CURADORIA EDUCATIVA – PRÁTICAS E DESENVOLVIMENTOS NO
MUSEU DE ARTE DO ESPÍRITO SANTO – DIONÍSIO DEL SANTO.
Ana Luiza Bringuente
MAES
Melina Almada Sarnaglia
UFES
RESUMO
A prática da Curadoria Educativa apresenta-se como o foco das atividades
desenvolvidas no Museu de Arte do Espírito Santo – Dionísio Del Santo, pelo Setor de
Arte-Educação. Propomos neste relato compartilhar os processos de desenvolvimento
do conceito e das atividades das exposições a partir desta premissa.
O Museu de Arte do Espírito Santo – Dionísio Del Santo solidificou nos últimos doze
anos seu Setor de Arte-Educação a partir de parcerias e atividades desenvolvidas com o
intuito de aproximar o público tanto de seu espaço físico e conceitual quanto da arte
nele exposta. Encarado como um veículo de fomento e difusão do pensamento através
das exposições nele veiculadas, o Museu a partir da curadoria-educativa realizada pelo
Setor de Arte-Educação, visa relacionar a temporalidade da exposição vigente com sua
contemporaneidade a partir das mediações oferecidas aos diversos públicos e das
demais ações abertas a toda a comunidade como o Ciclo de Palestras e Roda de
Conversa. A exposição Edital 11, realizada no Maes de 22 de março a 08 de maio de
2011, a curadoria-educativa buscou, a partir das questões pertinentes à exposição,
problematizar conceitos como a curadoria e a crítica, tão prementes na
contemporaneidade.
Embora nem sempre o público se dê conta, por trás de uma exposição de arte existe um
trabalho conceitual e operacional de grande envergadura, envolvendo profissionais de
diversas áreas, encabeçados, costumeiramente, pela figura do curador.
Cabe a ele,
quando atua dentro de um museu, a concepção e construção do acervo, ficando ao seu
entendimento obras.
Segundo Agnaldo Farias , o papel do curador é dar visibilidade à produção artística,
respeitando a obra e cuidando da melhor maneira em apresentá-la, para que potencialize
sua leitura. Não difere da função de um editor de livro. É estratégica, de proximidade
com o artista, para defender o seu trabalho.
Até meados da década de setenta, o termo “curador” estava diretamente conectado as
atividades de caráter apenas museológico. As mostras, fossem elas bienais, exposições
comemorativas etc, certamente possuíam seus curadores, que até aquele momento eram
conhecidos como organizadores ou diretores gerais, porém estes recebiam pouca
notoriedade. Com o passar dos anos, o processo que compreende a espetacularização
destes eventos, que a cada edição se tornavam mais imponentes, fez com que a figura do
curador, convidado a conceber e a organizar estas mostras (bienais, exposições etc.),
ganhasse cada vez mais destaque.
Atualmente, o termo curadoria se refere a duas atividades que nem sempre são exercidas
pelo mesmo profissional. A princípio, existiriam dois tipos: aquele que tem vínculo
relativamente estável com uma instituição pública ou privada – normalmente alguém
graduado nas áreas de história ou teoria da arte – e o curador independente – um
profissional ligado às áreas de história ou crítica de arte que faz a concepção de
exposições autônomas e temporárias, sem estar por isso ligado a uma instituição.
Relativizando a ação tradicional da curadoria e alargando o termo Curadoria Educativa,
como proposto por Luiz Guilherme Vergara, encaramos este processo como a
possibilidade da potencialização da relação estabelecida entre espectador e obra, de
maneira a oportunizar ao visitante um encontro com novos olhares e experiências com a
arte.
O Museu de Arte do Espírito Santo – Dionísio Del Santo desenvolve, desde 2009 a
partir da exposição Andy Warhol – Arte e práticas para o dia-a-dia e com a curadoria
educativa de Luiz Guilherme Vergara, proposições que foram determinantes para a
compreensão e novos direcionamentos das ações desenvolvidas pelo Museu via Setor de
Arte-Educação. Nesta exposição foram desenvolvidos projetos como o Piedarte, ação
extra-muros que buscou a inserção do Museu numa comunidade circunvizinha;
realização de seminários interdisciplinares – educadores, sociólogos, médicos,
pesquisadores e artistas – que discutiu e problematizou entre outras questões a própria
ação extra-muros.
Desde então o Museu de Arte do Espírito Santo – Dionísio Del Santo solidifica sua
atuação no fomento e desenvolvimento da reflexão no pensamento sobre arte a partir
das exposições que recebe e do desdobramento proposto pela curadoria educativa.
Destacam-se as exposições Rembrandt e a Arte da Gravura, de 19 de março a 16 de
maio de 2010, onde as atividades do Setor de Arte-Educação foram corporificadas em
programas do Maes, como o Ciclo de Palestras e oficinas com coletivos de artistas
contemporâneos que buscam estreitar as possibilidades técnicas desenvolvidas no
século XVII por artistas como Rembrandt e sua atuação na produção artística
contemporânea, através dos diálogos com a serigrafia e o grafitti.
Ainda em 2010, o Museu de Arte do Espírito Santo – Dionísio Del Santo realiza em
parceria com a Pinacoteca do Estado de São Paulo a exposição Beatriz Milhazes –
gravuras. A Curadoria Educativa desta exposição preocupou-se com questões como a
acessibilidade da arte ao público, principalmente à categorias da sociedade com mais
dificuldade de acesso, que tem sido alvo de pesquisas na área e que procuram pensar em
propostas
que dinamizem as relações entre instituição cultural - que promove a
exposição - e o público. Foram disponibilizados ao público oficinas de grafitti e stêncil,
apresentação de Dj’s e Mc’s e a partir da disponibilização dos conteúdos no blog
www.milhazesnomaes.blogspot.com.
Merece destaque na última exposição de 2010, Tarsila sobre Papel, de 01 de dezembro
de 2010 a 13 de fevereiro de 2011, a determinação pela Curadoria Educativa de alguns
paradigmas na atuação das ações desenvolvidas pelo Maes assim, o Ciclo de Palestras
configurou-se como um espaço privilegiado para a discussão dos aspectos concernentes
ao desenho, desde sua história até sua prática contemporânea. O Roda de Conversa
estabeleceu-se como um espaço de livre diálogo entre as áreas afins à produção artística
como a literatura e a música, discutindo em Tarsila sobre Papel as possibilidades
históricas e como elas de desdobram na produção contemporânea.
Em Edital 11 exposição de abertura do ano, as reflexões acerca das práticas
desenvolvidas na contemporaneidade, nas artes visuais e em suas áreas correlatas –
literatura, arquitetura, cinema, etc. – aparecem como a chave dos questionamentos
propostos para os debates.
Das ações desenvolvidas durante as exposições o Ciclo de Palestras caracteriza-se por
trazer a fala de especialistas na área contemplada pela curadoria educativa, no caso de
Edital 11, o debate proposto foi acerca da prática curatorial - a partir da diluição das
atribuições na atuação do curador e do artista na atualidade, discutir sobre a atuação
desses dois agentes da/na arte. O convidado do Ciclo de Palestras, curador da
Pinacoteca do Estado de São Paulo – Ivo Mesquita propõe um panorama sobre a
história da curadoria. O artista e pesquisador, Ricardo Basbaum traz a luz
argumentações sobre a dicotomia na atuação do par curador/artista e artista/curador e
ainda, a possibilidade de convergência destes papéis. A expectativa é que a discussão
destes conceitos amplie as práticas desenvolvidas no contexto local ao mesmo tempo
em que conecte as ações já desenvolvidas a um contexto global.
O encontro entre diferentes áreas e o confronto salutar entre suas atuações é o que
propõe o programa Roda de Conversa. A expectativa é de que convidado aborde o tema
proposto com uma fala mais livre, com o intuito de estabelecer diálogo com a outra área
contemplada e com o público presente. Em Edital 11, os temas escolhidos para o debate
foram Arquitetura | Arte | Design, com a professora e pesquisadora em arquitetura Clara
Miranda e professora e pesquisadora em moda Thais Graciotti. Entendemos que a partir
do estabelecimento de pontos em comum entre a arquitetura e o design consigamos
estabelecer pontos de encontro entre a arte e a arquitetura e, a arte e o design.
O segundo encontro do programa Roda de Conversa problematiza a produção crítica na
contemporaneidade na literatura e na arte. Os convidados Alexandre Moraes, professor
e pesquisador em Letras e a crítica e curadora Clarissa Diniz, trazem o debate sob a via
da construção de uma crítica que, abdicando do espaço privilegiado dos jornais diários,
passa a ser produzida para um público cada vez mais especializado, o público
acadêmico.
Compreendendo o caráter dinâmico e potente da arte contemporânea como um
agregador de campos, pensamos o MAES na Tela como uma possibilidade de
apresentação e discussão do cinema sob o viés da arte, seja na aproximação de um
contexto histórico ou do cinema como estratégia de produção dos artistas
contemporâneos. Para tal foram convidados o crítico de cinema Marcelo Miranda que
apresenta as aproximações do cinema godariano da década de 1960 com as questões do
campo da arte no mesmo período e, a artista multimídia e pesquisadora Raquel
Garbelotti que propõe, a partir do termo cinema de artista, discutir a apropriação dos
conceitos e técnicas do cinema pelos artistas.
Dentre as ações desenvolvidas merece destaque o atendimento ao público realizado
através do Maes para Todos, atividade que visa a discussão e elaboração de roteiros
para as especificidades dos públicos visitantes do Maes, dentre eles destacam-se:
turistas, família, melhor idade, escolares – divididos pela faixa etária . A elaboração dos
roteiros é realizada pelos mediadores do setor e buscam estabelecer um melhor canal de
comunicação entre o público e a obra. Ao anteciparmos as possíveis características
destes grupos, pretendemos estabelecer estratégias de fala para que a aproximação entre
o público e a exposição seja efetivada, sempre partindo do universo de referências do
visitante.
Bibliografia:
CHIARELLI, Tadeu. Grupo de Estudos de Curadoria. 1998-1999
CHAIMOVICH, Felipe. Grupo de Estudos de Curadoria. 1998-1999. Museu de Arte
Moderna de São Paulo. Grupo de estudos de curadoria do Museu de Arte Moderna de
São Paulo. São Paulo, SP. Museu de Arte Moderna de São Paulo. 2008.
VERGARA, Luiz Guilherme. Curadorias Educativas. Rio de Janeiro- Anais ANPAP,
1996. Disponível também em: < http://www.arte.unb.br/anpap/vergara.htm>.
Currículos
Ana Luiza de Oliveira Bringuente é Coordenadora do Setor de Arte-Educação do
Museu de Arte do Espírito Santo – Dionísio Del Santo desde 2008 e desenvolve com
parceiros a Curadoria Educativa das exposições recebidas pelo Maes.
Melina Almada Sarnaglia é mestranda em História e Teoria da Arte e crítica de arte.
Desenvolveu em parceria com Ana Luiza de Oliveira Bringuente a Curadoria Educativa
das exposições Edital 11 e Coleção de Márcio Pretti Espíndula.
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