A
o mesmo tempo em que evolui comercialmente,
o mercado de empresas de diagnóstico e remediação de áreas contaminadas também vê seus
problemas crescerem de forma proporcional. A
grande aceleração dos negócios iniciada com as
recentes preocupações ambientais da sociedade,
notoriamente a partir de meados da década de
90, acabou por atrair em demasia um sem-fim
de interessados em ganhar dinheiro com a nova
demanda, provocando uma espécie de corrida
do ouro que, no final das contas, diminuiu a
qualidade dos serviços ofertados. A seriedade na
aplicação de tecnologias para descontaminação e
para elaborar relatórios de passivos ambientais foi
lentamente substituída, em vários casos, por um
jogo de faz-de-conta em que técnicas de prateleira
são aplicadas sem muito critério e controle, apenas para dar
uma resposta às autoridades e clientes sem muito preparo
para checar e fiscalizar o andamento dos projetos, e por uma
verdadeira indústria do diagnóstico ambiental, documento
necessário para celebrar contratos de compra e venda ou para
oficializar termos de mudança de uso da área.
O fenômeno de “degeneração” do mercado tem a ver, em
primeiro lugar, com o inchaço de oferta de empresas na área.
Formado inicialmente por cerca de 15 empresas especializadas, o segmento sofreu um boom a partir de 2000, talvez por
influência da publicação da resolução 273 do Conama, que
disciplinou os procedimentos de fiscalização, controle e licenciamento de postos de combustíveis, incentivando negócios
com esses clientes. “Vários ex-funcionários dos grupos mais
fortes do mercado, e até mesmo alguns aventureiros com
formação técnica duvidosa, passaram a criar consultorias
Ilustração Sueli Rojas
R e m
48
Química e Derivados - maio - 2008
para aproveitar o novo filão do mercado”, explicou Giovanna
Galante, gerente da Essencis Remediação, joint-venture entre
o grupo francês Solvi e a construtora brasileira Camargo
Corrêa. Uma estimativa é a de que atualmente cerca de 140
consultorias se engalfinhem para dividir os fornecimentos da
área. “O mercado está prostituído”, completou Giovanna.
Embora boa parte dessas novas empresas hoje se concentre nos serviços para postos de combustíveis, o que fez
os grupos tradicionais saírem quase totalmente desse nicho
de mercado, a preocupação atual é a “invasão” dos novatos
em clientes industriais. Com contaminações mais complexas,
o risco de uma remediação mal feita em um sítio industrial
passa a ser bem maior. E trata-se aí de algo muito possível
de ocorrer. Não só por causa da má qualidade do serviço
ofertado, mas porque poucos órgãos ambientais no Brasil
estão devidamente empenhados e preparados para avaliar e
controlar as remediações. Só para se ter uma idéia, a grande
maioria das agências ambientais do país nem mesmo conta
com levantamento das áreas contaminadas de seus estados.
Na verdade, apenas São Paulo, por meio de trabalho iniciado
pela Cetesb em 2002, renova constantemente um inventário
dos sítios contaminados, cuja última publicação, em novembro de 2007, demonstrou haver 2.272 casos confirmados,
sendo 70% deles postos de combustíveis. Ocorre que mesmo
no estado paulista a estimativa é a de que o número real seja
muito maior do que o de conhecimento do órgão ambiental
(só em São Paulo, há 120 mil indústrias).
Mercado adolescente – Os temores com os caminhos
tomados pelo mercado brasileiro de remediação de solos e
águas subterrâneas são maiores ainda quando se compreende
que o estágio geral de desenvolvimento tecnológico do setor,
e d i a ç ã o
de solos
Indústria do diagnóstico e
consultorias nanicas afetam
a qualidade do serviço
Marcelo Furtado
2008 - maio - Química e Derivados
49
remediação de solos
Cuca Jorge
mesmo excluindo-se a maioria das consulverticais para a garantia da captura
torias mais novas, ainda é muito imaturo.
necessária, implicando em uma quanEssa espécie de perfil “adolescente” do
tidade exagerada de poços de extração.
segmento, não raro, dá curso a erros de
Na maioria das vezes, o espaçamento
interpretação que prejudicam a elaboração
ideal não é determinado e não se obtêm
de projetos. É comum os mentores não
raios de influência apropriados. Com
avaliarem direito as condicionantes do
isso, as plumas migram para fora das
solo, tornando muitas tecnologias quase
áreas com fases livres retidas pelo
inócuas. E o pior: as falhas são difíceis de
solo (fontes secundárias). As incertezas
ser rastreadas pela fiscalização ambiental
existentes associadas a uma geologia
ou simplesmente checadas pelos clientes,
de elevado grau de heterogeneidade,
por ambos não estarem suficientemente
nestes casos, deveriam demandar soluinstrumentalizados para a tarefa.
ções mais adequadas, o que dificilmente
Os “erros”, involuntários ou não,
ocorre no Brasil.
ocorrem, como exemplo, na implantação
Problemas desse tipo, na opinião
de sistemas de bombeamento e tratamento
do especialista Manoel Maia Nobre,
denominados MPE, de extração multifáresponsável por vários projetos avançasica para contaminantes, que permitem a
dos de remediação no Brasil, sobretudo
extração simultânea de fase livre, dissolvipara a petroquímica Braskem, para
Maia Nobre: trincheira para
da e de vapor do solo. Muito empregados
quem presta serviço como consultor
combater desleixo técnico
em contaminações por hidrocarbonetos,
corporativo, ocorrem muito por causa
mas também em sítios com solventes clorados e outros com- da visão do mercado brasileiro de remediação ainda bastante
ponentes voláteis, a sua implantação por poços não raramente atrelada às tecnologias padrões. “A remediação, principaldeixa escapar plumas de contaminantes para além da área mente na indústria, precisa ser vista de maneira particular,
contaminada.
engenheirada. Um solo heterogêneo e uma fonte de contamiIsso ocorre por causa de um problema aparentemente nação cuja complexidade foge do conhecimento daquele a que
óbvio, mas que costuma ocorrer: a colocação de vários poços se propõe a remediá-la já são motivos para pensar o projeto
para cercar a pluma. Quando não bem projetados, torna-se dessa forma. Caso contrário, o trabalho corre o risco de ser
insuficiente para extrair o lençol freático e os vapores con- mais decorativo do que de fato”, critica Maia Nobre.
taminados. Sítios onde há elevado grau de heterogeneidade
geológica demandam pequenos espaçamentos entre poços Trincheiras – Para evitar a falha de concepção do MPE, uma
solução pensada e já executada em trabalhos
da Maia Nobre Engenharia (escritórios em
Maceió-AL e Salvador-BA) seria a construção
das chamadas trincheiras interceptantes (ver
Trincheira interceptante
esquema). Trata-se de paredes construídas
no solo, ao redor da área com contaminantes,
com materiais permeáveis, brita ou cascalho,
Sistema de
conjugadas com poços de extração, por bomba
monitoramento
ou gravidade, que removem segregadamente
as fases de contaminantes (livre, gasosa e
dissolvida).
A técnica, explica Maia Nobre, é empregada
Sistema de remoção
Zona
de fase livre
nos Estados Unidos há quase duas décadas
vadosa
como alternativa ao MPE em sítios com conção
iliza
b
a
e
taminações por LNAPLs (fluidos orgânicos
m
er
Imp
imiscíveis e mais leves do que a água, como
Zona
os hidrocarbonetos do petróleo), onde pode
Brita /cascalho
saturada
ser realizado o controle da migração de fases
Sistema de extração
livre e dissolvida, além da remoção de massa.
de gás
Adequadas para sítios com grandes heterogeneidades geológicas, onde o fluxo de águas
subterrâneas ocorre aleatoriamente em zonas de
LNAPLs
Sistema de
(fase livre)
maior permeabilidade e em material arenoso, as
extração de água
trincheiras funcionam como camada infinita de
Fonte: MNE
50
Química e Derivados - maio - 2008
remediação de solos
nantes se dá pela alteração da piezometria
(captura) com o bombeamento da água
subterrânea, por meio de um sistema de
extração/drenagem mais profundo, sem
gerar turbulência (e emulsão) onde existir
fase livre de LNAPLs.
O rebaixamento do aqüífero freático,
decorrente do bombeamento, possibilita
remoção facilitada de fase livre móvel
de LNAPLs, que fluirá para o interior da
trincheira interceptante por gravidade. Para
a extração de fase gasosa contaminada,
assim como para a exaustão do sistema,
são instalados poços na zona vadosa como
parte da remediação.
A configuração segmentada, com sistemas específicos para a remoção da contaminação em suas diferentes fases (livre,
gasosa e dissolvida), facilita o reúso de
água de sistemas de remediação, evitando
poços de extração ao longo de sua extensão. São relativamente os sistemas de separação de fases na superfície. “Fazer o
fáceis e baratas de construir, com custo de operação também tratamento depois da extração é caro e ambientalmente inadebaixo em virtude da operação por fluxo gravitacional para o quado, pois gera efluentes em demasia”, afirma Maia Nobre.
interior da trincheira, possível pelo rebaixamento do nível Aliás, a engenharia da extração dos efluentes das trincheiras é
a responsável pela possibilidade maior do reúso da água. Ela
freático.
Por causa das características do material de preenchimento, pode ser pelo método passivo (fluxo gravitacional da fase livre
as trincheiras interceptantes criam uma região de elevada de LNAPLs) ou ativo (uso de bombas para induzir o fluxo de
permeabilidade (e transmissividade) no aqüífero freático, fases livre e dissolvida de LNAPLs).
O primeiro método é utilizado, geralmente, para a remoção
com uma zona de influência abrangente, e garantindo extensa
área de cobertura pelo bombeamento. Em geral, a tecnologia de fase livre em sítios onde a profundidade do aqüífero freático
é instalada transversalmente ao sentido de fluxo de águas seja inferior a 6 metros ou em solos de baixa permeabilidade,
subterrâneas, a jusante das fontes primárias/secundárias de em condições nas quais o bombeamento de água não aumenta
LNAPLs. O controle da migração de plumas de contami- significativamente as taxas de extração. Nesses casos, a fase
livre deve ser removida periodicamente, de
forma manual (por bailers) ou com o uso de
bombas/skimmers de separação in-situ. Já na
Evolução da classificação das
operação com sistema ativo, o rebaixamento
áreas contaminadas em São Paulo
do lençol promove maiores taxas de remoção
10.000
de fase livre associada ao controle concomitante da dissolvida.
1.822
2.272
1.664
1.504 1.596
Quando a recuperação de fase livre de
1.336
1.148
937
859
833
859
727
LNAPLs
é o objetivo principal, sistemas
1000
884
510
564
ativos podem ser projetados para evitar
710
682
255
622
a emulsificação (mistura da fase livre de
485
137
157
144
151
146
LNAPLs com água). “Isso ajuda a reduzir
122
100
a possibilidade de smearing (incremento
94
46
32
da zona contaminada com fase residual) e
29
24
19
diminui a quantidade de efluente gerado a
14
10
ser tratado”, afirma Maia Nobre. Para o bombeamento e rebaixamento do lençol, podem
5
ser utilizados drenos horizontais ao longo
da trincheira assim como poços verticais
1
mai/02
out/03
nov/04
mai/05
nov/05
mai/06
nov/06
nov/07
em pontos específicos. A definição depende,
além da existência ou não de fase livre, do
Áreas contaminadas
Contaminadas com proposta
rebaixamento necessário, e também da conContaminadas sem proposta
de remediação
Fonte: Cetesb
Dioxinas e furanos/ 2
Anilinas /3
Radionuclídeos / 4
Microbiológicos / 5
Ftalatos / 15
PCBs / 21
Biocidas / 35
Solventes aromáticos halogenados / 43
Fenóis halogenados / 53
Outros inorgânicos / 54
Outros contaminantes / 82
Solventes halogenados / 142
Metais / 276
PAHs / 902
Combustíveis líquidos / 1.455
Solventes aromáticos / 1.495
Número de áreas
Fonte: Cetesb
Grupos de contaminantes em São Paulo
de remediação
Remediação em andamento
52
Remediação concluída
Química e Derivados - maio - 2008
Cuca Jorge
Giovanna: Essencis considera estratégica a remediação
figuração da trincheira e metodologia construtiva adotada.
Apesar das vantagens, Maia Nobre acrescenta que a tecnologia não é recomendada para contaminações em grandes
profundidades (acima de 18 metros), em razão da elevação dos
custos da execução e da necessidade de remoção de grande
volume de solo escavado, parte dele contaminado. Além disso,
ainda é limitante sua eficiência em solos de permeabilidade
muito reduzida (K < 10-5cm/s) e sítios com edificações existentes, sobretudo instalações subterrâneas. A concepção do
projeto, aliás, não foge da boa preparação de uma remediação:
estudo do deslocamento de plumas dissolvidas ao longo de
caminhos preferenciais de fluxo, boa configuração da obra e
das vazões de extração e fundamentação das heterogeneidades
geológicas existentes.
Cuca Jorge
Crescimento não pára – A despeito dos problemas relativos
à imaturidade do mercado, as empresas mais conhecidas da
área continuam a ampliar os negócios e a ficar atentas às novas
oportunidades. Demonstram satisfação com o desempenho
comercial atual e não perdem tempo de anunciar planos de
expansão, lançando modalidades novas de serviços e produtos.
De forma unânime, estão convencidas de que, mesmo sofrendo
com as novas concorrências de empresas menores com custos
igualmente diminutos, as taxas de crescimento do mercado
continuarão a ser consideradas bem altas. E motivos para o oti-
Alarsa estuda
lançar a “bolsa
do solo”
2008 - maio - Química e Derivados
53
Divulgação
remediação de solos
Unidade piloto de UV e H2O2: reúso de água nos projetos
mismo não faltam: o recente interesse e necessidade da indústria
de mineração e siderurgia em dar cabo a projetos de remediação
(fenômeno capitaneado principalmente pela Vale, empresa em
globalização e por isso mais comprometida com boas condutas
ambientais) e o crescimento do mercado de brownfields (ocupação imobiliária de áreas contaminadas em centros urbanos) são
dois movimentos de destaque nesse campo.
A Essencis Remediação, para começar, tem planos de
expansão por todo o país, segundo revelou a gerente Giovanna
Galante. Muito focada como empresa de destinação de resíduos,
administrando e operando aterros, incinerador e unidades de coprocessamento, o grupo pretende fechar a oferta como provedor
de solução ambiental para a indústria, cuidando também de seus
passivos mais complicados em solos e águas subterrâneas.
Depois de algumas tentativas não muito bem-sucedidas de
se expandir nessa seara, a Essencis organizou três escritórios
exclusivos para a remediação, em Belo Horizonte-MG, São
Paulo e Porto Alegre-RS, contratou gente especializada e
passou a ter ação mais ativa comercialmente, aproveitando
a carteira de 4 mil clientes da área de resíduos para ofertar
projetos de descontaminação. “A remediação passou a ser
estratégica”, ressaltou Giovanna, geóloga com experiência em
outras empresas de remediação (Geoklock e Servmar).
Outra empresa com perfil parecido com o da Essencis,
por ser originária da área de gerenciamento e tratamento de
resíduos, a Cetrel Lumina, do grupo Odebrecht, conta também
com planos ambiciosos de crescimento. Segundo explicou
o coordenador técnico de remediação da empresa, Marcelo
Alarsa, depois de três anos consolidada como prestadora
de serviços ambientais (após fusão da Lumina, da área de
gerenciamento ambiental da Construtora Norberto Odebrecht,
com a central de tratamento de efluentes e resíduos do pólo de
Camaçari-BA, da Braskem), a intenção é buscar novas frentes
para explorar negócios com a remediação.
A principal dessas novas frentes, em cujo planejamento
Alarsa se envolve atualmente, é criar uma modalidade de serviço ambiental denominada de forma preliminar como “bolsa
de solo”. O princípio é o mais simples possível e tem público
2008 - maio - Química e Derivados
55
remediação de solos
Áreas contaminadas por região
Fonte: Cetesb
Região
Comercial Industrial
Resíduos
Postos de
combustíveis
Acidentes/
desconhecida
TOTAL
São Paulo
32
66
22
621
2
743
RMSP - Outros
17
87
12
322
4
442
Interior
49
110
23
591
13
786
Litoral
14
32
12
93
2
153
Vale do Paraíba
2
27
0
118
1
148
114
322
69
1.745
22
2.272
TOTAL
bem definido: empreendedores imobiliários de grandes centros
urbanos. Trata-se de uma oferta que abrange a remoção completa de solo contaminado e a sua troca por outro limpo, ou
seja, livre de poluentes. O tratamento pode parecer elementar
demais, mas para o perfil da operação a que se presta, isto é, a
ocupação de áreas contaminadas para novos usos, comerciais
ou residenciais, as chances de se mostrar eficaz são muito
grandes, na opinião do coordenador da Cetrel Lumina.
“O empreendimento imobiliário, na maioria das vezes,
não tem tempo para esperar uma remediação in-situ, que
pode levar vários anos para ser concluída. Além disso, faz
parte das atratividades do produto imobiliário o respeito a um
cronograma predeterminado de entrega das chaves”, explica
Alarsa. Encontrar uma saída rápida para a remediação, além
de facilitar a comercialização dos terrenos e imóveis, também
atrairia empreendedores ainda receosos em ocupar áreas industriais contaminadas. Nesses casos, o coordenador imagina que
as soluções tecnológicas possam envolver operações on-site
(com o solo contaminado removido, mas tratado no mesmo
terreno, com soluções térmicas portáteis ou em biopilhas,
Fitorremediação/1
Barreiras reativas /2
Biopilha/2
Lavagem de solo / 3
Bioventing / 3
Barreira física / 7
Biosparging/10
Outros / 14
Biorremediação / 16
Cobertura resíduo/solo contaminado / 17
Oxidação/redução química / 19
Barreira hidráulica / 44
Atenuação natural monitorada / 61
Air sparging / 96
Remoção de solo/resíduo / 183
Extração de vapores / 196
1
Extração multifásica / 233
10
Recuperação de fase livre / 395
Número de áreas
100
Bombeamento e tratamento /472
1000
Encapsulamento geotécnico/ 7
Técnicas de remediação implantadas
por exemplo) ou ex-situ (quando se transporta o solo para
tratamento externo).
Ambas as soluções, segundo Alarsa, precisam ser estudadas em cada situação, dependendo do tipo de contaminante e
da equação de custo. Se o solo for muito perigoso, por exemplo
com PCBs (policloreto de bifenila, o isolante térmico ascarel)
ou organoclorados, há a possibilidade de serem encaminhados para incineração (no próprio equipamento da Cetrel,
em Camaçari, que de acordo com o coordenador passou por
recente otimização para baixar seu custo de operação). Outros
tipos de solo, com poder calorífico, podem seguir para coprocessamento, operação também ofertada pela empresa em
unidades de blendagem e por acordos com cimenteiras. Mas
não serão todos os solos com chance de serem viáveis para
essas soluções. Há a hipótese de a Cetrel Lumina preparar um
galpão de tratamento, possivelmente em São Paulo (onde deve
haver maior demanda pelo serviço), para realizar operações
de oxidação química ou de biorremediação.
Já a colocação do solo novo no local, Alarsa considera
como uma operação de prospecção. “A saída mais provável
é procurar na região obras civis
em operação, para requisitar o
em São Paulo
solo removido nas fundações.
Por lei, ele não pode ser vendido, apenas cedido, o que torna
apenas uma questão de pagar
o frete para sua remoção”,
explicou. Embora pareça algo
não tão garantido de ocorrer,
Alarsa ressalta que a Cetrel
Lumina realiza duas operações
do tipo atualmente, que se
utilizam desses artifícios. E
ressalta ainda que remediações
fora dos sítios contaminados,
com troca de solos e portanto
mais rápidas no livramento das
áreas do impacto ambiental,
Fonte: Cetesb
56
Química e Derivados - maio - 2008
2008 - maio - Química e Derivados
57
Divulgação
são comuns por exemplo na Alemanha, onde ele visitou
vários projetos de remediação. “Eles têm muita necessidade
de ocupação de solo e possuem várias áreas contaminadas,
tanto por causa da antiga industrialização como em virtude
das guerras mundiais em que se envolveram”, explica. “Não
é incomum os alemães resolverem o problema de um sítio
poluído, entregando-o para um novo uso, em apenas um ano,
removendo o solo totalmente”, completa.
Mesmo ainda não sendo uma oferta oficial, a “bolsa de
solo” pretende tirar proveito de um mercado visto com grande
expectativa pelas empresas do ramo. Embora a Cetrel Lumina
esteja se preparando para atuar apenas como prestadora de
serviço nesse nicho denominado brownfields (áreas marrons,
assim denominadas por representar as regiões urbanas industriais com histórico de contaminação e com várias fábricas
abandonadas), outras pensam em participar de forma mais
proativa nesses possíveis novos negócios.
A Geoklock, pioneira no Brasil em diagnóstico e remediação ambiental, é o melhor exemplo. Recentemente, ela
firmou parceria com a empresa Urban Systems, especializada
em análise de oportunidades e riscos de empreendimentos
urbanos, para ofertar no mercado novas opções de uso para
terrenos impactados. Uma área de negócios criada pelas
empresas vai analisar, quantificar e planejar as possibilidades
de reocupação. Tomando como base o consenso técnico de
que o custo de recuperação de áreas contaminadas em regiões
centrais das grandes cidades é, em média, 20% do valor do
terreno recuperado, o propósito é estruturar investimentos que
garantam lucro a empreendimentos imobiliários compatíveis
com as demandas. A oferta é sintetizada pela elaboração
de relatório indicando as possibilidades de ocupação mais
vantajosas, a quantificação dos passivos e os custos e prazos
para recuperação da área. Uma operação pioneira ocorreu no
moderno condomínio de escritórios Rochaverá, em São Paulo,
construído sobre antiga fábrica de pesticidas (Ciba), cujo solo
foi removido e o lençol freático tratado pela Geoklock.
Não é só pela entrada nessa nova área de negócios que
a Geoklock demonstra sua confiança com o desempenho do
mercado. Uma outra oferta recente visa a tirar proveito do
amadurecimento dos serviços de remediação, ainda sua especialidade. Conforme explica o diretor de engenharia, Rubens
Spina, é um novo sistema para reúso de água extraída de
sistemas de remediação de aqüíferos, baseado em lâmpadas de
UV e dosagem de peróxido de hidrogênio que também tratam
gases extraídos dos sítios contaminados.
Tecnologia da alemã IBL, com quem a Geoklock tem
parceria também para outras tecnologias de remediação, o diferencial do sistema, ainda de acordo com Spina, é a tecnologia
ultravioleta, integrada com o H2O2 dosado antes da passagem
do gás ou da água pelas lâmpadas, possibilitar a degradação
total dos compostos orgânicos, o que permite o reúso da água
descontaminada. “Normalmente, o UV está associado apenas
à desinfecção da água”, ressaltou o diretor. Outro ponto vantajoso, em comparação com os sistemas de carvão ativado
empregados em extração multifásica de líquidos e vapores,
Spina: UV apenas
para as obras
mais longas
é não gerar resíduos,
no caso o carvão saturado. Há uma linha
completa de lâmpadas para cada tipo de família de contaminantes e o tratamento de gases e de líquidos é feito por
reatores dedicados.
Segundo Spina, já foram instalados desses sistemas em
projetos de remediação da Geoklock. São obras com duração
mínima de quatro anos, período que justifica o investimento
no sistema. Já se a descontaminação for de curto prazo, no seu
entendimento ainda vale mais a pena tratar a água e os gases
com o “velho” carvão ativado. O diretor também ressalta que,
ao término da obra, a tendência é o cliente desviar o sistema
para aplicação em outros reúsos na fábrica, o que ocorrerá em
pelo menos um caso já vendido. Tudo isso para ajudar a tornar
a remediação de solos e águas subterrâneas o mais próxima
possível do bom senso, predicado ultimamente um pouco em
falta a esse segmento no Brasil. n
remediação de solos
Um bom parâmetro para compreender a evolução do segmento de remediação de solos e águas subterrâneas é prestar
atenção no desempenho dos fornecedores de equipamentos
e produtos da área. A Clean Environment, de Campinas-SP,
serve bem para esse propósito, principalmente por ser uma
das primeiras a se estabelecer, em 1995, no Brasil para atender
as empresas de consultoria e projetos com sistemas de bombeamento, extração, skimmers, produtos de monitoramento e
controle e sistemas químicos de remediação.
Para começar pelo lado mais positivo, basta saber que a
empresa, segundo seu sócio-fundador e diretor-técnico, Paulo
Negrão, tem crescido de 30% a 50% ao ano, o que demonstra
a quantidade cada vez maior de projetos de remediação em
atividade no Brasil. Outro bom aspecto é apontado por Negrão
como uma mudança em curso em grandes clientes industriais:
“Hoje o nível de exigência é maior do que no começo do
mercado, há cerca de 15 anos. É mais comum haver clientes
com maior conhecimento técnico.”
Mas, de modo geral, a percepção do diretor da Clean confirma o que boa parte de seus clientes, ou seja, as empresas de
consultoria e remediação, constata com pesar. Há uma superpopulação de consultores e “empresinhas”, com intuito oportunista,
cujo principal problema foi
ter descido a qualidade
técnica do segmento, fenômeno ocorrido sobretudo
a partir da publicação 273
do Conama, que disciplina
a remediação de postos de
combustíveis. “Isso tem
provocado muitas frustrações no mercado”, afirmou
Negrão.
Uma dessas frustrações, explica, ocorreu
Negrão acredita que
o mercado ainda vai
ser depurado
58
Química e Derivados - maio - 2008
Divulgação
Fornecedor de equipamentos
aproveita boom, mas também
percebe piora na qualidade
Divulgação
recentemente no próprio órgão ambiental paulista, a Cetesb.
Desconfiado da seriedade de vários projetos de remediação
em São Paulo, o órgão fiscalizador resolveu auditar o trabalho
de investigação ambiental de forma aleatória. “Eles encontraram um verdadeiro circo de horrores. Até laudo técnico feito
por açougue foi descoberto”, ressalta Negrão. Mas o melhor
foi o resultado da operação: a partir daí a Cetesb passou
a exigir certificação do Inmetro e da Secretaria do Meio
Ambiente de todos os laboratórios de análises ambientais
empregados pelas empresas de remediação e diagnóstico.
Outra iniciativa nesse sentido foi passar a exigir das consultorias a assinatura de um termo de responsabilidade pelas
informações prestadas ao órgão ambiental, com implicações
legais nas esferas cíveis e penais.
Mas a visão do diretor da Clean é otimista. Com experiência internacional, por ter trabalhado durante seis anos
nos Estados Unidos em fornecedora de equipamentos para
remediação, de onde também prestava serviços para vários
locais do mundo, Negrão acredita que o Brasil passará por
um processo de depuração do mercado. “É sempre assim:
no começo há uma euforia com os novos negócios de
remediação, o que provoca em seguida o aparecimento das
pequenas empresas oportunistas. Mas isso não dura muito,
depois há uma filtragem e só ficam os sérios”, explicou. Para
ele, dentro de cinco anos, esse ciclo de depuração deve se
concluir no Brasil. “Depois que os problemas ocasionados
pelas empresas de fundo de quintal começarem a aparecer,
não haverá mais espaço para amadorismo”, completa. Oxalá
Negrão esteja certo. n
Linha nacionalizada de bombas para remediação
2008 - maio - Química e Derivados
59
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o mesmo tempo em que evolui comercialmente, o mercado de