Poemas Rasgados
Miguel Rodrigues
Miguel Rodrigues
Vejo
Vejo pessoas sorrindo
Vejo corações se partindo
Vejo um céu sangrando
Vejo um deus chorando
Vejo um herói morrendo
Vejo um mudo dizendo...
... que a verdade vai a galope
e a mentira é mais rápida que um choque.
Vejo sorrisos falsos
Vejo corações rancorosos
Vejo nuvens da fumaça de charutos
Vejo crenças surgindo e outras se destruindo
Vejo heróis querendo ser vilões
Vejo um cego enxergando...
... os nossos interesses egoístas
e nossas preocupações fúteis.
Miguel Rodrigues
Sempre
sem pressa.
Sempre
sem pretexto.
Sempre
sem pressão
Sempre
sem precipitação.
Sempre
Sem pressa de ser
sempre o primeiro.
Sem pretexto pra fazer
sempre da mesma maneira.
Sem pressão pra falar
sempre com ar de insatisfação.
Sem precipitação pra começar
sempre com os mesmos erros.
Miguel Rodrigues
Sempre
Um pouco mais
Um pouco mais da sua presença
E eu já me apaixono
Um pouco mais da sua ausência
E já me sinto no abandono.
Um pouco mais dos seus beijos
E já vou te querer por inteira
Um pouco mais desse olhar
E me sentirei nas nuvens.
Um pouco mais de paixão
E já estarei lhe jurando meu amor
Um pouco mais desse amor
E já direi que te quero eternamente.
Miguel Rodrigues
O vento uiva suas dores
A nuvem chora suas lágrimas
O arco-íris espalha suas cores
E o homem sofre com suas lástimas.
Corre vento gélido
Por dentro do famélico
Homem molhado das águas
Podres das nuvens cheias de mágoas.
E o arco-íris?
É agora todo cinzento.
Cinzento
Miguel Rodrigues
Eu não queria escrever essa poesia
Eu não quero escrever essa poesia
Mas essa poesia quer ser escrita
Eu não quero sentir essa dor
Mas essa dor insiste em ser sentida.
Escrever isso me faz sofrer
Assim como lembrar
Ainda que tenha a melhor rima
Com o meu coração isso não combina.
Não dá pra ignorar
Ainda que eu rasgue a folha
Não estarei rasgando isso de mim.
Caberá ao tempo agir como o vento
Para arrastar essa poeira
E quem sabe levar embora essa poesia.
Miguel Rodrigues
No Sótão Sozinho
Eu me viro só
Eu reviro o sótão
Sozinho
Eu prefiro o não
Do que um sim fingido
Eu viro a noite
Procurando um olhar perdido
Buscando olhares ingênuos
E lábios maliciosos.
Eu me viro na cama
Seus lábios me chamam
Eu viro o sol
Pra iluminar sua lua
Eu viro rio
Pra correr entre seus lábios
Eu viro
A revolta
Eu reviro
A volta
Eu viro
Eu vou
Eu volto
E aí
Eu solto
Meus lábios dos seus
Pra depois ficar mais uma vez
Tão só no meu sótão
Sozinho.
Miguel Rodrigues
OO
Povo
que que
ri
povo
Rimos de tudo
Rimos do absurdo
Rimos de raiva
Rimos da nossa passividade,
Rimos, pasmem, da
impunidade.
ri
Estamos a rir
Enquanto o país está a ruir.
Rimos ao invés de discutirmos
Rimos ao invés de refletirmos
Rimos e assim consentimos
Com o que está havendo
Sem contar o que está
acontecendo
Por debaixo dos panos – e
eles riem por não estarmos
vendo.
Estamos a rir
Enquanto muitos vão repartir
Suas cédulas de pilantragem
Até a efígie ri de toda essa
sacanagem.
Estamos a rir
E eles também riem
É tudo tão fácil,
Pois pelo voto da massa
conseguem o poder.
E agora, vamos continuar rindo?
Ou vamos lutar pra tirar a lona
desse ridículo circo.
Miguel Rodrigues
É o vento
É a vinda
É a volta
É o vulto
É o tempo
É a tinta
Que colore
Esse céu
Já é quinta,
Não demore
Desabafo no papel
Faço do lábio um pincel
E pinto seu corpo
E o vinho tinto se verte
Pelo meu pescoço.
O vento seca
A vinda me alegra
A volta é certa...
Mas era um vulto
O tempo me desespera
E a lentidão dos ponteiros me exaspera
É a eternidade de uma hora.
É o sentimento
Pulsante
É a sensação
Agonizante
É o sol
Escaldante
É a saudade
De um amante.
Sentimento Pulsante
Sentimento Pulsante
Miguel Rodrigues
Rasguei meus poemas
Rasguei Meus Poemas
Rasguei meus poemas
Rasurei meus sentimentos
Sangrei algumas lembranças
Censurei alguns ressentimentos.
Sem querer amassei alguns sonhos
Ao invés de queimar velhas lembranças.
Recortei versos de um amor vencido
Pela vã insistência de um coração partido.
E a cicatriz é a marca de um momento
Que devia ser esquecido até o meu sepultamento.
E nenhuma vingança fez valer
Miguel Rodrigues
Nem a indiferença abalou
– fui vítima de mim mesmo.
SER
Ser
Sou diferente do que pensam que sou
E sei que os outros são diferentes do que penso que são
Restamos apenas nós, tão diferentes de nós mesmos.
Miguel Rodrigues
Quero pelo menos uma vez
Sentir o sossego perturbador
Quero
pelo menos
uma vez
De não
sentir
uma raiva
conformada.
Sentir o sossego perturbador
É de um prazer desgostoso
De não sentir uma raiva conformada.
Viver
essa violenta paz
É de um prazer desgostoso
QueViver
me sufoca
de mentiras
sinceras.
essa violenta
paz
Nada
abaixo
nemdeacima
Que
me sufoca
mentiras sinceras.
Nada
rima
comnem
esse
paradoxo
Nada
abaixo
acima
Nada
esse paradoxo
Longe
derima
sercom
ortodoxo
deperto
ser ortodoxo
MasLonge
muito
da completa bagunça.
Pelo Menos Uma Vez
Pelo menos uma vez
Quero pelo menos uma vez
Não respirar o ar impregnado de falsas
promessas
Não desconfiar daqueles que me protegem
Não ignorar o que está ao meu redor.
Mas muito perto da completa bagunça.
E como não sou hipócrita
Que pelo menos uma vez
Sei que na maioria das vezes
Que pelo menos uma vez
NãoNão
sejamos
justos
com
os
injustos
sejamos justos com os injustos
Sou tão errante quanto qualquer um
QueQue
pelo
menos
uma
vez
pelo menos uma vez
Mas que num lampejo abro de fato os olhos pra
NãoNão
sentemos
a
mesa
com
aqueles
sentemos a mesa com aqueles
tudo que está diante de mim.
QueQue
deixam
comida
no
prato
deixam comida no prato
E reclamamdedebarriga
barriga cheia
E reclamam
cheia
o café
estavademais
demais açucarado
QueQue
o café
estava
açucarado
Quando
verdade éé a
a amargura
Quando
nana
verdade
amargura
Que dá o sabor indigesto a quem os suporta.
Que dá o sabor indigesto a quem os suporta.
Miguel Rodrigues
Sou um poeta
de meia tigela
com sentimentos
e confissões.
Sou um poeta
bom de copo
com culpas e calúnias
do qual não vou beber,
só aceito se colocarem uma dose
de verdade e justiça para dissolver
tudo de ruim que ali há
pra depois ver no que dá:
se eu devo beber da culpa
e aceitar a calúnia ou olhar ironicamente
para aqueles que me serviram.
Não quero ser meia tigela
mas sim a tigela inteira
de versos e verdades
de leveza e seriedade
acompanhado de um copo
de inspiração e magia
pra escrever bem as minhas poesias.
Sou um poeta
Miguel Rodrigues
Incompleto
SonetoSoneto
Incompleto
A idéia parecia brilhante
A inspiração como condimento
O verso veio num instante
E a estrofe feita com belo acabamento.
A musa pousa para o escultor de palavras
Óbvio, que tudo isso na sua imaginação
Pois o poeta age no silêncio onde crava
Seus versos no âmago do coração.
O poeta romântico alegre com que escreveu
Mas ainda lhe faltam mais versos
E também muito mais sentimento.
De repente o poeta entristeceu
Pois seu soneto ficou incompleto como o seu coração.
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Miguel Rodrigues
Eu queria
escrever um
bombom
poemapoema
Eu queria
escrever
um
Eu queria escrever um bom poema
Mas não há inspiração, aliás, não há no que me inspirar.
A situação é tão crítica que só me resta uma rima: dilema.
O que falta pra mim? O que falta no mundo? O que poetizar?
Não vejo mais união, mas sim separação.
Lá se foi a reconciliação, é uma derrota do perdão.
A desconfiança paira no ar – ninguém quer ceder
O medo de se envolver – mais uma forma de se proteger
da violência dos sentimentos que surgem de repente.
No começo é só afeto e sem explicação parte pro ódio
Por quê? É possível que eu me inspire com tudo isso?
Estrofe sem rima. E daí? Há coisa mais importante
Há uma falta de segurança e confiança no próximo
Que me preocupa. Haverá o dia que não terá mais poesia de amor?
Miguel Rodrigues
O Amor segundo o Vento
É uma corrente que não se sabe
de onde e como se formou,
mas que quando chega
é capaz de secar a lágrima que sequer se formou.
Pode vir como brisa.
Pode vir como ventania.
Quando é verdadeiro espalha
sementes de confiança e alegria.
O vento pode se tornar forte ventania
A paixão pode se tornar amor
Pode ser rápido, pode ser devagar
Contanto que essa mudança não cause dor.
Miguel Rodrigues
¿¿Interrogações??
Pergunto qual é a hora da verdade
Pergunto qual é o preço da felicidade
E me respondem que posso ser feliz a qualquer hora
E que a verdade não tem preço.
Interrogo aos céus
Indago pela existência
Das respostas desesperadas
Das explicações ignoradas.
Pergunto qual é o sabor da paixão
Pergunto pela origem da vingança
E me respondem que a vingança é azeda
E a paixão vem de um querer mais ao outro do que a si mesmo.
Interrogo ao cosmos
Indago aos quatro ventos
O porquê desses sentimentos
Que me confundem a todo o momento.
Miguel Rodrigues
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Poemas Rasgados - Recanto das Letras