inovação
CRESCIMENTO,
para ser
contínuo,
tem de ser
sustentável
© iQoncept / Photoxpress
Frederico Porto*
N
este artigo, vou abordar
a ideia de que empresas,
devido à sua complexidade, podem ser percebidas como
seres vivos e, a partir de então,
tecerei algumas considerações.
Para ser considerado vivo, um
ser tem de ter uma identidade
— ou seja, algo que o diferencie de outro ou do meio externo —, percepção e capacidade
de adaptação, a partir das informações adquiridas pela percepção. Ele faz isso de maneira
auto-organizadora, ou seja, há
um processo vital que mantém
continuamente a sua identidade
— isso é a vida. Uma célula mantém continuamente a sua forma
através do seu DNA via produção
de proteínas, ao mesmo tempo
em que o DNA é o código para a
proteína. Ele é feito da própria
proteína para a qual ele fornece
o código, um processo autossustentável, ou autopoético.
Resumindo: uma célula, como
qualquer outro ser vivo, vive em
um contínuo entre a autonomia,
defendendo sua identidade através de sua membrana, e a adaptação, ou dependência, ajustando-se ao meio à sua volta. Se
ela se “adaptar” demais, perde
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sua identidade e morre; o mesmo
acontece se focar somente na autonomia, pois, nesse caso, ela se
desconecta do meio onde está.
Considerando a empresa como
um ser vivo, ela também morre.
Aliás, segundo Arie de Geus, se
compararmos o fato de que uma
empresa multinacional tem uma
expectativa de vida média de 50
anos, enquanto no mundo há empresas com mais de 500 anos, a
organização empresarial se torna
o ser com maior potencial de longevidade e com menor expectativa, ou seja, está morrendo muito
mais cedo do que poderia.
Quando olhamos uma empresa,
com sua identidade, percepção e
capacidade adaptativa, podemos
nos perguntar o que somos nesse
processo. A resposta é que somos
os sensores e processadores das
tensões que surgem tanto dentro
da empresa quanto na relação
dela com o meio externo. Essas
tensões são parte de qualquer
processo evolutivo. Como cada
pessoa é um sensor diferente,
não dar ouvidos a vozes discordantes em uma empresa seria
o mesmo que focar somente no
que seus olhos vissem e ignorar o
que seus ouvidos ouvem, ou vice-versa. É fundamental atentarmos para os diversos sensores de
uma organização.
Segundo Clayton Christensen,
somente 10% das empresas conseguem manter um crescimento
contínuo. E o pior: após um ano
de crescimento excepcional, elas
têm uma queda. Difícil, nesse
caso, é culpar a qualidade da gerência, pois, para isso, haveria
que se considerar que 90% deles
estão abaixo da média. Talvez
você me diga que é isso mesmo,
a média não é o suficiente, mas
eu lhe digo: se você estiver precisando de gênios para cuidar de
um sistema, o seu sistema é que
tem problema. Gênios sempre
foram, são e sempre serão raridades.
Voltando à metáfora do ser vivo,
o que cresce sem parar é câncer,
uma célula que se desconecta
do meio e quer extrair o máximo
que puder deste meio, e acaba
matando o corpo do qual faz parte. Perseguir o crescimento de
maneira errada é tão ruim quanto manter-se estagnado: seria
como matar sua galinha dos ovos
de ouro, abrindo a barriga dela
para tirar os ovos.
© iQoncept / Photoxpress
Para terminar, eu pergunto a
você, gestor: você tem dado ouvidos aos sensores de sua empresa,
especialmente para aqueles que
trazem notícias ruins, as quais
tendemos a negar? Está cuidando da saúde da organização? Está
atento a possíveis células cancerígenas que estão se tornando
autônomas demais e absorvendo
muitos recursos, em detrimento
do sistema? Somente com muita
atenção a esses aspectos sua organização poderá ter uma vida
longa e próspera. 
*Médico psiquiatra, nutrólogo,
professor, coach e consultor de
empresas
www.fredericoporto.com.br
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