O Pedrito Coelho
muda de coelheira
Sophie Carquain
Cent histoires du soir
Paris, Ed. Marabout, 2000
(Tradução e adaptação)
N
uma bela manhã de Primavera, o Pedrito Coelho decidiu
mudar de coelheira. Disse à mulher, a Coelha Joana:
— Os nossos seis coelhitos cresceram tanto que já não cabemos
aqui.
Tinham comprado aquela casa quando eram um casal jovem e sem
filhos. Mas, entretanto, tinham chegado Emílio, Arsénio, Onésimo,
Edgar, Apolino e Leopoldina. Agora viviam com dificuldade entre
Se muda também de escola, dê-lhe tempo para se habituar. O
ideal seria ir buscá-la à escola, pelo menos no início do ano, para
conhecer os novos colegas e os pais deles.
Não a bombardeie com perguntas sobre se já fez amigos.
Encoraje-a a continuar a ver os antigos, a juntar novos e velhos colegas
numa festa. É uma boa forma de estabelecer uma ligação entre a vida
brinquedos, livros, animais de pelúcia e escorregavam em cascas de
nova e a antiga.
cenoura.
— Temos de encontrar uma solução. As crianças discutem e nós
abafamos. Precisamos de espaço. Cada um deles precisa do seu
quartinho.
Pedrito Coelho pôs tampões nos ouvidos, sentou-se à secretária,
pegou na sua caneta mais bonita e escreveu:
Procuro
coelheira
espaçosa,
calma
e
aconchegante para família numerosa. Longe de
caçadores e espingardas. Se possível, perto de
todo o tipo de lojas e de cenouras.
Alguns dias mais tarde, a vizinha Toupeira veio visitá-los. Os seus
filhos tinham ido para um campo ali perto e a sua galeria tinha-se
tornado demasiado grande. Propôs-lhes:
Fale com ela. Pergunte-lhe se gosta da casa nova, se pensa na
antiga, se tem pena de ter mudado ou se está contente por ter mudado.
***
— E se trocássemos de casa? Vocês ficam a ganhar!
Os bigodes de Pedrito Coelho e da Coelha Joana tremeram de
alegria. Meu dito, meu feito. A família foi toda junta visitar a nova casa.
Aos Pais e Educadores
Os nossos seis coelhitos estavam radiantes, porque as casas das
toupeiras estão cheias de recantos. Havia sete quartos: um para cada
filho e um para os amigos.
Para a criança, a casa representa o ventre materno, o pequeno
ninho onde sabe tão bem repousar. É por isso que as mudanças de casa
são momentos de tristeza e de alegria. Alegria, porque correspondem à
necessidade de surpresas de que elas são tão ávidas. Tristeza, porque a
mudança tem a ver com separação. A criança precisa de referências e,
de repente, essas referências tornam-se flutuantes. Precisa de fazer
um semi-luto, sobretudo se nasceu e cresceu na casa onde morava.
Evoque as vantagens da mudança, o aspecto de “prenda” que a
— Eu vou proibir todas as visitas ao meu quarto — anunciou
Onésimo, o irmão mais velho, com quase sete anos.
— Eu vou convidar-vos para tomar chá de salsa — sussurrou
Arsénio, o mais novo.
— Eu vou pôr música todo o dia — disse Leopoldina, que tocava
violino.
— E eu vou só fazer o que me apetecer — disse Apolino, que era
muito teimoso.
Mudaram de casa no dia seguinte. No andar de cima, arranjaram
uma sala grande para jogar com os amigos. À medida que os dias
passavam, tudo se ia organizando. É claro que tinham de se habituar ao
mudança encerra: o sítio é mais animado, a casa é mais espaçosa, terá
facto de a casa ser mais escura, já que as toupeiras cavam bem fundo,
um quarto só para ela. Não a force a passar um traço sobre a vivência
mas também era uma casa mais calma. Nunca se ouvia uma espingarda. O
anterior. A criança precisa de um período de aclimatação, de continuar a
ver os amigos, mesmo que isso implique deslocações. Não mudou de vida:
mudou de casa.
cheiro também não era o mesmo. Aqui cheirava a madressilva e na casa
anterior a avelã. Onésimo queixou-se.
— É preciso algum tempo para que uma casa mude de cheiro — a
mãe sossegou-o.
Quando Arsénio pensava na antiga casa, o seu coração entristecia:
— Tinha tantos amigos. Agora temos um quarto para amigos mas
ninguém lá dorme.
Leopoldina tinha pesadelos desde que tinham mudado de casa.
Tinha medo de estar sozinha no quarto.
— Dantes estávamos sempre juntinhos. Agora estou sozinha,
embora o quarto seja maior.
Quanto a Edgar, que era o mais sentimental de todos, sentia
A Coelha Joana, que a viu a chorar no canto, tentou consolá-la e
pensou que não era fácil para ninguém mudar de casa. Mas a festa, cheia
de risadas, de canções e de danças, trouxe àquela casa o que lhe
faltava: um pouco de calor e de amizade. Quanto aos coelhinhos, não
tardaram a fazer novos amigos, a explorar e a conhecer melhor os
recantos secretos do jardim e os melhores lugares para jogar às
escondidas.
saudades de tudo: do perfume de avelã, do tecto de folhas, das raízes
Aos poucos, a sua casa tornou-se na casa mais bela do mundo.
do grande carvalho que lhes serviam de banquinho, da luz, do canto
— Cheira tão bem aqui!
matinal dos pássaros… De tudo!
— Está-se tão bem! É quentinha a nossa casa.
— É preciso algum tempo para nos habituarmos — repetia a mãe,
para quem as coisas também não tinham sido fáceis.
Todos os seus filhotes tinham nascido na casa antiga. Esta casa
parecia um palácio de gelo.
— Falta-lhe calor, risadas, cantigas, danças — pensava Pedrito
Coelho. — Tive uma ideia! — anunciou. — Porque não dar uma festa e
convidar os vizinhos antigos e novos?
No domingo seguinte, vieram todos os antigos amigos. A Senhora
Toupeira também veio com os filhos. Quando chegou e viu o quanto a sua
antiga casa tinha mudado, foi chorar para um canto, tendo o cuidado de
esconder as lágrimas no fundo dos seus olhos de míope. E pensou:
— Meu Deus, como é difícil mudar de casa! Era tão feliz aqui!
Também Leopoldina acabou por dizer:
— Estou tão contente por dormir sozinha no meu quarto.
— É normal — comentou a mãe. — Todos vocês cresceram. E eu
sinto-me muito orgulhosa de ver-vos crescer!
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