito ou
deixado de dizer, ele não gostava de
Treffen.
E Chelsea percebeu que desejava
saber
o
motivo.
Precisava,
principalmente agora que Treffen
pretendia controlar a entrevista.
– Ficarei contente em encontrá-lo –
disse a Michael. – Mas é melhor que
não espere ditar todas as condições.
– Pode ser que sim – alertou Michael.
– E se deseja essa entrevista com
Treffen deve ceder.
Chelsea apertou os lábios em
silêncio, aceitando de má vontade. Nada
devia atrapalhar essa oportunidade com
Treffen, que impulsionaria sua carreira,
fazendo-a se erguer acima dos boatos
que nunca se importara em negar. Nada
a atrapalharia... nem mesmo o próprio
Treffen.
CAPÍTULO 3
MUITAS
mais tarde ela
continuava matutando sobre a entrevista
que teria com Treffen na semana
seguinte, quando sua assistente avisou:
– Alex Diaz está na linha.
Chelsea ficou satisfeita. Então ele
telefonara. Duas vezes. Sorrindo com
antecipação, atendeu:
– Alex?
– Alô, Chelsea.
Estremeceu ao ouvir a voz profunda
que mexia com suas entranhas e sua
HORAS
alma. Não era justo ser tão afetada por
uma voz.
Principalmente, era estúpido, e
Chelsea nunca agia estupidamente com
os homens. Não mais. Ignorou a emoção.
Seria profissional. Esperta. Ficaria do
lado seguro.
– O que posso fazer por você? –
perguntou com brusquidão.
– Interessante perguntar – retrucou
ele, e sua voz arrancou mais um pedaço
da alma de Chelsea.
– Por que é interessante?
– Porque o que pode fazer é sair
comigo para jantar.
Parecia um convite para um encontro.
Talvez fosse. O coração dela acelerou.
– E por que sairia com você? – Dessa
vez ela falou em um tom meio agressivo
e meio provocante.
– Porque desejo conhecê-la melhor.
Impossível decifrar essa frase.
Conhecer?
Particularmente?
Profissionalmente? Chelsea não fazia
ideia, e tinha certeza de que a intenção
de Alex era deixá-la curiosa.
– Não sei se o desejo é mutuo –
murmurou ela.
Alex riu de leve, um som
estranhamente íntimo ao telefone.
– Tem certeza, Chelsea?
O som de seu nome nos lábios dele a
deixou absurdamente exposta, em
especial porque nem era seu nome de
verdade.
– Jamais disse que desejava conhecêlo – respondeu com descaso. – Mas, se
está oferecendo outra coisa... –
Interrompeu-se imaginando como ele
responderia à indireta. E ela também.
– O que gostaria que oferecesse? –
perguntou Alex sem hesitação, sempre
com a voz sexy.
– Ainda não me decidi.
– Então vamos discutir sobre isso no
jantar.
Ela hesitou e a mão escorregou do
telefone. Era apenas um jantar, disse a si
mesma. Com um homem muito sexy. E
algo em Alex Diaz e sua determinação...
b e m, assustar não era exatamente a
palavra ideal, mas a ideia era mais ou
menos essa.
Percebia que era um homem que teria
controle absoluto.
E ela precisava ficar no controle,
insistindo nisso com todos os homens,
fosse lá com o técnico da máquina de
lavar roupa ou com quem ia para a
cama. Era Chelsea quem ditava as
regras. Sempre.
Porém, algo lhe dizia que Alex Diaz
não jogaria segundo suas regras.
Entretanto, Chelsea não recuava
diante dos desafios.
– Está bem – disse por fim. – Tenho
sempre uma mesa disponível no Le
Bernardin...
– Ótimo, mas será do meu jeito –
interrompeu ele. – Até amanhã.
E desligou, para irritação de Chelsea,
que fitou o aparelho alguns segundos e
depois o desligou também. Praguejou em
voz alta. Ele desligara primeiro porque
sabia o que ela pretendia fazer... e não
permitiria.
Mas a irritação se transformou em
diversão e até admiração.
Quem sabe, afinal, tivesse encontrado
um concorrente a sua altura.
Vinte minutos depois recebeu uma
mensagem de texto:
Seu apartamento. 19h.
Refletiu como Alex conseguira o
número de seu celular, porém percebeu
que obteria a informação que quisesse,
pois era dono da rede de notícias mais
respeitada do país. Controlou os nervos.
Tinha muitos segredos para deixar um
homem como ele curioso.
Presumiu com relutância que seria
melhor cortar o mal pela raiz. Recusar o
jantar e se despedir de qualquer
possibilidade na sua rede de televisão,
e, definitivamente, nada de sexo.
Que tipo de amante seria Alex Diaz?
Será que continuaria sendo arrogante e
seguro de si? Imaginou as mãos potentes
em seu corpo, a boca flexível na sua
pele. Seria dominador no quarto, mas
faria isso tão bem que a mulher em
questão não se importaria.
O desejo a dominou. O que, diabos,
estava pensando? Excitada por causa de
Alex Diaz? Era controlador e talvez se
tornasse seu patrão. Votou contra ele.
Mas não negava que o desejava do jeito
que era: no comando.
Dominador.
Meu Deus.
Chelsea balançou a cabeça e sentiu
nojo de si mesma. Não aprendera nada
em dez anos? Três anos de humilhações
e sofrimento, sem mencionar um
tratamento psiquiátrico intensivo, não
valiam de nada?
Poderia analisar a possibilidade de
trabalhar com Alex Diaz, mas
definitivamente não dormiria com ele.
Ou vice-versa.
Aborrecida
com os
próprios
pensamentos desencontrados, abriu o
laptop e voltou a trabalhar.
Na noite seguinte estava em frente ao
enorme espelho de seu quarto
analisando seu reflexo. Penteara os
cabelos em um coque apertado e severo,
e usava brincos discretos de pérolas. A
maquiagem era leve, apenas rímel e
brilho labial. E o vestido era muito
modesto, embora acentuando seus
pontos mais fortes. De cashmere creme
com um cinto dourado, iria cobri-la do
pescoço aos joelhos. Era levemente
sexy, mas mesmo assim profissional, e
era desse modo que precisava ser nessa
noite... porque ainda não sabia o que
Alex Diaz queria com ela ou o que ela
queria de Alex.
Nas 24 horas após o telefonema
pensara em desmarcar o jantar. Por mais
tentadora que fosse a possibilidade de
trabalhar para o Diaz News e de ter um
programa de notícias respeitável, sabia
que Alex nada prometera e seria muito
mais seguro, muito mais são se manter
afastada de um homem que já a afetava
tanto. Mas fugir seria fraqueza, e
Chelsea não era fraca.
Jantaria com Alex, descobriria se
desejava contratá-la para sua rede ou,
como tantos outros, tentava apenas
seduzi-la.
E se assim fosse?
Bem, talvez aceitasse. A ideia a
deixou alarmada e excitada ao mesmo
tempo, e era perigosa. Alex Diaz era tão
diferente dos homens que levava para a
cama.
E isso o tornava excitante, um
desafio, se pudesse controlá-lo, deixá-lo
fraco de desejo...
O interfone tocou, e Chelsea avisou
ao porteiro que encontraria Alex no
saguão. Ele não subiria a menos que ela
o convidasse.
Essa noite, como todas na sua vida,
seria conforme suas normas... fosse lá o
que ele pretendesse e pensasse.
Alex examinava uma escultura
moderna no saguão quando Chelsea saiu
do elevador. Usando um terno cinzachumbo, e exibindo uma leve penugem
no queixo, ele estava lindo. Maldito
homem.
– O que acha que é isto? – perguntou,
apontando para a monstruosa escultura
de ferro e cobre retorcido que ela nunca
se dera o trabalho de observar.
– Não sei. Uma árvore? – Ela sorriu.
– Que árvore esquisita!
– Não é fã de arte moderna? – Ela
sorriu repentinamente.
– Não deste tipo. – Alex desviou os
olhos da escultura e olhou para Chelsea.
– Mas sou fã da arte do subentendido. –
Passeou o olhar pelo vestido de
cashmere. – Definitivamente.
O corpo de Chelsea logo respondeu à
provocação. Sorriu com calma.
– Então, aonde vamos se não para o
Le Bernardin?
– Le Cirque – respondeu ele,
pousando a mão em suas costas e
guiando-a para fora do prédio.
Chelsea entrou na limusine. Alex
voltou a esticar o braço sobre o assento,
tocando de leve os ombros dela. Parecia
muito tranquilo e sem perceber o que
fazia, mas Chelsea sabia muito bem que
o leve toque fora intencional. E o efeito
era o que ele queria, pois estava
inquieta, insegura e constrangida.
Não era assim que desejara começar
a noite.
– Le Cirque? – repetiu. – Muito
previsível.
– Está desapontada? Da próxima vez
tentarei com mais empenho surpreendêla. – Fitou-a com expressão misteriosa
sob a pouca luz do veículo.
– Não me parece do tipo que tenta
com empenho certas coisas – retrucou
Chelsea. – Creio que espera que as
mulheres caiam aos seus pés.
Ele arqueou as sobrancelhas de modo
divertido.
– Não têm grande utilidade aos meus
pés.
– Oh? – Ela o fitou, percebendo o
brilho em seu olhar. – E onde elas são
mais úteis, Alex?
– Em vários lugares. E posições.
Chelsea arqueou as sobrancelhas.
– Curioso. Pode ser mais específico?
Ele sorriu.
– Agora não.
– Mais tarde talvez?
– Talvez.
Ela sorriu contrafeita. Sempre que
tentava virar a mesa ele fazia isso
primeiro deixando-a desesperada de
desejo e vontade de se sobressair.
Mas lembrou que já não era assim.
A não ser com esse homem.
– Não é educado encarar as pessoas –
comentou ele, e Chelsea percebeu que
estivera fitando-o sem parar. Raios.
Deixara de falar, pensar, porque só via
as longas pernas de Alex estiradas, o
queixo firme com o início de barba,
além dos cílios longos e da boca
máscula e sexy.
Como era possível?
Devagar ergueu os olhos para ele.
– Estava apenas checando o que
oferece – respondeu com malícia.
– Até agora não disse o que estava
oferecendo, Chelsea.
– Então pode ser mais claro?
Ele não respondeu, apenas aguardou
com os olhos brilhando e a tensão
aumentando entre os dois. Chelsea
percebeu que se esquecera de respirar e
prendia o fôlego.
– Creio que não vai explicar – disse
ela por fim, e fingiu balançar a cabeça
com desânimo.
Alex apenas riu. Nada o abalava.
Nada o chocava. Nada o fazia perder o
controle, e Chelsea se enfureceu porque
já perdera o seu.
Ele estava no comando desde que
surgira dentro da limusine, e ela não
conseguia arrancar a direção de suas
mãos.
– Então vamos falar de negócios. –
Chelsea cruzou as pernas de novo e
falou com frieza: – Você me quer para o
Diaz News?
– Não – respondeu ele sem titubear.
Chelsea piscou diversas vezes.
Manteve uma expressão neutra com
muito esforço, e, após alguns segundos
tentando descobrir o que dizer, apertou
os lábios e disse com severidade:
– Então só está querendo brincar
comigo.
– Não, apesar de ser um comentário
interessante.
– Muito engraçado. – Chelsea cruzou
os braços sobre o peito. Queria atacar,
mas estava na defensiva. Ele não a
desejava para sua estúpida rede de
notícias. Não a surpreendia com isso.
Não devia se sentir magoada.
– Por que me convidou para jantar,
Alex? Está apenas querendo me levar
para a cama?
– Caso esse fosse meu único objetivo,
haveria meios mais simples de
conseguir – respondeu ele com
serenidade.
Aborrecida, ela retrucou:
– Sem dúvida. Basta cruzar a FortySecond Street para encontrar mulheres...
– Não seja infantil, Chelsea.
– Não banque o meu pai, Alex...
– Só estou dizendo a verdade. Não me
interesso em tê-la na minha rede, mas
estou focado em sua entrevista no
horário nobre.
– Treffen. – Ela quase cuspiu a
palavra.
– Sim.
Chelsea estava zangada e vulnerável,
querendo agredir, porém sabia que isso
a deixaria ainda mais exposta. Respirou
fundo e tentou se acalmar.
– Não gosta dele – afirmou.
– Não – concordou Alex.
– Por quê?
– Chegaremos a isso.
– No tempo certo? – zombou ela. –
Não gosto de ser usada, Diaz, ou
manipulada.
– Momentos atrás me chamou de
Alex. E quem planeja manipulá-la é
Treffen.
Ela pensou na reunião que teria com
Treffen e seu advogado na semana
seguinte. Talvez Alex tivesse certa
razão, porém não queria ser sua
ferramenta.
– Não permitirei que sabote minha
entrevista.
– Não é essa minha intenção, Chelsea.
Ela não acreditou, fitando seus olhos
escuros.
Tinha certeza de que Alex sabotaria
sua entrevista ou até sua carreira para
conseguir o que queria.
E mesmo assim, nesse momento em
especial, sentia o corpo vibrar por ele.
Por mais que Alex Diaz fosse duro e
impiedoso. Talvez por isso mesmo o
desejasse.
Talvez porque a ideia de vê-lo vibrar
por ela e desejá-la fizesse seu sangue
ferver. Queria vê-lo se curvar para ela.
Ficar de quatro por ela.
– Chegamos – anunciou ele, retirando
o braço do encosto, segurando seu
ombro por cima do paletó e do vestido,
e descendo os dedos até quase alcançar
a lateral de um seio.
Fitaram-se e Chelsea se sentiu
aprisionada pelos olhos castanhodourados. Mal conseguia respirar. Saiu
da limusine e de seu contato, imaginando
como conseguiria chegar ao fim desse
jantar.
ALEX A fitou de costas, os quadris
meneando discretamente enquanto ela
entrava na frente no restaurante. Cada
palavra que trocavam era repleta de
duplo sentido. Mas já a dominara, tinha
certeza. Chelsea era curiosa, ambiciosa
e ansiosa. Faria o que ele dissesse, e o
sexo seria um modo doce de selar o
acordo. Já vira o desejo nos olhos dela,
apesar de Chelsea negar.
Faria com que admitisse. Faria que se
ajoelhasse, soluçando seu nome,
implorando pelo seu toque. Esse
pensamento o fez sorrir e ficar muito
excitado.
Controlando-se, seguiu-a para dentro
do restaurante.
– Fale-me ao seu respeito – pediu,
assim que se sentaram com os cardápios
abertos e os guardanapos sobre os
joelhos. – Nada sei sobre você exceto as
informações genéricas de sua biografia.
Ela estreitou os olhos em dúvida, e
Alex percebeu que se lembrava de
alguma coisa. Por fim, deu de ombros e
tomou um gole de água para depois
responder:
– Não há muito mais além do que diz
meu histórico. Praticamente vivo para
minha carreira.
– Como eu, mas não significa que
possa comprimir minha personalidade
em uma simples folha de papel. O que
gosta de fazer nas horas livres?
Ela ficou surpresa como se ninguém
jamais tivesse lhe perguntado isso.
– Hobbies? – sugeriu, recostando-se
na cadeira. – Faço ginástica. Muita.
– Já imaginava. Você é obcecada por
controle.
– Somos iguais – ironizou Chelsea.
– Sem dúvida.
Era uma guerra de vontades. Seria tão
bom levá-la para a cama, refletiu Alex.
E depois deixá-la ali.
– Antecipo um problema – comentou
Chelsea, fitando o cardápio e baixando
os longos cílios cor de chocolate.
– Qual? – Alex também se recostou.
– Nós dois não podemos ficar no
controle.
– Definitivamente não. – Alex sabia o
que ambos estavam pensando. E teve
certeza de como terminaria a noite.
O ar entre os dois estava repleto de
estática e tensão. Alex respirou fundo, a
fim de diminuir a tensão, e disse:
– Não acredito que não tenha um
hobby de verdade. Todos têm um.
– E qual é o seu? – revidou ela.
– Mergulho submarino.
– Não é algo para fazer todos os dias.
– Não. Só nas férias.
– E o que faz para relaxar
diariamente?
Ele gargalhou.
– Além do óbvio?
Ela sorriu.
– Não me refiro às necessidades
básicas.
– Também não – acrescentou Alex, e
Chelsea sorriu ainda mais.
Alex prestou atenção. Tinha uma boca
linda, polpuda e sexy.
– Isso conta como ginástica? –
perguntou ela.
– Como necessidade básica.
Ela gargalhou de leve.
– Então você deve ser muito sarado.
– Terá que descobrir. – Alex riu
também.
– Isso é uma promessa?
– Sim.
Chelsea riu mais, exibindo uma
covinha na face.
– E isso o relaxa?
Por um segundo ele pensou que estava
se referindo a sexo, porém logo se
lembrou do que estavam discutindo ou,
pelo menos, fingindo discutir. Natação.
– Aprendi a me deixar relaxar.
– Como assim?
– Só aprendi a nadar quando estava
no segundo grau. – Alex podia sentir o
cheiro de cloro na piscina da Walkerton.
O empurrão grosseiro em suas costas.
– Alex.
Ergueu os olhos, distraído, e viu
Chelsea, que o provocava com seu
sorriso.
– Seja lá no que esteja pensando, não
deve ser agradável.
– Talvez, mas o desagradável me
ajudou a aprender a nadar. – Viu que ela
franzia a testa e aguardava. – Recebi
uma bolsa de estudos para a Walkerton.
Sabia disso?
– O internato em Connecticut? Quem
não quer estudar lá? Parece que todos os
ricaços desejam matricular os filhos lá.
– Sim, mas fui uma exceção. Era um
garoto
pobre
do
Bronx meio
dominicano.
– Disso eu não sabia – murmurou
Chelsea com ar pensativo, inclinando a
cabeça para um lado.
– Qual parte, a de ser dominicano ou
do Bronx?
Ela tornou a sorrir com seus lábios
maravilhosos.
– Ambos. Mas estava me contando
como aprendeu a nadar.
– Natação era obrigatória em
Walkerton. No primeiro dia um dos
garotos da minha classe me atirou na
parte funda da piscina quando o
treinador se ausentou. – Alex ainda
podia sentir o pavor da água se fechando
sobre sua cabeça, enchendo sua boca e
narinas, enquanto uma dúzia de garotos
observava friamente.
– Ele tinha conhecimento de que você
não sabia nadar?
– Oh, sim. – Alex fora ingênuo o
suficiente para revelar isso antes de ser
empurrado. E acabara de contar esse
episódio para Chelsea Maxwell. Não
falava dos anos em Walkerton para
ninguém. Não gostava de lembrar o
garoto solitário que fora, louco para ser
aceito e ter importância. Teria vendido
sua alma para isso naquele tempo.
Graças a Deus Jaiven o salvara com o
soco no nariz. Graças a Deus aprendera
a ser mais duro, resistente para esnobar
aqueles garotos mimados.
– Por sorte o treinador voltou antes
que eu me afogasse. Creio que aqueles
meninos deixariam eu me afogar.
– Que horror. – Chelsea se calou por
um momento com expressão séria. –
Mas acredito – acrescentou em tom
compreensivo e experiente.
Alex quase a questionou se também
sofrera bullying, mas mudou de ideia. Se
já achava que sexo complicaria a
situação, uma afinidade emocional
estragaria com tudo. Não arriscaria.
Jamais.
– Bem, como já disse, aquilo me
motivou. Aprendi a nadar e acabei na
equipe de natação da universidade.
Cheguei a capitão no último ano,
enfurecendo os sujeitos que tentaram me
afogar. Doce vingança.
– Sem dúvida.
– Também na universidade aprendi a
mergulhar, e hoje passo muito tempo na
água.
– E gosta? – quis saber Chelsea.
Ninguém nunca perguntara isso a
Alex.
– Acha que mergulharia se não
gostasse?
Ela estreitou os olhos com
sagacidade, fazendo-o rir.
– Acho que você gosta de controlar. É
maníaco por controle, não?
Ele ergueu as mãos fingindo derrota e
riu de novo, embora se sentisse um
pouco exposto.
– Bem, tem razão, srta. Maxwell.
Ainda tenho medo da água. Mas nado e
mergulho.
Ela aquiesceu com um gesto de
cabeça lento.
– Posso entender isso.
Seu tom era sério, e Alex se
perguntou por quê. Queria saber do que
Chelsea não gostava. Sabia que estava
louca
para
provar
seu
valor
profissional, mas será que de fato
odiava sentar no sofá cor-de-rosa com
aqueles astros e estrelas ultrapassados?
Não iria perguntar. Na verdade, não
queria conhecer essa mulher. Apenas
usá-la.
Em mais de uma maneira.
– Vamos pedir? – sugeriu, e ela
voltou a concordar. Depois que o
garçom veio e se foi de novo, Alex
tentou retomar a conversa para um
terreno seguro. Mantê-la inocente pelo
momento.
– Você é do Alabama, certo? –
perguntou, para vê-la ficar tensa
imediatamente com expressão sombria.
Interessante. Estranho, mas interessante.
Chelsea tomou um gole de água e
repôs o copo sobre a mesa bem devagar.
– Sim – respondeu como se estivesse
fornecendo informação demais.
– Perdeu o sotaque.
– Sim – repetiu ela com voz neutra.
– Por que tenho a sensação de que não
gosta de falar sobre seu passado? – Ele
se reclinou na cadeira.
– Não é interessante.
– E se eu estiver interessado?
– Duvido. Mas pode ler minha
biografia na internet.
– Já li. – Alex lera sua entrevista com
perguntas
e
respostas.
Também
começara como jornalista, e lutara como
ela.
Segundo a biografia de Chelsea, ela
tivera uma infância idílica no Alabama
com bolinhos caseiros e feiras de
animais. Depois fora trabalhar na AMI
aos 22 anos. Havia a costumeira lista de
premiações recebidas, e de entidades
que ela ajudava, e ponto final.
Muito vago, e Chelsea parecia gostar
assim.
– Então já sabe tudo de que precisa
saber – murmurou, dando de ombros e
erguendo os seios redondos por baixo
do vestido creme. Alex queria tirar
aquele vestido dela com urgência.
– O que é igual a nada – retrucou ele.
Estava
curioso. Quem era essa
mulher?
Melhor não imaginar. Não saber.
A entrada foi servida e passaram a
falar das fofocas do setor televisivo até
o final do jantar, o que agradou a Alex.
Estava em um bom restaurante com uma
bela moça, e pretendia aproveitar um
pouco.
Para depois aproveitar muito mais.
CHELSEA REFLETIA
. O que havia com
esse homem que a fazia falar tanto?
Sentir tanto? Já contara mais para Alex
do que para qualquer outra pessoa,
exceto Michael e sua irmã Louise. E mal
o conhecia. Muito bem, não contara
muita coisa, mas se sentia exposta.
Agora ele poderia pesquisar sua vida,
dados do Alabama, e descobriria mais.
Muita coisa.
Sentiu uma garra de gelo percorrer
sua espinha dorsal e jurou não contar
mais nada. Ficaria no campo
profissional ou do flerte, porém não se
abriria mais.
Raios, não deixava os homens se
aproximarem. Não fazia confidências.
Usava-os para os negócios ou para o
sexo e apenas isso. Era assim que
precisava ser.
Pretendia usar Alex também. Quem
sabe nos negócios e no sexo. Após a
conversa cheia de duplo sentido sabia
que ele a desejava, e ela também o
queria.
Isso, pelo menos, poderia ser
facilmente resolvido.
Quanto aos negócios? Ele não tocara
no nome de Treffen durante o jantar, e
Chelsea agradecera. Não estava pronta
para essa conversa.
E não entraria em conversas íntimas
nem emocionais.
Exceto que já sentira pena do garoto
que ele fora e que quase se afogara.
Entendia isso. As pessoas adoravam ver
alguém fracassar. E sorrir enquanto
alguém era humilhado, rir ao vê-lo se
magoar.
Não, precisava parar com essa linha
de pensamento, porque senão abriria
mais sua alma para ele.
O sexo a curaria, pensou. Sexo
simplificava tudo, uma função física,
uma troca primitiva, e quando acabava
ela sempre passava para o próximo
parceiro. Nunca dormira com o mesmo
homem duas vezes nos últimos dez anos.
O sexo faria com que esquecesse
Alex Diaz em seguida.
Assim pensando, empurrou a xícara
de café para o lado e mal tocou na
sobremesa. Escolhera sorvete de frutas,
o item menos calórico do cardápio. A
televisão não perdoava quilinhos a mais.
Arqueou as sobrancelhas e perguntou
com simplicidade e sem malícia:
– Podemos ir?
Alex a fitou com seus olhos dourados
e retirou do bolso um cartão de crédito
que ela reconheceu como dos mais
exclusivos.
– Sim. Vamos.
Deixaram o restaurante com a mão de
Alex em suas costas. Ele já avisara ao
motorista que estavam saindo, e a
limusine esperava.
Ocuparam os assentos de couro, as
coxas se tocando levemente, e Chelsea
lutou para não tocá-lo, não sentir a
rigidez dos músculos...
Sua mão quase o tocou, e ela a baixou
depressa. A pele de Alex seria macia ou
rija? Quente ou fria? Os dedos de
Chelsea comichavam.
Tarde demais percebeu que rumavam
para o centro da cidade.
– Aonde vamos?
– Meu apartamento – anunciou ele.
– O quê? – exclamou ela. – Belas
maneiras! Não me lembro de me ter
convidado, Alex.
– Não convidei.
Encararam-se. Alex estava tranquilo,
parecendo quase entediado. Ela sentia
uma gama de emoções: fascinação,
frustração e um pouco de medo.
E estava excitada de uma forma como
já não sentia há muito tempo.
Isso
mostrava
como
estava
fragilizada.
Cruzou os braços sobre o peito.
– Acha atraente a tática de homem das
cavernas?
– Não, apenas prefiro ir direto ao
ponto. Sabia que dormiríamos juntos
quando concordou em jantar comigo.
– Muito precipitado da sua parte, não
acha? – A voz dela, por sorte, soou
calma.
– Estamos atraídos um pelo outro,
ambos vemos o sexo como... o que você
disse? Uma necessidade básica?
– E daí?
– Daí que, é claro, dormiremos
juntos. – Alex deu de ombros como se
fosse um assunto sem importância. –
Uma conclusão lógica.
– Como é romântico. – A voz de
Chelsea soou em falsete. – Violinos e
rosas!
– Pensei que gostaria de minha
honestidade.
Normalmente sim, porque era desse
modo que Chelsea lidava com o sexo.
Só não gostara da decisão dele. Era ela
quem dizia aos homens o que iria
acontecer, e que os expulsava de casa
logo depois.
Jamais ia ao apartamento deles.
Jamais permitia que ditassem as regras.
Estava sempre no controle e por cima.
Literalmente. E em geral nem mesmo
tirava toda a roupa.
Pelo menos não a camisete.
Viu que já estavam em Tribeca perto
do rio Hudson. E, mesmo que estivesse
surpresa com sua arrogância, não iria ao
apartamento dele.
Não era tão tola.
– Desculpe, Diaz, mas estas são
minhas regras. Não vou para a sua casa.
A expressão dele não mudou.
– Certo. Quem disse precisamos de
uma cama?
Chelsea estremeceu. Só porque ele
era tão sexy estava ignorando sua
arrogância?
Não, era a confiança de Alex que a
tirava do sério, e, levando em conta sua
própria experiência passada, isso a
tornava um bichinho indefeso.
Entretanto, continuou imóvel. Calada.
Ele também. O motorista aguardava no
banco da frente separado por um vidro
fosco antirruído. Mas Chelsea tinha
certeza de que sabia o que os dois
pretendiam no banco de trás. Quem sabe
já estivera antes com Alex na mesma
situação, esperando que ele terminasse
seus... assuntos.
Sentiu as palmas das mãos suadas e
resistiu ao desejo de enxugá-las no
vestido. A voz de Alex sou firme:
– Venha cá, Chelsea.
Obviamente ela não devia se mover.
Não devia obedecer a um comando tão
absurdo. Claro que não. Na verdade,
devia lhe dizer o que fazer com sua
ridícula arrogância. Engolir...
Entretanto, se moveu como se seu
corpo tivesse vontade própria, e
deslizou no assento sem afastar os olhos
dele, o tecido da roupa fazendo um ruído
leve. Respirava depressa, e no silêncio
do carro era um barulho ensurdecedor,
revelador, mas nada podia fazer.
Alex a segurou pelos quadris, e com
um movimento ágil a colocou no colo,
entreabrindo suas pernas. O vestido
subiu até os quadris, e ela apoiou os pés
no assento.
Chelsea fechou os olhos. Podia sentir
o órgão intumescido de Alex mesmo sem
ele se mover, e esse contato já era
enlouquecedor. A respiração dele estava
apressada também. Chelsea se inclinou
para a frente com urgência.
Abriu os olhos. Alex a fitava, o rosto
ainda estranhamente inexpressivo. De
novo ela pressionou o corpo contra sua
ereção, e ele apertou as mãos em seus
quadris.
Com uma lentidão deliberada, passou
os dedos pela sua coxa sob o vestido, e
depois dentro da calcinha sem mudar de
expressão.
Ela prendeu a respiração e o coração
pareceu parar. Sentia a umidade entre as
pernas.
Alex começou a mover os quadris e
ela o acompanhou no mesmo ritmo.
Chelsea sentiu que iria gemer de prazer.
Queria mais. Mais carícias e beijos,
mais pele contra pele.
A outra mão de Alex a segurou pela
nuca, os dedos entremeados nos cabelos.
Chelsea sentiu que o coque apertado se
desfazia enquanto ele a via baixar o
rosto.
– Beije-me – ordenou de novo, mas
Chelsea percebeu o tom de desespero e
desejo em sua voz. Sem questionar, ela
obedeceu.
Suas bocas se uniram e logo Alex
tomou o controle como sempre,
deslizando a língua entre seus lábios
enquanto seus corpos se uniam.
Quase.
Chelsea arqueou as costas querendo e
precisando mais. A mão dele a segurava
por trás, e de repente seu pé escorregou
e ela se viu tombando de lado, batendo
com a cabeça no vidro da janela.
Teria sido engraçada essa visão –
tanta
intensidade
sensual
se
transformando
em
um
gesto
desengonçado –, se ela fosse uma outra
mulher, com um passado diverso. Se
assim fosse, se Chelsea vivesse em um
mundo diferente com outro tipo de vida,
tudo teria terminado em gargalhadas.
Alex perguntaria se estava bem, e
depois a faria se sentar de novo no seu
colo. Quem sabe até lhe daria um
beijinho onde batera com a cabeça.
Mas ela era Chelsea, com suas
lembranças, experiências, ansiedades e
medo. Piscou diversas vezes, se
encolhendo como se a colisão a tivesse
feito desmaiar. Sua cabeça não doía,
mas o coração sim. Agora seu corpo
ardia não de desejo, porém de vergonha.
O que andara pensando?
Percebeu que Alex não a ajudava a se
aprumar. Apenas a fitava, encurvada
sobre o assento, a cabeça presa de modo
ridículo de encontro ao vidro, o vestido
ainda erguido até os quadris.
Lágrimas de humilhação e raiva
encheram seus olhos e ela as engoliu.
Depois ajeitou o vestido.
– Movimento cheio de elegância –
brincou, feliz por ver que sua voz não
tremia. Pegou a bolsa.
Alex nada disse. Mal a olhava. A
mágoa que Chelsea sentiu foi tão aguda
que quase soluçou. Lutou com a
maçaneta da porta, os dedos trêmulos.
Alex segurou sua mão.
– Deixe-me levá-la para casa – disse
com suavidade. – Estamos parados no
meio do nada.
– Estamos em Manhattan – corrigiu
ela com aspereza. Sabia que a raiva era
sua melhor defesa.
– Então estamos no meio do nada em
Manhattan – acrescentou ele com calma.
A mão permanecia segurando a dela, e
Chelsea sentiu uma estranha serenidade.
Mas afastou a sensação, e se sentou
no assento em frente.
– Ótimo – disse com frieza como se
estivesse entediada com a companhia
dele, já que Alex devia estar entediado
de verdade com ela. Chelsea fitou a rua
pela janela enquanto ele mandava o
motorista prosseguir.
CAPÍTULO 4
ALEX ENCAROUa escuridão dentro da
limusine e refletiu sobre o que acabara
de acontecer. Segundos atrás Chelsea
estivera no seu colo, as mãos dele em
seus cabelos, as bocas unidas, e a
seguir...
Ela se esparramara no assento com
um olhar de horror e mágoa. Até agora,
no silêncio da limusine que percorria o
centro, ainda podia ouvir o rumor seco
da cabeça de Chelsea batendo contra o
vidro da janela. Um acidente estúpido,
sem dúvida na hora errada, mas nada de
catastrófico. Entretanto, ela o fitara de
um modo que o fizera se sentir...
sórdido.
Não, pior que isso. Ela o fitara como
se sua queda no assento fosse culpa
dele. Como se a tivesse empurrado,
usado e abusado da maneira como
Treffen fizera com inúmeras mulheres,
inclusive Sarah.
Alex passou as mãos sobre o rosto
cansado. Por certo estava exagerando.
Franziu a testa. Raios, Chelsea ficara
constrangida. Chelsea Maxwell não era
do tipo que cometia gafes, então cair e
ser desajeitada devia tê-la aborrecido
muito.
E sem dúvida acabara com o clima.
Momentos atrás Alex estivera a ponto
de perder o controle. Começara bem,
deixando claro para Chelsea que
estavam fazendo o jogo dele. E então a
sentira no seu colo, o corpo encostado
ao seu, a boca polpuda e macia, e sua
mente ficara vazia. De quase tudo.
Mais.
Ainda bem que terminara assim, Alex
decidiu.
Naturalmente desejara Chelsea na
cama. Ou na limusine. Porém, acima de
tudo, desejava se vingar de Treffen.
E a julgar por aquele olhar... e talvez
estivesse exagerando... sexo com
Chelsea seria mais complicado do que
imaginara.
Não, definitivamente fora melhor
assim. Uma pena que sua libido não
concordasse.
A limusine se deteve em frente ao
prédio de Chelsea, e Alex percebeu que
não falavam havia 15 minutos. Chelsea
alcançou a maçaneta e abriu a porta.
Virou-se para ele com os lábios ainda
inchados pelos beijos e os cabelos
caídos nos ombros. Seu sorriso era
zombeteiro ao fazer alusão ao incidente:
– E você disse que não gostava das
mulheres caindo aos seus pés.
Balançou a cabeça e, sem dizer mais
nada, desceu do carro.
Ele a viu caminhar para o prédio com
o porteiro alerta, o paletó dançando em
volta de sua silhueta alta e delgada.
Então se recostou no assento sentindo
um enorme cansaço.
– Para onde vamos agora, senhor? –
perguntou Eric, o motorista, enquanto
Alex fechava os olhos.
– De volta ao centro – respondeu ele
com um suspiro.
O CORAÇÃO de Chelsea batia forte e seu
corpo doía de desejo insatisfeito, mas
sua mente estava fria e clara enquanto se
afastava da limusine.
Fora por pouco.
Quase fora incrivelmente idiota... de
novo. Quase dormira com um homem
que desejava controlá-la. Que chegara a
controlar. E ela permitira.
Graças a Deus que perdera o
equilíbrio, por mais que isso também
tivesse sido idiota, e batera com a
cabeça. Servira para acordá-la.
Talvez não fosse forte o suficiente
para enfrentar um homem como Alex
Diaz. Era bom perceber que, quando
alguém como ele, carismático, poderoso
e arrogante, fazia um sinal com o dedo,
ela era capaz de vir correndo. Ou se
arrastando.
Lembrou-se de como deslizara no
assento e ele a pegara no colo. Poderia
ter pedido o que quisesse que ela, cega
de desejo, teria concordado.
Quase fizera isso.
Chelsea se lembrou de todas as coisas
ruins, sentindo um gosto amargo na
boca.
Nunca mais.
NA MANHÃ seguinte ela já tinha um
plano. Era isso que fazia sempre que a
vida saía de controle como na sua
infância. Ficarei quietinha. Dormirei
debaixo da cama. Fingirei ser invisível,
e ninguém me verá.
Infelizmente, nenhum desses planos
dera certo, mas o atual daria. Iria
ignorar totalmente Alex Diaz. Não o
veria de novo, não atenderia suas
ligações, não procuraria saber o que ele
tinha contra Treffen. Raios, era uma
jornalista. Descobriria por conta
própria.
Desse momento em diante, Alex Diaz
pararia de existir na sua vida real.
Não era uma boa demonstração de
força?
Exceto que esse plano também não
estava dando certo, porque durante a
filmagem de dois programas, várias
reuniões corporativas e uma com sua
equipe para obter novas ideias, sem
contar as horas no salão de beleza para
permanecer bonita, continuava pensando
em Alex. No brilho de seus olhos. Na
boca que podia ser dura ou suave. No
toque de suas mãos, fortes e firmes, na
sua nuca.
Venha cá, Chelsea. Beije-me.
E ela obedecera. Oh, como
obedecera.
Ainda o desejava. E, mais do que
isso, desejava consertar a vergonha que
passara diante de si mesma... e dele.
Queria que Alex rastejasse aos seus pés.
Como se isso fosse acontecer.
Mas se pudesse...
Então, quem sabe, daria atenção a ele
de novo, enquanto fosse do seu agrado.
Três dias após o encontro com Alex,
Chelsea deixou o trabalho às 17 horas
para se encontrar e jantar com a irmã
Louise, um acontecimento ainda estranho
que a deixava nervosa.
Após o desastre de trem na infância
das duas, perdera contato com Louise
por quase 15 anos. Então, havia alguns
meses, Louise a vira no Bate-Papo com
Chelsea... a reconhecera, apesar da
mudança de nome, dos cabelos tingidos
de castanho, da cirurgia plástica, e
entrara em contato.
Agora se encontravam para jantar uma
vez por mês, o máximo de intimidade
emocional que Chelsea aguentava. Não
gostava de se lembrar da infância nem
dos momentos terríveis, escondida
debaixo da cama. Quando criança tinha
medo e acreditava que só teria valor se
fosse bonita. Levara anos para se livrar
dessa crença. De vez em quando ainda
refletia se acreditava nisso. Sem dúvida,
em parte, sim.
Não havia como trabalhar em
televisão sem acreditar um pouco nisso.
As duas se encontraram, como
sempre, em um restaurante tranquilo no
Upper West Side. Louise já esperava
com uma pilha de redações à sua frente.
Era uma das mais jovens professoras
efetivadas
na
Universidade
de
Columbia. Seu rosto, em geral severo,
anguloso e forte, se contraiu em um
sorriso hesitante ao ver Chelsea.
– Aur... Chelsea.
Chelsea
sorriu
também,
mas
constrangida.
– Jamais dirá meu nome sem hesitar,
não?
– Desculpe. É difícil esquecer velhos
hábitos.
Louise se levantou, e Chelsea lhe deu
um abraço rápido. As duas se
acomodaram.
Louise balançou a cabeça devagar.
– Fazemos isso há quase seis meses e
ainda é estranho.
– Sei disso.
– Talvez porque você está tão
diferente agora.
– Pode ser.
Louise concordou com um gesto e
franziu os lábios. Refletiu que Chelsea
contara muito pouco sobre seu passado.
Tivera um homem que não fora bom. E o
modo
como
Louise
parecera
compreender fizera Chelsea imaginar
quais outros segredos ela guardaria. Que
sofrimentos. Talvez a infância das duas
as tivesse obrigado a tomar decisões
erradas.
– Então, alguma novidade? –
perguntou Louise animada. Retirou da
mesa a pilha de redações e colocou na
sacola aos seus pés.
– Na verdade, não.
– Não? – Louise arqueou as
sobrancelhas, esperou, e Chelsea deu de
ombros.
Desejava muito falar sobre Alex, o
que era absurdo considerando como
eram estranhos os jantares com a irmã.
Tinha dificuldade até de falar sobre o
tempo! Não iria despejar suas aflições
sobre essa quase estranha, mesmo
lembrando-se do modo como Louise a
embalava para fazê-la dormir quando
eram crianças, ambas solitárias,
temerosas e extremamente infelizes.
– E você? – perguntou Chelsea
exagerando na animação e simpatia.
Merecia um Oscar pelo modo como era
doce com as celebridades, mas não
conseguia fazer o mesmo com a irmã. –
Alguma novidade na sua vida?
Louise sorriu com frieza e discordou
com um gesto.
– Palestras e pesquisas. É quase só
isso na minha vida.
– E está contente assim? – insistiu
Chelsea, de repente curiosa. Vivia para
o trabalho, e imaginava se a irmã
também era assim.
– Sim. Fica tudo mais fácil, não acha?
Chelsea aquiesceu com um gesto de
cabeça e ambas ficaram em silêncio por
um momento. Não haviam compartilhado
muita coisa, e estavam apenas
recomeçando o relacionamento.
Louise remexeu na salada e depois
perguntou com um surpreendente brilho
malicioso no olhar:
– Então “na verdade, não” nada tem a
ver com a foto que vi de você e Alex
Diaz?
Chelsea ficou imóvel.
– Que foto?
– Em uma revista de fofocas...
– Você lê essas coisas?
Louise deu de ombros, dessa vez com
um olhar realmente divertido. Chelsea
jamais a vira tão descontraída.
Suavizava as linhas severas de seu
rosto, e a iluminava de dentro para fora.
– Quando aparecem na minha frente.
Essa que li estava no grêmio estudantil...
Chelsea suspirou, comentando:
– Não demorou muito.
– Então está saindo com ele?
– Não. Foi apenas um encontro de
trabalho.
Louise mordeu o lábio com os olhos
ainda brilhando, mas nada disse.
Chelsea tinha consciência de que as
duas nunca haviam trocado confidências,
nem mesmo quando crianças.
– O que foi? – perguntou Chelsea por
fim, irritada, porque Louise continuava a
sorrir.
– Ficou vermelha.
– Claro que não... – replicou Chelsea.
Nunca ficava vermelha. E, mesmo
negando, sentia o rosto quente. Só em
mencionar Alex ficava corada e com o
corpo pegando fogo. E o coração
dolorido. Tomou um gole de água e
tentou se acalmar. Podia falar sem
piscar em rede nacional sobre os
problemas de impotência sexual de um
astro de Hollywood, mas, quando
pensava em Alex Diaz, mesmo de modo
inocente, tudo mudava.
O que estava errado com ela?
– Desculpe – murmurou Louise. –
Não deveria provocá-la. Na verdade,
não somos íntimas para isso.
Sim, não eram. Mas Louise jamais a
provocara quando criança. Abraçava
Chelsea, embalava, e de vez em quando
a afastava. Mas a vida, na época, não
permitira brincadeiras, e o tempo era
muito precioso para provocações.
– Façamos uma troca, então – disse
Chelsea por fim. – Conte-me alguma
coisa que não sei ao seu respeito. Sobre
um homem.
Louise fez um gesto descartando a
ideia.
– Não há nada a contar.
– Deve ter tido um namorado ou algo
assim – insistiu Chelsea de bom humor.
– Nos últimos 15 anos?
A expressão de Louise se tornou
sombria, e toda a alegria desapareceu.
– Ninguém – respondeu com
brevidade. – Há muito tempo.
Chelsea achou melhor não insistir.
Lembrou-se da infância e da distância
entre as duas: ela com seus cachos
louros, e dominada pela ambição da
mãe. Louise, tímida e gaga, sempre
posta de lado. Ambas haviam sofrido.
Sua mãe, Diane, morrera quando
Chelsea tinha 16 anos. Louise era
apenas 18 meses mais velha, e cada uma
seguira seu próprio caminho. O serviço
social não se interessara por duas
adolescentes que moravam em um
acampamento de trailers. Chelsea
imaginava como teria sido sua vida se
tivessem ficado juntas. Ajudado uma à
outra. Mas não se demorava nessas
divagações. Não valia a pena.
Afinal, no momento se viam bastante,
até demais.
– Bem, me avise quando o cenário
mudar – disse Chelsea, e Louise
murmurou:
– Não vai mudar.
Chelsea analisou o queixo firme e as
olheiras da irmã. Imaginou o que teria
lhe acontecido 15 anos atrás que a
deixara tão desconfiada. Nenhuma das
duas jamais mencionava esse espaço de
tempo em que haviam ficado separadas,
e também não discutiam sua infância.
Nenhuma delas queria lembrar das
incertezas, da raiva e do medo.
Nenhuma falava dos namorados de
Diane, bêbedos e desempregados, com
quem ela gostaria de casar. Imagine!
Chelsea não lembrava de todas as tristes
figuras que a mãe trazia para casa,
porém sabia que nenhum desejara se
tornar seu pai.
Principalmente quando a mãe a estava
sempre preparando para outro concurso
de beleza infantil. Usando saltos muito
altos e um vestido muito justo cheio de
brilhos e babados, o rosto pintado como
o de uma prostituta com apenas 6 anos,
chamara a atenção dos bêbedos de
Diane. E alguns não resistiam.
Graças a Deus tivera Louise. A mais
velha tentara protegê-la contra os
avanços lascivos de um dos namorados
da mãe em várias ocasiões, e
conseguira. Quase sempre.
Porém, quando o perigo passava,
Louise afastava Chelsea como se
estivesse zangada com ela.
Não, nunca tinham sido íntimas. Mas
precisavam uma da outra, e talvez ainda
precisassem.
ALEX AP ERTOU uma tecla e o rosto de
Chelsea
congelou na
tela
do
computador. Uma estrelinha de cinema
soluçava no sofá cor-de-rosa e Chelsea
a fitava com compaixão, expressão
triste, e lenços de papel na mão. Porém,
seus olhos continuavam frios como aço.
Era boa no que fazia, Alex admitiu,
muito boa.
Possuía um calor e vibração que ele
experimentara na pele. As pessoas eram
atraídas por ela, para o seu sofá, e
ficavam prontas a fazer confidências. E,
quando se sentiam compreendidas,
aceitas, Chelsea despejava sua bateria
de perguntas contundentes:
E isso foi quando teve um caso com
ele?
Roubar era uma grande tentação?
Diria que tinha um problema de
alcoolismo?
Eram perguntas sempre feitas em tom
de compaixão e sinceridade como se
Chelsea prometesse a salvação para
todos. A absolvição. E confiavam nela,
amavam-na, mesmo quando ela os fazia
caminhar sobre as brasas de seus
próprios pecados.
Ela era uma profissional, mas daria
conta de Jason Treffen?
Queria dar conta?
Chelsea admitira não pretender que a
entrevista com Treffen fosse uma novela
chorosa como as outras. Entretanto, será
que iria expor o entrevistado? Isso
poderia selar sua carreira de jornalista
séria, mas acabaria com seu talk show
na AMI. Treffen poderia levá-la aos
tribunais. Sem dúvida pretendia fazer
com que ela assinasse um acordo antes
para fazer perguntas previamente
aprovadas. Mesmo assim, Alex ainda
não confiava o suficiente em Chelsea
para contar a verdade.
Para lhe dar controle.
Suspirou, fitando a tela com Chelsea.
Ela usava uma blusa branca e fina, e
uma saia justa cinza. As longas pernas
se inclinavam para um lado enquanto seu
torso pendia para a entrevistada como se
bebesse suas palavras... Quem era
mesmo a atriz? Uma aspirante a
Hollywood que fora pega em uma
situação comprometedora.
Chelsea estava serena e profissional,
mas ele lembrava como agira na
limusine antes de escorregar do seu
colo. Os olhos cheios de desejo, os
lábios entreabertos. Desejara-o, estivera
ponta para ele, e dera tudo errado.
Uma mensagem chegou pelo celular e
Alex viu que era de Austin perguntando
sobre seus progressos com Chelsea.
Ele digitou um texto rápido. Estava
agindo.
Frustrado, Alex girou na cadeira.
Ainda não conseguira nada com Chelsea
Maxw el l . Precisava superar. Devia
pensar exclusivamente em Treffen. Em
Sarah. Em vingar sua morte.
E quanto a Chelsea? Pouco ligava.
Era Sarah quem importava. Sarah,
cuja memória o assombrava.
Sabia que Hunter e Austin sentiam o
mesmo. E Katy; afinal, era a irmã de
Sarah. Tanta gente querendo levar
Treffen aos tribunais. Treffen já perdera
a família e estava para perder o
emprego, mas Alex sabia que não era o
suficiente. O homem precisava pagar
publicamente.
Lembrava-se da primeira vez que
Sarah viera falar sobre o assunto. Ele
estava ocupado com um artigo... o perfil
de algum herói corporativo... e ela, com
os cabelos despenteados cobrindo parte
do rosto e a boca torcida, dissera: Às
vezes esses heróis corporativos não são
tão perfeitos.
Ele percebera que ela falava de
alguém em particular. Sim, todos têm
esqueletos no armário. Em quem está
pensando?
Ela dera de ombros. Talvez Jason
Treffen não seja o santo que parece.
E Alex rira. Pensara que ela estava
brincando.
Será que a essa altura Treffen já a
arrastara para seu grupo de garotas de
programa?
Agora Alex podia imaginar como
acontecera. Você é tão meiga, Sarah.
Tenho um cliente que precisa de um
toque feminino, tente agradá-lo por
mim. Vá jantar com ele...
E quando Sarah percebera o que
estava acontecendo já era tarde demais.
E ficara envergonhada e assustada
demais para protestar. Para procurar
ajuda.
M a s procurara Hunter. Austin. Ele,
Alex, seu grande amigo, e de nada
adiantara.
Mas agora adiantaria. Não podia
ressuscitar Sarah, porém vingaria sua
morte. Podia arruinar Treffen.
Com a ajuda de Chelsea.
Precisava revê-la. Não havia
discutido sobre Treffen no jantar, e isso
fora um erro. Talvez, se tivesse parado
de pensar em levá-la para a cama, ele
pudesse tê-la do seu lado agora, em vez
de zangada.
Mas Alex consertaria a situação.
Precisava. E de repente soube como.
Estivera tão focado em se mostrar no
controle que perdera sua meta de vista.
Fora estúpido, cego, mas da próxima
vez que visse Chelsea manteria as
rédeas... e ela nem perceberia.
TRÊS DIAS após seu jantar com Alex,
Chelsea estava de pé perto do set de
filmagem de Bate-Papo com Chelsea,
revendo os cartões com as perguntas,
enquanto um dos produtores acalmava a
convidada do dia para fazê-la sair do
camarim. Parecia que a moça ficara com
medo, e Chelsea não se surpreendia;
muitos convidados ficavam em pânico e
na última hora não queriam entrar no ar
e contar seus segredos.
– Olá, Chelsea.
Ela ficou tensa e quase deixou cair os
cartões. Virou-se devagar e se viu de
frente com Alex Diaz em um elegante
terno cinza, as mãos enfiadas nos bolsos
da calça, sorrindo levemente e de modo
misterioso, lindo demais para sua
própria segurança... e a dela.
– O que faz aqui?
– Apreciando seu programa. Queria
vê-lo ao vivo. Ver você em ação.
Ela não detectou nenhum duplo
sentido nas suas palavras, embora não
acreditasse na explicação. Por que a
procurara de novo? E por que ela
precisava se sentir tão animada com
isso?
Apontou para os assentos na frente do
palco.
– A plateia do estúdio senta-se ali.
– Pensei em assistir daqui.
Chelsea estreitou os olhos. Os
bastidores eram restritos ao pessoal da
emissora.
– Quem o deixou entrar?
– Pisquei o olho para os seguranças.
Ela quase riu, mas se conteve.
Entretanto, não conseguiu deixar de
torcer a boca, e ele notou.
– José foi o que mais sucumbiu ao
meu charme. – Alex continuou com a
brincadeira.
José tinha um 1,80 m de altura e
pesava mais de 100 quilos.
Chelsea pensou na cena, e o riso
quase escapou e a fez engasgar. Tampou
a boca com a mão. Alex já era perigoso
sem acrescentar graça na mistura.
– Qual é a razão para ver meu
programa? – perguntou mantendo a voz
calma. – Treffen?
Ele se aproximou e ela sentiu o
perfume da loção pós-barba que a fazia
desejá-lo de um modo que já se tornara
conhecido. Poderia se afogar nesse
momento como ele na piscina da escola.
– Quero assistir porque estou
interessado – murmurou Alex para que
apenas ela o ouvisse –, mas
principalmente queria vê-la.
Ela balançou a cabeça sem
convicção. Ele ali. Querendo vê-la.
– Não.
– Não o quê?
– Não sei, mas não – repetiu ela,
balançando a cabeça de novo. – Não
para tudo. – Uma resposta incoerente e
chula, mas a única que podia dar.
– Também vim pedir desculpas.
Isso era raro.
– Por quê? – quis saber Chelsea.
– Não tenho certeza, algo a assustou
na limusine, e...
– Não me assustei.
– Então se irritou – emendou Alex
com serenidade.
Chelsea fez um gesto com a cabeça.
De novo. Onde estava seu encanto, sua
segurança? Precisava ter isso de volta.
– Apenas mudei de ideia, Alex.
Acredito que isso lhe aconteça com as
mulheres de vez em quando.
– Na verdade, nunca aconteceu.
Chelsea ergueu os olhos com
impaciência.
– OK, machão. Desculpe desapontálo, mas decidi não ser seu bichinho de
estimação.
– Quem disse que eu desejava isso?
Ela lhe lançou um olhar duro.
– Tudo é controle para você, não?
Tenho certeza de que algumas
consideram isso muito sexy, mas eu não.
Mentirosa. Ela considerava, sim, e
ele sabia.
Entretanto, nada disse. Apenas a fitou
com expressão misteriosa, a boca
apertada.
– Vamos entrar no ar em cinco
minutos, Chelsea.
Ela aquiesceu com um gesto de
cabeça para o assistente de produção, e
a maquiadora se aproximou para um
último retoque.
– Tanya já saiu do camarim? –
perguntou para o assistente, que lhe
lançou um olhar nervoso.
– Quase.
– Quem é sua convidada de hoje? –
perguntou Alex. – Uma modelo de
lingerie que tirou toda a roupa?
– Essa foi ontem – disse Chelsea,
feliz por estar com a maquiagem em
ordem. – Tente se atualizar. Hoje é
Tanya Hart, a estrela da garotada que foi
multada por dirigir bêbeda.
– Isso não é muito escandaloso, é?
– Tanya só tem 14 anos.
– Agora compreendo.
O sorriso de Chelsea não atingiu seus
olhos.
– Vou começar, Alex. Obrigada por
vir. Espero que goste.
– Tenho certeza que sim. – Ele deu
um passo na sua frente com os olhos
brilhantes.
– Acha que sou controlador? Você
também é.
– E é por isso que não caio na sua
armadilha. – O coração dela batia forte.
– Talvez isso mude o cenário. Quem
sabe eu permita que comande.
– Permitir? – perguntou ela quase
sem fôlego.
– Sim.
Então ele continuaria no controle.
Apenas afrouxaria as rédeas um pouco.
Não, obrigada.
A menos que...
Se ela conseguisse fazê-lo perder o
controle de verdade. Deixá-lo de
joelhos...
– Fica excitada, não? – murmurou ele,
e ela sorriu de má vontade.
– Um pouco.
– Dois minutos, Chelsea – gritou o
assistente.
Ela acenou para o rapaz e encarou
Alex, que continuava a fitá-la com
seriedade. Tensão sexual. Cada nervo
de Chelsea estava tenso. Mas negar
talvez não fosse o ideal. Nadara
naquelas águas perigosas por muito
tempo. Iria admitir a atração e lidar com
ela.
Faria Alex implorar.
Respirou fundo e aquiesceu com um
gesto de cabeça e o queixo duro:
– Muito bem. Encontre-me aqui
depois do programa.
– Estarei esperando – respondeu ele,
arqueando as sobrancelhas.
Acenando de novo, ela caminhou para
o cenário da gravação, ansiosa,
preocupada e furiosa.
Tanya já estava sentada no sofá de
olhos arregalados e lenços de papel na
mão. Estava pronta para chorar,
confessar e ser absolvida por Chelsea e
pelo público. Era assim que funcionava
o programa: chore e se purifique. Ser
entrevistado no Bate-Papo com Chelsea
era a maneira mais rápida de limpar uma
imagem enlameada.
Irônico, não?
Chelsea se sentou na frente de Tanya,
tentando se concentrar enquanto ajeitava
o microfone. Seus ouvidos zuniam.
Tanya sorriu com timidez, e Chelsea
correspondeu. Pelo menos pensou ter
sorrido. Estava frágil, uma descarga
elétrica atravessava seu corpo.
Desmoronando.
Precisava ser forte de novo, e
conseguiria isso dormindo com Alex.
Ele podia dizer que a deixaria controlar,
mas ela viraria o jogo para sempre.
Faria com que implorasse. Desejasse.
E isso acabaria com o encanto que
Alex exercia sobre ela.
Respirou fundo, fechou os olhos e
relaxou. Era um exercício que aprendera
havia dez anos, após o ataque, quando
ficara tão tensa que começara a perder
os cabelos.
Isso e as cicatrizes a haviam feito se
sentir muito feia.
Mas ela se libertara desse horror,
trabalhara muito para ser menos ansiosa,
fizera cirurgia reparadora e aprendera
lutas de autodefesa.
Conhecera Michael, que lhe dera a
grande chance, e há dez anos trabalhava
como louca.
Não arriscaria tudo por causa de Alex
Diaz. Fazer seu joguinho de submissa a
lembraria de como fora patética, ansiosa
por agradar.
Nunca mais.
Provaria isso.
– Trinta segundos.
Abriu os olhos e sorriu de novo para
Tanya enquanto a música de abertura
soava. Sentiu-se calma de novo como se
colocasse de volta a máscara familiar,
seu disfarce seguro.
Chelsea Maxwell estava no ar.
CAPÍTULO 5
ASSIM
o programa terminou
Chelsea desapareceu do local de
filmagem. Seu rosto lindo tinha uma
expressão determinada, o que deixou
Alex curioso... e muito excitado também.
Havia algo na sua atitude de durona
de que gostava muito. Desejara vê-la
perder as estribeiras na outra noite, mas
agora imaginava como ela seria ditando
as regras.
Ou pensando ditar.
Veria por quanto tempo deixaria o
QUE
joguinho prosseguir. Se obtivesse o que
queria... a confiança de Chelsea...
valeria a pena. Poderia ser muito
interessante... e agradável.
Ela parou na frente dele, deixando ver
uma parte ínfima da camisete de renda
creme sob a camisa branca. Usava
sapatos de couro preto com saltos muito
altos, além da saia justa, e se estivesse
de lingerie vermelha não conseguiria ser
mais sexy.
Chelsea estreitou os olhos e colocou
as mãos nos quadris.
Alex ficou em silêncio, franzindo a
testa com curiosidade.
– Vamos – disse, e ele concordou,
divertindo-se com a sua atitude
mandona, e pensando até onde ela
chegaria. Aonde a deixaria chegar.
Porque podia conceder um pouco de
controle para Chelsea, mas era uma
concessão. Pretendia ser sempre quem
comandava.
Sempre.
– Para onde vamos? – perguntou, ao
deixarem o estúdio.
– Meu apartamento – respondeu ela.
– Boa escolha.
Não falaram ao deixar o prédio,
porém Alex sentia a tensão. Era uma
nova experiência para ele que o deixava
elétrico. Há quanto tempo não se sentia
tão vivo?
Não lembrava nem queria lembrar.
À porta dos escritórios da AMI
Chelsea chamou um táxi, erguendo o
braço delgado e a expressão
determinada.
– Não parece contente – observou
Alex, entrando com ela no carro que
parara junto à calçada.
Chelsea sorriu com falsa doçura.
– Acredite, estou.
Alex sorriu também.
– Bem, estou me divertindo.
– É bom saber.
Enquanto seguiam, ela checou seu
celular. Alex a observava, divertido; ela
tratava de um assunto de negócios atrás
do outro.
Gostava de uma mulher assim. Não
precisaria se preocupar com rompantes
emocionais por parte de Chelsea.
Tomava cuidados com suas parceiras de
cama, porém às vezes cometia um
engano.
Dormira com uma mulher que pensara
e m relacionamento. Alex não tinha
relacionamentos. Vira os problemas com
sua mãe, e o sofrimento de Sarah. Sexo
era sexo: essencial, divertido, acabando
ao amanhecer. Geralmente antes.
Tinha certeza de que Chelsea pensava
assim também... ou quase.
Dez minutos depois estavam no
prédio de Chelsea e subindo o elevador.
– Cobertura? – perguntou ele, e ela
aquiesceu com um gesto de cabeça,
enquanto Alex apertava o botão.
Não conversaram enquanto subiam
para um saguão de mármore preto e
branco que dava para uma sala decorada
também inteiramente em preto e branco.
Alex se deteve diante de uma enorme
tela branca com linhas negras de cima a
baixo.
– Não sei se compartilho do seu gosto
em arte.
– É uma peça de colecionador –
replicou Chelsea, retirando o casaco e
pendurando-o em um armário. Até agora
se mostrava muito controlada. Ele
refletiu se perderia o controle em algum
momento.
Perdera na limusine. Ele comandara
dizendo para ela se aproximar, e ela
viera com a boca entreaberta e cheia de
desejo. Queria ver isso acontecer de
novo fosse lá quem ficasse no controle.
Calma no momento. Havia muito em
jogo para se deixar levar pela paixão.
– Vale mais de cem mil dólares –
comunicou ela, e Alex voltou a fitar a
tela.
– Lamento dizer, mas acho que você
foi enganada.
– Tenho certeza que não. – Parou na
frente dele e cruzou os braços sobre o
peito, enquanto Alex aguardava,
arqueando as sobrancelhas.
– Tire a roupa, Alex.
Ele riu, surpreso e muito excitado.
– Não é muito criativa, Chelsea, mas
obedecerei.
– Claro que sim. – Ela se aproximou e
afrouxou o nó da sua gravata com dedos
experientes. A gravata foi retirada, e
Alex começou a ficar excitado.
– Pensei que eu deveria me despir,
mas fico contente que esteja fazendo o
trabalho por mim. Muito contente.
– Só estou ajudando – murmurou ela.
A seguir foi o paletó.
– Já que estamos sendo tão
profissionais e formais, pode pendurar?
– pediu ele.
Mas ela apenas atirou o paletó para
longe. Alex riu.
Ela estreitou os olhos, aborrecida,
enquanto ele continuava com muita
roupa. Não queria aborrecê-la, porém
Chelsea tinha muito a aprender sobre
controle.
Parecia uma criança tentando pegar
todos os brinquedos.
Mas não deixava de ser sexy.
– E agora? – perguntou Alex,
enquanto ela continuava estreitando os
olhos.
– Camisa.
– Certo. – Alex desabotoou e atirou a
camisa para perto do paletó, enquanto
Chelsea observava todos os seus
movimentos. – Feliz?
– Ainda não.
– Imagino o que virá agora.
– Imagino que sim.
Alex desafivelou o cinto e o retirou,
produzindo um rumor suave que fez as
pupilas de Chelsea brilharem. Ela
deixou escapar um suspiro.
E pensava estar no controle.
Alex enrolou o cinto em uma das
mãos e arregalou os olhos, perguntando:
– O que faço com isto?
– Jogue na pilha – comandou ela com
a voz tensa. Interessante. Ele atirou o
cinto ao chão e Chelsea relaxou, os
ombros ligeiramente arqueados.
– E agora?
– Continue, Diaz.
Ele abriu a braguilha, sentindo a
própria ereção. O strip-tease estava
afetando os dois. Baixou a calça até os
tornozelos. Não era a visão mais
sofisticada, porém ele pouco se
importava.
– Percebo que não quer criar um
clima romântico? – quis saber, ao vê-la
sorrir com malícia diante de sua ereção.
– Estou criando o clima.
Ele baixou a cabeça.
– Tudo bem.
– Tire a cueca.
– Não quer fazer isso por mim? –
provocou Alex.
– Não, faça você mesmo.
Alex fitou os pés.
– Sapatos.
Percebeu que Chelsea hesitava. Não
queria ficar de joelhos na sua frente;
seria um sinal de submissão e perda de
controle.
– Creio que podemos resolver isso –
murmurou ele, decidindo concordar com
ela no momento. Sorriu e chutou os
sapatos para longe junto com a calça. –
Mas posso precisar de ajuda com as
meias.
Chelsea se aproximou com os olhos
brilhantes e baixou a cueca de Alex.
– Pode ficar com as meias.
Então ele despiu apenas a cueca,
chutando-a para longe.
Chelsea passou os dedos pela ereção.
A pele era suave, e o órgão enrijeceu
ainda mais.
– Impressionante, Alex.
– Muito obrigado.
Ela deu um passo atrás. Alex estava
apenas de meias com uma majestosa
ereção. Acenou para as roupas dela,
sentindo a maior excitação de sua vida.
– Não vai se despir?
– Tudo a seu tempo. – Chelsea tornou
a cruzar os braços sobre o peito, e ele
riu. Então era assim que ela
demonstrava controle?
– Tudo a seu tempo – repetiu ela, mas
começou a desabotoar a blusa branca
caminhando para ele.
O simples gesto dos dedos delicados
desabotoando as casas era muito
erótico, incrível. O desejo percorria o
corpo de Alex como uma corrente
elétrica.
Ela retirou a blusa, exibindo a
camisete de renda branca e tiras finas
que cobria muito bem os seios, deixando
tudo a imaginar... e, oh, ele imaginou.
Queria segurar os seios arredondados,
retirar a camisete pela cabeça de
Chelsea e tocar sua pele nua. Que o
controle fosse para o inferno.
Mas se controlou e a observou descer
o zíper da saia justa com um som seco
em meio ao silêncio. A saia deslizou
pelas pernas cobertas pelas meias, e ela
sorriu do seu modo provocador,
afastando a peça de roupa.
Alex engoliu em seco de maneira
ruidosa. Chelsea usava calcinha branca
de renda que cobria o início das coxas,
meias transparentes, e ligas. Ligas.
Além dos saltos altos. Jamais vira uma
mulher tão sensual, e ela sabia disso.
Aliás, Chelsea estava adorando tudo.
Aproximou-se dele com os saltos
fazendo um ruído sexy sobre o assoalho,
e esfregou os seios em seu peito, a seda
da camisete fazendo cócegas.
Ela passou os dedos pelo seu peito e
Alex estremeceu. Chelsea perguntou,
ampliando o sorriso e arqueando as
sobrancelhas:
– Gosta?
– Gosto quando me toca.
Então ela apertou o órgão intumescido
o suficiente sem fazer muita pressão,
murmurando:
– E isto?
Alex quase gemeu. Fechou os olhos
sem perceber.
– Sim, gosto também.
Queria tocá-la, sentir a maciez de sua
pele. Enlouquecê-la como ela o
enlouquecia. Mas resistiu. Controle
agora significava deixá-la no comando,
ver até onde ia com seu pequeno
espetáculo de poder.
Ganhar sua confiança... e de
preferência não se perder no processo.
Ela continuou a massagear seu órgão,
e Alex projetou o corpo para a frente no
desejo de penetrá-la. Ela riu de leve e
pela primeira vez Alex pensou em
acabar com a brincadeira.
Chelsea estava se divertindo demais.
– Paciência, Alex.
Sua voz, ele observou, estava apenas
um pouco trêmula. Estava tão excitada
quanto ele, mas o deixava esperar.
Chelsea ficou por trás dele, acariciou
suas costas e disse:
– Quarto.
– Que bom – retrucou ele, e rumaram
para o quarto com Chelsea o
empurrando pelas costas.
Alex se deteve diante de uma cama
king size com lençóis de cetim branco, a
cidade surgindo em volta através das
enormes janelas em três paredes. Ela o
empurrou para a cama, e Alex cairia em
cima do colchão sozinho se não torcesse
o corpo, pegasse a mão dela, e a fizesse
cair junto.
Ficou deitado de costas e Chelsea em
cima.
– Agora está melhor.
– Verdade – murmurou ela,
escondendo a irritação por ter sido
jogada na cama também, mas se
erguendo nos joelhos e montando sobre
Alex.
Alex quase perdeu a noção de tudo ao
senti-la por cima, experimentando um
desejo primitivo que não queria
esconder nem negar.
Ela riu de leve, provocando e
pressionando os quadris de Alex com os
joelhos, mas de um modo que só
roçavam os corpos.
– Estamos quase lá, Alex – assegurou.
Queria tanto quanto ele, embora fingisse
calma. Alex quase praguejou. Estava
praticamente enlouquecido, e queria
penetrá-la, e logo.
Chelsea balançou a cabeça com um
risinho provocador.
– Paciência, lembra?
– Lembro – murmurou ele. Raios.
Estava justamente prestes a perder a
paciência.
Ela se inclinou para a frente e roçou
os seios no rosto dele. Alex gemeu,
enquanto
Chelsea
retirava
um
preservativo do criado-mudo. Ele
estendeu os braços para pegá-lo, mas
Chelsea se esquivou, prendendo seus
braços sobre o colchão.
– Quê? Não posso nem tocar você?
– Oh, sim, pode. – Chelsea ergueu a
mão, abriu o envelope com os dentes e,
vagarosamente, colocou o preservativo
em Alex. – E eu posso tocar você –
murmurou, retirando a calcinha e se
deitando sobre ele.
– Chelsea... – O nome deixou os
lábios dele com um gemido, um pedido,
enquanto mergulhava dentro dela,
ajeitando os quadris para um acesso
melhor.
– Estou quase lá – sussurrou Chelsea
cheia de desejo, e ele notou sua
satisfação. Agora o tinha onde queria,
por baixo e suplicante.
Muito bem. Ele imploraria. Pelo
menos dessa vez imploraria com seu
corpo. Segurou-a pelos quadris e deu
uma investida firme.
Ela começou a se mover mais
depressa, atirou a cabeça para trás e
colocou as mãos na nuca. Ambos
estavam prestes a perder o controle, e o
joguinho de poder já não tinha sentido
para ele.
Então parou de raciocinar e se
entregou até o final, quando Chelsea
sufocou um grito de prazer. Ela deixou a
cabeça pender para a frente, os cabelos
roçando o peito dele, enquanto a
respiração voltava ao normal.
Antes que o último tremor
desaparecesse, ela rolou o corpo para o
lado, e colocou a calcinha com dedos
trêmulos, um brilho de triunfo nos olhos.
– Sabe onde fica a porta – avisou, e,
sem olhar para trás, rumou para o
banheiro, deixando-o satisfeito e
cansado na cama.
Mas Alex só ficou deitado por mais
um segundo antes de arrancar o
preservativo e pular da cama com
agilidade. Agarrou-a pelo pulso,
sentindo a pele macia e fria.
– Ideia interessante, Chelsea, mas
nossa noite não terminou ainda.
Ela o fitou com desdém, embora Alex
sentisse seu tremor, e respondeu:
– Para mim terminou.
Alex sorriu e balançou a cabeça sem
largar seu pulso.
– Não chegamos nem perto.
– Não fico de conversinhas depois do
sexo.
Ele ampliou o sorriso sem deixar de
fitá-la.
– Também não.
Ela se livrou com um repelão.
– Então terminamos por aqui.
Alex a segurou pelos ombros, e a fez
encará-lo.
– Não, não terminamos.
CHELSEA VIU a determinação no rosto de
Alex e sentiu uma emoção desconhecida.
Não sabia que emoção era, porém não
queria reconhecer.
Excitação. Pura e simples excitação
sexual. Então agora ele queria um pouco
de controle. Raios, ela concederia.
Conseguira seu intento. Fizera Alex
implorar e se submeter, e isso lhe dera
um prazer fora do comum, o maior
orgasmo de sua vida.
Entretanto, ainda queria mais, assim
como ele.
Não era assustador? Ergueu o queixo,
fitou Alex, mas ele nem piscou.
– Tem certeza de que está pronto para
uma segunda rodada, companheiro? –
brincou.
Alex mostrou os dentes como uma
fera.
– Definitivamente.
Chelsea não respondeu. Fora estúpida
por desafiá-lo e mais ainda por sentir
essa súbita emoção.
– Muito bem – murmurou, fingindo um
tédio que estava longe de sentir, e
voltando para a cama. – Está pronto?
Ele riu de mansinho.
– Você é uma figura, Chelsea, mas
agora é minha vez. Levante-se.
Ela não se moveu, mesmo querendo,
ansiando
por
obedecer. Estúpida,
estúpida, estúpida.
– Disse que não faria seus joguinhos,
Alex.
– Tudo com você é um jogo. Mas quer
ficar deitada na cama fingindo tédio?
Certo, posso lidar com isto.
Maldição. Chelsea se metera em
apuros. Sentou-se.
– Lamento, mas não dou bis.
Com gesto lento Alex a ergueu da
cama, e Chelsea não resistiu.
– Não será um bis, Chelsea.
Alex a fez se erguer da cama, e ela
sentiu o calor de sua mão.
– Você se excita com isso, Alex?
Essa história de controle?
– Você acabou de fazer isto.
Entretanto, não se preocupe. Não a
obrigarei a fazer nada que não deseje.
Estou longe de ser esse tipo de homem.
– Fitou-a com atenção. – Mas você está
assustada...
– Não estou.
– Então está furiosa porque acha que
a obrigarei a fazer coisas que não quer.
Não é isso?
– Tente – retrucou ela em tom de
bravata. Sabia muito bem que Alex
poderia forçá-la se quisesse. E isso era
bastante assustador e perigoso.
– Oh, tentarei. Você quase não atingiu
o clímax, Chelsea, lutou contra. O que
foi aquilo?
– Eu me diverti – respondeu ela muito
tensa. Como Alex, no meio de um
orgasmo, percebera isso? Chelsea
sempre detestara ficar vulnerável e se
deixar levar demais pelo clímax. Não
era puritana; gostava de sexo. Mas
sempre terminava depressa. E com ele
nem mesmo se controlara. Seu corpo
simplesmente assumira o controle
respondendo com um ímpeto jamais
sentido antes.
– Quero que se deixe levar – disse
Alex cheio de promessas na voz. –
Quero que perca a razão, senão será um
insulto à minha virilidade.
– Oh, por favor. – Ela tentou
recuperar a compostura e o ar de
desdém. Mas não conseguiu.
– Gosto quando pede por favor –
disse Alex, segurando-a pelo ombro sem
deixá-la se mover.
Ela o encarou com raiva, os lábios
apertados, mas o corpo quente.
– Então se trata do seu ego?
– Se meu ego for uma questão de
querer que você sinta o prazer
plenamente, então é isso, sim.
– Senti prazer, Alex, ao vê-lo por
baixo do meu corpo, gemendo e
pedindo. Acredite, gostei muito.
Ele sorriu com frieza.
– Está acenando com a bandeira
branca?
– Estou apenas dizendo a verdade.
– Também posso fazer isso.
Ele a beijou na boca.
Apenas um beijo, mas foi um choque
para Chelsea como se mergulhasse na
água fria. Ficou imóvel, mas alerta.
Sentindo toda a pressão de seus lábios e
língua.
Ele sabia beijar. Foi com muita força
de vontade que Chelsea evitou enlaçar
seu pescoço. Queria sentir o corpo dele
de novo, porém resistiu. Por orgulho.
Por medo, ou por desespero de não se
dar... não se perder... para esse homem
que a afetava tanto.
Alex ergueu a cabeça, e ela quase
gemeu de frustração porque o beijo
terminara.
– Vai me dar trabalho, não? –
perguntou Alex.
Chelsea se forçou a sorrir.
– E achou que não daria?
Então ele trabalhou. Voltou a beijá-la
deslizando a língua pelos seus lábios,
penetrando ali e fazendo-a sofrer de
desejo. Ficar viva.
Ela continuou imóvel, os lábios mal
abertos. Não facilitaria a conquista, e
jamais deixaria que Alex percebesse o
quanto desejava essas carícias.
Desejava-o.
Mas por certo ele sabia. Sentia o
calor do corpo dela embora ela negasse.
E tarde demais Chelsea descobriu que
deixava escapar leves suspiros e
gemidos no quarto silencioso.
– Resiste para valer – comentou ele
com os lábios próximos aos dela,
deslizando a mão e apertando suas
nádegas. – Por que tem tanto medo do
prazer total?
E havia uma surpreendente ternura em
sua voz. Não se entregar estava sendo
mais revelador do que a entrega, refletiu
Chelsea.
Por que não percebera isso antes?
Ele a apertou e Chelsea ouviu o
próprio gemido. Depois a tocou no
rosto. Ela abriu os olhos enquanto Alex
perguntava:
– Quer que pare?
Ela ficou calada. Impossível admitir
não desejar que ele parasse, porém
também não tinha forças para dizer nada.
– Acho que não. Ou sim? – Alex
pareceu em dúvida, mas enfiou a mão
dentro de sua calcinha, e Chelsea gemeu.
– Maldito seja, Alex – murmurou,
lutando contra o desejo.
– E disse que não gostava de
conversinhas depois do sexo.
Ela meio que riu e soluçou porque
esse homem a tirava do sério. Tentou se
equilibrar segurando-o pelos ombros.
– Vou fazê-lo pagar por isto...
– Estou ansioso.
Retirou a mão do corpo dela, e
Chelsea gemeu:
– Não...
– Não o quê, Chelsea?
Ela apenas balançou a cabeça. Não
falaria. Não.
– O quê? – insistiu ele. – Não quer
que pare? É isto que ia dizer? Implorar?
– Jamais imploro. – Ela o fitou com
ar de desafio.
– Talvez não, mas seu corpo sim, seu
corpo fala por si e implora que termine
o que comecei.
Chelsea sabia que ele estava certo.
Remexeu-se, sentindo dor na pélvis, mas
ainda tentou enfrentá-lo com o olhar.
– Acho que vou me apiedar de você e
acabar com isto – murmurou ele –, mas
sou durão, Chelsea. Vou fazê-la
implorar por isto.
– E já não estou implorando? – Ela
riu com zombaria.
– Não é fraqueza sentir desejo, sabia?
– retrucou ele, e Chelsea permaneceu
quieta, pois para ela desejo significava
fraqueza. – Quer que seja eu a implorar?
Quer que eu seja fraco, Chelsea? Muito
bem. Desejo você. Estive dentro de seu
corpo minutos atrás, e ainda a quero, e
quero que você me deseje e que admita
isso. Não só com o corpo, mas com a
mente. Use sua boca e diga que me
deseja, Chelsea.
E ela quase disse. Nunca um homem
lhe pedira para dizer essas coisas, mas
quando abriu a boca nenhum som saiu.
Ele tornou a beijá-la com força.
Estava destruindo-a, fazendo desabar
anos de defesas bem construídas, e nem
percebia, não sentia o tumulto no
coração dela, e ela jamais permitiria
que sentisse.
Ele a empurrou até que as costas de
Chelsea bateram em uma das janelas do
apartamento, que iam do chão ao teto.
Então ele se ajoelhou na sua frente e
ela passou os dedos pelos seus cabelos
enquanto Alex baixava a calcinha e
encostava a boca entre suas pernas. Os
joelhos de Chelsea cederam. Ele estava
aos seus pés e isso deveria fazê-la se
sentir forte, porém se sentia mais fraca
do que nunca. Encostou a cabeça no
vidro da janela fechando os olhos e por
fim se entregando, incapaz de resistir à
onda de sensações que a dominava.
Estava encostada à janela que
descortinava Manhattan logo atrás,
porém era o homem na sua frente que a
deixava exposta. Vulnerável. E não tinha
forças para lutar.
Com os olhos cheios de lágrimas de
pura emoção, alcançou o clímax.
Seu corpo estremeceu em ondas
ininterruptas com um prazer tão intenso
que chegava a machucar. Enfiou os
dedos ainda mais em seus cabelos,
desejando que ele sentisse o prazer que
lhe proporcionava nesse instante.
Deleite. Dor. Demais.
Por fim ele se ergueu e, enquanto o
orgasmo ainda a fazia estremecer, com
um gesto inesperado e rápido Alex
ergueu a camisete pela sua cabeça e a
retirou,
deixando-a
incrivelmente
exposta.
Mesmo em meio ao desejo que ainda
a cegava, ela viu o sorriso desaparecer
do rosto de Alex, e o choque dilatar suas
pupilas.
– Chelsea – disse ele com a voz
rouca. – O que aconteceu com você?
CAPÍTULO 6
CHOCADO,
ALEX fitou a longa linha
desigual de carne dilacerada no seio
esquerdo de Chelsea. Ela não se
constrangeu nem se cobriu, apenas
ergueu o queixo enquanto ele percebia
que essa atitude era um padrão de
defesa. Ela sustentou seu olhar com a
respiração ainda ofegante.
– Caí de uma árvore quando era
criança.
– E sobre o quê? – perguntou ele. –
Uma serra elétrica?
– Está bem, foi um acidente de carro.
Uma placa de metal entrou pela janela e
me atingiu. – Chelsea deu de ombros,
mas seus olhos brilhavam de raiva e o
queixo estava duro como granito. Pensar
que momentos atrás se dissolvera em
prazer e gemera em um clímax sexual
que procurara não alcançar.
– Já olhou o suficiente? – perguntou,
fazendo-o cair em si e perceber que
continuava fitando seu seio esquerdo.
Há muito o ferimento cicatrizara, porém
a carne dilacerada era um sinal da ferida
antiga e perigosa.
– Desculpe – murmurou ele. – Não
quis constrangê-la.
– Não constrangeu. – Ela enfiou a
camisete de novo. – Mas, agora que
conseguiu o que queria, pode ir.
E, sem mais uma palavra nem olhar,
rumou para o banheiro. Alex ouviu o
barulho da fechadura e se deixou cair na
beirada da cama com os lençóis de
cetim amassados, refletindo sobre o que
acabara da acontecer.
Sexo devia ser algo simples. Era
assim que gostava... nada de emoções
envolvidas, apenas o prazer básico. E a
atitude de Chelsea parecera combinar
com a sua, porém tudo saíra do controle
e as emoções o dominavam, quase o
sufocando em um nó que não tinha forças
para desatar.
Começara como um joguinho de
“quem manda aqui”, algo divertido, mas
se transformara em outra coisa, algo
profundo, complexo e emocional.
Ele não provocara isso. Nem Chelsea.
Então, como haviam chegado a esse
ponto? E o que fazer agora?
Sabia que Chelsea desejava que
tivesse partido quando saísse do
banheiro, e Alex também sabia que seria
a opção mais fácil. Sumir do
apartamento antes que as coisas
complicassem ainda mais.
Porém não se moveu.
Não podia sair assim. De jeito
nenhum. Fosse lá o que tivesse
acontecido, não importava. A questão
ainda era Treffen.
E Sarah.
Não podia jamais se esquecer disso,
nem mesmo agora. Principalmente
agora.
CHELSEA ESP EROUquase uma hora para
sair do banheiro.
Tomou banho, lavou a cabeça,
escovou os dentes: todas tentativas
inúteis para tirar o perfume e o gosto de
Alex do seu corpo.
Não importava se sua boca agora
cheirava a menta, e a pele, a amêndoas.
Alex continuava impresso no seu
cérebro e alma. Ele conseguira o que
ninguém mais conseguira, deixando-a
fraca e exposta, e vendo mais do que
deveria. E ela ainda o desejava.
Pelo menos não se veriam de novo.
Alex já deveria ter ido embora, e
Chelsea não tinha intenção nem mesmo
sorrir para ele outra vez.
Amarrou o cinto do roupão de seda
cor de creme, fez um rabo de cavalo e
respirou fundo. Então abriu a porta e se
deteve ao ver Alex sentado na beira da
cama. Pelo menos já se vestira.
Contudo, com o nó da gravata por fazer
e os cabelos despenteados continuava
tão sexy como quando estivera apenas
de meias. Chelsea desejou derrubá-lo
sobre a cama, e, em vez de montar sobre
o corpo dele, ficar enrodilhada ao seu
lado com os braços dele à sua volta.
Apertou mais o cinto do roupão e o
fitou estreitando os olhos.
– O que faz aqui?
Ele sorriu com timidez e arqueou as
sobrancelhas.
– Acha que iria embora enquanto
você tomava banho?
– Já que pedi, sim.
– Talvez não tenha percebido, mas
não gosto de ordens.
– E eu não gosto de idiotas que já não
são bem-vindos – retrucou ela.
Alex arqueou as sobrancelhas ainda
mais, exclamando:
– Nossa!
– Falo sério, Alex. Já acabamos.
– Acredita mesmo, Chelsea? – Sorriu,
mas não era um sorriso amigável,
apenas uma curva dos lábios. – Que vai
se esquecer de mim? Era isso que
queria, não? Ir para a cama comigo e
depois me chutar para fora, satisfeita
porque outro imbecil fez o que você
mandou. Bem, pior para você, pois não
sou esse tipo de homem.
Ela sustentou seu olhar e murmurou:
– Estou vendo.
Alex levantou da cama e caminhou até
ela. Já estava tão perto que poderia
tocá-la, mas Chelsea não se moveu.
Manteve-se firme esperando pelo
próximo passo.
– Quero falar sobre Treffen –
anunciou Alex.
– Treffen? – Ela o fitou perplexa. –
Que hora boa.
– Qualquer hora é hora.
– Muito bem. – Chelsea cruzou os
braços sobre o peito. – O que tem ele?
Alex a encarou por um momento com
uma vulnerabilidade que a assombrou,
mas que logo desapareceu.
– Quero que você acabe com ele na
sua entrevista.
– Acabar com ele? – Chelsea
arregalou os olhos. – O que pensa que
sou? Uma agente secreta?
– Ele é mau, e o mundo precisa saber
disso.
Chelsea se surpreendeu que um
homem como Alex pudesse ser tão
melodramático.
– O que Treffen lhe fez para deixá-lo
com tanto ódio? – Ela se lembrou de
algo. – Espere... Ele não falou mal do
Diaz News no seu lançamento? Não
disse que você era preconceituoso?
– Isso nada tem a ver – murmurou
Alex, franzindo a testa.
– Pois sim!
– Falo sério, Chelsea.
– E eu também. Não serei usada para
sua vingança pessoal. – Balançou a
cabeça. Agora tudo parecia fazer sentido
para ela. – Então por isso me esperou na
sua limusine. Talvez também tenha sido
o motivo para me levar para a cama.
Tudo por um ridículo plano de vingança.
E de modo absurdo aquilo doeu.
– Se bem me lembro, foi você quem
me levou para a cama – ponderou ele.
– Tanto faz.
– Não quer saber o que Treffen fez?
– Não muito.
– Isso é ser uma péssima jornalista,
Chelsea, e você sabe. E acha que sou eu
quem tem um problema pessoal por
causa de Treffen?
– Que problema eu teria com ele? –
retrucou ela, e ele sorriu com os olhos
frios.
– Não contra Treffen. Contra mim.
Está furiosa porque a fiz perder o
controle, e tem medo do que sente ao
meu respeito.
– Também é formado em psicologia?
– atacou ela, porém Alex a deixara
contra a parede. Maldito por enxergar
demais, e maldita ela por permitir.
– Sei, porque sinto o mesmo –
respondeu ele com simplicidade e olhar
brilhante. – Como você, Chelsea, gosto
de sexo, mas tudo acaba sempre no
quarto. Não mantenho relacionamentos.
Tudo não passa de uma só noite de
diversão. – Sorriu sem espontaneidade.
– Não há bis.
– Que bom que concordamos.
– Porém, hoje foi diferente para nós
dois.
Chelsea cruzara os braços com tanta
força que sentia dor nas juntas. Mas
tentou se conter ao comentar:
– Não sabia que você gostava de
violinos e rosas, Alex.
– E você nega o que sentimos?
Ela não respondeu por que não podia.
Tentou fazê-lo baixar os olhos, mas não
conseguiu. Alex sempre vencia.
– O que quer? – perguntou ela por
fim, com a voz irritada.
– Quero que ouça. De verdade,
esquecendo quem controla quem. Esse
assunto é mais importante, Chelsea.
Ela enfiou as unhas nos braços com
suspeita e curiosidade.
– Muito bem – murmurou afinal. –
Conte.
ALEX FITOU Chelsea e imaginou o que
fazer a seguir.
Nada disso fora planejado. Sim,
queria falar sobre Treffen, mas não
tivera intenção de comentar sobre
emoções.
Foi diferente para nós dois.
Soara ridículo.
Mas falara com sinceridade, e mesmo
assim não conseguia admitir para si
mesmo e muito menos para ela.
Respirou fundo.
– O trabalho de advocacia de Treffen
com direitos humanos é uma farsa. E sua
firma não passa de fachada.
Ela o fitou quase com um ar divertido,
sem dúvida ainda pensando que Alex
planejava uma vingança pessoal.
– Fachada? Para quê?
– Uma rede de prostituição.
Chelsea gargalhou.
– Está me dizendo que Jason Treffen é
um cafetão?
– Basicamente, sim. – Alex cerrou os
maxilares.
Ela balançou a cabeça.
– Pois sim.
– Não acredita?
– E por que deveria?
– Por que eu mentiria? – redarguiu
Alex.
Chelsea deu de ombros.
– Quem sabe sua honesta rede de
notícias não seja uma fachada também?
Quem sabe joga sujo e é assim que
destrói seus inimigos, ou pelo menos
tenta?
– Por que desejaria destruir Treffen?
– Ele desacreditou você, Alex.
– Há dez anos, tentou. Porque eu
sabia demais – respirou fundo.
Ela ainda sorria com zombaria, e ele
cerrou os dentes.
– E o que você sabia, detetive Diaz?
– Na época pensava que fosse apenas
um caso de assédio sexual, o que já era
muito ruim. Porém, recentemente, novas
evidências surgiram. – A foto que Katy
encontrara. Só em pensar nisso Alex
sentia náuseas.
– Evidências de que ele é um cafetão
– ajudou Chelsea em tom de descrédito.
– Sim, ele mantém uma rede de
prostituição e alicia garotas de sua
firma...
– Advogadas – disse Chelsea com
zombaria, e isso deixou Alex furioso
com ela e consigo mesmo. Antecipara
que ela resistiria a ajudar, porém não
que o desacreditasse. Deveria ter
pensando melhor e previsto que isso
poderia acontecer.
M a s parecia loucura. Ele mesmo
custara a acreditar.
Acreditar em Austin, em Katy. Em
Sarah.
E agora Chelsea não acreditava.
– Escolhe moças que estão afogadas
em dívidas da faculdade e desesperadas
para demonstrar valor profissional.
– Você está parecendo um ativista dos
direitos humanos.
Alex deu um passo à frente com os
punhos cerrados.
– Raios, Chelsea, isto não é uma
brincadeira.
– Não estou rindo. Mas não sei aonde
quer chegar com isto, Alex. Quer que
acredite nesta história sensacionalista e
faça o quê? Encoste Treffen na parede
ao vivo na televisão?
– Garantiria a sua carreira de
jornalista séria.
– Se fosse verdade. Mas acabaria
com minha carreira na AMI e você sabe
disso. Além do mais, seria processada.
Obrigada, mas não vou fazer parte de
sua vingança particular.
– Não se trata de mim...
– Então por que se importa tanto?
Alex não iria contar sobre Sarah. Era
pessoal e doloroso demais.
– Caso fosse você quem soubesse
sobre isso, não se importaria? –
perguntou por fim.
– Ainda não sei como tomou
conhecimento disso.
– Austin, o filho de Treffen, foi meu
colega de quarto na faculdade. E é um
de meus maiores amigos.
– E Treffen o deixou a par das
sujeiras secretas? –perguntou ela sem se
impressionar. – Filho, venha ser cafetão
com o papai?
– Claro que não. Deixe de ser
absurda.
– Então o quê?
Alex respirou fundo para não perder a
paciência.
– Austin descobriu.
– Como? – quis saber Chelsea.
Katy, a irmã de Sarah, o confrontara
com a terrível verdade. Mas Alex não
meteria Katy na história.
– Ele apenas descobriu.
– Ora, Alex! Agora quem está
pretendendo fazer jornalismo barato? Se
eu for fazer isso, preciso de fatos.
Evidências. E de uma fonte fidedigna.
– Mas você já disse que não vai fazer.
Encostar Treffen na parede.
– Não. Você não tem bases e não irei
atrelar minha carreira a uma hipótese,
muito obrigada.
– Não é hipótese. É a verdade – disse
Alex com firmeza.
– Então me mostre evidências
concretas – pediu Chelsea.
– Por que acha que Treffen se separou
da mulher?
– Incompatibilidade de gênios. Muita
gente se separa ou se divorcia, Alex...
– Ele será expulso da firma de
advocacia dentro de meses – anunciou
Alex. Pelo menos esperava que Hunter
tivesse sucesso.
Ela deu de ombros.
– Todo mundo sabe que Treffen pensa
em deixar a firma. Pode se candidatar a
senador.
– Não vai, não – replicou Alex com
voz irada, espantando os dois. As coisas
não estavam ocorrendo como desejara.
Controle. Precisava reconduzir a
conversa para a calma. Trinta segundos
se passaram sem que falasse. Por fim
respirou fundo e disse:
– Uma mulher apresentou fotos para
Austin.
Chelsea estreitou os olhos.
– Fotos? De quem?
De Sarah.
– De uma das... moças.
– Uma das prostitutas? – Chelsea
balançou a cabeça sem acreditar. – E
como a foto de uma advogada sexy
prova alguma coisa?
– Era a fotografia de uma das garotas
com um cliente da firma, e Treffen a
usava para chantagear o homem.
Chelsea arqueou as sobrancelhas.
– Então, além de cafetão, Treffen é
chantagista?
Alex aquiesceu com um gesto de
cabeça seco. Sabia que parecia incrível.
Quase absurdo. Como culpar Chelsea
por não acreditar?
Ela ficou quieta por muito tempo. Por
fim disse:
– É uma história muito grande para
não ter explodido antes.
– Treffen é mais poderoso.
– Mas não houve nem mesmo um
boato, Alex.
Ele sabia que agora deveria lhe
contar sobre Sarah. Como ela se atirara
do telhado do escritório de Treffen para
não continuar vivendo sob o jugo sádico
dele. Como Katy trouxera tantas
informações horríveis para Austin,
condenando não apenas Treffen, mas
todas as pessoas que haviam
abandonado Sarah.
Condenando a ele.
As palavras queimavam sua garganta
querendo sair, mas ficaram sufocadas.
Ele não conseguia. E Alex queria vingar
Sarah, mas não levar seu nome à lama.
Os tabloides, as fofocas, a mídia.
O rosto de Chelsea se suavizou com
piedade.
– Desculpe, isso significa muito para
você, eu sei, mas a entrevista não será
sensacionalista. Será jornalismo sério.
Não havia motivo para continuar a
conversa.
– Certo – disse ele, acenando com a
cabeça e pegando o paletó. – Creio que
terminamos.
Ela concordou com os olhos muito
abertos.
– Também creio.
Alex deu meia-volta e partiu em
silêncio.
No elevador o celular tocou com uma
mensagem de Hunter. Precisavam se
encontrar. Novas informações.
– Raios.
Alex deveria se sentir radiante por
Hunter cumprir com sua parte no acordo,
porém no momento o sucesso do amigo
o deixava pior por ter fracassado.
Austin expusera Treffen para sua
família; Hunter o expulsaria da firma.
E Alex? Que diabos estava fazendo
de produtivo?
ALGUNS DIASdepois Chelsea parou em
frente a um dos mais sofisticados salões
de baile do Plaza Hotel, onde se
celebrava um evento de gala para
caridade. Não costumava comparecer a
muitos do tipo, porém esse oferecia
ajuda para crianças que sofriam abusos
e que estavam longe de suas famílias ou
de seus benfeitores.
Estava sempre interessada em causas
que defendiam crianças molestadas.
Nem todo abuso parecia abuso. E ela,
mais do que ninguém, sabia disso. Como
era fácil pensar que a culpa fora sua ou
que você desejara aquilo.
Entretanto, continuava sendo abuso.
Precisava acreditar nisso, mas o
problema era que não acreditava. Talvez
acreditasse em todas as outras pessoas
que sofriam abuso, porém essas regras
não se aplicavam a ela. Pelo menos, era
assim que se sentia.
Parou na soleira da porta e respirou
fundo.
A multidão ao seu redor a intimidava;
eram mais de cem pessoas e ela
conhecia muitas delas.
Mesmo assim sua respiração estava
ofegante, o coração batia forte, e ela via
pontos negros diante dos olhos.
Maldição. Segurou-se no batente da
porta para se equilibrar. Seja forte.
Então seu olhar se deteve em um dos
homens presentes que era mais do que
um simples conhecido.
Mas que continuava sendo um
estranho.
Alex Diaz.
Tola e inexplicavelmente Chelsea se
sentiu melhor sem entender por quê.
Saber que ele estava ali a acalmava. Era
um mistério.
Tentara se esquecer das mãos dele em
seu corpo e da reação que só tivera com
Alex.
Tentava não pensar nisso nos últimos
três dias.
Mas não estava dando certo.
Entretanto, não importava como se
sentia ou deixava de se sentir.
Suspeitava que Alex só dormira com ela
para falar sobre Treffen. Talvez
pensasse
que
uma
conversinha
açucarada fosse convencê-la a ajudá-lo.
Chelsea estava satisfeita por não ter
concordado, mesmo que a ideia de ter
sido usada por ele a afligisse.
Por outro lado, uma parte de seu
íntimo dizia que ele não a usara. Afinal,
um usara o outro. E prazerosamente.
Contudo, a paixão de Alex fora real. A
intimidade, por mais que houvesse sido
torturante, fora real.
Não?
Ou será que ela desaprendera a julgar
as pessoas? Afinal, estava muito
emotiva.
Respirou fundo e avançou no salão.
Passou a
hora
seguinte
se
movimentando, mantendo um olho em
Alex, em parte querendo se aproximar
após o encontro sexual, em parte
tentando evitá-lo, e querendo também
que fosse ele a se aproximar, o que eram
muitos desejos ao mesmo tempo.
Mas ela o evitou.
Mesmo assim estava consciente de
sua presença a cada instante e sabia
onde Alex estava sem precisar olhar.
De repente, com o canto do olho, viu
a expressão dele mudar de afável para
tensa e furiosa. Alex nem disfarçava.
Pelo menos não para ela, que podia
sentir seu ódio a metros de distância e
ver seus dentes e punhos cerrados.
Seguiu o olhar de Alex e viu quem ele
fitava: Jason Treffen.
Treffen estava muito distinto, com as
luzes incidindo sobre os cabelos
prateados. Sorria para um grupo de
bajuladores que o cercavam, porém
Chelsea notou que seus olhos azuis eram
sagazes. Bem, era um advogado, afinal.
Porém, era o olhar de Alex que a
fazia pensar. Recusara-se a conversar
sobre Treffen com ele por muitos
motivos, mas principalmente porque a
ideia de trabalhar com Alex era
alarmante. Estava muito vulnerável para
ser sua parceira naquele plano. Não
faria jornalismo barato.
E Chelsea se recusava a acreditar nas
coisas horríveis que ele dissera sobre
Treffen. Ela o escolhera para sua
primeira entrevista séria porque
admirava seu trabalho em defesa das
mulheres e acreditava firmemente no que
ele fazia.
Não podia ser um cafetão e
chantagista.
Mas era ingênuo pensar assim porque
sabia como a humanidade podia decair.
Inclusive ela.
Quem sabe devesse considerar a
possibilidade de Alex ter razão.
Erguendo os ombros, se aproximou de
Treffen.
– Ah, Chelsea, minha entrevistadora
favorita – saudou ele com a voz
possante e bem treinada na oratória.
Trocaram beijos leves nas faces.
Alguns dos bajuladores se afastaram e
Chelsea sorriu de modo radiante.
– Soube que deseja impor regras na
entrevista.
– Apenas precaução. – Ele estreitou
os olhos, porém não deixou de sorrir.
– Pensei que fôssemos amigos.
– Tenho uma reputação a proteger –
retrucou Treffen com afabilidade, mas
firmeza.
– Não sabia que sua reputação estava
em
jogo
–
disse
Chelsea
desafiadoramente. – É praticamente um
santo. – Arqueou as sobrancelhas,
sorrindo de modo atraente. – A menos
que esconda algo? Algum grande
segredo obscuro? – concluiu, rindo
como se fosse uma brincadeira.
Treffen enrijeceu por um segundo.
Depois riu também do modo paternalista
como os homens velhos faziam com os
mais jovens, e que Chelsea detestava.
– Muito engraçado, Chelsea. –
Balançou um dedo na sua frente. – Muito
engraçado.
Mas isso não dava a ela nenhuma
pista, e ele continuava querendo que um
advogado comparecesse à reunião.
Fitando os olhos frios de Treffen, de
repente Chelsea teve certeza de que ele
escondia algo.
E que Alex podia estar certo.
Sempre sorrindo como se tudo fosse
muito engraçado, ela deu um passo atrás
sabendo que Alex a observava. Virou-se
e o viu fitando-a com intensidade.
Chelsea caminhou na direção oposta.
Não queria deixar Treffen com
suspeitas. E também tinha receio de
conversar com Alex.
Controle-se, Chelsea. Foi apenas
sexo. Pense na sua carreira.
Afastando as emoções, minutos
depois, ela o procurou junto ao bar.
– Creio que talvez você tenha razão,
Alex.
– Quer dizer...
– Sabe o quero dizer – murmurou,
continuando a caminhar.
Todos se sentavam para o início do
leilão de caridade, e Chelsea ocupou um
lugar nos fundos, examinando o catálogo
de ofertas. Ela doara um fim de semana
em um spa no Arizona e um jantar para
dois no Le Bernardin como fazia todos
os anos.
O leilão principiou e ela observou
dois executivos gordos disputarem um
camarote VIP para um jogo da NBA,
Associação de Basquete Nacional. O
vencedor deu vinte mil dólares.
O próximo item foi um jantar para
oito pessoas preparado por um famoso
chef.
Chelsea jamais dava lances. Não
tinha amigos verdadeiros para levar a
um jantar, ao spa ou a um jogo.
Pensou em Louise, porém não estava
pronta para muita intimidade com a
irmã. Tudo ainda entre as duas era
estranho e doloroso.
Talvez pudesse convidar Michael,
porém a amizade entre os dois era mais
voltada ao trabalho.
E não havia mais ninguém, percebeu
com certa tristeza. Até então sempre fora
feliz com sua independência e liberdade.
E não pensava muito na solidão.
Nos últimos dez anos dizia a si
mesma que tinha tudo que queria.
Dinheiro, fama, um lindo apartamento,
roupas caras e um trabalho satisfatório...
quase sempre.
Contudo agora... será que desejava
um relacionamento? Alguém na sua vida
que fosse importante? Que se importasse
com ela só um pouquinho? E... o
principal... a conhecesse... a verdadeira
Chelsea... só um pouquinho?
Será que se sentia assim de verdade?
Teria Alex plantado esse desejo em seu
coração?
O pensamento era novo e indesejável.
Relacionamentos
eram arriscados;
intimidade significava perigo. Chelsea
tinha muitos segredos para manter.
Aceitara isso como o preço para
recomeçar; porém, de súbito, queria ser
sincera com alguém.
Foi sincera com Alex quando ele a
fez alcançar o clímax mais soberbo da
sua vida. Não quis ser sincera, mas foi.
Instintivamente seu olhar percorreu o
ambiente, e ela viu Alex de pernas
esticadas na segunda fila. Fazia um
lance de dez mil dólares, e Chelsea
procurou no catálogo o item em questão.
Uma Noite Com a Família? Um
passeio pela cidade em ônibus
particular de dois andares e entradas
VIPs para o circo Big Apple.
Que diabos Alex faria com isso?
Chelsea percebeu que, embora ela
não tivesse amigos, ele poderia ter.
Quem sabe tinha irmãos e sobrinhos e
fosse um tio amoroso. Ou daria de
presente para alguém com família. Ou
iria com alguma garota sensual do
trabalho. Uma dor aguda atingiu o
coração de Chelsea, que perdeu o
fôlego.
Não podia ser ciúme. Jamais sentira
ciúme de um homem por sair com outra
mulher.
– Vendido para o número 17!
Surpresa, ela viu Alex se virar e
sorrir em sua direção. O que era
aquilo?
Descobriu assim que o leilão
terminou. Alex caminhou em sua
direção, deixando-a ansiosa.
– Sabe que não devemos ser vistos
juntos – murmurou ela, quando Alex
parou na sua frente, fazendo seu coração
bater mais forte com seu físico
musculoso e poderoso. Ficou trêmula ao
olhar para seus olhos dourados.
– Quer dizer, por causa de Treffen?
– Não quero que ele suspeite, e de
qualquer modo não sei se acredito...
– Treffen partiu antes do final do
leilão.
– Oh. – Chelsea franziu a testa. – Por
que faria isso?
– Está limitando suas aparições em
público no momento. Quer evitar coisas
desagradáveis. – Deu um passo à frente.
– Então, o que a fez mudar de ideia?
– Na verdade, não mudei de ideia.
Ainda não, mas falei com Treffen. Posso
afirmar que esconde algo, porém preciso
de provas.
– Sei que precisa, Chelsea. Mas não
vim até aqui falar de Treffen.
Surpresa e satisfação a dominaram.
Não devia acreditar nele, porém queria.
Desejava que houvesse mais entre os
dois além de Treffen.
– Não?
Ele balançou a cabeça e esboçou seu
meio-sorriso.
– Não. Vim aqui – continuou Alex –
convidá-la para ir ao circo comigo.
Ela ficou em silêncio, chocada. Alex
a estava convidando para um encontro?
– Circo? – repetiu. – Por quê?
Ele deu de ombros.
– Porque é divertido? Porque tenho
ingressos? – Aproximou-se mais. –
Porque quero ir com você?
– Qual é a razão? – perguntou ela
estupidamente e ainda com o cérebro
girando.
Alex a fitou por um momento e depois
disse:
– Quero vê-la de novo. – Sua voz era
rouca. – De modo adequado.
Contudo, Chelsea não tinha encontros,
nunca. E nem ele. Balançou a cabeça
tentando evitar o desejo não só por ele,
mas por um encontro inocente que a
faria passar algum tempo ao seu lado.
– Não saio socialmente – murmurou.
– Existe sempre uma primeira vez.
– Não sabia que você fazia isso,
Alex.
– Como disse, há sempre uma
primeira vez.
– E nós não damos bis – insistiu ela.
– De vez em quando me concedo uma
exceção. – Alex inclinou a cabeça. –
Está com medo?
– Claro que não! – Foi a vez de
Chelsea sacudir a cabeça.
– Então prove e vá ao circo comigo.
– Não preciso provar nada para você,
Alex. Esta tática não funciona mais. –
Movimentou a cabeça com mais ímpeto
ainda.
– Então me diga a verdadeira razão
para não sair comigo. Tem medo de
palhaços?
Ela sorriu, temendo ser fraca. Por que
toda emoção parecia fraqueza?
Porque você sabe aonde esse
encontro irá acabar.
– De fato, acho palhaços um pouco
assustadores – respondeu ela de bom
humor. – Porém, não seria esse o
problema.
– Então o quê? – quis saber ele.
O que responder? Jamais um homem
fora tão insistente e determinado não
apenas em levá-la para a cama, mas
para estar com ela.
Será que Alex Diaz desejava mesmo
sua companhia? E no circo?
– É por causa de Treffen? – perguntou
ela. – Para podermos ter um lugar para
conversar?
– Não. Quero sair com você –
respondeu ele com uma simplicidade
que chegava a ser assustadora.
– Por que está fazendo uma exceção?
– Por sua causa. – O olhar era quente
e o sorriso, lento. – Você vale a pena.
A declaração tão simples a deixou
nas nuvens. Ou com vontade de chorar.
O que havia de errado com ela? Por que
Alex Diaz mexia tanto com ela levandoa da frieza à emoção?
– Dormiu comigo só para ganhar
minha confiança por causa de Treffen? –
perguntou de supetão. Detestava
perguntar isso, porém precisava saber. E
esperava que Alex dissesse a verdade.
Ele arqueou as sobrancelhas.
– Não parece muito confiante,
Chelsea. Portanto, se esse era meu
objetivo, falhei. Agora não se trata de
Treffen. É sobre... nós.
Esse conceito era novo. Nós. As
palavras não foram fáceis, e ela
acreditou.
Os olhos dourados dele a fixaram.
– Só quero um simples encontro –
insistiu ele, erguendo as mãos e
sorrindo. – Acredite em mim.
Chelsea sentiu alívio e decepção, sem
saber que sentimento prevalecia. Será
que esperara uma declaração de amor?
Claro que não.
– Um encontro. Porque ainda não
terminamos, mesmo que você queira se
convencer disso – declarou ele.
– Que atraente. – Ela disfarçou
porque a franqueza dele a desarmava e a
ironia era sua única defesa. – Acha que
sabe mais o que quero do que eu mesma.
– Sabe o que quer, mas não admite.
Diga não, Chelsea ordenou a si
mesma. Não tem encontros inocentes.
Nunca.
– Por favor, Chelsea.
Gosto quando pede “por favor”. Mas
dessa vez não se tratava de controle.
Nada de pontos a ganhar.
Diga não. Salve-se.
– Está bem – respondeu ela, sentindose mergulhar no desconhecido...
perigoso.
CAPÍTULO 7
QUATRO
mais tarde Chelsea
entrou em uma das salas de reuniões da
AMI onde Jason Treffen e seu astuto
advogado aguardavam. Um advogado
precisando de outro, pensou Chelsea
cinicamente, imaginando quanto Treffen
tinha a esconder.
Ainda não podia acreditar que fosse
um cafetão ou chantagista. Esperava que
Alex estivesse errado. De alguma forma.
Grande erro.
Jason se levantou ao vê-la, sorrindo e
DIAS
estendendo a mão manicurada. Para um
homem de 60 anos, refletiu Chelsea, era
muito atraente com os cabelos grisalhos,
olhos azuis e rugas que lhe traziam
dignidade e acentuavam o queixo forte.
Seu advogado, por outro lado, era como
ela imaginara: vestido com ostentação,
tinha um rosto de fuinha, e usava muito
perfume.
– Que bom revê-lo, Jason – disse ela,
apertando a mão dele com uma firmeza
que o fez arquear as sobrancelhas.
Suspeitaria
dela?
Ou
estava
acostumado com mulheres fracas que
ajudava por caridade? Vítimas?
Chelsea não era desse tipo.
Ela se sentou junto a Michael, que já
murmurara suas saudações, enquanto
uma assistente trazia café e bolinhos que
ninguém aceitaria.
– Então – Chelsea cruzou as mãos
sobre a mesa e sorriu de modo
profissional para Treffen –, queria me
mostrar algumas perguntas?
O advogado dele abriu a pasta com
gesto exagerado e retirou uma folha de
papel que passou para Chelsea.
Ela
leu
rapidamente
com
aborrecimento; as
perguntas
ali
incluídas tornariam a entrevista muito
sem graça.
Maçante. Desinteressante. E davam
todo o controle para Treffen.
Qual é o ponto alto de sua carreira?
O que o fez decidir ajudar a causa das
mulheres?
Nenhuma controvérsia ou interesse,
apenas uma plataforma para Treffen
exibir seus bons trabalhos. E durante
sessenta minutos no horário nobre.
Chelsea queria explorar algumas das
escolhas polêmicas de Treffen, como
oferecer seus serviços legais de graça
para uma criminosa que matara um
homem. Uma pesquisa mais profunda
mostrara que a mulher sofrera abusos do
namorado durante anos. Treffen vencera
o caso.
Entretanto, nenhuma das perguntas
mencionava seus casos polêmicos.
Chelsea entregou o papel para Michael,
sempre sorrindo.
– É um começo – disse.
– E um fim, srta. Maxwell – retrucou
o advogado com certo desdém.
Boa escolha, Treffen, pensou
Chelsea. Está bem representado.
Fitou Treffen.
– Uma entrevista apenas falando dos
pontos altos de sua carreira não atrairá
os telespectadores.
– O sr. Treffen não quer participar de
suas novelas chorosas – replicou o
advogado. – Não irá soluçar no seu sofá.
– Eric – alertou Treffen com
delicadeza, mas em tom frio, sorrindo
para Chelsea, que sentiu um arrepio.
Será que começava a acreditar em Alex?
Esse defensor das mulheres seria
mesmo um cafetão?
Costumava pensar que, caso Treffen
tivesse sido seu chefe dez anos antes em
vez de Brian Taylor, talvez ela não
precisasse ter feito cirurgia plástica no
rosto nem ter uma enorme cicatriz no
seio.
Uma cicatriz que Alex vira.
Entretanto, Treffen talvez tivesse sido
pior que Taylor. Talvez ela tivesse que
se prostituir para muitos homens em vez
de um só.
– Deve entender, srta. Maxwell –
disse Treffen muito meloso –, que sou
um advogado respeitável e defensor dos
direitos humanos. Concordei com essa
entrevista porque gostaria de ampliar
minha plataforma para as causas que
ajudo há muitos anos. – Alargou o
sorriso para ela. – E, é claro, será uma
grande oportunidade para a senhorita.
Chelsea foi invadida pela raiva, e o
encarou com esforço. A indireta era
clara. Concordar com a entrevista fora
outro gesto magnânimo dele.
– E sei que pode entender minha
posição, Jason. Não sou um palanque
para discursos.
– Chelsea... – murmurou Michael, e
ela respirou fundo.
Não importava o que Alex queria;
estava falando da sua carreira agora.
Por que pôr tudo a perder? A entrevista
com Treffen era sua chance de ser vista
como alguém de valor, e não apenas a
suposta amante de Michael que não
merecia um programa sério.
Porém, não seria usada por nenhum
homem, nem mesmo Jason Treffen.
E que tal Alex?
Não, ele não a usara. Sim, ele a
possuíra, a levara a um clímax divino,
mas Chelsea não se sentira usada,
apenas dolorosa e terrivelmente exposta.
– Entendi, srta. Maxwell. – Treffen
ainda sorria, enquanto seus olhos
pareciam de aço. – Não esperava outra
coisa da senhorita. Porém, essas são as
únicas perguntas que pretendo responder
se me quiser no seu programa, e deverá
assinar um acordo legal prometendo se
ater ao roteiro.
– Minhas entrevistas não têm roteiros
programados.
– Escolhi mal a palavra – concordou
Treffen. – Porém, mesmo assim, quero
manter essas perguntas.
– Parte do atrativo de uma entrevista
franca é ver até onde a conversa alcança
– replicou Chelsea com voz amável.
Não valia a pena irritar Treffen ainda
mais. – É preciso um diálogo de
verdade, não perguntas e respostas
ensaiadas.
Eric se debruçou sobre a mesa com
um sorriso antipático, porém Treffen o
segurou pelo braço, estreitando os olhos
para Chelsea.
– Acha que seus métodos de
entrevista são assim francos, srta.
Maxwell? Já assisti e admiro o modo
como manipula seus entrevistados e
como os guia sem que eles percebam. E
possui certo charme diante das câmeras,
não? Já fazia isso quando era a garota
do tempo no Alabama.
A voz dele continuava amigável, mas
Chelsea sentiu uma garra de gelo
percorrer sua espinha dorsal. Pontos
negros surgiram diante de seus olhos.
Não teria um ataque de pânico ali,
mas percebeu que Treffen conhecia seu
passado, e a náusea a dominou.
– É uma qualidade admirável –
prosseguiu ele com voz macia. –
Manipular as pessoas sem que
percebam. Mas, infelizmente, isso não
consta da minha agenda.
E o que constava? Expô-la? Estaria
de fato ameaçando divulgar seu passado
se ela não obedecesse ao seu esquema?
Alguém capaz de chantagem assim
sutil era capaz de muito mais, refletiu
Chelsea. Como Alex dissera.
– O que tem na sua agenda, Jason? –
perguntou, quando sentiu que a voz
sairia firme.
Os olhos dele brilharam de raiva
antes que sorrisse e estendesse as mãos.
– De novo escolhi mal a palavra. Não
tenho agenda, srta. Maxwell. Mas prezo
minha reputação ao mencionar as muitas
mulheres que ajudei e as caridades que
realizo; portanto, se deseja a entrevista
comigo, irá fazer apenas as perguntas
que desejo.
Chelsea sabia que falava sério.
– Raios, Chelsea – exclamou
Michael, quando Treffen e o advogado
foram embora. – Por que o irritou?
Pensei que estava louca por essa
entrevista.
Ela atirou a folha com as perguntas no
lixo.
– Ele se irrita com pouco.
Ainda tremia ao pensar que Treffen
conhecia seu passado e de onde viera. O
que fizera. Como descobrira? E por
quê?
Será que seu próprio passado sórdido
seria um escudo protetor para Jason
Treffen?
Voltou-se para Michael.
– Não serei usada por ninguém, nem
por Treffen.
– Ele pesquisou ao seu respeito –
replicou Michael. – Não o irrite demais.
– Ou o grande ativista dos direitos
humanos irá me destruir? – Tentou
parecer displicente, mas no íntimo
estava apavorada.
– Ele tem o poder de arruinar
carreiras – disse Michael com
serenidade –, assim como o poder de
construí-las.
– Sei disso. – Ele podia arruiná-la,
refletiu Chelsea, embora isso ainda
parecesse engraçado e impossível.
Jason Treffen. O defensor das mulheres.
Ou não.
– Que perguntas quer lhe fazer que
não estão na lista? – perguntou Michael.
– Só não quero ser controlada. –
Chelsea não contaria a Michael sobre as
suspeitas de Alex. Não até ter mais
provas. Talvez nunca. Michael era seu
amigo, mas seu chefe também, e
duvidava que quisesse colocar a rede de
televisão em posição vulnerável.
E isso aconteceria se fizesse o que
Alex sugeria e confrontasse Treffen ao
vivo na televisão.
Só esse pensamento a fez suar.
Loucura. Sua carreira seria arruinada e
seu programa também. Poderia entrar
para sempre na lista negra e nunca mais
obter emprego na televisão.
E para quê?
– Mas vai assinar o acordo, não vai?
– quis saber Michael.
Ela fitou a lista amassada no lixo.
– Não sei.
– Ele não dará a entrevista a não ser
que você assine.
Chelsea deu de ombros tentando
permanecer calma.
– Talvez possamos entrar em um
acordo.
– Acha?
Ela sorriu percebendo o ceticismo de
Michael, e se sentindo nervosa por
dentro.
– Provavelmente não, mas posso
tentar. Ainda temos cinco semanas.
– Só você pode conseguir isso.
Se fosse outra pessoa a dizer isso
poderia ser da boca para fora, mas
Chelsea sabia que Michael falava com
sinceridade. Já confiara nela antes.
Quando soubera que era uma estagiária
sem salário na AMI com 22 anos,
trabalhando também à noite em uma
lanchonete barata para se sustentar.
Certa vez, quando o âncora do jornal da
noite fora embora, Chelsea ficara à
frente das câmeras e fingira apresentar o
programa. Caminhando pelo estúdio
deserto, Michael a vira.
Ficara observando por muito tempo
nas sombras, e quando, por fim, surgira,
Chelsea não se desculpara pelo pequeno
show.
Michael rira e lhe oferecera uma
pequena participação no noticiário da
manhã.
Fora o começo, e seis anos depois
Chelsea estreava o Bate-Papo com
Chelsea, que em um ano se transformara
em enorme sucesso.
E todos pensavam que era porque
dormira com Michael. Ela brincava com
ele sobre isso, e Michael apenas
balançava a cabeça com tristeza. Ele
tinha um coração de manteiga e se
preocupava demais com Chelsea, porém
não conhecia toda a sua história.
Ninguém conhecia.
Alguns conheciam partes. Louise
sabia sobre sua infância; Brian Taylor
sabia... e ajudara... na sua queda na
estação local de notícias de Huntsville,
Alabama, onde Chelsea começara como
garota do tempo aos 19 anos. Michael
soubera que estava desesperada e louca
para esquecer um homem. Os cirurgiões
no Huntsville Hospital sabiam como seu
nariz ficara dilacerado, e como ela
quase morrera com a perda de sangue
provocada pela facada que quase
decepara seu seio.
Porém, ninguém a não ser ela mesma
conhecia toda a sórdida história.
Será que Treffen conhecia também?
QUATRO DIAS após convidar Chelsea
para ir ao circo Alex foi se encontrar
com Austin e Hunter em um bar. Hunter
lhe deixara uma mensagem dizendo que
haveria uma outra pessoa com ele.
Alguém que poderia ajudar a derrubar
Treffen, mas Alex não fazia ideia de
quem seria.
Austin estava sentado vendo as
mensagens no celular, quando Alex
entrou no bar.
– Quem é a pessoa que Hunter quer
que conheçamos? – perguntou para
Austin.
O amigo deu de ombros.
– Não sei. Alguém importante. –
Ergueu os olhos do celular. – Como vão
as coisas com Chelsea Maxwell?
– Bem.
– Pode dar mais detalhes?
Alex pediu um uísque. Sabia que
Austin esperava resultados, como ele.
– Ela embarcou na proposta. Só
precisa de provas.
– Que tal as fotos de Sarah?
Alex cerrou os dentes. Não queria
mostrar as fotos nem para Chelsea nem
para ninguém.
– Refiro-me a alguém que possa
respaldar o que Katy disse...
– A palavra de Katy não é suficiente?
Alex ergueu uma mão.
– Calma, Austin, sei que vocês dois
estão de namorico, mas precisamos ser
profissionais. A última coisa de que
precisamos é responder a um processo,
botando por terra as acusações contra
seu pai.
Austin relaxou.
– Sei disso, e é mais que um
namorico, Alex. – Sorriu de leve. – Eu a
amo.
Alex conteve a impaciência.
– Certo, fico feliz pelos dois.
– Hunter chegou – avisou Austin.
Alex se virou para ver Hunter com
uma morena elegante e com ar
profissional. Seu jeito frio e sofisticado
o lembrou um pouco de Chelsea. A
moça apertou as mãos dos dois.
– Sou Zoe Brook.
– A rainha do setor de Relações
Públicas em Nova York – disse Alex,
imaginando por que Hunter a trouxera. O
que Zoe Brook tinha a ver com Treffen?
Austin parecia estar se perguntando a
mesma coisa.
– Se me desculpa a impertinência, o
que faz aqui?
Hunter fitou Zoe, e Alex viu em seus
olhos a adoração. Como se o amigo... a
amasse.
E, absurdamente, pensou em Chelsea.
Porque Chelsea era a última pessoa em
quem pensaria sobre amor. Podia tê-la
convidado para sair, explorar a atração
intensa entre os dois, mas não era amor,
nem mesmo um relacionamento. Era
sexo... e o circo.
Alex ainda não conseguia definir se a
queria mais por causa do plano e para
tê-la do seu lado contra Treffen ou se
apenas a queria. Ela o fascinava. Ria do
seu jeito duro e mandão, e quase o
enlouquecera na cama.
Mas, além disso...
– Seu pai é um cafetão – disse Zoe
para Austin, que enrijeceu embora todos
soubessem disso. Ela passeou o olhar
gelado pela mesa. – Hunter me garantiu
que nunca foi chantageado por Treffen.
E quanto a vocês dois? – perguntou com
expressão sagaz.
De
súbito
Alex
fez
um
reconhecimento. Zoe falava por
experiência própria. Como Sarah. Mal
acreditava que essa mulher tivesse sido
vítima de Treffen, porém via a amargura
em seu olhar.
Aí estava a prova decisiva... de que
Chelsea necessitava.
– Precisa contar sua história, Zoe –
disse Alex. – As garotas de programa. A
chantagem com todos os clientes. O
mundo precisa saber a verdade sobre
esse homem.
– Concordo – retrucou Zoe friamente
–, porém não posso.
– Mas o testemunho de uma vítima... –
retrucou Alex frustrado.
– Fui sua vítima por tempo demais –
interrompeu Zoe sem emoção. – Não
serei de novo.
Então Alex tinha razão. Zoe fora uma
das garotas de programa como Sarah.
Era o que ele precisava. O que Chelsea
precisava.
– Compreendo – murmurou ele.
– Verdade? – replicou ela como se
trocassem amenidades em uma festa.
– Gostaria de convencê-la...
Hunter o interrompeu com fúria,
erguendo a mão.
– Chega. – Sua voz era implacável, e
Alex soube que não conseguiria nada
dele nem de Zoe nessa noite. Porém, se
convencesse Zoe... convenceria Chelsea.
Poderia derrubar Treffen.
Entretanto, obedeceu, percebendo o
quanto Hunter se importava com Zoe.
– Vamos falar de estratégia? – sugeriu
Zoe com calma.
Alex concordou. Sim, podiam
confabular sobre como tirar Treffen da
firma, mas não resolvia seu problema,
pois para isso agora sabia que precisava
de Zoe. No momento certo a
convenceria a cooperar.
Ainda pensava em Zoe... e Chelsea...
tarde da noite, quando entrou em seu
apartamento em um armazém reformado
às margens do Hudson. O luar entrava
pelas janelas e ele se deteve em frente a
uma série de fotografias que Sarah tirara
ao longo dos anos. Fora uma fotógrafa
amadora de talento.
Só depois de sua morte Alex
percebera como suas fotos haviam se
tornado sombrias. Na faculdade tirara
fotos de cães, crianças e cerejeiras em
flor. Mas aos poucos o trabalho fora
ficando contemplativo, e Sarah retratava
pessoas sozinhas vagando pelo Central
Park ou inclinadas sobre uma xícara de
café. As fotos finais eram cheias de
angústia: uma criança chorando no
parque, uma mulher sem-teto sentada na
calçada com os braços marcados em
volta dos joelhos.
Porém, Alex não notara essa
mudança. Na verdade, só passara a dar
importância às fotos de Sarah depois de
sua morte.
Mas olhando para elas agora – Alex
emoldurara
as
melhores
fotos
pendurando no seu apartamento – sentiu
que Sarah desejara mandar uma
mensagem mesmo subconscientemente.
Como essas pessoas estou presa, só e
amedrontada. Ajude-me.
Alex fechou os olhos diante da
emoção indesejada. Podia ajudar agora,
vingar Sarah da única maneira possível:
arruinando Treffen.
E Chelsea poderia ajudar também,
precisava ajudar... fosse qual fosse o
preço para ela, para ele... para ambos.
CAPÍTULO 8
O
usar para ir ao circo? Seu
guarda-roupa tradicional de saias justas
e blusas clássicas não era apropriado,
mas Chelsea não sabia se vestir de
modo casual, a não ser às vezes, dentro
de seu apartamento.
Com as cortinas fechadas podia se
enfiar em um pijama amarfanhado, mas
só se estivesse de muito baixo astral.
Mesmo sozinha se mantinha bem
penteada; era como uma armadura.
Possuía dois conjuntos de calça de cetim
QUE
que serviam para um coquetel.
Mas não para ir ao circo.
Por fim se decidiu por um jeans justo,
um suéter de gola alta de cashmere cor
de cereja e botas marrons de cano alto.
Era um traje que um estilista
providenciara no último outono para sua
aparição no Central Park em um evento
de caridade destinado a crianças
molestadas. Depois Chelsea nunca mais
o usara.
Fez um rabo de cavalo e maquiagem
leve e básica: delineador, pó dourado,
blush e brilho labial.
Difícil acreditar que chegara a se
maquiar como um palhaço, usar muito
spray nos cabelos e vestir conjuntos
muito apertados, baratos e rosa-choque.
Naquela época fora outra pessoa. Nem
mesmo uma pessoa, mas uma concha
vazia, uma morta-viva.
E continua vazia. Só se veste um
pouco melhor.
Afastou o pensamento que continuou a
importuná-la como uma nuvem no
horizonte ameaçando estragar a noite e o
encontro com Alex.
Pensara sobre esse encontro toda a
semana. Por três vezes tentara mandar
uma mensagem para Alex cancelando
covardemente. Porém desistira porque
desejava muito ir. Vê-lo, flertar, se
divertir.
Quando fora a última vez que se
divertira de verdade, e não apenas
fingira? Quando tinha sido feliz?
Que desaparecessem a cobertura, a
carreira de sucesso, o dinheiro e a fama.
Não era feliz há muito tempo.
A constatação não surpreendia, mas
magoava. Trabalhara tanto e se
sacrificara para isso? A solidão, o vazio
e o medo?
Bem, essa noite seria feliz. Flertaria
com Alex, riria dos palhaços e que tudo
o mais fosse para o inferno.
O interfone tocou, e minutos depois
Alex estava no seu apartamento, usando
jeans desbotado e camisa aberta com
uma camiseta cinza por baixo. Os
cabelos
estavam
levemente
despenteados, e seu queixo exibia uma
sexy e leve sombra de barba de fim de
tarde. Chelsea prendeu o fôlego.
Sentia-se nua e ele nem mesmo a
tocara. Nem mesmo dissera “olá”.
– Olá, Chelsea – saudou ele com sua
voz rouca e profunda que a fazia corar e
ferver.
– Olá – respondeu ela, limpando a
garganta e detestando o nervosismo que
sentia. E tinha certeza de que Alex sabia
que estava nervosa pelo seu sorriso
disfarçado.
Pegou a jaqueta vermelha que
comprara para combinar com o resto da
vesti menta. Chelsea Maxwell com
Roupas Casuais.
– Gostei do vermelho – disse Alex,
apertando o botão do elevador. – É uma
mudança do preto e branco.
Ela o fitou de esguelha.
– Também uso cinza, muito obrigada.
E de vez em quando, cor-de-rosa pálido.
– Grande variedade de cores –
afirmou ele, quando as portas do
elevador se abriram. – Mas prefiro o
vermelho.
Ela não respondeu e não falaram mais
até chegarem à rua com o vento frio e
cortante.
Chelsea fitou o ônibus de dois
andares parado na frente do prédio, e
perguntou:
– Fala sério?
– É maravilhoso – respondeu Alex
animado. – Não imagina como é por
dentro.
– Um ônibus falso?
– Venha ver.
Ele colocou as mãos nas costas dela e
a conduziu, tudo parecendo muito certo.
Era assim que gente normal e
emocionalmente ajustada procedia.
Encontros. Risadas. Toques. Ela nunca
fizera isso... apenas sexo ou nada mais,
e tinha certeza de que era o mesmo com
Alex.
Mas essa noite seria diferente.
– Céus – murmurou Chelsea ao entrar
no ônibus. Os assentos haviam sido
retirados e substituídos por sofás
vermelhos e cor púrpura, e a escada
espiral que levava ao topo fora pintada
com tinta fluorescente.
Alex encheu duas faças com o
champanhe que estava ali em um balde
de gelo, e Chelsea aceitou depois de
breve hesitação. Não costumava beber,
mas nessa noite queria relaxar um pouco
e ser menos rígida.
E depois voltará a ser a mulher de
sempre? É o que quer? Uma noite de
liberdade e talvez de felicidade sendo
outra pessoa para depois voltar à
controladora e fria Chelsea Maxwell?
Ela ergueu a taça.
– Saúde – disse, tomando um longo
gole.
Alex brindou, encostando sua taça à
dela.
– A uma única noite fantástica. Vamos
subir.
Enquanto subiam com a mão de Alex
nas suas costas, Chelsea refletiu o que
significaria única noite. Nenhum bis?
Nenhuma promessa? Deveria se sentir
aliviada, e não desapontada. Alex
dissera que seria apenas um encontro.
Explicara que não costumava agir assim,
mas
acrescentara
que ainda não
acabara. O que significava que um dia
acabaria com ela. Quem sabe esta noite.
Mas, afinal, ela não estava
procurando por contos de fadas.
Estava?
Claro que não. Como Alex, ainda não
acabara, e como ele terminaria... um dia,
em breve.
O ar frio os atingiu no topo do ônibus
que seguia devagar. Mesmo assim o
vento fustigava o rosto dela.
– Aqui deve ser melhor no verão –
comentou Alex, dirigindo-se com
Chelsea para o gradil. – Porém, eu não
queria esperar.
– Manhattan é sempre linda em
qualquer estação, mas vamos congelar
aqui.
Deixaram o parque e agora desciam a
Fifth Avenue com suas butiques
iluminadas. Chelsea fincou os cotovelos
no gradil e tomou mais champanhe,
confessando:
– Jamais vi a cidade do alto de um
ônibus.
– Nunca fez turismo em um ônibus da
Big Apple?
– Não.
– Aposto que nunca subiu na Estátua
da Liberdade nem no Empire State
Bulding – murmurou Alex. Ela balançou
a cabeça e ele também, fingindo uma
pena que a fez sorrir. – Ellis Island?
– Não e não.
– Times Square?
– Evito.
– Aposto que fez as visitas clássicas
ao MoMA e ao Metropolitan.
– Só fui a festas ali. – Chelsea mentiu.
Assim que se mudara para Nova York,
sem dinheiro e com as cicatrizes ainda
vermelhas, passara muito tempo no
Jardim Chinês do Met, um oásis de
calma na cidade e em sua vida. Ainda ia
lá algumas vezes quando precisava se
recompor.
– Vejo que tenho uma missão –
declarou Alex. Debruçou-se no gradil,
tocando o ombro dela. – Mostrar para
você a Nova York dos turistas.
– Parece divertido. – Ver todos os
lugares prosaicos e tolos com Alex, rir,
brincar. De repente Chelsea desejou
muito fazer isso... com ele. – Já fez
todos os passeios turísticos?
– A maioria dos nova-iorquinos nunca
faz. Mas agora que tenho um motivo
farei. Fiz um passeio com a escola na
Estátua da Liberdade quando criança.
– Isso não vale.
– Por que não? Subi todos aqueles
degraus.
– Do jeito que fala pensei que ia à
Ellis Island um fim de semana sim e
outro não
– Talvez eu faça isso agora que tenho
um motivo.
Fitaram-se, e por um momento a
cidade e suas luzes desaparecerem,
restando apenas o enorme magnetismo
que sentiam um pelo outro.
Chelsea foi a primeira a desviar o
olhar.
– Já deixou a cidade? Morou em outro
lugar? – perguntou por fim em tom
calmo.
– Quatro anos em Boston na
universidade. Apenas isso.
– Sim, Harvard – murmurou Chelsea.
– Isso mesmo.
– Com o filho de Treffen.
– Sim.
– Como ele descobriu sobre o pai?
Presumindo, é claro, que existisse algo a
descobrir.
– Ainda duvida de mim, Chelsea?
– Não exatamente. – Ela o fitou com
franqueza. – Mas é tudo muito difícil de
assimilar. Acreditar. E, sinceramente,
preferiria não acreditar.
– Compreendo.
– Então, como ele descobriu?
Alex endireitou os ombros, fitou a
Fifth Avenue e o Empire State Building,
que parecia uma vela iluminada em meio
à escuridão, e respondeu:
– A irmã de uma das vítimas se
apresentou. Sei que precisamos falar
sobre Treffen e que você precisa de
provas. Pode ser que lhe apresente uma
em breve, mas esta noite... Vamos
apenas nos divertir no circo.
– Gosta mesmo do circo, não? – Ela
sorriu com o coração acelerado em um
misto de dor e animação.
– Nunca fui lá quando criança.
Ela sentiu pena sem saber por quê. E
nem queria saber.
– Certo, chega de falar de Treffen
hoje.
Ele sorriu e voltou a fitar o cenário de
luzes da cidade.
– Então você é do Alabama. Cresceu
em uma grande plantação sulista?
Claro que não, mas Chelsea não iria
admitir.
– Minha infância foi mais simples.
– Uma educação feliz no sul – disse
Alex, e Chelsea levou um minuto para
perceber que ele citava sua biografia
insossa e totalmente fictícia.
– Você falou de seu pai em uma de
suas entrevistas – prosseguiu Alex. –
Fiquei com inveja. Parecia um grande
sujeito.
Chelsea ficou gelada. Ocasionalmente
citava seu passado fictício no programa;
era inevitável quando as celebridades
lhe faziam perguntas, e sempre era bom
para aumentar o índice de audiência.
Chelsea inventara um pai que a levava
aos jogos de futebol e a carregava nos
ombros. Também tinha uma mãe que
trabalhava
meio
período
como
advogada, mas ficava muito em casa
assando bolos.
E ocasionalmente os repórteres
tentavam cavar mais fundo, e chegaram a
criar um escândalo alegando que ela não
se dava com os pais, o que, em parte,
era verdade.
– Não sabia que assistia ao meu
programa – comentou, quando seu
cérebro voltou a funcionar.
Alex deu de ombros.
– Assisti alguns on-line.
– E por que sentiu inveja de mim?
– Meu pai nunca esteve ao meu lado.
Jamais o conheci.
Alex afastou o rosto, e Chelsea sentiu
que falara mais do que desejara. A
emoção a dominou e as palavras ficaram
presas em sua garganta porque desejava
lhe dizer que sabia como ele se sentia,
mas é claro que não podia fazer isso.
Alex pensava que ela tivera um pai
amoroso, e Chelsea também não
conhecera o seu. Nem sabia seu nome.
– Lamento – murmurou ela, e Alex
deu de ombros de novo.
– Bem, não se sente falta do que
nunca se teve, não é?
– Creio que você sente – retrucou ela.
Sem dúvida ela sentia falta da
infância que nunca tivera. Uma casa com
quintal e um balanço. Um papai.
Segurança, felicidade e apenas pequenas
coisas com que se preocupar, como o
que haveria para o lanche ou se o dever
de casa era difícil.
Nada de se preocupar se haveria o
que comer ou se o namorado de sua mãe
iria acordá-la no meio da noite com a
mão sob sua camisola.
– Pode ser – concordou Alex. –
Costumava pensar em meu pai surgindo
um belo dia e dizendo que sempre
pensara em mim. – Balançou a cabeça. –
Isso nunca aconteceu. E nem poderia.
– Por que não? – perguntou Chelsea
com doçura, embora pudesse imaginar.
Um pai desaparecia porque não amava a
família. Porque esposa e filhos... não era
motivo suficiente para ficar.
– Ele era casado com outra – explicou
Alex.
Chelsea piscou diversas vezes.
– Oh.
– Sim. – Ele sorriu e seus dentes
brilharam no escuro. – Minha mãe não
quis me contar. Nunca falava sobre ele;
porém, quando eu tinha 14 anos, insisti e
ela contou. Meu pai era um executivo no
escritório onde ela fazia limpeza à noite.
Tiveram um breve romance, e ela se
envergonhava muito. Depois... -– Alex
se interrompeu, balançou a cabeça, e
mesmo no escuro Chelsea podia ver sua
expressão sombria.
Em geral, Chelsea não bisbilhotava.
Não fazia perguntas íntimas fora do sofá
cor-de-rosa, porque assim não lhe
perguntariam nada também. Porém,
agora estava curiosa, e não apenas a
respeito de um conhecido, mas sentindo
necessidade de compreender outra
pessoa. Queria saber o motivo para
Alex se fechar tanto e como fazê-lo se
abrir.
Que piada. Desconhecia tudo sobre
essas coisas. Intimidade. Honestidade.
Compreensão. Mesmo assim sentia uma
compulsão amedrontadora de tentar.
– O que aconteceu depois? –
perguntou com calma. – Sua mãe contou
outras coisas?
– Não. – As palavras surgiram lentas,
mas ele tinha vontade de explicar. –
Porém, o modo como falava de meu
pai... com repulsa... me fez imaginar se
fora de fato um romance ou um estupro.
Chelsea gelou.
– Que horror – murmurou. – Lamento.
– Nunca perguntei. Sempre a visito,
todos os meses, mas nunca falamos
disso. – Voltou-se para ela e sorriu com
tristeza e frieza ao mesmo tempo. –
Então percebe como seu pai, que a
levava aos jogos de futebol, me parece
algo maravilhoso? Sua infância normal e
tudo o mais.
Era mentira, mas Chelsea não podia
contar a verdade agora. Toda a sua vida
era baseada em mentiras, e fora a única
maneira de deixar o passado para trás.
Mas agora sentia a carga do engodo.
Jamais havia sido muito honesta com
ninguém nem tentara, nem mesmo com
Michael.
Contudo, com Alex ao seu lado,
sorrindo daquele jeito, meio frio e meio
triste, se sentia tentada a contar. Queria
dizer que sua mãe nunca falara de seu
pai, mas que ela e Louise encontraram
na gaveta de calcinhas dela uma
fotografia de um homem com cabelos
claros e os mesmos olhos cinzaesverdeados que elas tinham. Ele
possuía um sorriso amigo, e Chelsea
imaginara o que a mãe fizera para que
fosse embora.
Entretanto, se forçou a não contar
nada. Não havia razão para se abrir com
Alex, porque era apenas um encontro e
nada mais. Talvez com sexo ao final.
Alex não oferecera nada mais do que
isso, e ela também não estava
procurando,
nem mesmo
nesses
momentos de abertura, quando ansiava
por algo mais. Alguma coisa mais
profunda.
– Creio que é fácil aceitar a
normalidade – comentou, embora fosse
pura conjectura. Nunca conhecera a
normalidade.
– Estou gelada aqui em cima. Vamos
descer.
– Espere. – Alex passou o braço por
seus ombros com gentileza, e isso foi
mais íntimo do que o sexo que haviam
compartilhado. – Veja.
Apontou no escuro, e Chelsea viu a
Estátua da Liberdade iluminada no
porto, o braço com a tocha erguido com
orgulho.
– Vou leva-la até lá – prometeu Alex,
e por um instante Chelsea apoiou a
cabeça em seu ombro, se revigorando no
aconchego de seu braço.
– Considero-me devidamente avisada.
Rindo de leve, ele a conduziu para
baixo.
Tomaram mais uma taça de
champanhe enquanto o ônibus rumava
para o circo no Lincoln Center, e
Chelsea se sentia relaxada e um pouco
tonta. Em geral não bebia, e duas taças
de champanhe eram demais.
E isso deixava a noite mais solta.
– Acho que estou gostando de andar
de ônibus – confessou, espreguiçando-se
no assento púrpura.
Alex riu.
– Para variar do sofá cor-de-rosa,
não?
Ela cruzou os braços atrás da cabeça
e esticou as pernas em um gesto
displicente.
– Sem dúvida. Por que deu um lance
pela “Noite em Família”, Alex?
Ele se sentou ao seu lado, colocando
as pernas dela sobre seu regaço.
– Como disse, nunca fui ao circo
quando criança.
– Eu também não – confessou
Chelsea,
fazendo-o
arquear
as
sobrancelhas.
– Estranho. Pensei que tivesse tido
todas as clássicas experiências infantis,
conforme diz sua biografia.
Chelsea deu de ombros. Talvez
tivesse exagerado na falsa biografia,
suprimindo todos os detalhes de sua
infância solitária.
Alex acariciou seu joelho de modo
distraído, pois sem dúvida pensava em
outra coisa. Porém, seu jeito distraído a
fez desejar carícias de verdade.
– Quando foi que ocorreu o acidente
de carro? – perguntou ele de supetão,
arrancando Chelsea de seu momento de
prazer.
Chelsea quase perguntou que acidente
de carro, mas lembrou a tempo dessa
mentira. Ninguém jamais vira sua
cicatriz, portanto a mentira fora difícil
de dizer e era difícil de sustentar.
– Há... dez anos.
– Deve ter sido muito sério –
comentou Alex.
– Sim. – Não fora bem um acidente,
mas um atentado. Bobagem da parte dela
ter começado com a mentira.
Alex ergueu o rosto e a fitou com seus
olhos brilhantes.
– Não gosta de falar sobre isso...
– Dá para perceber? – Ela arqueou as
sobrancelhas.
– Um pouco. – Ele sorriu com frieza.
– Desculpe. Não quero bisbilhotar.
Mas está bisbilhotando, pensou
Chelsea. Bisbilhota sobre a minha vida
e meu coração desde que me conheceu.
Porém nada disse, e um momento
depois o ônibus parou em frente ao
Lincoln Center.
– Acho que é fim da linha.
– Vamos ver os palhaços – disse
Alex, pegando Chelsea pela mão.
Era uma sensação muito natural
segurar a mão morena dele, e Chelsea
ainda se sentia envolta na frágil bolha de
felicidade quando entraram na enorme
tenda erigida na praça do Lincoln
Center.
A multidão os envolveu, e Chelsea
sentiu
alguns
olhares
curiosos,
percebendo que fora reconhecida.
Era uma celebridade muito mais
conhecida que Alex, cujo trabalho
ficava afastado dos holofotes. Estava
acostumada a ser reconhecida dentro de
sua limusine ou usando suas roupas
tradicionais no trabalho que a deixavam
segura. Salva.
Contudo, agora, mesmo com a mão
segura de Alex e sua presença ao lado,
ela sentiu a terrível e conhecida
sensação de pânico. O coração disparou
e começou a ver pontos negros diante
dos olhos. Era só o que faltava. Um
ataque de ansiedade tão difícil de
dominar. Sentiu as mãos comicharem, e
tratou de respirar.
Inspire. Expire.
Mas sua visão estava turva e a
cabeça, leve. Não podia desmaiar. Não
ali no meio da multidão e com Alex. Era
cada vez mais difícil respirar. Seu
coração batia tão forte que chegava a
doer, e a cabeça parecia um balão
flutuando.
– Vamos, molenga – brincou Alex,
arrastando-a pela mão. – Não quero
perder os palhaços. – Virou-se para fitála porque Chelsea parara de andar.
Parecia que não conseguia se mover
com os pés pregados no chão.
– Chelsea – disse de novo, porque
sem dúvida algo não estava bem.
Ela tentou falar, mas não conseguiu.
Nem sabia se conseguiria abrir a boca.
Sentiu o braço forte de Alex na sua
cintura, e ele a puxava para si.
– Venha, Chelsea – murmurou, sempre
com o braço à sua volta, conduzindo-a
para seus lugares na primeira fila perto
do picadeiro.
Sentaram-se bem próximos e o calor
de Alex a confortou. A visão voltou ao
normal. Superara o ataque.
Entretanto, acontecera, e era tarde
para disfarçar.
Após um longo silêncio com Chelsea
fingindo ler o programa que tinha nas
mãos, ele comentou:
– Disse que não tinha medo de
palhaços – brincou ele, e Chelsea
agradeceu a brincadeira que lhe dava
uma desculpa. Não suportaria nenhuma
pergunta séria nesse momento.
– E acha que vou admitir isso? – Ela
riu, graças a Deus com voz normal.
– Já pensou em fazer terapia?
– Pensei que enfrentar meu medo cara
a cara seria bom.
Ele sorriu com simpatia e algo mais.
Admiração.
– Parece que não deu certo, mas foi
muito corajosa em aceitar meu convite.
Na verdade, refletiu Chelsea, não
estava falando sobre palhaços, mas
sobre terrores mais profundos.
– Chama-se coulrofobia – explicou
Alex com seriedade. – Medo de
palhaços.
– Não sabia que existia um termo
técnico para isso.
– Poucas pessoas têm essa fobia de
fato. – Ele a encarou com expressão
severa. – E você não tem.
Com certeza. Chelsea tinha medo de
muitas coisas... demais... mas não de
palhaços. Tentou dizer algo... mas o
quê? O que explicar e como começar?
Alex ignorava tanto ao seu respeito. E
ela não estava pronta para admitir e se
revelar por mais que, em parte, sentisse
vontade.
Chelsea examinou o programa que
tinha em mãos com a capa colorida
exibindo palhaços e ambos ficaram em
silêncio.
– Posso descobrir os segredos que
esconde – disse ele por fim – em
questão de minutos.
Chelsea sentiu medo.
– Sem dúvida, já que tem sua própria
rede de notícias – respondeu ela quando
se recompôs, e se voltando para encarálo. – É uma ameaça?
O olhar penetrante dele parecia ler
sua alma.
– Não, é uma promessa, porque
esperarei até que confie em mim para
me contar.
A promessa dita com calma a
perturbou. Não sabia que ele desejava
conhecê-la, saber de seus segredos. E
essa conclusão a apavorava. Engoliu em
seco e desviou o olhar.
– Pensei que fosse apenas um
encontro, Alex. Sexo e circo, estou
certa? – Fitou-o de novo.
Alex franziu a testa com expressão
confusa.
– Sim – respondeu devagar. – Está.
AS LUZES diminuíram e o espetáculo
começou. Alex fitou o picadeiro onde o
mestre de cerimônias surgia com gestos
floreados sob muitos aplausos.
Mas estava distraído. Seu cérebro
fervilhava. Por que diabos dissera
aquilo?
Essa noite era uma aberração. Um
encontro. O flerte.
Falar sobre sua mãe. Seu pai. Nunca
fazia isso; entretanto, desde que
convidara Chelsea para sair, vinha
quebrando todas as regras. Agindo por
instinto ou movido por uma necessidade
que não desejava reconhecer.
Porque era tão bom se abrir com
alguém, poder contar para outra pessoa.
E Chelsea era igual a ele de tantas
maneiras: dura, forte, independente,
isolada.
E mesmo assim tinha ataques de
pânico. E segredos. Será que ele queria
enfrentar essas coisas?
Voltou a se focalizar no espetáculo, e
olhou para Chelsea esperando ver uma
expressão impaciente diante das
apresentações ingênuas e tradicionais no
picadeiro. Fizera o lance pelas entradas
no circo porque nunca fora quando
criança e queria ir com Chelsea, por
mais ridículo que fosse.
Mas não esperara vê-la encantada.
Não havia outra palavra para definir sua
atitude enquanto se inclinava para a
frente no assento, as mãos no rosto, os
olhos brilhantes enquanto assistia aos
dois acrobatas fazendo piruetas
seguidas. Ele quase riu quando Chelsea
pôs a mão sobre a boca ao ver o
trapezista dar um salto mortal. E as
risadas cristalinas quando os palhaços
fizeram graça dando voltas no picadeiro.
Porém, Alex não estava interessado
no espetáculo com acrobatas e palhaços.
O show muito mais interessante era a
gama de emoções no rosto de Chelsea.
Muita coisa nela era artificial, refletiu, e
quando conseguia perceber traços da
verdadeira mulher por baixo da máscara
da apresentadora do talk show sentia
vontade de conhecê-la ainda mais.
Tocá-la. Fazê-la sentar no seu colo e
se perder na sua suavidade... pois, para
uma mulher que desejava ser conhecida
no mundo como dura, Chelsea Maxwell
podia ser incrivelmente suave.
Quando as luzes se acenderam e ela
piscou, Alex disse:
– Então você gostou do circo.
Era uma afirmação, pois seu
encantamento fora tão óbvio, e a mágica
ainda a envolvia.
Tudo nela era rubor, maciez e beleza.
Seus cabelos caíam em ondas
emoldurando o rosto, os lábios rosados
estavam entreabertos, e os olhos
brilhavam.
– Adorei – admitiu Chelsea com uma
risada. – Quem diria?!
– Eu, com certeza, não diria –
retrucou Alex, passando o braço pela
sua cintura. – Há tanta coisa que
desconheço sobre você.
E então ela balançou a cabeça e as
portas voltaram a se fechar e os muros a
se ocultar, trazendo de volta Chelsea
Maxwell com seu maior talento, aquele
que Alex já conhecia bem.
Disfarçar.
Quanto mais tempo passava com ela
mais descobria que existia um coração
terno sob o gelo, uma mulher calorosa e
até boa sob a atitude dura.
Mas o que ele faria com essa
informação?
Uma limusine os aguardava à saída do
Lincoln Center.
Chelsea se virou para ele e arqueou
as sobrancelhas.
– Chega de ônibus? – perguntou ela.
– Foi só para a vinda. De qualquer
modo, não posso fazer amor com você
em um ônibus com o motorista tão
visível. Tenho meus limites.
Os olhos dela chispavam de desejo ao
penetrar no interior luxuoso do veículo.
– E quem disse que fará na limusine?
Alex se sentou ao lado roçando a
perna na dela enquanto o motorista
fechava a porta.
– Está me desafiando? – quis saber
ele.
Chelsea corou, fazendo-o lutar para
não tocá-la. Segurá-la. Mergulhar tão
fundo nela até esquecer o próprio nome.
– Foi só uma pergunta.
– Então responderei – murmurou
Alex. – Digo que faremos amor.
Passou a mão pela sua nuca com
delicadeza, e a puxou para si. Sentiu a
resistência abandoná-la enquanto roçava
os lábios nos seus como um primeiro
beijo da noite. Ouviu-a suspirar
levemente enquanto relaxava e se
entregava ao beijo, os lábios
entreabertos.
Em resposta ele roçou sua boca de
novo, uma, duas vezes, embora a libido
implorasse para que usasse de mais
força e rapidez. Da última vez os beijos
tinham sido uma questão de controle,
poder, vencer ou esquecer tudo. Não
estavam medindo forças no beijo desse
momento; só a doçura existia.
E doçura devia ser o que Chelsea
desejava, porque ele sentiu as mãos dela
em seus ombros o puxarem para perto de
seu corpo, a respiração ofegante na boca
aberta. Mas ele continuou a ditar o ritmo
e ela permitiu, enquanto Alex continuava
a beijá-la saboreando seu gosto devagar.
Delicioso.
Emoldurou o rosto de Chelsea com a
mão e passou o dedo pelo canto de sua
boca que ainda beijava. Deslizou os
dedos pela sua face, e parou ao sentir
umidade. Quando se afastou, Alex viu
uma lágrima em seus olhos.
O que estava acontecendo?
Chelsea afastou o rosto depressa,
colocando as mãos no rosto e apertando
os cantos dos olhos como se assim
pudesse negar a pequena lágrima
traidora.
Alex não fez comentários porque
aquela lágrima o deixara aterrorizado.
Que diabo estava fazendo tentando
afetar essa mulher?
– Pensei que fôssemos continuar –
disse Chelsea com a voz sufocada. –
Não era essa ideia, Alex? – perguntou
com mais agressividade. – Porque
estamos quase chegando ao meu
apartamento.
– Então não percamos tempo.
Assim dizendo, ele a colocou sobre o
colo, beijando-a com calor. Suas línguas
se uniram, e Alex sentiu que ia gemer.
Deslizou a mão para a frente do jeans de
Chelsea e apertou. Ela o apertou também
ali, deixando-o mais excitado.
Ele baixou o zíper do jeans de
Chelsea, comentando:
– Não vai ser fácil – murmurou ele, e
Chelsea se afastou, e arqueou as
sobrancelhas em desafio.
– Não sou fácil.
– Sei disso.
Ele desabotoou o jeans e baixou o
zíper.
– E não gostaria que fosse de outra
maneira.
E não foi fácil. Mas rápido, violento e
passional, principalmente livre. Depois
daquela lágrima, Alex sabia que era
disso que precisava. E sabia que ela
também.
Havia segurança na selvageria,
conforto no calor dos corpos. Não era
preciso pensar. Não havia espaço para
imaginar ou se importar.
Bastava sentir, e era bom.
Quando terminaram Chelsea encostou
a cabeça em seu ombro e deixou escapar
um suspiro. Seu jeans estava abaixado
até os quadris, assim com o de Alex.
Chegaram ao prédio dela e Alex se
apressou a trancar a porta para que o
motorista não tivesse tempo de abrir e
ver os dois quase sem roupa. Chelsea
riu, e sua risada reverberou até o
coração dele.
– Pensou depressa.
– Sou assim.
– Sem dúvida. Reparei que trouxe o
preservativo no bolso de trás da calça.
Muito preparado.
– Sou um escoteiro. Dos bons.
– Ainda bem.
E de repente, estupidamente, Alex se
sentiu um cafajeste. O senhor dos
encontros de uma só noite se sentiu um
gigolô. Haviam banalizado mais algo
que já era banal ou assim acreditavam.
Sexo e circo.
Chelsea alcançou a maçaneta para
destrancar e Alex soube que devia dizer
alguma coisa. Pedir para ela ficar. Puxála de novo para si. Porém, a lembrança
daquela única lágrima o manteve calado,
pois não sabia o que fazer com a
Chelsea que chorava quando ele a
beijava.
Que
possuía
segredos
dolorosos, segredos que a tornavam
diferente da mulher forte com a atitude
dura. Segredos que complicavam a
situação e a tornavam emocional e
íntima, e Alex não gostava disso.
Então ficou em silêncio enquanto ela
abria a porta e descia da limusine,
lançando-lhe um olhar por cima do
ombro.
– Adeus, Alex – disse, e ele notou que
era o fim no seu tom de voz. Percebeu
em seu rosto. Sentiu no íntimo.
Era hora de se retrair e de se
concentrar em Treffen, e não nesse
pseudorrelacionamento com o qual os
dois andavam brincando.
Um leve sorriso triste surgiu nos
lábios dela enquanto fechava a porta e
Alex apenas olhava. Chelsea podia
querer ir embora, mas fora ele quem
deixara que isso acontecesse.
CAPÍTULO 9
CHELSEA NUNCA chorava, e certamente
não por causa de um beijo.
Não chorara quando recebera o
primeiro beijo babado e nojento aos 6
anos dado por Bo Fielding, o namorado
de sua mãe. Não chorara com os beijos
sem calor na adolescência quando
quisera provar aos meninos sem
importância que era digna de amor. E
não chorara quando Brian Taylor a
beijara mordendo seu lábio com tanta
força que precisara levar pontos.
E não choraria agora porque Alex a
beijara com ternura, fazendo-a lembrar
que tinha um coração que doía.
Nunca fora beijada assim.
Piscou diversas vezes para não
chorar, e entrou no elevador respirando
em grandes sorvos até chegar à
cobertura. Ficara dizendo a si mesma
para ter cuidado, para se esconder, mas
Alex fora tirando suas camadas uma a
uma sem perceber. E ela sentia que ele
não quisera isso; não estava emocionado
nem tocado pelas suas lágrimas.
Não,
Alex só
queria
sexo
descompromissado como ela. Mas a
questão é que ela já não conseguia isso.
Algo se abrira em seu íntimo, e ela não
sabia como sufocar essa sensação e
fingir que não existia.
Então lá estava, voltando para o seu
recanto, sabendo que Alex conseguira
tirar mais uma camada, tocar sua alma
um pouco mais profundamente.
E duvidava que conseguiria correr
para longe e depressa a fim de escapar.
Entretanto, tentaria.
Passou a noite trabalhando no
computador,
preparando
novas
perguntas e ideias para suas entrevistas,
porque o sono sempre era difícil, e
nessa noite tinha certeza de que seria
impossível.
Trabalhou muito por várias horas a
fim de não pensar em Alex, não recordar
o beijo que fora como se uma mão
afundasse em seu peito, agarrando seu
coração e apertando com força.
Não era uma sensação confortante,
mas sem dúvida a fazia ficar acordada e
se sentir viva.
E ela não se sentia tão viva há muito
tempo.
Por volta das 3 horas da manhã,
quando suas pálpebras começaram a
pesar e depois da terceira xícara de
café, ela digitou Jason Treffen na
internet.
O usual apareceu: seu trabalho com
ajuda às mulheres na firma e nas obras
de caridade; fotos dele muito dignas,
uma com a família: a esposa com um
sorriso fixo, o filho carrancudo e duas
filhas bonitinhas.
Teria sido um instante ao acaso preso
na câmera ou algo mais profundo e
sinistro? Será que a esposa sabia das
atividades escusas de Treffen?
Chelsea se aproximou da tela, deu um
zoom no rosto de Treffen e analisou os
olhos azuis com as rugas de lado,
límpidos como um céu de verão.
Ainda agora tinha dificuldade em
acreditar em Alex. Muito bem, Treffen
tinha seus segredos. Certo. Ela não
imaginara a frieza em seu olhar nem a
ameaça velada de revelar seu passado.
Não era tão paranoica. Mas muita gente
tinha seus segredos, até os santos.
Treffen podia ter problemas de evasão
fiscal, porém não era um cafetão para
suas funcionárias.
Porém, Chelsea sabia do que os
homens eram capazes. Com tanta
experiência negativa no seu passado,
tendia a julgar os homens com rigor, e
frequentemente tinha razão. Por que
Treffen seria diferente? Michael
conseguira fazê-la baixar a guarda um
pouco. Quanto a Alex...
Pensou em Alex de novo. Seus dedos
se imobilizaram sobre o mouse e ela
fitou o espaço, desejando não só parar
de pensar nele, mas esquecê-lo.
Esquecer o toque de suas mãos em
seu corpo, o roçar dos lábios dela nos
seus. E, muito mais difícil, como ele a
fazia rir, mesmo que fosse apenas um
esboço de sorriso. Chelsea sentia que ia
se abrindo e relaxando por dentro... e, se
Alex continuasse e ela deixasse, poderia
desabar completamente. Iria cair como
um parafuso frouxo, a máquina Chelsea
Maxwell, para nunca mais se consertar.
Chelsea refletiu por que Alex queria
tanto se vingar de Treffen. Coisas
terríveis aconteciam no mundo, Deus era
testemunha, porém Alex se ressentia de
Treffen de modo pessoal.
O que a fazia imaginar o que estaria
em jogo.
Franziu a testa porque não gostava
que Alex tivesse segredos, porém sabia
que ele tinha, assim como ela também. E
sendo ou não mau jornalismo não queria
pesquisar mais a fundo. E também não
queria que Alex investigasse.
Aquilo era apenas sobre Treffen.
Três dias mais tarde Chelsea terminou
a gravação de um programa e correu de
volta ao escritório para checar as
mensagens no celular. Alex ainda não
ligara. Bem, ele não prometera ligar,
mas poderia contatá-la por causa de
Treffen; afinal, precisavam trabalhar
juntos no caso.
Esperava uma chamada profissional,
tratou de convencer a si mesma. Não
uma ligação particular.
Sim, a quem queria enganar?
O celular tocou, e Chelsea
praticamente saltou pelo escritório a fim
de atender. Era Louise, sua irmã, e
deixou escapar um suspiro involuntário
de frustração ao cumprimentá-la:
– Alô, Louise.
A irmã zombou:
– Ficou tão animada ao me ouvir.
– Desculpe, esperava que fosse outra
pessoa.
– Oh? Alguém interessante?
A irmã soou tão esperançosa por ela.
– Apenas trabalho – retrucou Chelsea,
e Louise suspirou também. Então
Chelsea forçou uma risada animada. –
Lamento desapontá-la.
– Só quero que seja feliz, Aurora –
murmurou Louise –, mesmo que não se
ache merecedora.
Era uma declaração tão profunda que
doeu em Chelsea.
– Meu nome agora é Chelsea.
– Sei disso. – Louise ficou em
silêncio por um momento, e Chelsea
teve a impressão de que desejava dizer
mais. Algo que talvez não quisesse
ouvir.
– Por que me ligou? Nosso jantar será
só na próxima semana.
– Pensei em almoçarmos.
– Almoçar? Mas...
– Sim, sei que não faz parte da rotina
que estabelecemos. Uma rotina bastante
confortável para nós duas. Mas sei como
funciono, Aur... Chelsea, e creio que
você é igual a mim. Mais 15 anos
poderão se passar e continuaremos com
um jantar mensal.
Para Chelsea essa combinação estava
perfeita, e ela perguntou:
– Então, por que a mudança?
– Você é minha irmã e única parenta
viva. Desejo ficar mais próxima.
Chelsea não aguentaria duas pessoas
querendo ficar mais próximas a ela. Mas
talvez Alex já tivesse desistido de se
aproximar. Desistira dela. Quem sabe já
não queria sua ajuda no caso de Treffen.
– Certo – respondeu após um
momento. – Podemos almoçar hoje.
Meio-dia e meia?
– Perfeito. – Louise limpou a
garganta. – Obrigada, Chelsea –
murmurou, e Chelsea pressentiu
lágrimas em sua voz.
Louise já esperava perto da famosa
estátua de Atlas quando Chelsea deixou
o prédio da AMI em Rockefeller Plaza.
O céu estava muito azul e havia um ar de
primavera.
– Olá, Louise.
A irmã sorriu e, para surpresa de
Chelsea, abraçou-a com força. Chelsea
retribuiu automaticamente, passando os
braços pela irmã, embora nenhuma das
duas jamais tivesse sido do tipo
caloroso. Pelo menos Chelsea não era.
E imaginara que Louise também não.
– Do que se trata? – perguntou,
afastando-se. – Almoço, abraços...
pensei que quisesse uma rotina
confortável de jantares.
– Sim. Em geral iria preferir. Porém,
a vida pode ser muita curta para tantas
rotinas – comentou Louise.
– Quem sabe é muito curta para não
se ter rotinas – retrucou Chelsea com
leveza.
– Costumo pensar assim. Mas... –
Louise
se
deteve
demonstrando
vulnerabilidade no olhar. – Você é
minha irmã, Chelsea, e passei os últimos
dez anos imaginando sobre você,
desejando... – Balançou a cabeça
fazendo os cabelos dançar. – Vamos
almoçar.
Chelsea imaginou o que Louise
desejara. Que as coisas fossem
diferentes entre elas? Que ficassem mais
próximas? Às vezes também desejara
isso, quando se sentira por baixo. A
maior parte do tempo não se deixava
levar pelo impulso e para a fria solidão
que sentia.
– Vamos almoçar – concordou.
Minutos depois estavam sentadas em
um compartimento forrado de couro em
um bistrô elegante do centro da cidade e
repleto de executivos.
– Então, conte-me algo excitante na
sua vida, já que na minha não acontece
nada – pediu Louise.
– Nada? – Chelsea tomou um gole de
água. – Essas palestras femininas de
estudos devem ser bem animadas.
Louise ergueu os olhos com
impaciência.
– Sim, às vezes são demais.
Chelsea sorriu, gostando dessa
conversa diferente e bem-humorada com
a irmã... pelo menos até que Louise
parou de sorrir e a fitou com seriedade.
– Conte-me o que está acontecendo.
– Não tenho nada para contar.
– Parece diferente.
– Diferente? – perguntou Chelsea,
arqueando as sobrancelhas. – Como? –
Por que Louise perguntara isso? Ora,
ganhava a vida entrevistando pessoas.
Sabia como interromper um assunto
inconveniente. Mas estava curiosa e
queria saber o que a irmã observara.
– Não sei bem. De certo modo está
mais ansiosa e ao mesmo tempo mais
calma, se é que isso faz sentido.
De certa forma fazia.
– Não sabia que me conhecia tão bem
– comentou Chelsea.
– Conheci você quando ainda estava
crescendo, Chelsea – murmurou Louise.
– Pode ter mudado muito por fora, mas...
Por dentro continua a mesma.
Chelsea balançou a cabeça. Não
precisava ouvir essas coisas.
– Chega disto, Louise – retrucou,
pegando o cardápio. – Vamos pedir.
Tentou manter a conversa fora de
assuntos pessoais durante o almoço,
reconduzindo
para
temas
mais
genéricos.
– Nem sei onde você fez faculdade,
Chelsea.
Chelsea respondeu enquanto comiam
um prato grande de salada.
– Há muita coisa que não sabe ao meu
respeito, nem eu sobre você – disse
Chelsea, garfando um tomate. – Bem,
vamos começar sobre você e onde fez
faculdade – murmurou com displicência.
Só isso e nada mais.
– Aqui mesmo. Universidade de Nova
York.
– Então mora em Nova York há muito
tempo?
– Cerca de oito anos – respondeu
Louise.
E ela, há dez anos. Espantoso pensar
que ambas haviam deixado o Alabama
para ficar na Big Apple, viviam a
poucos quilômetros de distância uma da
outra e nunca tinham tomando
conhecimento disso.
– Procurei por você, sabia? – disse
Louise de modo abrupto, mordendo o
lábio e desviando o olhar.
– E me encontrou.
Mantenha o tom tranquilo, pensou
Chelsea.
– Não, me refiro a muito antes.
Chelsea ficou tensa.
– Quando?
– Alguns anos atrás. Seis, sete?
Depois que... bem, quando eu estava em
um bom lugar.
Chelsea não entendeu o que ela queria
dizer com isso, e também não perguntou.
– Já havia mudado de nome nessa
época – disse em voz alta, e Louise
aquiesceu com um gesto de cabeça.
– Nunca me contou por que mudou de
nome.
– Já lhe disse que queria evitar certa
pessoa do Alabama.
– Um homem.
– Sim... por que tantas perguntas,
Louise? – Sua pele arrepiou e de repente
sentiu um sentiu um nó na garganta. –
Pensei que iríamos esquecer o passado.
– E esquecemos?
– Talvez não plenamente, mas também
não está muito ansiosa em falar do seu.
Sua história pessoal. Não me contou
nada dos últimos 15 anos. Tudo que sei
é que foi de menina pobre do
estacionamento
de
trailers
para
professora registrada de faculdade.
– E você tem seu próprio programa de
televisão com celebridades.
– Ainda bem que avançamos na vida.
Louise concordou com um gesto de
cabeça lento, e depois ergueu os olhos
sombrios para Chelsea.
– Exceto que, às vezes, não acredito
nisso.
Chelsea também balançou a cabeça.
– Será que jogaram alguma coisa na
água ultimamente que fez com que as
pessoas ficassem emotivas e com
vontade fazer confidências?
– Então existe algo na sua vida –
retrucou Louise. Um segredo íntimo. Um
homem.
– Não...
– Posso não conhecê-la bem agora,
Chelsea, mas a conheci com 6 anos.
Dez. Dezesseis.
– E não quero me lembrar daquele
tempo.
– Sei disso.
Chelsea abriu a boca para pedir para
a irmã parar com o interrogatório, mas
de repente quis jogar tudo para o alto.
Estava cansada de afastar as pessoas.
Farta de se isolar. E qual era o
problema de sua irmã saber o que
acontecera? Tinha certeza de que não a
condenaria nem julgaria, muito menos
despejaria seu segredo nos jornais
sensacionalistas.
E seria tão bom desabafar com
alguém, contar um pouco sobre sua vida.
Seria como lancetar uma ferida...
– Muito bem, quer a verdade? –
perguntou, e Louise arregalou os olhos
surpresa, concordando.
– Claro que quero.
– Conheci esse sujeito. Seu nome é
Alex. De início me procurou por
questões de... trabalho, mas... – Parou de
falar sem saber como explicar. Quanto
contar.
– Mas?
– A situação se tornou bastante
pessoal. Mais do que eu esperava ou
queria. – Só que, em parte, Chelsea
queria. Uma parte bem grande de seu ser
queria. Engoliu em seco.
– E? – incentivou Louise com
paciência.
– E isso é tudo, verdade. Acho que se
tornou muito intenso para ele... eu me
tornei muito intensa, e ele se afastou.
– Conversou com ele sobre isso?
Sobre o que aconteceu, seja lá o que
for?
– Não.
– Então...
– Tanto faz – disse Chelsea com
brusquidão. – Não estou interessada em
um relacionamento.
– Por que não?
Chelsea apenas balançou a cabeça. Já
passara por muita coisa antes.
– E Michael Agnello? – perguntou
Louise, surpreendendo Chelsea.
– O que tem Michael?
– Você e ele são muito próximos. –
Louise deu de ombros. – Por isso
pergunto.
– Nunca dormimos juntos. – Louise
aquiesceu com um gesto de cabeça, e
Chelsea perguntou de supetão: –
Acredita?
– Sim – respondeu Louise com os
olhos sombreados de dor.
– Mas sou capaz de dormir com
alguém para conseguir um emprego. Já
fiz antes – confessou Chelsea. Por que,
diabos, dissera isso?
– Há 15 anos estávamos desesperadas
– concordou Louise com calma. – O
desespero nos torna capazes de muita
coisa.
– E do que foi capaz, Lou? –
perguntou Chelsea com meiguice,
usando o apelido de infância que não
pronunciava há mais de uma década.
Por um segundo apenas pensou que
Louise contaria, mas ela torceu a boca,
seus olhos ficaram ainda mais sombrios,
e depois sacudiu a cabeça, murmurando:
– Estamos falando de você, Chelsea.
E do seu rapaz.
– Quero saber sobre você – teimou
Chelsea com sinceridade. Louise tornou
a sacudir a cabeça.
– Outra hora. Fale de Alex.
E Chelsea obedeceu. Contou sobre o
encontro em seu apartamento, deixando
de lado alguns detalhes mais picantes, e
sobre o único encontro para o circo.
Contou até sobre a lágrima.
– Nunca choro – disse, embora nesse
momento se sentisse prestes a chorar de
novo. – Mas quando ele me beijou como
se me conhecesse... quase como se...
como se...
– Como se a amasse? – completou
Louise suavemente. O queixo de Chelsea
caiu.
– Não seja ridícula! Mal nos
conhecemos. Amor! Ele não me conhece.
– Não está dizendo coisa com coisa,
Chelsea.
– Não preciso fazer sentido – retrucou
ela com agressividade. – Isso nada tem a
ver com amor, apenas com...
Louise arqueou as sobrancelhas,
incentivando:
– Com...?
– Oh, vamos parar! – Chelsea se
recostou no assento com brusquidão. –
Não aguento mais. Não gosto de falar
dessas coisas com ninguém por um
motivo. Porque me esgotam.
– Eu sei. – Louise também falou com
brusquidão. – Então o que fará agora?
– Sobre o quê?
– Sobre Alex. Vai ligar para ele?
Revê-lo?
– Alex não ligou mais desde...
– E você por acaso tem 13 anos?
Precisa esperar que o rapaz telefone?
Acho que não. – Chelsea apenas
balançou a cabeça e Louise se inclinou
para a frente, segurando sua mão. –
Olhe, Chelsea, entendo. Essa situação é
assustadora. Você não quer se expor.
Ser rejeitada.
– Creio que você é igual a mim –
comentou Chelsea.
– Sim, mas gostaria de tentar...
gostaria de poder ser diferente. – Louise
suspirou. – Nossa carga emocional
afundaria um navio, eu sei. Sem pai e
com uma mãe quase prostituta.
– Louise...
– E outras coisas mais. – Mordeu o
lábio, de repente com vontade de chorar.
Chelsea sentiu uma emoção dolorosa
queimar seu peito.
– Olhe, a vida é curta, Chelsea. Muito
curta. Quer viver sozinha em sua torre
de marfim na cobertura até morrer e só
descobrirem isso quando seu cadáver
começar a cheirar mal?
– Que linda imagem – ironizou
Chelsea.
– Falo sério. Isso pode acontecer. –
Louise respirou fundo. – Comigo
também, se nenhuma de nós deixar
alguém entrar em nossas vidas.
– E se Alex não quiser entrar na
minha vida? – questionou Chelsea com
voz trêmula, embora tentasse ser
agressiva.
– Não saberá até perguntar para ele –
respondeu Louise com simplicidade. –
Não pode arriscar seu coração e
permanecer a salvo. Não funciona
assim.
O celular de Chelsea tocou e ela
pegou a bolsa do chão com o coração
pulando. Não era Alex, mas uma
mensagem de Michael lembrando-a de
assinar o papel que o advogado de
Treffen enviara.
Chelsea nem mesmo pensara em
Treffen nesse dia. Talvez devesse se
encontrar com Alex para falar sobre
isso. Ainda precisava da famosa prova;
pelo menos isso a deixaria mais próxima
de Alex. Poderia vê-lo, tocá-lo...
Ou talvez fosse melhor deixar tudo no
campo profissional. Caso conseguisse.
– Ligue para ele, Chelsea – disse
Louise, dessa vez com ar de riso.
Só então Chelsea percebeu que
continuava fitando o celular na mão.
– Veja Alex de novo. Não precisa
fazer uma grande declaração, apenas lhe
dê uma chance.
– CHELSEA MAXWELL está aqui para vê-
lo, Alex.
Ele ficou imóvel, a mão sobre o
mouse do laptop, enquanto ouvia a voz
da assistente pelo interfone.
Chelsea? Ali?
Seu pulso acelerou de antecipação e
uma trepidação ansiosa o incendiou.
Não entrara em contato desde que ela
saíra da limusine uma semana antes.
Desejara telefonar e em várias ocasiões
chegara a pegar no telefone. Mas não
fora adiante, porque não soubera o que
lhe dizer. Explicar o que sentia.
Aquela lágrima o apavorara. Quisera
sacudir a gélida segurança dela, mas não
derretê-la. Não vê-la chorar.
Embora, em parte, tivesse desejado
beijar a lágrima e perguntar o motivo.
Faze-la sorrir de novo, dessa vez com
sinceridade.
E isso o apavorara mais ainda.
– Alex?
Percebeu que ainda não respondera e
disse à assistente:
– Mande-a entrar, por favor.
Segundos depois Chelsea abriu as
portas duplas de seu escritório na
cobertura, fechando-as em seguida com
um rumor seco. Vestia-se no seu próprio
estilo clássico: a tradicional saia justa
preta até os joelhos com um cinto fino
de couro e uma blusa cor-de-rosa pálido
com listas cinza. Usava um coque
elegante e maquiagem discreta, embora
sensual. Tudo nela era sofisticado,
cuidado, frio.
Alex desejou se erguer da cadeira e
tomá-la nos braços, abrir os pequenos
botões de pérolas de sua blusa um a um
e baixar o zíper da saia. Isso o deixou
excitado, e ele permaneceu sentado atrás
da escrivaninha.
– Chelsea. – Cumprimentou-a com um
aceno, sabendo que agia como um
imbecil. Haviam feito sexo, duas vezes.
E haviam conversado com muita
intimidade. Compartilhado coisas. E
ainda sentia a umidade quente da única
lágrima dela na ponta do dedo. – Pensei
que ia me apresentar provas – resumiu
ela.
Treffen. Chelsea estava lá por causa
de Treffen. Estupidamente ele sentiu um
misto de frustração e alívio, assim como
uma grande culpa. Enviara mensagens
para Hunter várias vezes a fim de se
aproximar de Zoe, e enviara mensagens
também para ela no seu trabalho
pedindo que falasse. Tentativas muito
patéticas, na verdade. Mas estivera com
a mente voltada para Chelsea e para o
que acontecia com eles.
Tudo errado.
Sabia que talvez não fizesse Zoe
falar, porém precisava dar uma prova
para Chelsea, e sabia o que era.
– Tenho a prova – respondeu com a
mesma frieza dela.
– Então vamos ver. – Ela arqueou as
sobrancelhas esperando, tudo em sua
postura muito agressivo e duro, e tão
diferente da mulher que estivera com ele
da última vez. Era assim que os dois
deviam agir.
– Muito bem.
Ele pegou uma chave no bolso e
destrancou a gaveta inferior de sua
escrivaninha, retirando uma pasta fina
de papel. Respirou fundo, abriu e passou
para Chelsea a foto de Sarah.
Chelsea a pegou, e Alex observou seu
rosto enquanto fitava a fotografia. A
expressão de Chelsea se tornou neutra
como se afastasse todo o tipo de
emoção.
Era uma reação estranha, porque Alex
já olhara para essa foto muitas vezes e
sempre reagia pressionando os lábios e
sentindo bílis na boca. Sarah, nua,
estendida de pernas entreabertas sobre
uma cama, o corpo bonito e pálido, os
olhos cheios de sofrimento. Olhou para
a foto e teve vontade de bater em
alguém. Ferir alguém.
– Quem é? – perguntou Chelsea
depois de um segundo, e Alex limpou a
garganta.
– Uma de suas garotas de programa...
– Obviamente. Mas quem é a moça?
Está por perto? Pode contar sua
história?
Alex cerrou os punhos sem querer.
– Infelizmente não. Mas a irmã dela
foi a primeira pessoa que contatou
Austin com informações.
Chelsea estreitou os olhos.
– E ela quer falar?
Alex se lembrou de Katy por um
instante.
– Está zangada e quer justiça.
– Porém, é uma testemunha secundária
– observou Chelsea. – Há outra?
– Talvez.
Chelsea o fitou com dureza e depois
balançou a cabeça.
– Isso é tudo, Alex? Sério?
– Austin confrontou o pai, que nem ao
menos negou...
– A conversa foi gravada? – Alex fez
um gesto descartando. – Austin iria à
televisão para confrontar o pai ao vivo?
Pausa.
– Não sei.
– Então o que sabe, Alex? – perguntou
Chelsea.
De repente furioso e agressivo, Alex
se levantou.
– Sei que Treffen é um monstro que
precisa ser detido. Que destruiu a vida
de jovens advogadas promissoras. Sim,
tenho uma única foto. E uma vítima com
medo de falar... por enquanto.
Entretanto, sei o que Treffen fez,
Chelsea. Sei.
Ela o fitou e o gelo derreteu diante
dos olhos de Alex. Os lábios dela
tremeram e Chelsea os apertou,
murmurando:
– Acredito em você, Alex.
Era tudo que Alex precisava. Tudo
para derreter seu gelo também. Afastou
a cadeira, deu a volta na escrivaninha,
fazendo papéis voarem para o chão.
Aproximou-se dela e a beijou com fúria.
Desejava-a demais para ser gentil ou
calmo, e isso os deixava em um
território perigoso. Chelsea devia ter
sentido o mesmo porque correspondeu
com paixão, enfiando os dedos nos
cabelos dele e pressionando o corpo ao
seu.
Botões
pularam
das
roupas,
espalmando-se pelo assoalho.
Ele afastou a blusa e segurou seus
seios por cima da camisete de seda.
Chelsea gemeu com voz rouca e baixou
o zíper de sua calça.
A porta da sala nem mesmo estava
trancada, Alex percebeu distraidamente
enquanto a deitava sobre a escrivaninha.
Mais papéis voaram e o laptop ameaçou
cair, porém nada importava.
A não ser ela. Eles.
Ele deslizou a mão por baixo da saia
e sentiu a cinta-liga, gemendo.
– Está tentando me enlouquecer? –
murmurou de encontro à boca de
Chelsea, e em resposta ela passou as
pernas pelos seus quadris, aproximandoo ainda mais de seu calor e maciez. A
saia rasgou atrás com um rumor alto na
sala silenciosa onde só se ouvia as
respirações entrecortadas deles dois.
Alex ergueu o tecido mais alto e a
saia subiu para os quadris dela.
– Chelsea... – gemeu de encontro à
sua boca, tentando pressionar todo o
corpo contra o dela, e percebendo então
que não tinha preservativos.
Ela o sentiu recuar e se remexeu por
baixo de seu corpo, arqueando os
quadris para mantê-lo em contato de
novo.
– Não tenho preservativos aqui –
murmurou ele, e Chelsea resmungou.
– Pensei que estivesse sempre
preparado. Um verdadeiro escoteiro.
Alex riu com voz rouca, muito
excitado.
– Nunca antes fiz sexo no meu
escritório.
– E, pelo visto, vai continuar sem
fazer – declarou ela, afastando-se dele e
pulando da escrivaninha.
Alex ajeitou as roupas, enquanto a via
se afastar alguns passos e tentar
remediar os estragos nas próprias
roupas e cabelos, logo percebendo que
era em vão.
– Esta saia era nova em folha –
comentou de novo de costas para ele e
muito rígida.
– Compro outra.
– Agora não vai ajudar. – Chelsea
abotoou o único botão que sobrara na
blusa e se virou para fitá-lo. Alex não
sabia o que ela estava sentindo, e não
deveria se importar. – Não posso sair
daqui assim.
– Veio de paletó? – perguntou ele.
– Ficou na sala de entrada –
respondeu ela, erguendo os olhos para o
alto.
– Vou buscar.
Quando Alex voltou Chelsea estava
em frente às janelas enormes que
descortinavam a Estátua da Liberdade,
segurando a blusa aberta com uma das
mãos.
A visão dela ali, tão solitária e
orgulhosa, fez seu coração bater mais
forte. Ou quem sabe estava sendo
espremido, dilatado ou rompido. Algo
acontecera e doía ao vê-la ali.
E ia lhe entregar o paletó?
– Chelsea. – Ela se voltou e ele viu
seu rosto pálido e a expressão contida. –
Não vá.
Ela arqueou as sobrancelhas, ainda
orgulhosa e agressiva.
– E o que faço? Fico sentada aqui em
farrapos enquanto você trabalha?
– Não. – Ele ofereceu um sorriso
hesitante. Tudo era tão novo. –
Impossível imaginar isso.
– Também acho.
– Venha para casa comigo.
Ela não respondeu, mas Alex notou
sua surpresa. Dominava seu olhar e
deixava seu corpo tenso, mas mesmo
assim ela o encarou. E ele continuou
falando, porque ao fazer o convite sabia
que era exatamente o que desejava. Que
ela ficasse ao seu lado.
E nada tinha a ver com Treffen ou
vingança.
– Venha comigo – insistiu. – Para o
meu apartamento. Agora mesmo.
Terminei meu trabalho.
– Alex...
– Passe a noite comigo.
Com o rosto sem cor, ela arregalou os
olhos verdes que pareciam dois lagos na
floresta.
– Chelsea – disse ele em tom de
súplica. Promessa... exceto que não
sabia o que estava prometendo. Ou o
quanto prometia.
– Está bem – murmurou ela, e Alex
sentiu o coração dolorido de novo.
Espremido ou rompido, doía.
A situação era nova para os dois.
Nova, estranha e muito aterrorizante.
Mas iriam em frente. E que Deus os
ajudasse.
CAPÍTULO 10
CHELSEA
quebrando outra de
suas regras. Nos últimos dez anos
jamais fora à casa de um homem. Nunca
se expusera a uma situação tão
vulnerável. Seus encontros eram sempre
no seu apartamento, segundo suas
normas, e ela mantinha spray de pimenta
no criado-mudo.
Embora devesse admitir, enquanto
deixava com Alex o prédio da Diaz
News na Hudson Street, que não tinham
sido tantos homens assim. Certamente
ESTAVA
não tantos quantos as pessoas
imaginavam. Só alguns que já esquecera,
que haviam lhe dado algum prazer
físico, mas que não guardara em seu
coração.
Homens que haviam aliviado sua
solidão um pouco. Muito pouco.
Contudo, não quisera mais do que
isso.
E agora? Havia Alex.
Seu corpo ainda doía com o toque
dele, e Chelsea sentia o desejo
insatisfeito. Inacreditável como fora
inconsequente
e passional. Não
costumava ser assim. Sexo selvagem
sobre uma escrivaninha... nunca a
excitara, considerando seu passado.
Mas com Alex fora diferente. Forte e
sensual, e de certa forma revigorante.
Haviam se abraçado como iguais, e
mesmo quando ele arrancava sua blusa
ela se sentira a salvo. Talvez precisasse
disto: reviver os anos de subjugação de
um modo totalmente diferente do que
imaginara.
Uma limusine esperava quando
saíram do prédio da Diaz News.
– Tem preservativos no carro? –
murmurou ela meio que brincando,
enquanto o motorista se apressava a
abrir a porta para ela; mas Alex chegara
primeiro.
– Deve pensar que minha vida é mais
aventurosa do que realmente é, Chelsea
– respondeu, ocupando o assento ao
lado dela.
– Ora, Alex, sua reputação de
mulherengo é grande.
Assim dizendo, ela apertou o paletó
contra o corpo. A blusa estava
praticamente em frangalhos e o talho na
saia aumentara consideravelmente,
muito maior do que no modelo original.
Quanto aos cabelos e maquiagem... nem
queria pensar.
Mas continuava desejando Alex.
– Está linda – murmurou ele.
Chelsea arregalou os olhos, virando-
se para ele.
– Como leu meus pensamentos?
– Você estava tentando arrumar os
cabelos.
Ela baixou a mão tarde demais e fitou
pela janela as filas de armazéns e velhas
fábricas desativadas, comentando:
– Ótima vizinhança.
– Gosto de privacidade.
A limusine parou em frente ao que
parecia um velho armazém de três
andares e fachada de tijolos.
O motorista abriu a porta e Alex
desceu da limusine, conduzindo Chelsea
pela mão para a porta do armazém que
era de aço com um enorme cadeado.
Sorriu para ela à medida que
escurecia.
– Não brinque! – exclamou ela,
acenando para o cadeado.
– É sério – respondeu ele, e ela sentiu
um arrepio... de medo ou surpresa...
porque de repente não soube se Alex
estava se referindo à porta do prédio.
Alex tirou um cartão magnético do
bolso e o passou no painel afixado na
parede do armazém. A porta de aço se
abriu sem fazer barulho, e Chelsea
balançou a cabeça.
– Como você é exibido!
Ele riu de leve.
– Só um pouquinho.
Conduziu-a por um corredor escuro;
luzes com sensores se acendiam à
medida que avançavam.
Chelsea fitou o enorme e antigo
elevador com sua porta de grades e
perguntou:
– Este lugar é todo seu?
– Tenho o último andar. Mas a Diaz
News possui o prédio... os outros
andares são para hóspedes, escritórios e
almoxarifado.
– Bem, a Diaz News é você –
comentou ela, enquanto entrava no
elevador com a mão de Alex em suas
costas.
Ele aquiesceu com um gesto de
cabeça.
– Sim, a Diaz News sou eu.
Apertou um botão e subiram de
elevador até a porta se abrir no último
andar constituído por um único espaço
aberto e enorme.
O apartamento não tinha paredes
internas, e estantes de livros e balcões
serviam de divisórias. Chelsea entrou,
sempre com Alex segurando suas costas.
– O que acha? – perguntou ele, e ela
soube, apesar de seu tom de voz
displicente, que sua resposta era
importante.
– Um minuto – pediu.
Assim dizendo, Chelsea começou a
passear pelo lugar que era a marca
registrada do dono. Estantes de carvalho
com livros de bolso muito manuseados,
uma mistura de filosofia e romances
policiais várias vezes lidos. Uma
guitarra elétrica a um canto. Fotos em
preto e branco mostrando instantes
singelos da vida: um senhor em um
banco de praça segurando uma bengala
com as mãos nodosas; uma criança no
playground com o joelho machucado e
uma única lágrima na face; uma mulher
passeando no Central Park, olhando para
o sol.
Podia sentir os olhos de Alex
enquanto
perambulava
por
ali,
assimilando tudo. Chelsea refletiu que
parecia muito mais um lar do que sua
cobertura luxuosa e impessoal. A
personalidade de Alex estava em tudo
ali, enquanto ela tentara propositalmente
despersonalizar sua residência.
Terminou a visita silenciosa e sem
guia no quarto dele separado do resto do
apartamento por estantes altas, e parou
em frente à cama king size. Viu-se
deitada ali com ele, bocas unidas,
pernas e braços entrelaçados em meio
aos lençóis de seda azul-marinho...
O desejo cresceu e ela se virou para
Alex, imaginando se podia ler seus
pensamentos agora. E, pelo brilho dos
olhos dele, refletiu que provavelmente
sim.
– Gostei. É aconchegante.
– Creio que sempre quis um espaço
só meu.
– Espaço é o que não falta aqui. – Ela
baixou os olhos para as próprias roupas.
– Pode me emprestar alguma coisa para
vestir?
– Claro, mas as roupas vão ficar um
pouco largas em você. – Sorriu para ela
de modo provocador. – Eu não vou me
importar.
Então ele foi buscar em uma gaveta
uma calça de moletom e uma camiseta
cinza muito macia, entregando-as em
seguida para Chelsea.
Ela resistiu à vontade de apertá-la
contra o rosto e sentir seu perfume.
– O banheiro tem porta, não tem? –
perguntou.
– Sim, ali no canto.
Alex apontou para uma porta ao
canto, e Chelsea para lá se dirigiu.
Cinco minutos depois ressurgiu com o
cós da calça enrolado na cintura para
que não caísse até os quadris, e a
camiseta deslizando pelos ombros.
Sentia-se um pouco tímida, mas muito
confortável com as roupas de Alex;
eram do tipo que jamais usara, e tão
diferentes
de
suas
costumeiras
vestimentas elegantes. Seus escudos.
Caminhou até Alex escarrapachado
em um dos sofás de couro na área da
sala, os pés sobre uma mesinha de café
de madeira pesada e escura.
Ergueu os olhos enquanto ela se
aproximava, e analisou:
– Gosto do novo visual de Chelsea
Maxwell.
Ela riu de leve.
– Camiseta e calça de moletom? Não
acho o ideal.
– Muito sexy – garantiu ele com
seriedade,
embora
seus
olhos
brilhassem com humor. – E são fáceis de
tirar.
– É uma promessa?
– Sem dúvida.
Chelsea se sentou ao seu lado olhando
em volta.
– Não tem aparelho de televisão?
– Respiro televisão demais no
trabalho. Aqui é meu refúgio. – Seguroua pela cintura e a puxou para si em um
gesto mais carinhoso que sedutor.
Respirou fundo e deixou o ar sair dos
pulmões devagar. – Nunca trouxe uma
mulher para cá, Chelsea.
– Nunca?
– Nunca.
Ela aquiesceu sem nada dizer e, em
um gesto inusitado que ia contra seu
instinto de proteção, apoiou a cabeça em
seu ombro e fechou os olhos,
murmurando com toda a franqueza:
– Isto é assustador, Alex.
– Eu sei.
– Vivo a vida do meu jeito por um
motivo.
Os braços dele apertaram sua cintura,
os dedos tocando seu ventre.
– Eu também.
E nenhum dos dois perguntou ao outro
que motivo era esse. No momento,
refletiu Chelsea, haviam alcançado o
máximo de emoção e sinceridade
possível, e não poderiam se abrir mais.
Alex se levantou, pegou Chelsea pela
mão, e rumaram para o final do
apartamento até uma escada de ferro em
espiral que, ela presumiu, devia
conduzir ao telhado.
– Hora de lhe mostrar o grande
charme deste apartamento.
– E o que é?
– Espere e verá.
Ela o seguiu pelos degraus em espiral
até uma porta que se abriu para o
telhado. Parou e admirou Manhattan em
toda a sua glória reluzente de um lado, a
escuridão do rio Hudson do outro, e uma
piscina cercada por vidro.
– Lindo. Sua própria piscina no
telhado, e nem mesmo gosta de nadar.
Ele riu de mansinho.
– Mas aqui ninguém vai me empurrar
na água e me ver afogar.
Ela caminhou devagar em volta da
piscina, admirando as luzes da cidade.
– Não é preciso água para se afogar –
murmurou, e logo desejou não ter dito
isso.
Informações demais. Fragilidade
demais.
Mas Alex não respondeu, só a
observou, e, embora Chelsea se sentisse
aliviada por ele não fazer perguntas,
imaginou se ele simplesmente não estava
interessado em saber. Talvez fosse
melhor permanecer na superfície de
tantas emoções intensas sem mergulhar.
E, em vez de ficar contente com a
ideia, isso a deixou inquieta e frustrada.
– Hora de jantar – avisou Alex, e
desceram.
– Vai cozinhar para mim? – quis
saber ela, enquanto se aboletava em uma
banqueta alta na parte da cozinha e
apoiava os cotovelos no balcão de
granito preto com Alex do outro lado.
– Não desejaria que eu cozinhasse
para o seu pior inimigo, pois sou
péssimo
cozinheiro.
Que
tal
encomendarmos?
– Ótimo. Em geral, é o que faço.
– Que tal pizza? – sugeriu ele.
– Que tal comida tailandesa?
Ele balançou a cabeça com olhar
divertido e comentou:
– Com você nada pode ser simples,
não?
– Nada – concordou ela solenemente,
e de súbito o clima se tornou tenso como
se ambos relembrassem o que já haviam
feito e soubessem que desejavam mais.
Alex pigarreou.
– Então será comida tailandesa. Creio
que tenho um cardápio por aqui.
Minutos depois Alex já encomendara
o jantar e eles voltaram para a sala.
Chelsea sentou na borda de um dos
enormes sofás. Tudo parecia tão
estranho e ao mesmo tempo tão normal.
Tão diferente de sua vida solitária,
refletiu. Uma noite na casa do namorado,
pedindo comida por telefone.
Sentaram-se juntos e Alex passou o
braço pelo seu ombro, puxando-a para si
de novo. Era tão gostoso se sentir
próxima de outra pessoa, pensou
Chelsea, e a sensação confusa entre
normal e bizarro quando encostava a
cabeça em seu ombro voltou a dominála. Era tão bom se sentir próxima a
alguém.
Alex massageou os músculos de seu
pescoço com os dedos fortes, rindo de
mansinho ao fazer isso.
– Você está muito tensa.
– Não estou acostumada a isto.
– A quê? Sentar em um sofá?
– Basicamente. – Chelsea se
endireitou para fitá-lo. – Não tive
nenhum relacionamento significativo nos
últimos dez anos, Alex.
Arrependeu-se assim que falou. Soara
tão sozinha e patética. Não acabara de
dizer a si mesma que não deviam se
aprofundar? Porém, lá estava ela,
fazendo exatamente o oposto.
Porque o oposto era o que queria, por
mais que seu instinto de preservação
negasse.
Alex a fitou de maneira pensativa.
Não havia pena no seu olhar, apenas
consideração, felizmente.
– Eu também não.
– Só muitos encontros de uma noite.
– Basicamente. E foi isso que me
atraiu em você no início, Chelsea.
Pensei que éramos iguais.
– E fui. Sou.
Alex sorriu de leve.
– Qual dos dois tempos verbais,
Chelsea?
Ela balançou a cabeça, pois a
confusão a obrigava a ser honesta, e
murmurou:
– Não sei mais.
– Eu também não. Então, neste ponto,
estamos no mesmo barco, certo?
Mas que barco era esse?
Alex se inclinou e a beijou nos lábios.
Ah, esse barco, Chelsea pensou com
alívio. Desse barco ela gostava. E esses
beijos a desestruturavam. Eram tão
doces, meigos, demais. Ele a mataria
com tanta gentileza; derreteria a gélida
Chelsea Maxwell e... o que iria sobrar
dela depois?
O interfone soou com seu jantar, e
com relutância Alex se afastou.
– Ainda não acabamos – avisou ele
sorrindo, e Chelsea sorriu de volta,
começando a odiar essa expressão.
Ainda não acabamos. Mas em
determinado momento acabariam...
quando? Quem tomaria a decisão de
acabar?
Enquanto Alex pagava o entregador
do restaurante, Chelsea foi à cozinha
procurar pratos e talheres. Não pensaria
no final desse relacionamento, prometeu
a si mesma. Pararia de se preocupar e
de ter medo, e aproveitaria os momentos
com Alex... pelo tempo que durassem.
PASSARAM O resto da noite comendo
muitas
iguarias
tailandesas
e
conversando sobre tudo e nada.
Chelsea contou como Michael a vira
fingindo ser âncora do noticiário da
noite depois da apresentação, como ela
se sentira ridícula, mas mesmo assim ele
lhe dera uma oportunidade. Como
surgira a ideia do Bate-Papo com
Chelsea
após
Michael
ouvi-la
conversando em uma festa com uma
celebridade
decadente
e
se
impressionara com sua capacidade de
fazer a pessoa se abrir.
– Eu não estava nem tentando. –
Chelsea riu. – Porém, a mulher bebera
além da conta e quis fazer confidências.
– E você estava no lugar certo na hora
certa?
– Creio que sim. – Embora não
gostasse de atribuir todo o seu sucesso à
sorte.
– Não é apenas sorte – murmurou
Alex, e ela o fitou espantada.
– Fez de novo. Como soube o que
estava pensando?
– Não sei. Acontece.
Ele a conhecia, refletiu Chelsea. Ela
lutava contra isso, ainda mantinha tantos
segredos a sete chaves, e mesmo assim
Alex a conhecia. E no íntimo isso não a
desagradava.
– Venha – sussurrou ele, procurando a
sua mão. Fez com que se erguesse do
sofá, e a conduziu pelo apartamento
banhado pelo luar que penetrava pelas
inúmeras janelas e ia pousar no assoalho
de tábuas de carvalho.
Chelsea o seguiu, entrelaçando os
dedos aos dele, até o quarto e a cama.
Ele se voltou e lhe sorriu, e depois a
puxou de leve, fazendo com que caísse
sobre seu corpo de modo que os quadris
dela encostaram nos dele, e ela sentiu a
rigidez de seu órgão.
– Olá – murmurou Alex, e Chelsea
fechou os olhos recebendo um beijo na
boca.
– Olá.
Passou as mãos pela sua nuca, retirou
os grampos e fez seus cabelos caírem
em mechas como um rio escuro sobre os
ombros.
– Nunca a vi de cabelos soltos –
murmurou ele, deslizando os lábios para
seu queixo.
Chelsea estremeceu.
– É um eufemismo? Um modo mais
agradável de falar? – perguntou em leve
tom de brincadeira, pois seu cérebro
começava a não funcionar muito bem
enquanto os lábios dele iam de seu
queixo à garganta e depois para o meio
de seus seios, muito perto da cicatriz.
Chelsea ficou tensa, pois em dez anos
nunca permitira que um homem beijasse
seus seios, muito menos tirasse toda a
sua roupa da parte de cima. Mas não se
moveu enquanto Alex erguia a camiseta
acima dos seios. Ela continuava de
camisete e sutiã, e mesmo assim não era
o suficiente. Os dedos dele deslizaram
pela seda para envolver os seios.
– Posso? – perguntou Alex, olhando
fixamente para Chelsea e segurando a
borda da camisete.
Chelsea engoliu em seco e quase
permitiu, com o coração aos pulos.
Porém, quando Alex começou a
erguer a peça de roupa, ela segurou sua
mão.
– Espere... – Não se sentia pronta
para tamanha exposição. Ele já vira sua
cicatriz, porém naquela ocasião Chelsea
se ocultara atrás da raiva e do orgulho,
mas agora era diferente. Agora não tinha
nada com que se esconder a não ser o
bocadinho de seda da camisete, e ele
pareceu entender isso, pois apenas
sorriu e baixou a mão.
– Está bem – sussurrou e beijou-a de
novo.
Aliviada, ela se deixou cair sobre seu
peito. Queria dizer que lamentava ainda
não confiar tanto nele, mas as palavras
morreram em sua garganta e Alex a
beijou de novo, e não voltaram a se falar
por muito tempo.
Era um encontro totalmente diferente
do outro, que fora violento. Dessa vez
tudo era doçura e calma, deixando-a
perdida em um novo mundo de
sensações.
Quando ele a penetrou, Chelsea
passou as pernas de cada lado e o fez ir
ainda mais fundo, olhos nos olhos. E,
quando alcançou o clímax gritando e
soluçando com alegria e entrega, ela
beijou seus lábios.
Depois ficaram deitados e abraçados
entre os lençóis como ela imaginara,
membros e dedos entrelaçados, ouvindo
apenas o som de suas respirações
entrecortadas enquanto os corações iam
aos poucos se acalmando. E o luar
continuava
a
se
depositar
silenciosamente sobre o assoalho de
carvalho.
Chelsea não saberia descrever o que
acabara de acontecer nem o que se
passava na sua alma. Queria dizer a
Alex que ele conseguira romper a
barreira deixando-a exposta, e que não
era uma sensação ruim. Queria lhe dizer
tantas coisas, desde os episódios tristes
de sua infância aos anos perdidos do
final da adolescência, passando por uma
série de relacionamentos falidos até os
três anos infernais com Brian Taylor.
Queria, mas não contou. Seria demais
para ele assimilar. E ainda não tinha
certeza se Alex desejaria ouvir. Na
verdade, acreditava que não.
Por fim Alex adormeceu e Chelsea o
observou por algum tempo. Dormindo
ele parecia tão relaxado, quase um
garoto. Os cílios escuros e fartos
sombreavam as faces e seus lábios
estavam entreabertos em um suspiro.
Chelsea podia ver o sombreado da
barba no queixo, e roçou os lábios ali.
Alex se espreguiçou, passando a mão em
seus cabelos e puxando-a para si. Ela se
aninhou em seus braços por um
momento, saboreando seu calor e
solidez, e depois, quando ele voltou a se
acomodar no sono, levantou-se da cama
e enfiou a camiseta e a calça de moletom
que ele tirara de seu corpo horas antes.
Chelsea sabia que não conseguiria
dormir nessa noite. Por mais que
ansiasse pelo corpo de Alex ao seu lado
durante toda a noite, sabia que não
conseguiria relaxar. Abandonar toda a
ansiedade e o medo tão comprimidos em
seu peito.
Então saiu do quarto dividido por
estantes de livros e subiu a escada em
espiral até a piscina. A porta rangeu
quando abriu, mas Alex continuou
adormecido sem se mover.
Chelsea mergulhou na noite. A cidade
se espalhava por todos os lados, os
edifícios iluminados como joias de
encontro ao céu fantasmagoricamente
escuro. Ela caminhou devagar em volta
da piscina, lutando contra uma tristeza
inexplicável. Essa noite tivera os
instantes mais doces e maravilhosos de
sua vida nos braços de Alex. Sentia-se
como se andasse pela borda de um novo
mundo, vibrante e assustador, mas ao
mesmo tempo...
Não tinha certeza se poderia
mergulhar nesse novo mundo por mais
que desejasse.
E, o mais importante, não tinha
certeza se Alex a seguraria nos braços
se caísse.
ALEX ACORDOU no escuro e na cama
vazia. Ficou tenso, detestando aquele
espaço macio com os lençóis, pois
apesar de quase sempre dormir sozinho,
em uma única noite ficara viciado com
Chelsea repousando ao seu lado. Sentia
sua falta.
Ali ficou por mais um momento,
processando suas emoções e tentando
resistir a elas. As coisas haviam mudado
tão depressa e intensamente entre os
dois, e mesmo tendo adorado a noite,
meu Deus, não sabia quanto mais dessa
estrada desejava percorrer. Quanto
poderia percorrer.
Relanceando um olhar para o chão,
notou que Chelsea tornara a vestir as
roupas emprestadas, sinal de que não
fora embora.
Rolou para fora da cama, procurando
a roupa de baixo.
Mais uma rápida olhada e verificou
que Chelsea não estava no apartamento;
a porta do banheiro estava aberta, o
cômodo às escuras e vazio. Então subiu
a escada em espiral, e parou quando a
viu no outro extremo da piscina, de
costas para ele, enquanto admirava a
noite à sua volta.
Os cabelos continuavam soltos caindo
pelos ombros, e cruzara os braços sobre
o peito. Parecia solitária, triste e linda,
o que fez Alex sentir um aperto de
pânico no peito.
Demais. Tudo estava sendo demais.
– Não conseguiu dormir? – perguntou
ele, mas ela não se virou para encará-lo.
– Não. Sofro de insônia, infelizmente.
Ele deu um passo na direção de
Chelsea, mas a piscina permanecia entre
os dois como uma muralha de água.
– O que estava pensando? – quis
saber ele após um momento de pausa,
logo desejando não ter feito a pergunta.
– Nada de mais, na verdade. – Ela
pressionou a palma da mão de encontro
ao vidro, esparramando os dedos longos
e delgados. – Apenas refletia como seu
apartamento é fantástico. Sinceramente.
Alex não acreditava que ela estivesse
apenas admirando a arquitetura, porém
não desejou pressioná-la. Talvez
devesse se envergonhar de se sentir
constrangido nesse instante, mas
francamente as emoções haviam sido
muitas e inéditas para um só dia, para
eles dois. A única coisa que desejava
nesse momento era levá-la de volta para
a cama, mantê-la ali com seus braços à
sua volta e seus corpos unidos da
maneira harmoniosa que já conhecia.
– Você percorreu um caminho tão
longo... – murmurou ela, tão baixo que
ele mal ouviu. – Não acha?
– De certa maneira, sim. Mas por
outro lado... – Ele deu de ombros. –
Sempre serei aquele garoto pobre do
Bronx.
– Tem razão. As pessoas nunca
escapam do passado, não é mesmo?
Todo o corpo de Alex se contorcia
com a vontade de dar um fim a essa
conversa e levá-la para baixo.
– Pode-se aprender muito com o
passado – respondeu, pensando que era
uma frase decisiva para terminar com o
bate-papo indesejável.
– Sim. Tem absoluta razão. Pode-se
aprender a não cometer os mesmos erros
duas vezes.
Alex refletiu de que diabos ela estaria
falando. Mas, fosse lá sobre o que fosse,
sabia que não desejava ouvir.
– Volte para a cama, Chelsea – disse,
e por fim ela se virou, lançando-lhe um
sorriso doce e triste que quase partiu o
coração de Alex. Então, em silêncio, ela
andou em volta da piscina, pegou a mão
dele e o conduziu de volta para a cama.
CAPÍTULO 11
PENSATIVO, ALEX olhou pela janela de
seu escritório e de volta ao texto que
Hunter lhe enviara nessa manhã.
Retrocesso. Zoe não vai falar.
Então Zoe podia ajudar Hunter, mas
não Alex. Confrontaria Treffen em seu
local de trabalho, com todos os seus
associados presentes, como ela fizera ao
lado de Hunter na semana anterior, mas
não ao vivo na televisão.
Alguns dias antes Treffen fizera um
pronunciamento público dizendo que
estava deixando sua firma de advocacia.
Era uma desculpa fajuta, é claro, mas
saíra da firma. E enquanto Alex, junto a
Hunter e Austin, soubesse que estavam
se aproximando do desfecho desejado,
ele continuava muito satisfeito.
E insatisfeito ao mesmo tempo,
porque ainda estava muito longe de
conseguir a prova de que Chelsea
necessitava.
E, para ser honesto, nem mesmo
tentara com afinco. Mal pensava em
Treffen desde que Chelsea vira a foto.
De alguma forma, seu objetivo
principal,
que
era
desmascarar
definitivamente Treffen, parecia ter se
perdido
no
caminho
de
seu
relacionamento.
Relacionamento. De onde, diabos,
tirara essa palavra?
Não tinham nenhuma droga de
relacionamento. Haviam feito sexo. Três
vezes.
Nessa manhã Chelsea deixara a cama
de Alex, agarrara suas roupas rasgadas e
abotoara a capa impermeável até o
queixo. A cada botão Alex sentia como
se Chelsea fosse se escondendo dele
cada vez mais, sua expressão de novo
uma máscara de frieza, ocultando a
Chelsea calorosa e aberta com quem
fizera amor durante metade da noite
anterior, e Alex tentara convencer a si
mesmo que isso era muito bom.
Sabia que não desejava ouvir as
histórias tristes e secretas de Chelsea, e
tinha certeza de que ela sabia disso
também. Precisavam não dar tanta
importância
àquilo
que
estava
acontecendo entre eles. Mas será que já
não haviam se aprofundado demais um
no outro? Essa nova situação não era
fácil. Machucava. E mesmo ansiando
por possuir Chelsea de novo ainda
refletia sobre as vantagens de fugir.
Correr o mais que pudesse nas
circunstâncias,
pois
não
podia
desaparecer completamente, já que
precisava dela para ajudá-lo a derrubar
Treffen.
Respirando fundo com impaciência,
Alex digitou uma mensagem de volta
para Hunter.
Chelsea não enfrentará Treffen sem
uma fonte confiável. Precisamos de
Zoe.
Ou, se Zoe continuasse a se recusar,
talvez pudessem encontrar outra pessoa.
Quem sabe ela revelasse o nome de
outra vítima. De qualquer modo, refletiu
Alex, precisava parar de ser ridículo e
ficar remoendo o que sentia ou não por
Chelsea, e começar simplesmente a
agir. Encontraria outras mulheres
vitimas de Jason. Alguém disposta a
falar.
Precisa contar para Chelsea a
respeito de Sarah.
Ele omitira tanta coisa. Não contara
para Chelsea que a moça da fotografia
fora sua amiga ou que cometera suicídio.
Não revelara como ele a desamparara
quando mais precisara. E não queria
revelar. Não conseguia admitir nenhuma
dessas coisas nem a dor em seu íntimo, a
qual se recusava a admitir ou sentir.
Encontre outra vítima. Outra mulher
cuja vida tivesse sido destruída por
Jason Treffen. Essa era a solução mais
fácil, embora não muito honesta, e iria
tomá-la.
Várias horas mais tarde Alex rumava
para o centro da cidade para seu jogo de
squash com Jaiven. Não via o amigo
desde que bebera uma cereja com ele
em um bar do Bronx, quando Chelsea
Maxwell já tomara conta de seus
pensamentos.
E continuava tomando.
Ele não telefonara para Chelsea,
embora pensasse em fazer isso todos os
dias. Haviam deixado as coisas
abruptamente e de uma forma indefinida
naquela manhã e, olhando para trás,
Alex percebeu que Chelsea praticamente
saíra correndo de seu apartamento sem
um último olhar para trás. E ele
permitira que assim fosse. Talvez fosse
melhor assim, dizia a si mesmo, pelo
menos mais fácil.
Mas, por outro lado, talvez não fosse.
– Então conseguiu acertar as coisas
com a garota que estava deixando você
maluco? – perguntou Jaiven, enquanto
atirava a bola com força no muro.
Alex rebateu com segurança,
comentando:
– Boa memória a sua.
– Então creio que não conseguiu.
– Como sabe? – perguntou Alex.
– Porque, do contrário, teria
respondido simplesmente que sim.
– Quem sabe desejo manter minha
vida pessoal só para mim – sugeriu
Alex.
– Vida pessoal? – repetiu Jaiven,
lançando a bola de encontro ao muro. –
Pensei que estávamos falando sobre
sexo.
– Tanto faz – resmungou Alex,
perdendo a jogada.
Uma hora e três jogos terríveis mais
tarde, Alex vencera, porém por pouco.
Ele e Jaiven tomaram banho e rumaram
para o bar que só servia sucos e
vitaminas no último andar da academia.
– E quem é ela? – perguntou Jaiven,
enquanto tomava um milk shake de
proteínas.
Alex balançou a cabeça.
– Ninguém que você conheça –
respondeu evasivamente. Pelo menos
não era ninguém que ele conhecesse em
pessoa.
– Pergunto porque anda péssimo, meu
amigo. – Foi a vez de Jaiven balançar a
cabeça, fingindo estremecer, ou, quem
sabe, não fosse fingimento. – Antes você
do que eu.
Sim, ele estava mal, percebeu Alex de
supetão. Queria... precisava... ver
Chelsea de novo, e muito em breve. Não
apenas para sexo, embora sem dúvida
ansiasse por isso. Entretanto, queria
mais do que simples... e não tão
simples... sexo. Queria encomendar
comida – dessa vez insistiria na pizza –
e sentar em um sofá com as pernas dela
em seu colo. Queria contar a Chelsea
sobre seu dia e sobre o contrato com o
âncora que se tornara uma terrível dor
de cabeça. Queria simplesmente estar
com Chelsea.
Que diabos estava acontecendo com
ele?
Uma hora depois Alex estava de volta
ao seu escritório, digitando o número do
celular de Chelsea. Ela atendeu no
segundo sinal.
– Sim? – perguntou com a voz
cautelosa.
– O que vai fazer hoje à noite?
– Tenho que adiantar o trabalho,
Alex.
Ele concluiu que Chelsea estava
agindo com cautela e tentando se afastar.
Bem, ele iria atacar.
– Ótimo, eu também tenho trabalho a
fazer. Deixe-me ir à sua casa e levarei o
jantar.
Ela respirou fundo. Uma sugestão tão
simples, e ao mesmo tempo tão
complicada para duas pessoas que
pensavam como eles.
– Chelsea – murmurou ele com
suavidade, e foi o suficiente.
– Está bem – respondeu ela –, mas
preciso mesmo trabalhar.
Ele chegou ao apartamento dela dez
minutos depois das 19 horas com uma
pilha de papéis e uma enorme pizza de
pepperoni.
Chelsea atendeu a porta ainda usando
suas roupas de trabalho: blusa de seda
cor de marfim e saia justa preta.
Balançou a cabeça diante da pizza.
– Deve estar brincando – comentou.
– Reconheça que adora – provocou
ele.
– Não como um pedaço de pizza há
anos.
– Que tristeza.
Ela sorriu.
– Pode ser, mas creio que só um
pedaço não me fará mal. Não vou gravar
amanhã.
Alex levou a pizza até a mesinha de
café cromada com tampo de vidro no
meio da sala de estar. Olhou em volta
para os sofás de couro branco e o tapete
de aparência cara, também branco e
fofo.
– Este lugar está implorando por uma
mancha de gordura. Como consegue
comer aqui sem sujar nada?
Ela deu de ombros e sentou na
beirada de um dos sofás.
– Não faço isso. Como na cozinha ou
fora de casa.
Ele lhe entregou um pedaço de pizza,
e ela aceitou, enquanto se sentaram um
em frente ao outro como se fossem tratar
de negócios durante um jantar. Alex não
sabia se dava uma risada ou se
resmungava. Ou se saía correndo dali.
O que estava pretendendo, afinal? E
mesmo assim disse:
– Que parte disso tudo a deixa louca,
Chelsea?
Ela virou o rosto para o lado.
– O que quer dizer?
– Sabe muito bem. – Alex mal
acreditava que estava dizendo essas
coisas, mas mesmo assim as palavras
iam escapando de sua boca. – A última
noite juntos foi intensa e me deixou um
pouco assustado, ou muito assustado,
mas continuo desejando você.
– De verdade? – replicou Chelsea,
mas ele percebeu o tom de cinismo em
sua voz, e franziu a testa.
– Sim...
– Creio que você quer um pedacinho
de mim, Alex – prosseguiu ela. –
Algumas horas de diversão e momentos
quentes de sexo, além de um bate-papo
casual de vez em quando sobre nossas
vidas. Mas, o pacote completo? A coisa
verdadeira? – Ela o encarou com
firmeza. – Não acho que esteja
preparado para isso.
Ele se sentiu exposto sob o olhar
dela, revelando-se de um modo que de
fato não gostava, pois sabia que Chelsea
tinha razão. Alex não soube o que fazer
a respeito.
– Talvez não esteja – replicou depois
um longo e constrangedor momento.
Chelsea apenas deu de ombros, e ele
se forçou a perguntar:
– Qual é a verdade, Chelsea?
Ela balançou a cabeça e sorriu sem
alegria.
– Como já disse, você não quer um
relacionamento, Alex.
Raios! Isso o deixou aliviado.
– Muito bem – murmurou ele após um
momento. – Vamos comer a pizza antes
que esfrie.
E foi muito gostoso e agradável.
Voltaram a provocar um ao outro e a
flertar um pouco. Tudo simples e seguro.
Chelsea comeu três pedaços de pizza
antes de gemer e se recostar no sofá,
apertando com as mãos o ventre liso.
– Vou arrebentar o cós da saia.
– Eu acho que vou gostar de ver isso
– brincou ele.
Ela deixou escapar uma risada e
inclinou a cabeça antes que sua
expressão se tornasse séria de novo.
– Sabe que precisamos conversar
sobre Treffen. Li no jornal que ele
deixou a firma de advocacia. Quem é o
responsável por isso? – perguntou.
– Hunter – respondeu Alex.
Chelsea aquiesceu com um gesto de
cabeça lento.
– Descobriu mais alguém que possa
falar?
Alex ficou tenso.
– Ainda não.
Ela ficou em silêncio por um
momento. Depois disse:
– Treffen me pediu que assinasse um
papel.
– Restringindo a entrevista para
certas perguntas programadas? – ele se
adiantou.
– Isso mesmo.
Alex fez um gesto de compreensão.
– Já esperava por isso.
– E sabe o que acontecerá se eu não
obedecer ao acordo? – perguntou ela
com a voz um pouco trêmula.
– Ele a processará – respondeu Alex.
– E provavelmente você será demitida
do emprego.
Os olhos dela fuzilaram-no.
– Bem, contanto que você saiba de
tudo isso.
– Contanto que você saiba, Chelsea. –
Ele afastou o pedaço de pizza que
comia. – Sei o que estou lhe pedindo.
– Não creio que saiba.
– Essa entrevista poderá acabar com
seu trabalho na AMI, porém poderá
deslanchar sua carreira, e Treffen não
conseguirá processá-la por difamação se
as acusações forem verdadeiras. Ele irá
para a prisão.
– Assim você espera – zombou ela.
– Sim, espero.
Chelsea suspirou e balançou a
cabeça.
– Preciso de mais, Alex. Não posso
surgir ao vivo na televisão sem nada a
não ser uma única foto e uma irmã
aborrecida. Sabe disso muito bem.
Mencionou uma testemunha, não? Onde
está essa pessoa?
– Não deseja falar.
– E será que falaria comigo?
Alex não pensara nessa possibilidade.
Será que Zoe conversaria com Chelsea
mesmo sem ir à televisão?
– Pode ser – respondeu com cautela.
– E não me conseguiu mais nada?
Alex ficou em silêncio porque sabia
ter mais para lhe contar. As palavras
não saíam, entretanto ela devia ter
sentido o peso daquele silêncio que
escondia tantas coisas, e o fitou com
intensidade.
– Não me contou tudo, contou? –
Pressionou a palma da mão de encontro
aos olhos. – Sou tão estúpida, tão cega.
Claro que não me contou. Não iria atrás
de Treffen desse modo, não o odiaria
tanto, se não fosse um assunto pessoal.
Deveria ter percebido antes.
A garganta de Alex estava seca. Seu
rosto parecia pálido. Chelsea deixou a
mão cair no sofá, e perguntou com
simplicidade:
– Quem era ela?
– Não sei...
– Tolice, Alex, pensei que estávamos
tentando ser honestos um com ou outro.
Se não sobre... nós dois, pelo menos
sobre Treffen.
Ele abriu a boca e foi tudo que
conseguiu fazer.
– Quem era ela? – insistiu Chelsea. –
A mulher que o deixou tão determinado
e desesperado para arruinar e
desmascarar
Treffen?
Era
sua
namorada? Amante?
Ele tentou com esforço formular as
palavras, mas seus lábios não
conseguiam se mover. Alex sentia o
coração
disparado,
o
sangue
abandonando sua cabeça.
Por que isso era tão difícil?
– Era ela, não era? – disse Chelsea
com suavidade. – A garota na fotografia.
Você a amava.
Com enorme esforço, Alex balançou a
cabeça e falou por fim:
– Sarah. O nome dela era Sarah.
– O que aconteceu com ela? – insistiu
Chelsea.
– É obvio...? – A voz de Alex saiu
entrecortada e selvagem.
– Quero dizer, depois – consertou
Chelsea. – Porque você me disse que ela
não estaria disponível para falar.
– Ela está morta.
Chelsea abriu a boca e baixou a
cabeça com os olhos escuros de pena.
– Oh, Alex.
– Ela se matou. Atirou-se do telhado
no prédio de Treffen.
– Lamento tanto.
Ele aquiesceu com um gesto de
cabeça tenso. Agora que começara a
contar, queria despejar toda a história.
Purgar sua alma, mesmo sentindo que
não se sentiria melhor contando toda a
verdade. Provavelmente seria pior.
– Fomos amigos durante toda a época
de faculdade. Os melhores amigos, na
verdade.
Nunca
houve
nenhum
envolvimento romântico; ela saía com
um de meus colegas de quarto, Hunter
Grant.
– O ex-jogador da Liga Nacional de
Futebol – murmurou Chelsea.
– Sim, mas fui amigo dela primeiro.
Não que isso venha ao caso, porém nós
dois éramos de cenários difíceis, nada
de piqueniques em família e de férias na
Flórida como você.
Assim dizendo, Alex ergueu os olhos
e viu algo como remorso ou mesmo
culpa contorcer as feições de Chelsea
antes que ela acenasse que sim e
pedisse:
– Prossiga.
– Sarah era como uma irmã para mim,
irmã caçula. Eu a protegia, provocava,
cheguei até a dar um soco em Hunter
certa vez, quando achei que estava
sendo arrogante com ela.
Chelsea sorriu com discrição.
– Conhecendo a reputação de Hunter,
tenho certeza de que você teve razão em
socá-lo.
– Porém, no final... – Alex se deteve,
não desejando admitir o resto, como
abandonara Sarah terrivelmente. – Foi
demais para Sarah – revelou, as
palavras saindo de sua boca lentamente.
– Não sei como aconteceu, como eu...
não percebi, Sarah foi sugada para o
buraco negro criado por Treffen e eu
nem vi. Não... – Não ouvi quando ela
tentou me contar. Impossível confessar
isso para Chelsea. Não poderia se
desculpar nem se explicar para ela. E
não desejava admitir uma fraqueza
assim vergonhosa.
– E como você poderia imaginar uma
coisa dessas? – perguntou Chelsea com
tristeza na voz, fazendo-o balançar a
cabeça.
– Deveria ter percebido, precisava ter
suspeitado. Deveria ter dado ouvidos
para o que a Sarah tentava me contar,
mesmo que ela titubeasse e sentisse
vergonha.
– Fácil dizer – comentou Chelsea, e
Alex evitou olhá-la. Não queria que ela
visse a culpa em seu rosto, e
descobrisse que ele não estava contando
tudo. Que não precisara de muita
informação, pois já possuía bastante
naquele tempo. O suficiente para
refletir, perguntar mais, confortar. O
suficiente para salvar Sarah.
Contudo, não diria isso agora. Não
podia. Não gostava de falar nem pensar
sobre Sarah. Nem mesmo no canto mais
recluso de seu cérebro, e certamente não
para Chelsea. Era por isso que não
conversara a respeito de Sarah até esse
momento. O motivo para sempre fitar
aquela fotografia por muito tempo,
mesmo
desejando
rasgá-la
em
pedacinhos e garantir que ninguém mais
a visse outra vez.
Chelsea dissera que ele não estava
preparado para ouvir seus segredos, e
também não estava preparado para fazêla ouvir os seus.
– Alex. – A voz de Chelsea era suave,
tão plena de dor, mágoa e compaixão,
que Alex sentiu lágrimas nos olhos.
Piscou diversas vezes com fúria para
afastá-la. Não merecia a compreensão e
piedade de Chelsea. Não as queria. –
Não foi sua culpa – disse ela, e Alex
não respondeu. Estava paralisado,
porque, diabos, fora sim sua culpa,
porém não confessaria isso para
Chelsea.
– Alex – repetiu ela, e venceu a
distância entre os dois, colocando os
braços à sua volta e inclinando a cabeça
dele para seu ombro. Alex não resistiu,
mas também não relaxou com o abraço.
Não merecia o consolo que Chelsea
tentava lhe dar, mesmo que ansiasse por
ele. Ansiava pela absolvição que não
devia partir de Chelsea. Apenas Sarah
poderia perdoá-lo, e estava morta.
Chelsea o soltou, se recostou no sofá
e fitou-o intensamente. Seus olhos cinzaesverdeados analisavam o rosto dele,
encontrando... o quê? Será que ela
conseguia ver a culpa que ele tentava
ocultar com tanto empenho? Alex abriu a
boca para falar, se esforçando para
encontrar algo para dizer.
Não vai dar certo, Chelsea. Deixeme em paz, diabos. Não suporto mais.
Porém, Chelsea não lhe deu chance de
se proteger. Simplesmente o pegou pela
mão e o conduziu para seu quarto, com o
rosto grave e determinado, e ergueu o
top que usava acima da cabeça.
Alex observou enquanto ela retirava a
camisete e abria o sutiã.
Depois ficou despida na sua frente
sem nada para esconder a cicatriz, uma
cicatriz que, Alex bem sabia, a deixava
sempre muito constrangida e que possuía
uma história terrível por trás.
Chelsea retirou o resto das roupas e,
quando ficou completamente nua,
começou a tirar as roupas de Alex.
Gentilmente, quase com reverência, seus
dedos ágeis e macios tocavam a pele
dele. E depois o beijou com doçura,
porém ele a desejava demais e a puxou
de encontro ao próprio corpo, beijado-a
de volta com uma urgência desesperada
que se avolumava como um grito em sua
alma.
E ela correspondeu, retribuiu, beijo a
beijo, toque a toque, até que se afastou
de repente, deixando-o tão desarvorado
que quase o fez gritar, e a seguir ela se
ajoelhou aos seus pés.
– Chelsea... – murmurou Alex, porque
sabia que talvez o gesto a deixava muito
vulnerável. Ela ergueu o rosto e
murmurou com meiguice:
– Deixe.
E tomou o órgão intumescido entre os
lábios entreabertos.
Alex estremeceu ao sentir a carne
macia se fechando sobre a pele sensível,
e passou as mãos pelos cabelos dela.
– Chelsea – conseguiu dizer com a
voz rouca cheia de desejo e prazer.
Piscou diversas vezes, a sensação
maravilhosa. Porém, ele sabia o quanto
esse gesto estava custando para ela.
Ficar de joelhos na sua frente como ele
fizera com ela. Deixando-se subjugar e
expondo sua cicatriz. Chelsea estava lhe
concedendo tudo, e ele retribuiu,
estremecendo e gritando seu nome ao
atingir o clímax.
Mais tarde, quando estavam deitados
na cama em silêncio, após fazerem amor
lentamente e com muita doçura, Alex
circundou a cicatriz com um dedo, e
depois apertou o polegar sobre a pele
endurecida e marcada.
Ela rolou para perto, aninhando o
corpo ao dele como se fosse um ponto
de interrogação, sempre sentindo os
dedos dele sobre sua cicatriz.
– Não foi um acidente de carro –
sussurrou, e ele não fez perguntas.
Apenas a abraçou, porque sabia que era
isso que Chelsea precisava. E ele
precisava também.
CAPÍTULO 12
CHELSEA
deitada ao lado de
Alex, o braço dele sobre seu corpo
enquanto dormia, e ela fitou o teto
imaginando quando fora a última vez
que se entregara desse modo a um
homem. Lembranças que reprimira por
tanto tempo vieram à tona de modo
doloroso, mas necessário.
O olhar analítico de Brian Taylor
quando ela fizera testes para ser a garota
do tempo. E o que está disposta a fazer
para conseguir este trabalho, srta.
ESTAVA
Jensen?
Ora, faria qualquer coisa, senhor.
E ela pestanejara. Sorrira com
malícia. Não deixara dúvida sobre o que
estava querendo dizer.
E ele levara ao pé da letra... ou as
implicações do que ela dissera... e se
levantara da cadeira. Agendara uma
reunião particular com ela e quase a
arrastara da sala, na frente de dois
executivos, uma secretária e um
mensageiro. E ela o seguira, o rosto
ardendo, mas o queixo erguido, e assim
que a porta se fechara ele a fizera sentar
sobre um armarinho com panos de chão
e baldes, levantara sua saia e a possuíra.
Depressa. Um ato sujo. E que podia
destruir a alma de uma moça caso ela
tivesse uma alma.
Entretanto, ela não tinha.
E havia outras lembranças amargas
como essa. As piadas e indiretas de toda
a equipe. Os olhares lascivos e as
propostas de todos os empregados
homens da estação de notícias. E Brian,
sempre Brian, possuindo-a sempre que
queria. Usando-a como bem entendesse.
Ela enfrentara tudo isso mantendo a
cabeça erguida. Não se curvara nem
pedira desculpas pelas suas escolhas.
Uma garota fazia o que tinha que fazer,
portanto dera respostas sarcásticas para
os amigos. Pisara nas rivais. Mantiverase forte até que aquele homem arrogante
a deixara sem dois dentes e com
problemas de visão.
Quando ela saíra do hospital era outra
pessoa, de quem detestava se lembrar.
Desesperada, paranoica, com severos
ataques de ansiedade, e três receitas dos
médicos para se manter sã. Graças a
Deus se reerguera e tivera a força para
recomeçar.
E agora queria recomeçar. E dessa
vez seria para valer.
Com
Alex.
Desejava
um
relacionamento saudável, positivo e
amoroso. Estava farta de sua existência
fria e isolada, sempre armada com a
imagem de glamour e segurança.
Queria ser verdadeira do modo como
Alex fora verdadeiro com ela.
Mais ou menos.
Será que ele lhe contara tudo?
Chelsea sentia que Alex ainda escondia
algo, e de segredos ela entendia muito
bem. Entendia sobre esconder, sobre
escuridão.
E só em pensar em contar seus
segredos a fazia se encolher como uma
tartaruga escondendo a cabeça no casco.
Proteja-se de qualquer maneira.
Além disso, mesmo que arrumasse
coragem para falar de seu passado com
Alex, talvez ele não quisesse ouvi-la.
Admitira isso na noite anterior, e as
coisas haviam mudado para ela. Ver
Alex um pouco vulnerável despertara
seu desejo e a necessidade de ser
vulnerável também.
Um pouco. Primeiro passos, certo?
Talvez um dia chegassem lá, em algum
lugar. Mesmo que levasse muito tempo.
Ela segurou a face de Alex com
delicadeza e deslizou o polegar sobre
seus lábios. Depois se inclinou e o
beijou muito docemente para que não
acordasse,
imaginando
o
que
aconteceria agora.
Devia
ter
adormecido
inesperadamente, porque Alex a
despertou com um beijo logo após o
amanhecer. Fizeram amor devagar e com
ternura, e Chelsea ali ficou, saciada e
feliz com nunca, até que olhou para o
relógio.
– Passa das seis... – murmurou, se
levantando de supetão e em pânico.
– Tão tarde assim para acordar no
Mundo de Chelsea?
Ela o fitou com ironia.
– Não finja que não é viciado em
trabalho.
– Não fingirei, porém não me sinto
assim agora. Volte para a cama. –
Estendeu um braço para ela. – Avise que
está doente.
– Não posso, Alex.
Ele sorriu e deixou o braço pender.
– Acho que também não posso. Que
tal no fim de semana?
– O próximo?
– Vamos viajar.
Surpresa e preocupação a dominaram.
– Para onde?
– Que tal Miami? Um voo rápido. E
está quente nesta época do ano.
– Está bem – concordou Chelsea,
sentindo algo adorável e precioso florir
em seu íntimo. Um fim de semana fora.
Tão
normal,
e
mesmo
assim
maravilhoso.
Sorrindo, ele atirou as cobertas para
longe.
– Estou mesmo atrasado. Teria um
barbeador no armário do banheiro?
Ela sorriu também.
– Desculpe, mas não tenho.
– Não pensei que tivesse.
– Nunca antes um homem passou a
noite aqui – explicou ela.
– E eu nuca dormi na casa de ninguém
antes.
Ele a fitou longamente com um olhar
que parecia dizer como aquela situação
era nova... para os dois. Extraordinário
como iam da ironia à emoção. À
honestidade.
E mesmo assim manter tanta coisa
escondida.
Chelsea foi ao banheiro luxuoso com
uma enorme banheira e o chuveiro para
duas pessoas.
– Não tenho mesmo um barbeador –
anunciou, abrindo um armário e pegando
seu creme facial.
– Nossa! Quantos band-aids!
Chelsea parou com o pote de creme
na mão.
– Quê...?
Alex escancarou a porta, perguntando
com ar de troça enquanto Chelsea ficava
vermelha:
– Era uma liquidação?
Muito bem, ela guardava muitos bandaids. Caixas e mais caixas nos mais
diferentes tamanhos, dos pequeninos aos
enormes. Percebia que podia parecer um
pouco... neurótico.
Ela fechou a porta do banheiro com
firmeza, dizendo:
– Gosto de estar preparada.
– Gosta mesmo.
Percebeu o olhar pensativo de Alex e
soube que refletia. Mas não estava
pronta para explicar. Sua infância feliz?
Não fora assim feliz. E sempre que
precisara de band-aid não havia.
Ninguém para cuidar de seus joelhos
machucados. Sua mãe jamais viera
correndo para beijá-la e mimá-la.
Uma
coisa
tão
insignificante,
entretanto que ficara gravada na sua
mente, fazendo-a estocar curativos.
Nunca percebera antes que fazia coleção
deles, apenas que quando ia à farmácia
sempre comprava mais uma caixa. Para
garantir. Para se sentir a salvo.
Embora nunca tivesse se sentido a
salvo. Até que conhecera Alex.
Foi apenas quando chegou ao trabalho
e viu a lista de perguntas previamente
aprovadas em um fax que sentiu pânico.
Faltavam três semanas para sua
importante entrevista no horário nobre.
Poderia pensar em sabotar Treffen?
Confrontá-lo?
Só em pensar nisso sentiu as palmas
das mãos suadas e viu pontos escuros
diante dos olhos. Afastou o pânico. Alex
precisava encontrar outra testemunha.
Ambos sabiam disso, e, até que ele
conseguisse, ela nada podia fazer.
Mesmo lembrando-se do olhar de
Sarah estendida naquela cama que a
assombrava, porque se reconhecera ali.
Vira a si mesma assim, em cada foto
tirada durante os três anos que ficara em
Huntsville.
Não queria que Alex soubesse disso e
não demonstrara emoção ao ver a foto
de Sarah. Mas sentira o desespero como
se Sarah gritasse para ela. Aprenda com
meus erros.
Chelsea esperava ter aprendido.
Dois dias depois estava sentada na
primeira classe de um voo para Miami
ao lado de Alex.
Observou-o passar os olhos pelo
jornal que recebera no avião, uma das
mãos repousando na sua coxa, e refletiu,
surpresa, como haviam avançado na
relação. Quem os visse diria que eram
um casal normal, e talvez a normalidade
no momento fosse tão preciosa porque
parecia fácil. Correta.
Alex a fazia se sentir assim. Esse
homem poderoso, complexo, bondoso...
que ela amava.
Impossível deixar de se sentir assim.
Ou querer se sentir assim. A história
simplesmente fora longe demais.
Precisava parar de querer se sentir
segura, sã e protegida. Chelsea o amava
e queira amar apesar de conhecer os
riscos.
Alex poderia concluir que ela era
muito difícil ou muito estragada e dar
um basta naquilo. Ela poderia culpá-lo?
Chelsea sabia que era uma pessoa muito
complicada. Só não sabia quanto tempo
mais poderia ocultar essa verdade.
TRÊS HORAS depois deram entrada em
um luxuoso resort em Miami Beach.
Alex foi para o terraço que ocupava
toda a fachada do apartamento e aspirou
o ar balsâmico, surpreso com o quanto
se sentia feliz. Espantado por ver como
fora bom contar todo para Chelsea.
Bem, quase tudo. Segurou com força o
gradil do terraço sentindo vergonha.
Não contou tudo para ela, idiota.
Não contou nada.
E ela não lhe contara... nada também.
E Alex não sabia se queria ouvir.
Respirou fundo, odiando saber que
ainda escondiam muito um do outro, e
ciente de que não estava preparado para
contar mais.
O que tinha, decidiu, precisava
bastar. Um dia ensolarado e quente. Um
belo quarto de hotel, uma mulher linda.
Ouviu o rumor da porta de vidro, e
Chelsea veio ficar ao seu lado.
– Admirando a vista? – perguntou,
fazendo-o sentir que a pressão em seu
peito desaparecia.
Isso era o suficiente. Precisava ser.
– Então, o que faremos hoje à noite? –
quis saber Chelsea, animada enquanto
ambos fitavam o oceano. – Jantar na
praia ou no centro, no Coconut Grove? –
Fitou-o com um sorriso de flerte. – Ou
podemos pedir o jantar no quarto.
– A última opção sem dúvida é a mais
atraente -– respondeu Alex –, mas vou
levá-la a Allapattah.
– Alla-o quê?
– Um bairro latino na parte oeste de
Miami.
Ela o fitou, pensativa, e depois
murmurou:
– Está bem.
O que Alex não lhe contara com medo
de que se assustasse era que iria levá-la
à casa de sua mãe.
Se bem que, na verdade, era ele quem
estava muito assustado. Há dois dias
parecera natural quando ligara para a
mãe. Ela morava em Miami agora; por
que não podiam todos se encontrar?
Porém, no momento presente parecia
que estava dando uma importância e um
significado
muito
grande
ao
relacionamento com Chelsea, e isso o
alarmava.
Ora! Talvez estivesse lhe dando muito
valor, e daí? Alex engoliu em seco e
sorriu depressa para Chelsea, que estava
relaxada, meiga e feliz.
Talvez desse muito valor a ela de
verdade.
ALEX LHE dissera para se vestir com
simplicidade para o jantar, esquecendo
que Chelsea não tinha roupas
displicentes. Ela trouxera na mala duas
calças tipo pescador, duas calças
sociais, um vestido pretinho e alguns
tops clássicos, mas na verdade nada era
muito simples. E nada que ela gostaria
de usar agora.
Então, enquanto Alex tomava banho,
Chelsea correu para uma das butiques no
saguão do hotel e comprou um vestido
de verão com alças finas, amarelo-ouro.
O decote permitia ver um pouco de pele
marcada, que era o início da cicatriz.
Ela não usava nada parecido há dez
anos, desde que Brian Taylor a surrara
até que desfalecesse e lhe apontara uma
faca.
Mas usaria agora.
Aplicou apenas um pouco de brilho
labial e deixou os cabelos soltos sobre
os ombros. Comprou também um par de
sandálias com tiras que nada tinham a
ver com seus costumeiros saltos
altíssimos.
Quando entrou na sala da suíte, Alex a
fitou por longo tempo.
– Está – começou a dizer, se
aproximando para beijá-la – incrível.
E era assim que Chelsea se sentia.
Mas, por quanto tempo? Quanto mais
até um dos dois decidir que estavam
exagerando e sendo muito intensos e
emocionais, e que era hora de terminar?
No
terraço
Alex
parecera
preocupado, e Chelsea matutara sobre o
que estaria pensando. Não ousara
perguntar.
Que
estranho
relacionamento
aquele.
Um passo de cada vez, tratou de
lembrar com certo desespero, pequenos
passos, mesmo que alguns fossem para
trás.
Pegaram o carro alugado, um
conversível
cor
de
cereja,
e
percorreram Miami enquanto o sol
desaparecia no oceano e a noite cobria a
cidade.
– Aonde vamos exatamente? – quis
saber ela enquanto Alex deixava o
centro de Miami e penetrava em uma
zona residencial. – Por acaso conhece
algum restaurante secreto?
– Mais ou menos isso – respondeu
Alex ao parar em frente a um pequeno
bangalô com um lindo jardim. – Minha
mãe é uma grande cozinheira.
O choque a deixou rígida.
– Sua mãe? – repetiu por fim, sem
poder acreditar e cheia de medo. – Você
me trouxe à casa de sua mãe?
– Sim...
– Mas pensei que tivesse crescido no
Bronx!
– E cresci. Mas quando fui para a
faculdade ela se mudou para Miami a
fim de ficar perto da irmã, minha tia
Patricia.
Chelsea
balançou
a
cabeça,
pressionando as mãos nas faces.
– Deveria ter me dito, Alex. Não
estou preparada para isso...
E também não achava que ele
estivesse. Alex simplesmente lançara
seu relacionamento tão frágil na
estratosfera. Ela estava para conhecer
seus pais.
– Não lhe disse porque sabia que
ficaria nervosa – respondeu Alex com
calma. – Minha mãe é uma pessoa muito
carinhosa e compreensiva. E vai aceitar
você. – Deixou escapar o ar dos
pulmões devagar. – Não se trata de um
teste ou de um campeonato, Chelsea.
Simplesmente ela mora em Miami e eu
quis vê-la. Só isso. Prometo.
Seria uma promessa ou um aviso?
Não tente ler nas entrelinhas, Chelsea.
Certo, não leria. Mas continuava
sendo obrigada a conhecer a mãe dele.
– Tudo bem – murmurou com voz
calma, graças a Deus, e Alex sorriu
rapidamente.
– Agora vamos. minha mãe faz uma
empanada sensacional.
Chelsea o seguiu para o bangalô com
o coração começando a disparar e as
palmas das mãos suadas. Estaria tendo
um ataque de ansiedade? Quase entrou
em pânico, mas percebeu que não era
isso. Não, estava apenas nervosa por ir
conhecer a mãe de seu namorado.
Seu namorado. Podia chamar Alex
assim?
Engoliu em seco sentindo a garganta
áspera, e tentou estampar um sorriso
alegre no rosto. Sabia que Alex ainda
acreditava que tivesse tido uma infância
feliz, que estava familiarizada com
reuniões de família, quando na verdade
não poderia estar mais enganado. Ela
jamais conhecera os parentes da mãe, e
o Dia de Ação de Graças, Natal e
aniversários passavam em branco
normalmente. Essa experiência era nova
para ela de várias maneiras.
– Alex! – Uma senhora abriu a porta
do bangalô e estendeu os braços. Alex
mergulhou no abraço com um sorriso
doce, e a senhora falou depressa em
espanhol por alguns segundos antes de
olhar para Chelsea.
– Seja bem-vinda. Meu nome é
Beatriz – disse em inglês. – Estou tão
feliz em conhecê-la.
– Digo o mesmo – murmurou Chelsea.
Gostou à primeira vista da mãe de Alex;
era uma mulher alta e com uma postura
orgulhosa, cabelos negros estriados de
cinza e os mesmos olhos dourados do
filho.
– Entrem – convidou Beatriz, pegando
a mão de Chelsea. – Todos querem
conhecê-la.
Chelsea enrijeceu de novo.
– Todos? – murmurou, lançando um
olhar de pânico para Alex, que parecia
surpreso, mas nada constrangido.
– Quem você convidou, mama? –
perguntou Alex, e Beatriz riu.
Apenas Patricia e suas filhas com os
maridos e as crianças, você sabe.
Parecia uma multidão para Chelsea,
que sentiu a visão embaçar. Muito bem,
agora estava tendo um ataque de
ansiedade.
– Só um segundo, mama. – Alex
arrastou Chelsea pela mão e ficaram do
lado de fora enquanto Beatriz entrava no
bangalô. – Droga. Deveria ter imaginado
que ela faria algo do gênero. – Fitou-a e
Chelsea percebeu a preocupação em
seus olhos. – Se não se sente bem com
esta situação, iremos embora já.
– Você se sente bem com a situação?
– perguntou ela com o costumeiro tom
de cinismo. Alex franziu a testa.
– Não é o ideal, mas não vem ao
caso, Chelsea. Não se sente bem em
meio a muita gente, e não quero piorar
as coisas para você.
Ou para ele. Chelsea tinha a sensação
de que Alex já se arrependera de ter
marcado esse jantarzinho e o impulso o
fizera agir assim.
Bem, pior para ele. Não iria dar
meia-volta e fugir. Pelo menos não por
causa de um ataque de pânico.
– Dê-me um minuto – pediu, e ele
aquiesceu com um gesto de cabeça.
Chelsea se inclinou para a frente
respirando fundo várias vezes, enquanto
o coração voltava a bater normalmente.
Alex massageou suas costas, e o leve
toque lhe deu coragem para se aprumar e
sorrir.
– Certo – murmurou e, altamente
orgulhosa, entrou na casa da mãe de
Alex.
Era uma loucura. Muita gente falando
ao mesmo tempo, uma vibração com as
pessoas
enchendo
os
cômodos
pequenos, rindo, gritando, oferecendo
comida e bebida. De imediato Chelsea
se sentiu aceita. Ninguém a olhou de
soslaio ou imaginou por que estava ali.
Ninguém nem mesmo notou o início da
cicatriz no seu decote.
Patricia, a irmã de Beatriz, pegou
suas duas mãos e a beijou nas duas
faces, elogiando seu programa de
televisão. As primas de Alex pediram
seu autógrafo com timidez, mas logo
fizeram perguntas. Não sobre a
celebridade Chelsea Maxwell, mas
sobre ela mesma, fazendo-a se sentir
uma pessoa de verdade, e não uma
anfitriã de talk show.
Chelsea começou a se sentir muito
bem... Até que olhou para Alex e viu que
ele franzia a testa. Ele não estava
gostando da noite como ela, e Chelsea
temia saber o motivo.
Ficaram até depois da meia-noite, e
por fim Alex alegou que precisavam
voltar. Parecia zangado. Ela ajudou a
tirar a mesa.
Estava colocando pratos no secador,
quando Beatriz entrou na cozinha e
disse:
– Por favor, não o magoe.
Chelsea ficou tensa e se virou para a
mãe de Alex, perguntando:
– Por que acha que o magoaria?
– Você já foi ferida, não? Posso
dizer, porque isso me aconteceu
também. Por um homem – disse Beatriz.
Chelsea se lembrou do que Alex
suspeitava a respeito do pai, e
confessou:
– Sim. Porém, é por isso mesmo que
sou... tão grata a Alex.
– Ele é um bom rapaz – concordou
Beatriz. – E quero que seja feliz.
– Acha que ele não pode ser feliz
comigo? – perguntou Chelsea, ciente de
que seus segredos e sofrimentos seriam
demais para ele.
– Creio que, quando se foi magoada
uma vez, existe sempre o medo de que
aconteça de novo. É difícil confiar,
amar.
– É verdade – murmurou Chelsea,
afastando as lágrimas, e Beatriz sorriu
com simpatia.
– Você tem cicatrizes... e não me
refiro a essa. – Fez um gesto para o
decote de Chelsea. – Na alma e no
coração, as mais profundas, e Alex não
conseguirá curá-las. Nenhum homem
pode. Só você.
Chelsea apenas acenou. Entendia o
que Beatriz estava dizendo, embora não
acreditasse muito. Duvidava que
pudesse ser curada por Alex ou qualquer
outro. Queria acreditar, mas...
Permaneceram calados de volta para
o resort.
Superficialmente a noite fora um
sucesso, mas...
Não o magoe.
Não queria magoá-lo, mas fizera
tantas escolhas ruins na vida que a
assombravam... um bom relacionamento
ainda lhe parecia um campo minado.
Demais.
E mesmo assim os últimos dias
haviam sido divinos. Fora machucada no
passado, mas ainda queria tentar, queria
contar a verdade para Alex.
A reação dele seria outra história.
CAPÍTULO 13
FORA
completo idiota levando
Chelsea para jantar na casa da mãe. Que
diabos tinha sido aquilo? Deveria saber
que a mãe ficaria muito entusiasmada;
nunca antes trouxera uma moça para
conhecê-la. Jamais.
Sabia que fizera isso porque em parte
desejava um relacionamento com
Chelsea, e por outro lado queria fugir.
Saltar desse trem quando ainda havia
tempo.
E tinha a impressão de que Chelsea
UM
sabia disso. Talvez estivesse em
conflito
também.
Ambos
ainda
mantinham
segredos,
mas
não
pressionavam um ao outro.
Não era uma proposta muito
interessante. Manterei meus segredos
bem guardados, muito obrigado.
Só que já não estavam tão bem
guardados, nem os dele nem os dela.
Alex mostrara a fotografia. Contara
sobre Sarah. Ela falara sobre a cicatriz e
sobre os ataques de pânico.
Parecia que seus segredos seriam
revelados querendo ou não.
A não ser que ele acabasse com tudo.
Por que tal pensamento era terrível?
Como fazer funcionar?
Assim que voltaram para a suíte do
hotel, Alex a tomou nos braços. Não
queria complicar as coisas com
palavras. Mas isso era simples. Fácil. E
Chelsea entendeu, porque o abraçou com
desespero, passando as mãos pelo seu
pescoço.
Fizeram amor sem falar. Nem mesmo
uma palavra, pois isso abalaria a
fragilidade de sua intimidade, a
segurança do sexo.
Depois ficaram agarrados, membros
entrelaçados e corações batendo forte.
E continuaram sem falar.
Quando amanheceu Chelsea o
acordou com um beijo que roubou seu
coração e seu fôlego. Ela o beijou como
se provasse seu corpo, provocando,
antes de afastar os cabelos em um gesto
feminino e poderoso que existia desde o
início dos tempos, para depois ficar por
cima dele.
Alex se lembrava da primeira vez que
haviam feito sexo... e fora apenas sexo...
e Chelsea agira dessa maneira. Agora,
querendo
ou
não,
era
tudo
completamente diferente. Chelsea se
empinava sobre ele, nua e liberada, um
sorriso nos lábios enquanto levava os
dois ao máximo do prazer em um ato que
parecia cheio de amor. Diabos!
Mais tarde tomaram banho juntos e
fizeram amor de novo, conseguindo por
fim deixar o hotel e ir à praia, fazer o
que os turistas faziam conforme Alex
prometera em Nova York.
Ele não sabia por que tudo parecia
tão melancólico e um pouco amargo.
Estava se divertindo caminhando pela
praia de mãos dadas com Chelsea,
comendo camarões no mercado ao ar
livre, e almoçando em Little Havana.
Estava se divertindo a valer, e mesmo
assim... sentindo que tudo isso era
passageiro. Quase um final. Quase como
se tivessem chegado a um acordo sem
palavras na noite anterior de que isso
era tudo que teriam.
Nessa noite uma limusine os esperava
no aeroporto JFK, e eles voltaram em
um silêncio ainda mais profundo para o
apartamento de Alex.
Já no apartamento Chelsea caminhou
quieta pelo espaço aberto, detendo-se
diante das fotos em preto e branco que
adornavam uma parede de tijolos.
– Foi Sarah quem tirou essas fotos?
Surpresa... e pânico... cruzaram o
rosto de Alex.
– Como sabe?
– Não sei. Apenas me parecem tão...
tristes.
– Os temas foram se tornando mais
tristes à medida que ela se aproximava
da morte – admitiu Alex. – Quando me
lembro, sinto que deveria ter percebido
isso. – Porque ela me contou sem
palavras. Mas engoliu em seco e
desviou os olhos.
– Você está sempre lembrando –
concordou Chelsea.
Havia muita mágoa e remorso
reprimidos em sua voz para que Alex
continuasse calado. O problema era que
não sabia o que dizer, e mesmo se
soubesse ainda não tinha certeza se
desejava falar.
–
Chelsea...
–
Deteve-se,
desarvorado, e ela se voltou para fitá-lo,
declarando de supetão:
– Quero lhe contar algumas coisas,
Alex.
Maldição. O que fazer agora? A
expressão de Chelsea era neutra e
determinada, e a ansiedade o dominou,
corroendo suas entranhas.
– Muito bem – disse Alex por fim,
percebendo como soava relutante.
Sabia que Chelsea percebera também,
e a viu erguer o queixo com um olhar
duro, os ombros eretos, cada centímetro
de seu corpo mostrando a elegante e fria
Chelsea Maxwell.
– Dormi com um homem para
conseguir meu primeiro emprego.
Não era o que Alex esperara ouvir.
Sentiu uma leve surpresa, uma
aguilhoada de censura, porém no geral
aceitou quase com alívio. É só isso?
– Certo – murmurou.
– Fui para a entrevista de emprego e
me ofereci, claramente, para dormir com
o chefe e conseguir o que desejava. Ele
aceitou minha oferta, e consegui o
emprego como garota do tempo para
uma estação local de notícias em
Huntsville.
– Devia saber o que queria. – Alex
parecia ter bolinhas de gude na boca, e
isso era estranho e desconfortável. Não
sabia o que dizer. Ignorava o que ela
queria
ou precisava
ouvir
e,
francamente, rezava para essa conversa
acabar logo.
Algo cruzou o rosto de Chelsea
rápido demais para Alex detectar o que
era.
– Acho que sim – prosseguiu ela. – Se
quiser, procure por mim na internet.
Aurora Dawn Jensen. Esse era meu
nome. Quem eu sou.
Um outro nome? Alex estava
surpreso, mas não chocado. Afinal, não
parecia grande coisa.
– Não preciso entrar na internet,
Chelsea...
– Não cresci do modo como o fiz
acreditar – interrompeu ela, a voz mais
dura e aguda. – Menti sobre isso. Não
sei quem era meu pai, e minha mãe era
uma inútil. A fila de namorados que
tinha ficava cada vez pior. Eu era a
clássica criança que morava em
estacionamentos baratos de trailers.
Ela aguardou, e Alex deu de ombros,
ainda incerto sobre aonde Chelsea
queria chegar.
– Por que mentiu? – perguntou, e a viu
se encolher.
– Porque desejava acreditar na
mentira. Queria ser alguém diferente.
Bem, isso ele podia entender. Não
quisera também ser diferente na escola
preparatória Walkwerton? Não o garoto
pobre do Bronx com o uniforme de
segunda mão que chegava de ônibus à
escola, e não de limusine ou helicóptero.
Mas mesmo assim não encontrava as
palavras para dizer que a compreendia,
que qualquer coisa que Chelsea lhe
contasse ele aguentaria.
Mas talvez não aguentasse. Talvez
não quisesse saber porque isso
escancararia todas as suas deficiências.
Era
por isso que não mantinha
relacionamentos. Porque não fazia ideia
de como lidar com a dor de outra
pessoa. Porque não suportava pensar
que a outra pessoa veria sua dor
também.
– Menti sobre tudo, Alex. – Agora as
palavras dela saíam mais depressa, até
demais para Alex processá-las, saber
como ela se sentia, e muito menos como
responder. – Chelsea Maxwell... a
mulher que você acredita conhecer... não
existe. Eu a inventei quando me mudei
para Nova York, a fim de um novo
começo. Mas ela não é real.
– Você é real, Chelsea. – Ele
conseguiu dizer afinal, mas percebeu
que sua voz soou fraca, e ela apenas
balançou a cabeça.
– Acredita mesmo? Bem, creio que
continuo sendo a garota estúpida que
pensou que a única maneira de conseguir
um trabalho seria se deitando com um
homem. Ou de joelhos, como aconteceu.
Ou no armário do material de limpeza,
sobre uma escrivaninha, no elevador, no
estacionamento...
Alex se encolheu e ergueu a mão. Não
queria conjurar essas imagens na mente.
– Pare, Chelsea.
– Por quê? – Os olhos dela
brilhavam, e ele não sabia se por causa
de lágrimas ou por desafio. – Esta é a
verdade, Alex. Está pronto para ela? –
Não esperou a resposta. – Tive um caso
com Brian Taylor durante três anos. Um
caso doentio e sórdido, mas optei por
isso porque desejava demais trabalhar
na televisão.
Ele percebeu o nojo em sua voz,
porém não entendeu. Chelsea nunca
pedia desculpas pelas suas escolhas, e
ele aceitara isso nela. Entretanto, agora
não sabia o que Chelsea desejava dele.
– E depois, o que aconteceu? –
conseguiu perguntar.
– As coisas saíram um pouco dos
trilhos. Brian sempre gostava de
provocar um pouco de dor, mas se
descontrolou e acabei no pronto-socorro
com o rosto com hematomas e isto. –
Apontou para a cicatriz no seio. – Brian
vira um sujeito olhando para meus seios
e ficou louco. – Chelsea respirou fundo.
– Arrastou-me pelos cabelos para fora
de uma festa no escritório. Levou-me
para sua sala e ninguém interferiu.
Ninguém chamou a polícia ou mesmo
bateu à porta enquanto ele me surrava
até me deixar uma massa ensanguentada,
e depois avançava para cima de mim
com uma faca. Então conheço a sensação
de ser atirada na piscina, por assim
dizer. Sei como é ver as pessoas
observando seu afogamento.
Alex a fitou com o cérebro
fervilhando diante dessas novas
informações, desse terrível e novo
conhecimento, agora sabia por que ela
preferia encontros de uma só noite, por
que as multidões a deixavam com crises
de ansiedade. Por que agia com dureza,
frieza e no controle por saber como
seria se assim não procedesse.
Mas mesmo assim não disse nada.
Não conseguia.
– Ninguém sabe de tudo isso –
prosseguiu ela com calma, seu rosto
ainda neutro, e evitando fitá-lo. –
Ninguém conhece toda a história a não
ser você.
Então esperou pelas palavras dele,
por algo, mas Alex continuava oco. Que
diabos poderia dizer?
Que estava tudo bem? Obviamente
não estava. Que não se importava com o
passado dela? Mentira, porque se
importava.
Quem sabe devesse apenas abraçá-la,
porém não conseguia se mover. E sabia
a razão.
Porque
não
desejara
tomar
conhecimento de tudo isso. Não quisera
se aprofundar tanto. Raios, se Chelsea
contara tudo, ele também teria que
revelar suas mazelas e admitir suas
fraquezas. Sabia para onde isso
conduziria. Para nada de bom.
– Diga alguma coisa – pediu ela sem
conseguir prosseguir. Alex apenas a
fitou.
– Lamento...
– Oh, Alex. – Chelsea balançou a
cabeça, enxugando os olhos antes que as
lágrimas jorrassem. – Sua mãe tem medo
de que eu o magoe. Ela leu minha alma
aquela noite em Miami. Percebeu quanta
coisa eu escondia. E tive medo de
magoá-lo e de não ser boa o suficiente
para você. Não ser forte ou inteira o
suficiente. Porém, no final, talvez seja
você quem vá me magoar.
– Não quero magoá-la – retrucou ele
serena e sinceramente. Mas não querer
era diferente de não fazer.
– Sei que não quer. Mas vejo em seu
rosto que não deseja lidar com tudo isto.
– Ela fez um gesto abrangendo o espaço
entre os dois, porém Alex entendeu o
que Chelsea realmente queria dizer.
Lidar com ela. – É mais do que você
pediu. Entendeu. E a verdade é... a
verdade é... – Sua voz falseou. – Preciso
de alguém que deseje lidar com isto, que
assuma o risco. – Levantou-se, ergueu os
ombros como a moça que ele vira pela
primeira vez saindo de um prédio, o
mundo aos seus pés. – Quero alguém que
me dê valor – terminou de mansinho, e,
antes que Alex soubesse o que dizer,
Chelsea deu meia-volta, abriu a porta do
elevador e partiu.
ALEX OLHAVA sem nada ver para as mais
recentes manchetes, no alto da tela do
computador. O mundo poderia estar
acabando e ele não sabia. Não se
importava.
Seu mundo pessoal terminara.
Quatorze horas intermináveis desde
que Chelsea deixara seu apartamento.
Desde que ele a ouvira abrir seu
coração sem retrucar com uma só
palavra de simpatia.
Que diabos estava errado com ele?
Foi só quando ela desapareceu que
sua mente voltou a funcionar, e ele pulou
do sofá, desceu a escada correndo e
abriu a porta de aço, recebendo o ar
gelado da noite de fevereiro. Ela devia
ter corrido como uma gazela para sumir
tão depressa.
Alex pegou um táxi até o apartamento
de Chelsea e pediu para o porteiro
chamá-la pelo interfone. Não houve
resposta. Ligou para seu celular, enviou
12 mensagens, mas nada.
Tarde demais. Sabia disso, sentindo o
vazio que o dominava. Lembrou-se de
quando fitara o corpo inerte de Sarah, a
confusão logo substituída pelo imenso
horror.
A percepção crescente de que fora
tudo culpa sua. Como estava sendo... de
novo.
– Alex? – A voz de sua assistente
pelo interfone interrompeu sua leitura
distraída nas novas manchetes. – Hunter
Grant e Zoe Brook para você.
Alex franziu a testa. Nunca antes
Hunter o procurara no escritório, porém
podia adivinhar o motivo para estar ali
agora: queira falar sobre Treffen.
E talvez devesse se focar nisso,
porque assim, pelo menos, resolveria
uma das situações.
Apertou o botão do interfone.
– Mande-os entrar.
Ambos entraram em seguida e de
mãos dadas. Alex observou como Zoe se
inclinava para Hunter, e como ele
entrelaçava os dedos aos dela. Refletiu
que Hunter deveria ter lidado bem com a
questão amorosa. Ambos pareciam
sérios e determinados agora, mas não
dava para negar que se importavam um
com o outro. Amavam-se.
Que pena ele, Alex, não ser capaz
disso. Entretanto, podia ser melhor
assim. Não merecia Chelsea. A essa
altura, ela estava melhor sem ele.
Alex os cumprimentou para depois se
sentar de novo.
– Que surpresa agradável! –
exclamou. – Mas sinto que não será uma
visita social.
Zoe foi a primeira a falar, com a voz
baixa e firme:
– Não, não é. – Fitou Alex
intensamente, sempre segurando a mão
de Hunter. – Quero contar minha
história. Conversarei com Chelsea na
televisão se for necessário.
Alex sabia que deveria se sentir
triunfante, porém só sentia cansaço.
Aquiesceu com um gesto de cabeça
lento.
– Farei com que entre em contato com
ela. Tem certeza de que quer fazer isso?
Zoe acenou que sim seriamente.
– Preciso esclarecer sobre Treffen.
Sobre mim mesma. – Respirou fundo. –
Começou tão inocentemente... ou assim
pensei. Não achei estranho quando ele
me pediu para jantar com um cliente,
sugerindo que usasse o vestido de
coquetel porque se tratava de um velho
que gostava de flertar. Inofensivo, disse
Treffen. – A voz dela tremeu. –
Inofensivo.
Um olhar angustiado cruzou o rosto
em geral irônico de Hunter.
– Zoe, não...
– Não, Hunter, preciso. Sabe que
preciso. Vivo com isto um tempo que
parece uma eternidade, porque tinha
tanta vergonha por ter sido tão tola e
fácil de manipular. – Balançou a cabeça.
– Treffen é um monstro. Ameaçava todas
nós... suas garotas, como costumava nos
chamar... e adorava nos ver recuar de
medo, encolher, implorar.
Alex pensou em Sarah, e então, de
repente, com um entendimento que
chegava a ser doloroso por ser tão
claro, pensou em Chelsea.
Em todas as coisas que ela dissera, e
também nas que omitira, que deixara
subentendidas.
Creio que continuo sendo a garota
estúpida que pensou que a única
maneira de conseguir um trabalho
seria se deitando com um homem. Não
acreditava em si mesma, porque
ninguém jamais acreditara.
Brian sempre gostava de provocar
um pouco de dor. Ela sofrera os piores
abusos por três anos.
Não sei quem era meu pai, e minha
mãe era uma inútil. A fila de
namorados que tinha ficava cada vez
pior. E quem sabe sofrera abusos na
infância também.
Deus, por que ele não percebera isso?
Ouvira o que ela realmente dizia?
Ficara tão preocupado com o que
deveria dizer que não fora capaz de ver
e ouvir realmente o que se passava. O
que alguém tentava, desesperadamente,
lhe contar.
Deveria ter saltado daquele sofá e a
abraçado. Enxugado suas lágrimas com
beijos que ela ainda teimava em não
aceitar.
Porém, ela fora embora antes que ele
a afastasse, o que era o que Chelsea
imaginara que Alex faria. Afinal, como
diz o ditado, quem cala consente.
Com esforço ele retornou ao momento
presente e se focou em Zoe e Hunter.
– Lamento pelo que suportou, Zoe.
Sei que Chelsea Maxwell vai querer
essa conversa.
Pálida, Zoe aquiesceu com um gesto
de cabeça resoluto.
– Só me diga quando e onde.
BRAVAMENTE
CHELSEA
conseguira
superar mais um dia. Três dias desde
que deixara o apartamento de Alex e
toda a esperança de felicidade com que
já sonhara. Três dias desde que olhara
nos olhos dele e vira o choque e o medo,
sentindo seu silêncio como uma
rejeição. E era isso mesmo.
Três dias intermináveis.
Iria superar, sabia disso, com
superara
antes;
afinal,
quantos
relacionamentos tristes já tivera? A fila
de namorados ruins que deixara ao
longo do Alabama na esperança de
encontrar quem a amasse. Brian Taylor,
que ela tentara se convencer de que
amava mesmo que a humilhasse e
torturasse vezes sem fim.
E agora Alex. Mas Alex era diferente
de todos os homens que já conhecera.
Completamente diferente, e ela também,
porque o amava de verdade. Amava
Alex com todas as fibras de seu ser, e
cada batida de seu coração partido,
amava o modo como ele a fazia se sentir
segura e especial, amada e desejada.
Amava sua ambição, sua sensibilidade,
sua bondade e humor.
Era uma pena que ele não a amasse
assim também. Uma pena ela ter
percebido em sua expressão que não
estava pronto para a verdade, a versão
bagunçada e sem verniz do que ela era.
E a coisa boa, disse a si mesma, era que
ela previra isso... e sabia que precisava
de mais.
Fugir de Alex agora era sua única
opção, porque a ideia de revê-lo a fazia
se sentir desarmada, cada nervo exposto
e dolorido.
Chelsea sabia que Alex podia querer
se desculpar. E talvez não. Talvez
agradecesse a sua boa estrela por ela ter
ido embora antes. Mas, se Alex quisesse
se explicar, Chelsea sabia que era fraca
demais e que aceitaria qualquer coisa
que ele oferecesse. Esqueceria que vira
a verdade em seus olhos e que a ouvira
em silêncio.
E a verdade era que tinha medo. Se
agora sentia agonia, o que sentiria após
uma semana, um mês, um ano, quando
Alex decidisse que se cansara dela e de
sua loucura? Talvez não procedesse com
a maldade de Brian, mas seria ainda
pior. Não iria apunhalá-la no seio;
esmagaria seu coração.
Então ela apagou suas mensagens de
textos sem ler. Instruiu os seguranças no
trabalho e o porteiro no seu prédio para
que não o recebessem se fosse procurála.
Eventualmente Alex desistiria.
Três dias depois da última vez que o
vira, Chelsea deixou o trabalho e seguiu
para entrar no carro que guardava nos
fundos de Rockefeller Plaza, quando
uma sombra se afastou da parede, e de
repente lá estava ele, ao seu lado, os
braços cruzados sobre o peito. Rosto
contrito, mas tão lindo que ela desejou
se lançar sobre ele.
Mas ela não se moveu.
– Olá, Chelsea.
Sua voz baixa e rouca continuava
despertando o desejo de Chelsea. Mas
ela balançou a cabeça.
– Por que está aqui?
– Precisava descobrir uma maneira de
fazê-la me receber. Ouvir, porque não
me deu muita oportunidade na última
vez. Mas admito que quando me deu
chance eu não aproveitei. Burrice.
– Não tem importância.
– Com pode dizer isso? Fala com
sinceridade? – Ele deu um passo à
frente. – Ou está apenas com medo?
– Fica sempre me perguntando isso.
– E você sempre responde que não
tem medo.
A frustração a dominou.
– Certo, agora digo que estou com
medo, Alex. Temo um relacionamento
com você, porque já me queimei antes e
dói. E não tenho forças para passar por
tudo de novo.
Mesmo no escuro ela podia ver a
raiva nos olhos dele.
– Está me comparando com o lixo que
era o seu patrão? Brian Taylor?
– Não. Você é completamente
diferente. Sou eu que sou sempre a
mesma. – A voz de Chelsea fraquejou,
mas ela logo se recuperou. – Continuo
confusa, Alex. Tentei agir com
segurança, mas não consigo, nem
remotamente.
Ele deixou escapar uma risada.
– E acha que eu consigo?
Chelsea balançou a cabeça, tentando
ser objetiva. Precisando que ele
soubesse.
– Tenho ataques de pânico, empilho
caixas de band-aids. Não sou honesta
nem verdadeira com ninguém há dez
anos.
Ele deu um passo à frente e disse em
voz baixa:
– Foi verdadeira comigo.
– E veja o que me causou. Você não
me queria verdadeira, Alex.
– Admito que não reagi como deveria
– retrucou ele com firmeza. – Falhei
com você. Fiquei... com medo, Chelsea.
Não gosto de admitir, mas é isso.
Confiou em mim me contando essa
verdade como... – respirou fundo –
como Sarah.
Chelsea franziu a testa e inclinou a
cabeça para um lado.
– O que quer dizer?
– Ela me contou, Chelsea, contou
sobre Jason. Não com todas as letras,
mas o suficiente. Deveria ter sido o
suficiente, exceto que não dei ouvidos a
ela.
Chelsea o fitou, abriu a boca para
falar, mas não sabia o quê.
– Estava obcecado pela minha careira
– continuou Alex, agora com voz
entrecortada pela dor. – Queria provar
meu valor, naquela última noite, quando
ela morreu. Tentei... – Dessa vez sua
voz quase falhou. – Fui a última pessoa
a vê-la com vida, Chelsea. E ela tentou
me contar o que Treffen estava fazendo,
porém eu só pensava em uma maldita
notícia. Pedi... – interrompeu-se,
engoliu em seco e recomeçou. – Pedi a
ela que me desse uma opinião sobre uma
história de assédio sexual. Opinião. E
minutos depois ela foi embora, subiu
para o telhado do prédio e se atirou de
lá.
Chelsea se sentiu derreter de
compaixão.
– Oh, Alex...
– Não quis lhe contar antes. Não
queria admitir ser esse tipo de homem.
Mas você confiou em mim contando sua
verdade, Chelsea, e eu agi do mesmo
modo como agi com Sarah. Desculpe.
Deus, lamento tanto não ter agido
corretamente. Não sabia como nem
queria me abrir, porque se você me
contou seus segredos teria que contar os
meus. – Alex ergueu as mãos. – Então
aqui está minha verdade, Chelsea.
Escolha o que fazer com ela.
Chelsea o fitou tentando acreditar,
querendo que isso fosse o bastante, mas
não era, porque conhecia Alex.
Sabia que ele tentava consertar a
situação, mas será que sentia vontade de
verdade?
Será que a desejava? Não via isso em
seus olhos. Não sentia em sua voz.
– Sabe o que vi ao olhar para aquela
foto? – perguntou ela, e Alex balançou a
cabeça.
– Vi a mim mesma. Aquela expressão
nos olhos de Sarah... como se estivesse
morta por dentro, mas apenas ela sabia
disso. Ninguém via. Foi assim, Alex.
Foi assim que senti por tanto tempo... –
Tomou fôlego depressa. – Você me
despertou – disse, quando confiou que
sua voz não falharia. – Você me fez
retornar à vida, mas não é o suficiente.
Não para o tipo de relacionamento que
desejo agora.
– Sei que não é. – Não eram as
palavras que ela desejava ouvir, porém
não estava surpresa. – Lamento –
acrescentou ele, e ela também não
gostou dessa palavra.
– Sei que lamenta – conseguiu dizer.
Alex a encarou por um longo
momento.
– Chequei o prontuário do hospital,
Chelsea. Seu nariz e queixo foram
quebrados, uma artéria foi rompida no
peito, e teve três dedos fraturados. Meu
Deus. – Sacudiu a cabeça como se
quisesse clarear as ideias. – Sabe o que
gostaria de ter feito quando me contou?
Desejei abraçá-la como você me
abraçou, enxugar suas lágrimas com
beijos e ser tão forte que como sei que
você é.
Chelsea sentiu uma única lágrima fria
escorrer, e murmurou:
– Gostaria que tivesse feito isso.
Ele aquiesceu com um gesto de
cabeça lento, aceitando, e ela desejou
segurá-lo pela lapela do paletó e sacudilo. E lhe dizer que não era tarde demais,
que ainda podiam perdoar e tentar amar
de novo.
Exceto que Alex não a amava o
suficiente. Chelsea sabia disso e ele
também porque, se a amasse, não ficaria
falando sobre o que gostaria de ter feito.
Faria de uma vez. Lutaria por ela, e
Deus era testemunha de que ela
precisava de quem a defendesse.
Alex fitou o vazio por um momento
com expressão misteriosa e então disse
abruptamente:
– Zoe Brook me procurou ontem.
Espantada, Chelsea piscou diversas
vezes. Engoliu em seco e tentou ser
profissional.
– A especialista em Relações
Públicas?
– Sim. Ela é a fonte que mencionei
antes. Foi uma das vítimas de Treffen.
– E ela quer falar?
– Quer falar com você.
A esperança surgiu na alma de
Chelsea em meio a tanto sofrimento.
– Sim, eu também quero falar com
ela.
– Ótimo. Zoe entrará em contato com
você. – Assim dizendo, ele deu um
passo atrás como se fosse um adeus.
Então tudo acabava ali, pensou
Chelsea sombriamente. Amava-o, mas
ele não a amava, pelo menos não com a
mesma intensidade. E o que começara
como uma tentativa desesperada de
reconciliação se transformara em uma
reunião de negócios.
Ela acenou secamente, despedindo-se
também. Ficaram se olhando sem falar.
Contudo, algo em Chelsea parecia gritar
com força e profundidade, e ela apenas
estendeu a mão e o tocou no rosto. Nada
disse, porque sua garganta doía muito.
Porém, Alex deve ter entendido, pois
girou a cabeça e roçou os lábios na
palma de sua mão. Outra despedida.
E então ele se afastou e abriu a porta
do carro.
Deixou-a partir como Chelsea
imaginara que deixaria.
CAPÍTULO 14
ELA
ESCOLHERA partir,
mas ainda se
sentia terrivelmente só. De volta à sua
sala de estar abriu o laptop e começou a
trabalhar. Tinha três semanas para
pesquisar Jason Treffen, descobrir tudo
que podia, e orquestrar a completa
derrocada dele... Assim como a sua.
Seis horas mais tarde se recostou no
sofá e olhou em volta do apartamento
com olhos corajosos. Antes a decoração
em preto e branco a acalmava, porém
agora parecia estéril, vazia e fria como
Chelsea Maxwell, a personagem que
criara.
Seus olhos repousaram sobre a tela
branca com listras pretas da qual Alex
zombara. O quadro era feio, refletiu. E
estúpido. Podia vendê-lo por cem mil
dólares e dar o dinheiro para caridade.
P o d i a começar
uma
obra
filantrópica... algo para mulheres que
sofreram abusos nos relacionamentos.
Mulheres inteligentes, bem-sucedidas,
que mesmo assim haviam sido
degradadas e desmoralizadas pelos
homens que julgavam amar.
Um leve sorriso aflorou em seus
lábios, e ela voltou a se concentrar no
laptop.
Uma semana depois telefonou para
Louise. A dor de ter perdido Alex ainda
machucava muito, mas dizia a si mesma
que com o tempo passaria. Ficaria até
curada. Com a ajuda de Deus.
Entretanto, precisava começar a lidar
com as coisas. Com toda a bagagem
emocional da qual Louise falara, antes
que o navio afundasse.
Dessa vez se encontraram perto de
Columbia, e rumaram para uma
lanchonete perto dos principais prédios
da universidade. O lugar tinha
compartimentos forrados de vinil já
rachado, as mesas estavam riscadas,
mas ali se faziam os melhores waffles
de Nova York, segundo dissera Louise.
– Mas você não come waffles, come?
– perguntou Louise, enquanto examinava
o enorme cardápio plastificado.
– Talvez coma agora – respondeu
Chelsea –, se são tão bons como
apregoa.
Louise ergueu os olhos do cardápio.
– Parece diferente, Chelsea.
– Foi o que me disse da última vez
que nos encontramos.
– Sim, mas então você estava uma
pilha de nervos. Agora parece... mais
calma.
Chelsea sorriu de leve.
– Não sei. Pelo menos tento ser
calma.
– Como? – Louise inclinou a cabeça
curiosidade. – E por quê?
– Precisa me perguntar isso? –
Chelsea tomou um gole de água. Queria
mudar, saber lidar com as coisas, e
depois esquecer, porém não era nada
fácil. – Você já se sentiu feliz, Louise?
– Não – respondeu a irmã
mansamente –, mas você parecia
determinada a fazer com que todos a
considerassem feliz.
– Sim. Estava desesperadamente
determinada a finalmente transformar
minha vida em um sucesso.
– E mudou de ideia a esse respeito?
– Concluí que não vale a pena. Fingir
o tempo todo. Viver sem deixar ninguém
se aproximar de mim e saber quem sou
de verdade.
Louise se inclinou para a frente com
um leve e triste sorriso.
– E quem é você de verdade,
Chelsea?
– Sou Aurora Dawn Jensen –
respondeu ela mansamente também.
– Não se trata apenas de um nome.
– Não – concordou Chelsea. – Não se
trata. Embora você saiba por que
escolhi o nome Chelsea, não é? –
Deixou escapar uma risada baixa. –
Porque, quando criança, li um livro
sobre uma garota que tinha seu próprio
cavalo.
Era
mais
um folheto
promocional, e o nome da garota era
Chelsea. – Parou de falar com a garganta
apertada. – Enquanto crescíamos eu
sempre pensava em ser essa garota. –
Fitou Louise, chocada ao ver lágrimas
escorrendo por seu rosto. – Louise...
A irmã sacudiu a cabeça enquanto as
lágrimas rolavam livremente.
– Deveria ter protegido você,
Chelsea. Dos namorados da mamãe.
Deveria ter sido uma irmã melhor...
– Não foi sua culpa.
– Mas via como olhavam para você e
às vezes... como a tocavam. – Deixou
escapar um soluço em meio à torrente de
lágrimas enquanto ocultava o rosto dos
outros fregueses que, felizmente, não
notavam o drama que se desenrolava em
meio ao café e waffles. – Não fiz nada.
– Fez, Lou – replicou Chelsea com
calma. – Lembro como me arrancava da
cama e me fazia dormir com você.
– Mas não sempre.
Chelsea deu de ombros.
– Era apenas 18 meses mais velha que
eu, Louise. Fez o melhor que pôde.
– Não fiz. – Louise enxugou com o
guardanapo os olhos lacrimejantes. –
Não fiz, Chelsea. Porque tinha... ciúmes.
O queixo de Chelsea caiu.
– Ciúmes?
– Sei como parece tolo. Como é
estúpido. Ciúmes de uns homens
bêbedos e nojentos que colocavam as
patas em você? Sei disso. – Deixou
escapar um som entre soluço e risada. –
Mas tinha ciúmes. Não me olhavam duas
vezes. Mamãe não me dava atenção.
Você era sua estrelinha, desfilando nos
concursos de beleza infantis.
– Odiava aqueles concursos.
– Sei disso, e eu também odiava.
Ficava lhe dizendo o tempo todo como
eram bobos, mas a verdade era que
daria tudo para participar de um deles.
Para que nossa mãe me julgasse apta a
participar, e que não me achasse feia,
estúpida e sem importância. – Louise
enterrou o rosto nas mãos, sacudindo os
ombros, e Chelsea saiu do seu canto no
compartimento para se sentar ao lado
dela e abraçá-la enquanto chorava. Que
os outros fregueses fossem para o
inferno!
Isso era mais importante.
– Não foi sua culpa, Louise. De
verdade. Tinha 8 ou 9 anos, e era uma
criança, lembre-se disso.
– Sabia o que estava fazendo.
E Chelsea não dizia a mesma coisa?
Não era orgulhosa? Mas talvez, de certa
forma para ela, ter 19 anos não fosse tão
diferente de ter 9. Talvez ainda fosse
uma criança no íntimo, desesperada para
ser amada, pensando que a única
maneira de alguém amá-la seria dando
tudo que tivesse.
Louise fungou de encontro ao seu
ombro e Chelsea acariciou seus cabelos.
– Sabe? Precisa se perdoar pelas
coisas que não fez assim como pelo que
fez – murmurou, se lembrando de Alex e
sentindo uma dor no coração.
Por quanto tempo ainda ele se
flagelaria por não ter ajudado Sarah?
Falhado com ela? Não devia se
importar, pensou Chelsea, já que estava
tudo acabado entre eles dois, e Alex não
tinha amor suficiente para lhe dar.
Pelo
menos,
refletia,
estava
consciente disso, pelo menos sabia o
que queria e que talvez merecesse mais.
Após um momento Louise se afastou e
a fitou com os olhos vermelhos.
– Por que precisa se perdoar,
Chelsea?
Chelsea sorriu friamente. Sua irmã
não perdia nada.
– Principalmente por ter sido
estúpida, e desesperada, e apenas...
triste.
– Está falando de ir para a cama com
homens para conseguir emprego?
Chelsea acenou que sim.
– Porém, não apenas isso. Quase
posso perdoar isso porque estava
desesperada por trabalho. – Suspirou e
se recostou. – Desesperada por amor
também. Fiquei com esse homem por
três anos, Louise. Três anos sendo
humilhada e usada. – Sentiu a garganta
apertar e piscou diversas vezes, pois as
lembranças eram como facas afiadas e
dolorosas. – Deixei um homem me tratar
como se fosse lixo. Como se não valesse
nada, menos que nada. Não me perdoo
por isso. Não será fácil me perdoar. E
me fez evitar outro relacionamento
mesmo com um homem que... – sua voz
falhou – vale a pena.
Mesmo que ele não quisesse tentar.
NESSA TARDE Michael veio ao camarim
de Chelsea, que se aprontava para
filmar. Cabelos e maquiagem perfeitos,
sua roupa simples e elegante. A
maquiadora dava os retoques finais em
seu rosto.
– Ouvi sobre Treffen. Quer que você
assine aquele papel com as perguntas até
o final do dia.
Aposto que quer, pensou Chelsea.
Mas ela ainda hesitava porque sabia
que, uma vez assinando, todas as
oportunidades estariam canceladas. Sua
carreira na AMI terminaria.
– Chelsea?
– Assinarei e mandarei um fax após o
programa.
– Não quer negociar?
Ela lhe ofereceu um sorriso nervoso.
– Não se negocia com terroristas.
Michael arqueou as sobrancelhas.
– Você não gosta mesmo desse
sujeito, hein?
– Não gosto que me digam o que
fazer.
Obviamente Michael ignorava a
verdade sobre Treffen. E Chelsea não
lhe contaria porque o comprometeria e
ameaçaria sua própria carreira. Ela
seria a única a conquistar os louros da
glória, mesmo que tal perspectiva ainda
provocasse um frêmito de terror pelo
seu corpo.
– Pode se negar a fazer a entrevista –
sugeriu Michael calmamente.
– E perder a oportunidade de
aparecer no horário nobre?
– Haverá outras oportunidades.
Não, não haveria. Não como essa.
Jamais teria outra chance de confrontar
um homem como Treffen. Como Brian
Taylor. Virou-se para sorrir para
Michael.
– Farei a entrevista, Michael, e
assinarei o papel. Não se preocupe
comigo.
– Cinco minutos para entrar no ar.
Chelsea acenou para o assistente de
produção e fitou Michael.
– Estou tentando mudar – murmurou. –
Pode não parecer, mas estou.
Aproximou-se e o beijou na face,
enquanto Michael apertava sua mão. E
então Chelsea se encaminhou para o set
de filmagem.
Sua convidada do dia era uma
jornalista feminista que infelizmente
tirara fotos de nudez sensual, e que
recentemente
descobrira
estarem
circulando pela internet e jornais.
No momento se sentava em frente à
Chelsea, o rosto calmo, mas o olhar
sóbrio, cheio de desespero. E disso
Chelsea entendia muito bem.
E pela primeira vez desde que
iniciara o Bate-Papo com Chelsea
sentiu não apenas empatia pela
convidada do seu programa, mas
admiração. Ambas haviam errado e
estavam dispostas a admitir. Ambas
queriam prosseguir e tinham a coragem
de tentar.
Será que ela, Chelsea, tinha? E Alex?
– Dois minutos, Chelsea.
Ela aquiesceu com um gesto de
cabeça, respirou fundo e sorriu com
sinceridade para a convidada.
O programa seguiu bem. Houve
lágrimas, confissões de coração aberto,
e ao final Chelsea fez algo que não
costumava fazer. Levantou do sofá, se
encaminhou para a convidada e a
abraçou. A jornalista correspondeu com
surpresa e gratidão.
– Foi fantástico – exclamou Miles, o
produtor, quando Chelsea saiu do set de
filmagem. – O abraço... que toque
perfeito, Chelsea! Com pensou nisso?
Ela o fitou friamente, consciente de
que em outra vida... há apenas algumas
semanas atrás... esse abraço nada mais
seria do que uma manipulação. Mas hoje
fora real.
– Não foi o planejado, Miles –
respondeu. – Apenas aconteceu.
Uma semana se passou, e então
Chelsea se encontrou com Zoe Brook, e
ouviu sua história triste e sórdida.
Conversou com Katy Michaels, irmã de
Sarah, e elas redigiram perguntas para a
entrevista e discutiram táticas.
Chelsea tentou se concentrar no que
importava no momento. Curar a si
mesma. Preparar-se para a entrevista
com Treffen. Tentar não pensar em Alex.
Mas continuava pensando nele. O
tempo todo pensava nele. Noite insone
após outra ficava deitada na cama
recordando a sensação do corpo dele
contra o seu, seu gosto, cheiro e visão.
Pensou em procurá-lo, em lhe dar uma
segunda chance, mesmo que Alex não a
tivesse pedido, mas não fez isso. Não
podia. Estava ainda muito fragilizada e
medrosa. E Alex não lhe enviara nem
uma mensagem desde que a deixara
partir.
Entretanto, ela não poderia evitá-lo
para sempre, e três dias antes da
entrevista com Treffen ela apareceu nos
escritórios da Diaz Network.
A assistente de Alex, uma jovem
delgada com cabelos muito louros e
grandes
olhos
verdes,
piscou
nervosamente ao vê-la.
– Srta. Maxwell? Alex está fora em
uma reunião, mas me pediu que avisasse
imediatamente se a senhorita aparecesse
por aqui.
Chelsea ficou surpresa e levemente
esperançosa.
– Verdade? – murmurou.
– Importa-se em esperar alguns
minutos?
– Claro que não.
Chelsea se acomodou na elegante sala
de entrada e repassou mentalmente tudo
que precisava dizer a Alex... sobre
Treffen. Não iria entrar no campo
emocional, não nesse dia. Não quando
tanta coisa estava em jogo. E dez
minutos depois ele irrompeu pela porta
sem fôlego e despenteado.
– Chelsea... – Quantos sentimentos
nessa única palavra, mas ela não sabia
dizer que sentimentos eram. Sorriu
calorosamente.
– Olá, Alex.
– Vamos para o meu escritório.
Ela o seguiu até o enorme escritório
na cobertura, as janelas do chão ao teto
descortinando Manhattan em toda a sua
gloriosa luminosidade.
Chelsea fechou a porta ao entrar e
Alex a fitou de cima a baixo. Ela
enfrentou o olhar, o coração aos pulos
apenas por fitá-lo. Por desejá-lo.
– Senti saudades – murmurou ele, e a
perigosa esperança aumentou dentro de
Chelsea deixando sua alma dolorida.
Esperança.
Tão
perigosa.
Tão
maravilhosa.
– Também senti – conseguiu dizer, e
Alex cravou os olhos escuros e
sombrios nela.
– Sério?
Chelsea aquiesceu com um gesto de
cabeça e engoliu em seco. Não podiam
entrar nesse assunto, não agora.
– Vim aqui falar sobre Treffen.
Ele fez um aceno e seus olhos se
encheram de tristeza.
– Certo. Então me fale sobre Treffen.
– Conversei com Zoe Brook. E Katy.
– Ótimo.
– Zoe vai ao programa.
Alex acenou de novo.
– Treffen não vai gostar.
– Não saberá – retrucou Chelsea.
– Vai ficar furioso.
– Bem, é esse o objetivo. Se não
conseguir fazê-lo perder completamente
as estribeiras, não terei sucesso.
Um rápido sorriso iluminou o rosto de
Alex, porém logo desapareceu.
– Tem certeza de que quer fazer isso?
– perguntou, e Chelsea o encarou por um
momento, tentando entender o que se
passava por trás dos misteriosos olhos
dourados.
– Não quer que eu faça? Não quer ver
Treffen humilhado e fazê-lo pagar?
– Sim, quero. – Ele fez uma pausa,
afastando os olhos dela para fitar a vista
da janela por um instante, porém
Chelsea sabia que sua mente estava em
outras coisas. Outras lembranças. – Mas
não quero ficar cego pelo desejo de
vingança. Já fui cego antes por ambição.
E não há muita diferença, na verdade.
Cegueira é cegueira, seja lá qual for a
causa.
– Mas, o que Treffen fez...
– Foi expulso de sua firma de
advocacia, afastado da família, será
processado mesmo que não seja
desmascarado ao vivo na televisão.
– Sei disso. Mas ele é advogado,
Alex, e milionário. Poderá encobrir tudo
como faz sempre, e quero que o mundo
saiba o que ele fez. – Chelsea respirou
fundo e deixou o ar escapar dos pulmões
lentamente. – Faço isso tanto por mim
como por você e qualquer outra pessoa,
Alex. Porque sei o que é viver com
medo. Terror. E vergonha. – Engoliu em
seco. – Muita vergonha.
– Chelsea...
– Você me ajudou a seguir em frente,
Alex, mesmo que não tenha percebido.
Conhecer você, estar ao seu lado... –
Amá-lo... sufocou esse final. – Fez com
que me abrisse de novo, fez com que
entendesse que é bom desejar mais. Ser
feliz.
Ele nada disse por um longo
momento, e Chelsea podia ver o
movimento de sua garganta, o tormento
em seus olhos que não compreendia.
Sentiria remorso de suas ações ou de
não ter agido? Ou estaria apenas
constrangido diante do arroubo de
honestidade que ela acabava de ter?
– Fico contente – disse Alex por fim,
e ela aquiesceu com um gesto de cabeça.
Nenhum dos dois falou por alguns
momentos, e Chelsea ansiava que ele
dissesse algo significativo. Raios, talvez
ele devesse fazer isso. Estou com
saudades não era exatamente toda a
verdade. Amo você era aterrorizante.
– Sabe que se confrontar Treffen ao
vivo na televisão – disse Alex de
supetão – ele se sentirá acuado. Preso
em uma armadilha. Poderá prejudicá-la.
– Alguém já fez isso comigo antes –
respondeu Chelsea. – Dessa vez saberei
lidar com a situação.
Ele esboçou um leve sorriso, porém
seus olhos continuavam tristes.
– Não quero que seja magoada.
Mas já estou.
– Já lhe disse que quero ir até o fim
com isso. Não quero mais que homens
como Treffen escapem impunes. Muitos
escapam.
– Brian Taylor escapou – disse Alex
suavemente, e Chelsea lhe sorriu com
tristeza.
– Recebeu uma pena de 18 meses por
lesão corporal.
– E agora tem seu próprio programa
na TV a cabo.
– Muito barato – replicou Chelsea,
sempre com um leve sorriso. – Não
passa de um programa local. Patético.
Alex sorriu também, olhos e dentes
brilhando no lusco-fusco.
– Se alguém pode derrubar Treffen é
você, Chelsea. Seja o que for que pense
ao meu respeito, saiba que acredito em
você.
Ela inclinou a cabeça concordando, e
sentiu que seu coração se partia de
novo. Amava esse homem. Mas não era
o suficiente.
Ele precisava amá-la também do
mesmo jeito, intensamente, e Chelsea
sabia que não amava.
ALEX FITOU Chelsea e o sofrimento que
viu em seus olhos passou para sua alma.
Não era o suficiente. Acredito em você
não era amo você. Não derrubava as
barreiras que ele erigira em volta do
coração nem abria as comportas para
sua alma.
Tentara na outra noite, mas sabia que
continuava se fechando. Precisava pular
naquela maldita piscina, não ficar na
borda, e mergulhar. Mas, como em
Walkerton, tinha medo, sabia o que
acontecia quando se contava segredos
para os outros: as pessoas o
abandonavam.
E mesmo que Chelsea não tivesse
feito isso... por enquanto... ele ainda não
conseguia se lançar na água. E sabia que
era isso que Chelsea queria. A verdade
completa. Compromisso total. Amor
incondicional.
A coisa verdadeira.
Alex não sabia se era capaz disso ou
mesmo se merecia essas coisas, depois
de Sarah. Quantas vezes era preciso
falhar com alguém até decidir não mais
tentar? Não arriscar o coração de outra
pessoa sem se importar com o seu?
Porque falava a sério. Não queria ver
Chelsea magoada, mas mesmo assim
sabia que já a magoara.
– Fico contente a faça a entrevista –
disse. Se não podia lhe dar tudo, pelo
menos isso. – Para o seu bem. Esqueça a
vingança e os níveis de audiência. Fico
feliz que faça isso porque Treffen fez
com dúzias de mulheres o que Taylor fez
com você.
Chelsea deixou escapar o ar dos
pulmões, e Alex viu a negativa em seus
olhos. Impulsivamente segurou sua mão;
estava fria como gelo.
– Sei que não quer acreditar. Não
pode. Ainda se agarra à ideia de que foi
tudo sua escolha. Talvez isso a deixe
mais forte de certa maneira, mais no
controle. E talvez tenha sido sua escolha
se entregar a Brian naquela entrevista.
Mas, três anos, Chelsea? Com a infância
que teve e o sofrimento? Foi abuso puro
e simples. Não foi sua culpa ou sua
estupidez, ou seja lá o que a convenceu
disso. – Sorriu com tristeza. – Gostaria
de ter lhe dito tudo isso antes.
– Não teria acreditado, Alex.
– E agora?
– Não... não sei.
Alex apertou sua mão.
– Eu sei.
Ela apertou a sua também e ofereceu
um sorriso trêmulo.
– Você continua a me fazer chorar.
– Quero fazê-la sorrir. Rir. Eu...
quero que seja feliz, Chelsea. – Diga de
uma vez, maldição. Diga apenas que a
ama. Conte tudo que sufoca. De como
tem medo de tudo isso. De qualquer
modo, ela provavelmente sabe. – Estou
tão orgulhoso de você, Chelsea.
Covarde.
Ela o brindou com o sorriso
confiante, luminoso, de Chelsea
Maxwell, porém dessa vez havia calor e
humor nele. Uma mulher real, viva,
maravilhosa, não apenas um personagem
perfeito e envernizado.
– Espere até me ver dar um chute no
traseiro de Treffen.
A SESSÃO com Treffen estava sendo
divulgada na rede. Seria filmada em um
set fechado com segurança máxima,
conforme o entrevistado solicitara. Nada
de sofá cor-de-rosa, apenas duas
poltronas e uma mesinha de centro,
algumas gravuras de bom gosto e
estantes com livros encadernados em
couro servindo de cenário, para que
lembrasse a biblioteca de uma mansão
de classe.
Chelsea se sentava em seu camarim
enquanto a maquiadora retocava seu
rosto. Os cabelinhos na nuca se
eriçavam e seus nervos estavam à flor
da pele.
– Está um pouco pálida hoje –
comentou Sonya, a maquiadora,
aplicando mais blush nas faces de
Chelsea. – Sente-se bem?
– Estou ótima. – Dez minutos atrás
Chelsea deixara sua carta de demissão,
admitindo culpa total, sobre a
escrivaninha de Michael. Sabia que ele
não veria a carta até o final da
entrevista.
Também se encontrara brevemente
com Treffen, antes que ele fosse
conduzido para a preparação com os
maquiadores. Ele apertara sua mão e a
fitara com seus olhos frios e sagazes, e
Chelsea precisara de muita força para
corresponder ao aperto de mão com
firmeza profissional e amigável, dar um
breve sorriso como se tudo caminhasse
conforme o plano... dele.
Creio que será um programa muito
bom, ele comentara, e Chelsea notara
sua arrogância nessa frase. Treffen se
julgava intocável. Chelsea percebera um
pouco antes que a única razão provável
para ele ter concordado com a entrevista
era porque precisava reparar alguns
danos. Polir sua reputação impoluta.
Sem chance.
É claro, ela respondera, sorrindo de
modo provocante, que sabia ser do gosto
dele. Creio que será fabuloso.
– Dez minutos para entrar no ar,
Chelsea.
Ela aquiesceu com um gesto de
cabeça, suas entranhas se contorcendo
com adrenalina e ansiedade. Nada de
ataques de pânico agora. Não podia
estragar isso. Zoe Brook estava vestida
e maquiada, pronta para agir. Dera certo
trabalho trazer Zoe e Katy Michaels ao
set sem chamar a atenção de ninguém.
Chelsea as fizera entrar como suas
amigas, e junto a Katy ajudara Zoe com
os cabelos e maquiagem. Agora Zoe e
Katy estavam escondidas em um
camarim vazio, evitando Treffen.
Chelsea rezava para tudo dar certo,
que Zoe conseguisse entrar no set
quando fosse chamada. Se a segurança
impedisse, se Miles, o produtor, ou
mesmo Michael percebessem o que
estava acontecendo e desligassem os
fios...
Bem, Chelsea precisava simplesmente
ir em frente. Apenas esperava que desse
tempo.
– Acho que está pronta – anunciou
Sonya, e Chelsea agradeceu com um
rápido sorriso.
– Obrigada por tudo – disse.
Sonya ficou um pouco espantada, e
Chelsea não disse mais nada. Após dez
anos esse era seu último dia na AMI,
porém não podia alertar ninguém. Não
podia deixar ninguém com suspeitas.
Respirando fundo, caminhou para o
set de filmagem e assumiu seu lugar em
uma das poltronas.
Técnicos de som e eletricistas ainda
corriam de um lado para o outro,
checando e gritando instruções. Treffen
ainda não aparecera, e faltavam cinco
minutos para entrar no ar.
Ela sentiria falta de tudo isso, refletiu,
olhando em volta. Falta do burburinho
da televisão ao vivo e da animação em
orquestrar entrevistas. Sentiria falta do
entrosamento com os convidados,
porque algumas vezes eles haviam sido
seres humanos muito importantes na vida
dela.
Contudo, isso mudaria, porque ela
estava mudando... ou tentando mudar.
Talvez não ficasse com Alex, mas
encontraria a felicidade com outro
homem algum dia.
Por que esse pensamento doía tanto?
Nesse momento Treffen surgiu no
palco, bem penteado e charmoso como
sempre. Chelsea se ergueu para apertar
sua mão e ele sorriu com seu encanto
displicente, mas seus olhos continuavam
frios e astutos. Os olhos de uma cobra.
Chelsea não acreditava que nunca
houvesse percebido antes, até que Alex
lhe contara.
Alex a fizera ver tanta coisa, tanta dor
e beleza, alegria e amor.
– Dois minutos.
Chelsea voltou a se sentar e relanceou
os olhos pelos cartões com as perguntas
escolhidas por Treffen. Fale-me de seu
trabalho humanitário.
Pois sim!
– Um minuto.
Treffen ficou absolutamente imóvel
enquanto um dos técnicos de som mexia
em seu microfone, fazendo um último
teste antes de entrarem no ar. O coração
de Chelsea batia tão forte que ela mal
ouvia a própria voz. Também sentia dor
no peito.
Então, na contagem regressiva dos
segundos, e com a luz que se acendia
para o iminente início do programa,
Chelsea se sentiu muito calma e fria
para executar seu propósito. Sentia os
olhos de todos os assistentes e técnicos,
os olhos de Treffen também, e soube que
havia três homens de pé na coxia
desejando ardentemente que a entrevista
desse certo. Alex, Austin e Hunter
queriam estar presentes quando Treffen
desabasse.
Caso
desabasse.
Se
Chelsea
conseguisse essa façanha.
Ela ajustou o microfone, olhou além
do cenário e viu Alex de pé nas
sombras. O pânico a invadiu porque se
Treffen o visse...
Mas então Alex lhe sorriu e havia
tanta confiança e verdade em seus olhos
que Chelsea quase engasgou. Revelaria
que o amava, decidiu de repente, diria
as palavras mesmo que ele não pudesse
retribuir. Era importante, pelo menos
para ela, que Alex soubesse.
Sorriu levemente de volta, e então a
música de introdução começou e a luz
do aviso ficou verde.
Chelsea Maxwell e Jason Treffen
estavam no ar.
CAPÍTULO 15
ALEX ENFIOUas unhas nas palmas das
mãos à medida que a música da
introdução acabava e Chelsea começava
a entrevista. Ele se encontrara com
Hunter e Austin à entrada do prédio, e
vira a expressão tensa de seus rostos
assim como os cumprimentos.
Tudo dependia da próxima hora.
Poderia ter dito à Chelsea que não
tinha importância, que não se importava
com sua vingança, e pelo bem dela
tentaria soar com sinceridade, mas,
diabos, estava louco para ver Treffen
ser consumido em uma grande bola de
fogo, e queria que fosse Chelsea a
acender o fósforo.
– Acha que ela consegue, Alex? –
perguntara Austin em voz baixa,
enquanto se encaminhavam para o
estúdio de gravação. Mexendo seus
pauzinhos, Alex conseguira passes VIP.
– Sei que ela consegue.
– Chelsea não vai esmorecer?
– Não. – E Alex acreditava nisso.
Acreditava plenamente em Chelsea, com
todo o seu coração e sua alma. Pena que
ele próprio fosse um covarde para
declarar seu amor. Dizer que queria a
coisa verdadeira também, mesmo
morrendo de medo.
No momento se focalizou na
entrevista à sua frente.
– Jason, estou encantada pela
oportunidade de entrevistá-lo esta noite
– começou Chelsea. Sua voz soou quente
e atraente como calda de chocolate, seu
sorriso era cativante, e sua postura,
tranquila. Alex sabia como devia estar
tensa, e seu coração se encheu de
orgulho.
– É um prazer estar aqui, Chelsea.
– Duvido existir uma só pessoa nos
Estados Unidos que desconheça o
trabalho que você realiza e as causas
que ajuda. Defende os oprimidos há
mais de duas décadas.
Jason se aprumou na poltrona, e nas
sombras Alex sentiu que Austin
enrijecia, e Hunter cerrava os punhos.
– É o trabalho de minha vida,
Chelsea.
– Falemos um pouco sobre os motivos
que o levaram a isso – disse Chelsea, e
Alex viu o olhar penetrante de Hunter.
Até o momento Chelsea seguia as ordens
de Treffen, porém Alex sabia que era
sua estratégia. Deixava os convidados à
vontade e lhes dava um senso de
segurança e aconchego para que se
abrissem mais.
E Jason dançaria conforme a música
de Chelsea, querendo ou não.
– Quando comecei a exercer a
advocacia
–
começou
Treffen,
obviamente disposto a falar sobre si
mesmo um pouco –, as mulheres não
tinham tantas oportunidades como hoje
em dia. Não existiam sócias na minha
firma, e poucas moças eram advogadas.
As coisas simplesmente eram assim. –
Fez uma cara de tristeza que Alex achou
ridícula, mas que as pessoas
costumavam apreciar.
Chelsea aquiesceu com um gesto lento
de cabeça, parecendo também acreditar.
– E como você mudou essa situação,
Jason?
– Comecei a recrutar moças
promissoras para trabalhar na minha
firma. Queria lhes dar as oportunidades
que
mereciam e
que
haviam
conquistado.
Ao lado de Alex, Austin parecia
prestes a explodir. E Alex também
sentiu a própria raiva crescer no íntimo.
O engodo arrogante que Jason praticava
há tanto tempo era diabólico.
–
Se
elas
mereciam essas
oportunidades – comentou Chelsea,
franzindo a testa levemente – e eram
qualificadas para serem advogadas, não
vejo onde você foi tão magnânimo.
Afinal, apenas demonstrou não ser
preconceituoso. – Sorriu com doçura
enquanto Jason estreitava os olhos. A
observação astuta de Chelsea sem
dúvida não fazia parte do roteiro. – Sei
que fez muito mais, Jason. Não precisa
ser modesto agora. – Sorriu para as
câmeras,
convidando
todos
os
telespectadores a participar de sua
curiosidade. – O mundo quer ouvir ao
seu respeito.
Jason relaxou um pouco.
– Bem, creio que tem razão, Chelsea,
embora não veja as coisas desse modo.
Dar as oportunidades devidas a essas
moças... embora ninguém mais tivesse
pensado nisso... pode não representar
um grande esforço humanitário – sorriu
com presunção –, mas também criei
fundos de escolaridade para meninas de
regiões pobres...
– Creio – interrompeu Chelsea com
meiguice – que queira dizer “jovens
mulheres”.
O ar ficou tenso.
– É assim que se refere a uma garota
de 17 anos? – brincou Jason, mas Alex
sabia que ele estava furioso. –
Desculpe, sou um velhote que não está
muito acostumado com as terminologias
mais modernas.
– Compreensível – murmurou
Chelsea. – Porém, trata-se mais de como
se vê uma pessoa, não? – Jason a
encarou, desconcertado, e Chelsea se
inclinou para a frente como se o
convidasse a fazer confidências. – Por
que não falamos sobre Sarah Michaels?
Jason ficou paralisado apenas um
segundo. Alex precisou admirar o
sangue frio do homem. Se o câmera não
tivesse focalizado nele nesse instante,
ninguém teria notado a breve pausa, o
rápido piscar de olhos.
– Sarah Michaels – repetiu Treffen
em tom neutro.
– Sem dúvida se lembra da jovem que
trabalhou para você há dez anos? – A
voz de Chelsea soou suave e cheia de
dor. – Ela se matou se atirando do teto
de seu edifício.
Um sussurro percorreu as coxias
como um vento forte. Alex imaginou
esse vento percorrendo o mundo todo
com milhões de pessoas grudadas em
seus aparelhos de televisão, e soube
como estivera errado ao tentar suprimir
a participação de Sarah na entrevista, e
escondê-la
porque
estava
se
escondendo. Sarah merecia essa
vingança.
Jason ficara imóvel, ainda tentando
parecer relaxado, e com expressão
misteriosa.
– Claro que me lembro de Sarah. –
Balançou a cabeça. – Que tragédia.
– Sim – concordou Chelsea. Balançou
a cabeça também, olhando para o chão,
parecendo perdida em sua dor por um
instante, antes de erguer o rosto e atingir
Treffen com um olhar gelado e duro. – E
uma tragédia que poderia muito bem ter
sido evitada.
Jason lhe endereçou um sorriso tenso.
– Creio que um suicídio sempre pode
ser evitado.
Chelsea inclinou a cabeça.
– Não é um ponto de vista com muita
compaixão, mas sei o que quer dizer.
– Senti muito por Sarah – disse Jason,
percebendo como seu comentário soara
frio. – E por sua família. Na verdade,
ela era grande amiga de meu filho.
Todos nós sentimos muito. – Encarou
Chelsea com firmeza enquanto falava, e
até Alex, ao fundo, pôde perceber o
aviso nos olhos de Treffen.
Não cruze os limites, dizia seu olhar
para Chelsea. Não avance ou eu a
derrubarei.
– E qual foi a razão para seu
suicídio?
Treffen não piscou e continuou a
encarar Chelsea.
– Obviamente era uma jovem com
problemas. Estava namorando Hunter
Grant, o ex-jogador de futebol, não
estava? – Arqueou as sobrancelhas,
convidando Chelsea e todos a presta
atenção nas implicações do que dissera.
– Não creio que fosse um
relacionamento feliz.
Hunter deu um passo à frente, e Austin
o segurou pelo braço.
Um gemido partiu da garganta de
Hunter.
– Bastardo.
– Calma – pediu Austin.
– Nada sei sobre os problemas dela
com Hunter – disse Chelsea com ar
pensativo. – Mas conversei com Katy
Michaels, a irmã de Sarah, e ela pareceu
pensar que você esteve envolvido com o
suicídio de Sarah, Jason.
Às suas costas Alex podia ouvir os
assistentes de produção sussurrando,
apavorados.
– Que diabos...
– Vamos cortar para os comerciais?
Alex ficou tenso, e então viu alguém
influente erguer a mão em um sinal de
aviso.
Esperem.
Iriam ver o que Chelsea faria com
essa novidade. Afinal, era televisão de
qualidade. Bom para os índices de
audiência.
– Realmente não sei do que você está
falando, Chelsea – disse Jason. Sua voz
soou no tom certo, entre perplexa e
triste. – Como já disse, senti muito por
Sarah. E o suicídio é sempre muito
penoso para quem fica. Imagino que
Katy sinta a necessidade de culpar
alguém, e percebo por que sou o alvo
perfeito.
– Por que você seria o alvo perfeito,
Jason? – perguntou Chelsea em um tom
meigo e simpático.
– Minha firma de advocacia exigia
muito dos jovens advogados. Longas
horas de trabalho, ética rígida, casos
complicados. Talvez Sarah tenha
desabado sob a pressão. – Abriu as
mãos em um gesto de sofrimento. –
Acontece.
– Sim, acontece – concordou Chelsea
–, mas não foi isso que Katy me contou.
Jason estreitou os olhos ligeiramente.
– Ela também é uma jovem
problemática, Chelsea. Não prestaria
atenção ao que diz. – Sua voz era
agradável, mas as palavras sem dúvida
eram um aviso.
– É difícil não levar a sério uma
afirmação como a de Katy – insistiu
Chelsea. – Quer saber do que ela o
acusa?
Falou com uma voz tão agradável
quanto a de Treffen, e suas palavras
também eram um desafio.
Jason suportou seu olhar por um
momento, e Alex soube que se debatia
entre se desviar da pergunta ou
enfrentar. Qual seria a melhor tática?
Por fim deixou escapar uma risada
mansa.
– Não sei se quero. Seja o que for não
tem fundamento e deve ser muito
desagradável.
Sem dúvida Chelsea conseguira fazêlo enfrentar, pensou Alex, e seu coração
voltou a se encher de orgulho por ela.
– É desagradável, Jason. Mas gostaria
de ouvir de você por que é sem
fundamento, e, obviamente, você não
pode responder a nenhuma alegação se
não sabe do que se trata. – Chelsea
manteve o olhar no entrevistado, e Alex
viu que agora Jason estava petrificado e
com o queixo duro. Por fim disse:
– Como deve saber, Chelsea, as
pessoas famosas sempre são molestadas
por rumores maliciosos. Pessoas como
eu... ou você.
Alex percebeu a ameaça velada na
voz de Jason, e sabia que Chelsea
percebera também. Diabos, o que o
bastardo sabia sobre ela?
– Oh, acredite, sei disso, Jason –
garantiu Chelsea –, e por isso gostaria
de esclarecer essa história hoje.
– Não creio que haja algo a
esclarecer. No meu caso, Chelsea, o
rumor é malicioso e certamente falso,
mas não é a mesma coisa no seu caso,
não? – Ele sorriu como um predador
próximo da vitória, e Alex enregelou.
– Presumo – retrucou Chelsea sem se
abalar – que está se referindo aos
abusos que sofri de Brian Taylor quando
trabalhei na Alabama Broadcasting
Communications há dez anos.
Jason abriu a boca, mas nenhum som
saiu. Surpreendentemente, parecia não
saber o que fazer.
– Sim – disse afinal –, embora não sei
se considero um abuso ir para a cama
com alguém a fim de obter trabalho.
Chelsea se inclinou para a frente com
os olhos brilhando.
– Deixe-me lhe dizer o que considero
abuso – disse com voz calma, fria, e
muito segura. – Atrair... quais foram as
suas palavras? Oferecer trabalho na sua
firma para jovens mulheres e depois
fazer chantagem, levando-as para a
prostituição. Dirige uma rede de
prostituição para clientes de alto nível
há quase vinte anos, Jason, segundo seus
próprios funcionários.
A reação chocada nas coxias se
traduziu em discussões sussurradas e
frenéticas sobre se deviam ou não
desligar as câmeras. Jason apenas fitou
Chelsea com expressão neutra.
– Isso é nojento e totalmente falso.
– Então nunca encorajou as moças que
empregava a dormirem com os clientes?
– perguntou Chelsea. Agora não havia
nada de doce ou meigo em sua voz, que
era dura e segura. – E não chantageou
esse mesmos clientes por terem dormido
com elas? Não coagiu mulheres a
fazerem esses atos sórdidos porque
pagava integralmente seus estudos e seus
estágios?
– Não. – Jason pareceu vomitar essa
única palavra.
– Não pode explicar esta fotografia?
– perguntou Chelsea, retirando a foto de
Sarah de uma pasta sob sua poltrona.
Jason se imobilizou, e seu queixo
ficou ainda mais rijo.
– Não.
– Pode explicar por que Zoe Brook,
uma famosa especialista em Relações
Públicas, está prestes a se apresentar
aqui com sua história?
– Zoe Brook? Creio que tem motivos
egoístas para fazer isso. – Jason
balançou a cabeça com pena. –
Acontece.
– Ela trabalhou para você durante
vários anos, Jason – lembrou Chelsea
friamente. – E você a obrigou a se
prostituir com seus clientes.
Jason se inclinou para a frente com os
olhos fuzilando.
– Chelsea, sei que gosta que seus
convidados no talk show solucem e
derramem segredos, mas isto já é
demais. Sou um profissional respeitável
e não posso suportar este tipo de
acusação, em especial quando não existe
nenhuma base exceto duas mulheres
malucas... – Parou de supetão, e Chelsea
sorriu.
– Uma dessas malucas está aqui no
estúdio, Jason. Zoe Brook está aqui e
quer falar com você.
Jason se recostou na poltrona e seu
rosto parecia feito de pedra.
– Esta é uma tentativa ridícula de me
desmoralizar.
– Por que alguém desejaria
desmoralizá-lo, Jason? – perguntou
Chelsea, sua voz ao mesmo tempo fria e
doce. – Todos o amam. É o defensor dos
direitos das mulheres, embora deva
admitir que não pareça isso agora. Não
queria acreditar nessas cosias que
diziam ao seu respeito, e confesso que
precisei ser convencida. Tive que ver
fotos e falar com Katy Michaels e Zoe
Brook. Agora quero que o mundo ouça
isso de Zoe. E que você ouça também,
Jason.
Zoe Brook surgiu a um canto do set,
pálida e ao mesmo tempo determinada.
– Olá, Jason.
Ele a fitou com frieza.
– Está furiosa porque a demiti da
firma, Zoe. Trabalhava mal e isso sem
dúvida faz parte de sua vingança. Como
disse
antes,
acredito
em dar
oportunidades às mulheres, mas devem
merecer. Devem estar qualificadas.
– A única coisa que importava a você
com referência às suas funcionárias era
que fossem qualificadas – replicou Zoe
– para servirem a seus clientes, porém
não permanecerei mais em silêncio,
Jason. Não serei sua vítima.
De novo, ao fundo, Alex ouviu um
murmúrio furioso como se houvesse um
ninho de vespas entre os assistentes de
produção. As câmeras continuaram
ligadas.
– Isto é ultrajante – declarou Jason. –
Recuso-me a ouvir mais destas
acusações. – Levantou-se, pronto a
deixar o set de filmagem. – Posso
garantir
–
terminou
friamente,
escrutinando Chelsea com o olhar – que
meus advogados irão procurá-la.
Alex sabia que provavelmente
faltavam apenas alguns minutos ou
segundos para que o programa fosse
cortado e saísse do ar. A rede não iria
querer um processo judicial.
Chelsea também se levantou, e
enfrentou Treffen.
– Não pode continuar blefando, Jason
– disse, com os olhos e a voz severos. –
Orquestra isso há vinte anos, porém a
farsa chega ao fim, e sabe disso. Sua
carreira está arruinada. Sua família
conhece a verdade ao seu respeito. E
agora o mundo todo sabe também.
Acabou, sabe que acabou, mesmo que
finja. Você sabe.
Jason a encarou por vários segundos,
as feições de pedra amolecendo e
adquirindo um ar de sombrio desespero.
– Sua vaca estúpida – disse devagar.
– Não imagina o que está fazendo. Que
buraco enorme abriu com esta história.
Não se trata apenas... – Parou de
supetão com o rosto contorcido em um
sorriso sarcástico. – Não aprendeu nada
desde que abriu as pernas para aquele
produtor de meia-tigela no Alabama,
aprendeu? – Então ergueu a mão e a
esbofeteou no rosto.
A cabeça de Chelsea girou para um
lado com violência e Alex se adiantou,
segurado por Hunter.
– Maldição, me deixe...
– Não pode dar um soco em Treffen
ao vivo na televisão – disse Hunter com
calma. – Acredite em mim, sei como
essas
coisas
funcionam.
Isso
transformaria Treffen em vítima.
A fúria ainda o dominava, mas Alex
recuou.
Podia ver a marca da mão de Treffen
no rosto de Chelsea, mas ela sorria
triunfante. As câmeras haviam parado de
rodar, e dois seguranças agora cercavam
Treffen, que estava pálido e abalado.
Chelsea conseguira. Fizera Treffen
desabar.
E conseguira derrubá-lo também,
pensou Alex. De todas as maneiras
possíveis, sacudindo todas as suas
crenças e sua armadura, e precisava
dizer isso a ela.
Caminhou para Chelsea, e ela se
voltou para ele sempre sorrindo.
– Consegui...
– Eu a amo. – Foi extremamente fácil
confessar, sentir. – Amo você – repetiu,
pois ela parecia extremamente chocada,
e Alex queria continuar dizendo. – Por
isto – acrescentou, abarcando o set em
um gesto –, mas por tudo, por você,
Chelsea. Amo-a pelo que é.
O sorriso dela se alargou ainda mais,
simples e displicente.
– Pode dizer mais uma vez?
– Amo você. Amo você. – Tomou-a
nos braços e enterrou o rosto em seus
cabelos. – Amo-a e não acredito que
tive tanto medo de confessar, admitir,
por tanto tempo.
– Tudo bem – replicou ela,
enlaçando-o com os braços. – Porque
agora você disse. E agora acredito.
Os seguranças tiravam Treffen do set,
e Hunter, Austin, Zoe e Katy estavam
radiantes, mas também determinados a
garantir que Treffen não fosse liberado
após algumas perguntas ou um simples
aviso.
Com relutância Alex soltou Chelsea.
Sabia que haveria tempo mais tarde para
revelar tudo que seu coração sentia. E
tempo também, assim esperava, para
ouvir as três palavrinhas mágicas da
boca de Chelsea.
CHELSEA SABIA que fora graças a
Michael que também não fora escoltada
para fora do prédio pelos seguranças.
Jason Treffen poderia ser preso, poderia
pagar por seus crimes, mas ela também
pagaria pelos seus. Não voltaria a
trabalhar
para
a
AMI
e,
surpreendentemente,
não
estava
preocupada com isso.
Hunter e Austin haviam saído com
Zoe e Katy para celebrar, mas também
para recapitular os acontecimentos da
noite, processar tudo e decidir quais
seriam os próximos passos. Chelsea
pedira a Alex que os acompanhasse;
precisava terminar seu trabalho,
literalmente, na AMI.
Mas agora desejava ter pedido que
ele ficasse enquanto ia retirar seus
objetos pessoais de sua sala. Agora o
prédio estava quieto após o caos da
entrevista.
Provavelmente
nesse
momento Michael estava se reunindo
com os advogados da AMI, e tentando
controlar os danos. Ela falaria com ele
mais tarde e tentaria explicar. Michael a
entenderia.
Deixou a AMI e dez anos de sua vida
sem nenhum arrependimento. Um pouco
de amargura, sim, e muitas lembranças.
Mas, pela primeira vez na sua vida,
sem arrependimentos.
Alex lhe enviara uma mensagem
dizendo que todos estavam em uma sala
particular no Plaza Hotel com meio
garrafão de champanhe nas mãos.
Por favor, reúna-se a nós , escrevera.
Reúna-se a mim.
Chelsea se viu na soleira da porta da
sala que haviam lhe indicado, e viu Zoe
abraçada a Hunter, e Katy e Austin de
mãos dadas.
E Alex. Estava sentado sozinho com
uma taça de champanhe balançando
entre os dedos e um olhar pensativo
enquanto ouvia os amigos conversando
animadamente. Então girou a cabeça
devagar e encontrou o olhar de Chelsea,
que pegou fogo com o seu.
O coração de Chelsea estava repleto
de alegria. Ela se movia em uma sala
cheia de gente e não sentia ansiedade ou
medo.
Sentia-se segura.
Eu amo você, pensou em silêncio
enquanto Alex mantinha seu olhar, sorria
e estendia os braços.
Ela se atirou naqueles braços, que se
fecharam à sua volta, e sentiu que, por
fim, alcançara um lugar seguro, o único
lugar.
– Amo você – pronunciou, dessa vez
em voz alta, mas abafada de encontro ao
ombro de Alex, que a apertou com mais
força.
EU AM O você. Palavras tão doces e
simples e ao mesmo tempo tão
poderosas, refletiu Alex enquanto
abraçava Chelsea. Quanta alegria. Desse
momento em diante jamais se cansaria
de repeti-las. E diria com sinceridade e
sentimento.
Hunter, com o braço passado pelos de
ombros de Zoe, os viu, e sua expressão
se tornou divertida.
– Vocês dois, venham se reunir à festa
– chamou. – A menos que desejem um
quarto?
– Talvez mais tarde – respondeu
Alex, passando o braço pela cintura de
Chelsea e arrastando-a para perto dos
amigos.
Todos falavam sobre Treffen e o que
aconteceria a seguir, e pela primeira
vez, quando pensou em Jason e Sarah e
todos os demais, Alex não sentiu raiva
nem a costumeira pontada de remorso.
Sentiu... paz.
E se sentiu abençoado também, pois
tinha Chelsea em sua vida. Porque
recebera uma segunda chance, ambos
receberam, e nem todo mundo recebia.
– Você está bem? – perguntou
Chelsea com meiguice, analisando o
rosto amado.
– Mais do que bem – respondeu Alex.
Haveria tempo mais tarde para
conversar, compartilhar, admitir tudo
que sentira e sufocara. Muito tempo,
porque tinham o resto de suas vidas. –
Mais do que bem – repetiu com a voz
embargada pela emoção. Chelsea sorriu
compreendendo e concordando para, em
seguida, beijá-lo.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE
LIVROS, RJ
Hewitt, Kate
H528q Quero que você me revele [recurso
eletrônico] / Kate Hewitt; tradução
Angela Monteverde. - 1. ed. - Rio de
Janeiro: Harlequin, 2014.
recurso digital: il.
Tradução de: Expose me
Formato: ePub
Requisitos do sistema: Adobe Digital
Editions
Modo de acesso: World Wide Web
ISBN 978-85-398-1667-5 (recurso
eletrônico)
1. Romance americano. 2. Livros
eletrônicos. I. Monteverde, Angela. II.
Título.
14-16837
CDD: 813
CDU: 821.111(73)-3
PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM
HARLEQUIN BOOKS S.A.
Todos os direitos reservados. Proibidos a
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transmissão, no todo ou em parte.
Todos os personagens desta obra são fictícios.
Qualquer semelhança com pessoas vivas ou
mortas é mera coincidência.
Título original: EXPOSE ME
Copyright © 2014 by Harlequin Books S.A.
Originalmente publicado em 2014 por
Harlequin Presents Trade
Arte-final de capa:
Isabelle Paiva
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Capa
Texto de capa
Rosto
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Créditos
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