dezembro/2010 | edição 99 | ano IX | www.nossolarcampinas.org.br
A História do Natal
Therezinha Oliveira
O Céu Estrelado
Certas Cruzes
Léon Denis
Chico Xavier
Os dois Espelhos
Evangelização Infantil
Vinícius
Divaldo Franco
A Revista que
se responsabiliza
doutrinariamente
pelos Textos Publicados.
sumário
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
Editor
04
Emanuel Cristiano
chico xavier
Certas Cruzes - Marteladas
SUELy CALdAS SCHUbERT
Jornalista responsável
Renata Levantesi (Mtb 28.765)
reflexão
design Gráfico
08
Julio Giacomelli
O Céu Estrelado
LéON dENIS
revisão
Zilda Nascimento
Administração e Comércio
10
Elizabeth Cristina S. Silva
história
A prisão de pedro e João
CAIRbAR SCHUTEL
Apoio Cultural
Braga Produtos Adesivos
Impressão
12
Citygráfica
diálogo
Evangelização Infantil
dIVALdO FRANCO
FALE CONOSCO
[email protected]
(19) 3233-5596
ASSINATURAS
Assinatura anual: R$45,00
14
THEREzINHA OLIVEIRA
20
(Exterior: US$50,00)
biografia
O doutor demeure
ALLAN KARdEC
FALE CONOSCO ON-LINE
Cadastre-se NO msN
e adiCiONe O NOssO eNdereÇO:
capa
A História do Natal
23
neurologia
Surto Alucinatório Benigno da Adolescência
dR. NUbOR ORLANdO FACURE
[email protected]
24
compreensão
Os dois Espelhos
VINÍCIUS
Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”
Rua Dr. Luís Silvério, 120 – Vila Marieta
13042-010 Campinas/SP
com todas as letras
26
“Um dos que”
EdUARdO MARTINS
CNPJ: 01.990.042/0001-80
Inscrição Estadual: 244.933.991.112
27
mensagem
Cultiva a paz
EMMANUEL/CHICO XAVIER
O Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”
responsabiliza-se doutrinariamente pelos
artigos publicados nesta revista.
2
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” | Campinas/SP
editorial
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
JULGAMENTOS
POR EMMANUEL/CHICO
Observando os atos dos outros,
é importante lembrar que os outros igualmente estão anotando
os nossos. Sabemos, no entanto,
de experiência própria que, em
muitos acontecimentos da vida,
há enorme distância entre as nossas intenções e nossas manifestações.
Quantas vezes somos interpretados como ingratos e insensíveis, por havermos assumido
atitude enérgica ante determinado setor de nossas relações,
após atravessarmos, por longo
tempo, complicações e dificuldades, nas quais até mesmo os interesses alheios foram prejudicados
em nossas mãos? E quantas outras vezes fomos considerados relapsos ou pusilânimes, à vista de
termos praticado otimismo e be-
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nevolência, perante aqueles com
os quais teremos chegado ao extremo limite da tolerância?
Em quantas ocasiões estamos
sendo avaliados por disciplinadores cruéis, quando simplesmente desejamos a defesa e a vitória dos entes que mais amamos,
e em quantas outras passamos
por tutores irresponsáveis e levianos, quando entregamos as criaturas queridas às provas difíceis
que elas mesmas disputam, invocando a liberdade que as Leis do
Universo conferem a cada pessoa
consciente de si?
Reflete nisso e não julgues o
próximo, através de aparências.
Deixa que o amor te inspire qualquer apreciação, e, quando necessites pronunciar algum apontamento, num processo de emenda,
XAVIER
coloca-te no lugar do companheiro sob censura e encontrarás
as palavras certas para cooperar
na obra de ilimitada misericórdia com que Deus opera todas as
construções e todos os reajustes.
Corrige amando o que deve
ser corrigido e restaura servindo
o que deve ser restaurado; entretanto, jamais condenes, porque o
Senhor descobrirá meios de invalidar as posições do mal para que
o bem prevaleça, e, toda vez que
as circunstâncias te obriguem a
examinar os atos dos outros, recorda que os nossos atos, no conceito dos outros, estão sendo examinados também. v
Fonte: XAVIER, Francisco Cândido.
Alma e Coração. Págs. 65 - 66.
Editora Pensamento. 1972.
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chico xavier
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
Certas cruzes -
Marteladas
por Suely
1º-1-1952
“Continuo pedindo ao Alto por tua
saúde e refazimento completo. Estou
convencido de que todos nós e, acima
de tudo, a nossa Causa, precisamos
de ti no posto em que te encontras.
Sei que o teu ministério é sacrificial, entretanto, meu caro, a missão
do alicerce é a de suportar o peso de
um edifício inteiro. Imaginemos o
que seria de nós, se os nossos amigos
espirituais solicitassem dispensa dos
encargos a que os constrangemos.
Chegado à altura moral e à responsabilidade que atingiste, penso
que o teu afastamento voluntário
da FEB seria abandonar à tempestade o teu serviço mais sublime na
atual encarnação. Acredito, pois,
com todo o cabedal de estima que te
consagro, que só deverás ou poderás
deixar a direção da Casa de Ismael
por circunstâncias estranhas à tua
vontade, nunca por teu desejo, de
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vez que, segundo a opinião de nossos Benfeitores Invisíveis, há certas
cruzes sob as quais deveremos morrer. Atravessamos uma época sombria, e num barco de compromissos
graves como esse em que navegamos
mais valerá sermos substituidos por
ordem superior, a fim de que não
nos seja imputada a culpa pela perturbação ou pelo soçobro de muitos.
Confio em ti e peço ao Senhor te fortaleça.
Quanto às marteladas, nem
de leve pensemos em diminuição delas. Enquanto estivermos por aqui e, principalmente,
enquanto estivermos trabalhando,
pelo mundo seremos aguilhoados e
perseguidos sem pausa de descanso.
Que o Senhor não nos negue, por
misericórdia, a oportunidade de
algo sofrer e algo fazer, a benefício
de nós mesmos, no resgate do pretérito escuro e triste.”
Caldas Schubert
O primeiro tópico dessa carta
dá notícias da continuidade das
lutas para Wantuil de Freitas. E
são de tal gravidade que este admite em suas cogitações a possibilidade de se afastar voluntariamente da Presidência da FEB.
Chico Xavier usa de novos argumentos para animá-lo, lembrando-lhe, inclusive, os compromissos assumidos.
Wantuil de Freitas ocupou a
Presidência da FEB por largo período — cerca de 27 anos. Na
missiva que Chico escreve em 52,
Wantuil já havia completado oito
anos no cargo. E, como temos
acompanhado através dessa correspondência, foi um período de
lutas constantes e sucessivas.
Para quem observasse de longe,
talvez nem de leve imaginasse o
teor e a intensidade das tribulações enfrentadas por Wantuil de
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chico xavier
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
Freitas. O que sobressai, quase
sempre, é o cargo e o que ele possa
expressar. Como também não passaria pela mente de ninguém que
Wantuil, em certos momentos,
preferisse estar longe de tantas preocupações e aborrecimentos.
Pela resposta de Chico Xavier,
tem-se uma noção do grande conflito íntimo vivido por Wantuil de
Freitas.
Cada frase do texto inicial enseja ensinamento profundo.
“Imaginemos o que seria de
nós, se os nossos amigos espirituais solicitassem dispensa dos encargos a que os constrangemos”,
argumenta Chico.
Esse é um bom alerta para
todos nós, os que nos acostumamos a ocupar os guias espirituais com toda a sorte de pedidos e
exigências.
Há uma facilidade muito
grande para pedir. Como existe
também uma falsa idéia de que os
Benfeitores Espirituais estão à disposição dos encarnados nas vinte e
quatro horas do dia.
O termo constrangemos empregado por Chico, retrata bem a
questão.
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Realmente, a grande maioria
remete aos amigos espirituais
uma aluvião de solicitações
praticamente exigindo deles
plantão permanente ao lado
de cada um.
Esse apego excessivo aos guias
evidencia desconhecimento doutrinário e, no fundo, a necessidade
que tem o ser humano de escorarse em alguém.
A Doutrina Espírita, todavia, ensina
o homem a libertar-se de toda a dependência. Ensina-o a caminhar por
si mesmo, sem necessidade de muletas psicológicas. Entretanto, o hábito
multimilenar levou-o a um condicionamento difícil de ser vencido.
É bem verdade que a presença dos
Amigos Espirituais é sumamente
reconfortante e tem ainda uma função educativa, pois nos permite o
exercício gradual de uma liberdade
que nem todos sabem ainda usar.
Esse passo decisivo é progressivo e,
obviamente, moroso. Não se realiza
de súbito. Antes exige um processo
gradativo de conscientização que
não pode ser apressado.
O estudo da Doutrina Espírita e a
assimilação dos seus ensinamentos
ensejará em cada um a libertação
almejada.
É, porém, imprescindível que se
façam, freqüentemente, os esclarecimentos necessários a fim de que
se compreenda melhor a tarefa dos
guias e a responsabilidade dos encarnados.
Com isso evitar-se-á o vezo de
se constranger os amigos da espiritualidade com petitórios infantis
e absurdos, com questões terra-aterra e que competem ao ser humano resolver.
Deixemos para pedir ajuda nos
instantes graves de nossa vida, em
momentos decisivos e quando realmente se faça necessário.
*
Chico recorda a Wantuil de
Freitas o alto compromisso assumido. E afirma-lhe que deixar a direção da Casa de Ismael só mesmo
por circunstâncias alheias à sua (de
Wantuil) vontade, por ser aquele
um serviço sublime na atual encarnação do Presidente da FEB.
Termina com a opinião dos
Benfeitores Espirituais, expressa em
belíssima frase: “há certas cruzes
sob as quais deveremos morrer.”
Há certas cruzes sob as quais de-
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chico xavier
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
veremos morrer repetimos bem alto.
Certas vidas na Terra tiveram
essa característica.
Vultos, que a História
registra, deixaram-se
imolar na cruz do dever e
da abnegação, da renúncia
e da doação total de
si mesmos para que a
Humanidade crescesse e
avançasse.
Desde Sócrates a Galileu, de
Francisco de Assis e João Huss
a Gandhi, Albert Schweitzer e
Eunice Weaver, uma notável galeria de nomes que se destacaram
nos diversos campos do conhecimento humano, todos eles assinando com a própria vida a sua
trajetória terrena.
E há, ainda, os que, passando
anonimamente, se dedicaram até
ao sacrifício pessoal para propiciar
a marcha do progresso humano.
Essas são as cruzes pelas quais
vale a pena morrer.
Invisíveis e insuspeitadas cruzes.
Anônimas e desconhecidas,
vão sendo arrastadas por ombros
que se vergam ao seu peso, mas
deixam no solo em que se apóiam
um sulco de luz que lhes assinala
a passagem, para todo o sempre.
*
Chico acrescenta que a época
é sombria e os compromissos são
de muita gravidade. Uma substituição, portanto, só mesmo por
ordem superior, pois a deserção
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ao dever poderia acarreta problemas mais sérios ainda.
Nos dois últimos tópicos do
texto, Chico alude às marteladas
que ambos têm recebido e afiança
Wantuil que em relação a estas
não haverá diminuição. E conclui pedindo a oportunidade de
algo sofrer e algo fazer no resgate
do pretérito.
A posição de Chico Xavier é
a daquele que entende a necessidade de expurgar as faltas do passado e a conseqüente certeza de
que só poderá fazê-lo através de
testemunhos constantes.
Os que já alcançaram essa situação são acusados de masoquistas, de procurarem sofrimentos,
de terem uma fé doentia e cega.
Chico sabe, contudo, através
da Doutrina Espírita — que também nos propicia os mesmos ensinamentos -, que há obstáculos
e espinhos na caminhada. Mas,
sabe, igualmente, que muito
pode ser realizado. Por isso escreve sofrer e fazer.
A conquista da paz interior demanda tempo.
A arrancada definitiva das
sombras para a luz não se
faz sem percalços, lágrimas
e aflições.
Emmanuel escreveria pouco
tempo depois, no livro “Fonte
Viva” (cap. 140):
“Por enquanto, a cruz ainda é
o sinal dos aprendizes fiéis.”
A cruz é também a companheira
imprescindível daqueles que empenham a própria vida pelo desenvolvimento da Humanidade.
No “Código Penal da Vida
Futura” (“O Céu e o Inferno”),
Allan Kardec assevera que as imperfeições geram sofrimentos:
“1º — A alma ou Espírito sofre
na vida espiritual as conseqüências
de todas as imperfeições que não
conseguiu corrigir na vida corporal. O seu estado, feliz ou desgraçado, é inerente ao seu grau de pureza ou impureza.
2º — A completa felicidade
prende-se à perfeição, isto é, à purificação completa do Espírito.
Toda imperfeição é, por sua vez,
causa de sofrimento e de privação de gozo, do mesmo modo que
toda perfeição adquirida é fonte de
gozo e atenuante de sofrimentos.
(...)
7º — O Espírito sofre pelo mal
que fez, de maneira que, sendo a sua
atenção constantemente dirigida
para as conseqüências desse mal,
melhor compreende os seus inconvenientes e trata de corrigir-se.”
Joanna de Ângelis afirma em
seu livro “No Limiar do Infinito”:
“A dor, em qualquer situação,
jamais funciona como punição,
porquanto sua finalidade não é
punitiva, porém educativa, corretora.” (Cap. 6.)
“Por isso a dor não deve ser en-
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chico xavier
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
carada na condição de punição
divina, mas, como processo normal da evolução, mediante o qual
o ser se libera, como a gema que
se liberta do envoltório grosseiro
aos golpes da lapidação.
Trabalhada, sulcada pelo arado,
aturdida pelo adubo, visitada
pela semente a terra mais produz. Quando mais instado pelo
sofrimento e adubado pela fé, o
homem mais avança, melhor progride.” (Cap. 7.)
Alcançada essa compreensão, a
criatura tem outra visão da vida
terrena.
Ao referir-se à premente necessidade de sofrer, Chico demonstra
igual entendimento.
Entenda-se bem: não é
uma apologia a necessidade
de sofrer, mas o reconhecimento puro e simples de
que existe sofrimento na
própria vida humana.
As contingências da vida
terrena, as vicissitudes em
geral que o viver ocasiona
são mais que suficientes
para comprovarmos isso.
Quando um Espírito, de mediano entendimento espiritual, se
prepara para uma nova encarnação, ele sabe que deverá enfrentar todas as vicissitudes terrestres,
mas, além disso, que igualmente
não deve fugir às circunstâncias que atenuariam essas vicisAssine 19 3233 5596
situdes e que facilitariam a sua
vida. Assim, buscará aquelas provas que se constituem em óbices
na caminhada e que, ao mesmo
tempo, não o desviem do curso
mais conveniente para aquisição
de experiências valiosas.
É nesse sentido que Chico
Xavier abençoa as marteladas
e prefere as dificuldades, entendendo o quanto são benéficas para
a sua existência.
“Grato pelas notícias do Hernani
e do Américo. Não tenho informações deles em sentido direto, há
muito tempo.
(...) Lamentei não me tivesse
dito o confrade..., sobre o boato
de que eu havia recebido o professor Pedro Ubaldi de joelhos. Teria
desmentido a notícia de viva voz.
Ele foi recebido em Pedro Leopoldo
com naturalidade e cortesia, como
são recebidas as pessoas que se dirigem até aqui, e veio até nós, numa
sexta-feira, noite de sessão pública.
Como esse, outros boatos têm surgido, mas prefiro ignorá-los, porque
o tempo seria consumido em acen-
der uma fogueira de propaganda,
indesejável para o nosso movimento
de evangelização (...)
(...) Dia 17 de dezembro findo,
recebemos no “Centro Espírita Luis
Gonzaga” a visita pessoal do ex-sacerdote católico e Professor Huberto
Rohden. É uma figura simpática
de pregador, que tratou a Doutrina
com sincera reverência. Ignoro se
esposará nossos princípios, intimamente, mas, pela palavra, mostrouse muito identificado com as nossas
idéias e ideais, sob o ponto de vista
do Evangelho. (...)”
Na parte final da carta Chico
esclarece a respeito do boato de
que ele teria recebido o Professor
Ubaldi de joelhos.
Mais uma vez constatamos que
os boatos mais estranhos surgem
na vida de Chico Xavier.
Menciona ainda a visita do
Professor Huberto Rohden. v
Fonte: SCHUBERT, Suely Caldas.
Testemunhos de Chico Xavier.
Págs. 299 - 306. FEB. 1998
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reflexão
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
O CÉU
ESTRELADO
por Léon
Um livro grandioso, dissemos, está
aberto aos nossos olhos, e todo observador paciente pode ler nele a
palavra do enigma, o segredo da
vida eterna.
Aí se vê que uma Vontade dispôs
a ordem majestosa em que se agitam todos os destinos, se movem
todas as existências, palpitam todos
os corações.
8
Denis
Ó Alma! aprende primeiro a suprema lição que desce dos espaços
sobre as frontes apreensivas. O Sol
está escondido no horizonte; seus
alvores de púrpura tingem ainda
o céu; luz serena indica que, além,
um astro se velou aos nossos olhos.
A noite estende acima de nossas cabeças seu zimbório constelado de
estrelas.
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reflexão
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
Nosso pensamento se recolhe e procura o segredo das coisas.
Voltemo-nos para o Oriente. A vialáctea expande, qual imensa fita, suas
miríades de estrelas, tão aconchegadas, tão longínquas, que parecem formar uma contínua massa. Por toda
parte, à medida que a noite se torna
mais densa, outras estrelas aparecem,
outros planetas se acendem qual se
fossem lâmpadas suspensas no santuário divino. Através das profundezas
insondáveis, esses mundos permutam
os seus raios de prata; impressionamnos, a distância, e nos falam uma
linguagem muda.
Eles não brilham todos com
o mesmo fulgor: a potente Sírius
não se pode comparar à longínqua
Capela.
Suas vibrações gastaram séculos a chegar até o nosso
olhar, e cada um de seus raios
vale por um cântico, uma
verdadeira melodia de luz,
uma voz penetrante. Esses
cânticos se resumem assim:
“Nós também somos focos de
vida, de sofrimento, de evolução. Almas, aos milhares,
cumprem, em nós, destinos
semelhantes aos vossos”.
Entretanto, todos não têm a
mesma linguagem, porque uns são
moradas de paz e de felicidade, e outros, mundos de luta, de expiação,
de reparação pela dor. Uns parecem
dizer: Eu te conheci, Alma humana,
Alma terrestre; eu te conheci e hei
de te tornar a ver! Eu te abriguei
em meu seio outrora, e tu voltarás
a mim. Eu te espero, para, por tua
vez, guiares os seres que se agitam
em minha superfície!
E depois, mais longe ainda, essa
estrela que parece perdida no fundo
dos abismos do céu e cuja luz trê-
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mula é apenas perceptível, essa estrela nos dirá: Eu sei que tu passarás
pelas terras que formam meu cortejo, e que eu inundo com os meus
raios; eu sei que tu aí sofrerás e te
tornarás melhor. Apressa a tua ascensão. Eu serei e sou já para contigo uma vera amiga, porque até
mim chegou o teu apelo, tua interrogação, tua prece a Deus.
Assim, todas as estrelas nos cantam seu poema de vida e amor,
todas nos fazem ouvir uma evocação poderosa do passado ou do futuro. Elas são as “moradas” de nosso
Pai, os estádios, os marcos soberbos
das estrelas do Infinito, e nós aí passaremos, aí viveremos todos para entrar um dia na luz eterna e divina.
Espaços e mundos! que maravilhas nos reservais? Imensidades sidéreas, profundezas sem limites, dais a
impressão da majestade divina. Em
vós, por toda parte e sempre, está
a harmonia, o esplendor, a beleza!
Diante de vós, todos os orgulhos
caem, todas as vanglórias se desvanecem. Aqui, percorrendo suas órbitas imensas, estão astros de fogo
perto dos quais o nosso Sol não é
mais que simples facho. Cada um
deles arrasta em seu séquito um imponente cortejo de esferas que são
outros tantos teatros da evolução.
Ali, e assim na Terra, seres sensíveis
vivem, amam, choram. Suas provações e suas lutas comuns criam entre
si laços de afeto que crescerão pouco
a pouco. E é assim que as Almas começam a sentir os primeiros eflúvios desse amor que Deus quer dar
a conhecer a todos. Mais longe, no
insondável abismo, movem-se mundos maravilhosos, habitados por
Almas puras, que conheceram o sofrimento, o sacrifício, e chegaram
aos cimos da perfeição; Almas que
contemplam Deus em sua glória, e
vão, sem jamais cansar, de astro em
astro, de sistema em sistema, levar
os apelos divinos.
Todas essas estrelas parecem sorrir, qual se fossem amigas esquecidas. Seus mistérios nos atraem.
Sentimos que são a herança que
Deus nos reserva. Mais tarde, nos
séculos futuros, conheceremos essas
maravilhas que nosso pensamento
apenas toca. Percorreremos esse
Infinito que a palavra não pode descrever em uma linguagem limitada.
Há, sem dúvida, nessa ascensão,
degraus que não podemos contar,
tão numerosos são; mas nossos guias
nos ajudarão a subi-los, ensinandonos a soletrar as letras de ouro e de
fogo, a divina linguagem da luz e
do amor. Então o tempo não terá
mais medida para nós. As distâncias
não mais existirão. Não pensaremos
mais nos caminhos obscuros, tortuosos, escarpados, que seguimos no
passado, e aspiraremos às alegrias
serenas dos seres que nos tiverem
precedido e que traçam, por meio
de jorros de luz, nosso caminho
sem-fim. Os mundos em que houvermos vivido terão passado; não
serão mais que poeira e detritos;
mas nós guardaremos a deliciosa
impressão das venturas colhidas em
suas superfícies, das efusões do coração que começaram a unir-nos a
outras almas irmãs. Conservaremos
a muito cara e dolorosa lembrança
dos males partilhados, e não seremos mais separados daqueles que tivermos amado, porque os laços são
entre as Almas os mesmos que entre
as estrelas. Através dos séculos e dos
lugares celestes, subiremos juntos
para Deus, o grande foco de amor
que atrai todas as criaturas! v
Fonte: DENIS, Léon. O Grande Enigma.
Págs. 119 – 122. Feb. 2010.
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9
história
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
A Prisão
de Pedro e João
por Cairbar
Schutel
Enquanto Pedro e João falavam ao
povo, sobrevieram-lhes os sacerdotes,
o capitão do templo e os saduceus,
enfadados por ensinarem eles ao povo
e anunciarem em Jesus a ressurreição
dos mortos; e deitaram mão neles e
os detiveram até o dia seguinte; pois
já tinha chegado a tarde. Muitos,
porém, dos que ouviram a palavra,
creram; e elevou-se o número dos
homens a quase cinco mil.
— Atos. IV – 1 – 4.
10
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” | Campinas/SP
Assine 19 3233 5596 história
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
Desde que a classe sacerdotal entrou no mundo, tem sido perene a
luta que essa classe promoveu contra os Apóstolos. Um sacerdote, seja
do credo que for, não suporta absolutamente um Apóstolo. Para os
sacerdotes, os Apóstolos são os perversores da consciência, são magos,
feiticeiros e têm demônio.
Dotados de atroz orgulho, imbuídos de um egoísmo mortífero,
os sacerdotes, de todos os tempos,
têm-se como os representantes de
Deus na Terra, os chefes de tudo e
de todos. Só eles são sábios, só eles
são virtuosos, só eles são santos, só
eles interpretam a vontade de Deus.
Nos banquetes, nas festas, na sociedade, na família, os primeiros
lugares são sempre ocupados pelos
padres (sacerdotes). Nas praças públicas querem ser cumprimentados;
as suas sentenças são irrevogáveis e a
sua palavra, infalível.
Passe o leitor uma vista d’olhos
no sacerdotalismo hebreu, no sacerdotalismo levítico, e atualmente
no sacerdotalismo romano e protestante, para melhor se inteirar da
nossa afirmação. No tempo, ou no
início do Cristianismo, conforme
depreendemos dos Evangelhos, foi
tão abjeta a ação dos sacerdotes
que Jesus, o Manso, o Humilde
Filho de Deus, viu-se obrigado a
apostrofá-los.
Assine 19 3233 5596
Quase no fim do seu trabalho messiânico nas vésperas de sua
condenação, Jesus não se conteve
e ergueu o brado dos sete ais contra o sacerdotalismo que, no dizer
do Mestre: “Fechou aos homens o
Reino dos Céus”.
Abstemo-nos de transcrever esse
libelo, não porque deixemos de ser
solidários com o Mestre, mas porque em qualquer Novo Testamento,
católico ou protestante, o leitor encontrá-lo-á no cap. XXIII, 13-39, de
Mateus.
São eles os perseguidores de profetas, os assassinos de sábios e dos
mensageiros de Deus. Raça de víboras, desconhecem a justiça, a misericórdia e a fé. São cheios de rapina
e podridões. Devoram as casas das
viúvas e seus olhos estão sempre voltados para as ofertas. O seu Deus é
o ventre, como disse Paulo.
Como poderiam eles, que a ninguém curavam, suportar a cura operada por Pedro e João? Como poderiam, os incrédulos e materialistas
saduceus, ouvir falar na ressurreição
de Jesus e na ressurreição dos mortos?
Não podendo vedar a palavra
aos Apóstolos e proibirlhes a cura dos enfermos,
deliberaram prender os
intimoratos da Nova Fé.
E não é isto que também temos
observado na época atual em que o
sacerdotismo protestante e romano,
principalmente este, desenvolve
uma atividade guerreira nunca vista,
concorrendo direta e indiretamente
para uma luta fratricidade que enche
os campos de cadáveres?
Onde está o 5º Mandamento da
Lei de Deus, que a “Santa Madre
Igreja Católica Apostólica Romana”
mandou transcrever nos seus catecismos, e a “Santa Igreja Protestante”
também mandou imprimir em seus
livretos?
O mandamento é só para ficar escrito; e não para ser cumprido?
Felizmente, os tempos passam,
como relâmpagos e o Reino de
Deus se avizinha. Esses poderosos
que semeiam a desolação e a morte,
já estão nos seus últimos estertores, pois com a próxima vinda do
reino de Jesus, tudo será renovado e
a seara será entregue a quem der frutos de fé e de misericórdia.
Diz, finalmente, o texto, que
apesar da grande pressão sacerdotal, que dominava com os governos de então, as conversões eram
verificadas em massa, já contando
o Cristianismo, em poucos dias, só
nas circunvizinhanças de Jerusalém,
quase cinco mil homens. v
Fonte: SCHUTEL, Cairbar. Vida e Ato
dos Apóstolos. Págs. 37 – 39. O Clarim. 1993.
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11
diálogo
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
diÁlOgO COm
dIVALdO
POR dIVALdO
1.18 - Evangelização Infantil
PerguNta:
—Você considera im-
portante a preparação da infância
através da atividade de evangelização? Por quê?
diValdO: — É de alta importância a tarefa da educação espírita das
gerações novas. Colocamos aqui a
expressão educação espírita, numa
abrangência maior do que a da
evangelização, porque a evangelização pura e simples pode parecer
uma questão já colocada por determinadas doutrinas religiosas do
passado. Mas a educação espírita,
trazendo a evangelização infanto-juvenil à luz do Espiritismo, é tarefa
de emergência, mais do que de urgência, porque a violência e a agressividade que hoje estão nas nossas
ruas são fruto da falta de educação
12
da massa, da educação espiritual
de profundidade. Diz-se muito que
tudo isso é o resultado, em linhas
gerais, dos problemas sócio-econômicos. Os estudiosos especializados
têm chegado a muitas conclusões.
Lamentavelmente, ainda não lemos,
fora da área espírita, um sociólogo,
um pedagogo, que tenha chegado
à conclusão de que tudo isso resulta
de fatores morais, que são os geradores do egoísmo e, por conseqüência,
dos problemas sócio-econômicos. A
base é, portanto, o problema moral.
A educação espírita das gerações
novas vai criar uma mentalidade
sadia, porque ensinará à criança,
desde cedo, que o berço não é o início da vida — é o começo do corpo;
e o túmulo não é o fim da vida — é
a porta da saída do corpo. Falandolhe de reencarnação, situando no seu
devido lugar a tarefa preponderante
FRANCO
do Cristianismo, a obra da educação das gerações novas preparará
o novo mundo. É assim, de muita
importância este mister que os espíritas não devem deixar à margem.
Temos ouvido alguns confrades;
“Eu não forço os meus filhos, para
a evangelização espírita, porque
sou muito liberal”. Ao que poderia
ajuntar: “Porque não tenho força
moral”. Se o filho está doente, ele
o força a tomar remédios; se o filho
não quer ir à escola, ele o exige.
Isto porque acredita no remédio e
na educação. Mas não crê na religião, quando afirma: “Vou deixá-lo
crescer, depois ele escolherá”. Isto
representa o mesmo que o deixar
contaminar-se pelo tétano ou outra
enfermidade, para depois aplicar
o remédio, elucidando: “Você viu
que não deve pisar em prego enferrujado? Agora, irei medicá-lo”.
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diálogo
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
Ou, tuberculoso, falar-lhe dos
preceitos da higiene e da saúde.
Se damos a melhor alimentação, o
melhor vestuário, o melhor colégio,
dentro das nossas possibilidades,
aos filhos, porque não lhes damos
a melhor religião, que é aquela que
já elegemos? Que os filhos, quando
crescerem, deixem-na, que optem
depois. Cumpre aos pais o dever
de dar o que há de melhor. Se eles
encontraram, no Espiritismo, a diretriz de libertação, eis o melhor
para dar, e não deixar os filhos escolherem, porque estes ainda não
sabem discernir. Vamos orientálos. Vamos “forçá-los”, motivandoos, levando-os, provando em
casa, pelo nosso exemplo, que o
Espiritismo é o que há de melhor.
Não, como fazem muitos: obrigam
os filhos a irem à evangelização e,
em casa, não mantém uma atitude
espírita. É natural que os filhos recalcitrem, observando que tal não
adianta, já que os pais dizem-se espíritas, mas na intimidade do lar
decepcionam. Se, todavia, os pais
são espíritas também em casa,
eles irão, felizes, às aulas de evangelização da juventude, porque
estão impregnados de exemplo.
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Em Salvador, que é uma cidade
praiana, outros me têm proposto:
— Vamos arranjar outra hora
mais conveniente para transferir a evangelização, porque, você
sabe, o domingo é o dia da praia.
E que hora será própria?
— Outra hora.
— Que hora?
Volvem a perguntar-me:
— Que é que você acha?
— Eu não acho nada, porque não
tenho filhos, você é que os tem.
— Mas não poderia ser noutra
hora? — voltam à carga.
— Depende de você achar a hora,
porque, considere: durante os dias
da semana não pode ser, de vez que
todos estão estudando; no sábado, à
tarde, o evangelizador também tem
que se arrumar, já que é a única hora
de que dispõe para os seus compromissos, para preparar-se; no domingo à tarde, não pode ser, porque as crianças têm as festinhas de
aniversário, as matinezinhas, isso e
aquilo; de noite não convém, porque criança não pode dormir tarde;
domingo pela manhã não é possível,
por causa da praia...
As pessoas coçam a cabeça e
concluem:
É um problema, não?
E eu elucido: — É, praia é um
problema, porque perverte muita
gente.
— Não — dizem — a praia não;
o problema é esse negócio de evangelização.
E encerro o assunto:
— Não, não acho; creio que é a
solução dos problemas.
Aqueles que assim agem,
não são espíritas. Na
verdade eles não desejam
que o filho vá à praia.
Ocupando-se em trazer o
filho à evangelização, eles,
sim, perdem a praia. Então
o problema é esse... Sempre
sugiro: percam umas praias,
mas salvem seus filhos.
A evangelização em nossa Casa
é das oito às nove da manhã dos
domingos, dando tempo de ir-se à
praia, se for o caso.
A evangelização, a educação espírita é de fundamental importância
para a criança. v
Fonte: FRANCO, Divaldo P.
Diálogo com Dirigentes e Trabalhadores
Espíritas. USE. 2001.
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” | Campinas/SP
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capa
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
E O VERBO SE FEZ CARNE
A HISTÓRIA
DO NATAL
Quando o natal vai chegando, as vitrinas das lojas se enfeitam de cenas e
dizeres alusivos à grande data da cristandade. Muitas crianças ouvem, pela
primeira vez, olhinhos brilhando de
encantamento, a história do nascimento de Jesus. Uma narrativa singela,
movimentada, alegre, dramática, terna
e muito comovente. Adultos a revivem,
nas saudações festivas, uns aos outros:
Feliz Natal! Feliz Natal! E as letras da
imprensa, as vozes do rádio, as imagens
da televisão, os cânticos, e as pregações
dos templos, num concerto uníssono,
recontam como se deu a vinda daquele
por Therezinha
Oliveira
que, por suas virtudes sublimes, é o
Caminho da Verdade e da Vida.
No pensamento de todos, sucedemse, de novo, os episódios do Natal, o
nascimento de Jesus.
José e Maria saindo de Nazaré da
Galiléia (onde moravam) e viajando
para Belém da Judéia, estando Maria
em adiantado estado de gravidez.
Quando chegaram a Belém, a cidade estava repleta de visitantes e não
havia lugar para eles na hospedaria.
Acomodaram-se num presépio, um estábulo, onde se recolhia os animais e
era um lugar quente e protegido, apesar
de simples. Ali Maria teve seu primogênito (primeiro filho) a quem chamou Jesus e, envolvendo-o em faixas, o reclinou em berço improvisado:
uma manjedoura.
Anjos apareceram anunciando
aos pastores do campo o nascimento
do Salvador. E uma estrela admirável
brilhava de modo especial indicando
o lugar do nascimento! Seguindo-a,
uns magos viriam do Oriente, encontrariam o menino e, prostrando-se ante ele, lhe ofereceriam ouro, incenso, mirra.
O Natal de Jesus!...
Diz-se que, por causa de um recenseamento, ordenado pelo imperador
romano, Maria e José, por serem da
casa de Davi, apesar do adiantado
estado de gravidez dela, tiveram de
viajar de Nazaré da Galiléia, onde
moravam, para a longínqua Belém
da Judéia, a fim de se cadastrarem,
e o transporte era feito a pé ou em
lombo de burro.
Herculano Pires acredita que esse
deslocamento do casal teria sido
uma tentativa de acomodar o nascimento de Jesus na cidade de Belém,
porque lá é que nasceria o Messias,
como profetizado por Miquéias
(5:2). Entretanto isso não convenceu
a maioria dos israelitas.
AS OBJEÇÕES
Há quem diga que não foi assim
que tudo aconteceu, a começar pela
data. Do nascimento de Jesus, começou-se a contar uma Nova Era: a
cristã (a.C. e d.C.), mas dizem os estudiosos que Jesus pode ter nascido
de 8 anos antes a 4 anos depois da
data fixada.
Também não se sabe ao certo em
que dia e mês ocorreu. O dia 25 de
dezembro foi fixado pelo Papa Júlio
I, a partir do século IV d.C. (360),
para substituir comemorações pagãs
por motivos e hábitos cristãos.
E pode não ter sido em Belém.
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Para nós, porém, não
importa tanto a exatidão
do local, dia, mês e ano em
que Jesus tenha nascido
e, sim, que esse Espírito
altamente evoluído veio
à Terra, para nos orientar
espiritualmente.
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capa
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
OS rELATOS SOBrE O NATAL
No Novo Testamento, especialmente
nos evangelhos de Mateus e de Lucas,
encontraremos os relatos mais completos sobre o nascimento de Jesus.
João falará de modo simbólico sobre a
vinda de Jesus. Marcos é omisso a respeito, apresentando Jesus já quando
adulto.
É verdade que quem conta um conto
aumenta um ponto, e essa história tem
dois mil anos e foi escrita muito depois da morte de Jesus. Alguns detalhes talvez estejam mal contados,
modificados, e outros foram acrescentados. Também é verdade que sobre
esses fatos muitas considerações já
foram feitas. Parece que tudo já foi
dito, assimilado, e repetir somente
nos entediaria.
Mas, como deixar passar o Natal
do Senhor sem memorarmos os acontecimentos e sua significação para a
humanidade? As novas gerações precisam saber, temos de lhes transmitir.
A propósito, estamos dando a conhecer esses fatos às crianças, aos jovens?
Quanto a nós, sempre poderemos retirar deles simbolismos superiores,
edificantes. Conversemos, pois, sobre
o Natal, à luz dos relatos evangélicos.
SIGNIFICAdO prIMEIrO E MAIOr dO NATAL
Entendemos que no Natal o significado primeiro e maior seja o do amor
de Deus pela humanidade. Com o
progresso intelecto-moral que se vai
fazendo, temos necessidade de novas
revelações espirituais. Isso não fica entregue ao acaso, Deus prevê e provê.
Há sempre programações para o progresso da humanidade. Assim, Moisés,
Isaías e outros profetas já anunciavam
a vinda do Messias, o Cristo.
Enxergamos, também, no Natal,
o amor de Jesus por nós, os seus irmãos menores. Espírito puro, Jesus
não precisava mais habitar mundos
corpóreos, vivia em mundos felizes, celestes ou divinos, mas aceitou
o reingresso na faixa da carne, porque nós precisávamos dele aqui, para
nos ensinar e exemplificar o caminho
para Deus.
MArIA E JOSÉ SEM HOSpEdAGEM
Eram, os dois, espíritos obedientes às
leis divinas, de vida digna, honestos e
trabalhadores, com mérito para serem
os pais carnais do Messias. Porque enfrentaram tantas dificuldades? Não
eram ricos nem poderosos, Maria fez
a viagem grávida e, ao chegarem a
Belém, não encontraram lugar na hospedaria...
Esse episódio nos ensina que os
que trazem o Mestre em si, transportando-o e colaborando com ele, em
seu trabalho pela redenção humana,
não gozam de privilégios materiais,
não se encontram em regime de exceção. Enfrentam as lutas naturais
neste planeta de provas e de expiações.
Constitui um alerta para os que, por
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estarem servindo na seara religiosa, esperam ou exigem concessões especiais,
apreço, reconhecimento.
Mas assistência espiritual não faltou a Maria e José. Os que servem a
Deus podem confiar que terão, também, acompanhamento e proteção espirituais para poderem realizar o seu
trabalho.
E a grande compensação que desfrutarão será a glória de participar do
labor crístico, gozando da intimidade
espiritual com o Mestre. Assim, os médiuns em serviço, enquanto aprendem
e progridem, intercambiando os espíritos necessitados, sentem, também, os
efeitos benéficos e gratificantes da presença dos espíritos superiores.
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capa
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
A MANJEdOUrA
É costume dizer-se que a manjedoura traduz a humildade de Jesus.
Acreditamos, porém, que o maior
significado da manjedoura está em
demonstrar, na sua simplicidade e
despojamento, que o valor de uma
pessoa não está nas situações materiais em que se apresenta exteriormente, mas no que a criatura é, em
si mesma.
Desde que Jesus surge na manje-
doura, perde significação qualquer
orgulho por status terreno, e a pessoa
passa a ser valorizada pelo que é, pelo
potencial que traz em si, como criação divina, por ser fi lha de Deus.
Sendo a manjedoura, também,
o lugar do alimento, onde os animais comem, parece nos visualizar
Jesus já se nos oferecendo, como “o
pão vivo que desceu do céu”. Estamos
comendo deste pão? Alimentando-
nos de sua vida, de seu ensino e
exemplo? Se estamos, sabemos
como isso nos faz bem, deixando
nos fortalecidos para os embates
da vida! Não nos esqueçamos,
porém, de repartir com os outros
esse alimento divino, atendendo a
Jesus, que, ao dizer: Fazei isso em
memória de mim, nos pedia para
darmos continuidade ao seu ideal
e não deixá-lo morrer.
Deus, em tudo e sobre todos. A humanidade no entanto, supõe que o mundo
esteja ao acaso, ou entregue às hostes
malignas, e por isso teme.
A multidão de bons espíritos cantava:
Glória a Deus nas alturas! Louvavam a
Deus, pois é dele que nos vem todo o
bem e sua vontade é soberana.
Paz na Terra! cantavam, também.
Tanta coisa parece faltar no mundo:
solo, casas, pão, roupas... E os bons espíritos somente nos desejam paz?! Sim,
é o quanto basta, basicamente, às criaturas, pois tudo o mais que nos é necessário Deus já previu e providenciou que
exista. Deu aos seres vida, inteligência, capacidade de ação, imortalidade.
Por morada, concedeu-lhes o Universo,
pleno de recursos, ensejando-lhes a
convivência com seres iguais, inferiores
ou superiores, para que possam realizar obras e desfrutar vivência afetiva,
evoluindo intelectual e moralmente.
Que mais precisaria fazer? Os seres humanos é que precisamos fazer a nossa
parte, vivendo sem perturbar nem prejudicar a paz, o equilíbrio da natureza
(ecológico), do nosso próprio eu (psicológico) e o da coletividade (sociológico), para seguir trabalhando, aprendendo e progredindo.
Boa vontade para com os homens!
cantavam, ainda, expressando a dis-
posição de acompanhar o desígnio de Deus e a atitude fraterna do
Mestre, que veio até nós para nos
ajudar. Deus, Jesus e os bons espíritos agem com boa vontade para conosco. Estaremos correspondendo a
essa boa vontade? Temos boa vontade
uns para com os outros?
A rEVELAÇÃO dOS ANJOS
Narra o evangelista que, de início, só
um anjo apareceu aos pastores. Mesmo
assim, a glória do Senhor os cercou de
resplendor, e tiveram grande temor.
Curioso esse nosso medo ante as
manifestações espirituais! Por que será?
Talvez pelo inusitado que nos intimida; ou por estarmos habituados a
pensar em deuses rigorosos, que nos
apavoram; e, também, porque instintivamente nos reconhecemos em falha
perante a lei divina e isso nos faz temerosos de possíveis conseqüências.
O anjo, o mensageiro espiritual, precisou acalmar aos pastores:
- Não temais. (...) trago novas de alegria para todo o povo (...) na cidade de
Davi vos nasceu hoje o Salvador, o Cristo.
O nascimento de Jesus seria motivo
de alegria geral, por causa da missão de
Jesus, seu labor em favor da humanidade toda, redimindo-a, salvando-a da
ignorância quanto às realidades espirituais, libertando-a do materialismo e
do egoísmo, do orgulho e do ódio, bem
como da intolerância, ensejando uma
era de paz e progresso.
Depois apareceu no céu a “milícia
celeste”. Como são numerosos os espíritos do Bem! Constituem uma coletividade que alguns denominam Espírito
Santo, são a comunidade dos espíritos
bons, que agem em nome do amor de
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FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
OS pASTOrES
A Palestina era uma terra de pastores mas nem todos viram os anjos ou
ouviram sua mensagem, só os que
guardavam os rebanhos nas vigílias
da noite. Estava escuro, havia perigo,
sentiam cansaço, solidão... Mas não
dormiam e não abandonaram o rebanho; sobrepujando dificuldades,
cumpriam o seu dever. Só quem age
assim vê os mensageiros de Deus, ou
lhes sente a presença e inspiração.
E os pastores disseram entre si:
Vamos até Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer. Se não dessem atenção à notícia e
não caminhassem com seus próprios
pés no rumo indicado, mesmo tendo
visto e ouvido os anjos, não chegariam a ver o Cristo. A ação da criatura complementa a revelação.
Quantas revelações já tivemos,
os espíritas com a teoria e a prática
doutrinárias? Imortalidade, reencarnação, evolução, livre-arbítrio, causa
e efeito, intercâmbio mediúnico,
fluidos, perispírito, revivescência do
Evangelho... Que estamos fazendo
para dar seqüência em nossa vida a
tantas e tão valiosas informações espirituais?
OS MAGOS
Apenas Mateus os menciona. A tradição popular os fez reis e afirma que
eram três, tendo por nome Melchior,
Gaspar e Baltazar, mas o evangelho apenas cita uns magos e sabemos, pelos historiadores gregos, como
Heródoto e Xenofonte, que os magos
eram sacerdotes muito conceituados
entre medos e persas, casta ocupada
sobretudo em medicina, astronomia
(então, ainda astrologia) e ciências divinatórias (relacionadas às coisas espirituais).
Os magos vinham do Oriente e
se dirigiam para Jerusalém. Movidos
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pelo ideal, haviam abandonado comodidades e buscavam a cidade santa,
símbolo de espiritualidade. Há quem
penetre no campo da espiritualidade
visando a interesses materiais, benefícios imediatos. Os magos, porém,
buscavam a Jesus, um mestre espiritual. Muitos buscam a Jesus, interessado no que ele lhes possa oferecer de
benefícios aqui e agora; os magos o
procuravam para adorá-lo, reverenciálo. E quando o encontraram, abrindo
os seus tesouros lhe ofertaram dádivas:
ouro, simbolizando os valores do ser,
tudo o que se é, sabe e pode; incenso,
traduzindo submissão, acatamento,
obediência; e mirra, demonstrando
sentimento, amor, devotamento.
Após terem encontrado Jesus, os
magos receberam uma revelação em
sonho. A comunicação com o plano
espiritual, enquanto o corpo dorme, é
ocorrência comum, de que nem sempre guardamos lembrança. No seu
sonho especial, os magos foram avisados: Não voltem a Herodes. O aviso
era para que não fossem contar ao rei
onde estava o recém-nascido, porque
não queria reverenciá-lo, como afi rmava, e, sim, ceifar-lhe a vida.
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OS JUDEUS E NÓS
Quando lemos o relato evangélico,
admiramo-nos da cegueira espiritual dos judeus.
Há tanto tempo esperavam pelo
Messias! Confiantes nas tradições
e nas profecias, aguardavam, esperançosos, que se cumprissem os sinais a seu respeito.
E Jesus chegou, em meio a muitos sinais reveladores. Por que não
o identificaram, não o reconheceram? Esperavam um rei material,
guerreiro, libertador físico. Diria o
evangelista João:
E a luz resplandece nas trevas e as
trevas não a compreenderam (1:5).
Se fosse conosco, pensamos, não
nos enganaríamos. O coração lhes
revelaria a presença em emoção superior e o seguiríamos, fiéis, pela
existência em fora! Brilhasse a estrela guia, cantassem as vozes celestes! E, desligando-se dos compromissos da matéria, sairíamos ao
encontro do Cristo, para nos consagrarmos à sua vinha de verdade
e amor!
Entretanto, para os judeus, a
estrela brilhou alguns dias apenas e os anjos apareceram e cantaram somente uma vez. Enquanto
nós, espíritas, estamos sempre em
contato com os mensageiros espirituais, tendo revelações e presenciando sinais. E ainda não nos
transformamos...
Temos o que os israelitas não
tinham: o conhecimento e entendimento da mensagem do Cristo.
No Evangelho de Mateus (cap.
25), aprendemos: Vinde, benditos
de meu Pai, tomais posse do reino
que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive sede, e
me destes de beber; era estrangeiro, e
me hospedastes; estava nu e me vestistes; estive na prisão e me fostes ver.
Todas as vezes que fizestes isto a um
de meus irmãos mais pequeninos, foi
a mim que o fizestes. Nosso próximo
em necessidade é Jesus! Esse conhecimento nos permite “ver” o Cristo
em cada ser... E não o reconhecemos! Nem o seguimos no amor ao
próximo!
Por que nos admirarmos da cegueira espiritual dos judeus? Vemos
um argueiro, um cisco, no olho do
nosso irmão e não vemos a trave
que há no nosso!
riores, estimulam atividades que favorecem otimismo e a fraternidade.
Em cada um de nós, a onda do Bem
anseia por eclodir.
Aproveitemos o anseio de renovação que todos os anos, nessa
época, se repete, mas que, mais
do que nunca, é premente em nós.
Esforcemo-nos por compreender e
sentir a mensagem sublime de Jesus.
Deixemo-nos envolver no verdadeiro clima do Natal, cheio de perdão, ternura e amizade.
Alistemo-nos nas legiões que confiam na vitória do Bem. Unamos as
nossas, as vozes dos que cantam o
estribilho imortal: unir, recompor,
construir, elevar!
Movendo-se então, na paisagem
espiritual da humanidade, o Mestre
enfim encontrará abrigo em nosso
coração, as condições de união e vivência do clima fraternal. E, enfim,
nascerá em nós esse Cristo divino!
O Natal será novo, o Messias o
mesmo: Jesus de Nazaré, o verbo
divino que, um dia se fez carne e habitou entre nós, como simbolicamente nos diz João Evangelista. Ou
como nos dizem os bons Espíritos,
o tipo mais perfeito que Deus tem
oferecido ao homem para lhe servir de guia e modelo. (O Livro dos
Espíritos, 625)
Nasça Jesus em nossos corações
e, com ele em nós, façamos nascer
ao nosso redor um mundo novo de
paz e de amor.
COMEMOREMOS O NATAL
E todo ano o Natal chega, novamente... Há quem diga artificiais
e inúteis as comemorações natalinas. Se mal compreendidas e mal
feitas, sim, pelos excessos no comer
e beber, saudações apenas formais e
presentes interesseiros ou vaidosos.
Dia, mês e ano do Natal não
estão certos? O Natal é uma convenção humana? Que importa?
Um dia, Jesus nasceu, veio à
Terra, encarnou, a mando de Deus
e por amor a nós, seus irmãos menores.
Na época natalina, aproveitando
a sugestão do calendário terreno, espíritos benévolos convidam ao amor
maior, inundam o ambiente espiritual terreno de sons e imagens supe-
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FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
QUE BOM QUE VIESTE, JESUS!
Jesus, quanta alegria em nossa
alma quando lembramos o teu
nascimento em nosso mundo!
Habitas, por direito, planos
de luz e paz na espiritualidade
e deixaste-os, para vires viver
entre nós...
Sabia que nós, teus irmãos
menores, éramos e somos criaturas ainda rudes no sentimento
e na ação.
Mas nos amas e saber que podemos nos transformar para melhor, desenvolvendo as qualidades espirituais que Deus, o Pai
nosso e teu, colocou em nossos
espíritos como semente de vida
eterna e evolutiva.
E vieste! Para dizer-nos que a
vida do espírito é muito mais valiosa que a do corpo. Não finda
no túmulo e seus tesouros “o ladrão não rouba, a traça não rói e
a ferrugem não corrompe”.
Para alcançá-la, é preciso apenas ter “olhos de ver” a verdade
invisível e “ouvidos de ouvir” os
chamados do Bem. E “amar a
Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, perdoando sempre para também ser
perdoado.
Mestre incomparável, não falaste somente. Demonstraste, vivendo, a lei do serviço incansável
em favor do bem de todos, na
mais pura e inalterável fraternidade.
Que bom que vieste, Senhor!
Ainda estamos procurando seguir-te os passos, mas já sabemos que, se nos guiarmos por
essas verdades que nos ensinaste,
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encontraremos a paz e instalaremos o amor na Terra.
És, sim, o caminho da verdade
e da vida! Ninguém vai ao Pai,
senão por ti!
Como o povo de Israel anelava por ti, há dois mil anos,
assim precisamos de ti, Messias,
Ungido do Senhor, para sairmos
das trevas e do pranto, da guerra
e da dor, para um mundo de luz
e alegria, de paz e solidariedade.
Na sce em nosso coração,
Jesus! Aceita o humilde aposento que te oferecemos em
nossa alma, neste momento de
prece, e vem iluminar a paisagem de nossa vida!
Que estejas conosco, sempre!
Em nossos olhos, ao fitarmos
os que nos rodeiam. Em nossa
boca, quando com eles falarmos.
Em nossos pés, para caminharmos ao encontro deles. E em
nossas mãos, para ajudá-los sempre que precisarem.
Sentindo-te dentro de nós,
Jesus, invade-nos imensa alegria
e vem-nos um anseio de amor
por toda a humanidade!
Ah, o canto dos anjos em teu
Natal na Terra!... Agora o compreendemos, integralmente, pois
também a nossa alma canta:
Glória a Deus nas alturas! Paz
na Terra! Boa vontade para com
todas as criaturas! v
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OLIVEIRA, Therezinha.
Jesus, O Cristo. Págs. 15 – 29.
Editora Allan Kardec. 2006.
19
biografia
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
O DOUTOR DEMEURE
por Allan Kardec
Falecido em Albi (Tarn) a 25 de janeiro de 1865.
Era um médico homeopata e distintíssimo. Seu caráter, tanto quanto
o saber, haviam-lhe granjeado a estima e veneração dos seus concidadãos. Eram-lhe inextinguíveis a bondade e a caridade, e, a despeito da
idade avançada, não se lhe conheciam fadigas, em se tratando de socorrer doentes pobres. O preço das
visitas era o que menos o preocupava,
e de preferência sacrificava as suas
comodidades ao pobre, dizendo que
os ricos, em sua falta, bem podiam
recorrer a outro médico. E quantas
e quantas vezes ao doente sem recursos provia do necessário às exigências materiais, no caso de serem mais
úteis que o próprio medicamento.
Dele pode dizer-se que era o Cura
d’Ars da Medicina. Encontrando, na
Doutrina Espírita, a chave de problemas cuja solução debalde pedira
à Ciência como a todas as filosofias,
o Dr. Demeure abraçara com ardor
20
essa doutrina. Pela profundeza do seu
espírito investigador compreendeulhe subitamente todo o alcance, de
maneira a tornar-se um dos seus mais
solícitos propagadores.
Relações de mútua e
viva simpatia se haviam
estabelecido entre nós,
correspondendo-nos.
Soubemos do seu decesso
a 30 de janeiro, sendo que
o nosso imediato desejo foi
evocá-lo.
Em seguida reproduzimos a comunicação obtida no mesmo dia:
“Aqui estou. Ainda vivo, assumi
o compromisso de manifestar-me
desde que me fosse possível, apertando a mão do meu caro mestre e
amigo Allan Kardec.
“A morte emprestara à minha
alma esse pesado sono a que se chama
letargia, porém, o meu pensamento
velava.
Sacudi o torpor funesto da perturbação conseqüente à morte, levanteime e de um salto fiz a viagem. Como
sou feliz!
Não mais velho nem enfermo. O
corpo, esse, era apenas um disfarce.
Jovem e belo, dessa beleza eternamente
juvenil dos Espíritos, cujos cabelos não
encanecem sob a ação do tempo.
“Ágil como o pássaro que cruza
célere os horizontes do vosso céu nebuloso, admiro, contemplo, bendigo,
amo e curvo-me, átomo que sou, ante
a grandeza e sabedoria do Criador, sintetizadas nas maravilhas que me cercam. Feliz! Feliz na glória! Oh! quem
poderá jamais traduzir a esplêndida
beleza da mansão dos eleitos; os céus,
os mundos, os sóis e seu concurso na
harmonia do Universo? Pois bem eu
ensaiarei fazê-lo, ó meu mestre; vou
estudar, e virei trazer-vos o resultado
dos meus trabalhos de Espírito e que
de antemão, como homenagem, eu vos
dedico. Até breve.
Demeure.”
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biografia
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
As duas comunicações seguintes, dadas em data de 1º e 2 de fevereiro, dizem respeito à enfermidade
de que fomos acometidos na ocasião.
Posto que de caráter pessoal, reproduzimo-las como provas de que o Dr.
Demeure se mostrava tão bom como
Espírito, quanto o fora como homem.
“Meu bom amigo: tende coragem
e confiança em nós, porquanto essa
crise, apesar de ser fatigante e dolorosa, não será longa, e, com os conselhos prescritos, podereis, conforme
desejais, completar a obra que vos propusestes como fito da vossa existência.
Sou eu quem aqui está, perto de vós,
e com o Espírito de Verdade que me
permite falar em seu nome, por ser
eu dos vossos amigos o mais recentemente desencarnado. É como se me
fizessem as honras da recepção. Caro
mestre: quanto me sinto feliz por ter
desencarnado a tempo de estar com
esses amigos neste momento! mais
cedo livre, eu poderia talvez ter-vos
poupado essa crise que não previa. Era
muito recente o meu desprendimento
para ocupar-me de outras coisas que
não as espirituais; mas agora velarei
por vós, caro mestre.
Aqui estou para, feliz como
Espírito, ao vosso lado, prestar os
meus serviços. Conheceis o provérbio:
‘ajuda-te, o céu te ajudará’. Pois bem,
ajudai os bons Espíritos que vos assistem, conformando-vos com as suas
prescrições. Está muito quente aqui:
esta fumaça é irritante.
Enquanto estiverdes doente, convém não fazer lume, a fim de não
aumentar a vossa opressão. Os gases
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que aí se desprendem são deletérios.
Vosso amigo
Demeure.”
“Sou eu, Demeure, o amigo do
Sr. Kardec. Venho dizer-lhe que o
acompanhava quando lhe sobreveio
o acidente. Este seria certamente funesto sem a intervenção eficaz para a
qual me ufano de haver concorrido.
De acordo com as minhas observações e com os informes colhidos em
boa fonte, é evidente para mim que,
quanto mais cedo se der a sua desencarnação, tanto mais breve reencarnará para completar a sua obra. É preciso, contudo, antes de partir, dar a
última demão às obras complementares da teoria doutrinal de que é o
iniciador. Se, portanto, por excesso
de trabalho, não atendendo à imperfeição do seu organismo, antecipar a
partida para cá, será passível da pena
de homicídio voluntário.
É mister dizer-lhe toda a verdade,
para que se previna e siga estritamente
as nossas prescrições.
Demeure.”
A seguinte comunicação foi obtida
em Montauban, aos 26 de janeiro,
dia seguinte ao da sua desencarnação,
num Centro de amigos espíritas que
havia nessa cidade.
“Antoine Demeure. Não morri
para vós, meus amigos, porém para
aqueles que não conhecem a santa
doutrina que reúne os que se amaram
e tiveram na Terra os mesmos pensamentos, os mesmos sentimentos de
amor e caridade.
Sou feliz e mais feliz do que
esperava, gozando de uma
lucidez rara entre os Espíritos,
relativamente ao tempo da
minha desencarnação.
“Revesti-vos de coragem, bons
amigos, que eu estarei muitas vezes
junto de vós, instruindo-vos em muitas coisas que ignoramos quando
presos à matéria, espesso véu que é
de tantas magnificências, de tantos
gozos. Orai pelos que estão privados
dessa felicidade, pois eles não sabem o
mal que fazem a si mesmos.
“Hoje não me prolongarei, dizendo-vos somente que me não sinto
de todo estranho neste mundo dos invisíveis, parecendo-me até que sempre
o habitei. Aqui sou feliz em vendo os
meus amigos, comunicando-me com
eles sempre que o desejo.
“Não choreis, meus amigos, porque
me faríeis lamentar o haver-vos conhecido. Deixai correr o tempo, e Deus
vos encaminhará para esta mansão,
onde nos devemos todos reunir finalmente. Boa-noite, amigos; que Deus
vos conforte, ficando eu ao vosso lado.
Demeure.”
Ainda de uma carta de Montauban
extraímos a narrativa seguinte:
“Tínhamos ocultado à Sra. G...,
médium sonambúlico e vidente muito
lúcido — a morte do Dr. Demeure,
em atenção à sua extrema sensibilidade. Sem dúvida, secundando o
nosso intuito, o bom médico também
evitou manifestar-se-lhe. A 10 de fevereiro reunimo-nos a convite dos guias,
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biografia
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
que diziam querer aliviar a Sra. G...
de uma luxação, em conseqüência
da qual muito sofria desde a véspera.
Nada mais sabíamos, e longe estávamos de pensar na surpresa que nos
aguardava. Logo que essa senhora se
mediunizou, começou a soltar gritos
lancinantes, mostrando o pé. Eis o
que se passava: A Sra. G... via um
Espírito curvado a seus pés com a
fisionomia oculta, a fazer-lhe fricções e massagens, exercendo de vez
em quando uma tração longitudinal sobre a parte luxada, exatamente
como faria qualquer médico. A operação era tão dolorosa, que a paciente
vociferava empregando movimentos
desordenados.
“No entanto, a crise não
foi longa e ao fim de uns
dez minutos desapareciam
a inflamação e os traços da
luxação, retomando o pé a
sua aparência normal. A Sra.
G... estava curada!
O Espírito continuava incógnito
para o médium, persistindo em não
lhe revelar as feições, quando, por
mostrar desejos de retirar-se, a doente, que momentos antes não daria
um passo, se atira de um salto ao
centro do quarto para apertar a mão
do seu médico espiritual.
Ainda desta feita, o Espírito voltou o rosto, deixando a mão na do
médium. Nesse momento a Sra.
G... dá um grito e cai desfalecida no
soalho, vindo de reconhecer o Dr.
Demeure no Espírito que a operava.
22
Durante a síncope ela recebia cuidados de muitos Espíritos afeiçoados.
“Por fim, reapareceu a lucidez
sonambúlica e ela conversou com
muitos desses Espíritos, trocandose felicitações, sobretudo com o Dr.
Demeure, que lhe correspondia aos
testemunhos de afeição penetrandoa de fluidos reparadores.
“Não é uma tal cena surpreendentemente dramática, considerando-se as personagens como que
representando papéis da vida humana? Não será uma prova, entre
mil outras, de que os Espíritos são
seres efetivamente reais agindo
como se estivessem na Terra? Somos
felizes por ver, no amigo Espírito, o
mesmo coração bondoso do médico
solícito e abnegado que foi neste
mundo. Ele fora durante a vida
o médico do médium, e, conhecendo a sua extrema sensibilidade,
poupou-o tanto quanto se fora seu
próprio filho. Esta prova de identidade, conferida aos que o Espírito
prezava, é admirável e de molde a
fazer encarar a vida futura por um
prisma mais consolador.”
Nota — A situação espiritual do
Dr. Demeure é justamente a que se
podia antever na sua vida tão digna
quão utilmente empregada. Mas,
dessas comunicações, resulta ainda
um outro fato não menos instrutivo
— o da atividade que ele emprega
quase imediatamente após a morte,
no sentido de tornar-se prestimoso.
Por sua alta inteligência e qualidades morais, ele pertence à cate-
goria dos Espíritos muito adiantados. A sua felicidade não é, porém,
a da inação. Ainda há poucos dias
tratava doentes como médico, e
mal apenas se desprende da matéria, ei-lo a tratá-los como Espírito.
Dirão certas pessoas que nada se
adianta, então, com a permanência no outro mundo, uma vez que
se não goza ali de repouso. É o caso
de lhes perguntarmos se é nada o
não termos mais cuidados, necessidades, moléstias; podermos livre e
sem fadigas percorrer o Espaço com
a rapidez do pensamento, ver os que
nos são sempre caros e a toda hora,
por mais distantes que de nós se
achem! E acrescentaremos: Quando
no outro mundo, nada vos forçará
a vontade; poderíeis ficar em beatífica ociosidade e pelo tempo que
vos aprouvesse, mas ficai certos de
que esse repouso egoísta depressa
vos enfadaria, e seríeis os primeiros a solicitar qualquer ocupação.
Então se vos diria que se a ociosidade vos enfada, deveis vós mesmos
procurar algo fazer, visto não escassearem ocasiões de ser útil, quer no
mundo dos Espíritos, quer no dos
homens. E assim é que a atividade
espiritual deixa de ser uma obrigação para tornar-se uma necessidade,
um prazer relativo às tendências e
aptidões, escolhidos de preferência
os misteres mais propícios ao adiantamento de cada um. v
Fonte: KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno.
Págs. 201 – 206. Feb. 1992.
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neurologia
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
Surto alucinatório
benigno
da adolescência
(transtorno mental de origem mediúnica)
por Nubor
Quero fazer um relato sucinto de
três pacientes acometidos de um
quadro extremamente perturbador de alucinações auditivas e visuais. Creio que esse quadro pode ser
visto como um transtorno que ainda
não foi descrito na literatura médica com as características e a interpretação que vou dar ao quadro.
Nos três casos os sintomas se iniciaram no curto espaço de uns poucos dias e se agravam rapidamente,
assumindo proporções difíceis de
serem controlados. Os pacientes começam a ouvir vozes com diálogos
organizados, com propósitos bem
definidos, sem aquelas características caóticas dos esquizofrênicos.
As visões são mais elaboradas, podendo ser identificadas como “entidades” familiares ou não, com
competência para dar recados, ordens ou fazerem sugestões objetivas.
Podem ocorrer transfigurações fisionômicas e comportamento agressivo.
Um paciente dava sinais claros de estar
incorporado por uma entidade espiritual que afrontava violentamente os
familiares que tentavam contê-lo.
O afrontamento entre os familiares
e as entidades que se manifestavam
foram sempre improdutivos, agravando a situação de agressividade.
A conduta médica habitual foi
a sedação com o uso de antipsicóticos que contém o paciente
sem solucionar o seu quadro.
Orientei os familiares para conside-
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rarem a possibilidade de serem manifestações mediúnicas, que a medicação seria pouco eficaz e que esses
quadros são auto-limitados, ou seja,
em poucos meses, dois ou três, o quadro vai desaparecer por completo. Era
preciso assumir uma postura tranqüilizadora, sem enfrentamentos, pautada em princípios morais elevados,
incluindo a prática da caridade dentro
e fora de casa. Os três pacientes seguiram esse curso clínico que preveni
os familiares. Depois de 3 a 6 meses
o quadro desapareceu por completo.
Orlando Facure
Curiosamente, deixando aos pacientes pouca lembrança do ocorrido.
O autor Dr. Nubor Orlando Facure,
espírita desde criança, especialista
em Neurologia, diretor do Instituto
do Cérebro de Campinas, ex-professor titular de Neurocirurgia da
UNICAMP, pesquisador, escritor e
expositor espírita, é colaborador desta
Revista. v
Fonte:
http://nuborfacure.blogspot.com
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compreensão
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
os dois
espelhos
por Vinicius
Um dos objetos cujo uso está mais
vulgarizado na sociedade é, sem dúvida, o espelho. Sua invenção data do
século XIII, quando então se usava
forrar a parte posterior do vidro com
lâminas de metal. Mais tarde, pelo
século XVI, a prática havia mostrado
que, estanhando-se as lâminas de
vidro na face posterior, a parte anterior refletia perfeitamente a imagem
que se colocava em frente.
Estava realizada a grande descoberta. Já se não fazia mais mister,
como na Antiguidade, recorrer ao
poder refletor dos discos de aço polido. O engenho humano havia resolvido o grande problema. O homem
podia mirar-se à vontade, vendo sua
imagem fielmente refletida na prancha de vidro emoldurada em elegantes caixilhos.
Desde então o fabrico de espelhos, constituiu rendosa indústria,
tal a generalização do seu emprego.
Não há lar, por mais modesto, onde
se não encontre esse utensílio havido
24
como indispensável. Nos palácios
mais suntuosos, como nos casebres
mais humildes, lá está o espelho ostentado luxuosamente nas portas dos
ricos guarda-casacas, ou pendentes
das paredes em singelos quadrinhos
forrados de papelão.
Ninguém lhe dispensa o uso: do
mais pobre ao mais rico, do sábio
ao insciente, do pária ao magnata.
Ambos os sexos o consideram como
rigorosamente necessário.
Sair à rua sem consultá-lo no amanho da gravata, no arranjo do cabelo,
na disposição geral do fato, é falta
imperdoável que a nossa elite é incapaz de praticar.
Quanto às moças, é mais fácil “passar o camelo pelo fundo da agulha”,
que a senhorinha do século defrontar
com espelhos sem dar um toque no
cabelo e no vestuário, sem correr um
olhar de inspeção em seu porte e nas
linhas gerais do talhe. O espelho é
tido em tal estima pelas moças que,
além de não dispensá-lo em todos os
cômodos da casa, trazem-no consigo
em bolsas ou carteiras elegantes, a
fim de consultá-lo a cada instante, a
todos os momentos.
No entanto, cumpre notar, há um
outro espelho, que não é fruto do engenho humano, mas constitui a mais
preciosa das faculdades com que
Deus houve por bem, em seu amor,
dotar a todos os seus filhos, a fim de
que se refletisse neles a divina paternidade, assegurando-lhes, ao mesmo
tempo, o meio seguro de marcharem
triunfantes na conquista de um porvir glorioso: é a consciência.
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Assim como o espelho reflete
o nosso exterior, a consciência
reflete o nosso interior.
Vemos através dela a imagem
perfeita de nossa alma, como
no espelho a imagem real
do nosso rosto. O espelho
dá conta de nossa fisionomia,
de nosso semblante, de nossa
forma.
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compreensão
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
forço em conservá-lo, declina e periclita, e não nos incomodarmos
com o aperfeiçoamento do espírito, sede da inteligência e dos sentimentos? Trocaremos, então, o indumento do corpo pelo indumento
da alma, atendendo pressurosos aos
reclamos daquele e desprezando os
clamores desta?
É admirável que o homem se mire
tantas vezes no espelho de vidro e
não se habitue a usar com a mesma
assiduidade o espelho da alma — a
consciência — essa faculdade que ele
traz consigo, que faz parte integrante
de si mesmo, de sua estrutura moral!
A consciência nos revela o espírito, o caráter, os sentimentos mais
íntimos e recônditos.
Ambos — espelho e consciência
— se prestam ao mesmo fim: compor as linhas da harmonia, reparar
os senões, corrigir, embelezar — o
espelho, ao corpo, a consciência, ao
espírito. Ambos têm a mesma função: ref letir com justiça, pondo,
diante de nosso próprio critério, o
aspecto, a figura exata do nosso físico e do nosso moral, a forma externa e a interna do nosso ser.
Ora, assim sendo, não será estranhável estimarmos tanto o espelho
de vidro, frágil e quebradiço quanto
a matéria que reflete, desdenhando a
consciência, essa faculdade maravilhosa que reproduz a divina imagem
a cuja semelhança fomos criados?
Não será insânia curarmos, com
tanto zelo, do corpo que perece, olvidando o espírito que permanece?
Se não saímos à rua com os cabelos em desalinho com o fato amar-
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fanhado, com os sapatos despolidos,
como, então, ousamos expor aos
olhos de nossos maiores, que de cima
nos observam, a alma coberta de míseros andrajos e imundas farandolagens? Se consultamos o espelho no
que respeita à beleza do corpo, porque não consultarmos a consciência
no que concerne à beleza da alma?
Valerá, acaso, aquele mais que esta?
Se recorremos diariamente, a cada
instante mesmo, ao concurso do espelho para adornar o nosso físico,
porque não proceder assim, apelando para a consciência constantemente, a fim de tornar íntegro e belo
o nosso caráter? Se obedecemos aos
reflexos do espelho, corrigindo todas
as falhas que ele acusa em nosso exterior, porque não fazer outro tanto
atendendo à consciência, sempre que
ela acuse, intimamente, as falhas do
nosso interior?
Porque nos afligirmos com os reparos do corpo, desse corpo que dia
a dia, a despeito de todo nosso es-
Não condenamos as moças
porque desejam ser belas.
Essa aspiração é natural,
é intrínseca da espécie,
constituindo incentivo para
o seu aperfeiçoamento.
Lamentável é esse estrabismo
que leva a mocidade a só
buscar o belo exterior,
descuidando o belo interior.
A beleza é como a saúde:
vem de dentro para fora.
Reza a tradição que Maria, mãe
de Jesus, era um peregrino tipo de
beleza. Cremos piamente nessa tradição; cremos porque podemos ver,
positivamente, através das virtudes
excelsas que lhe exornam o caráter de mulher perfeita, o reflexo de
uma beleza sem exemplo nos fastos
da história feminina. Se no interior
era tudo harmonia, era tudo doçura,
encanto e bondade, como o exterior
não havia de objetivar tais dotes e
virtudes em rasgo e traços de beleza?
Sem deixarmos, portanto, de nos
olhar por fora, olhemo-nos também
por dentro. Façamos uso dos dois
espelhos. v
Fonte: VINÍCIUS. Em Torno do Mestre.
Págs. 111 – 114. Feb. 2009..
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com todas as letras
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
VERBO NO PLURAL COM
UM DOS QUE
POR EdUARdO
Ele foi um dos que ficaram ou um dos
que ficou? Ele foi um dos jornalistas que
escreveram sobre o tema ou um dos jornalistas que escreveu sobre o tema? Este
é um caso típico em que as aparências
enganam: a concordância não se faz
com o um, mas com o dos que. Por
isso: Ele foi um dos que ficaram. /Ele foi
um dos homens que vieram.
Desdobre a oração e veja como raciocinar: Dos que ficaram, ele foi um./
Dos que vieram, ele foi um. É fácil
explicar por quê: quando se diz um
dos que ficaram, está subentendido que
vários ficaram e ele foi um deles. Da
mesma forma, vários jornalistas escreveram sobre o tema e ele foi um. Repare
ainda numa forma alternativa: Ele é
um dos restantes. /Ele é um dos jornalistas mais brilhantes da sua geração.
Destes, desses e daqueles seguem a
norma. Portanto, sem nenhum receio,
use: Esse foi um dos livros que encantaram a sua juventude. / Eis um dos que
mais pedem apoio./ Não era um desses
que se arrependem./Era uma daquelas
casas que haviam desabado.
Às vezes o um pode ser omitido:
Não sou dos que pensam assim. /Não sou
desses profissionais que não sabem o que
querem. / É daquelas aves que migram
todo ano. v
MARTINS
Com, nós, ou e mais de um:
Com. Se dois sujeitos estiverem ligados por com ou locução
equivalente, o verbo ficará no singular se o primeiro deles
prevalecer sobre o segundo (e convém pôr o segundo entre
vírgulas): O rei, com toda a corte, compareceu à solenidade. /
O presidente, ao lado de cinco ministros, participou da missa
solene. / O general, acompanhado do ajudante-de-ordens, passou
a tropa em revista. O verbo só deverá ir para o plural nos casos
(raros) em que os dois sujeitos tiverem a mesma importância:
A mãe com a filha foram salvas do incêndio. / O presidente com
o primeiro-ministro viajaram para o Brasil.
Nós subentendido. Quando a pessoa que fala se inclui num
grupo, o verbo concorda com o pronome nós: Todos aprovamos a decisão (eu e eles, nós e eles). / Éramos seis na casa. / Os
jornalistas devemos ser objetivos.
Ou. Quando o ou que liga duas palavras indica exclusão, o
verbo fica no singular: Joana ou Maria será a sua mulher (uma
ou outra). / O senador ou o deputado será eleito presidente (um
ou outro). Se a idéia for a de inclusão ou oposição, o verbo
irá para o plural: O diretor ou o tesoureiro podem assinar a fatura (os dois podem). /Ganhar ou perder fazem parte do jogo
(oposição). Neste último caso, prefira o e, quando possível.
Mais de um. Verbo no singular: Mais de um deles será convidado. / Mais de um político defende essa tese. Verbo no plural
apenas quando a expressão for repetida ou indicar reciprocidade: Mais de um amigo, mais de um parente o advertiram. /
Mais de um torcedor se feriram na briga (reciprocidade).
Fonte: MARTINS, Eduardo. Com Todas as
Letras. Pág. 118. Editora Moderna. 1999.
26
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mensagem
FidelidadESPÍRITA | Dezembro/2010
CULTIVA A PAZ
“E, se ali houver algum
filho da paz, repousará
sobre ele a vossa paz; e, se
não, ela voltará para vós.”
- Jesus. (Lucas, 10:6.)
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Em verdade, há muitos desesperados na vida humana. Mas quantos se apegam, voluptuosamente, à
própria desesperação? Quantos revoltados fogem à luz da paciência?
Quantos criminosos choram de dor
por lhes ser impossível a consumação
de novos delitos? Quantos tristes escapam, voluntariamente, às bênçãos
da esperança?
Para que um homem seja filho da
paz, é imprescindível trabalhe intensamente no mundo íntimo, cessando
as vozes da inadaptação à Vontade
Divina e evitando as manifestações
de desarmonia, perante as leis eternas.
Todos rogam a paz no Planeta
atormentado de horríveis discórdias,
mas raros se fazem dignos dela.
Exigem que a tranqüilidade resida
no mesmo apartamento onde mora
o ódio gratuito aos vizinhos, reclamam que a esperança tome assento
com a inconformação e rogam à fé
lhes aprove a ociosidade, no campo
da necessária preparação espiritual.
Para esmagadora maioria dessas
criaturas comodistas a paz legítima
é realização muito distante.
Em todos os setores da vida, a
preparação e o mérito devem anteceder o benefício.
Ninguém atinge o bem-estar em
Cristo, sem esforço no bem, sem
disciplina elevada de sentimentos,
sem iluminação do raciocínio. Antes
da sublime edificação, poderão registrar os mais belos discursos, vislumbrar as mais altas perspectivas
do plano superior, conviver com
os grandes apóstolos da Causa da
Redenção, mas poderão igualmente
viver longe da harmonia interior,
que constitui a fonte divina e inesgotável da verdadeira felicidade, porque se o homem ouve a lição da paz
cristã, sem o propósito firme de se
lhe afeiçoar, é da própria recomendação do Senhor que esse bem celestial volte ao núcleo de origem, como
intransferível conquista de cada um.
Vinha de Luz
Emmanuel / Chico Xavier
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dias
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Início
1º Ano: Curso de Iniciação
ao Espiritismo com aulas e
projeção de filmes (em telão)
alusivos aos temas. Duração
1 ano com uma aula por semana.
2ª Feira
20h00 - 21h30
07/03/2011
1º Ano: Curso de Iniciação
ao Espiritismo com aulas e
projeção de filmes (em telão)
alusivos aos temas. Duração
1 ano com uma aula por semana.
domingo
10h00 - 11h00
13/03/2011
2º Ano
3ª Feira
20h00 - 22h00
01/02/2011
Restrito
2º Ano
domingo
09h00 – 11h00
06/02/2011
Restrito
3º Ano
4ª Feira
20h00 - 22h00
02/02/2011
Restrito
3º Ano
Sábado
16h00 – 18h00
05/02/2011
Restrito
Evangelização da Infância
domingo
10h00 – 11h00
Fev / Nov
Aberto ao público
Mocidade Espírita
domingo
10h00 – 11h00
ininterrupto
Aberto ao público
Assistência Espiritual: Passes
2ª Feira
20h00 - 20h40
ininterrupto
Aberto ao público
Assistência Espiritual: Passes
4ª Feira
14h00 - 14h40
ininterrupto
Aberto ao público
Assistência Espiritual: Passes
5ª Feira
20h00 - 20h40
ininterrupto
Aberto ao público
Assistência Espiritual: Passes
domingo
09h00 - 09h40
ininterrupto
Aberto ao público
Palestras Públicas
domingo
10h00 - 11h00
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