Dormir é meio sustento
Armanda Zenhas
O sono tem uma função de primordial importância na nossa vida e na nossa saúde, visto
contribuir para a recuperação física e psicológica do nosso organismo.
No seguimento do meu artigo "Hábitos de sono e rendimento escolar", fui questionada por uma mãe que
pretendia saber o número de horas de sono adequado a cada idade. Optei por abordar novamente a
temática da higiene do sono infantil e juvenil, tratando de alguns aspectos menos aprofundados nesse
texto.
Num estudo publicado no jornal científico Child Development, recomenda-se que, em cada noite, as
crianças de cinco a doze anos durmam entre dez a onze horas e os adolescentes durmam entre oito a
nove horas. Obviamente estes números são apenas uma referência, visto que cada indivíduo tem o seu
ritmo próprio. Contudo, é preciso não esquecer que não se pode fugir muito a estas horas de sono, sob
pena de a saúde ser afectada. Outros estudos mostram que há uma tendência para as crianças e os
jovens se deitarem demasiado tarde e dormirem poucas horas. Esta facto, aliás, tal como referi no artigo
citado, pode ser comprovado pela simples observação de muitas crianças e jovens, cabeceando de sono
durante as aulas.
O sono tem uma função de primordial importância na nossa vida e na nossa saúde, visto contribuir para a
recuperação física e psicológica do nosso organismo. Caracteriza-se por cinco fases que se repartem por
dois estados: o sono REM e o sono não-REM. No primeiro existe uma actividade cerebral intensa,
havendo frequência cardíaca e respiratória e tensão arterial idênticas às dos períodos de vigília. Os
sonhos ocorrem durante o período REM. No sono não-REM há um abaixamento da frequência cardíaca e
da respiratória e da tensão arterial. É um período crucial para a recuperação física do nosso organismo.
Os períodos de sono profundo dão-se durante o sono não-REM.
Para o sono ter boa qualidade, é necessário haver uma proporção adequada destes dois tipos de sono e
as pessoas precisam de acordar com a sensação de repouso. Sendo os números anteriormente
fornecidos apenas uma referência, cada indivíduo pode conhecer-se a si próprio aprendendo a ver
quantas horas precisa de dormir para se sentir repousado e com as capacidades físicas e psicológicas
funcionais. Com as crianças e os jovens é difícil descobrir essa medida, pois raramente reconhecem
estarem cansados em consequência de um número diminuto de horas de sono.
Se os mais novos têm tendência a deitar-se muito tarde, como frequentemente sucede, a continuação de
um número insuficiente de horas de sono por noite, entre outras consequências, provoca problemas a
nível da capacidade de atenção e de concentração, da memória, do comportamento, com o surgimento
de cansaço, sonolência, irritabilidade, diminuição da capacidade de aprendizagem, entre outros efeitos
indesejáveis.
O estabelecimento de horas de deitar, adequadas à idade da criança, é uma regra fundamental. No artigo
anterior adiantei algumas sugestões para fazer uma transição mais calma entre a agitação do dia-a-dia e
a necessária calma da hora de deitar. Reforço a presença de televisão ou de computador no quarto como
inimiga do cumprimento das horas de sono e como aliada na fuga ao cumprimento de regras nesse
domínio.
Para muitas crianças, a dificuldade em dormir ou em ir para a cama não está (apenas) na vontade de ver
televisão ou de brincar e situa-se num nível mais problemático. Podem apresentar outras dificuldades que
perturbam o seu sono: medos, ansiedades, entre outras. Esses problemas podem fazer-se sentir na hora
de ir para a cama, numa demora excessiva em adormecer ou em acordar durante a noite com pesadelos,
por exemplo. Muitos são os pais que se debatem com estas ocorrências, que acabam por prejudicar o
seu próprio sono. Vale a pena observar o quotidiano da criança, conversar com ela sobre a situação,
tentar descobrir se há algum problema na escola ou com os amigos.
Como directora de turma, tenho sido abordada por várias mães, cujos filhos têm problemas como os
descritos. São frequentes os jovens que têm mais dificuldades em adormecer antes de um teste ou
quando mudam de escola, ou então quando se sentem ameaçados por alunos mais velhos ou quando
estão "zangados" com os seus amigos. A descoberta do problema; a definição de estratégias adequadas;
a firmeza no cumprimento das regras, temperada com tolerância e carinho, perante os medos e as
ansiedades são fundamentais para ultrapassar estes contratempos. A colaboração entre a família e a
escola, nestes casos, é também importante. Às vezes torna-se necessário recorrer à ajuda de um
psicólogo.
Para terminar, retomo o título, que corresponde a um certeiro dito popular: dormir é meio sustento.
Pretendo, ainda, desdramatizar o acto de ir para a cama. Os problemas a que fiz referência nos
parágrafos anteriores afectam uma minoria das nossas crianças. Para a maioria, basta a negociação e
definição de regras e a firmeza na exigência do seu cumprimento, misturada com alguns "truques" para
facilitar a transição entre a vigília e o sono.
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