MANEJO DE POVOAMENTOS DE Pinus taeda L. E DE
Eucalyptus dunnii MAIDEN PARA USOS MÚLTIPLOS DA
MADEIRA
Mário Dobner Jr1.
Antonio Rioyei Higa2
Mário Tomazello Filho3
Resumo
A idade de corte final das plantações florestais brasileiras estão sendo reduzidas e os povoamentos menos manejados
com desbastes e podas, em função de otimizações financeiras realizados sob o ponto de vista de empresas
verticalizadas. No entanto, esta estratégia de produção pode não ser a mais apropriada para silvicultores
independentes e pequenos ou médios produtores rurais. O manejo de povoamentos florestais com o objetivo de
produzir toras para múltiplos usos pode ser obtido em plantios homogêneos ou em sistemas integrados lavourapecuária-floresta, ambos sob regimes silviculturais específicos. O objetivo do presente trabalho foi apresentar
resultados preliminares do potencial de crescimento e agregação de valor na produção de toras de Pinus taeda e
Eucalyptus dunnii. Aspectos silviculturais, de qualidade da madeira, de rendimento financeiro e industrial foram
abordados.
Palavras-chave: Silvicultura, pínus, eucalipto.
Abstract
Multiple-use management applied to Pinus taeda L. and Eucalyptus dunnii Maiden stands. Currently Brazilian forest
stands have been harvested earlier and increasingly less managed by thinnings and pruning treatments, as a result of
financials optimizations done by vertical companies. This strategy may not be the best one for independent wood
producers and small- or medium-sized landowners. The multiple-use management of forest stands can be achieved
throughout homogeneous plantations or integrated crop-livestock-forest systems, both under specific silvicultural
treatments. The objective of this paper was to present some preliminary results about growth and value added
potentials in the wood production of Pinus taeda and Eucalyptus dunnii. Silvicultural aspects, wood quality,
financial and industrial yield were addressed.
Key-words: Silviculture, pine, eucalyptus
INTRODUÇÃO
No Brasil, em 2011, as plantações florestais ocupavam 6,5 milhões de hectares, sendo o gênero Eucalyptus
o de maior importância. O gênero Pinus responde por apenas 25 % da área reflorestada. Desta, 83 % (1,4 milhões de
ha.) estava localizada na Região Sul do Brasil (ABRAF, 2012). Segundo o mesmo documento, o consumo brasileiro
de madeira em tora para fins industriais em 2011 foi de 170 milhões de metros cúbicos, sendo 32 milhões destinados
à indústria madeireira, onde o gênero Pinus foi o mais importante, com 85 % de participação.
As plantações florestais são, em sua maioria, manejadas em rotações relativamente curtas, de sete anos para
o gênero Eucalyptus, e 15 a 20 anos para o gênero Pinus. O objetivo da maioria destes plantios é produzir biomassa e
toras de pequenas e médias dimensões. Os ciclos produtivos curtos estão relacionados a decisões silviculturais que,
por sua vez, são cada vez mais baseadas em indicadores financeiros. Segundo Mancini (2011), a opção por regimes
silviculturais sem desbaste e poda, é motivada pela maximização do volume por hectare e, principalmente, da análise
do investimento florestal de forma integrada com a indústria em empresas verticalizadas. Como consequência, prevêse uma oferta reduzida de toras grossas (> 35 cm) num futuro próximo.
Esta tendência de redução do ciclo de produção de toras descrita acima ocorre num momento em que se
observa decréscimo na área mundial de florestas naturais com fins produtivos, o que resulta um fornecimento de
madeira mais dependente dos plantios florestais (FAO, 2010). Com possibilidade de atender à demanda de nichos
específicos onde uma melhor qualidade da madeira é requerida.
Entretanto, a melhor estratégia para produtores independentes de madeira pode não ser a mesma. Segundo
Mancini (2011), é preciso considerar que regimes multiprodutos possuem um efeito de redução de riscos, pois
embora a produção deste tipo de tora seja cada vez mais consumida por nichos específicos, o mercado sempre
valorizará madeira de melhor qualidade.
O aumento da área com plantios florestais nos estados do sul do Brasil parece possível apenas com a
participação de pequenas e médias propriedades rurais. Neste região, a estrutura fundiária e o alto valor da terra são
limitantes à expansão do ativo florestal por empresas. Considerar sistemas agrossilvipastoris é importante, pois os
1
Engenheiro Florestal, doutorando em Silvicultura, Universidade Federal do Paraná, [email protected]
Engenheiro Florestal, Dr., Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal do Paraná, [email protected]
3
Engenheiro Agrônomo, Dr., Departamento de Ciências Florestais, ESALQ, Universidade São Paulo, [email protected]
2
mesmos parecem ser melhor adaptados às pequenas e médias propriedades. Esta tendência pode ser uma ótima
oportunidade de desenvolvimento para o meio rural, principalmente para a pequena e média propriedade, desde que
práticas silviculturais adequadas sejam empregadas.
As estatísticas demonstram a atual importância do setor florestal no contexto nacional que, embora
expressiva, ainda está aquém do seu potencial. Comprovando a relevância estratégica deste segmento, está previsto
no ‘Programa de Baixo Carbono’, criado pelo governo federal em 2010, a ampliação da área plantada com pínus e
eucalipto em 50 % da atualmente reflorestada no país, um aumento de cerca de 3 milhões de hectares. São
considerados ainda sistemas de ‘Integração lavoura, pecuária e floresta’, para os quais a meta é ampliar a área em 4
milhões de hectares (MAPA, 2012).
Embora o conceito de qualidade da madeira seja fortemente dependente do tipo de produto final desejado
(SENFT et al., 1985; LARSON et al., 2001), a colheita de árvores jovens preocupa pela grande proporção de
madeira juvenil, resultando problemas na qualidade dos produtos obtidos a partir deste tipo de matéria-prima
(ZOBEL, 1981; SENFT et al., 1985; BROWN; MCWILLIAMS, 1989; LARSON et al., 2001; CARINO; BIBLIS,
2000; OLIVEIRA et al., 2006; CARINO; BIBLIS, 2009).
Especificamente para o gênero Eucalyptus, diversas espécies são consideradas de grande potencial para a
produção de painéis, compensados estruturais (IWAKIRI et al., 2007) lâminas e móveis (DIAS, 2005; NUTTO et
al., 2006). Entretanto, o uso da madeira deste gênero para produtos sólidos implica em mudanças na forma de
produção florestal. O manejo tradicional, com rotação em torno de sete anos, precisa ser substituído por rotações
maiores, com aplicação de desbastes e podas (ROCHA, 2000; DIAS, 2005).
Do ponto de vista do silvicultor, interessa saber a viabilidade econômica da produção de toras de melhor
qualidade, em regimes silviculturais específicos. O emprego de técnicas silviculturais mais apuradas, possivelmente
com rotações mais longas com a realização de desbastes e poda, permitiria a produção de toras de melhor qualidade,
apropriadas a múltiplos usos. Cabe ressaltar que o impacto da silvicultura na qualidade da madeira possui uma
relação complexa, conforme relatado por Zobel (1992).
O objetivo do presente trabalho foi apresentar resultados preliminares do potencial de crescimento e
agregação de valor na produção de toras de Pinus taeda e Eucalyptus dunnii. Aspectos silviculturais, de qualidade da
madeira, de rendimento financeiro e industrial foram abordados.
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos utilizados como base da discussão estão localizados no município de Campo Belo do Sul,
estado de Santa Catarina, em área de propriedade da empresa Florestal Gateados Ltda., aproximadamente 950 metros
acima do nível do mar.
Pinus taeda
Um povoamento de Pinus taeda foi selecionado para instalação do experimento de desbastes em 1986,
então com cinco anos de idade. O experimento foi delineado de forma a se obter um gradiente de diferentes
intensidades de desbaste e foi constituído por quatro tratamentos. Demais desbastes foram realizados ao longo da
vida do experimento (Figura 1). 400 árvores por hectare foram podadas até sete metros de altura. O tratamento
denominado ‘Extremo’ foi muito mais intenso e precoce que os demais, com a redução para 400 indivíduos por
hectare já aos cinco anos de idade (Figura 1). Merece destaque a ‘Testemunha’, onde a redução no número de
árvores por hectare é resultado exclusivamente da mortalidade (auto-desbaste), tendo alcançado o 30° ano com
apenas 695 árv/ha.
Os resultados dendrométricos apresentados foram obtidos no segundo semestre de 2011, quando o
povoamento apresentava 30 anos de idade. A análise da qualidade da madeira foi realizada por meio de
densitometria de raios X, a qual determinou a densidade aparente de amostras radiais do lenho de 48 árvores (12 por
tratamento) a 1,30 m acima do nível do solo. Para a análise financeira dos diferentes tratamentos foram considerados
custos médios e valores por sortimento de tora praticados pela empresa Florestal Gateados Ltda.
A instalação do experimento foi resultado da parceria entre a Universidade Federal do Paraná e a
Universidade Albert-Ludwig (Alemanha), representadas pelo Prof. Dr. Rudi Arno Seitz e pelo Prof. Dr. Dr. Jürguen
Huss, respectivamente. Os resultados apresentados são tratados como preliminares, pois a análise completa será parte
de uma tese de doutorado, em desenvolvimento pelo primeiro autor do presente artigo, sob orientação do Prof. Dr.
Antonio R. Higa (UFPR), Prof. Dr. Mário Tomazello Filho (ESALQ/USP), Prof. Dr. Dr. Jürgen Huss e Prof. Dr.
Jürgen Bauhus (Albert-Ludwig Universität).
2.500
Testemunha
Médio
Pesado
Extremo
Densidade (árv/ha)
2.000
1.500
1.000
500
0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
Idade (anos)
Figura 1.
Figure 1.
Evolução do número de árvores de Pinus taeda por hectare no período de 30 anos.
Evolution of number of Pinus taeda trees per hectare in the 30 years-period.
Eucalyptus dunnii
A discussão para Eucalyptus dunnii considerou dois experimentos de intensidades de desbastes. O primeiro
foi implantado em 2002, com espaçamento de 2,5 x 2,5 m. O objetivo deste experimento foi analisar cinco diferentes
condições de crescimento relacionadas à disponibilidade de espaço para árvores. Uma primeira remoção de árvores
foi realizada já no segundo ano, sendo, portanto, mais uma readequação da densidade inicial que um desbaste,
resultando em 1.000 árv ha-1 remanescentes, frente as 1.600 árv ha-1 nos outros dois tratamentos. Outros desbastes
foram realizados no terceiro e no sexto ano, conforme apresentado na Figura 2.
2.000
Testemunha
Leve
Médio
Densidade (árv/ha)
1.500
Forte
Extremo
1.000
500
0
0
Figura 2.
Figure 2.
2
4
6
Idade (anos)
8
10
Evolução do número de árvores de Eucalyptus dunnii por hectare no período de nove anos.
Evolution of number of Eucalyptus dunnii trees per hectare in the nine years-period.
A implantação do segundo experimento foi realizada em 2004, com espaçamento de 3,0 x 1,6 m. Todas as
árvores foram podadas até oito metros de altura. Ao povoamento foram aplicadas três diferentes intensidade de
desbaste exclusivamente seletivo, sendo realizado em duas diferentes idades. Os tratamentos tiveram como objetivo
a redução da área basal para 16, 14 e 12 m² ha-1, realizados no terceiro e quarto ano de idade do povoamento, quando
a área basal era de 20,2 e 25,3 m² ha-1 para os diferentes locais, respectivamente (DOBNER JR. et al., 2012a).
Os resultados apresentados a seguir refletem a condição aos nove e sete anos de idade, para cada um dos
experimentos, respectivamente. Por isso, são tratados também como resultados preliminares. Neste caso, porém, os
experimentos ainda não estão concluídos como foi o caso do P. taeda.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pinus taeda
A caracterização dendrométrica e financeira dos povoamentos foram apresentadas na Tabela1. Quando
considerada a média das 100 árvores mais grossas por hectare (d100), verificou-se que o potencial de crescimento
diamétrico de árvores crescendo livremente desde o quinto ano de idade (Extremo, com 66,1 cm) é 50 % superior ao
observado em povoamento totalmente estocado (Testemunha, com 45,4 cm).
Número de árvores de Pinus taeda por hectare (N ha-1), diâmetro das árvores dominantes (d100),
área basal, volume por hectare, receita bruta e valor médio do metro cúbico no 30° ano.
Table 1.
Number of Pinus taeda trees per hectare (N ha-1), dominant diameter (d100), basal area, volume per
hectare, gross revenue and average value per cubic meter obtained at the 30th year.
d100
Área Basal
Volume
Receita
Valor
Tratamento
N ha-1
(cm)
(m² ha-1)
(m³ ha-1)
(R$ ha-1)
(R$ m-3)
Testemunha
695
45,4
c
68,3 a
975,8 b
96.896 b
99,3
Médio
393
55,7 b
64,6 a
1.280,1 a
145.452 a
113,6
Pesado
355
57,2 b
64,5 a
1.215,0 a
151.328 a
124,5
Extremo
163
66,1 a
48,0 b
881,0 b
142.542 a
161,8
Tabela 1.
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si: teste de Tukey, 95% de probabilidade.
Com relação à receita bruta, constatou-se que todos os tratamentos com desbastes foram semelhantes e
superiores à ‘Testemunha’, com destaque para o ‘Pesado’, superior a todos os demais. A análise financeira dos
diferentes fluxos de caixa resultou Valores Presentes Líquidos (VPL) muito semelhantes para os tratamentos com
desbaste, porém com leve superioridade para o tratamento ‘Médio’.
O potencial de agregação de valor obtido com o desbaste pode ser percebido na comparação do valor médio
por metro cúbico ao longo de toda a rotação (Tabela 1). Os tratamentos ‘Médio’, ‘Pesado’ e ‘Extremo’ possuem
valor médio por metro cúbico 14, 25 e 63 % superiores à ‘Testemunha’, respectivamente.
A análise da densidade aparente mínima, média e máxima nos diferentes tratamentos permitiu concluir que
não há diferenças significativas entre os mesmos. A densidade aparente média apresentou valores muito próximos
entre os tratamentos: ‘Testemunha’ (0,499 g cm-3), ‘Médio’ (0,487 g cm-3), ‘Pesado’ (0,486 g cm-3) e ‘Extremo’,
(0,482 g cm-3).
Análises do rendimento industrial de toras de grandes dimensões obtidas em plantios comerciais são raras
na literatura científica brasileira. Sabe-se, porém que a eficiência do processo industrial pode ser significativamente
incrementada com o aumento do diâmetro da ponta fina da tora, desde que o equipamento comporte diâmetros
maiores. Um estudo com as toras obtidas no diferentes tratamentos, para o processo de serragem, demonstrou que há
um ganho significativo no rendimento industrial para toras com diâmetros na ponta fina superiores a 35 cm. Um
segundo salto de eficiência foi obtido em toras com mais de 45 cm de diâmetro (DOBNER JR. et al., 2012b). Estes
resultados confirmam que a produção de toras de melhor qualidade e maiores dimensões poderia ser vantajosa tanto
para o produtor como para a indústria madeireira, conforme relatado por Carino e Biblis (2000) e Cown (2005).
Eucalyptus dunnii
A caracterização dendrométrica do primeiro experimento descrito anteriormente foi apresentada na Tabela
2. A análise do diâmetro médio das 100 árvores mais grossas por hectare (d100), aos nove anos de idade, não
detectou diferenças estatísticas entre os tratamentos.
Nenhum tratamento foi capaz de recuperar a ocupação do espaço produtivo de forma a se igualar a
‘Testemunha’ que, aos nove anos, apresentou área basal superior aos demais. A diferença entre os tratamentos
‘Leve’ e ‘Médio’ indica que é preferível disponibilizar espaço produtivo às árvores logo nos primeiros
anos. O tratamento ‘Médio’ teve uma densidade inicial de cerca de 1.000 árv ha-1, com aplicação de
desbaste de, aproximadamente 40 % de intensidade no terceiro ano. A maior ocupação do espaço com um
menor número de árvores verificada no tratamento ‘Médio’, cerca de 200 indivíduos a menos por hectare,
indica um estoque volumétrico composto por indivíduos maiores e, portanto, mais valiosos. O mesmo
raciocínio pode ser acompanhado na comparação entre os tratamentos ‘Forte’ e ‘Extremo’, embora
apresentem valores estatisticamente semelhantes tanto para a área basal como para o volume.
Tabela 2.
Diâmetro das árvores de Eucalyptus dunnii dominantes (d100), área basal e volume total
por hectare aos nove anos de idade.
Table 2.
Dominant diameter (d100), basal area and volume per hectare of Eucalyptus dunnii trees at
the ninth year.
d100 ns
Área basal
Volume
Tratamento
(cm)
(m² ha-1)
(m³ ha-1)
Testemunha
28,2
38,0 a
457,1 a
Leve
30,5
19,7
c
251,9 c
Médio
31,1
27,5 b
351,0 b
Forte
34,3
14,6
c
199,1 c
Extremo
34,6
16,0
c
218,3 c
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si: teste de Tukey, 95% de probabilidade; ns: não significativo.
No segundo experimento de E. dunnii, onde os desbastes foram regulados em função da área basal
remanescente (16, 14 e 12 m² ha-1) e época de aplicação, constatou-se que o primeiro desbaste deve ser realizado tão
logo o povoamento atingir 20 m² ha-1. A área basal remanescente no povoamento deve ser entre 12 e 14 m² ha-1.
Embora o experimento possua apenas sete anos de idade e ainda não tenha sido concluído, constatou-se que,
seguindo as recomendações descritas acima, e passados apenas três anos da realização do desbaste, o diâmetro das
árvores dominantes (d100) já é superior no povoamento onde o desbaste foi mais intenso (DOBNERJ JR. et al.,
2012a).
Considerando valores de venda atualmente empregados no planalto sul de Santa Catarina para toras deste
gênero, é possível afirmar que os estoques volumétricos dos tratamentos mais intensamente desbastados descritos no
experimento acima já são mais valiosos que os presentes nas áreas não desbastadas. Entretanto, não há um mercado
para toras de maiores dimensões e podadas estabelecido, como é o caso do Pinus, por isso o real benefício
econômico deste tipo de manejo é ainda encarado como potencial.
Ambos os experimentos indicam que E. dunnii possui um grande potencial de crescimento em idades
precoces, o qual pode ser aproveitado disponibilizando maior espaço produtivo. Além disto, inúmeros trabalhos
confirmam a tendência de melhor qualidade da madeira de Eucalyptus spp. obtida em povoamentos menos densos,
em consequência de desbastes ou de espaçamento inicial amplo (SCHÖNAU; COTZEE, 1989; MALAN; HOON,
1992; LISBÔA, 1993; BERGER et al., 2000; MALAN, 2000; TOUZA VÁZQUEZ, 2001; CALORI et al., 1995;
GARCIA; LIMA, 2000; CARDOSO JR. et al., 2005; LIMA, 2005; MAESTRI et al., 2005; RIBASKI, 2007;
BIECHELE et al., 2009).
Maestri et al. (2005) explicam que uma árvore crescendo com baixa competição, possui um
desenvolvimento de copa simétrico, com inclinação pelo vento reduzida em função da maior estabilidade
dimensional, o que resulta em diminuição das tensões de crescimento e, consequentemente, pouca ou nenhuma
rachadura quando a árvore é cortada.
Verifica-se, portanto, que é possível aliar manejo intensivo dos plantios de Eucalyptus com alta qualidade
dos produtos obtidos (MESSINA, 1992; DEBELL et al., 2001). Shield (1995) comenta que o aumento do diâmetro
da tora diminui o efeito da tensão do crescimento sobre as peças serradas, em função de uma diminuição do
gradiente de tensão, e não da diminuição propriamente dita de intensidade da tensão.
Com relação à densidade da madeira, está provado que taxas de crescimento maiores não possuem impactos
negativos na qualidade da madeira, como poderia ser suposto. Estudos indicam impactos positivos (WILKINS;
HORNE, 1991; ZOBEL; JETT, 1995; BERGER et al., 2000; NOLAN et al., 2005), ou simplesmente a ausência de
efeito (TREVISAN, 2010).
CONCLUSÕES
Os resultados parciais dos trabalhos descritos permitem concluir que:
Árvores dominantes de P. taeda, quando intensamente e precocemente liberadas de concorrência, (i)
possuem um potencial de crescimento diamétrico (d100) 50 % superior a árvores crescendo em povoamento
totalmente estocado. A disponibilização de espaço produtivo às árvores, independente da intensidade estudada, (ii)
resulta rendimentos financeiros superiores aos povoamentos não desbastados. (iii) O valor médio do metro cúbico
durante todo o ciclo de produção é até 63 % superior em povoamentos desbastados. (iv) Maiores taxas de
crescimento não diminuem a densidade aparente do lenho.
Árvores de E. dunnii (i) parecem responder significativamente à disponibilização de espaço produtivo,
devendo ser preferidas intervenções precoces. (ii) O estoque volumétrico de áreas desbastadas, embora
quantitativamente menores, já são mais valiosos em idades inferiores a 10 anos. (iii) Regimes silviculturais intensos,
além de permitirem o pleno desenvolvimento individual de árvores potenciais, acarretam benefícios à qualidade da
madeira.
AGRADECIMENTOS
À empresa Florestal Gateados Ltda. pelo, ao Prof. Dr. Rudi Arno Seitz (im memoriam) e ao Prof. Dr. Dr.
Jürguen Huss pela idealização e acompanhamento de parte dos experimentos e à CAPES pela concessão de bolsa de
doutorado.
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MANEJO DE POVOAMENTOS DE Pinus taeda L. E DE