O CIDADÃO, O CRISTÃO E OS PROTESTOS SOCIAIS.
Marcelo Segato Morais
Igreja Sal da Terra – Karaíba
[email protected]
Uberlândia - MG
Os
recentes
acontecimentos
promovidos
por
parte
da
sociedade brasileira pelas ruas do país, movimento que vem
sendo conhecido como “vem pra a rua”, tem despertado a
atenção de todos, cidadãos, políticos, intelectuais e
também da igreja, o que me levou ao interesse de tecer
algumas considerações sobre o tema, à luz do que diz a
legislação e as Escrituras Sagradas.
Cidadão é o indivíduo que faz parte da cidade, nela podendo
interferir para o exercício de seus direitos políticos. O
cidadão pode participar de modo direto ou indireto na
formação do governo, bem como na sua administração, seja
exercendo seu direito de voto para a escolha de seus
representantes, seja concorrendo diretamente ao pleito para
o governo. O termo cidadão deriva do latim civitas, que
quer dizer “cidade”, e tem sua origem no período da Grécia
clássica, dizendo respeito não apenas aos direitos dos
indivíduos, mas também aos correspondentes deveres. Implica
no convívio em sociedade.
O exercício da cidadania pressupõe o requisito da
nacionalidade, que é inerente ao indivíduo que faz parte de
um determinado Estado. Cidadão, contudo, refere-se ao
nacional que está plenamente investido dos seus direitos
políticos. Não basta ser um nacional (pertencente ao
Estado) para ser cidadão. O cidadão deve estar apto para
exercer com plenitude seus direitos políticos, civis e
sociais.
O Direito, por sua vez, entendido como conjunto de regras
para regular a convivência em sociedade, tem por finalidade
estabelecer normas e princípios para conformar o homem à
sociedade em que está inserido. O homem não pode viver de
qualquer forma na sociedade, devendo adequar sua conduta às
normas morais, éticas e legais estabelecidas de modo
legítimo pelos seus semelhantes. A limitação ao exercício
dos direitos também é uma garantia do cidadão em face dos
seus pares.
A Constituição Federal do Brasil, de 5 de outubro de 1988,
garante
aos
brasileiros
Direitos
Fundamentais,
compreendendo os direitos e deveres individuais e coletivos
(art. 5º), os direitos sociais (art. 6º e seguintes) e os
direitos políticos (arts. 14 e seguintes). A nacionalidade,
e suas repercussões, está regulamentada no art. 12 da Carta
Magna.
O cidadão brasileiro, de acordo com o disposto no art. 5º,
XVI, da Constituição Federal, tem o direito de reunir-se
pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem
outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local,
sendo exigido apenas prévio aviso à autoridade competente.
Como se observa, existe garantia constitucional para a
realização de movimentos sociais nas ruas, desde que não
haja a utilização de armas (qualquer tipo de arma, como
facas, armas de fogo, paus, pedras etc) e, ainda assim, com
prévio aviso à autoridade competente e sem a intenção de
frustrar outra reunião previamente marcada para o mesmo
local.
O que se tem visto, no caso do Brasil, pelos meios de
comunicação, nem sempre confiáveis, diga-se, é que na
maioria dos eventos ocorridos houve incidentes com armas
por parte dos manifestantes, ainda que seja minoria, além
da depredação de prédios públicos e privados, afastando,
assim, em tais casos, o caráter pacífico das manifestações,
o que deve ser coibido pelo uso da força policial, nos
limites da legislação que regula a espécie, a fim de que
seja mantida a ordem e paz social.
Cristão, por outro lado, é aquele que segue a Cristo, com
Ele se identificando. A expressão foi pela primeira vez
utilizada em Antioquia, região da atual Turquia, onde o
apóstolo Paulo iniciou sua missão para pregar o evangelho
do Senhor Jesus Cristo, conforme narrado no Livro de Atos
11:26. Os antioquianos usaram o termo cristão no sentido de
“pequeno cristo” ou “aquele que é como cristo”. O Cristão é
um discípulo de Jesus Cristo. Discípulo, derivado do grego
matethes – aprendiz - e do hebraico – talmid – aluno, é
aquele que é ensinado e recebe disciplina, adotando a
doutrina de seu mestre. O Cristão segue não apenas as
instruções de seu mestre, mas assimila seus pensamentos e
ideologia. Torna-se um imitador de seu mestre (1Co 11:1sede meus imitadores como também eu sou de Cristo; Jo 5:19
- Jesus fazia as coisas que viu o Pai fazer); Jo 13:15 –
Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz,
façais vós também.
Jesus Cristo, o Filho do Homem, e também o Filho de Deus,
iniciando seu ministério, assim se manifestou: “Arrependeivos, porque é chegado o reino dos céus” (Mt 4:17). Jesus
foi claro e direto em dizer ao homem sua condição de
“caído” (Rm 3:23 – “porque todos caíram”) e da necessidade
de arrependimento, arrependimento que só pode ser alcançado
pela obra do Espírito Santo. Jesus fez menção à chegada de
um Reino. De que reino Jesus estava falando? Do mundo? Da
política? Do cidadão? Do homem? Não.
Jesus falou e continua falando de um outro reino, do Reino
dos Céus, de uma outra cidadania, a Cidadania Celestial. A
paz que ele nos prometeu o mundo não pode dar (Jo 14:27).
Em plena e ativa oposição ao Reino dos Céus existe o “reino
do mundo”, governado pelo homem sob a influência do maligno
(satanás – o adversário – 1Jo 5:19). A sociedade sem Deus
repousa no maligno e vive pecando. É dominada pelo diabo e
pelo pecado. (2 Co 4:4 – nos quais o deus deste século
cegou os entendimentos dos incrédulos).
No evangelho do apóstolo João, em Jo 15:19, Jesus deixou
explícito que “Se vós fosseis do mundo, o mundo amaria o
que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos
escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia.” Jesus
não poderia ser mais claro em afirmar uma nova condição
para o homem regenerado, nascido de novo (“na verdade na
verdade te digo que aquele que não nascer da água e do
Espírito não pode entrar no Reino de Deus” Jo 3:5). O novo
nascimento implica em nova natureza, em fazer parte de um
novo reino, de uma nova cidadania. Fazemos parte de um novo
povo, uma nação santa, para anunciar as virtudes daquele
que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pe
2:9-10). Anunciar as virtudes de Jesus Cristo e viver
segundo o seu evangelho. Isto sim é o papel do cristão e da
igreja.
“Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas
concidadãos dos santos e da família de Deus.” (Ef. 2:19). O
apóstolo Paulo menciona que a partir de Jesus, e em Jesus,
o cristão passa a ser novo cidadão, cidadão celestial,
confirmando as palavras do próprio Jesus quando afirmou
sobre o Reino dos Céus.
Na carta aos Filipenses (Fp 3:20), mais uma vez o apóstolo
Paulo faz menção à nova condição do cristão, sendo
habitante de uma outra cidade, fora deste mundo. “Mas a
nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o
Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” A luta do cristão deve
ser pela Cidade celestial, luta esta que é travada nas
regiões celestiais, contra principados e potestades (Ef
6:12) e não nas ruas, contra as autoridades. A esperança do
cristão jamais pode se dar na “cidade” deste mundo.
São absolutamente incompatíveis os princípios que regem o
mundo com os princípios do Reino dos Céus. O Reino dos Céus
não é uma democracia (demos + kratos – regime de governo em
que o poder de tomar decisões está com o povo). Trata-se de
um Reino. Os cristãos têm um Rei e tem prazer em servi-lo e
em obedecê-lo incondicionalmente e isto incomoda os que
estão no mundo. A Igreja de Cristo nunca precisou de um
Estado Democrático ou de instrumentos democráticos para
cumprir sua missão. Ao contrário, foi justamente nos
períodos e épocas de ausência destes mecanismos mundanos
que fez com que a Igreja crescesse de forma verdadeira e
genuína. Basta olhar para as Escrituras e para a história
da igreja para constatar tal fato. A Igreja não pode
tornar-se dependente de uma forma de governo humano para
cumprir seu propósito. Ao contrário, é cumprindo seu
propósito, pregando o evangelho da cruz, que a Igreja
poderá transformar qualquer forma de governo humano.
“De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como
se Deus por nós rogasse.” (2Co 5:20). Um embaixador é um
representante oficial de um Estado. O cristão é um
representante oficial do Reino de Deus aqui na terra. Um
cristão não representa os interesses deste mundo, mas sim
os interesses de Cristo, divulgando do seu evangelho,
vivendo de acordo com ele, com este mundo não se
conformando.
“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o
mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no
mundo, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não
é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua
concupiscência, mas aquele que faz a vontade de Deus
permanece para sempre.”(1Jo 2:15-17). “Meus irmãos, não vos
maravilheis se o mundo vos odeia” (1Jo 3:13). O Cristão já
não anda com olhos voltados para as coisas do mundo, pois
tem em vista as coisas do alto, que vem de Deus. O Cristão
é filho de Deus e não pode ser conhecido pelo mundo (1 Jo
3:1).
Abraão, quando chamado por Deus para deixar sua parentela
na região da mesopotâmia e ir a uma terra prometida
(Canaã), que lhe seria dada por possessão, ainda não
revelada, creu, obedeceu e, após chegar na terra, nela
andou como peregrino e forasteiro, habitando em tendas. (Gn
12:1-9). Ainda assim, nunca reclamou, ou reivindicou nada,
porque sabia que sua “cidade” era celestial. Abraão não
ocupou sequer um palmo de terra em Canaã (terra prometida),
pois tinha convicção de que Deus estava falando de uma
cidade “que tem os fundamentos, da qual o arquiteto e
edificador é Deus.” (Hb 11:8-10 e Ap 21:2).
Enquanto no mundo, aguardando a manifestação do que
haveremos de ser (Mas sabemos que, quando ele se
manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque assim como é
o veremos. 1 Jo 3:2), temos uma missão importante,
conferida pelo próprio Senhor Jesus Cristo, que é de ir,
fazer discípulos e batizá-los em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que
Jesus nos ensinou (Mt 28:19-20). Enquanto no mundo, somos
“sal da terra e luz do mundo”, anunciadores das boas novas
(o evangelho do Senhor Jesus Cristo) e manifestantes das
virtudes de Cristo pelo testemunho. Quem convencerá o mundo
do pecado, da justiça e do juízo é o Espírito Santo (Jo
16:8).
A Igreja não tem por missão governar o mundo, e tampouco
fazer aliança com os ímpios para governá-lo. “Não vos
prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que
sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem
a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e
belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que
consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós
sois o templo do Deus vivente. Pelo que saí do meio deles e
apartai-vos, diz o Senhor.” (2 Co 6:14-17). A igreja é o
corpo de Cristo (1 Co:12) e cada cristão um membro
particular.
A igreja primitiva, ao tempo dos apóstolos, consoante se
observa pelo registro no Livro de Atos, alvoroçou o mundo
de sua época não pelos movimentos sociais, nas ruas, em
busca de igualdade de direitos com os romanos, lutando
contra a corrupção de Roma, mas sim pela pregação do
evangelho e pelo testemunho de Cristo (At 17:6). A situação
política da época não era diferente dos dias atuais, sendo
marcada também pela corrupção, exploração, desigualdade,
pobreza, injustiça, má distribuição de renda, péssimas
condições humanas, de trabalho, tudo isso registrado nos
evangelhos. Ainda assim, não se tem notícia de nenhuma
insurgência dos cristãos contra as autoridades, nenhum
reclamo junto a César, a Herodes ou Pilatos, nenhuma
passeata pela Judéia ou pela Galiléia. Em nenhum momento
Jesus, ou os apóstolos, fizeram passeatas para conquistas
políticas ou sociais, pois tinham em mente o Reino de Deus,
Celestial. A transformação do mundo pela loucura do
evangelho da cruz.
Foi a pregação do evangelho de Cristo que mudou a realidade
de Samaria nos dias do diácono Felipe. (At 8:1-25). “E
descendo Filipe a Samaria pregava-lhes a Cristo.” Nada mais
além da pregação do evangelho.
O incidente registrado em Jo 2:13-16 e em Mt 21:12-13,
quando Jesus Cristo, por duas vezes, insurge-se contra os
que estavam utilizando o Templo de Deus para fins
contrários à palavra de Deus, jamais pode ser utilizado
como justificativa para a realização de protestos sociais
por cristãos. O templo só podia ser freqüentado por judeus
e era considerado a “Casa de Deus” e só Jesus tinha
autoridade para coibir tais abusos. Não havia qualquer
manifestação social ou protesto político no caso em
questão. Não havia qualquer reivindicação social. O
objetivo de Jesus era restaurar a adoração que se havia
perdido.
O confronto de Jesus Cristo com os fariseus, saduceus,
escribas, publicanos e mestres de Israel, por várias vezes
registrados nos evangelhos, não tinha qualquer conotação
com Roma (“sistema político mundano”), mas sim de
confrontá-los com a palavra de Deus, por eles ignorada.
Jesus nunca teve em mente governar este “mundo caído”,
ocupando o trono de “César” (ou uma cadeira no parlamento)
e por isso foi rejeitado pela maioria dos judeus, que
esperavam um líder político que os livrassem do jugo
romano. Por este motivo, por não entenderem o que seria o
Reino dos Céus, os judeus preferiram Barrabás a Jesus (Mt
27:15-25);
por
este
motivo
levantaram
outros
para
insurgirem contra Roma, como Teudas e Judas, o galileu (At
5:36-38), cujas manifestações não resultaram em nada, mas,
ao contrário, em mortes.
Grande parte dos líderes religiosos de hoje também
rejeitariam a Jesus, pois continuam como os judeus da
época, acreditando que a paz e a ordem social será
implantada aqui e agora na terra, crendo que a corrupção
acabará, como que ignorando o que Jesus disse acerca dos
últimos dias, que haveria perseguição à igreja, apostasia,
operação do engano, do erro, da mentira, falsos profetas,
falta de amor (Mc 13:1-21); ignorando o que está no livro
do Apocalipse, acerca de um governo mundial, governado pelo
anticristo, pela besta e pelo falso profeta. De que reino a
Igreja está falando nos dias de hoje? Qual a paz a Igreja
tem almejado? A paz de Cristo, em nossos corações, em meio
às tribulações, conquistada na Cruz do Calvário, ou a paz
do mundo, sem assaltos, roubos, furtos, políticos corruptos
presos, falta de amor? Do que Jesus estava falando?
Só o evangelho de Jesus Cristo tem o poder de mudar o
coração do homem (corrupto por natureza) e a partir daí, do
novo nascimento, da morte na cruz, leva à prática de boas
obras, transformando cidades e nações, como tem registrado
as Escrituras. A pregação de Jonas, e somente a pregação da
palavra, pelo poder de Deus, foi suficiente para mudar toda
uma cidade ímpia (a grande Nínive).
O cristão deve obedecer às autoridades (Rm 13:1-7); pagar
seus impostos (Mc 12:13-17 e Rm 13:6)); sujeitar-se a toda
ordenação humana por amor do Senhor, quer ao rei, como
superior, quer aos governadores, como por ele enviados para
castigo dos malfeitores e para louvor dos que fazem o bem;
o cristão deve honrar a todos; amar a fraternidade; temer
a Deus e honrar o Rei(1 Pe 2:12-17). Realmente não é fácil
ser cristão! Quem suportará esta pregação?
A desobediência civil só é admitida quando implicar em um
descumprimento de um mandamento de Deus. Daniel entendeu
isto e preferiu a cova dos leões a dobrar-se perante a
estátua de Nabucodonozor, não deixando de orar ao Deus vivo
(Dn 6). “julgai vós se é justo, diante de Deus, obedecer
antes aos homens do que a Deus.” Pedro e João entenderam
que a obediência a Deus estava acima das ordenanças
humanas. (At 4:19).
O cristão, como servo, ou empregado, deve se sujeitar com
todo o temor ao seu senhor, não somente ao bom e humano,
mas também ao mau, porque é coisa agradável que alguém, por
causa da consciência para com Deus, sofra agravos,
padecendo injustamente. Porque que glória será essa, se,
pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas, se fazendo o
bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus
(1Pe 2:18-20). Onde está o direito de reivindicação? Em que
momento é anunciado o direito de insurgência, de greve? Por
isso o evangelho, o evangelho verdadeiro, é tido como
“loucura”, não podendo ser entendido ou praticado pelos que
são deste mundo. “Porque a palavra da cruz é loucura para
os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder
de Deus.” 1Co 1:18.
O cristão verdadeiro é conhecido por ser um pacificador,
manso, humilde de Espírito, aquele que tem sede e fome de
justiça, que chora, misericordioso, limpo de coração,
aquele que sofre por causa do evangelho, ainda que o
sofrimento venha de uma injustiça do mundo. Isto foi o que
o Senhor Jesus nos ensinou no sermão do monte (Mt 5:1-12).
Não houve nenhuma convocação para confronto com “César” ou
reclames de melhor distribuição de renda, abolição da
escravatura, injustiças estas muito presentes nos dias de
Jesus.
É realmente muito difícil ver tantas injustiças sendo
cometidas diariamente pelas autoridades por todo o país, a
todo o momento, sem que haja a devida punição. A revolta
humana é “natural” e “aceitável”, não, porém, para aquele
que tem o Espírito de Cristo e que sabe o propósito de sua
existência neste mundo. Vale lembrar que a corrupção não é
apenas das autoridades, mas também dos cidadãos civis, que
não pagam impostos, desobedecem as leis de trânsito,
fraudam as leis, matam, roubam, injustiças estas que tem
abarrotado os tribunais brasileiros, as delegacias e
prisões. Não há espaço suficiente em prisão de todos que
estão condenados.
Vale lembrar, ainda, que a maior das injustiças foi
cometida contra o Senhor Jesus Cristo, muito maior do que
qualquer ato que se possa imaginar. Pedro quis fazer uso da
espada, da violência, do protesto, contra as autoridades
que foram prendê-lo no Jardim do Getsêmani, o que,
aparentemente, parecia normal, pois não seria “justo” que
Jesus fosse preso e morto. Qual foi a reação do Senhor
Jesus? Repreendeu severamente o apóstolo Pedro, pois sabia
que o propósito maior acerca de seu Reino não era aqui na
terra, ainda que fosse necessário ser preso, humilhado e
crucificado, tudo debaixo de um propósito estabelecido
desde a fundação do mundo (1Pe 1:19-20). Pedro ainda não
havia entendido que convinha que o Cristo fosse morto e
ressuscitasse ao terceiro dia, cumprindo, assim, todo o
desígnio e propósito de Deus. (Mt 26:47-56). A morte de
Jesus cumpriu a justiça de Deus.
Injustiça social, por si só, não é suficiente para levar a
Igreja às ruas. Não há notícia de tais movimentos nas
Escrituras. A Igreja não foi chamada, ou vocacionada, para
estabelecer um reino material nesta terra. O reino é
espiritual. A manifestação é pelo Espírito. Não há dúvidas
de que a manifestação da Igreja, em seu propósito, irá
causar transformação social, mudando realidades no meio em
que ela está inserida, tudo a partir da pregação do
evangelho (Poder de Deus para salvação de todo o que crê –
Rm 1:16). A igreja deve ir às ruas, aos becos, pelos
caminhos, às esquinas, em busca dos perdidos, dos
aleijados, pobres, mancos e cegos, anunciando-lhes as Bodas
do Cordeiro, a Grande Ceia, conforme descrito no Livro de
Lc 14:15-24, e não reivindicando direitos mundanos.
Todos aqueles que foram grandes homens de Deus, que
cumpriram sua vontade, “foram apedrejados, provados,
serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram
peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras,
necessitados, afligidos, maltratados, homens os quais o
mundo não era digno, errantes pelos desertos, pelos montes,
pelos antros da terra. Ora todos estes que obtiveram bom
testemunho
por
sua
fé
não
obtiveram,
contudo,
a
concretização da promessa, por haver Deus provido coisa
superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não
fossem aperfeiçoados.” (Hb 11:38-40). É mencionado que o
mundo não era digno de tais homens. Cada vez mais vejo a
Igreja nos dias de hoje buscando a aprovação do mundo, os
lugares de destaques, influência política, cada vez mais se
parecendo com o mundo, cantando como o mundo, falando as
coisas do mundo, movendo-se de acordo com as pessoas do
mundo,
vestindo-se
como
o
mundo
e
esquecendo-se,
sutilmente, de sua verdadeira missão. Onde está a Cruz? A
mensagem da cruz tem sido cada vez mais esquecida, em prol
de uma igreja que atua “socialmente”, “politicamente
correta”,
“ativa”,
“operante”,
“impactante”.
Não
há
mensagem de impacto, não há trabalho social, não há
transformação senão pela Cruz de Cristo e sua ressurreição.
Essa é a loucura do evangelho.
Se esperamos
miseráveis de
Paulo fala de
“considerados
em Cristo só nesta vida, somos os mais
todos os homens. (1 Co 15:19). O apóstolo
homens que se tornaram “espetáculo ao mundo”,
lixo do mundo, escória de todos.” (1 Co 4:9-
13) por causa do evangelho de Cristo. Não há identificação
ou comunhão de valores do cristão com o cidadão do mundo.
A Igreja de hoje deve se posicionar para cumprir seu
propósito com fidelidade, segundo a palavra de Deus, pois a
insatisfação, as crises e os protestos serão cada vez mais
freqüentes, tudo de acordo com o propósito divino, e assim
surgirá o palco ideal para o surgimento de alguém que
promova a “paz” para este mundo, o ecumenismo das
religiões, a solução da pobreza, as nações unidas, a
resolução dos problemas econômicos, a falsa unidade, aquele
que opera o engano e a mentira, o anticristo.
Toda obrigação civil e responsabilidade social do cristão ê
conseqüência, resultado e fruto de sua livre relação e
comunhão íntima com Jesus Cristo, a fim de que tudo o que
ele faça seja feito em Cristo e ao mesmo tempo seja um ato
de fé e não uma ação bem intencionada da carne. Não podemos
agir por causa das pressões e exigências externas deste
mundo, nem pelas necessidades dos necessitados, senão pela
exclusiva direção do Espírito de Cristo que habita em nós.
É a única forma em que Deus pode ser glorificado em nossos
atos e conduta.
Assim,
querido
irmão
em
Cristo,
avalie
bem
seu
posicionamento diante de tudo o que tem acontecido nos dias
de hoje e antes de ir às ruas busque primeiramente o
discernimento e a revelação de Deus, por seu Espírito
Santo, para que não seja apenas mais um em meio a uma
multidão perdida que clama por “justiça social” e por
direitos aparentemente justos, como punição de políticos
corruptos, e outros nem tanto compatíveis para um cristão,
como legalização da prostituição e da maconha.
A graça e a paz do Senhor Jesus Cristo seja com todos.
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o cidadao o cristao e os protestos sociais