ARTIGO: http://www2.planalto.gov.br/consea/comunicacao/artigos/brasil-agroecologico-econsciencia-planetaria
Brasil Agroecológico e consciência planetária
18/10/2013 às 11h22 (Blog do Planalto)
Selvino Heck*
Duas celebrações para entrarem na história. A primeira: os 70 anos de Pedro Ribeiro
de Oliveira foram uma celebração de dia inteiro, em 12 de outubro: cercado
de familiares, amigos/as, companheiras/os de décadas, no secular Sítio Tarumã em
Juiz de Fora, Minas Gerais, agroecológico, cheio de plantas e árvores, casa antiga
reformada, cercado de morros, flores e verde. Pedro é da Coordenação Nacional do
Movimento Fé e Política, fez parte do grupo de análise de conjuntura da CNBB,
animador de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), sociólogo, autor e organizador
de livros e coletâneas. Declamei poesia em sua homenagem, Amores e História 70x7: “Os rastros estão por todos os lados. / Tem as pegadas da luta pela democracia
na ditadura./ Há as reflexões dos grupos de base da Bíblia./ Há a Teologia da
Libertação/ e as Romarias de sua busca do Reino./ Há a fé e a política em
movimento,/ misturando sal e comida/ fermento e pão”.
A segunda: a celebração do lançamento do Plano Brasil Agroecológico, em 17
de outubro. A fala da presidenta Dilma foi agroecológica no método e no sentido.
Brincou com os delegados da 2ª Conferência de Desenvolvimento Rural
Sustentável e Solidário, com jovens emulheres. Leu e comentou cartazes,
brincando estarem escritos em letra pequena, que ela não conseguia ler. Incorporou
sugestões gritadas pelos presentes. Elogiou o Plano de Agroecologia e Produção
Orgânica (Planapo). Pessoas que trabalham com alimentos orgânicos faz tempo
diziam: “Nunca imaginei que chegaria o dia em que eu veria uma presidenta falando
de agroecologia”. O dia chegou.
Pedro Ribeiro aponta que “a consciência planetária é um fenômeno recente. Começa
a ganhar forma no final do século XX. Este tipo deconsciência é algo
novo e diferente no campo do pensamento, da cultura, da ciência e dos valores, o
que aponta para um novo paradigma da civilização ocidental.
A consciência planetária propõe uma relação de igualdade entre os humanos e a
totalidade de componentes do planeta Terra, e visa a repensar a relação entre o ser
humano e a natureza, e para isso torna-se necessário ir além da ciência produzida
pelo Ocidente, sem, contudo, menosprezá-la”.
Leonardo Boff, presente no aniversário do Pedro Ribeiro, observa
que “a consciência planetária é o efeito do processo histórico-social da
humanidade que se descobre como espécie que ocupa a única Casa Comum, o
planeta Terra. Dá-se conta que entre Terra eHumanidade não há separação. Possuem
a mesma origem e o mesmo destino. Daí nasce o sentimento
de pertença e deresponsabilidade pela sua preservação, de resgate de sua
integridade ameaçada”.
Elson Borges dos Santos, o Zumbi, produtor orgânico do Paraná e da Comissão
Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Cnapo), falou no lançamento
do Brasil Agroecológico: “Essa política traz em si uma intenção muito forte de fazer a
tão sonhada RevoluçãoBrasileira, e partindo do Campo: sem o uso de armas,
revolucionar por mudar a prática velha nos muitos ‘lugares’, e retomar rumos. Os bons
rumos que levarão muitos agricultores e camponeses a se libertarem da
produção envenenada e, logo, mortífera, tanto para suas famílias quanto para os
consumidores. Rumaremos firmes para a produção de alimentos sadios, que mereçam
o nome de alimento. Nósestamos pintando essa política. Assim, ela significa uma
grande obra de arte.
Aqui temos muitas cores, umas mais vermelhas, outras mais clarinhas. Nossa
vantagem é a nossa grande diversidade. Essa política traz uma
possibilidade de recivilizar. Aí me perguntam: Zumbi, mas um Plano Nacional
de Agroecologia tem esse poder? Sim, pode recivilizar com base na criatividade do
nosso povo brasileiro. Esta política está desafiada a fazer isso: uma relação
harmoniosa com as pessoas, com os bens e sua distribuição”.
Maria Verônica de Santana, do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do
Nordeste (MMTRN,) falando em nome da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA),
disse que “a agroecologia é um projeto, um sonho, uma utopia. E é uma realidade no
nosso país. É preciso unir nossos esforços em diversos segmentos da sociedade para
que se possa implementar um projeto sustentável de vida etrabalho, que respeite a
natureza, que conserve nossa biodiversidade, nosso patrimônio genético, que produza
alimentos saudáveis emescala suficiente para atender as necessidades da sociedade.
A agroecologia é um modo de produzir e se relacionar na agricultura
quese fundamenta também nos princípios da economia feminista de respeito ao nosso
protagonismo, à nossa autonomia e nos princípios de justiça,
igualdade e liberdade para as mulheres”.
No âmbito mundial crescem as demandas por sistemas produtivos
sustentáveis e produtos saudáveis. O valor da produção orgânica comercializada
passou de 20 para 60 bilhões de dólares e a área planta se expandiu de 15 para mais
de 35 milhões de hectares. NoBrasil ocorre a mesma coisa. O Censo Agropecuário
de 2006 identificou aproximadamente 90 mil estabelecimentos agropecuários
quese autodeclararam produtores de orgânicos, representando 1,5 milhão
de hectares. Em 2012 existiam 5.290 produtores orgânicos cadastrados no Ministério
da Agricultura e 11.063 unidades de produção controladas. Com
o Brasil Agroecológico, estes números vão duplicar ou triplicar em pouco tempo.
A presidenta Dilma falou: “Em todo mundo, e aqui o Zumbi mostrou isso, há uma coisa
que acontece: a consciência cada vez maior da importância da agroecologia, da
agricultura orgânica e do acesso e proteção, não só dos alimentos, mas também da
água. Isso é umaconsciência crescente no Planeta. Tem a ver com
aquela consciência que encontramos na Rio+20, que levou a gente a construir a frase:
é possível um país crescer, distribuir renda e incluir. E é possível que esse país seja
um país que conserva e protege o meio ambiente. Eagora eu vou pedir
licença e acrescentar uma palavra: é possível produzir com qualidade alimentos
orgânicos da agroecologia. Por isso, vamos trabalhando juntos, vamos lutar por uma
agricultura sustentável, vamos lutar por uma vida saudável e garantir que esse projeto,
oBrasil Agroecológico, seja uma conquista e uma vitória nossa”.
Escrevi no final do poema de homenagem a Pedro: “São setenta
de vida e sonhos./ E virão outros tantos,/ porque a vida continua,/ o tempo
também/ Especialmente os amores havidos,/ os amores chegados,/ os amores
futuros./ Amores duram a vida inteira,/ duram umaeternidade./ Amores são história,/
Amores são setenta vezes sete.”
Falou Zumbi sobre o Brasil Agroecológico: “Um Plano à altura do tempo e da nossa
luta em favor da vida”. E a belíssima frase da dona Inês, agricultora do Polo Sindical
da Serra Borborema, Paraíba, no seu linguajar nordestino, no vídeo mostrado no
lançamento do BrasilAgroecológico – Plano Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica: “Se a gente não ‘pranta’, o povo da cidade não janta”.
*Selvino Heck é assessor especial da Secretaria Geral da Presidência da
República e secretário executivo da Comissão Nacional
deAgroecologia e Produção Orgânica (Cnapo)
Download

Brasil Agroecológico e consciência planetária