Patrícia Engel Secco
uma história de
bicho de verdade!
II
III
Ilustrações
Maria Eugênia
uma história de
bicho de verdade!
Patrícia Engel Secco
Ilustrações
Maria Eugênia
4
Olá! Você quer ouvir uma história?
Quer mesmo?
Oba! Então você está falando com a pessoa certa: Vini Vinícius, o maior, melhor e mais modesto contador mirim de histórias
aqui da região!
Bem, pelo menos é o que dizem por aí...
Mas o que acontece mesmo é que, como eu adoro uma conversinha, acabo sempre contando um causo ou outro para os amigos
e, quando menos espero, estou cercado de gente, todo mundo me
ouvindo... Agora, o mais engraçado é que nessa hora, na hora da
história, ninguém liga muito para minha idade, ficam todos prestando a maior atenção, desde os meninos que estudam comigo lá
na escola rural até as pessoas mais velhas aqui da cidade!
5
6
7
E você acredita que os bichinhos aqui da região também aparecem para ouvir? Isso mesmo! Os cachorros, os gatos, os cavalos e
até mesmo outros animaizinhos vão chegando, chegando, e, quando
eu dou por mim, estou totalmente rodeado!
Mas nem preciso falar que eu ADORO tudo isso, não é? E o resultado é sempre, sempre muito gostoso e surpreendente!
Pois não é que ainda noutro dia, ou melhor, noutra noite, quando eu já estava chegando em casa, aconteceu uma coisa louca e
inusitada?
E olha que foi uma diversão!
De tanto eu contar histórias e lendas de entes do nosso folclore,
adivinhe quem apareceu para ouvir histórias.
Os próprios entes!
E sabe como isso aconteceu?
9
Bem, pelo que me disseram, foi o Joca, um garoto lá da escola,
que na última contação levou o Paco, um cachorro labrador, que
acabou falando sobre as histórias para o Juarez, o cavalo da Fazenda Felicidade, que contou para o Kiko, o gato amarelo da Dona Clementina, que é amigão do Irineu, morceguinho comedor de fruta lá
do pomar do Seu Jeremias, que por ser um bichinho estranho e noturno conhece todos os amigos da floresta. E foi só ele abrir a boca
para o Saci-Pererê achar muito interessante ouvir histórias e convidar
todos os seus colegas, inclusive o próprio morceguinho Irineu, para
vir até a varanda da minha casa.
11
12
Viu só como a fama chega sem a gente
perceber?
Bastou eu piscar os olhos e pronto: estavam todos sentados bem aqui na minha frente – o Curupira, o Boto, o Boitatá, o Saci-Pererê, a estrela Tainá, a Iara,
a Mula-sem-Cabeça, o Negrinho do Pastoreio, o
Caipora e até mesmo o Lobisomem. Todos entes de
nosso folclore, sobre quem eu vivo contando histórias.
Só que para eles eu contei uma história diferente, uma
história de bicho de verdade! Sabe, achei melhor começar
com uma história de animais comuns, assim como o próprio
Paco ou o Juarez, pois é bom que os entes do folclore saibam
que os animais também são muito espertos.
E sabe qual lenda eu contei para eles? A lenda do coelho e do
coiote. Exatamente esta que eu vou contar para você...
13
Era uma vez um reino onde viviam um rei e sua linda filha, tão
linda e tão bonita que todos, em toda a região, queriam se casar
com ela. O rei, com o objetivo de escolher melhor o futuro marido
da princesa, chamou todos os pretendentes e deu a eles inúmeras
tarefas para testar sua coragem e ousadia.
Assim, reduziu-os a apenas dois os candidatos: o coelho e o coiote. E eles tinham uma última tarefa a realizar.
15
O coiote, esperto, forte e bem-disposto, ficou se gabando e se
vangloriando, pois em sua opinião o coelho era muito mais fraco do
que ele, o que deveria bastar para garantir uma justa vitória.
16
Já o coelho, também muito esperto, mas não tão forte,
decidiu que deveria levar a tarefa muito a sério caso
quisesse mesmo desposar a linda princesa.
No dia da competição, tanto o coelho como o coiote estranharam
que no local combinado só havia uma fogueira, um caldeirão, duas
cumbucas e o cozinheiro real, que, feliz da vida, fazia um delicioso
mingau.
18
19
Quando o rei, a princesa, todos os sábios do reino, os juízes e a
população em geral chegaram, o cozinheiro já estava com o mingau
prontinho, cheiroso e borbulhante.
E foi o próprio rei que explicou a tarefa:
– O pretendente que conseguir tomar este mingau fervendo, sem
soprar e sem titubear, será o meu futuro genro.
20
22
Achando a tarefa simples demais, o coiote resolveu acabar logo com ela e, correndo, aproximou-se do caldeirão.
Pegou rapidamente o prato e deixou que o cozinheiro colocasse nele a iguaria, mas bastou sentir o calor do mingau em
suas mãos para, no mesmo instante, largar a cumbuca no chão,
derrubando seu conteúdo e, inclusive, queimando seus pés.
24
O coelho, que observava de longe toda a confusão, pensou, pensou, pensou... e teve uma ótima idéia.
Chegou calmamente perto do caldeirão e, com a ponta dos dedos, segurou uma cumbuca para que o cozinheiro a enchesse com
o mingau fervente. Depois, a fim de demonstrar como ele seria bravo e corajoso, exibiu a todos os presentes o conteúdo da cumbuca, deixando que cada um sentisse de perto os vapores quentes do
alimento.
Como eram centenas os que assistiam ao teste, o coelho demorou
um bom tempo passando pela frente de todos: do rei, da princesa,
dos sábios, dos juízes, das mulheres, dos homens e, também, das
crianças. Demorou tanto que, quando chegou o momento de sorver
o delicioso conteúdo, ele tomou tudo de uma vez, sem piscar, soprar
ou titubear, vencendo a competição e podendo, finalmente, pedir a
mão da princesa em casamento.
26
Então, gostou?
Espero que sim, pois sei muito bem que todos os entes adoraram...
E será que você sabe, só por acaso, como é que eu sei?
Ah! Porque justamente hoje, bem à noitinha, todos os entes vão
voltar aqui em casa, só para ouvir mais histórias...
Mas desta vez eu escolhi uma história sobre humanos, um príncipe e uma princesa!
O que você acha de ficar também?
Eu vou adorar a sua companhia e posso até dizer que o Paco e o
Juarez também, pois não é que eles já chegaram?
Um abraço
Vini
27
Bem, já que você é o nosso convidado especial, achei melhor
apresentá-lo para alguns entes, todos meus amigos:
O Lobisomem
O Curupira
28
29
Um moço que vira lobo toda noite de lua cheia. Filho mais novo
de uma mãe que tem sete filhas, vive como menino até fazer 13 anos,
quando começa a maldição. Dizem que para desfazer o encanto é preciso
espetar o dedo do bicho com um espinho de flor de laranjeira, crescida dentro
de um cemitério.
Um serzinho peludo, com pele e dentes verdes, cabelo vermelho
e os pés virados para trás. É o espírito protetor das matas e das florestas, e por conhecer tão bem cada árvore, cada planta, é capaz de fazer
remédios que curam qualquer animal de qualquer doença, desde picadas de pulga
até dor nos dentes ou na cauda.
O Caipora
O Saci
30
31
Ente da floresta, cuidador de todos os animais que vivem por lá.
Muito peludo, vive montado em um porco-do-mato, bravo e feroz. Juntos, o Caipora e o porco assustam todo e qualquer caçador, moço ou velho,
alto ou baixo, gordo ou magro, indígena ou fazendeiro.
Um menino negro, de uma perna só. Usa um gorrinho vermelho e
vive com um cachimbo de milho na boca. Sempre disposto a aprontar
alguma, é alegre, levado e fazedor de confusão.
Projeto
Fome de Ler
Projeto Gráfico
Lili Tedde
32
Revisão
Trisco Comunicação
Coordenação Editorial
Ler é Fundamental Produções e Projetos
Realização
Secco Assessoria Empresarial
Concepção
Patrícia Engel Secco
000 exemplares
Abril de 2008
Editora Boa Companhia
www.projetofeliz.com.br
Fale conosco
[email protected]
33
Download

uma história de bicho de verdade!