A VERDADE QUE JESUS NÃO DISSE
Valdecir Lima
L
i outro dia uma citação, no mínimo, intrigante:
“Quando você busca a verdade, saiba muito bem o que está por trás desse
desejo.”
Faz sentido. Se partirmos do princípio bíblico que afirma que o coração do
homem é enganoso, compreenderemos que muitas vezes somos tentados a usar a verdade
unicamente para defender nossos interesses.
Certa vez Jesus foi convidado a participar de um banquete na casa de uma personalidade
importante. Simão, uma figura destacada na cidade ofereceu-Lhe o lugar de honra nessa
festa. Porém, algumas coisas não planejadas estavam por acontecer. Maria, sabendo que
Jesus muito breve iria ser crucificado, resolveu oferecer uma homenagem a esse homem a
quem aprendera a amar.
De uma forma não convencional, enquanto o banquete acontecia, Maria entrou naquela
sala. Em meio às pessoas e sob uma débil luz vê Jesus sentado à mesa e dirige-se a Ele.
Ignorando qualquer protocolo e movida por intenso motivo de gratidão e louvor, quebra
um vaso de perfume e derrama-o nos pés daquEle que a havia perdoado e devolvido a sua
dignidade. Gesto bonito, mas suspeito. Lavar os pés de alguém em público e enxugá-los
com os cabelos era atitude de mulheres levianas.
No outro lado da mesa, atônito, Simão assiste a tudo. Sente que aquela intrusa está
roubando a cena, atraindo a atenção do convidado de honra, e pior, Jesus não a repreende.
Essa mulher era desprezada socialmente e seu passado não a recomendava.
Simão dá asas à imaginação e sem entender bem o sentimento que o move, transfere a sua
amargura àquEle que é o centro de todas as atenções. “Se esse homem fosse profeta,
saberia quem é essa mulher”, conclui só para si. Simão tinha todo o direito de pensar
assim, ele sabia muito bem quem era ela, porque fora ele quem a induzira pela primeira
vez ao pecado.
Jesus, porém, percebe tudo o que está ocorrendo. Sente estar sendo alvo de uma maldosa
conspiração. Ele lê os sentimentos que embalam o coração de Simão, que enquanto Lhe
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honrava com uma festa ousava duvidar de Sua integridade. A imaginação doentia desse
homem hipócrita tinha que ser detida. Alguma coisa deveria ser feita.
Nesse instante, Jesus Se levanta e toma uma atitude.
─ Simão, tenho que lhe dizer algumas coisas.
Imagine a cena. Simão sabia que Jesus lia pensamentos e que sem dúvida o seu não fora
passado por alto. Sabia que Jesus conhecia toda a história e que o momento da verdade
havia chegado. Pagaria o preço de sua insensatez.
Jesus poderia muito bem haver dito toda a verdade sobre Simão. Poderia haver revelado
publicamente seu caráter, seus pensamentos obscuros. Estaria fazendo um bem a todos.
Ele poderia pedir que Maria se levantasse e contasse publicamente qual era a verdadeira
identidade daquele homem. E Maria diria a verdade, toda a verdade. Haveria assim,
chamado o pecado pelo próprio nome. Ficaria bem claro quem era quem naquela festa.
Mas não foi isso que Jesus fez. Jesus contou uma história que só Simão entendeu. Ele não
usou a verdade que estava a Sua disposição para acusar Simão, mesmo sabendo que essa
acusação seria legítima.
Jesus nunca usou a verdade como uma ferramenta para humilhar as pessoas, porque não
estava interessado em provar quem estava certo ou errado, Jesus estava interessado em
levar as pessoas para o Céu, e nesse caso, em levar Simão para o Céu.
Esse era o motivo que impulsionava as atitudes de Jesus. Por isso Ele Se misturava com
os indignos.
Vale repetir a frase:
“Quando você busca a verdade, saiba muito bem o que está por trás desse desejo”.
Os motivos são mais importantes do que os atos. Se estivermos interessados em ser
ferramentas nas mãos de Deus para levar pessoas aos Céus, moldaremos nossas palavras
de tal forma que não firam nossos semelhantes.
É baseado nesse conceito que podemos ter uma visão mais clara da afirmação bíblica que
diz: “Pelos seus frutos os conhecereis”. Sem dúvida, a Bíblia afirma que conhecemos as
pessoas pelos seus frutos; ela não diz que temos o direito de condenar as pessoas pelos
seus frutos. Nós as conhecemos para poder ajudá-las, amá-las, orar por elas e conduzi-las
aos pés daquEle que pode salvar.
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Maria Madalena poderia ser facilmente conhecida pelos seus frutos, e ninguém melhor do
que Jesus para distingui-los. Mas Jesus, o único que poderia julgá-la disse: “Eu não te
condeno, vai e não peque mais”.
Sempre é bom lembrar que quando Jesus proferia a verdade, Seus motivos eram os mais
puros e elevados. Ele proferia cada palavra com o peso de quem é capaz de suportar uma
cruz por amor da pessoa a quem repreendia. É daí que vinha a Sua autoridade.
“Jesus nunca suprimia da verdade uma palavra que fosse, mas sempre a proferia com
amor. Em Seu convívio com o povo exercia o maior tato, dispensando-lhes atenta e
bondosa consideração. Não era nunca rude; jamais pronunciava desnecessariamente uma
palavra severa; nunca motivava dores desnecessárias a uma alma sensível. Não censurava
as fraquezas humanas. Dizia a verdade, mas sempre com amor. Denunciava a hipocrisia,
a incredulidade e a injustiça; mas o pranto transparecia de sua voz quando proferia Suas
fulminantes repreensões”. (Caminho a Cristo, pág. 12)
Quando tivermos o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, teremos
alcançado um nível de excelência no relacionamento que não utilizaremos a verdade por
motivos encobertos, mas experimentaremos a autoridade que vem através do exercício do
amor.
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