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A Responsabilidade do escritor
no mundo atual
Rosa DeSouza
1 de junho, 2012
Academia de Letras do Brasil
Assembleia Legislativa, Florianópolis, SC
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A Responsabilidade do escritor no mundo atual
Todos os movimentos que levaram a grandes transformações sociais e
políticas tiveram origem em grandes pensadores. Devemos as grandes
mudanças da nossa história, assim como novas formas de pensamento - a
muitos dramaturgos, filósofos, historiadores, poetas e escritores.
O mundo está atravessando a maior crise de toda a história conhecida, mas
fora algumas exceções - muitos escritores continuam enterrados na
mesmice, no vulgar e na repetição.
Ninguém pode mudar o mundo com a mesma forma de pensar que o criou,
já dizia Einstein. Então, se tanto queremos mudanças, por qual razão
continuamos caminhando na via da repetição e da mesmice?
- Será que vivemos em tempos envelhecidos?
- Será que a imaginação se transformou em estátua de sal?
- Será que os sentidos entraram em buracos negros?
***
Para provocar mudanças o escritor tem de informar-se, aprender cada vez
mais e pesquisar.
Temos de sair da mente coletiva para passar a usar a mente
individual. Temos de procurar a ponta do fio que nos poderá transformar
em pensadores de acordo com os novos tempos.
Isso, por que na era do espaço e dos grandes acontecimentos e descobertas
científicas - não podemos continuar a ter as mesmas pequenas e apagadas
- ambições e crenças de nossos avós e bisavós.
Os sonhos também têm de mudar. Tudo tem de ser diferente.
A luta do nosso presidente, Professor Mário Lopes Carbajal, é
fundamentalmente a conscientização do mundo para a realidade da fome,
da ignorância e da miséria, males que afligem a maior parte da
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Humanidade. A meu ver, cada um de nós deve participar desse mesmo
ideal. Temos uma grande arma em nossas mãos – Somos escritores.
Porém, não é apenas apresentando dados estatísticos que conseguiremos ir
a algum lado. Temos de criar e inventar outros conceitos e formas de
pensar que elevem a consciência da Humanidade. Se quisermos mudança temos de entender que em primeiro lugar temos de fazê-lo nós mesmos.
A maior pergunta dos tempos modernos não é sobre o que vai acontecer
com a economia.
Mas o que vai acontecer com a Humanidade.
Haverá outro horizonte?
Será que nós, os escritores, temos o dever de mostrar que para lá destas
grades e deste cubo que tanto nos cega e prende - existe algo mais? Claro
que sim.
É nossa obrigação dizer que além do que está no mapa há outros horizontes
e um número infinito de caminhos.
Para isso temos de dar largas à nossa imaginação, sermos arrebatados por
um grande entusiasmo e inventar o nosso próprio universo. Machado de
Assis fez isso, dentro da linha de Cervantes. E nós? Por que não criar um
novo universo dentro da linha da ciência? O astrofísico e poeta Jeff Hester
defende a teoria de que poesia é ciência e esta é poesia.
Eis um de seus poemas científicos:
Um elefante
Como entrou no meu pijama
Nunca irei saber
***
As minhas paixões sempre foram arqueologia e física. Nem sou arqueóloga
nem astrofísica, mas uma grande parte dos livros, revistas e artigos que leio
estão embebidos no conhecimento dessas duas ciências. Cada um tem seus
dons, virtudes e inclinações, devemos procurar qual a ciência que nos toca a
alma e escrever de acordo com o que vamos aprendendo. Mas sempre
dentro do caminho que leva a novos horizontes.
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Contra o que muitos pensavam e ainda pensam - a Ilíada e a Odisseia não
são poemas épicos de ficção, mas de história. No mínimo – seriam poemas
que há 2.800 anos teriam sido precursores do Realismo Fantástico.
Esses livros contêm descrições históricas - a prova está na descoberta de
Tróia – que foram repassadas para a posteridade na mais sublime forma
literária, a poesia.
Vocês podem perguntar: para que nos servem livros tão antigos? Porque o
que aconteceu entre essa época e o nosso tempo nos fez esquecer alguma
coisa muito importante: a História das nossas raízes. E, PARA QUE HAJA
FUTURO – HOJE – temos de mergulhar nessa característica fundamental
que nos diferencia do robô: acreditar que o maior direito humano é saber
quem é.
Não poderemos saber para onde vamos - sem saber de onde vimos. Qual é a
nossa identidade? No caminho da descoberta deparamo-nos com
encruzilhadas maravilhosas e misteriosas, mas também cheias de espinhos
e incongruências. Todavia, descobrir quem somos é onde o trabalho do
escritor se torna absolutamente necessário enquanto a alma é permeada
por um prazer desconhecido.
É a vontade de aprender que nos leva a pesquisar - e o resultado
é um desejo incontido em transmitir o que aprendemos.
Devia ter sido por isso que Platão nos falou de Atlântida e Hesíodo dos
deuses e heróis. Na Teogonia ele diz: “Primeiro teve origem o Caos, em
seguida a Terra e o Amor que é o criador de toda a vida”.
Atualmente, com raríssimas exceções, o amor é apenas exaltado de uma
forma sentimental e piegas ou na forma incondicional. Hesíodo nos falava
do amor criador. Esse que nos transforma organicamente! - É por isso que
a filosofia grega continua sendo o padrão ou raiz da civilização ocidental.
Olhando um passado mais recente, sabemos que as grandes mudanças
assim como a descoberta do mundo interior do ser humano, sempre
estiveram intimamente ligadas a novas filosofias. Por isso, a importância da
literatura.
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Nenhum movimento que revolucione antigos parâmetros e pragmatismos
pode sobreviver sem a força de novas formas de pensar refletidas em
poderosos movimentos literários.
Mas todos sabemos que muitos escritores não declaram as suas mais
intrínsecas ideias, aquilo que sentem e pensam – desde que seja algo novo
ou incomum - por medo. Simplesmente por medo.
Deixemo-nos disso!! Estamos no século XXI. Mas o tempo deixa de ter
sentido se não formos nós a transformá-lo no que ontem era o tão desejado
futuro.
Todos temos sede de mudanças. Mas como se pode mudar se temos medo
daquilo que os outros pensam? Sem audácia ainda estaríamos na Idade da
Pedra. Como mudar se continuamos a idolatrar a mesmice?
Qualquer escritor que se preze já leu Ésquilo, dramaturgo que viveu no
apogeu da cultura helênica. Ésquilo foi o pai da tragédia, onde ele teve a
coragem de falar dos Mistérios e da origem da Humanidade. Mesmo
sabendo que sua vida corria perigo, revelou um grande segredo: que o ser
humano era descendente dos deuses
e, com o passar dos milênios, os deuses viriam a reconhecer os humanos
como seus descendentes e herdeiros. (Não são só os Maias que falam do
retorno dos deuses...)
Esse retorno aconteceria no momento em que certa percentagem da
Humanidade atingisse o Verdadeiro Poder Criativo e descobrisse a sua
verdadeira identidade. Finalmente, tantos séculos mais tarde, no nosso
tempo, cientistas e escritores dedicam suas vidas à procura dessa verdade
silenciosa que parece ter sido propositadamente escondida, para não
sabermos quem realmente somos; e com isso - fáceis de manipular.
***
Agora os convido a fazer uma pequena viagem com escritores que não são
de língua portuguesa, e que muito influenciaram a história mundial. A
meu ver, em literatura não deve haver fronteiras. Isso é um limite que só
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nos leva a ilhas desertas. Como sabemos, o escritor, além de influenciar o
seu tempo, também influencia escritores que lhe sejam contemporâneos ou
de gerações futuras.
Karl Marx é talvez o mais conhecido reformador, assim como o mais
popular. Mas vou falar de outros escritores: o francês Gustave Flaubert foi
um dos mestres do Realismo, movimento estético do Romantismo europeu,
tendo também sido influenciado pelas - teorias científicas da época, a
Revolução Industrial e a filosofia de Auguste Comte - sobretudo a filosofia
positiva ou Positivismo.
Flaubert marcou a literatura francesa pela profundidade de suas análises
psicológicas, seu senso de realidade, sua lucidez sobre o comportamento
social, e pela força de seu estilo em grandes romances, tais como Madame
de Bovary. No livro Viagens ao Oriente, Flaubert nos faz sentir que
viajamos com ele. Sentimos os cheiros, sentimos o movimento do trem e
também sentimos a ânsia que o autor tem em aprender constantemente.
Flaubert e outros escritores, como Auguste Comte, representam a evolução
do primeiro estágio do romantismo. - O conhecimento positivo de Comte
buscava “ver para prever, a fim de prover”, ou seja, conhecer a realidade
para prever o resultado das ações humanas e assim melhorar a realidade.
Dessa forma, a previsão científica caracteriza o pensamento positivo.
Depois vem Émile Zola, criador e também o mais expressivo representante
da escola literária Naturalista. Foi influenciado pelo Darwinismo,
Evolucionismo e Determinismo Científico, além do socialismo.
Sua obra máxima, Germinal, elevou a estética e a descrição naturalistas a
um novo patamar de realismo e crueza. O romance é minucioso ao
descrever as condições de vida sub-humanas de uma comunidade de
mineiros. Para compor Germinal, o autor passou dois meses trabalhando
como mineiro na extração de carvão. Viveu com os mineiros, comeu e
bebeu nas mesmas tavernas. Sentiu na carne o problema do calor e a
umidade da mina; o trabalho insano que era necessário para escavar o
carvão e empurrar os vagonetes; a promiscuidade das moradias; o baixo
salário; a fome e os grandes problemas respiratórios que levavam à morte
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prematura. Atualmente, muitos jornalistas e até atores de cinema
submetem-se a experiências idênticas.
Já no século XX, o inglês Thomas S. Eliot, que recebeu o prêmio Nobel de
literatura em 1948, escreveu poesias hoje conhecidas no mundo inteiro
através da peça de teatro Cats, assim como da canção de abertura
Memories. Foi um poeta modernista, dramaturgo e crítico literário. Four
Quarters, quatro longos poemas, estão associados aos elementos da
filosofia grega e também fundados em seus conhecimentos nas áreas de
misticismo e filosofia. Aí ele especula sobre a natureza do tempo e sua
influência nos seres humanos. O que nessa época era misticismo hoje é
pura ciência.
Quando Eliot viveu em Paris era amigo de Charles Baudelaire, cuja obra
prima é o livro Les Fleurs Du Mal. Reconhecido internacionalmente como o
fundador da poesia moderna e precursor do simbolismo. Sua obra muito
influenciou as artes plásticas.
No movimento feminino temos: Virginia Woolf, uma das mais
proeminentes figuras do modernismo, pioneira na procura ou resgate do
princípio feminino e no estudo sobre as entranhas do ser humano.
Margaret Sanger escreveu Um plano para a paz, considerado por
religiosos e puritanos “um livro maldito”. Simone de Beauvoir, com seu
livro O Segundo Sexo, faz uma profunda análise sobre o papel da mulher
na sociedade. A antropóloga Margaret Mead e suas pesquisas sobre
sociedades primitivas em ilhas do Pacífico, como Samoa e Papua, também
foi muito criticada. O livro Sexo e Temperamento em Três
Sociedades Primitivas, converteu-se na principal pedra angular do
movimento da libertação feminina, desde que assegurou que as mulheres
eram quem dominavam as tribos. Margaret foi extremamente criticada,
mas hoje é estudada em muitas universidades do mundo. Por último,
Nancy Friday, que abertamente cria livros interativos e totalmente
desinibidos sobre a sexualidade feminina e masculina. No livro My
mother myself, Nancy mostra como o amor pode triunfar sobre o
ressentimento.
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Essas mulheres mudaram o mundo para sempre.
Enquanto isso, no momento presente, o mundo inteiro fecha os olhos ao
que se passa com as mulheres do Afeganistão, pois segundo os
fundamentalistas – a mulher não deve frequentar escolas. Desobedecer
pode ser condenação à morte.
Por muitas horas eu poderia ficar aqui falando de Arthur Schopenhauer,
filósofo alemão do século XVIII, e da sua influência no pensamento de
escritores, compositores, psicanalistas, pintores, poetas e filósofos, ou de
suas ideias sobre os direitos dos animais ou sobre a antropologia do
egoísmo, determinismo etc.
Sua influência vai desde o compositor Richard Wagner, passando por
Tolstoi, Zola, Marcel Proust, Conrad, Jorge Luís Borges, Machado de Assis,
Thomas Eliot, Bernard Shaw, Friedrich Nietzsche até Sigmund Freud e Carl
Gustav Jung. Freud disse que se nunca tivesse lido Schopenhauer, nunca
teria pensado em psicanálise. Isto é um exemplo típico da influência da
literatura na ciência, assim como o impulso que eleva a mente a outro nível.
No fim do século XVIII, Thomas Paine, um dos pais fundadores dos
Estados Unidos, muito influenciou a Revolução Francesa com o livro - Os
Direitos do Homem, um guia das ideias Iluministas.
Referindo-se à necessidade que sentiu em escrever o livro A Idade da
Razão, Paine afirma: “...tornou-se extremamente necessária uma obra
desta natureza, a fim de que, das ruínas gerais da superstição, dos falsos
sistemas de governo e da falsa teologia, não percamos de vista a
moralidade e a humanidade”. Por essas ideias Thomas Paine foi
ridicularizado por políticos e religiosos, tanto nos Estados Unidos como na
Inglaterra, mas o livro não deixou de ser um bestseller.
Por outro lado, no século XIX, Lord Edward Bulwer-Lytton, autor dos
livros A raça Futura e Os Últimos dias de Pompeia, entre muitos outros, dá
início à chamada ficção científica, expondo fatos muito difíceis de serem
assimilados ou admitidos, tanto nesse tempo como hoje. Na realidade Lord
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Lytton é o pai do Realismo Fantástico, já que, infelizmente, tudo o que sai
do normal ou da mesmice - do vulgar e do comum - passa a ser rotulado de
oculto, fantasia ou ficção.
Os escritores dos dias de hoje que escrevem sobre arqueologia,
antropologia e física, com o fim de desvendar enigmas históricos que digam
respeito aos primórdios da raça humana, como, por exemplo, David
Wilcock, Graham Hancock e Erich Von Daniken, só porque causam
polêmica com suas descrições e interpretações científicas, as quais se
chocam com crenças seculares, não são considerados como deveriam por
instituições governamentais e religiosas. No entanto, tudo o que escrevem
são bestsellers.
Hoje, através de escritores como esses e da arqueologia, paleontologia e
antropologia as pedras falam e contam histórias mais misteriosas do que
livros – nos contam verdades absolutas que escritores atuais procuram
perfurar, pois sabem que representam os Mistérios de Dionísio, Homero,
Ésquilo, Platão e muitos outros.
A Responsabilidade do escritor no mundo atual
Nós, todos os aqui presentes - temos uma grande responsabilidade.
Temos de escrever livros de Verdade.
O Evolucionismo e o Determinismo Científico, assim como o socialismo
influenciaram a literatura mundial dos séculos XIX e XX.
Depois da primeira guerra mundial houve outro tipo de literatura, baseada
no medo de uma segunda Guerra, como a magnífica peça de teatro - La
Guerre de Troie n’aura pas lieu – A Guerra de Tróia não terá lugar - de Jean
Giraudoux, onde ele diz: “O privilégio dos generais é ver as guerras do alto
de um terraço”.
E hoje? Vejamos um pouco do nosso mundo:
 Conflitos entre famílias. Entre igrejas. Entre partidos. Onde o valor
humano é esquecido.
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 A repugnante corrupção num planeta tão rico e lindo, mas apesar
disso tão miserável.
 Cientistas e escritores serem silenciados. Alguns mortos.
NOS DIAS DE HOJE
 A triste realidade são governos - sejam eles quais forem – para os
quais cada cidadão não passa de um dado estatístico.
Onde está a nossa Humanidade? Como poderemos mudar? O que
poderemos fazer? Como poderemos resgatar a dignidade humana do tempo
dos heróis gregos?
Tal como nos anos 30, onde o medo de uma segunda guerra assolava os
corações tão massacrados pela Primeira Guerra Mundial, hoje tememos um
conflito que não só pode dizimar uma grande parte da Humanidade, mas
ter como consequência chagas - que só depois de várias gerações poderão
ser esquecidas. Isso só acontece porque os povos têm medo de se impor.
Mas somos nós que construímos o nosso futuro.
Nós escritores temos de escrever sem medo, porque o medo nos reduz à
insignificância que nos dizem que somos, para que nunca saibamos a nossa
verdadeira capacidade. Eu sei do que estou falando. Na carne - muitas vezes
já senti os efeitos da minha audácia.
É por essas razões que nos dias de hoje se torna inaceitável escrever apenas
sobre passarinhos, cortinas ao vento e folhas de outono. Todos os escritores
do passado e do presente já escreveram sobre tudo isso de mil e uma
maneiras. Por outro lado, muitos ainda escrevem dentro do teor dogmático,
onde suas ideias contêm dedos em riste, e deixam o sabor amargo de ideias
sem liberdade.
O escritor de hoje deve ter outro tipo de responsabilidade. Como ninguém
pode dar o que não tem, o escritor deve ler muito, aprender muito e
debruçar-se sobre o problema mundial ou local que mais o toque e com o
qual mais se identifique.
Quando estamos abertos - os assuntos a tratar veem na nossa direção. Mas
não podemos incorrer no erro da ideia absoluta. Devemos mostrar fatos e
expor perguntas pertinentes. Devemos suscitar polêmica. Só assim o
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escritor leva o leitor - a pensar. Mas para isso é necessário escrever sem
medo – sem medo do que os outros pensem ou se vamos ser excomungados
pelo avô, pela igreja, pelos amigos.
Nós escritores não mais podemos ser fúteis e vazios. O tempo em que
vivemos não o permite. Por mês na Somália morrem de fome 750,000
mulheres e crianças. Na Somália não há índice de longevidade, porque o
índice de descaso se sobrepõe.
Por outro lado, o sofrimento individual, não pode ser descrito como algo
sem cura. As cavernas da alma têm muitas sombras, mas não é exaltando
essas sombras que ajudamos o ser humano. Temos de entrar nessas grutas
com uma lanterna na mão esquerda, uma vassoura na mão direita e livros
pendurados nas orelhas. Para obter resultados teremos de fazê-lo em nós
mesmos. Temos de entrar em nossas próprias minas de carvão, e só depois
poderemos melhorar a realidade.
Cada um de nós é uma célula da Humanidade. A Humanidade precisa de
nós. Nem todos têm o nosso privilégio de poder escrever e de ter prazer em
pensar.
? Vamos jogar fora o nosso dom e o nosso tempo de vida com coisas que só
alimentam o comum e o vulgar? Creio que é imperativo ir além dos
sentidos e alimentar ideais que nos ultrapassem.
Não podemos continuar na mente coletiva. Nem podemos
continuar na mesmice.
No mundo de hoje vimo-nos obrigados a abrir janelas e desbravar novos
horizontes, mesmo que no lado de lá haja um mundo desconhecido que nos
faça tremer. Porém, existe um antídoto – A criação de um sonho ainda
não sonhado. Acreditem. A mente humana não tem limites.
Penso que teremos de ter a audácia de ser escritores de verdade e como
Thomas Paine sermos porta vozes de outra dimensão de pensamento. E,
repito, sem medo daquilo que os outros possam pensar. O escritor não
pode se preocupar com essas coisas. Se assim o fizer não é escritor, mas
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copiador de fórmulas obsoletas e sem valia, mesmo que no passado tenham
sido válidas.
Escrevamos as nossas “Quimeras”, como diria o grande escritor francês,
Jean-Jacques Rousseau sobre o seu livro Emílio – obra que tanto marcou a
nova maneira de educar uma criança. Para Rousseau, o jovem deve, na sua
infância, dispor de total liberdade física e durante o seu crescimento deverá
descobrir e conquistar a liberdade interior.
Nós escritores desta época de transição, também temos de procurar a nossa
liberdade.
Uma ideia nova vale mais do que um milhão de ideias antigas, por muito
úteis que tenham sido no passado.
Sejamos audaciosos, inovadores e felizes quando escrevemos. Deixemos a
mesmice e o passivismo no passado - e as borboletas nas florestas.
Escrever com liberdade é o maior prazer. E quando o escritor é feliz ao
escrever, o leitor só tem a ganhar.
Como ironicamente dizia José Saramago,
“Não procures trabalho: escreve”.
De: Rosa DeSouza
1 de junho, 2012
Academia de Letras do Brasil
Assembleia Legislativa, Florianópolis, SC
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