Oftalmologia - Vol. 35: pp.383
Secção Histórica e Iconográfica - Histórias da Oftalmologia Portuguesa
Moura Pinheiro
Responsável da Secção
João Segurado
COL - Centro Oftalmológico de Lisboa
Na Galeria de Ilustres do Serviço 7 de S. José, inscreveria certamente o nome do Dr. Fernando Moura Pinheiro.
Precocemente desaparecido, a sua presença era sinónimo de
optimismo e boa disposição.
As suas histórias, fossem dramas ou comédia eram contadas com a mestria e um sentido de humor espontâneo que
prendiam a atenção de quem o escutava .
Vou tentar lembrar-me de algumas, pedindo desde já
desculpa para algumas imprecisões em que possa incorrer,
nestas histórias desgarradas que passo a contar.
A “Na pequena Cirurgia”
Na sala de pequena cirurgia, quando algum interno operava doentes seus, muitas vezes recomendados, tinha o cuidado de entrar na sala, e em voz off, comentar, dando ao
doente a ilusão de estar a ser operado pelo seu cirurgião e
não por um modesto e inseguro aprendiz, o que aumentava
os níveis de confiança das partes envolvidas.
B “No Banco”
Dizia com muito humor que a sua equipa de banco se assemelhava a um menu culinário ( Moura Pinheiro, Cachola e
Lebre ), e contava que numa cirurgia de urgência, com o doente sob anestesia local, discutiam cirurgião e ajudante sobre
qual a melhor abordagem para aquele caso, quando se ouviu
por debaixo dos panos uma voz preocupada que pedia “tenham calma, entendam-se que isto ainda se pode compor “.
C “Homens y Touros”
Caçador exímio, apreciador de touradas com touros de
morte, e como não podia deixar de ser de sevilhanas e flamenco, tinha sempre uma sugestão de viagem pela Andaluzia
que incluía invariavelmente uma estada num Parador próximo de Madrid, de preferência bem acompanhado.
Contava com muita piada que tinha um afilhado cigano lá para os lados de Alpedrinha, Rosmaninhal, que tinha
exactamente o mesmo nome que ele, o que poderia dar origem a muita confusão. Um outra ocasião, em plena consulta
de glaucoma do S.7 (não confundir com CR7), lembrou-se
que na mala do seu velho fiat devia estar uma galinha viva
oferecida há dois dias por uma reconhecida doente. Fomos
a correr, o carro ao sol, abriu-se a mala, e do meio de cartuchos vazios, sacos vários, revistas lá saiu a desgraçada
galinha, atordoada mas miraculosamente viva, e um cheiro
indescritível a galinheiro…..
D “à mesa com…”
Nestes tempos ainda se almoçava de garfo, faca, toalha
e guardanapo de pano, formando-se grupos de amigos que
regularmente frequentavam o mesmo restaurante, muitas
vezes a mesma mesa, criando-se um relação quase familiar
com os empregados. Ora o Dr. Moura Pinheiro, tinha a sua
tertúlia gastronómica que batia o eixo formado pela Rua
Luciano Cordeiro e Duque de Loulé, e num destes restaurantes , durante anos o empregado de mesa tratava-os respeitosamente por Sr. Eng. , Sr. Arquitecto…….sem nunca
estes terem esclarecido o equivoco.
Muitas mais histórias, existem certamente onde o seu
espírito vivo e humor acutilante brilham, contudo não queria deixar de sublinhar que o Dr. Moura Pinheiro era para
além dessa faceta, um óptimo profissional e um excelente colega e amigo a quem presto a reconhecida e devida
homenagem.
Vol. 35 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2011 |
383
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