Exemplos:
A frieza do olhar
A lua nova é o sorriso do céu.
AULA 01: CONCEITO DE LITERATURA: a arte da palavra
linguagem e recursos expressivos do texto literário.
Funções da Literatura:
Sabemos que o reino das palavras é farto. Elas brotam de nosso
pensamento de maneira natural, não temos a preocupação de
elaborar o que dizemos ou até mesmo escrevemos. As palavras,
contudo, podem ultrapassar seus limites de significação. Podendo
assim, conquistar novos espaços e passar novas possibilidades de
perceber a realidade.
O caminho que a literatura percorre é este. O artista sente,
escolhe e manipula as palavras, as organiza para que produzam um
efeito que vá além da sua significação objetiva, procurando
aproxima-las do imaginário. A obra do escritor é fruto de sua
imaginação, embora seja baseado em elementos reais. Da
concretização desse trabalho surge então a obra literária. Dotado de
uma percepção aguçada, o escritor capta a realidade através de
seus sentimentos. Explora as possibilidades linguísticas e as
manipula
no
nível
semântico,
fonético
e
sintático.
A literatura é uma manifestação artística. E difere das demais pela
maneira como se expressa, sua matéria-prima é a palavra, a
linguagem. O texto literário se caracteriza pelo predomínio da
função poética.
Um dos mais antigos textos sobre o conceito de Literatura é a
Poética, de Aristóteles (que inaugurou a longa série de estudos).
Nesse texto, o filósofo grego afirma que "arte é imitação (mímesis
em grego)". E justifica: "o imitar é congênito no homem (e nisso
difere dos outros viventes, pois de todos, é ele o mais imitador e,
por imitação, apreende as primeiras lições), e os homens se
comprazem no imitado". O que ele quer nos dizer é que o imitar faz
parte da natureza humana e os homens sentem prazer nisso; em
síntese, arte como recriação. Para Chklovski, escritor russo, a
Literatura é como as demais formas de arte, tem a capacidade de
provocar no leitor um estranhamento diante da realidade, como se a
víssemos pela primeira vez, sob um prisma diferente. Para Ezra
Pound, poeta, teórico e crítico de literatura norte-americano
Literatura é a linguagem carregada de significado. Grande Literatura
é simplesmente a linguagem carregada de significado até o máximo
grau possível. A literatura não existe no vácuo. Os escritores como
tais, têm uma função social definida, exatamente proporcional à sua
competência como escritores. Essa é a sua principal utilidade.
forma de brinquedo, diversão, entretenimento,
Função lúdica
jogo, despertar de emoções agradáveis, distração, sem qualquer
finalidade prática e utilitária.
Função pragmática ou social
é uma função ética, utilitária e
prática porque é a função do engajamento, da denúncia, da crítica.
É a literatura compromisso arte como meio de conscientização.
Tem como objetivo: convencer, atrair adeptos, ensinar e esclarecer,
difundir valores.
Função sinfônica ou sintonizada: através da literatura
restauramos emocionalmente o passado. Nesse sentido, cada leitor
é um recriador de emoções.
Função cognitiva: é a função do reconhecimento. A Literatura
funciona como elemento revelador da verdade oculta sob as
aparências. É também a função da descoberta (cognoscere =
conhecer). Esta função está centrada no conteúdo transmitido.
Função catártica ou purificadora: cartase significa alívio de
tensões, desabafo. A catarse é purificadora. Essa função tem uma
longa tradição. Por Aristóteles, século IV a.C., ela já era apontada
na Poética. Tem como objetivo: a compensação, a terapêutica e a
transposição da personalidade.
Função perenizadora: literatura é a ânsia de imortalidade, é o
desejo de sobreviver ao tempo, perenizar-se, eternizar-se. É o
desejo de todo ser humano de extrapolar o limite espaço-temporal.
O objetivo desta função da literatura e das artes em geral é o desejo
de reconhecimento.
Função profética: na busca de mundos imaginários, o escritor,
muitas vezes prediz o futuro com precisão quase absoluta. Não é à
toa que chamamos ao poeta Vate que significa cognato do
vaticínio na predição. previsão do futuro
LINGUAGEM CONOTATIVA, a linguagem da literatura
Função de arte pela arte: (parnasianos) é um fim em si mesma;
é o alheamento dos problemas sociais. É a arte literária que existe
apenas e tão somente em função da busca da beleza, é o
isolamento para um trabalho meticuloso, sem emotividade. Busca
da forma perfeita: versos perfeitos, rimas perfeitas, estrofes
simétricas, palavras raras.
Em semântica, a denotação de um termo é o objeto ao qual o
mesmo se refere. A palavra tem valor referencial ou denotativo
quando é tomada no seu sentido usual ou literal, isto é, naquele que
lhe atribuem os dicionários; seu sentido é objetivo, explícito,
constante. Ela designa ou denota determinado objeto, referindo-se à
realidade palpável. A linguagem denotativa é basicamente
informativa, ou seja, não produz emoção ao leitor. É informação
bruta com o único objetivo de informar. É a forma de linguagem que
lemos em jornais, bulas de remédios, em um manual de instruções
etc. Conotação é o conjunto de caracteres compreendidos na
significação de um dado termo, conceito, etc. Além do sentido
referencial, literal, cada palavra remete a inúmeros outros sentidos,
virtuais, conotativos, que são apenas sugeridos, evocando outras
ideias associadas, de ordem abstrata, subjetiva. Portanto, podemos
concluir que a linguagem literária apresenta um sentido conotativo,
pois se trata de uma forma especial de tratar com a palavra.
Conotação é o emprego de uma palavra tomada em um sentido
incomum, figurado, circunstancial, que depende sempre de
contexto. Muitas vezes é um sentido poético, fazendo comparações.
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
Função de fuga da realidade, do escapismo ou da evasão:
literatura funcionaria como um elemento de evasão do eu,
permitindo-lhe a fuga à realidade concreta que o cerca. Pode ser
construtiva ou destrutiva.
65
LITERATURA
65
EXERCÍCIOS DE SALA
EXERCÍCIOS DE CASA
Atente para o texto que se segue, para responder as questões
01e 02.
Observe os textos abaixo:
A arte é uma mentira.
Mas uma mentira que nos ajuda a compreender
a verdade.
Pablo Picasso
Meu povo, meu poema
Meu povo e meu poema crescem juntos
como cresce no fruto
a árvore nova
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Fernando Pessoa
No povo meu poema vai nascendo
como no canavial
nasce verde o açúcar
No povo meu poema está maduro
como o sol
na garganta do futuro
1)Os trechos acima se referem ao conceito de literatura, com
relação tanto à linguagem como à sua função social. Os textos
sugerem que, EXCETO:
Meu povo em meu poema
se reflete
como a espiga se funde em terra fértil
a)- a obra de arte, quando tocada pela magia do artista, serve para
expressar a visão que este possui da realidade
b)- a tarefa do artista - ao criar uma ficção - não é de faltar à
verdade, mas de expressar, de comunicar, pela linguagem, a sua
concepção de mundo
c)- através dos recursos de linguagem figurada (conotação) - típicos
da linguagem literária - o escritor capta aspectos da realidade
d)- literatura é a ficção que se expressa, que se formaliza, através
da palavra, reproduzindo de maneira fiel a realidade social
e)- a arte aguça no homem a curiosidade intelectual, permitindo-lhe
estimular a sensibilidade
Ao povo seu poema aqui devolvo
menos como quem canta
do que planta
(Ferreira Gullar)
1) De acordo com o poema acima, de Ferreira Gullar, atente para os
itens abaixo:
2) Os versos: A arte é uma mentira e O poeta é um fingidor
sugerem dizer que a linguagem literária, EXCETO:
I- apresenta uma metalinguagem, ou seja, nele, o autor reflete sobre
a natureza de sua poesia.
II- podemos perceber que, na definição de sua poesia, o autor
prefere que esta seja fruto de um produto natural orgânico do
povo.
III- na passagem menos como quem canta/do que planta...,
sugere-se que o poema é apenas expressão do povo, não podendo
de forma alguma gerar nenhum fruto.
a)- atua como veículo para a formação da sensibilidade pessoal
b)- ajuda a proporcionar novas formas de percepção, compreensão,
avaliação e desenvolvimento da capacidade crítica
c)- utiliza-se da prosa e do verso para atuar no processo cultural,
criando instrumentos, inventando novos seres, gerando
comunicação
d)- contribui em captar aspectos da realidade passada, motivando a
curiosidade intelectual para o presente ou para o futuro
e)- é restritamente ficcional, criativa, apresentando uma linguagem
predominantemente denotativa e de sentido unívoco
Estão corretos:
a) apenas I e II
b) apenas I e III
c) apenas II e III
d) apenas II
e) apenas III
2) Podemos classificar o poema de Ferreira Gullar, de acordo com
as mais variadas funções que a Literatura pode assumir, como
pertencente a uma Literatura:
GABARITO : 1:D
2.E
a) sem preocupação social.
b) de forte engajamento e ação social.
c) de forte religiosidade.
d) sem compromisso com a realidade humana.
e) de alienação em relação ao engajamento político e social.
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
66
LITERATURA
66
AULA 02: GÊNEROS LITERÁRIOS 1
· Farsa: pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural,
criticando a sociedade e seus costumes; baseada no lema latino
Ridendo castigat mores (Rindo, castigam-se os costumes).
o lírico e o dramático
Os gêneros literários são geralmente divididos, desde a
Antiguidade, em três grupos: narrativo ou épico, lírico e dramático.
Essa divisão partiu dos filósofos da Grécia antiga, Platão e
Aristóteles, quando iniciaram estudos para o questionamento
daquilo que representaria o literário e como essa representação
seria produzida.[1] Essas três classificações básicas fixadas pela
tradição englobam inúmeras categorias menores, comumente
denominadas subgêneros.
O gênero lírico se faz, na maioria das vezes, em versos e
explora a musicalidade das palavras. Entretanto, os outros dois
gêneros o narrativo e o dramático também podem ser escritos
nessa forma, embora modernamente prefira-se a prosa.
Todas as modalidades literárias são influenciadas pelas
personagens, pelo espaço e pelo tempo. Todos os gêneros podem
ser não-ficcionais ou ficcionais. Os não-ficcionais baseiam-se na
realidade, e os ficcionais inventam um mundo, onde os
acontecimentos ocorrem coerentemente com o que se passa no
enredo da história.
A literatura, quanto à forma, pode se manifestar em prosa e
verso. Quanto ao conteúdo, pode se manifestar em:
ANOTAÇÕES
67
1. Gênero lírico = seu nome vem de lira, instrumento musical que
acompanhava os cantos dos gregos. Por muito tempo, até o final da
Idade Média, as poesias eram feitas para serem cantadas. Nas
obras líricas notamos o predomínio dos sentimentos, da emoção, o
que as torna subjetivas. O eu-lírico é o próprio sentimento do poeta
naquela poesia. Pertencem a este gênero os poemas em geral,
destacando-se:
· Ode e hino: os dois nomes vêm da Grécia e significam canto. Ode
é mais a poesia entusiástica, de exaltação. Hino é a poesia
destinada a glorificar a pátria ou dar louvores às divindades.
· Elegia: é a poesia de um canto lírico de tom triste. Fala de
acontecimentos tristes ou da morte de alguém. O Cântico do
Calvário, de Fagundes Varela, é, sem dúvida, a mais famosa elegia
da literatura brasileira, inspirada na morte prematura de seu filho.
· Idílio e écloga: são poesias pastoris, bucólicas. A écloga difere do
idílio por apresentar diálogo.
· Epitalâmio: poesia feita em homenagem às núpcias de alguém.
· Sátira: poesia que se propõe corrigir os defeitos humanos,
mostrando o ridículo de determinada situação. Quanto ao aspecto
formal, as poesias podem apresentar forma fixa ou livre. Das
poesias de forma fixa, a que resistiu ao tempo, aparecendo até
nossos dias, foi o soneto.
· Soneto: composição poética de 14 versos distribuídos em dois
quartetos e dois tercetos. Apresenta sempre uma métrica - mais
usualmente, versos decassílabos e versos alexandrinos - e uma
rima. Soneto significa pequeno som e teria sido usado pela
primeira vez por Jacopo de Lentini, da Escola Siciliana (século XIII).
Tendo sido mais tarde difundido por Petrarca (século XIV).
2. Gênero dramático = drama, em grego, significa ação.
Compreende essas modalidades:
· Tragédia: é a representação de um fato trágico, compadecido,
apto a suscitar compaixão e terror.
· Comédia: é a representação de um fato inspirado na vida e no
sentimento comum, de riso fácil, em geral criticando os costumes.
· Tragicomédia: é a mistura do trágico com o cômico.
Originalmente, significava a mistura do real com o imaginário.
· Mistérios ou milagres: representações de trechos bíblicos.
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
67
LITERATURA
EXERCÍCIOS DE CASA
EXERCÍCIOS DE SALA
Poema tirado de uma notícia de jornal
Leia com atenção o fragmento abaixo, retirado do poema Cenário,
de Cecília Meireles, no livro Romanceiro da Inconfidência, e
responda as questões 01 e 02:
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da
Babilônia
Num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu
Afogado.
(Manuel Bandeira)
Passei por essas plácidas1 colinas
e vi das nuvens, silencioso, o gado,
pascer2 nas solidões esmeraldinas.
Largos rios de corpo sossegado
dormiam sobre a tarde, imensamente,
e eram sonhos sem fim, de cada lado.
Entre nuvens, colinas e torrente,
uma angústia de amor estremecia
a deserta amplidão na minha frente.
1) Com relação ao poema é correto afirmar que:
a) o texto é predominantemente lírico, por expressar o sentimento
do sujeito poético.
b) a presença do recurso da rubrica torna o texto característico do
gênero dramático, sobretudo pelo final trágico da personagem.
c) a pesar de escrito em versos, o poema se aproxima da prosa e
destaca o caráter narrativo do assunto exposto.
d) o texto pode ser considerado uma epopeia, devido o elemento
heroico nele presente.
e) os versos apresentam metrificação, uma vez que as sílabas não
são perfeitas.
Que vento, que cavalo, que bravia
saudade me arrastava a esse deserto,
me obrigava a adorar o que sofria?
Passei por entre as grotas negras, perto
dos arroios3 fanados4, do cascalho5
cujo ouro já foi todo descoberto.
(...)
tudo me fala e entendo: escuto as rosas
e os girassóis destes jardins, que um dia
foram terras e areias dolorosas,
2)Ainda de acordo com o texto acima, observe os itens que se
seguem:
I- o texto poético trata de um fato do cotidiano transformado em
matéria literária.
II- o texto jamais pode ser literário, visto que expõe assunto
característico da linguagem jornalística, como se confirma pelo
próprio título proposto pelo autor.
III- o texto apresenta um caráter universal, uma vez que o assunto
não se limita a um fato específico, muito embora se trate da morte
de um homem.
Estão corretos:
a) apenas I e II
d) apenas II
b) apenas I e III
e) apenas III
c) apenas II e III
por onde o passo da ambição rugia;
por onde se arrastava, esquartejado,
o mártir sem direito de agonia.
(...)
tudo me chama: a porta, a escada, os muros,
as lajes sobre mortos ainda vivos,
dos seus próprios assuntos inseguros.
(Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência)
VOCABULÁRIO:
1- Plácidas: calmas, suaves, tranquilas.
2- Pascer: pastar, recrear, deliciar.
3- Arroios: pequena corrente de água.
4- Fanados: murcho, mutilado, seco.
5- Cascalho: camada de areia ou barro em que se encontram o
diamante ou outra espécie de metal.
Carta
Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
ficaram velhas todas as notícias.
eu mesmo envelheci: Olha, em relevo,
estes sinais em mim, não das carícias
A partir da leitura dos fragmentos acima, podemos afirmar que,
exceto:
a) através de um profundo memorialismo, o eu-lírico recorda fatos
ligados ao passado em que esteve presente ao ambiente descrito.
b) por apresentar uma descrição de um episódio vivido no passado,
o texto apresenta um caráter narrativo, desprovido de elemento
lírico.
c) a presença do verso decassílabo em todos os versos torna o
texto metrificado.
d) as rimas do poema são perfeitas em cada estrofe, apresentando
um esquema ABA.
e) o poema é composto por tercetos em todas as estrofes.
(tão leves) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que ao sol posto
perde a sabedoria das crianças.
A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
Deus te abençoe, e a noite abria em sonho.
É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.
02- Assinale o item em que a expressão se encontra em sentido
denotativo.
a) Largos rios de corpo sossegado/ dormiam sobre a tarde,
imensamente,
b) Passei por entre as grotas negras, perto/dos arroios fanados, do
cascalho
c) tudo me chama: a porta, a escada, os muros,/as lajes sobre
mortos ainda vivos,
d) por onde o passo da ambição rugia;/ por onde se arrastava,
esquartejado,
e) Que vento, que cavalo, que bravia/saudade me arrastava a esse
deserto,
(Carlos Drummond de Andrade)
1)A expressão sol posto, na segunda estrofe, faz referência à(ao):
a)- dureza da vida
b)- amadurecimento precoce da criança
c)- tempo de maturidade na vida
d)- saudade da mãe
e)- sofrimento adquirido com a velhice
GABARITO : 1.B
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
68
68
2.B
LITERATURA
AULA 03:
MODERNIDADE
O GÊNERO ÉPICO e o
NARRATIVO NA
Sendo Os Lusíadas um texto renascentista, não poderia deixar de
seguir a estética grega que dava particular importância ao número
de ouro. Assim, o clímax da narrativa, a chegada à Índia, foi
colocada no ponto que divide a obra na proporção áurea (início do
Canto VII).
O gênero épico (ou épica, ou gênero narrativo, ou simplesmente
narrativa) é provavelmente a mais antiga das manifestações
literárias. Ele surgiu quando os homens primitivos sentiram
necessidade de relatar suas experiências, centradas na dura
batalha de sobrevida num mundo caótico, hostil e ameaçador.
Podemos imaginar os demais membros da tribo, em torno de uma
roda de fogo, ouvindo estes narradores que talvez mais
gesticulassem e emitissem grunhidos do que articulassem
verbalmente as suas histórias. Podemos conceber também que
alguns desses ancestrais dos grandes escritores tivessem maior
capacidade para contar suas aventuras do que seus companheiros.
Talvez
selecionassem
melhor
os
fatos
interessantes,
concatenassem de maneira mais ordenada os acontecimentos ou
conseguissem descrever com maior realismo os animais ferozes
que haviam caçado. É possível também que
em função da
resposta do auditório
estes contadores primitivos de histórias
acabassem aumentando o número e a intensidade de suas
façanhas. E é de se supor, por fim, que em busca do aplauso do clã,
não se restringissem apenas às situações vividas, mas
acrescentassem pormenores inexistentes e inventassem ações
heroicas. Ou seja, é bem provável que produzissem ficção. Estava
nascendo o gênero épico, a narrativa. O género épico remonta à
antiguidade grego e latina sendo os seus expoentes máximos
Homero e Virgílio. A epopeia é um género narrativo em verso, em
estilo elevado, que visa celebrar feitos grandiosos de heróis fora do
comum reais ou lendários. Tem pois sempre um fundo histórico; de
notar que o género épico é um género narrativo e que exige na sua
estrutura a presença de uma ação, desempenhada por personagens
num determinado tempo e espaço. O estilo é elevado e grandioso e
possui uma estrutura própria, cujos principais aspectos são:
ANOTAÇÕES
69
Proposição - em que o autor apresenta a matéria do poema;
Invocação - às musas ou outras divindades e entidades míticas
protetoras das artes;
Dedicatória - em que o autor dedica o poema a alguém, sendo esta
facultativa;
Narração - a acção é narrada por ordem cronológica dos
acontecimentos, mas inicia-se já no decurso dos acontecimentos
(in medias res), sendo a parte inicial narrada posteriormente num
processo de retrospectiva, flash-back ou analepse;
Presença de mitologia greco-latina - contracenando heróis
mitológicos e heróis humanos.
A poesia épica, portanto, é aquela que narra ações humanas ou
divinas, heroicas, fabulosas ou lendárias, de modo mais ou menos
extenso. A primeira grande obra épica escrita em língua portuguesa
foi o poema Os Lusísdas, do poeta português chamado Luís Vaz de
Camões. Os Lusíadas é considerada a epopeia portuguesa por
excelência. Provavelmente concluída em 1556, foi publicada pela
primeira vez em 1572 no período literário do classicismo, três anos
após o regresso do autor do Oriente. A obra é composta de dez
cantos, 1102 estrofes que são oitavas decassílabas, sujeitas ao
esquema rímico fixo AB AB AB CC oitava rima camoniana. A
ação central é a descoberta do caminho marítimo para a Índia por
Vasco da Gama, à volta da qual se vão descrevendo outros
episódios da história de Portugal, glorificando o povo português. A
estrutura externa refere-se à análise formal do poema: número de
estrofes, número de versos por estrofe, número de sílabas métricas,
tipos de rimas, ritmo, figuras de estilo, etc. Assim, Os Lusíadas é
constituído por dez partes, liricamente chamadas de cantos; cada
canto possui um número variável de estrofes (em média, 110); as
estâncias são oitavas, tendo portanto oito versos; a rima é cruzada
nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos (AB AB
AB CC, ver na citação ao lado); cada verso é constituído por dez
sílabas métricas (decassilábico), na sua maioria heróicas
(acentuadas nas sextas e décimas sílabas).
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
69
LITERATURA
EXERCÍCIOS DE SALA
Agora observe o poema abaixo:
Papai Noel às Avessas
Momento Num Café
Papai
Noel
entrou
pela
porta
dos
fundos
(no
Brasil
as
chaminés
não
são
praticáveis),
entrou cauteloso que nem marido depois da farra.
Tateando
na
escuridão
torceu
o
comutador
e
a
eletricidade
bateu
nas
coisas
resignadas,
coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.
Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos,
achou um queijo e comeu.
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.
Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta
Depois tirou do bolso um cigarro que não quis
Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas
(no Brasil os Papai-Noéis são todos de cara
e
avançou
pelo
corredor
branco
de
Aquele
quarto
é
o
das
Papai entrou compenetrado.
acender.
postiças
raspada)
luar.
crianças
Manuel Bandeira
Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos
mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos
soldados
mulheres
elefantes
navios
e um presidente de república de celulóide.1
Papai
Noel
agachou-se
e
recolheu
aquilo
tudo
no
interminável
lenço
vermelho
de
alcobaça.2
Fez
a
trouxa
e
deu
o
nó,
mas
apertou
tanto
que lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam por
causa do aperto.
4)O poema pode ser classificado como CRÔNICA ou CONTO?
Comente sua resposta.
5)O que diferencia os homens que se achavam no café do
homem que se descobriu num gesto largo e demorado?
Os
pequenos
continuavam
dormindo.
Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo.
Papai
Noel
voltou
de
manso
para
a
cozinha,
apagou a luz, saiu pela porta dos fundos.
Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes.
6)(Unifor-Ce) Na famosa quadra de Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Carlos Drummond de Andrade
a) há versos hexassílabos e heptassílabos, rimando segundo o
esquema abba
b) os versos são octossílabos, rimando segundo o esquema abab
c) apenas os versos pares têm a mesma medida
d) o poeta se valeu de versos brancos
e) todos os versos são heptassílabos, e apenas os versos pares
constituem exemplos de rimas agudas
1) A narrativa, em versos, pode ser caracterizada como conto ou
crônica? Justifique.
2) É noite de Natal. Um narrador quase imperceptível vai nos
relatando as ações de um certo Papai Noel pelo interior de uma
casa. A partir de tal constatação, responda:
a)Observe, em primeiro lugar, que o narrador, embora quase
imperceptível, se deixa ver ao inserir comentários em seu relato.
Localize esses comentários.
b)Note, em seguida, que o poema é, aparentemente, singelo e
banal, pois se trata de um relato de um evento anônimo em
linguagem do cotidiano. De onde vem, então, sua força expressiva?
3)Que sentido podemos atribuir aos seguintes versos:
a)Coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.
b)Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes.
ANOTAÇÕES
1
Substância de que se fabricam vários objetos!, tais como pentes, colarinhos, etc.
2
Lenço grande de algodão, de cores, usado principalmente por pessoas que
cheiravam rapé.
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
70
LITERATURA
70
AULA 04: periodização da literatura brasileira
estilos de época
estudo dos
ANOTAÇÕES
Literatura, segundo o nosso dicionário Aurélio, é a arte de compor
trabalhos artísticos em prosa ou verso. Esses trabalhos literários
dialogam com o contexto histórico-cultural e por isso para estudá-los
precisamos conhecer o momento histórico no qual estão inseridos.
O conjunto de alguns trabalhos literários escritos num mesmo
período forma o que chamamos de estilos de época. Há então,
como diz Domício Proença Filho em seu livro Estilos de Época na
Literatura, um estilo que empresta fisionomia própria e inconfundível
a cada época e que se traduz em características comuns aos vários
escritos representativos desta mesma época. "Como todo ser
humano, toda obra literária tem suas características individuais; mas
também apresenta propriedades comuns com outras obras de
arte"1, isto é, cada autor apresenta características particulares e
também características genéricas que o liga a outros autores do
mesmo momento histórico. As datas que marcam o início e o fim de
cada época têm de ser entendidas apenas como marcos. Toda
época apresenta um período de ascensão, um ponto máximo e um
período de decadência (que coincide com o período de ascensão da
próxima época). Na literatura brasileira, podemos dividir, didática e
cronologicamente nos seguintes estilos de época:
71
QUINHENTISMO OU LITERATURA INFORMATIVA (1500-1601)
BARROCO OU SEISCENTISMO (1601-1768)
ARCADISMO (1768-1836)
ROMANTISMO (1836-1881)
REALISMO/NATURALISMO/PARNASIANISMO (1881-1893)
PRÉ-MODERNISMO (1902-1922)
MODERNISMO (1922 até os nossos dias)
Assim, podemos sintetizar os principais elementos característicos
dos estilos de época da seguinte forma.
Barroco
- Religioso;
- Uso de antíteses;
- Utiliza-se da poesia.
Arcadismo
- Gosto pela natureza;
- Linguagem simples.
Romantismo
- Individualismo eu;
- Subjetivista;
- Linguagem emotiva;
- Prosa e poesia.
Realismo / Naturalismo
- Científico;
- Analisar o homem e a sociedade;
- Objetivista;
- Prosa.
Parnasianismo
- Científico;
- As emoções são expostas de maneira objetiva;
- Linguagem objetiva.
Simbolismo
- É contra o científico;
- O espiritual é importante;
- Literatura é subjetiva.
Modernismo
- Valorização do nacional;
- Linguagem livre;
- Prosa, poema, teatro político.
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
71
LITERATURA
EXERCÍCIOS DE CASA
EXERCÍCIOS DE SALA
1)Sobre estilos de época é correto afirmar, exceto.
a)O Quinhentismo é apenas uma periodização da literatura
informativa e jesuítica sem definição específica de estilo.
b)O estilo barroco aparece também fortemente na arquitetura e é
muito detalhista, com o aspecto espiritual mais em destaque.
c)Ocorre quando certos procedimentos artísticos individuais se
reproduzem e se tornam repetitivos e constantes entre uma ou mais
gerações de escritores - favorecidos e influenciados pelas
coordenadas da época.
d)A história da literatura procura entender todas as modificações
que a produção literária passou ao longo da evolução da sociedade.
e)É a maneira pessoal do escritor manipular a linguagem literária,
ou seja, a sua capacidade original e criativa de formular
expressivamente o texto (língua, técnicas, procedimentos, etc.), em
busca de um melhor resultado estético.
72
2)Ainda com relação ao estudo dos períodos literários, assinale o
FALSO.
a)O critério usado para dividir os estilos de época varia muito: às
vezes, o autor publica uma obra revolucionária e ela acaba se
tornando o marco inicial de um determinado período, outras vezes
um fato histórico influencia uma infinidade de obras que darão
origem a um determinado movimento literário.
b)Muitas ideias adotadas em um período podem ser aproveitadas
por outros estilos literários que fazem uma releitura ou uma
reinterpretação de textos já escritos.
c)No período colonial de nossa literatura, as obras já apresentavam
um grande índice de circulação e consumo, visto que se formou um
imenso público leitor e consumidor de obras.
d)No período romântico, a literatura inicia um processo de formação
de identidade, pois esse estilo literário se solidifica logo após o
processo de emancipação politica de nosso país.
e)No Modernismo, a literatura brasileira passa por uma grande
revolução artística que busca revisar nosso passado cultural através
da Semana de Arte Moderna.
3)(UNOPAR-PR) Considere as seguintes afirmações:
I.A temática e a linguagem barroca expressam os conflitos
experimentados pelo homem do século XVII.
II.A linguagem barroca caracteriza-se por apresentar uma
linguagem rebuscada
III.A antítese e o paradoxo são as figuras que a linguagem barroca
emprega para expressar a divisão entre mundo material e mundo
espiritual.
IV.A estética barroca privilegia a visão racional do mundo e das
relações humanas, buscando na linguagem a fuga às constrições do
dia-a-dia.
Dentre elas, apenas
a)I e III estão corretas.
b)I, II e IV estão corretas.
c)II e IV estão corretas.
d)I, II e III estão corretas.
e)III está correta.
4)Com referência ao Barroco, todas as alternativas são corretas,
exceto:
a) O Barroco estabelece contradições entre espírito e carne, alma e
corpo, morte e vida.
b) O homem centra suas preocupações em seu próprio ser, tendo
em mira seu aprimoramento, com base na cultura greco-latina.
c) O Barroco apresenta, como característica marcante, o espírito de
tensão, conflito entre tendências opostas: de um lado, o
teocentrismo medieval e, de outro, o antropocentrismo
renascentista.
d) A arte barroca é vinculada à Contra-Reforma.
e) O barroco caracteriza-se pela sintaxe obscura, uso de hipérbole e
de metáforas.
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
72
LITERATURA
AULA 05: o Quinhentismo brasileiro
informação e a literatura catequética.
a literatura de
ANOTAÇÕES
O Quinhentismo corresponde ao estilo literário que abrange
todas as manifestações literárias produzidas no Brasil à época de
seu descobrimento, durante o século XVI. É um movimento paralelo
ao Classicismo português e possui ideias relacionadas ao
Renascimento, que vivia o seu auge na Europa. A literatura do
Quinhentismo tem como tema central os próprios objetivos da
expansão marítima: a conquista material, na forma da literatura
informativa das Grandes Navegações, e a conquista espiritual,
resultante da política portuguesa
Literatura informativa
73
A literatura informativa, também chamada de literatura dos
viajantes ou dos cronistas, consiste em relatórios, documentos e
cartas que empenham-se em levantar a fauna, flora e habitantes da
nova terra, com o objetivo principal de encontrar riquezas, daí o fato
de ser uma literatura meramente descritiva e de pouco valor
literário. A exaltação da terra exótica e exuberante seria sua
principal característica, marcada pelos adjetivos, quase sempre
empregados no superlativo. Esse ufanismo e exaltação do Brasil
seria a principal semente do sentimento nativista, que ganharia
força no século XVII, durante as primeiras manifestações contra a
Metrópole[1]
Com o crescente interesse dos europeus pelas terras recémdescobertas, expedições formadas por comerciantes e militares
eram organizadas no intuito de descrever e noticiar a respeito das
novas terras. Entre estes, estaria Pero Vaz de Caminha, escrivão
que acompanhou a armada de Pedro Álvares Cabral, em 1500. Sua
Carta a El Rei Dom Manuel sobre o descobrimento do Brasil é um
dos exemplos mais importantes da literatura Informativa, de
inestimável valor histórico.[1]
É possível notar claramente o duplo objetivo do texto contido na
Carta de Caminha, isto é, a conquista dos bens materias e a
propagação da fé cristã, como demonstram os seguintes trechos:[1]
Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra
coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de
muito bons ares [...] Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar
parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal
semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.
Literatura Catequética ou Literatura Jesuítica
Foi consequência da Contra-Reforma. A principal preocupação
dos jesuítas era o trabalho de catequese, objetivo que determinou
toda a sua produção literária, tanto na poesia como no teatro.
Mesmo assim, do ponto de vista estético, foi a melhor produção
literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, os
jesuítas cultivaram o teatro de caráter pedagógico, baseado em
trechos bíblicos, e as cartas que informavam aos superiores na
Europa o andamento dos trabalhos na Colônia. José de Anchieta se
propôs ao estudo da língua tupi-guarani e é considerado o precursor
do teatro no Brasil. Sua obra já apresenta traços barrocos.
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
73
LITERATURA
EXERCÍCIOS DE SALA
EXERCÍCIOS DE SALA
1)(POLI) "Duas relíquias históricas produzidas no Brasil, foram
trazidas para exibição na Mostra do Redescobrimento, em São
Paulo: o manto tupinambá e a carta de Pero Vaz de Caminha."
1)O culto à natureza, característica de alguns momentos da
literatura brasileira, tem sua origem nos textos da Literatura de
Informação. Assinale o fragmento da Carta de Caminha que já
revela a mencionada característica:
(Folha de São Paulo, 11 de maio de 2000.)
A carta de Pero Vaz de Caminha, sobre o achamento do Brasil,
enviada a El-Rei Dom Manuel é a principal manifestação literária do
Quinhentismo, movimento literário brasileiro do século XVI. Tendo
em vista o seu teor, podemos afirmar que os visitantes da Mostra do
Redescobrimento, ao se depararem com tal texto, conseguiriam
através dele:
(A) resgatar valores e conceitos sociais brasileiros.
(B) descobrir a história brasileira pela arte.
(C) ter mais informações sobre a arte brasileira.
(D) ver a cultura indígena brasileira.
(E) perceber o interesse português em explorar a nova terra.
a)- Viu um deles umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas
dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço.
b)- Assim, quando o batel chegou à foz do rio, estavam ali dezoito
ou vinte homens, pardos, todos nus, sem nenhuma roupa que lhes
cobrisse suas vergonhas.
c)- Mas a terra em si é muito boa de ares, tão frio e temperados
como os de Entre Douro e Minho, porque, neste tempo de agora,
assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas e infindas.
De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la, dar-se-á nela
tudo por bem das águas que tem.
d)- Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar, me parece que
será salvar essa gente. E esta deve ser a principal semente que
Vossa Alteza em ela deve lançar.
e)- Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo;
tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz
que os havia ali.
02) (UFPEL) O texto a seguir servirá de base para a próxima
questão.
Pero Vaz de Caminha, referindo-se aos indígenas escreveu:
E naquilo sempre mais me convenço que são como aves ou
animais montesinos, aos quais faz o ar melhor pena e melhor
cabelo que aos mansos, porque os seus corpos são tão limpos, tão
gordos e formosos, a não mais poder. []
Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a
sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem
entendem crença alguma, segundo as aparências. E, portanto, se
os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e
eles a nossa, não duvido que eles, segundo a santa tenção de
Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à
qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta
gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles
todo e qualquer cunho que lhes quiserem dar, uma vez que Nosso
Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons.
E o fato de Ele nos haver até aqui trazido, creio que não o foi sem
causa. E portanto, Vossa Alteza, que tanto deseja acrescentar à
santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E aprazerá Deus
que com pouco trabalho seja assim. [] Eles não lavram nem
criam. Não há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha, ou
qualquer outro animal que esteja acostumado ao convívio com o
homem. E não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e
dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. E
com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós
tanto, com quanto trigo e legumes comemos.
2)(ESAN)- Na Carta de Pero Vaz de Caminha:
a)- reconhecemos um texto de informação que em nada pode ter
influenciado os escritores que se sucederam na literatura brasileira
b)- vemos a preocupação do conquistador com a exploração do solo
da terra conquistada, atitude única dos escritores da época, tal
como o padre Anchieta
c)- identificamos um escritor que, pela maneira nacionalista como
apresenta a terra, será tomado como modelo para o Modernismo de
Oswald de Andrade
d)- temos um texto que, como todos os outros do século XVI, XVII e
XVIII, até o Romantismo, nada contribuiu para a literatura brasileira
e)- encontramos os germes da atitude de louvor à terra que terá
grande relevo no Romantismo
GABARITO: 01.C
02.E
CASTRO, Silvio. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996.
De acordo com o texto e seus conhecimentos, marque a alternativa
correta:
(A) Caminha, numa visão eurocentrista, exalta a cultura do
descobridor, menosprezando todos os aspectos referentes ao
modo de vida dos nativos, por exemplo, a não exploração daqueles
mamíferos placentários exóticos, citados na carta, introduzidos no
Brasil quando da colonização.
(B) Caminha realiza, através de farta adjetivação, descrições
botânicas minuciosas acerca da flora da nova terra, destacando o
tipo de alimentação do europeu rica em vitaminas e sais minerais
em contraposição à indígena, que é rica em lipídios.
(C) A religiosidade está presente ao longo do texto, quando se
constata que o emissor, tendo em mente a conversão dos índios à
santa fé católica pretensão dos europeus conquistadores ,
ressalta positivamente a existência de crenças animistas entre os
nativos.
(D) Na carta de Pero Vaz de Caminha, que apresenta linguagem
formal, por ser o rei português o destinatário, há forte preocupação
com aspectos da necessária conversão dos índios ao catolicismo,
no contexto de crise religiosa na Europa.
(E) Ao realizar concomitantemente a narração e a descrição dos
hábitos dos nativos, o remetente destaca informações não só do
habitat como dos usos e costumes indígenas, exaltando o cultivo
das plantas de lavouras e dos pomares.
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
74
LITERATURA
74
AULA 06: BARROCO
a arte da irregularidade e do
rebuscamento: contexto histórico e social.
Na Literatura, seu motivo onipresente foi o conflito entre a
tradição clássica herdada do Renascimento e as novas descobertas
da ciência, as mudanças na religião, novas aspirações e um desejo
de experimentação. A herança clássica trazia consigo determinadas
formas estéticas e padrões morais, mas ao mesmo tempo se fazia
frente à necessidade cristã de rejeitar o modelo clássico por sua
origem pagã, considerada uma influência corruptora e enganosa, e
isso explica parte da rejeição do classicismo em boa parte do
Barroco, um conflito que se estendeu para a área da educação, até
então também pesadamente devedora dos clássicos e através da
influência jesuítica vista como o principal e primeiro instrumento de
reforma social.
A EUROPA PÓS-RENASCIMENTO: a alteração de valores e
crise espiritual do homem seiscentista.
Durante o Renascimento o homem cresceu bastante, adquiriu
autoconfiança, se tornou senhor da terra, mares, ciência e arte;
libertou-se aos poucos da fé medieval. Essa libertação foi marcada
principalmente pela Reforma Protestante que atingiu diretamente a
igreja. A Companhia de Jesus foi fundada para combater o
Protestantismo. Durante esse momento de dualismo e contradição
surgiu o Barroco que expressava artisticamente todo o período. O
espírito contraditório da época que se dividiu entre as influências do
Renascimento e da religiosidade foi registrado pela arte barroca.
Em termos estilísticos, a literatura barroca em linhas gerais
praticou um culto exagerado à forma e ao virtuosismo no intuito de
maravilhar o leitor, o que implicava o uso constante de figuras de
linguagem e outros artifícios retóricos, como a metáfora, a elipse, a
antítese, o paradoxo e a hipérbole, com grande atenção ao detalhe
e à ornamentação como partes integrais do discurso.
Contexto histórico
O Barroco corresponde à segunda etapa da Era Clássica, iniciouse no fim do século XVI, teve seu ápice no século XVII, e se
prolongou até o início do século XVIII. O movimento surgiu como
uma forma de reagir às tendências humanistas, tentando
reencontrar a tradição cristã.
Vivia-se a revolução comercial, a política econômica era o
mercantilismo. A burguesia detinha o poder econômico. O Estado
absolutista se consolidava, esse sistema era voltado para atender
às necessidades da burguesia.
O século XVII foi marcado pelos reflexos das crises religiosas,
essas ocorreram no século anterior, dentre as quais se destacam a
Reforma Protestante e a Contra-Reforma.
ANOTAÇÕES
Características da nova estética:
- Culto do contraste: o Barroco procurava aproximar os opostos
como carne/espírito, pecado/perdão, céu/terra etc
.
- Conflito entre o eu e o mundo: o artista encontra-se dividido
entre a fé e a razão.
- Pessimismo: o pessimismo marca muitos textos e manifestações
artísticas do Barroco.
- Fusionismo: fusão das visões medieval e renascentista.
- Feísmo: a miséria da condição humana é explorada.
A linguagem barroca
- Emprego constante de figuras de linguagem;
- Uso de uma linguagem requintada;
- Exploração de temas religiosos;
-Consciência de que a vida é passageira: ao mesmo tempo em que
o homem ao pensar na efemeridade da vida busca a salvação
espiritual ele tem desejo de gozar dessa antes que acabe;
- Cultismo: exploração dos efeitos sensoriais.
- Jogo de ideias: formado por sutilezas do raciocínio e do
pensamento lógico.
Na estética barroca, observam-se duas tendências: o cultismo e o
conceptismo.
- O cultismo se refere à exploração de elementos sensoriais,
baseadas em figuras de linguagem.
- O conceptismo se caracteriza pelo uso de conceitos, linguagem
marcada pelo jogo de ideias e pelo raciocínio lógico.
- O cultismo predomina na poesia e o conceptismo na prosa.
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LITERATURA
75
EXERCÍCIOS DE SALA
EXERCÍCIOS DE CASA
1)Com referencias ao Barroco, todas as alternativas estão corretas,
EXCETO:
01) A partir da leitura do texto abaixo, analise os itens que se
seguem, e depois, assinale a alternativa correta:
a)Estabelece contradição entre espírito e carne, alma e corpo, morte
e vida.
b)O homem centra suas preocupações em seu próprio ser, tendo
em mira seu aprimoramento, com base na cultura greco-latina.
c)O Barroco apresenta, como característica marcante, o espírito de
tensão, conflito entre ideias opostas: de um lado, o teocentrismo
medieval, e, de outro, o antropocentrismo.
d)A arte barroca é vinculada à Contra-Reforma.
e)O estilo Barroco representa o estado de angústia que marcou o
homem seiscentista, dividido entre os prazeres materiais e o medo
do pecado, por isso os poemas barrocos apresentam um forte
rebuscamento sintático.
Meu Deus, que estais pendente de um madeiro,
Em cuja lei protesto de viver,
Em cuja Santa Lei hei de morrer
Animoso, constante, firme e inteiro.
Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai manso Cordeiro.
76
Mui grande é o vosso amor e o meu delito,
Porém, pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor que é infinito.
2)(FUVEST)- Observe a estrofe abaixo.
Esta razão me obriga a confiar,
Que por mais que pequei, neste conflito,
Espero em vosso amor de me salvar.
Nasce o sol e não dura mais que um dia
Depois da luz se segue a noite escura
Em tristes sombras morre a formosura
Em contínuas tristezas, a alegria.
(Gregório de Matos)
Na estrofe acima de Gregório de Matos, Aa principal característica
do Barroco é:
I- há no texto a percepção do fluir do tempo e a angústia ante a
aproximação da morte.
II- o texto apresenta uma visão dilemática da vida, que se configura
como constante oscilação entre o bem e o mal.
III- ao longo do soneto notamos um forte sentimento religioso
enfraquecido pelas lembranças dos prazeres terrenos.
IV- o poeta demonstra uma concepção do divino através da
projeção de anseios e temores característicos do homem pecador.
V- o poeta emprega sutilezas de raciocínio, do jogo de ideias,
através da argumentação, próprios do estilo conceptista.
a)O culto da natureza
b)A utilização de rimas alternadas
c)A forte presença de antíteses
d)O culto do amor cortês
e)O uso de aliterações
3) (USF-SP) Observe o texto abaixo:
Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te,
Te lembra hoje Deus por sua Igreja;
De pó te fez espelho, em que se veja
A vil matéria, de que quis formar-te.
Estão corretos:
a)- apenas I, II, IV e V.
b)- apenas II e III.
c)- apenas I, II e IV.
d)- todos os itens.
e)- apenas II, III, IV e V.
Lembra-te Deus que és pó para humilhar-te
E como o teu baixel sempre fraqueja
Nos mares da vaidade onde peleja
Te põe a vista a terra onde salvar-te.
2)Na expressão: Neste lance, por ser o derradeiro / Pois vejo a
minha vida anoitecer..., encontramos caso de:
Conforme sugere os excertos acima, o poeta barroco não raro
expressa:
a)- perífrase
b)- metáfora
c)- antítese
d)- metonímia
e)- eufemismo
a)- o medo de ser infeliz; uma intensa angústia em face da vida, a
que não consegue dar sentido; a desilusão diante da falência de
valores terrenos e divinos.
b)- a consciência de que o mundo terreno é efêmero e vão; o
sentimento de nulidade diante do poder divino.
c)- a percepção de que não há saídas para o homem; a certeza de
que o aguardam o inferno, e a desgraça espiritual.
d)- a necessidade de ser piedoso e caritativo, paralela à vontade de
fluir até as últimas consequências o lado material da vida.
e)- a revolta contra os aspectos fatais que os deuses imprimem a
seu destino e à vida na terra.
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GABARITO: 1.D 2.E
76
LITERATURA
AULA 07: A poesia de Gregório de Matos
a lírica e a sátira.
A maior parte foi escrita na última fase da vida do poeta, período
de decadência pessoal e profissional. O doutor deixara de advogar
e perambulava pelos engenhos do Recôncavo, levando sua viola de
cabaça, frequentando festas de amigos e namorando as mulatas,
muitas delas prostitutas, com tom brincalhão podem frequentemente
tornar-se obscenos. Daí, o populismo chulo que irrompe às vezes
e, longe de significar uma atitude aristocrática, nada mais é que
válvula de escape para velhas obsessões sexuais ou arma para ferir
os poderosos invejados.
É considerado o maior poeta barroco do Brasil e o mais
importante poeta satírico da literatura em língua portuguesa, no
período. O autor escreveu dentro dos padrões estabelecidos pela
estética barroca mas construiu também uma poesia voltada para as
mazelas e os vícios da sociedade da época, tendo sido por isso
chamado de Boca do Inferno.
A poesia lírica de Gregório de Matos pode ser dividida em lírica
sacra, lírica amorosa (espiritual e carnal), lírica encomiástica
(poemas de circunstância, poemas laudatórios) e lírica filosófica.
ANOTAÇÕES
Poesia lírica sacra - A culpa e o arrependimento
Expressa a cosmovisão barroca: a insignificância do homem
perante Deus, a consciência nítida do pecado e a busca do perdão.
Ao lado de momentos de verdadeiro arrependimento, muitas vezes
o tema religioso é utilizado como simples pretexto para o exercício
poético, desenvolvendo engenhosos jogos de imagens e conceitos.
As ideias de Deus e do pecado, ao mesmo tempo que se opõem,
são complementares. Embora Deus detenha o poder da
condenação da alma, está sempre disposto ao perdão, por sua
misericórdia e bondade; daí deriva Sua maior glória. O autor está
sempre dividido entre pecado e virtude (sente culpa por pecar e
busca a salvação) e vê o pecado como um erro humano, mas
também, como a única forma de Deus cometer o ato do perdão. O
eu-lírico, muitas vezes, se comporta como advogado que faz a
própria defesa diante de Deus (para tal, usava, até mesmo, trechos
da Bíblia)
77
Poesia lírica amorosa - O espírito e a carne
Apresenta-se sob o signo da dualidade barroca, oscilando entre a
atitude contemplativa, o amor elevado, à maneira dos sonetos de
Camões, e a obscenidade, o carnalismo. É curioso que a postura
platônica é dominante, quando o poeta se refere a mulheres
brancas, de condição social superior, e a libido agressiva, o
erotismo e o desbocamento são as tônicas, quando o poeta se
inspira nas mulheres de condição social inferior, especialmente as
mulatas. Neste sentido, destaca-se já certa tropicalidade, a
antecipação de certo sentimento brasileiro. Portanto, na poesia
amorosa do autor podemos encontrar o amor retratado como fonte
de prazer e sofrimento, ao mesmo tempo em que a mulher é
retratada como um anjo e fonte de perdição (pois desperta o desejo
carnal).
Poesia lírica filosófica
A influência de Camões é muito evidenciada nesse tipo de
composição. Aqui, Gregório fica no campo das especulações,
tentando obter respostas sobre dúvidas que dilaceram o eu lírico.
Tais dúvidas, em grande parte, são oriundas do conflito espiritual
vivenciado pelo autor. Embora exista uma busca constante por
respostas, o que se percebe é um eu poético perdido em suas
indagações, transitando entre seus conflitos em busca de valores.
Daí o profundo pessimismo e a angustia diante da vida, abordando
o desconcerto do mundo e a instabilidade dos bens materiais
Poesia satírica
O "Boca do Inferno" não perdoava ninguém: ricos e pobres, negros,
brancos e mulatos, padres, freiras, autoridades civis e religiosas,
amigos e inimigos, todos, enfim, eram objeto de sua "lira
maldizente". Contudo, o melhor de sua sátira não é esse tipo de
zombaria, engraçada e maldosa, mas a crítica de cunho geral aos
vícios da sociedade. Sua vasta galeria de tipos humanos contribui
para construir sua maior e principal personagem - a cidade da
Bahia. De modo sempre galhofeiro, o poeta registra em versos
sempre pequenos acontecimentos da vida cotidiana da cidade e dos
engenhos. Segundo James Amado, a poesia burlesca é a crônica
do viver baiano seiscentista.
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
77
LITERATURA
Texto II
EXERCÍCIOS DE SALA
Quase Nada
(Zeca Baleiro e Alice Ruiz)
Um soneto começo em vosso gabo:
Contemos esta regra por primeira,
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo.
De você sei quase nada
pra onde vai ou porque veio
nem mesmo sei
qual é a parte da tua estrada
no meu caminho
será um atalho
ou um desvio
um rio raso
um passo em falso
um prato8 fundo
pra toda fome que há no mundo
noite alta que revele
o passeio pela pele
dia claro madrugada
de nós dois não sei mais nada
se tudo passa como se explica
o amor que fica nessa parada
amor que chega sem dar aviso
não é preciso saber mais nada
Na quinta torce agora a porca o rabo:
A sexta vá também desta maneira,
Na sétima entro já com grã canseira,
E saio dos quartetos muito brabo.
Agora nos tercetos que direi?
Direi, que vós, Senhor, a mim me honrais,
Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei.
Nesta vida um soneto já ditei,
Se desta agora escapo, nunca mais;
Louvado seja Deus, que o acabei.
1) De acordo com o soneto acima, é incorreto afirmar que:
a)- trata-se de uma metalinguagem em que o poeta elabora uma
explicação de seu próprio fazer poético
b)- ao elogiar a conduta moral de alguém importante, o poeta cria
uma apologia às suas virtudes, tornando o poema uma espécie de
ode
c)- o esvaziamento do conteúdo apresentado pelo poema retrata a
ironia proposital elaborada, na tentativa de mostrar seu desprezo
pela pessoa a quem se dirige
d)- o tom irônico e jocoso do poema não abre mão da linguagem
rebuscada, muito embora o coloquialismo se faça presente como
recurso de linguagem
e)- a construção do poema é montada em cima de forte angústia e
sufoco, que se expressa através de um discurso vazio, percebendo
que, ao final, o mérito pela elaboração do texto é apenas do próprio
poema
78
2) De acordo com os textos pode-se afirmar que, exceto:
a) Podemos observar de forma clara o jogo de opostos, que serve
para expressar um estado de espírito atormentado. No texto I, o
poeta busca se esmerar em aparentar uma certa tranquilidade,
sentindo-se no entanto aprisionado em seu segredo dentro do peito;
no texto II, o tormento se mostra através da dificuldade de definir o
amor entre os amantes.
b) Hiperbolicamente, o silêncio proferido pelo sujeito do texto I é
amplificado, já que, ninguém sufoca a voz. O sujeito lírico, como
todo ser humano que sofre os tormentos íntimos e profundos, acaba
por explodir, permitindo o afloramento de sua tormenta.
c) Os poemas, apesar do afastamento no tempo, expressam bem a
lírica amorosa barroca, incorporando elementos característicos do
cultismo, que se configuram através da linguagem lúdica, em que o
formalismo métrico do primeiro e a liberdade formal do segundo
apontam para uma abordagem contraditória e desequilibrada na
apresentação da realidade.
d) No texto II, o amor se apresenta de forma inesperada, levando o
sujeito poético a buscar uma definição dessa nova realidade
suscitada em seu íntimo, se conseguir, no entanto, uma explicação
lógica para esse sentimento.
e) Os poemas demonstram como a literatura não deve ser encarada
como coisa estanque, hierarquizada e temporal, pois, em certos
momentos de nossa história literária, pode haver retomada de
temáticas presentes em outros tempos, através de uma nova visão
que se enquadre dentro das propostas estéticas da época em
questão.
Os textos que seguem pertencem a poetas de épocas literárias
distintas. O texto I, ao poeta Gregório de Matos, do barroco
brasileiro, o texto II, ao poeta e músico contemporâneo Zeca
Baleiro. Leia-os com atenção para responder as questões
propostas.
Texto I
(Gregório de Matos Guerra)
Largo em sentir, em respirar sucinto
Peno, e calo tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento
Mostro, que o não padeço, e sei, que o sinto.
O mal, que fora encubro, ou que desminto,
Dentro no coração é, que o sustento,
Com que para penar é sentimento,
Para não se entender é labirinto.
3)Através das expressões textuais presentes no textos I, atente para
os itens que se seguem:
I- No texto I, o verso Largo em sentir em respirar sucinto faz
referência ao mal que aponta na estrofe seguinte.
II- Os termos sentimento e labirinto, na segunda estrofe do texto
I, têm relação direta com o conflito íntimo do sujeito lírico.
III- No verso Mostro que o não padeço e sei que o sinto, na
primeira estrofe do texto I, reforça o combate que existe entre o
mundo interior X o mundo exterior do sujeito lírico.
Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;
Da tempestade é o estrondo efeito:
Lá tem ecos a terra, o mar suspiros.
Mas oh do meu segredo alto conceito!
Pois não me chegam a vir à boca os tiros
Dos combates que vão dentro do peito
Estão corretos os itens:
a) Apenas I e II
b) Apenas I e III
c) Apenas II e III
d) Apenas II
e) Todos os itens
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78
LITERATURA
AULA 08: a obra de Padre Antônio Vieira
conceptista dos sermões
a linguagem
Exalta os valores que nortearam a construção do grande Império
português. E julga (de forma messiânica) que este Império deveria
ser reconstruído no Brasil.
Propõe o retorno dos cristãos novos (judeus) a territórios lusos
como forma de Portugal escapar da decadência na qual naufragara
desde meados do século XVI.
Apresenta uma linguagem de tendência conceptista, de notável
elaboração, grande riqueza de ideias e imagens espetaculares.
Seu método de pregação era conhecido como método parenético.
Padre António Vieira foi um religioso, escritor e orador
português da Companhia de Jesus. Um dos mais influentes
personagens do século XVII em termos de política e Oratória,
destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta
qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos
povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e
fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado de "Paiaçu"
(Grande Padre/Pai, em tupi). António Vieira defendeu também os
judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus
convertidos, perseguidos à época pela Inquisição) e cristãos-velhos
(os católicos tradicionais), e a abolição da escravatura. Criticou
ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria
Inquisição. Na literatura, seus sermões possuem considerável
importância no barroco brasileiro e português. As universidades
frequentemente exigem sua leitura.
Por esses e outros aspectos Fernando Pessoa o chamou de
"Imperador da Língua Portuguesa".
ANOTAÇÕES
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Os Sermões são a obra pela qual o jesuíta Antônio Vieira
(1608-1697) ficou conhecido, sendo depois considerado por suas
prédicas impressas o Imperador da língua portuguesa, na
expressão recorrentemente lembrada de Fernando Pessoa. Os seus
sermões, notável conjunto de obras-primas da oratória ocidental,
constituem um mundo rico e contraditório, a revelar uma inteligência
voltada para as coisas sacras e, simultaneamente, para a vida
social portuguesa e brasileira de então. Neles encontramos uma
grande crônica da história imediata, (Vieira jamais se absteve das
grandes questões cotidianas e políticas do seu século), mas nos
deparamos também com uma atormentada ânsia da eternidade, que
só a religião parece atender. Em seu Sermão da Sexagésima, um
dos mais conhecidos do autor, pregado no ano de 1655, valoriza a
pregação pela persistência diante das dificuldades. Tal tema é
mencionado a partir da ação do pregador evangélico da palavra
divina. A Deus perguntado onde pregar e a quem pregar o
evangelho, responde-lhe o Senhor que a todas as criaturas em
todos os lugares. Viera analisando o tema expõe a perseverança do
semeador que ao sair para o ofício, encontra vales de espinhos,
montanhas rochosas e todo tipo de terreno e de homens,
dificultando a semeadura e a pregação. E a quem pregar? Aos
espinhos? As árvores? As aves? Aos troncos? Sim, pois em cada
nação há homens degenerados de toda a espécie. Há homens
espinhos, que são bárbaros e incultos. Há homens árvores, pois
há arvores que dão frutos, flores, muitos galhos, e aquelas que
estão sempre secas, cheias da sua própria morte. Há homens
aves, que se sentem tão livres que não tem porto seguro. Há
homens troncos que só conhecem a brutalidade. Então se há todo
tipo de homem há de haver todo tipo de palavra semeadora. E se a
palavra prosperar será louvor do semeador não do homem, assim
como se a palavra não proceder é do semeador a derrota. Daí a
importância do pregador com toda sua bagagem com habilidades de
pescador. Frutificar a palavra é plantar amor nos corações dos
homens. É perseverar diante das dificuldades, é sentir-se vitorioso
de cada pequena semente que vinga. É amar sem limites, mesmo
que o limite lhe atropele o caminho. Muita diferença há entre o
pregador e o semeador. O pregador, fala. O semeador, semeia, faz
com as mãos. O semeador dá o exemplo, faz a obra, vive a palavra.
Vieira questiona; Porque hoje há tantos pregadores e tão poucos
semeadores? Contaminem aos homens com boas palavras para a
salvação do mundo.
Características dos Sermões de Vieira
Utiliza continuamente passagens da Bíblia e todos os recursos da
oratória jesuítica para convencer os fiéis de sua mensagem, mesmo
quando trata de temas cotidianos.
Ataca os vícios (corrupção, violência, arrogância etc.) e defende as
virtudes cristãs (religiosidade, caridade, modéstia, etc.).
Combate os hereges, os indiferentes à religião e os católicos
desleixados em relação à Igreja.
Defende abertamente os índios. Mantém-se ambíguo frente aos
escravos negros: ora tenta justificar a escravidão, ora condena
veementemente seus malefícios éticos e sociais.
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
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LITERATURA
EXERCÍCIOS DE SALA
Observe esses trechos, de Padre Vieira, que apresentam as
características de um sermão:
Os textos que se seguem pertencem a um sermão de Padre Antônio
Vieira. Leia-o com atenção para responder as questões propostas.
O sermão há de ter um só assunto e uma só matéria, As razões
não hão de ser enxertadas, hão de ser nascidas. O pregar não é
recitar. As razões próprias nascem do entendimento, as alheias vão
pegadas à memória, e os homens não se convencem pela memória,
senão pelo entendimento.
Texto 1
Será porventura o não fazer hoje fruto a palavra de Deus, pela
circunstância da pessoa? Será por que antigamente os pregadores
eram santos, eram varões apostólicos e exemplares, e hoje os
pregadores são eu, e outros como eu?
Boa razão é esta. A
definição do pregador é a vida e o exemplo. Por isso Cristo no
Evangelho não o comparou ao semeador, senão ao que semeia.
(...) Entre o semeador e o que semeia há muita diferença: uma coisa
é o soldado e outra coisa o que peleja; uma coisa é o governador e
outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa é o semeador,
e outra o que semeia; uma coisa é o pregador e outra o que prega.
O semeador e o pregador é nome; o que semeia e o que prega é
ação; e as ações são as que dão o ser ao pregador. Ter nome de
pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a
vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o Mundo.
Texto 2
3)De acordo com os fragmentos, NÃO podemos afirmar que:
a)- segundo o autor, um sermão deve concentrar-se em um só
assunto, que por sua vez, deve ser bem fundamentado
b)- segundo o escritor, os argumentos de um sermão, decorrem do
raciocínio lógico e de fatos concretos
c)- pelas características apresentadas sobre um sermão, na
concepção do autor, percebe-se a aproximação com o estilo
conceptista
d)- de acordo com a passagem O pregar não é recitar, levando-se
em conta o objetivo da poesia e do sermão, o autor deixa claro que,
os sermões buscam convencer o ouvinte sobre determinado
assunto, de ordem coletiva, universal, enquanto que a poesia busca
sensibilizar o ouvinte/leitor por meio da expressão de sentimentos
individuais
e)- de acordo com os fragmentos, percebe-se nitidamente a ideia de
que o sermão deve apresentar um jogo de sentimentos do autor,
tentando persuadir o leitor por meio da expressividade emotiva e
não racional
Sendo, pois, certo que a palavra divina não pode deixar de frutificar
por parte de Deus, segue-se que ou é por falta do pregador ou por
falta do ouvinte. Por qual será? (...) Os ouvintes ou são maus ou
São bons; se são bons, faz neles grande fruto a palavra de Deus; se
são maus, ainda que não faça fruto, faz efeito. (...) a palavra de
Deus é tão fecunda, que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz que
nos maus, ainda que não faça fruto, faz efeito; lançada nos
espinhos não frutificou, mas nasceu até nos espinhos; lançada nas
pedras não frutificou, mas nasceu até nas pedras.
Não são só ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas ou
espreitam os que vão se banhar para lhes colher a roupa; os
ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são
aqueles a quem os reis encomendam os exércitos, ou o governo
das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com
manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros
ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os
outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo; os
outros, se furtam são enforcados, estes furtam e enforcam.
1)De acordo com os textos, NÃO se pode afirmar que:
a)- no texto 1, o autor se vale de um interminável jogo de ideias para
elaborar um argumento acerca da diferença entre pregador
verdadeiro e falso pregador
b)- no texto 2 o elogio da natureza ocorre para elaborar um ideal
pagão de vida, apelando à repetição de palavras e ideias
c)- ao relacionar o verbo com a ação, o pregador no texto 1 mostra
a diferença entre semear e ser semeador da palavra de Deus
d)- no texto 2 a progressão gradual do raciocínio elaborado pelo
sermonista visa ao convencimento do ouvinte ou leitor
e)- as antíteses e metáforas são encontradas nos dois fragmentos,
que expressam uma linguagem ornamentada e repleta de relações
de causa, condição e efeito.
Padre Antônio Vieira
4)De acordo com o texto lido, assinale a alternativa CORRETA:
a) O autor critica os ladrões porque eles invadem a propriedade
alheia.
b) Vieira acha que a propriedade privada deve ser defendida a
qualquer custo, mesmo que para isso inocentes sejam confundidos
com criminosos.
c) O autor distingue dois tipos de ladrões; os que estão no
poder e roubam os povos e os outros que se furtam são
enforcados.
d) De acordo com o texto, o autor acha que apesar de haver dois
tipos de ladrões, ambos devem ser enforcados, pois ladrão é
sempre ladrão.
e) a texto reflete sobre a problemática social, sem liberar juízo de
valor.
2)Sobre a obra de Padre Vieira, é correto afirmar que:
a)- por ser um escritor português, nunca se interessou por
problemas brasileiros, utilizando toda a sua capacidade de oratória
para defender Portugal, sobretudo de questões políticas.
b)- a utilização de textos bíblicos em seus sermões servia para
mostrar, em forma de argumentos, o ideário da Reforma Protestante
que ele tanto defendeu.
c)- a linguagem de Vieira apresenta uma sutileza de raciocínio,
revelando a preocupação em desenvolver ideias e ilustrá-las da
forma mais clara possível na tentativa de persuadir o público.
d)- o método parenético utilizado por Vieira em sua linguagem
consistia em elaborar um intricado jogo de palavras para complicar
a oratória, desprovendo-se da argumentação
e)- em seus sermões, Vieira preocupou-se com a pregação
religiosa, deixando de lado o envolvimento político.
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