É POSSÍVEL DEFINIR O COMPORTAMENTO DE USUÁRIOS DE BLOGS
PEDAGÓGICOS?
Williany Miranda da Silva (UFCG)
[email protected]
Rhávila Rachel G. Alves (UFCG)
[email protected]
Ao tomarmos o blog como ferramenta pedagógica, que complementa as atividades realizadas em aulas
presenciais, da disciplina de Leitura e Produção de texto, da Universidade Federal de Campina Grande,
orientamo-nos pela seguinte questão-problema: Qual o comportamento leitor/escritor dos freqüentadores
do blog? Nosso objetivo é identificar e caracterizar os diversos usuários freqüentadores do “Espaço
Interativo para Atividade Didático Pedagógica” (http://www.plptii2008.blogspot.com/), ressaltando as
estratégias de leitura e de escrita utilizadas por eles, enquanto leitores/produtores, durante a vida útil deste
ciberespaço. A metodologia desenvolvida para a realização desse trabalho é de cunho descritivointerpretativo, em que buscamos avaliar práticas e comportamentos de leitores usuários do ambiente
destinado à sistematização de práticas de leitura e de escrita com finalidade educativa. Para a reflexão
sobre os usos da tecnologia digital, utilizamo-nos de autores como Levy (2008), Marcuschi (2007) e
Xavier (2004); além de Chartier (1999), Koch & Elias (2009) e Rojo (2009), dentre outros, para as
concepções de leitura e de escrita. Esses autores impulsionam para uma compreensão de que as atividades
de leitura e escrita nesse ambiente são de natureza maleável, multidimensional, plurilinear, multifocal e
interativa; e, portanto, exigem leitores interativos e dinâmicos para um maior direcionamento útil no
ambiente em destaque. Nossos dados revelam usuários cujo comportamento de leitor/autor limita-se à
extração de informações ou de postagem de textos, implicando no comportamento de leitor bastante
aquém do exigido na maior parte dos ambientes virtuais, cujo trajeto de interpretabilidade deve ficar por
conta do usuário.
PALAVRAS-CHAVE: Blog. Leitura. Escrita.
1. Introdução
Não existem dúvidas de que a cibernética tem provocado inúmeras
modificações em nossa sociedade. Podemos afirmar que estas mudanças estão alterando
as relações de tempo e espaço da comunicação, conforme Belmiro (2006) aponta ao
tratar de tempo digital: “o tempo local se tornou política e economicamente menos
importante que o tempo mundial”, tendo em vista, que com a internet a distância entre
os indivíduos se tornou irrelevante. E desta forma, as tecnologias de informação e
comunicação estão indicando inovações na maneira de conviver das pessoas, o que
exige algumas mudanças no processo educacional, pois as instituições de ensino não
podem desprezar a evolução tecnológica nem as transformações sucedidas na sociedade.
Com respeito a isso, Tavares (2009, p. 138) afirma que:
Tais constatações nos inquietam, como professores de língua portuguesa, e
nos fazem pensar de que maneira essas novas práticas sociais, oriundas da
popularização da informática e do computador, afetam o homem moderno,
principalmente no âmbito da leitura [e porque não dizer, da escrita também]
(...). E, consequentemente, afetam a escola que, como importante agência de
letramento, tem o dever de ensinar as novas gerações a ler [e escrever] nessa
nova realidade.
(TAVARES, 2009, p. 138 [grifos nossos])
Sendo assim, ousamos afirmar que uma inovação no processo educacional
seria a utilização de blogs como uma ferramenta pedagógica que complementa as
atividades de sala de aula. A pesquisa que estamos realizando, envolve o blog
intitulado:
“Espaço
interativo
para
atividade
didático
pedagógica”
(http://plptii2008.blogspot.com/), com o objetivo de identificar e caracterizar os
diversos usuários frequentadores desse blog, ressaltando as estratégias de leitura e de
escrita utilizadas por eles, enquanto leitores/produtores, durante a vida útil deste
ciberespaço. A questão-problema que orientou as reflexões ora apresentadas neste artigo
é a seguinte: Qual o comportamento leitor/escritor dos frequentadores do blog? Uma
possivel aferição desse comportamento implica uma caracterização do modo de
interação com os sujeitos envolvidos.
A possibilidade de reconhecer a maioria dos sujeitos foi facilitada pela esfera
escolar em comum (alunos do curso de Letras da UFCG, a partir de 2008). Esse contato
foi a estrátegia inicial para que confirmássemos nossa hipótese de trabalho: novas
características de produção e leitura desses sujeitos seriam reconhecidas a partir de
práticas letradas e comportamentos leitores vivenciados no espaço virtual de
legitimação da produção escrita.
Para a apreciação dos dados coletados, a fim de atender aos objetivos expostos,
fundamentamo-nos teoricamente em autores como: Levy (2008), Marcuschi (2007) e
Xavier (2004), para a reflexão sobre os usos da tecnologia digital; como também aos
estudos de Chartier (1999), Koch & Elias (2009) e Rojo (2009), dentre outros, para as
concepções de leitura e de escrita.
2. Fundamentação teórica
2.1
Advento das novas tecnologias
As tecnologias de informação e comunicação possibilitaram a criação de novos
meios de publicações de textos, sem existência física e com novas peculiaridades de
produção, acesso e leitura (RIBEIRO, 2007) denominados hipertextos. Estes são
entendidos como sendo uma organização enunciativa não-linear, divulgada por
intermédio da mídia digital, que reune informações verbais, não-verbais e sonoras e que
admite uma leitura completamente singular e multissemiótica, além de possibilitar
acesso rápido a uma infinidades de textos, na qual o leitor pode interagir com o autor
e/ou alterar o texto (PINHEIRO: 2005, 135) .
De acordo com Levy (1993) o hipertexto
é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras,
páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, sequências sonoras,
documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de
informação não são ligados linearmente, como em uma corda com nós, mas
cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de modo
reticular. Navegar em um hipertexto significa portanto desenhar um percurso
em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó
pode, por sua vez, conter uma rede inteira (LÉVY: 1993, p. 33).
Assim, o hipertexto é um dipositivo material e intelectual, que possibilita acessar
outros hipertextos que transitam na internet, por meio de links nele sumarizados,
produzindo estruturas textuais que são atualizadas pelas práticas e pela história
particular de cada leitor. O hipertexto não é um “suporte material ou um único texto,
mas uma prática multimodal que envolve os processos de escrita e de leitura atualizados
na tela do computador” (KOMESU: 2005, p. 98). Pode-se afirmar que a mudança do
suporte impresso para o suporte eletrônico refletiu na maneira de ler e escrever das
pessoas, embora possam reconhecer características do suporte antigo no novo e, dessa
maneira, consolidarem novas práticas para a compreensão do texto, envolvendo não só
o texto em si (material com o qual o leitor vai lidar (gênero, suporte)), mas “suas
características [...], a situação de comunicação, os objetivos de leitura, o conhecimento
do leitor sobre o assunto, sua familiaridade com o gênero, o suporte, o assunto e a
tarefa, seu interesse e motivação, entre outros” (COSCARELLI: 2005, p. 123).
É interessante ressaltar que cabe aos professores a função de ensinar estratégias
de escrita e leitura para que haja o entendimento em hipertextos, com o intuito de que
seus alunos detenham o sentido de sua leitura, conforme reforça a citação que segue:
Ao interagir com hipertextos, é necessário que eles [os alunos] desenvolvam
habilidades e competências requeridas para esse modo de enunciação digital,
como selecionar e filtrar o conhecimento, estabelecer as relações entre
diversos fragmentos dos hipertextos etc.
(PINHEIRO, cit. Op. [grifos nossos]).
Para tanto, consideramos o blog como um recurso pedagógico que apresenta
muitas possibilidades para o desenvolvimento da escrita e da leitura, ampliando tanto a
capacidade argumentativa e a análise crítica quanto o leque de informações advindas da
leitura de temas e gêneros variados.
2.1.1 Blog: Definição e uso como ferramenta
Hewitt (2007, p. 9) afirma que blog “é a contradição da expressão inglesa
weblog. [Em que, web representa a rede mundial de computadores e] log significa
diário, como diário de um capitão de navio. Weblog, portanto, é uma espécie de diário
mantido na internet por um ou mais autores regulares.” Do ponto de vista formal, o blog
mostra-se como uma página na web, em que se mantém um conjunto de textos
acessiveis para leitura por intermédio de um navegador e que pode abranger uma ou
mais páginas da WWW (World Wide Web/ Rede Mundial de Computadores).
É importante ressaltar que o blog é uma ferramenta de divulgação de
informações, por meio da internet, que também admite comunicação de modo
assíncrono, ou seja, os usuários não necessitam estarem em conexão on-line, antes a
interação acontece via recados e comentários, em que entre a remessa da mensagens e a
sua resposta pode ocorrer uma discrepância de dias, semanas ou meses.
A esse respeito, Macêdo e Serafim apontam que o blog é caracterizado pela
“facilidade de criação, edição e publicação [de textos], podendo assim, ser
utilizado como um espaço virtual para [a] escrita onde todos podem interagir,
trocar informações, enfim, um verdadeiro ambiente colaborativo de produção
de conhecimento.”
(MACÊDO & SERAFIM, p. 5 [grifos nossos])
Assim, é possível pensar na utilização de blogs na educação, tendo em vista que
são ambientes dinâmicos, fáceis de manipular, além de ser uma ferramenta que
potencializa “o espaço de autoria e autonomia” dos educadores e educandos. Hoff
(2004) afirma que o blog é um instrumento educacional, em um meio “que combina
auto-aprendizagem e um nível substancial de interatividade, [enfatizando] a importância
do processo colaborativo aí desencadeado para a efetiva aprendizagem” (p. 132).
Portanto defendemos que o blog como suporte complementar às atividades
realizadas em sala de aula é um método eficaz para o desenvolvimento de
procedimentos de auto-reflexão critica, estimulados pela atividade consciente da escita,
leitura e re-escritura (HOFF, 2004).
Nesse mesmo sentido, Hoff afirma ainda que
Parece favorecer um tipo de prática discursiva (Fairclough, 1992) em que o
sujeito, consciente do próprio discurso como ação no/sobre o mundo, e não
mera reação inconsciente, fruto das relações de poder socialmente instituídas,
des-cobre o sentido de suas ações no confroto do diálogo consigo mesmo e
com o outro (Bakhtin, 2002), conquistando, assim, sua emancipação.
(HOFF: 2004, 133)
Pois para Bakhtin, as práticas sociais de comunicação envolvem a influência que
a “palavra do outro” tem sobre a “palavra pessoal”, neste caso, percebe-se que o
percurso utilizado por esse autor para explicar a construção da linguagem parte do
social para o individual. Deste modo, a linguagem é vista como produto sócio-histórico,
ou seja, como forma de interação social desempenhada por intermédio de enunciações.
2.2 Utilizando a Leitura e Escrita
Nesta perspectiva, para compreender a construção do conhecimento e da
linguagem, é necessário observarmos a concepção sociointeracionista de escrita e
leitura, que segundo Bronckart (1999) a linguagem é vista como “uma característica da
atividade social humana, cuja função maior é de ordem comunicativa ou pragmática” (p.
34).
Para Koch & Elias (2009) “na concepção interacionita (dialógica) da língua,
tanto aquele que escreve como aquele para quem se escreve são vistos como
atores/construtores sociais e interacionais (Beaugrande, 1997) (p. 34).” Dessa maneira, a
escrita e a leitura são atividades que requerem da parte de quem escreve e de quem ler o
uso de alguma estratégias, a saber:
Ativação de conhecimento sobre os componentes da situação comunicativa;
Seleção, organização e desenvolvimento das ideias, de modo a garantir a
continuidade do tema e sua progressão; ‘balanceamento’ entre informações
explícitas e implicitas; entre informações ‘novas’ e ‘dadas’, levando em conta
compartilhamento de informações com o leitor e o objeto da escrita; Revisão
da escrita ao longo de todos o processo guiada pelo objeto da produção e pela
interação que o escritor pretende estabelecer com o leitor. [Referentes a
escita].
(KOCH & ELIAS: 2009, p. 34).
Ativação de conhecimentos prévias na leitura; Postulação de objetivos de
leitura; [E compreensão de] uma rede de relações sintáticas, lexicais,
semânticas, pragmáticas, a nivel de sentença, período, parágrafo, relações
estas que tornam o objeto [de leitura] rico demais para uma percepção rápida,
imediata e total. [Referentes a leitura].
(KLEIMAN: 1995, p. 10-11 [grifos nossos]).
Entendemos, portanto, a escrita como um exercício de produção textual que se
executa com apoio nos elementos linguísticos e na sua maneira de organização, porém
solicita, no cerne do evento comunicativo, a mobilização de um “conjunto de
conhecimentos do escritor, o que inclui também o que esse pressupõe ser do
conhecimento do leitor ou do que é compartilhado por ambos” (KOCH & ELIAS: 2009,
p. 35). E no que se refere a leitura, percebemos que, para que haja a compreensão de um
texto, fez-se necessário a interação de diversos níveis de conhecimentos, como o
linguístico, o textual e o de mundo (KLEIMAN: 1995).
Assim, convém assimilar que o incentivo à leitura e à escrita, por meio da
utilização de blogs pedagógicos, colabora para melhorar o nível de letramento dos
usuários desse suporte de publicação, no sentido de ajudá-los numa leitura crítica do seu
entorno (REIS, 2009).
Para Ribeiro (2007, p.135) melhorar o nível de letramento refere-se a tornar o
leitor um “manipulador de textos e suportes”, considerando que este deve ganhar a
flexibilidade para manusear todos os gêneros, “de maneira que não tenha a sensação de
completo estranhamento quando tiver contado com novas possibilidades de texto ou de
suporte”. Pode-se constatar que em um blog os colaboradores podem ser expostos aos
mais variados gêneros, sem falar, que podem interagir tanto entre as atividades, por
meio de comentários, quanto entre os sujeitos, já que este suporte possui utensílios em
que os usuários podem se comunicar por meio de mensagens.
3. Procedimentos Metodológicos
Os tópicos, que seguem, dizem respeito à natureza desenvolvida para a
realização de pesquisa, descrição do ambiente de coleta, identificação dos
frequentadores do blog, bem como a sistematização dos dados, finalizando com a
indicação de categorias a serem interpretadas na análise.
3.1
Natureza da pesquisa
Para atendermos aos objetivos propostos no presente trabalho, desenvolvemos
um estudo de natureza qualitativa-quantitativa do tipo descritivo-interpretativista, ou
seja, usamos a coleta e a análise de dados para responder a questão-problema que
orientou a experiência em sala de aula, valendo-nos de medições numéricas, bem como,
descrevemos e interpretamos o fenômeno da blogosfera no que se refere aos
procedimentos de leitura e escrita dos sujeitos envolvidos no ambiente virtual. Para
tanto, serviram de instrumentos de coleta de dados: identificação de atividades postadas
no blog e entrevistas aos sujeitos envolvidos nas respectivas atividades.
3.2
Descrição do ciberespaço
A observação e avaliação do perfil dos sujeitos envolvidos foi possível a partir
do acesso ao blog denominado: “Espaço interativo para atividade didático pedagógica”
(http://plptii2008.blogspot.com/), em que constatamos várias postagens e comentários,
produzidos, na maioria das vezes, por alunos ou ex-alunos das disciplinas Prática de
leitura e produção de texto I e II, da Universidade Federal de Campina Grande, sob
orientação da professora da disciplina, que construiu este blog, em 2008, com o intuito
de servir como suporte para as aulas presenciais das disciplinas citadas.
A caracterização do espaço como pedagógico deve-se às infinitas possibilidades
que o blog proporciona para a interação do conhecimento pelos alunos, tendo em vista
que a “flexibilidade, interconectividade, diversidade, variedade e contextualização no
mundo das relações sociais e de interesses dos envolvidos no processo de
aprendizagem” cooperaram para um novo fazer educativo (LITTO apud TAVARES,
2009, p. 145 [grifos nossos]). Nesse caso, blog é tido como um ambiente onde os alunos
podem fortalecer e/ou reorganizar o conhecimento através da troca de experiências e
informações. Para uma melhor apreciação, vejamos a sua configuração na rede em julho
de 2011:
Conforme podemos observar a home page (página inicial) é composta por um
contador de visitas1, um tradutor2, além do arquivo do blog3, de indicações de sites e de
um espaço para recados em que os leitores podem postar comentários rápidos e de
ordem diversa, sem vínculo com uma postagem específica. Durante a exposição dessa
pagina inicial, consta no blog treze marcadores, também denominados links dinâmicos,
que podem ser acrescidos, decrescidos ou modificados ao longo de sua vida útil; cuja
função é abrigar um conjunto de atividades desenvolvidas para atender interesses
variados, desde o aspecto acadêmico ao cultural. Com relação ao primeiro, são
dedicados dez marcadores em que se postam: Análise de atividades propostas pelo
Livro Didático, artigo de opinião, atividades aplicadas, ensaios, resenhas de filmes e de
livros, resumos, seminários etc. Outra peculiaridade, é o quadro que expõe os nomes e
fotos dos 48 seguidores, dentre os quais alguns são autores de textos publicados.
1
Espaço que indica o número e o local de onde acorreu o acesso ao blog.
Este gadget tem a função de traduzir os textos do blog, que estão em português para o: Alemão, chinês,
espanhol, francês, italiano, inglês, japonês e russo.
3
Área que conserva as postagens antigas por meio de datas.
2
3.3
Sujeitos participantes de blogs: Natureza e função
Para esse tópico, desenvolvemos dois encaminhamentos. No primeiro,
realizamos um levantamento dos sujeitos que estão envolvidos nas atividades do blog
(quadro 1) e os relacionamos às suas respectivas funções; dentre as quais podemos
destacar: seguidores4, administradores5, autores6, comentadores7 e participantes8, pois
cooperam para a interatividade desse espaço de publicação.
Colaboradores
Quantidades
Características
Administradores
2
Sujeitos estáticos - garantem a
existência do blog.
Seguidores
Autores
Comentadores
Participantes
48
29
12
12
Sujeitos dinâmicos – participam,
popularizam e legitimam o blog.
Quadro 1: Levantamento dos sujeitos colaboradores do blog.
No Quadro 1 observa-se que os colaboradores do blog estão divididos em dois
grupos de acordo com características que lhes são intrínsecas no espaço: Sujeitos
estáticos (administradores) e sujeitos dinâmicos (seguidores, autores, comentadores e
participantes). Estes sujeitos colaboram de forma diferenciada; pois autores e
administradores são assenciais para a existência do ambiente, enquanto seguidores são
essenciais para legitimar a popularidade; uma vez que sua presença é comprometida por
um espaço de visualização em que se divulga o perfil, e até outros blogs que os mesmos
participam. Já os demais, comentadores e participantes, embora caracterizados como
sujeitos dinâmicos, não possuem uma presença tão essencial quanto os citados
anteriormente; pois podem se configurar por uma participação efêmera e pouco
colborativa no que se refere à manutenção da temática do blog.
O outro encaminhamento trata das características dinâmicas que apresentam os
comentadores e autores do blog em análise. Nesse caso, tais sujeitos apresentam
postagens que nos possibilita apreciar seus comportamentos leitores e escritores.
3.4
Sistematização dos dados: atuação dos sujeitos e entrevistas
3.4.1. A atuação dos sujeitos
A sistematização foi evidenciada pela atuação dos sujeitos de
acordo com a sua participação no marcador: Identificamos para os
individuos que tem seus textos publicados com o símbolo An, em que A
é identificado como autor e n a variável que utilizamos para diferenciar
os sujeitos; já os que comentam nos textos dos colegas são reconhecidos
pelo símbolo Cn, C para comentador e n é a diversidade de sujeitos que
4
Sujeitos que seguem publicamente o blog, porém ser seguidor não é sinônimo de participação ativa nas
postagens nem nos espaços destinados a interação entre os usuários do blog.
5
Sujeitos responsáveis pela organização desse ambiente virtual; isto é, postagens, design, moderação de
comentários, acrescimo de gadget etc.
6
Sujeitos que publicaram textos no blog.
7
Leitor que, ao interpretar o texto do outro, tece comentários.
8
Sujeitos que postaram recados com sugestões, observações e criticas ao blog.
realizam comentários; e por fim, os sujeitos que postam e comentam,
denominados de ACn, em que AC representa os autores-comentádores e
n é a variável que distingue os usuários, como demostramos no quadro 2,
que segue:
Grupos
Caracteristicas
Postador (número 1, 2, 3, ... , n)
Pn
Comentador (número 1, 2, 3, ... , n)
Cn
Postador e Comentador (número 1, 2, 3, ... , n)
PCn
Quadro 2: Sistematização dos sujeitos colaboradores do blog
Ao agruparmos os sujeitos que apresentam características em
comum, pudemos utilizá-los na transcrição dos dados, organizando-os de
forma a manter o seu sigilo.
3.4.2. A entrevista
Além dos textos presentes no blog, também compõem os dados
para a análise em questão, 16 entrevistas, gravadas em áudio, realizadas
com sujeitos autores e comentadores, aos quais fizemos 5 perguntas
semi-estruturadas, com o intuito de averiguarmos as experiências e
contribuições que adquiriram a partir do contato com este espaço
pedagógico. Estas questionavam sobre como os sujeitos acessaram o
ciberespaço criado na disciplina, a apreciação dos marcadores, impressão
pessoal como autor e comentador ou ambos; além de explícitação das
contribuições a vida acadêmica e pessoal, e sugestão para mais
interatividades no ambiente de postagem.
A leitura das respostas possibilitou um conjunto de dados que, reunidos à
observação dos textos e comentários publicados, permitiu delimitar as cetegorias de
análise, conforme o quadro 3 sintetiza:
Características
Sujeitos que possuem
textos publicados no
blog.
Sujeitos que apenas
comentam textos que
foram postados no
blog.
Sujeitos que postaram
textos e comentários
no blog.
Tipos de
leitores/escritores
Quantidade
Leitor / autor
8
Leitor / comentador
6
Leitor / interativo
2
Quadro 3: Caracterização dos sujeitos em função do comportamento no Blog.
O quadro 3 “Caracterização dos sujeitos em função do comportamento no
Blog” expõe a demarcação de três categorias de sujeitos oriundas da diversidade
comportamental dos usuários como: Leitor/autor, leitor/comentador e
leitor/interativo. A primeira refere-se aos usuários que publicaram textos produzidos
em situação presencial escolar; a segunda aplica-se a sujeitos que atribuíram sentido aos
textos postados, por intermédio de comentários em situação virtual ou eventualmente
propagandeados pelos próprios autores; e a terceira se relaciona a indivíduos que
postaram textos de sua autoria e comentaram textos de colegas numa evidente situação
de práticas múltiplas de letramento, desde a escolar passando pela digital além de
outras. Tendo em vista o maior índice de participação dos sujeitos configurarem-se na
primeira categorização, restringimo-nos à apreciação, para esse trabalho, do
comportamento dos sujeitos que atuam como leitores e autores simultaneamente.
4. Análise de dados
Percebe-se que a utilização do blog, como suporte complementar para as
atividades de sala de aula, modificou as estratégias de leitura e escrita dos alunos, pois a
pluritextualidade, deste suporte, viabiliza a utilização de diferentes aportes
significativos numa mesma face de leitura, tais como palavras, animações, efeitos
sonoros, imagens, diagramas e tabelas. Deste modo, o ato de ler e escrever se realiza
com amplitude, pois a convergência dessas interfases comunicacionais beneficiará o
usuário, tendo em vista que, todas elas colaboram para que o leitor consiga a
compreensão (XAVIER, 2004).
(a) Sujeitos que possuem textos publicados no blog: Leitor/autor
O comportamento leitor/autor refere-se aos usuários que publicaram textos no
blog, e que o acessam com o intuito de extrair informações que servirão de auxilio
para a vida acadêmica e/ou pessoal. Tal fato é perceptível pelas respostas que A4,
A5 e A8, apresentaram na entrevista, quando indagados sobre quais marcadores
costumam acessar, por quê e quais as contribuições do blog para a vida acadêmica,
conforme explicitado no exemplo 1:
Exemplo 1:
[p4] Geralmente as resenhas... porque:: eu gostava de saber sobre outros filmes ou alguns
livros que... é:: eram comentados...
[p5] Faz um certo tempo que eu olhei... mas quando olhei foi resenha de livro e de filme...
se eu não me engano... é o que mais me enteressa... resenha e:::... [e o blog] foi um tiradúvida meu... um tira-dúvida... eu/eu recorrir:: ao blog diversas vezes... quando cursando a
disciplina de PLPT II... e:: hoje em dia olho para ver as publicações dos meus conhecidos
da área de Letras [grifos nossos]
[p8] Foi mais pra titulo de informação porque assim... no blog tinha textos d/de:: outros
alunos e de várias temáticas então a gente podia se basear... tirar algumas dúvidas no
decorrer da produção dos nossos textos... fazendo uma comparação com os que estavam
lá... porque se eles estavam lá... já tinham passado pela orientaÇÃO:: da professora então...
né? A gente pode ter dado como modelo.
A comparação entre as manifestações linguísticas do exemplo 1 deixa
evidente que os leitores/autores procuram auxilios nos textos que estam publicados
no blog, por se identificarem pessoalmente com os marcadores que auxiliam na
prática escolar, seja quanto ao gênero práticado (resumo, resenha, ensaio, artigo de
opinião, seminários etc), seja quanto à temática explorada. Tendo em vista que os
leitores/autores preocupam-se em conhecer os gêneros, as regras gramaticais da
língua e ter um bom vocabúlario para que possam produzir um texto em ambiente
escolar para ser postado no espaço virtual.
Observamos também que tais usuários, embora tenham alcançado à inserção
de um post no blog, realizam uma leitura oriunda tipicamente do letramento escolar
(KLEIMAN, 1995), em que vão ao texto apenas para extrair normas e informações,
como se o texto fosse repleto de pepitas e o leitor fosse o minerador, que precisa
tirar todas as riquezas do texto (LEFFA, 1996).
Aparentemente os autores apresentam a postura ideal para a manutenção do
blog, pois atingiram a titulação de postador de textos veiculados por um espaço
virtual, e desta maneita, vêem-se como “realizantes” de uma atividade almejada
pelos demais alunos, ou seja, vêem-se como materializantes de práticas letradas
múltiplas, que conforme Street (2003: 77) citado por Rojo (2009: 102), “variam no
tempo e no espaço”.
Neste sentido, o blog representa o meio pelo qual os letramentos das culturas
locais entram em contato com os letramentos universais, tendo em vista que quando
A5 publica uma resenha no blog sobre determinado livro, se posicionando sobre os
pontos que o autor da obra aborda, A5 também está divulgando o letramento
cultural local.
Entretanto, os leitores/autores não desvinculam a atividade de publicação no
blog da prática escolar, que está subjacente à percepção de letramento dominante na
sociedade, que Street (1984), citado por Kleiman (op. Cit.), denomina de modelo
autônomo, que caracteriza a escrita como um produto complexo em si mesmo, em
que não necessita do contexto de sua produção para ser interpretado. É por esse
motivo que quase todos os alunos/autores mostraram-se surpressos com a
possibilidade de ter seu texto postado no blog, pois acharam que não iriam
conseguir alcançar todas as regras preconizadas na gramática e/ou passar pelo
critério de correção da professora; conforme explicitado no exemplo 2:
Exemplo 2:
[p4] primeiro eu fiquei adimirada de:: ela ter escolhido o meu texto pra colocar.
[p5] (...) o texto da pessoa num fik/ não cai no esquecimento né? E:: se:: ele foi aprovado e
se ele foi no blog de tamanha importancia para os alunos de Letras é porque... tem os
méritos do autor e também... de quem corrigiu.
[p7] fiquei bem contente quando a professora é:: de senta forma é:: pediu que postasse...
achasse interessante.
Percebe-se uma concepção de escrita enquanto atividade, dominada por uns, e
não por todos, e que o espaço é também um local para se expressar o desejo de se ter
esse domínio, pois ao mesmo tempo em que há elogios ao texto do outro, também se
utiliza deste como um modelo de escrita que pode auxiliar em sua prática acadêmica.
Desloca-se, pois, a perspectiva de que o texto é visto não apenas como resultado
de um produto, com mecanismos cognitivos isolados, mas como um processo,
resultante dos processos cognitivos (MEURER, 1993) e de um processo sóciointerativo, vinculado a uma prática social situada e a uma base de orientação para que
a comunicação se efetive (BRONCKART, 1999, 2008).
Considerações Finais
Neste artigo, constatamos que o homem é instigado a ler e escrever, utilizando e
adaptando-se às novas tecnologias de informação e comunicação. Assim, as instituições
de ensino são motivadas a responder aos desafios impostos por essa prática de
letramento (letramento digital), tornando os alunos aptos a ler, escrever e navegar no
espaço cibernético, satisfazendo as necessidades das novas tecnologias (TAVARES,
2009). Constatamos também que os blogs pedagógicos podem funcionar como suporte
de ensino e aprendizagem do conteúdo disciplinar entrecruzado com outras práticas
letradas necessárias à formação de um leitor crítico de modo desafiador, e, nem por isso
menos eficiente.
O comportamento leitor/escritor dos frequentadores do blog evidenciado no
decorrer de nossa análise possibilita a caracterização dos leitores/autores como os
sujeitos que publicaram textos no ciberespaço produzidos em situação presencial
escolar.
Tendo em vista que se trata de um resultado parcial, as demais caracterizações
que se referem ao comportamento dos sujeitos que atuam no blog como
leitor/comentador e leitor/interativo serão retomadas e que, mesmo não tendo a
frequência dos sujeitos que atuam como leitor/autor são também responsáveis pela
interação e manutenção da vida útil do blog.
Referências Bibliográficas
• BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
• BRONCKART, J.-P. Atividades de linguagem, discursos e textos. São Paulo:
EDUC, [1996] 1999.
• ______________. O agir nos discursos: das concepções teóricas às concepções
dos trabalhadores. Campinas, Mercado de Letras, 2008.
• BRONCKART, Jean Paul. Quadro e questionamento epistemológicos. In.:
_______ Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo
sócio-discursivo. São Paulo: EDUC, 1999.
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Williany Miranda da Silva