TÍTULO:
A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NOS VEÍCULOS IMPRESSOS DO ESTADO DE SERGIPE 1
AUTORES :
LOPES, Leandro Silva 2
OLIVEIRA, Cândida Santos de3
TAVARES, Michele da Silva4
VIEIRA, Bianca Natália Gomes Santos5
Estagiários do Instituto de Tecnologia e Pesquisa de Sergipe - ITPS.
CO-AUTORES :
COLUCCI, Maria Beatriz6
MOREIRA, Jaqueline Neves7
RESUMO:
Este trabalho é resultado de um projeto da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de Sergipe (FAP-SE), incorporada ao Instituto de Tecnologia e Pesquisa de Sergipe,
(ITPS) que foi desenvolvido no âmbito do Programa de Comunicação em Ciência e
Tecnologia (PROCIT), em conjunto com a Universidade Federal de Sergipe e
Universidade Tiradentes. O objetivo principal é questionar a existência do conteúdo de
ciência e tecnologia nos jornais impressos de Sergipe, bem como o interesse destes em
publicar notícias desta natureza. Esta proposta nasceu da necessidade de edificar um
sistema de divulgação científica de abrangência estadual, para consolidar uma política
de popularização da ciência para o Estado e estimular o surgimento de projetos
divulgadores científicos vindos das instituições de ensino e pesquisa de Sergipe.
PALAVRAS -CHAVE:
Divulgação Científica; Jornais Impressos.
1
Trabalho apresentado ao III Intercom Júnior, no XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da
Comunicação da Intercom.
2
Graduando em Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Tiradentes,
Aracaju/Sergipe. E-mail: [email protected].
3
Graduando em Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Tiradentes,
Aracaju/Sergipe. E-mail: [email protected].
4
Graduando em Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal de Sergipe,
Aracaju/Sergipe. E-mail: [email protected].
5
Graduando em Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal de Sergipe,
Aracaju/Sergipe. E-mail: [email protected].
6
Mestra em Multimeios, Unicamp; Graduação em Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo,
Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: [email protected].
7
Mestra em Comunicação e Cultura, Universidade Federal do Rio de Janeiro; Graduação em
Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo. Universidade Federal de Sergipe. E-mail:
[email protected].
1. INTRODUÇÃO
Considerando a distância entre jornalistas e pesquisadores sergipanos, qualquer
ação que possa estimular o interesse dos comunicadores na divulgação científica será
efetivamente uma importante contribuição para a popularização da ciência e tecnologia
no Estado. Afinal, disseminar informações sobre pesquisas científicas é uma forma de
prestar contas, haja vista que a verba dispensada a tais atividades é, na maioria das
vezes, proveniente dos contribuintes, portanto, do povo.
A informação é direito inegável ao ser humano e elemento fundamental para a
construção de uma sociedade detentora de conhecimentos. Sendo assim, o jornalismo
científico torna-se indispensável para tal consolidação, pois, junto à ciência e
tecnologia, muda rumos e une pessoas para uma vida mais digna.
Essa é a contribuição que pesquisadores e jornalistas podem dar à
democratização da Ciência e Tecnologia num país carente de saber científico:
transformando o que ora é obscuro e inatingível em uma coisa possível.
Destaca-se, neste âmbito, o papel do jornal impresso, que além de ser um meio
de comunicação, em muitos casos também é a única fonte de informação para os
leitores. A notícia ou reportagem impressa não raramente é vista como verdade absoluta
pela população. Daí a importância do jornal impresso nesse processo de inserção de
conhecimento e de saber científico nos meios de comunicação.
Este veículo, que tem a credibilidade como resultado de longos anos de história,
é um campo potencialmente eficaz em termos de divulgação científica. Além disso, é
necessário destacar a capacidade de registro do jornal impresso em comparação com os
outros veículos de comunicação. O texto da notícia em televisão ou no rádio é ouvido
apenas uma vez pelo telespectador ou ouvinte, sem a possibilidade de releitura oferecida
por jornais ou revistas.
Tendo em vista as considerações acima é que este trabalho se apresenta como
fruto do Projeto de Divulgação Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de Sergipe (FAP-SE), recentemente incorporada ao Instituto de Tecnologia e Pesquisa
de Sergipe (ITPS). Ele foi desenvolvido no âmbito do Programa de Comunicação em
Ciência e Tecnologia (PROCIT), em conjunto com a Universidade Federal de Sergipe e
Universidade Tiradentes.
2
2. OBJETIVOS
Este projeto tem como objetivo principal questionar a existência do conteúdo de
Ciência e Tecnologia nos meios de comunicação impressos do estado de Sergipe, bem
como o interesse destes em publicar notícias de natureza científica e tecnológica.
Esta proposta nasceu da necessidade, sentida pela FAP-SE, de edificar um
sistema de divulgação científica de abrangência estadual, partindo da construção de
bases de sustentação amplas e bem estruturadas para consolidar uma política de
popularização da ciência para o Estado e estimular o surgimento de projetos
divulgadores científicos vindos das instituições de ensino e pesquisa de Sergipe.
Especificamente, o projeto propõe:
-
Priorizar a apuração de informações que serviriam de base para a definição
futura de projetos e ações, através de levantamento de um conjunto de
informações básicas sobre os diferentes universos potencialmente sensíveis e/ ou
interessados na divulgação científica (pesquisadores, veículos de comunicação e
jornalistas);
-
Montar um banco de dados de pesquisadores, divulgadores e projetos de
pesquisa desenvolvidos em Sergipe;
-
Incentivar a participação de pesquisadores e jornalistas no trabalho de
divulgação científica;
-
Estabelecer relação de parceria e cooperação entre cientistas e jornalistas para
divulgação da ciência;
3. JUSTIFICATIVA
As instituições de pesquisa e as universidades sergipanas, apesar de produzirem
conhecimento científico, ainda não consolidaram uma política de difusão, de forma a
incorporar a divulgação científica para a sociedade como uma de suas atividades
fundamentais.
Divulgar a ciência para a população contribui para a cidadania, porém, por
diversas razões, a ciência é pouco divulgada no Brasil. E ainda é feita de forma
generalista, pois os agentes da divulgação (jornalistas, cientistas, instituições) têm
3
como meta principal que a notícia científica de seu interesse seja publicada nos
veículos tradicionais de comunicação, e não adequando sua linguagem a diferentes
públicos. Assim, o foco principal da notícia não é, às vezes, o foco principal da
pesquisa; outras vezes, a informação é tão generalista que não se aprofunda em nenhum
aspecto importante da pesquisa, como sua aplicação e conseqüências para a sociedade,
por exemplo.
Em Sergipe, a situação não é diferente. Sendo assim, destaca-se o ineditismo
desta pesquisa, denotando que pouco tem sido feito no sentido de divulgar a ciência de
forma adequada no Estado, sobretudo nos veículos impressos. Conhecer as opiniões
dos diretores e editores dos jornais é fundamental para identificar as intenções, as ações
e os problemas referentes à veiculação de notícias e reportagens de natureza científica.
Entende-se que esse passo inicial será essencial para, posteriormente, fornecer
alternativas que possam contribuir para viabilizar uma comunicação efetiva entre
pesquisadores/ instituições de ensino/ instituições de pesquisa/ centros de pesquisa/
instituições de fomento à pesquisa e veículos de comunicação.
Ressalte-se,
também,
que
não
há
jornalistas
nos
principais
meios
de
comunicação do Estado que se dediquem à divulgação científica em suas atividades
profissionais, bem como nenhum curso de Jornalismo de Sergipe oferece aprendizado
em jornalismo científico, não existindo professores com formação específica na área.
4. M ETODOLOGIA
A metodologia implementada por este Projeto de Divulgação incluiu ações
específicas no âmbito do estado de Sergipe, dirigidas aos jornais impressos.
As discussões metodológicas e a condução dos trabalhos tiveram a coordenação
da profª. M.Sc. Maria Beatriz Colucci, coordenadora do curso de jornalismo da
Universidade Tiradentes, sob a orientação da profª M.Sc. Jaqueline Neves Moreira, e
consultoria de José Roberto Ferreira, ex-presidente da Associação Brasileira de
Jornalismo Científico (ABJC).
A primeira ação deste projeto de divulgação científica consistiu na convocação
de uma reunião com seus integrantes – um representante da FAP-SE, uma professora e
quatro estagiários vinculados aos cursos de Jornalismo da Universidade Federal de
4
Sergipe – UFS e da Universidade Tiradentes – UNIT, para a apresentação do objeto de
pesquisa, delimitação das etapas de investigação, organização dos questionários e
distribuição das tarefas de cada componente.
Tendo em vista a disponibilidade de horário dos estagiários, a equipe decidiu
dividir-se em dois grupos para a realização das atividades: as alunas da UFS, Bianca
Natália e Michele Tavares, durante o período matutino, responsáveis pelos jornais
impressos da capital e os alunos da UNIT, Cândida Oliveira e Leandro Lopes, durante o
período vespertino, responsáveis pelos jornais impressos do interior sergipano,
orientados pela Profª M.Sc. Jaqueline Neves Moreira.
A segunda etapa desta pesquisa consistiu em identificar todos os jornais
impressos da capital e interior. Em seguida, foi realizada uma análise do conteúdo das
publicações impressas relacionado à ciência e tecnologia, seguindo alguns critérios de
classificação, tais como o enfoque da informação científica publicada, a origem do
material publicado, a complexidade do fenômeno, o grau de profundidade na
abordagem e recursos gráficos utilizados. Foram analisados quatro jornais de maior
circulação e relevância na capital, sendo dois diários (Jornal da Cidade e Correio de
Sergipe) e dois jornais semanais (A Semana e Cinform).
Após isso se estabeleceu que o próximo passo seria contatar e agendar as
entrevistas para a aplicação dos questionários junto aos diretores e editores dos veículos
impressos. Entretanto, é importante ressaltar que os estagiários encontraram muita
resistência por parte dos profissionais do jornal – horário não compatível, informações
desencontradas, baixo interesse pelo assunto, entre outros. Devido a esses problemas, à
medida que os estagiários faziam os contatos, já seguiam para a aplicação dos
formulários. Sendo assim, as duas atividades foram feitas simultaneamente.
Ao final de seis meses de trabalho, foi realizada uma análise sistemática dos dados
dos formulários, de forma a quantificar os resultados obtidos a partir das respostas dos
entrevistados. Além disso, foi elaborado um relatório para descrever de forma detalhada
as informações específicas e gerais de cada editoria e direção, tais como: foco do
noticiário, perfil do ouvinte, a incidência de notícias de natureza científica, grau de
interesse em publicar notícias / reportagens de natureza científica e tecnológica, grau de
interesse particular por este conteúdo específico e as sugestões dos entrevistados para
aumentar este conteúdo no veículo em que trabalha.
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5. REFERENCIAL TEÓRICO
O jornalismo científico é um campo da comunicação em desenvolvimento, mas que
já está contribuindo para a democratização do conhecimento. Os avanços da ciência e da
tecnologia levam o público a querer mais informações, em um curto espaço de tempo,
sobre os benefícios ou prejuízos que as novas descobertas podem causar. Por isso, negar
a informação científica significa contribuir para uma visão equivocada de que a ciência
não tem uma íntima relação com o desenvolvimento humano e social e até mesmo com
o cotidiano dos indivíduos.
Neste sentido, a tarefa do jornalista de ciência consiste em explicar ou traduzir o
conhecimento científico ou assuntos relacionados a ele para um público que se encontra
fora da comunidade científica. Os temas enfocados neste tipo de texto vão desde
pesquisas básicas ou aplicadas em ciência e tecnologia a assuntos ligados ao meio
ambiente, incluindo aí as políticas - governamentais ou não - relativas a essas áreas
(Cavalcanti, 1993).
O público tem o direito de conhecer os fatos e opiniões dos atores sociais neles
envolvidos direta ou indiretamente, ou seja, a mídia tende a solicitar tanto amadores
quanto profissionais para colaborar em reportagens sobre conteúdos específicos
destinadas ao público em geral. Este procedimento normal da mídia de consultar
especialistas acentua-se quando se trata de ciência e tecnologia, porque a quantidade de
profissionais da imprensa que se especializam nestes temas é pequena. (Meadows,
1999).
Além disso, o jornalista científico não deve se limitar à função de mero "tradutor" da
fala do cientista e divulgador de sua produção, por mais relevante que seja. A função
estratégica da C&T, o impacto da produção científica e tecnológica sobre o meio
ambiente e o bem-estar da sociedade em geral, exigem uma mudança substancial na
relação entre o jornalista, cientista e sociedade. É preciso acabar com a dependência do
jornalista ao discurso científico por falta de capacitação e visão crítica sobre o processo
de produção do conhecimento (Caldas, 2000).
Segundo Cavalcanti (1993), a disseminação do jornalismo científico, antes restrito
às revistas especializadas, ampliou o leque de opções para o grande público. A partir da
6
década de 80, os grandes jornais diários brasileiros ampliaram o espaço concedido à
informação científica e tecnológica disponibilizando editorias especializadas.
A saída é buscar uma aproximação entre todos aqueles que estão (ou
deveriam estar) comprometidos com a democratização do
conhecimento, objetivando o estabelecimento de parcerias, a definição
de estratégias de atuação, a capacitação de fontes, o fortalecimento da
educação fundamental e o debate amplo sobre o papel da ciência e
tecnologia numa sociedade em desenvolvimento. (Bueno, 2002,
p.230).
6. ANÁLISE DE DADOS
6.1 CLIPAGEM DOS JORNAIS IMPRESSOS :
Para a primeira etapa prática desta pesquisa foi proposta uma análise do
conteúdo de publicações impressas relacionado à ciência e tecnologia, seguindo alguns
critérios de classificação, tais como o enfoque da informação científica publicada, a
origem do material publicado, a complexidade do fenômeno, o grau de profundidade na
abordagem e recursos gráficos utilizados. Foram analisados quatro jornais de maior
circulação e relevância no Estado, sendo dois diários (Jornal da Cidade, edições de 16 a
31 de maio de 2004, e Correio de Sergipe, – edições de 18 a 28 de maio de 2004) e dois
jornais semanais (A Semana, edições de 04 de abril a 05 de junho de 2004, e Cinform,
edições de 26 de abril a 06 de junho de 2004).
Ø Enfoque da informação científica publicada:
Do total de 84 matérias coletadas de todos os exemplares dos jornais citados
anteriormente, 22 informaram sobre alguma produção científica, sendo matérias
relacionadas a descobertas ou pesquisas em desenvolvimento. 21 matérias abordam o
desenvolvimento de novas tecnologias, em geral relacionadas ao setor automobilístico,
às telecomunicações e ao campo da medicina. As outras matérias enfocam a elaboração
de políticas de ciência e tecnologia, divulgam dados e índices de desenvolvimento
econômico, além de análises econômicas elaboradas por especialistas, entre outras
informações.
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Ø Origem do material publicado:
Durante a análise foi possível identificar em maior proporção textos provenientes de
assessorias de órgãos dos governos estaduais e municipais e de universidades, além de
matérias advindas de agências de notícias nacionais e internacionais. As reportagens
elaboradas pelo próprio veículo de comunicação foram identificadas em menor
proporção. É importante ressaltar que não foi encontrado nessas amostras, a ocorrência
de textos ou informações referentes a órgãos governamentais em ciência e tecnologia,
nem a presença de matérias de agências especializadas neste conteúdo.
Ø Grau de profundidade na abordagem:
Levando em consideração todo o material coletado, foram identificadas na maioria das
amostras a presença de notícias, notas ou registros breves quanto ao assunto pesquisado.
Porém, foi registrado em menor proporção a ocorrência de reportagens aprofundadas,
artigos ou entrevistas sobre ciência e tecnologia.
Ø Abordagem quanto à complexidade do fenômeno:
Do total das matérias coletadas, observou-se que a maioria aborda os interesses e as
conseqüências do fato para públicos ampliados e poucas para um público específico.
Além disso, foram identificados também em menor proporção, matérias que relatam
apenas o registro de dados, e matérias que apenas registram eventos relacionados a
ciência e tecnologia.
Ø Recursos Gráficos:
Com a análise, observou-se também alguns aspectos relevantes com relação à ilustração
da matéria. O uso de infográficos como recurso de edição foi escasso, sendo a maioria
das ocorrências proveniente de veículos nacionais que vendem cadernos / encartes
especiais aos jornais. A fotografia é o recurso utilizado com mais freqüência, sendo que
a informação transmitida pela imagem na maioria dos casos, foca os indivíduos
envolvidos no fato (foto boneco) ao invés de focar o tema propriamente dito.
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6.2 INFORMAÇÕES ESPECÍFICAS DOS JORNAIS IMPRESSOS DE ARACAJU:
Durante o período de junho a dezembro de 2004, foram aplicados questionários
junto aos 23 editores e 6 diretores do total de 4 veículos impressos de maior circulação e
relevância de Aracaju, com o objetivo de verificar a inserção de notícias sobre ciência e
tecnologia em suas publicações e seus interesses nesse tipo de divulgação.
Ø Presença de notícias de natureza científica nas edições dos jornais:
Do total de 29 entrevistados, entre diretores e editores, 75% disseram que publicam
notícias de natureza científica, pois além de despertar o interesse do leitor, é importante
para que a sociedade tenha conhecimento do que está sendo pesquisado no Estado.
Alguns publicam com pouca freqüência ou à medida que estabelece contato com as
fontes. Outros publicam apenas lançamentos de livros ou eventos relacionados com o
assunto. Isso geralmente ocorre na editoria de cultura dos jornais. Entretanto, apenas
25% afirmaram que não publicam este tipo específico de notícia porque não cabem à
editoria por falta de espaço ou por julgarem que este conteúdo não atrai o leitor. Isso
ocorre principalmente nas editorias de esportes, polícia e política. Além disso, eles
alegam também a ausência de uma fonte divulgadora de ciência e tecnologia e a
carência de jornalistas especializados neste assunto em Sergipe.
Ø Como o veículo toma conhecimento de notícias de C & T:
A maioria dos entrevistados, 48,2%, disseram que tomam conhecimento de notícias de
ciência e tecnologia através de outros veículos de comunicação, tais como rádio,
televisão e Internet. Além disso, 20% utilizam sua agenda de contatos para localizar
suas fontes; 17% recebem sugestão dos leitores; 17% recebem essas informações
através de releases de instituições de pesquisa e universidades. Mas apenas 6,8%
disseram que a iniciativa parte do veículo ou do jornalista de ir atrás dessas notícias. É
importante ressaltar que sempre há um embate para definir de quem deve partir a
iniciativa para tornar pública notícias de ciência e tecnologia: os jornalistas ou os
pesquisadores?
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Ø Entrevista docentes ou pesquisadores:
Os editores e diretores dos veículos pesquisados informam se procuram docentes ou
pesquisadores para falar de assuntos relacionados à ciência e tecnologia. 62% disseram
que entrevistam esses especialistas para tratar de assuntos sobre o dia-a-dia da cidade,
do Estado e do País. Isso inclui: novas tecnologias, infra-estrutura, economia,
desenvolvimento rural, agricultura, pecuária, etc. Além disso, o depoimento desses
docentes é necessário para explicar as pesquisas de interesse da comunidade ou os
dados e estatísticas divulgadas por institutos de pesquisa. Geralmente os jornalistas
recorrem aos professores da Universidade Federal de Sergipe para falar sobre temas
como relacionamento, comportamento, recursos humanos, meio ambiente, etc. Apenas
17% disseram que não entrevistam os docentes e pesquisadores e 21% não responderam
esta pergunta do questionário.
Ø Grau de interesse do veículo em publicar notícias / reportagens sobre ciência e
tecnologia:
Do total de entrevistados, 62% afirmaram que o veículo tem alto grau de interesse em
publicar notícias ou reportagens sobre ciência e tecnologia desde que o assunto tenha
como alvo o esclarecimento da população em relação a benefícios, alertas, etc. Além
disso, eles disseram que é importante divulgar essas notícias, pois atualiza o leitor e
torna público o que está sendo pesquisado no Estado. Alguns ressaltam também que
muitas vezes o interesse em publicar ciência e tecnologia é alto, mas na prática isso não
acontece com a mesma intensidade devido a algumas dificuldades encontradas para
produzir essas matérias. 27,5% declararam ter médio grau de interesse. E, apenas 10,5%
informaram ter baixo grau de interesse em publicar ciência e tecnologia, pois acreditam
que este tema não desperta o interesse do leitor ou porque julgam não caber à sua
editoria.
Ø Deficiências apontadas na comunicação de ciência e tecnologia:
Os entrevistados apontaram alguns fatores que dificultam ou impossibilitam a
divulgação de notícias sobre ciência e tecnologia. Entre eles estão:
- Carência deste tipo de informação na sociedade.
- Ausência de uma fonte divulgadora em Sergipe.
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- Não há inter-relação entre fontes produtoras e empresas jornalísticas, dificultando o
acesso a notícias científicas.
- O veículo sempre tem que buscar a informação.
- Não há jornalistas especializados no estado.
- O cientista tem medo de se aproximar da imprensa com receio do jornalista distorcer
os fatos.Os jornalistas, por sua vez, não se aproximam dos pesquisadores.
- Se a notícia for muito específica pode não atrair ou despertar o interesse do leitor.
- Devido à correria do dia-a-dia, o jornalista não tem tempo suficiente para buscar
notícias científicas.
- Falta espaço (físico) na página da editoria.
Ø Sugestões para aumentar o noticiário de ciência e tecnologia no veículo:
Para aumentar a publicação de notícias sobre ciência e tecnologia os entrevistados
consideram necessário:
- Receber e ter mais acesso às informações.
- Estreitar o elo entre as assessorias dos órgãos de pesquisa e os meios de comunicação.
Esses órgãos precisam intensificar o envio de sugestões de pautas, informando o que
está acontecendo no campo da ciência e tecnologia.
- Aumentar a divulgação por parte das instituições de pesquisa.
- Facilitar o acesso aos pesquisadores.
- Que os pesquisadores tenham também a iniciativa de procurar os veículos de
comunicação para divulgar sua produção e para dar retorno à sociedade.
- A relação entre jornalistas e pesquisadores deve ser recíproca.
- Dar treinamento ao jornalista para que possa se especializar no ramo.
- Adequar a linguagem do fato científico.
6.3 INFORMAÇÕES ESPECÍFICAS DOS JORNAIS IMPRESSOS DO INTERIOR DE
SERGIPE:
Foram aplicados questionários junto aos diretores e editores de 6 veículos
impressos do interior do Estado, durante o período de junho a dezembro de 2004. Foram
selecionadas as maiores cidades e as que mais possuíam veículos de comunicação. São
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elas: Lagarto – Jornal Sergipe Hoje; Própria – Jornal Folha Regional; Estância – Jornal
Folha da Região; Tobias Barreto – Jornal Styllo; Laranjeiras – Jornal A Voz dos
Municípios; Boquim – Jornal A Hora do Povo.
Ø Presença de notícias de natureza científica nas edições dos jornais:
Do total de 6 veículos impressos, 66,6% dos entrevistados disseram que publicam
notícias de natureza científica pois é importante mostrar para a população para que
serve determinada pesquisa ou estudo além de contribuir para a democratização do
saber. Alguns também alegam que publicam este conteúdo esporadicamente, só quando
o assunto é de interesse da região. Isso inclui assuntos relacionados à agricultura,
pecuária e à Bacia do Rio São Francisco. Mas apenas 33,3% informaram que não
publicam este tipo específico de notícia porque não é o foco do veículo ou editoria ou
porque julgam que esse conteúdo não é de interesse do público.
Ø Como o veículo toma conhecimento de notícias de C & T:
Em geral, os veículos impressos do interior do estado não possuem uma estrutura
adequada para a obtenção de notícias. Na maioria dos casos eles não possuem a
estrutura física dos grandes jornais que dispõem de uma redação com as condições
mínimas de comunicação, tais como telefone fixo, acesso à Internet, fotógrafos,
veículos para locomoção dos repórteres, etc. Entretanto, os jornalistas tentam superar
essas dificuldades para cumprir com seu papel social de divulgadores de informação. A
maioria dos entrevistados, 66,6%, disseram que tomam conhecimento de notícias de
ciência e tecnologia através de outros veículos de comunicação, tais como rádio,
televisão, jornais impressos da capital e Internet. Enquanto que apenas 33,3% dos
veículos recebem releases de instituições de pesquisa ou universidades.
Ø Grau de interesse do veículo em publicar notícias / reportagens sobre ciência e
tecnologia:
Do total de entrevistados, 50% afirmaram que o veículo tem médio grau de interesse em
publicar notícias sobre ciência e tecnologia e que só divulgam se a informação for de
interesse do público da região. 33,3% declararam ter alto grau de interesse, pois
consideram importante para a formação da opinião pública. E, apenas 16,6%,
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informaram ter baixo grau de interesse neste conteúdo específico, pois acreditam que
não chama muito a atenção do leitor ou porque este não é o foco do jornal.
Ø Deficiências apontadas na comunicação de ciência e tecnologia:
Os entrevistados apontaram alguns fatores que dificultam ou impossibilitam a
divulgação de notícias sobre ciência e tecnologia. Entre eles estão:
- O veículo do interior não dispõe de recursos para conseguir esse material.
- O veículo nunca recebeu release de nenhuma instituição de pesquisa.
- Os jornais da capital divulgam pouca coisa sobre o assunto.
- O tema muitas vezes é complexo e não desperta o interesse do leitor.
- Não há interesse do leitor por esses assuntos.
Ø Sugestões para aumentar o noticiário de ciência e tecnologia no veículo:
Para aumentar a publicação de notícias sobre ciência e tecnologia os entrevistados
consideram necessário:
- Saber se há interesse do público em ler notícias sobre ciência e tecnologia.
- Receber e ter mais acesso às informações.
- Estreitar o elo entre as assessorias dos órgãos de pesquisa e os meios de comunicação.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela análise dos dados coletados, percebe-se os veículos impressos como um
campo em potencial para a divulgação científica em Sergipe. Isso se deve a inúmeros
motivos. Dentre eles está o fato de que o jornal é o meio de comunicação que dispõe de
um espaço maior para a publicação de notícias relacionadas à ciência e tecnologia em
comparação aos outros meios tradicionais.
A televisão, por exemplo, é paradoxal. Enquanto a maioria das emissoras de
canal aberto precisa cumprir a grade de programação proposta pelas matrizes, as
emissoras fechadas já apresentam uma curta programação local, porém de acesso
restrito a grande parte da população. O rádio, por sua vez, restringe o curto espaço da
programação jornalística a divulgar fatos policiais, políticos e de utilidade pública.
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Com relação às causas da baixa divulgação científica, destaca-se a questão dos
interesses publicitários para o preenchimento das páginas dos jornais, além da
mentalidade medíocre predominante nas redações defendendo que ciência e tecnologia
não vendem porque não despertam os interesses do leitor. Alguns profissionais do
Estado também justificam a ausência destes conteúdos devido à pouca quantidade de
informações que lhes são enviadas.
Na verdade, o jornalista, apressado pelos prazos cada vez mais curtos e vitimado
pelos efeitos da exploração de sua mão-de-obra, esquece um pouco do espírito de
curiosidade e busca que rege a profissão. Mas ainda há o interesse em divulgar. Na
capital do Estado, Aracaju, cerca de 62% dos entrevistados afirmaram ter alto grau de
interesse em divulgar conteúdos de ciência e tecnologia.
Assim, identificando os problemas e soluções que os veículos impressos
enfrentam no seu dia-a-dia em publicar notícias científicas, esse trabalho busca uma
melhor integração entre jornalistas, pesquisadores e instituições de ensino e pesquisa
com o objetivo de promover uma forma ideal de informação para que os beneficiados
sejam os leitores e o público em geral.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUENO, Wilson da Costa. “Jornalismo científico como resgate da cidadania” in:
MASSARANI, Luísa, MOREIRA, Ildeu de Castro, BRITO, Fátima (Orgs.). Ciência e público –
caminhos da divulgação científica no Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2002. pp. 229-230.
MEADOWS, Arthur Jack. A comunicação científica. Briquet de Lemos Livro. Brasília/DF,
1999.
OLIVEIRA, Fabíola de. Jornalismo científico. Contexto. São Paulo, 2002.
CAVALCANTI, Fabiane Gonçalves. Jornalistas e Cientistas: os entraves de um diálogo. 1993.
Disponível em: www.jornalismocientifico.com.br/artigofabianeentraves.htm.
CALDAS, Graça. Mídia, Ciência, Tecnologia e Sociedade. 2000. Revista Fapesp Pesquisa,
2000,
nº60,
p.8.
Disponível
em:
www.jornalismocientifico.com.br/artigorelajornacientistagracaldas.htm
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LOPES, Leandro Silva OLIVEIRA, Cândida Santos de