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N.º 216
Junho 2010
Mensal
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TempoLivre
www.inatel.pt
Terra Nossa
Praias Fluviais
Banhos de água doce
Viagens Kos Portfólio Tibete Solidariedade Cinema de Bairro Memória Laura Alves
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Sumário
Na capa
Foto: José Luis Jorge
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5
6
CONCURSO DE
FOTOGRAFIA
TERRA NOSSA
Praias Fluviais – Banhos
de água doce
Para quem não conhece a
região da Aldeias de Xisto,
é uma surpresa a profusão
de rios e ribeiras, de açudes
e albufeiras. Quando veio o
turismo, os açudes,
principalmente, mudaram
de nome e de função:
tornaram-se praias fluviais.
Os espaços são os mesmos
mas agora há solários e
pranchas de mergulho, há
bons acessos e painéis
informativos e, nalguns
casos, há parque de
campismo, restaurante,
nadador salvador e até
biblioteca…
20
EDITORIAL
8
CARTAS E COLUNA
DO PROVEDOR
9
36
NOTÍCIAS
PAIXÕES
Paulo Alexandre
40
PORTFÓLIO
Tibete
44
46
48
50
79
VIAGENS
Ilha de Kos (Grécia)
O antigo centro médico de
Asklepieíon, na ilha grega de Kos, em
pleno mar Egeu, deve ter sido um
pequeno “paraíso” para o descanso na
Antiguidade. O local conserva ainda a
preciosa tranquilidade e frescura de
outrora, proporcionando aos modernos
visitantes o sossego do isolamento, os
banhos relaxantes nas águas tépidas
das termas e uma vista deslumbrante
sobre o Mediterrâneo e a vizinha costa
turca.
26
MEMÓRIA
TURISMO SÉNIOR
Laura Alves
“Super Sénior” Cândido de Barros: Aos
100 anos vive-se bem sem biografia
OLHO VIVO
LUSOFONIAS
A CASA NA ÁRVORE
O TEMPO E AS PALAVRAS
Maria Alice Vila Fabião
80
OS CONTOS
DO ZAMBUJAL
82
CINEMA DE BAIRRO
CRÓNICA
Alice Vieira
53
72
30
BOA VIDA
CLUBE TEMPO LIVRE
Novos Livros e Cartaz
O projecto Cinema de Bairro levou ao
Teatro da Trindade 25 jovens de
bairros sociais de todo o país que, sem
se conhecerem, partilharam uma
experiência comum: filmar e a
aprender a contar a história das suas
vidas
34
COMUNIDADES
Portugal no Coração
Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos
Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000
Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho
Colaboradores: António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Guiomar Belo Marques, Humberto Lopes, Joaquim
Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, Joaquim Durão, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lourdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria
João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, José Lattas, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo
Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, João Aguiar, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana,
180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Patrícia Strecht, Telef. 210027156; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes
Gráficas, SA - Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 139.027 exemplares
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Editorial
V í t o r Ra m a l h o
Lusofonia e Solidariedade
T
eve lugar recentemente entre nós,
como pode ser avaliado nas páginas
interiores desta nossa Tempo Livre, o
XII Encontro Luso-Brasileiro de
Turismo Sénior/Melhor Idade. Trata-se de um
evento da maior importância para o aprofundamento das relações entre as sociedades civis
dos dois povos irmãos e das entidades que o
promoveram, no caso a ABCMI - Associação
Brasileira dos Clubes da Melhor Idade e da
Inatel.
Participaram no evento quase quatrocentos
cidadãos brasileiros da melhor idade, a que se
associaram inúmeros beneficiários da nossa
Fundação, vindos de quase todos os distritos.
As relações internacionais da Inatel, sobretudo com entidades congéneres do mundo da
nossa fala comum são da maior relevância e
assumirão de forma crescente, no futuro, uma
forte prioridade nos objectivos que traçámos.
Esta prioridade de afirmação internacional
não nos pode fazer esquecer a solidariedade
devida aos nossos emigrantes, sabendo-se,
como se sabe, que cerca de metade da população portuguesa reside e trabalha no estrangeiro, para onde emigrou pelas mais diversas
razões.
Ao termos presente a vasta comunidade da
nossa diáspora, espalhada pelos quatro cantos
do mundo, é da identidade e da nossa alma que
falamos.
Esta constatação é particularmente clara
quando temos a oportunidade de conhecer e
dialogar com compatriotas nossos, a quem a
fortuna não sorriu além das fronteiras e que ao
fim de várias décadas nos visitam.
O programa "Portugal no Coração", que nos
meses de Maio e Outubro traz a Portugal emigrantes portugueses que se candidatam e são
seleccionados pela Secretaria de Estado das
Comunidades, por intermédio dos nossos consulados, é a todos os títulos uma marca do relacionamento da Inatel com esses nossos compatriotas, que em circunstância alguma pode ser
perdida.
S
e dúvidas houvesse quanto à enorme
importância da nossa Fundação e ao
papel que tem no reforço da nossa
identidade, no acolhimento e acompanhamento que, há longos anos, dá a estes
nossos compatriotas, o programa desvanece-as
de todo.
Finalmente, e relacionado ainda com outro
importante programa solidário da Fundação, a
"TL" conta-nos a história de Cândido de Barros,
o primeiro vencedor do "Prémio Super Sénior"
e que, aos 100 anos, é um testemunho exemplar do significado que o Turismo Sénior tem
para um vasto sector da sociedade portuguesa.
Neste mundo incerto e em crise é, por isso,
um enorme orgulho ser beneficiário/associado
da Inatel.
Concorrer para o reforço da nossa Fundação,
alargando ainda mais o universo dos nossos
beneficiários associados, torna-se, assim, uma
obrigação cívica. Não duvido do empenhamento de todos neste domínio. I
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Fotografia
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XIV Concurso “Tempo Livre”
Fotos premiadas
[1]
[3]
[ 1 ] José Pinto,
Coimbra
Sócio n.º 494110
[ 2 ] José Reis,
Celorico da Beira
Sócio n.º 66292
[ 3 ] Fernando Ledo,
Viana do Castelo
Sócio n.º 349141
[2]
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Regulamento
1. Concurso Nacional de Fotografia da
revista Tempo Livre. Periodicidade
mensal. Podem participar todos os
membros associados da Fundação
Inatel, excluindo os seus funcionários
e os elementos da redacção e
colaboradores da revista Tempo Livre.
2. Enviar as fotos para: Revista Tempo
Livre - Concurso de Fotografia, Calçada
de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.
3. A data limite para a recepção dos
trabalhos é o dia 10 de cada mês.
Menções honrosas
[ a ]Augusto Santiago, Vila Nova de Gaia
Sócio n.º 460443
[ b ] Óscar Saraiva, S. Mamede da Infesta
Sócio n.º 31309
[ c ] Maria Barbosa, Porto
Sócio n.º 133695
[a]
4. O tema é livre e cada concorrente
pode enviar, mensalmente, um
máximo de 3 fotografias de formato
mínimo de 10x15 cm e máximo de
18x24 cm., em papel, cor ou preto e
branco, sem qualquer suporte.
5. Não são aceites diapositivos e as
fotos concorrentes não serão
devolvidas.
6. O concurso é limitado aos
beneficiários associados da Inatel.
Todas as fotos devem ser assinaladas
no verso com o nome do autor,
direcção, telefone e número de
associado da Inatel.
7. A Tempo Livre publicará, em cada
mês, as seis melhores fotos (três
premiadas e três menções honrosas),
seleccionadas entre as enviadas no
prazo previsto.
8. Não serão seleccionadas, no
mesmo ano, as fotos de um
concorrente premiado nesse ano
[b]
9. Prémios: cada uma das três fotos
seleccionadas terá como prémio duas
noites ou um fim de semana para
duas pessoas num dos Centros de
Férias do Inatel, durante a época
baixa, em regime APA (alojamento e
pequeno almoço). O prémio tem a
validade de um ano. O premiado(a)
deve contactar a redacção da «TL».
10. Grande Prémio Anual: uma
viagem a escolher na Brochura Inatel
Turismo Social até ao montante de
1750 Euros. A este prémio, com a
validade de um ano, a publicar na
revista Tempo Livre de Setembro de
2010, concorrem todas as fotos
premiadas e publicadas nos meses
em que decorre o concurso.
[c]
11. O júri será composto por dois
responsáveis da revista T. Livre e por
um fotógrafo de reconhecido prestígio.
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Cartas
A correspondência
para estas secções
deve ser enviada
para a Redacção de
“Tempo Livre”,
Calçada de Sant’Ana,
nº. 180, 1169-062
Lisboa, ou por e-mail:
[email protected]
Termalismo Sénior
Desloquei-me à Agência da Inatel em Coimbra
para saber da lista das Termas e respectivas saídas do programa Saúde e Termalismo Sénior e
fiquei muito desiludido ao verificar que, de
Coimbra, apenas havia uma saída em Junho para
as termas do Carvalhal.
Aceito que para Lisboa e Porto que são cidades maiores haja mais saídas, mas se Lisboa tem
9 viagens, Porto 5, Leiria 5, Santarém 3, Setúbal
5, Viseu 2, como é que Coimbra tem apenas uma
viagem contemplada?
Eduarda Teixeira, Coimbra
N. R. - A distribuição das viagens pelos diversos
distritos tem em consideração o número de lugares disponíveis para o Programa e o número de
vendas realizadas no distrito nos anteriores Programas “Saúde e Termalismo Sénior”. Coimbra,
a nível de Termalismo e no que respeita à procura encontra-se na cauda do programa, razão
pela qual apenas lhe foi atribuída uma viagem.
Como é hábito sempre que se esgotam os lugares,
são atribuídas mais viagens, foi o que aconteceu,
tendo sido atribuída uma segunda viagem, na
qual apenas se inscreveram cinco pessoas oriundas do distrito de Coimbra.
50 anos na INATEL
Completaram, este mês, 50 anos de ligação à
Fundação Inatel os associados:
José Jesus Vences Cordeiro, de Ponte de Sor;
David Pires Moreno, de Setúbal; António Costa
Fernandes Júnior e João Manuel Martins
Rodrigues, de Lisboa; Henrique Marcelo Leiria
Machado, de Sintra.
Coluna do Provedor
NESTE TEMPO carregado de nuvens negras,
Kalidás
Barreto
[email protected]
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facto que não é só figura de retórica, como o
demonstra justificadamente a suspensão de circuitos aéreos, é natural que as pessoas vivam
intranquilas.
A crise que atravessa a Europa e cujas causas
são agora transparentemente percebidas pelo
comum dos cidadãos que sentem na pele os
catastróficos efeitos para os quais não contribuíram.
Vivemos um tempo de descrença e apatia que
se não forem firmemente contrariadas sem esperar “iluminados” mas com a nossa firmeza de
cidadãos, podem ser irremediáveis: é que a apatia esconde uma revolta que poderá rebentar.
É preciso acreditar que seremos capazes de
dar a volta; é preciso dar as mãos, é necessário
enfrentarmos a crise com a consciência das dificuldades, sem violências mas com firmeza, a
despeito de sabermos, por experiência própria
que os mais pobres são quem mais sofrem; mas
é preciso que sejam menos a sofrerem!
É por isso que tem todo o sentido, o desabafo
de um associado, afirmando que é preciso contrariar a tristeza e a apatia e participar, como ele
fez, num programa de Termalismo Sénior, apesar de todas as dificuldades e de todas as dores
reumáticas. E acrescentava: Volto com forças
para ajudar a regressarmos ao espírito do 25 de
Abril! I
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Notícias
XII Encontro Luso-Brasileiro de Turismo Sénior/Melhor Idade
Cerca de 400 seniores brasileiros,
oriundos dos diversos Estados do País
irmão, participaram no XII Encontro
Luso-Brasileiro de Turismo
Sénior/Melhor Idade que teve lugar na
Inatel Caparica, de 18 a 20 de Maio
último. Iniciativa conjunta da
Fundação INATEL e da Associação
Brasileira dos Clubes da Melhor Idade
(ABCMI), o encontro, de realização
anual, pretende estimular quer o
convívio entre Portugal e o Brasil quer
fomentar o debate das questões
relacionadas com o mundo sénior.
Na sessão de abertura, em
Santarém, na imponente nave central
da Igreja da Graça, um dos mais
representativos monumentos da arte
gótica local, gerido pela autarquia,
Moita Flores emocionou os seniores
brasileiros ao recordar a opção de
Pedro Álvares Cabral de viver e morrer
naquela cidade. O autarca lembrou
ainda ter sido em Santarém que D.
João II preparou o Tratado de
Tordesilhas, documento decisivo para
a legitimação do domínio luso do
Brasil após a descoberta de Cabral, e
sublinhou o papel de Salgueiro Maia e
da sua coluna militar que de Santarém
partiu para a reconquista de liberdade
em Portugal. Com palavras de
agradecimento e louvor a Vítor
Ramalho (“referência cívica e moral de
um país que não desiste de ter
esperança”, disse) pela escolha de
Santarém para a sessão inaugural do
Encontro, Moita Flores acentuou a
importância da sabedoria, experiência
e valores éticos da população sénior
na construção de um futuro de
liberdade e fraternidade.
“Estamos em casa (…) Portugal
também é o nosso País…”, vincou a
presidente da ABCMI, Genilda Baroni,
ao agradecer quer a hospitalidades
escalabitana quer o “abençoado
convénio” firmado com a Inatel e que
tanto contribui para atenuar o
sentimento de exclusão e ausência de
calor humano que afectam boa parte
dos cidadãos seniores. “O idoso
quando faz amizade é para valer, é
para sempre”, disse ainda a
responsável da ABCMI ao manifestar a
vontade de manter e ampliar o
protocolo entre as duas entidades.
Genilda Baroni teve ainda palavras de
reconhecimento para com o SecretárioGeral da Inatel, Carlos Luiz, presente
no XI Encontro, realizado no Brasil.
Na conferência que proferiu numa
das sessões do Encontro, Vítor
Ramalho enalteceu as virtualidade do
mundo que fala português – 6ª língua
do Mundo e 3ª do Ocidente -,
designadamente a sua afectividade e a
importância estratégica comum em
tempos de globalização. Nascido em
Angola, o presidente da Inatel
lembrou, ainda, como a libertação dos
povos brasileiro e africano do domínio
colonial estão ligadas à própria
libertação de Portugal (Revolução
Liberal e 25 de Abril de 1974).
“Vozes em Festa”
Mais
de 200 alunos dos Coros do
Conservatório Regional de Évora –
Eborae Mvsica apresentaram-se em
Concerto na Iniciativa “Vozes em
Festa”, no Teatro Garcia de Resende,
no passado dia 12 de Maio.
Os diferentes grupos eborenses
(infantil e 1º grau, Coro I e Coro II)
interpretaram canções do folclore
nacional e de outros países,
nomeadamente da África do Sul,
Brasil, França e Israel, além espirituais
negros e peças de Mozart e Britten. O
Concerto terminou com uma Peça em
Conjunto – Rock My soul – Cânone,
sob a direcção de Sandra Medeiros.
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Notícias
Relatório e Contas 2009
Aprovado, sucessivamente, conforme os
estatutos, pelos Conselhos
Consultivo, Fiscal e Geral, o
Relatório e Contas 2009 da
Inatel, foi entregue, no
passado dia 15 de Maio, no
Ministério do Trabalho e da
Solidariedade Social para
homologação. Como é
sublinhado pelo Conselho
de Administração no
respectivo preâmbulo, para
o resultado negativo de
2009 pesaram, para além do
desvio orçamental de 2008
– cujo défice totalizou
2.834.2911,56 euros –, o
valor da amortização anual
dos imóveis, a integração de
elevado número de
trabalhadores precários, a
actualização salarial, os
encargos decorrentes da
instalação da unidade de
Linhares da Beira e a
abertura das unidades nas
ilhas da Graciosa e Flores,
bem como a regularização
de dívidas derivadas de
contratos e processos
anteriores à posse desta
Direcção (Setembro de
2008). A requalificação de
equipamentos (Trindade,
Parque 1º de Maio, Oeiras) e
outros melhoramentos em
várias unidades hoteleiras
são igualmente referidos
pelo CA da Fundação que
salienta, a par de outras
iniciativas de 2009, a
realização do ciclo de
colóquios “Novas Respostas
a Novos Desafios” e as
primeiras candidaturas da
Inatel ao QREN.
Convívio na Foz do Arelho
A unidade hoteleira da Inatel da
Foz do Arelho foi o espaço escolhido
para o almoço cerca de meia centena
de antigos condiscípulos do Curso
de 1965/1970/ da Faculdade de
Direito de Lisboa. Juízes do STJ,
Procuradores-adjuntos, professores
universitários, advogados e
empresários integravam o conjunto
de convivas, incluindo figuras
mediáticas, como Vítor Melícias, o
ex-MNE Martins da Cruz, José Dias
Ferreira, Carlos Paisana e Teresa
Coutinho (ex-dirigente benfiquista).
Ausentes pela distância, enviaram
saudações o Cardeal de Luanda,
Alexandre Nascimento, os
embaixadores Fernando Neves, Rui
Quartin Santos, Madeira Bárbara,
Ana Martinho e Aristides Branco. O
anfitrião, Vítor Ramalho, integrante
do mesmo Curso, aproveitou a
ocasião para enaltecer as
virtualidades da Inatel na cultura,
desporto e lazer. O agradável almoço,
com o preço adequado à crise e à
capacidade financeira dos ilustres
convivas, finalizou com um apreciado
momento musical protagonizado por
Cristina Almeida (filha da
Procuradora/Adjunta Cândida
Almeida) que interpretou diversas
árias de ópera.
Histórias de Resistência no 26.º Festroia
A 26.ª edição do Festroia - que volta a homenagear o cinema português,
atribuindo um Golfinho de Carreira ao actor Rogério Samora, no ano em que este
comemora 30 anos de vida artística - contará com 190 filmes, oriundos de cerca de
40 países, números representativos da diversidade que
caracteriza o único festival português incluído no
prestigiado calendário anual da FIAPF (Federação
Internacional de Associações de Produtores de Filmes). O
programa inclui o ciclo de Histórias de Resistência, com 11
películas reveladoras de diferentes histórias de luta pela
liberdade e contra a opressão nas suas mais diversas
formas, algumas das quais verídicas, tendo sempre por
palco o continente europeu.
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“A origem do Fado”
José Alberto Sardinha ‘descobre’ raízes nacionais do fado
Vinte e dois anos levou o
etnomusicólogo José Alberto
Sardinha numa laboriosa e profunda
investigação sobre as raízes do mais
representativo género musical
português. As 550 páginas da sua
bem documentada obra, “A origem
do Fado”, apresentada em Maio
último no Teatro da Trindade,
representam – na opinião do
consagrado antropólogo Benjamim
Enes Pereira – “um marco categórico
e da maior importância no panorama
da bibliografia etnomusical
portuguesa”.
Dedicado pelo autor aos “cegos
músicos, anónimos e desprezados
entre as gentes, que, ao longo do
séculos, a chorar e rir, cantaram a
vida misteriosa de todos, fonte e
inspiração do nosso Fado” e, também,
ao “extraordinário Moisés Augusto,
de Sobreiró de Baixo, Vinhais, jogral
dos nossos dias, músico ambulante
de vivências muitas, fabuloso
cantador de histórias, que o mesmo é
dizer cantador de fados…”, a obra –
editada pela Tradisom e patrocinada
pela Inatel no âmbito das
comemorações dos 75 anos da
Fundação – tem como fio condutor a
defesa da origem nacional do fado,
nascido – defende JAS - a partir de
um substrato comum a todo o
território nacional que é o
romanceiro tradicional. É este canto
narrativo que dá origem ao fado.
Antes de ser um género musical, o
fado é um texto poético, um poema
narrativo”.
“Ainda hoje – lembrou o autor no
Trindade - os fadistas afirmam que o
fado tem de contar uma história, e
essa é a origem nacional do fado:
contar uma história que emocionasse
primeiro o fadista e, através deste, a
audiência (…) Na verdade, a origem
do fado está naquilo que nós
chamamos pejorativamente o ‘fado
da desgraçadinha’ ou o ‘fado de faca
e alguidar’. Esse é que é o fado
primitivo, a origem do fado”.
Ao contrário da tese vigente de
que o fado tem origem no lundum
angolano e numa dança brasileira, a
umbigada, JAS situa as origens do
fado no século XVI, quando se dá a
“passagem do romanceiro histórico
para o romanceiro novalesco, como
já Carolina Michaëlis o tinha
referenciado sem, todavia, o
fundamentar (…) Eu comparo o fado
que é uma tradição oral com a
restante tradição oral portuguesa e
não vou buscar origens a outras
partes”.
Além de uma invulgar
documentação fotográfica e
iconográfica, o livro contém quatro
CD com recolhas musicais do autor e
que ilustram a sua tese da origem
portuguesa do fado. Na apresentação
no Trindade, alguns desses temas
musicais foram exemplificados pela
fadista Ana Guerra, com
acompanhamento à viola e guitarra.
Presente no acto de lançamento
da obra, o presidente da Inatel
salientou que o “invulgar trabalho de
pesquisa de JAS, um dos maiores
cultores e conhecedores da nossa
musica tradicional, e há longos anos
colaborador da Fundação, abre
perspectivas inovadoras para a as
origens do fado”.
“Seria difícil – adiantou Vítor
Ramalho - seleccionar um outro
trabalho pioneiro no âmbito da nossa
musica tradicional que envolve
também uma homenagem devida ao
povo português, a Portugal e à acção
desenvolvida pela Inatel há 75 anos”.
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Notícias
Taça Fundação Inatel
O Teatro da Trindade foi palco, em
Maio, do sorteio da fase final da Taça
Fundação INATEL, competição de
futebol amador que envolve mais de
300 equipas e 7500 atletas por todo o
país. As 16 equipas apuradas para a
fase final disputarão entre si o acesso
à finalíssima a realizar no próximo
dia 13 de Junho, no Parque de Jogos
1º de Maio, em Lisboa, e integrada
nas comemorações dos 75 anos da
fundação.
O sorteio registou a presença de
várias figuras do mundo do desporto,
entre outros, o treinador Octávio
Machado, os jogadores do Sporting
Carlos Saleiro e André Marques, o
ex-benfiquista José Luís, e o jornalista
Rui Tovar.
Raid Inatel Iniciação TT
O tempo chuvoso do terceiro fim de
semana de Maio proporcionou aos
cerca de cem participantes do Raid
Inatel Iniciação TT uma experiência
inesquecível por estradões e trilhos de
terra, montes verdejantes e centros
culturais da serra da Estrela. O raid,
fruto da parceria Inatel/Clube Escape
Livre, incluiu as necessárias aulas
teóricas que permitiram o sucesso dos
numerosos iniciados, instalados em
três dezenas de viaturas Hyundai, na
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prova de passagem pelos corta-fogos
da serra da Estrela e a passagem a vau
do rio Mondego.
A partir da Unidade Hoteleira de
Linhares da Beira, o Clube Escape
Livre traçou um percurso onde os
candidatos, provenientes de todo o
país, incluindo uma equipa feminina,
foram, a pouco e pouco, colocando em
prática os diversos ensinamentos
recebidos na área das viaturas, dos
pneus e do próprio respeito pela
natureza, matérias a cargo da Hyundai,
da Bridgestone e da ValorPneu,
importantes parceiros nesta iniciativa
inédita exclusivamente para quem
nunca praticou todo terreno.
O passeio foi ainda assinalado pela
antestreia exclusiva do Hyundai ix35 o novo SUV do segmento C da marca
– e pela assinatura de um protocolo de
colaboração entre a Hyundai e a Inatel.
O acordo, assinado pelo director geral
da Hyundai Portugal, Veiga de
Macedo, pelo administrador da
Fundação Inatel, Moreira Marques,
permitirá aos Beneficiários e
Associados da Fundação usufruir de
condições especiais na aquisição de
viaturas Hyundai, que poderão atingir
os nove por cento na aquisição de
viaturas, consoante os modelos, em
qualquer concessionário da rede
oficial da marca.
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Reunião INATEL/CCD´s
Chegaram ao fim as diversas
reuniões que a Direcção
Desportiva promoveu por todo o
País com os CCD’s. Com o
objectivo de debater os actuais
quadros competitivos, eventos
em parceria com os CCD’s,
normas específicas,
associativismo e formação, a
Direcção Desportiva
conjuntamente com as
Delegações Regionais e Agências,
partilharam ideias e propostas
para serem analisadas para as
próximas épocas desportivas.
As últimas reuniões
ocorreram em finais do mês de
Abril e meados de Maio, com os
CCD’s dos Açores (Ponta Delgada
e Angra do Heroísmo), Porto (na
Agência), Lisboa/Setúbal
(Unidade Hoteleira de Oeiras) e
Santarém/Leiria (Golegã).
Tratou-se da primeira ronda
de reuniões com os CCD’s, sendo
que o balanço é extremamente
positivo, com excelentes
participações por parte dos
CCD’s com inúmeros
contributos. Ao fim de 10
reuniões em todo o País,
estiveram presentes mais de 300
CCD’s e dirigentes, onde a
permuta e o compromisso de
melhorar cada vez mais a
vertente desportiva da Fundação
INATEL esteve sempre presente.”
Errata > Na edição de Maio
da “TL”, na notícia Protocolos
Inatel, a foto (3) relativa ao acordo entre a Fundação e o SQAC
(Sindicato dos Quadros da
Aviação Comercial) foi, por
lapso, atribuída ao protocolo firmado com a Associação dos
Bombeiros.
UP and DOWN BTT 2010 > Cumpridas, em Maio, as duas primeiras
etapas da prova Up and Down Btt 2010, as centenas de participantes competirão,
em Junho, nas etapas de Vila Nova de Paiva e Castro Daire, seguindo-se S. Pedro do
Sul e Viseu (Julho), Seia e Vouzela (Setembro) e Santa Comba Dão (Outubro). Na 1ª
Etapa, em Mangualde, com 650 inscritos, os concorrentes competiram em dois percursos: uma Maratona (73km) e Meia Maratona (25km). Mais informações em:
www.upanddownbtt.com
Erasmus na UBI
Decorreu no passado dia 8 de Maio
a primeira viagem organizada pela
Agência INATEL Covilhã para os
alunos do programa Erasmus a
estudar na Universidade da Beira
Interior (UBI). Durante a manhã, os
participantes apreciaram a beleza do
Parque Natural da Serra da Estrela,
através de um circuito pedestre
realizada na zona do Covão da Ponte
- Manteigas. O almoço aconteceu na
unidade INATEL Manteigas onde os
participantes foram convidados a
conhecer um pouco melhor a
gastronomia local. De tarde, realizouse a visita ao Museu dos
Descobrimentos – Belmonte –
oportunidade para conhecer um
pouco melhor a história dos
descobrimentos portugueses.
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Terra Nossa
Banhos de águ
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Praias Fluviais
Para quem não conhece a região é
uma surpresa a profusão de rios e
ribeiras, de açudes e albufeiras.
Quando veio o turismo, os açudes,
principalmente, mudaram de nome e
de função: tornaram-se praias
fluviais.
O
gua doce
s espaços são os mesmos
mas agora há solários e
pranchas de mergulho, há
bons acessos e painéis informativos. Nalguns casos
foi-se mais longe e há parque de campismo, restaurante, nadador salvador
e até biblioteca.
Tudo isto foi progresso dos últimos anos,
resultado do impulso de diferentes agentes
locais, do desejo das populações e de uma nova
forma de encarar uma riqueza, a abundância de
água. Isso conduziu à criação da Rede de Praias
Fluviais das Aldeias do Xisto, com vista ao melhor aproveitamento e divulgação de um património comum.
Não há nenhum motivo para estabelecer uma
hierarquia neste conjunto de praias fluviais, disseminadas por um território maioritariamente
montanhoso, sulcado por pequenos e grandes
vales, congregado maioritariamente nas margens
do Zêzere e dos seus afluentes, região a que de
forma pouco imaginativa chamam Pinhal
Interior. Em função da localização e do tipo de
curso de água cada uma apresenta características
próprias. Dito assim, podia começar este itinerário por qualquer uma das 21 praias fluviais (a que
se somam algumas mais que não fazem parte da
Rede). Porém vou tomar o Zêzere como eixo. Isto
porque o rio é sem dúvida um elemento fulcral
deste espaço, descendo das alturas da serra da
Estrela, desenhando uma linha diagonal até,
cerca de 200 quilómetros depois, se lançar no
Tejo, em Constância.
Começo pelo Parque Fluvial de Janeiro de
Cima, concelho do Fundão. Não sei nada de
Janeiro de Cima mas logo me dou conta da singularidade da povoação, que com engenho combinou nas construções materiais como o xisto e o
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seixo rolado do rio, criando um padrão festivo
nas casas. Aqui o Zêzere está retido por um
açude, dilatando-se num grande espelho de água.
Uma ponte pedonal esticada sobre a água e algumas barcas (embarcações tradicionais do Zêzere),
amarradas à margem fazem parte do encanto do
local. Continuando rio abaixo, num ziguezague
constante, as águas do Zêzere, ora calmas ora
aceleradas, acolhem as praias de Janeiro de
Baixo, Cambas e Álvaro, aqui já sob a influência
da Barragem do Cabril.
Deixando o grande rio, esta continua a ser
uma terra de águas. Um grande número de
pequenos rios e ribeiras, que alimentam o Zêzere,
Praia das Rocas.
À direita, de cima
para baixo, Praias de
Açude Pinto, da
Peneda e de Álvaro.
Nas páginas
anteriores, Praia do
Poço Corga
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o Mondego e o Tejo, acolhem mais algumas
praias. Aldeia Ruiva e Malhadal, na base da serra
de Alvéolos, ambas na ribeira de Isna, são vizinhas e enquanto Aldeia Ruiva se aconchega no
leito da ribeira, Malhadal espraia-se por uma
grande área, emoldurada por copiosa vegetação.
Ainda no concelho de Proença-a-Nova, num
pequeno vale que acolhia um moinho comunitário, agora recuperado, fica a praia fluvial da Fróia,
alimentada pela ribeira com o mesmo.
A praia da Ribeira Grande localiza-se na vila
da Sertã, quer isto dizer que também serve de elemento embelezador do espaço urbano, integrando-se num conjunto mais vasto, como a robusta e
elegante ponte de seis arcos construída na época
filipina.
Mais acima, no concelho de Oleiros, fica a
praia do Açude Pinto, logo à beira da vila. Houve
aqui um trabalho cuidadoso que deu óptimos
resultados. Um sistema de comportas permite
criar dois níveis de profundidade da água e assim
satisfazer quem dá as primeiras braçadas e os
bons nadadores.
Boas Ondas
Não é a primeira vez que venho à praia de
Mosteiro, uma das três praias fluviais que a ribeira
de Pêra acolhe e a que está mais próxima da foz
deste afluente do Zêzere.
Gosto da piscina desenhando
uma suave curva, gosto do jogo
de luz e sombra proporcionado
pela vegetação, gosto dos
arranjos do espaço em volta.
Mais a cima, a praia das
Rocas tem outras ambições. A
praia distingue-se pela dimensão e pelos propósitos.
Um vasto espelho de água foi
fatiado com vista a agradar a
diferentes gostos e a acolher
grande número de banhistas.
A maior novidade é uma piscina de ondas e é aí que reside o sucesso da Praia das
Rocas. É que furar ondas a tão
grande distância do mar tem
o seu quê de empolgante.
Ainda que estas sejam artificiais. Limitado pelas comportas que retêm a ribeira de Pêra fica um lago onde
atracam alguns veleiros, cuja função é servirem
de alojamento mas que também são um elemento de grande valor cénico. Elemento cénico são
também as palmeiras, uma clara sugestão tropical a piscar o olho aos banhistas.
Continuando em direcção à nascente encontra-se a praia do Poço Corga. Estamos próximos
da serra da Lousã e isso reflecte-se na temperatura da água. Um carvalhal com árvores de grande
porte dá-nos uma ideia das florestas primordiais
da região, do mesmo modo que um antigo lagar
de azeite, agora musealizado, nos lembra antigas
tecnologias que se serviam da força da ribeira, há
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um restaurante domiciliado num antigo edifício
de xisto, que nos recorda o tradicional material
de construção usado na região.
Outro afluente do Zêzere, a caudalosa ribeira
de Alge, domicilia a praia das Fragas de São
Simão. Aqui a força da água, durante milhões de
anos, rompeu a rocha criando um desfiladeiro.
No sítio onde as paredes de rocha se estreitam a
água foi represada e surgiu a praia. Os nomes
também contam e Ana de Aviz evoca algo de
aconchegante e sedutor. Apesar de vizinha das
Fragas de São Simão é de natureza completamente diferente. Aqui, às portas da povoação de Ana
de Aviz, encontramos uma pequena praia, quase
miniatura, mas cheia de encanto.
Verão nas margens de um rio
Seguimos um pouco para Norte e entramos na
bacia hidrográfica do Mondego. Nem sempre o
tamanho conta e, aproveitando o caudal da pequena ribeira da Azenha, temos as Represas
Naturais da Louçainha, que gozam de merecida
fama na região e onde a Biblioteca Municipal de
Penela expandiu os seus serviços pondo a funcionar durante o Verão a Fluviteca. Ali perto, já no
concelho da Lousã, no fundo de um vale abrupto
e com um castelo à vista, o que não deixa de ser
inesperado dado os castelos procurarem o cimo
dos montes, está a praia fluvial da Senhora da
Piedade, instalada no leito da ribeira de São João.
O rio Ceira, que nasce na serra do Açor a mais
de mil metros de altitude, quando alcança terras
mais baixas apresenta o curso mais disciplinado
e um caudal apreciável e talvez por isso seja campeão no que diz respeito a praias fluviais. Um
bom rio para banhos de Verão. De jusante para
montante temos as praias fluviais de Bogueira,
Senhora da Graça, Canaveias e Peneda. Apesar de
o nome sugerir algo de bravio, a praia da Peneda
é a mais urbana das praias do Ceira, por se localizar dentro da vila de Góis, um espaço que congrega elementos contemporâneos e a histórica
ponte Quinhentista, que salta o rio e conduz para
o interior da vila.
No côncavo do vale do rio Alva e de dois
afluentes, a ribeira de Pomares e ribeira do
Piodão temos as praias de Secarias, Pomares e
Piodão, de momento em obras. Este é por
excelência um espaço de montanhas, domina o
xisto e a água é uma constante.
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GUIA
DORMIR
seguintes unidades: Albergaria
Barroca, concelho do Fundão.
A INATEL possui um Centro de
Lagar do Lago, Casa Ribeira de
Férias em Piodão, (INATEL
Pêra (TR), Quinta dos
A Rede de Praias Fluviais das
INFORMAÇÕES
Piodão, Tel: 235 730 100 /101)
Esconhais, Casa de Hóspedes
Aldeias do Xisto é composta
Existe abundante sinalética por
concelho de Arganil, onde se
D. Delfina e o complexo Villa
por 21 praias espalhadas pelos
toda a região indicando a
localizam as praias de Secarias,
Praia (bungalows e veleiros).
municípios de Arganil, Lousã,
localização das diversas praias.
Pomares e Piodão. Algumas
Góis, Castanheira de Pêra,
A ADXTUR possui um endereço
praias têm parque de
COMER
Figueiró dos Vinhos, Pedrogão
na internet (www.praiasfluviais.
Campismo, como Açude Pinto,
Algumas das praias referidas
Grande, Penela, Proença-a-
com) que disponibiliza
Ortiga e Poço Corga. Todos os
possuem restaurante, como
Nova, Sertã, Oleiros e Mação.
informação detalhada, nomea-
concelhos que integram a Rede
sejam as de Poço Corga,
A promoção e divulgação
damente os acessos, alojamen-
possuem instalações hoteleiras,
Rocas, Louçainha, Mosteiro e
deste conjunto de zonas
to, restauração, património e
embora, provavelmente,
Sra. da Piedade. Todas elas
balneares é da
actividades de lazer em cada
Castanheira de Pêra seja o mais
possuem parque de merendas
responsabilidade da ADXTUR,
um dos concelhos da Rede.
bem equipado com as
/zona de piquenique.
Praia de Mosteiro
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instituição sediada em
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Como aves migratórias vamos rumar ao Sul e
terminar este périplo na mais meridional praia da
Rede, a Ortiga. O cenário é o da Barragem de
Belver, no Tejo, e na vastidão da albufeira a opção
foi o uso de uma piscina flutuante, onde se chega
por um pontão. A paisagem caracteriza-se por
montes arredondados e neste ponto de convergência da Beira Baixa do Ribatejo e do Alto
Alentejo, há uma sugestão de Sul, de espaços
abertos, de temperaturas altas e sol a brilhar.
As praias fluviais são cada vez mais uma alternativa, ou complemento, às praias de mar. E por
mérito próprio. Este texto pretendeu realçar essa
riqueza e, para aqueles que não conhecem, ser
um incentivo à descoberta deste conjunto diversificado de praias, que certamente proporcionaram a todos bons banhos. I
José Luís Jorge (texto e fotos)
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Viagens
Ilha de Kos (Grécia)
A capital da Medicina
na Antiguidade
O antigo centro médico de Asklepieíon, na ilha grega de Kos, em
pleno mar Egeu, deve ter sido um pequeno "paraíso" para o
descanso na Antiguidade.
MESMO REDUZIDO a ruínas, o local conser-
O Plátano de
Hipócrates. À direita
em cima, as ruínas
de Asklepieíon
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va ainda a preciosa tranquilidade e frescura que
estiveram na base da sua escolha para a instalação, no século IV a. C., de uma escola de medicina que funcionasse também como retiro de
férias. Os clientes desfrutavam o sossego do isolamento, os banhos relaxantes nas águas tépidas
das termas, a vista deslumbrante sobre o
Mediterrâneo e a vizinha costa turca.
Com os seus quatro terraços de mármore branco escondidos entre os pinheiros que cobrem um
monte quatro quilómetros a noroeste da cidade
de Kos, a capital da ilha,
Asklepieíon era o mais
famoso centro médico da
Antiguidade. Erguido após a
morte de Hipócrates, o pai
da Medicina, que nasceu
em Kos em 460 a. C., funcionava como templo, escola e centro médico, e retiro
de férias.
Os médicos eram sacerdotes da Asklepíade e
tornavam-se praticantes dos métodos de diagnóstico e tratamento de Hipócrates. A serpente, o
símbolo de culto da Asklepíade, é ainda hoje o
símbolo da medicina moderna ocidental. O
Juramento de Hipócrates, de curar a doença em
vez de agravar, é, aliás, jurado ainda hoje por
médicos em todo o mundo.
Infelizmente, o centro médico mais famoso da
Antiguidade está hoje reduzido a algumas colunas de mármore e a um grande monte de pedras
não identificadas. Existem apenas vestígios de
um Altar a Apólo, do século IV a. C., de um
Templo a Apólo, do século III a. C., do Templo
Dórico de Asklepios, do século II a. C., dos banhos romanos, do século I a. C., e pouco mais.
Mesmo assim, a vasta área arqueológica, a disposição dos terraços e a sua ligação através de uma
enorme escadaria dá uma ideia da importância
que este lugar terá tido na Grécia Antiga. Muitos
dos inúmeros turistas que visitam as ruínas de
Asklepieíon são médicos que procuram assim
satisfazer a sua curiosidade sobre o mais famoso
centro médico da Antiguidade e a origem do
Juramento de Hipócrates.
A pequena ilha de Kos, a uma escassa hora de
barco da costa da Turquia, é conhecida como o
"jardim flutuante". Com uma geografia plana e
um solo fértil, Kos é completamente diferente da
maioria das montanhosas e áridas ilhas gregas do
mar Egeu. A bicicleta, meio de transporte raramente utilizado nas ilhas gregas, é aqui um veículo precioso. É nela que muitos turistas se deslocam diariamente para as praias vizinhas à cidade de Kos.
Kos mantém ainda intactos muitos traços do
seu rico passado histórico. A secular mesquita
otomana de Defterdar, em pleno centro da cidade, é um símbolo emblemático da máxima
tolerância religiosa que pode existir entre diferentes comunidades: o piso superior é utilizado
como local de reza pela pequena comunidade
islâmica da ilha, mas o piso térreo acolhe lojas de
artesanato e cafés. Para que as instalações deste
edifício religioso pudessem ser aproveitadas para
o comércio, os muçulmanos pediram apenas que
não fossem vendidas bebidas alcoólicas nos
cafés.
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Viagens
Destruída por um violento sismo em 1933, a
cidade de Kos é hoje uma combinação perfeita
entre antigo e moderno: a rua dos bares corre ao
lado da antiga ágora romana, iluminada à noite
pelos lasers e os néons, o castelo dos Cavaleiros
de S. João, que governaram a ilha entre 1315 e
1522, domina o porto cheio de iates, navios de
excursões e barcos de pesca. Kos é uma cidade
plena de movida, com centenas de jovens percorrendo a marginal, enchendo os inúmeros cafés,
esplanadas e discotecas concentrados junto ao
porto.
Com uma extensão de cerca 45 Km, Kos vê-se
Viagens INATEL
No programa de Primavera - Verão 2010 da
Inatel, estão previstas, no circuito praias,
viagens à Ilha de Kos, entre 27 e 5 de
Setembro, com partidas de Lisboa. Preços por
pessoa em quarto duplo 748 euros, em regime
de meia pensão. Mas informações nas
agências Inatel.
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em escassos dois dias. Várias praias pontuam a
costa Norte, mas é na costa sudoeste que se
encontram as melhores praias. Íngremes trilhos
conduzem às praias de areias brancas e águas calmas e tépidas de Kamári e Paradise. Pequenas
povoações, com as suas casas edificadas em
encostas bastante inclinadas anunciando o aluguer de quartos e a presença de cafés e restaurantes, salpicam este extremo ocidental da ilha.
O desenvolvimento do turismo modificou a
essência destes povoados. As típicas cores gregas,
o azul e o branco, já não são utilizadas nas fachadas das habitações. Mas a imagem da imagem
tradicional da aldeia grega não desapareceu completamente de Kos: nas aldeias Asfendiou, três
minúsculos aglomerados populacionais agrupados nas encostas arborizadas do monte Dikaíos,
próximo da cidade da capital da ilha, o azul e o
branco predominam ainda nas fachadas das
pequeninas casas de piso térreo e nos edifícios de
dois andares que escondidos entre o arvoredo.
Zia, a aldeia mais bonita, tem a vista mais deslumbrante da ilha sobre o Mediterrâneo. I
António Sérgio Azenha (texto e fotos)
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século XV pelos Cavaleiros da
Evangelístria e Agios
Petrino Sq. Ioannou
Ordem de Malta, e a antiga
Dimítrios, concentradas nas
Theologou, Kos,
Ágora, que concentra ruínas
encostas arborizadas do
Tel. 0030 2242 027 251.
Kos, apesar de ter um
de várias épocas, marcam a
monte Dikaios, são exemplos
Taverna Mavromatis Psalidi,
comprimento inferior 45 Km e
cidade. O 'plátano de
perfeitos da clássica aldeia
Tel. 0030 2242 022 433.
uma largura entre 2 Km e 11
Hipocrates', assim chamado
grega de casas brancas e
Taverna Katerina Agios
Km, é a segunda maior ilha do
porque terá sido plantado pelo
azuis e pequenas igrejas
Stefanos (entrada à esquerda
Dodecaneso. Rica em
pai da Medicina há 2400 anos,
bizantinas com cúpulas
do Club Med)
vestígios arqueológicos e
é também um marco da
bordeaux.
Tel. 0030 2242 071 513
banhada pelas águas mornas
capital da ilha.
GUIA
e translúcidas do Egeu, Kos é
Taverna Oromedon Zia,
Agios Stéfanos
Tel. 0030 2242 069 983.
um mimo para os adeptos da
Asklepieíon
É uma das praias mais
boa gastronomia, em especial
As ruínas do centro médico
aprazíveis de Kos. Frente à
DORMIR
no que diz respeito à mistura
mais famoso da Antiguidade
praia, ergue-se a ilhota de
Kos Aktis Art Hotel Vasileos
dos estilos grego e italiano,
distam apenas 3,5 Km da
Kastri com a pequenina
Gevrgiou 7, Kos
com o peixe e o marisco a
cidade de Kos. É o sítio
igreja de S. Nicolau,
Tel. 0030 2242 047 200,
predominarem.
arqueológico mais importante
branca e azul, a marcar o
www.kosaktis.gr
da ilha e um dos mais
horizonte.
Kos Imperial Thalasso Psalidi,
Tel. 0030 2242 058 000,
VER
relevantes da própria Grécia.
Cidade de Kos
Das suas escadarias avista-se
COMER
www.grecotel.com
Na capital de Kos, o moderno
a acidentada costa da Turquia.
H20? Kos Aktis Art Hotel,
Carda Beach Hotel
Vasileos Gevrgiou 7, Kos
Kardamena,
e o antigo convivem lado a
lado em harmonia. O Castelo
Aldeias Asfendíou
Tel. 0030 2242 047 200
Tel. 0030 2242 091 221,
de Neratzia, construído no
Zia, Asómatos, Lagoúdi,
www.kosaktis.gr
www.cardabeachhotel.gr
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Turismo Sénior
Cândido de Barros, “super sén
Aos 100 anos vive-se bem sem b
No Hotel Santa Maria, em Alcobaça, celebrou-se os 100 anos de Cândido de
Barros, no dia 16 de Maio. Distinguido com o “Prémio Super Sénior”
(primeira edição do INATEL), o protagonista deste artigo é um homem sem
vaidade que gosta de ajudar quando é possível. Foi um prazer conhecê-lo tão
jovem.
DURANTE O JANTAR no Salão Nobre do
Casino da Figueira da Foz (integrado no programa
Turismo Sénior 2009/2010 – 3ª Fase), uma associada da INATEL, natural de Faro, descobre que
Cândido Ribeiro de Barros, sentado na mesma
mesa, tem nem mais nem menos do que 100
anos. “Ai! credo, 100 anos! Ai, credo!”, diz ela
parando por momentos de comer o bacalhau à
lagareiro servido antes de começar “Show Time”,
o espectáculo de dança internacional previsto
para esta noite.
Maria Felismina, há mais de uma década
empregada e acompanhante de Cândido de
Barros, sorri ao ver a perplexidade que provocou
e conta-nos como ao inscreverem-se neste programa temático designado por “Rota da Dança”,
com uma semana de estadia no Hotel Santa
Maria em Alcobaça, não conseguira indicar a verdadeira idade do “senhor Barros”, porque o
“computador não aceitava uma idade com três
dígitos!” Na agência em Paços de Ferreira, (distrito do Porto), onde vivem, tiveram de telefonar
para a INATEL a perguntar como se fazia, porque
o “senhor Barros” tinha 100 anos e o computador
não deixava. “E qual foi a resposta?”, perguntamos: “Disseram-nos para pôr 99 anos, penso que
foi assim que descobriram a nossa vinda; quando
chegámos havia uma festa à nossa espera com
centenas de pessoas e o Presidente da INATEL,
Vítor Ramalho, veio pessoalmente entregar o
‘Prémio Super Sénior’ [Primeira Edição] e ofereceram-nos um bolo com mais de dois metros”.
“Não sabíamos, não estava à espera de nada”
– adianta Cândido de Barros e sempre muito edu26
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cado pede – “gostava que soubessem, estou
muito agradecido pela forma como tenho sido
tratado no INATEL”. O nosso centenário interlocutor faz ainda outro pedido: “(Sobre mim) escreva o mínimo que puder”.
Não lhe interessa o protagonismo, não é vaidoso, nem o passado o desconcentra do presente,
na realidade uma pessoa que viveu 100 anos não
precisa de “biografia” e menos ainda de a tornar
pública.
“Gostávamos de lhe tirar uma fotografia.
Talvez na varanda do Hotel, sobre o Mosteiro de
Alcobaça. Seria possível?”, perguntamos, no final
da tarde, umas horas antes do autocarro sair em
direcção à Figueira da Foz. O nosso interlocutor
aceita com prontidão, mas a luz não é favorável,
seria melhor atravessar a estrada, procurar um
lugar mais soalheiro. Hesitamos, temendo cansálo. E é ele a sugerir com jovialidade: “Mas então
atravessamos a estrada, podemos ir mais à frente,
onde houver Sol”.
A bengala ajuda a equilibrar este homem alto,
de porte elegante e maneiras delicadas, mas nunca
sentimos que os seus 100 anos sejam um peso,
uma limitação, bem pelo contrário. E enquanto,
um associado septuagenário precisa levantar-se a
meio do espectáculo de dança, porque lhe “dói a
coluna”, Cândido de Barros, operado várias vezes,
nunca teve dores, nunca lhe doeu nada. Embora
ao recordar Emília de Sousa Gonçalves, a esposa
falecida há uns anos, “uma mulher bonita de
quem gostava muito”, se compreenda que a dor da
perda passou inevitavelmente pela sua vida.
Casaram, tinha ele 27 anos, já trabalhava, porque
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énior”
m biografia
Grande apreciador de
viagens dentro do
País, Cândido de
Barros continua a
conduzir e nunca
teve um acidente
embora os seus pais fossem professores, os dois filhos mais velhos tiveram ir trabalhar para que os
restantes quatro pudessem estudar. Nenhum ressentimento. “Nunca tivemos nenhum problema
por causa disso, estamos todos bem na vida».
“E como foi a sua vida profissional?” queremos saber. Cândido de Barros responde com a
habitual solicitude: “Agora todos os dias se diz
que isto é mau mas no meu tempo era pior, trabalhava-se muito e ganhava-se muito pouco”. E
depois resume a sua vida profissional em poucas
frases: “Fui primeiro aprender relojoaria mas vi
que não dava resultado porque se ganhava
pouco. Depois apareceu uma loja para trespassar,
eu tomei conta dela, tinha mercearia, vendia
ferragens e material de construção. Era em
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Turismo Sénior
Carlos Barroso/CM
Vítor Ramalho,
Presidente da
INATEL, entregou em
Alcobaça o ‘Prémio
Super Sénior’ a
Cândido de Barros
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Lordelo (Paredes) não havia correios, eu disponibilizei um canto da loja para o correio e passei a ser o responsável; mais tarde vim para
Arreigada (Paços de Ferreira), a minha freguesia,
onde nasci, e construi lá um prédio para habitação e negócios; fui Presidente do Grémio do
Comércio, estive lá uns anos e passado um
tempo fui presidente da Câmara Municipal de
Arreigada, fiz a construção dos fontanários para
todos terem água…”
Apesar de ter sido presidente camarário e testemunha de tantas alterações políticas não se
considera um político: “assisti a muita coisa mas
nunca fui um político, e não sendo monárquico
penso que no tempo dos reis o povo era mais estimado”.
Grande apreciador de viagens dentro do País,
continua a conduzir e nunca teve um acidente, é
um homem crente sem deixar de ser crítico até
porque “há coisas que fazem com que uma pessoa possa deixar de o ser” e pergunta-nos:
“Alguma vez viu uma freira ou um padre a andar
de joelhos em Fátima?”
Não, não nos lembramos de nenhum caso
semelhante e fazemos nova pergunta: “E ao senhor Cândido afinal o que o mobiliza? O que
aprendeu de mais importante em 100 anos de
vida?” Sem perder muito tempo a pensar diz:
“Aprendi que quem quiser ser respeitado tem de
respeitar e colaborar quando é preciso, eu tenho
colaborado com a Santa Casa da Misericórdia.
Sempre me senti bem a ajudar os outros mas sem
pretender ir buscar alguma coisa, nunca quis dar
para receber, o meu trabalho chegava, não precisava de explorar ninguém. Ajudo quando é possível e quando não é também não faz mal”.
Pelo companheirismo de Maria Felismina e a
total ausência de sobranceria da parte de
Cândido de Barros percebe-se que tratar bem os
outros é um dos traços de personalidade que,
porventura, poderá ter-lhe prolongado a vida.
Não menos importante será continuar a conviver,
a frequentar a associação “Os Bravos” da qual faz
parte, em conjunto com mais de 20 amigos, ou
usar sempre gravata simplesmente porque gosta
de «andar limpo e bem posto», ou beber todos os
dias o seu café a meio da manhã, ou ainda gostar
de orquídeas e camélias, apreciar-lhes as cores,
em suma, cultivar tudo o que lhe faz bem.
Durante o espectáculo de dança - exuberante
em alegria e ritmo, com um extraordinário corpo
de baile interpretando entre outros, os célebres
musicais “Cabaret”, “Grease” e “Can Can” - quando já sentíamos o cansaço chegar devido ao
adiantado da hora, era quase meia-noite,
Cândido de Barros continuava bem desperto.
“Este espectáculo até tira o sono”, comentou
sorridente. Uma resistência compreensível para
quem vive há 100 anos.I
Susana Neves (texto e foto)
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Solidariedade
Cinema de Bairro
Outras vidas, novas histórias
Na última terça-feira de Abril, Cinema de Bairro trouxe ao Teatro da Trindade 25 jovens de
bairros sociais de todo o país que, sem se conhecerem, partilharam uma experiência
comum: todos eles tinham sido desafiados a pegar numa câmara de filmar e a aprender a
contar a história das suas vidas.
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FILMAR HISTÓRIAS reais, captar quotidianos,
romper a rotina dos bairros sociais. Tratou-se de
um projecto sócio cultural produzido, entre
Março e Abril, pela Fundação INATEL, com o
apoio do Instituto da Segurança Social, integrado
nas acções do Ano Europeu do Combate à
Pobreza e à Exclusão Sócia (AECPES 2010).
Como referiu Edmundo Martinho, o Coordenador Nacional do AECPES 2010, “o resultado
do filme é, no mínimo, surpreendente”. E tudo
isto talvez aconteça porque a realidade que acabam por retratar também é, na sua crueza, contrastante. É que se há um tema comum, a integração em novas urbanizações com novas condições de vida mas também com uma sensação
de desenraizamento, por vezes o filme quase que
é apanhado desprevenido pela realidade que,
com grande naturalidade, nos traz. Como quando
aquele rapaz e rapariga do antigo Bairro LDF (bairro do Largo da Feira) são confrontados com o
facto de irem ser pais. O rapaz, ainda a estudar, a
viver em casa dos pais, num quarto com o seu
irmão, fala do seu futuro, do ir procurar trabalho,
enquanto a namorada, uma adolescente ainda,
grávida, explica que no bairro aquilo acontece
muito e que a mãe reagiu normalmente, porque
ela é contra o aborto.
E, mais à frente, no Bairro da Rosa, em Coimbra,
esta crueza suspende-se para ouvirmos a história
de uma viola que anda de mão em mão e que já
ensinou meio bairro a cantar. É assim que vamos
caminhando entre os diferentes registos, desde o
rap do Bairro do LDF em Olhão, ou o drama familiar daquele pai desempregado no Bairro de
Matadouços, passando pela relação tensa entre os
jovens do Bairro do Casal da Mira e a polícia.
Idália Moniz, Edmundo Martinho, Vítor Ramalho e Rui Simões na cerimónia de
apresentação dos filmes no Teatro da Trindade.
Edmundo Martinho e Cristina Baptista na apresentação do projecto na Inatel em Oeiras.
Em baixo, Orquestra Geração Dolce Vita
Cinco bairros, cinco vozes
A ideia de Cinema de Bairro nasceu quando, no
final de 2009, Susana Marques, coordenadora do
sector de cinema e audiovisual da Inatel, viu
Nascidos em Bordéis (vencedor do Óscar 2005 de
melhor filme documentário), passado no Bairro
Vermelho de Calcutá e dirigido por Zana Briski,
uma fotógrafa de Nova Iorque, que distribuiu
câmaras por várias crianças e as levou a captar a
realidade dura em que viviam. Era o começo de
um projecto, Crianças com Câmaras, com grande
projecção internacional.
Pedro Sena Nunes, Rui Simões, Marta Pessoa,
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Solidariedade
Da esquerda para a
direita: coordenadores
Rui Simões e Leonor
Areal e os
protagonistas dos
filmes Henrique
Barbosa (Coimbra),
Fábio dos Santos
(Olhão) e Nilton
Semedo (Amadora)
João Pinto Nogueira e Leonor Areal foram os
escolhidos para coordenar a realização dos cinco
filmes, um em cada bairro. Dada a sua dispersão
geográfica, o projecto teve como parceiros
Associações locais que mediaram o contacto com
os jovens. Começou tudo por uma dinâmica de
formação básica, aplicada ao manuseio do equipamento, depois foram recolhidas imagens e
estas serviram para Francisco Costa lhes ensinar
os rudimentos da montagem e edição de vídeo. A
partir daí surgiram vários filmes. Na apresentação no Trindade, o que vimos foi o resultado da
montagem do realizador José Nascimento, com
música de Adriano Filipe, segundo a orientação
de cada coordenador.
Que futuro?
Rui Simões quer oferecer as suas obras para a
criação de uma pequena videoteca para os
jovens, e não tem dúvidas de que o projecto deve
continuar. “Senão – diz – é um fait-divers.
Apostar nos mesmos grupos e no fazer algo que
se possa comparar com o que foi feito para se per-
ceber a evolução.” Leonor Areal sugere “um
segundo capitulo. Eles agora deviam fazer um
filme e nós iríamos lá vê-lo”. A INATEL, que
mantém a ligação aos vários grupos de jovens
pretende, mesmo que em diferentes moldes,
reforçar os laços criados com Cinema de Bairro.
Alguns dos jovens com quem falámos, salientaram, emocionados, a importância da sua experiência. Para Nilton Semedo, 18 anos, da Amadora,
“foi algo que eu e os meus amigos nunca tínhamos
passado na nossa vida”. Nilton quer ser futebolista e quando lhe pergunto por histórias boas do
bairro, fala do futebol:”– É o desporto que se fala e
que se pratica mais. Há muitas pessoas com capacidade de improviso e de capacidades de jogar à
bola.” Henrique Barbosa, de Coimbra, quer ser animador cultural para “pegar nas pessoas do bairro e
levá-las para fora”. Este trabalho – sublinha – pode
ajudar-nos a ter esperança no fim dos preconceitos.” Fábio, de Olhão, 16 anos, ambiciona ser
modelo e deseja que “novas pessoas visitem o bairro para lhe darem um novo ânimo”. I
Joaquim Paulo Nogueira (texto) José Frade (fotos)
Ficha Técnica
Todos somos uma história - Bairro de
Sousa, Henrique Barbosa, Hugo Cortez
Coordenado por Rui Simões. Um filme
Mataduços, Guimarães. Parceiro: Casa
e Nivaldo Costa.
de César Flores, Eduardo Barão, Jéssica
do Povo de Fermentões. Coordenado por
Martins, Pedro Neves, Rafaela de Jesus
João Pinto Nogueira. Um filme de
A Doce Vida - Bairro do Casal da Mira,
Anabela Marques, João Fernandes,
Amadora. Parceiro: Associação Unidos
Nolasco Napoleão, Pedro Fernandes,
de Cabo Verde. Coordenado por Pedro
Um dia de cada vez - Bairro da Ilha da
Rui Carvalho.
Sena Nunes. Um filme de António
Armona| Bairro das Panteras –Cor-de-
Alexandre Lopes, Eliseu Varela, Fábio
Rosa, Olhão. Parceiro: Moju – Movimento
Vicente e Nilton Semedo.
Juvenil de Olhão. Coordenado por Marta
Coimbra é uma canção - Bairro da
Rosa, Coimbra. Parceiro: Cáritas
e Sara Rodrigues.
Pessoa. Um filme de David Santos, Fábio
Diocesana de Coimbra. Coordenado por
Utopia - Bairro I e II de Beja. Parceiro:
dos Santos, Fábio Ribeiro, Hélio Simplício,
Leonor Areal. Um filme de Débora de
Associação Juvenil Arruaça.
Joaquim Ribeiro e Tatiana Sousa.
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Comunidades
Vindos de longe... com
“Portugal no Coração”
Partiram para o estrangeiro à procura
de novas oportunidades, meio século
mais tarde, revisitam as origens,
graças ao programa “Portugal no
Coração”.
SÃO EMIGRANTES na Argentina, Venezuela,
Austrália, África do Sul e Moçambique os 17 participantes da 1ª fase do Programa “Portugal no
Coração”, uma iniciativa da Direcção-Geral dos
Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas, TAP e Fundação INATEL que, desde
1996, traz, todos os anos em Maio e Outubro,
várias dezenas de emigrantes seniores ausentes
do país por longos períodos de tempo e com fracos recursos económicos.
É entre lágrimas e sorrisos de gratidão para
com o Estado Português e todas as instituições
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que acolhem a iniciativa que estes participantes
que não pisavam solo luso, há largas dezenas de
anos, deixam transparecer vidas pautadas de
maior ou menor sucesso mas, contudo, dignificantes de uma comunidade que teve a coragem
de ir além fronteiras procurar uma melhoria para
as suas vidas.
“Fui atrás de um sonho e à procura de novas
oportunidades”, sublinha Agostinho Barros
Júnior que, aos 24 anos, decidiu seguir os passos
do seu pai e trocar o seu pacato bairro no Porto
por Caracas. “Na Venezuela era mais fácil ganhar
dinheiro” adianta, ainda, este electromecânico
que conseguiu com muito esforço equilibrar a
sua vida e educar cinco filhos, mas viu sucessivamente adiados os projectos de visitar a terra
natal. Os anos foram passando e hoje, cinquenta
e cinco anos mais tarde e viúvo, tem a oportunidade de matar saudades de uma vida, da irmã
que não vê há mais de meio século, do irmão que
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encontrou pela última vez na Venezuela há trinta anos e das cores, cheiros e sabores que guarda na alma.
Agostinho não se cansa de agradecer a oportunidade que teve e que
não poderia custear com a sua magra
reforma e confidência que “se pudesse vinha morar para cá!”, mas são os
seus três filhos ainda vivos e os nove
netos que o prendem à Venezuela.
Também Maria Belo vai rever,
após cinquenta anos, a sua mãe
quase centenária, residente no Caniço, Ilha da Madeira, e conhecer
duas irmãs fruto de um segundo matrimónio.
E as histórias de longas ausências sucedem-se,
a distância dos países onde residem e os fortes
encargos com as viagens pesam demasiado nos
seus magros orçamentos e são apontadas como o
grande impedimento para revisitar as origens,
caso de Arlindo Mendes, de 67 anos, residente há
40, em Sidney (Austrália). “Não vinha a Portugal
há 22 anos, porque não é fácil viajar da Austrália
para aqui e eu nunca tive muita sorte na vida…”,
conta Arlindo sobre esta viagem que foi o melhor
que lhe podia acontecer. “Foi António Ferreira
das Comunidades que me tratou da
visita”, refere o madeirense, de Santo
António, que casou por procuração e
tem dois filhos.
Também Maria Elvira foi ao
encontro do pai, em Buenos Aires,
ainda mal articulava palavras e por
lá ficou, contam-se já sessenta e dois
anos, uma vida sem memória do seu
país, marcada pelo desejo de um dia
poder conhecer Canas de Senhorim.
Elvira está encantada com tudo o
que vê. Adorou Albufeira, Sintra e
Cascais mas as maiores expectativas
guarda-as para o reencontro com o
norte e centro do país, para onde viajará numa das muitas saídas programadas e com
a preciosa ajuda de Ana Paula, a guia turística
que os acolhe e acompanha durante toda a estada.
O programa, registe-se, inclui viagem de avião,
estadia em regime de pensão completa durante
duas semanas e um conjunto de actividades turísticas e culturais que irão possibilitar um conhecimento do país de norte a sul e um contacto com a
gastronomia e cultura de cada região. I
Glória Lambelho (texto) José Frade (fotos)
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Paixões
Paulo Alexandre
Vidas paralelas
Publicou um livro onde fala das suas
duas vidas paralelas que durante
anos a fio se foram tecendo sem
incompatibilidades.
ASSINA com o nome de Paulo Alexandre, o cantor da voz romântica que sensibilizou plateias e
vendeu pilhas de discos. “Conciliei a actividade
dos cifrões com a das canções”, sublinha. Mas
não se pense que usurpou a identidade de
alguém. Na verdade, o seu nome de pia não é
este. O padrinho, vá lá saber-se porque bizarras
razões, chamou-lhe Modesto.
Raízes
Assim ficou registado quando nasceu em 1931
em Vouzela. Dias depois de ter dado à luz, a
mãe embarcou com ele no comboio rumo a
Lisboa onde se refastelou no primeiro berço.
“Sinto-me um alfacinha de gema”, confessa.
Aos três anos, olha o passarinho do fotógrafo no
aprumo dos calções pretos, meias brancas, lustrosos sapatos de polimento e um penteado em
crista. Já nessa altura, o petiz pespegava-se
junto da telefonia que transmitia as canções em
voga. Dotado de ouvido para a música, ajeitavase a cantar modinhas brasileiras perante o
deleite dos adultos que adoram assistir às habilidades das criancinhas. “Era um miúdo alegre
e irrequieto”, afirma.
Os tempos, com os apertos da Segunda Guerra
Mundial, não corriam de feição. Havia racionamento de certos produtos, os empregos escasseavam e os tostões eram contados. Foi neste caldo
de privações e sobressaltos que decorreu a infância de Modesto Pereira da Silva Santos.
Torneando as dificuldades, o pai comprou-lhe
um banjo em segunda-mão no rematar da década
de quarenta. Aprendeu a tocar. Ainda tentou uma
aproximação ao violino mas depressa se aperce36
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beu de que não era o instrumento mais adequado
ao seu temperamento impaciente.
Apesar do ranço provinciano, Lisboa dava-se
ares de cosmopolitismo. Fervilhava de espiões de
todos os quadrantes que frequentavam os cafés
da Baixa e os hotéis. O amarelo dos carros eléctricos imprimia algum colorido à cidade que se
mostrava apagada e bisonha. Estado de “alma”
em que o puto nem sequer reparava. Deslocavase nos eléctricos à cunha, tendo por vezes que
andar na pendura, pois não podia perder o transporte. Até que um dia aconteceu um episódio
típico do regime anterior. “Um polícia zeloso deitou-me a luva e lá fui parar à esquadra. Dali levaram-me para a Tutoria de Infância e cortaram-me
o cabelo à escovinha”, relata. Os pais resgataramno mas ainda se apresentou perante um juiz.
Tinha 14 anos.
Triunfos
Frequentava o terceiro ano da Escola Veiga
Beirão, que ocupava o Palácio Valadares no Largo
do Carmo, quando entrou como groom para o
Banco Burnay com um salário mensal de 150
escudos e ainda o bónus do almoço na cantina.
Nada mau. Na farda de cotim ou de fazenda azulescura, conforme os ditames das estações, brilhavam filas de botões dourados. Talvez limpos com
a Solarina, um produto de utilidade doméstica
que na época não faltava nas casas portuguesa.
Impecável, só perdia a compostura nos momentos de ócio em que dava uns toques de bola com
os colegas no Terreiro do Paço.
Entretanto, Modesto Santos ia ganhando
tónus cultural. Devorava livros de aventuras
medievais como o Ivanhoe, de Walter Scott,
Noiva de Lagardére ou os Três Mosqueteiros.
Quadros superiores do banco incutiram-lhe o
gosto por outras leituras. Ávido de aprender,
aceitou as recomendações. “Aprendi imenso.
Empenhei-me com prazer na leitura das obras de
Alexandre Herculano, de Camilo Castelo Branco,
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Paixões
de Eça de Queiroz e de outros escritores portugueses”. Aos 18 anos foi integrado no “pessoal
maior”, o que significa subir de categoria. Com o
passar do tempo, as promoções sucederam-se até
atingir cargos directivos de alta responsabilidade
no sector da banca.
Na “vida dos cifrões” cumpriu a trajectória do
self made man. Também conheceu o doce sabor
do triunfo na “vida das canções”. Já na pele de
Paulo Alexandre, em 1954, estreia-se como
cançonetista no programa Ouvindo as Estrelas da
Emissora Nacional. A partir daí, construiu uma
carreira. Participou em inúmeros Serões para
Trabalhadores da FNAT, gravou discos, escutou
aplausos e fundou com Nuno d`Almeida,
Fernando La Rua e Américo Lima o conjunto
vocal 4 de Espadas. “Na
linha dos grupos americanos Platters e Four Aces,
destacámo-nos no mundo
da rádio, da televisão e do
teatro. A convite de Vasco
Morgado, integrámos o
elenco de várias comédias
musicais protagonizadas
por Laura Alves”.
Os 4 de Espadas, formado
por dois bancários e dois funcionários de empresas petrolíferas, tinham vidas duplas.
“Conseguimos aguentar as
duas actividades com alguma engenharia. Era cansativo fazer noitadas pelo país fora e termos de
estar no emprego às dez da manhã.
Normalmente procurávamos acordar as datas
dos concertos no Casino do Estoril de maneira
a coincidirem com as nossas férias”, salienta.
Inesquecível, a actuação na sala do Monumental, antes do concerto de Louis Armstrong
and His All Stars. No enquadramento da foto38
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grafia surgem os quatro risonhos rapazes, ao
lado da estrela do jazz.
A vida continua…
Paulo Alexandre e Nuno d`Almeida, aproveitando a explosão da cultura juvenil nos anos 60,
abriram uma discoteca nas redondezas da
Avenida de Roma onde moravam. O mítico
Calhambeque, que tinha como atracção o melhor
som da música anglo-saxónica e uma pista de
minicar, conquistou as boas-graças dos meios
boémios lisboetas. “A inauguração da boîte foi
um sucesso, até passou no telejornal da RTP.
Mais tarde, em 1969, ressurgiu modernizada e
ampliada. Manteve-se em funcionamento durante 20 anos”, garante.
Contra a corrente dominante, Paulo Alexandre
lançou em 1977 o disco Verde Vinho que logo
galgou para o primeiro lugar dos tops nacionais.
Até a revista inglesa Billboard assinalou a popularidade do single. “Um êxito total e absoluto,
vendeu milhões”, afirma o criador. Nostalgia?
“Sim, da juventude e daquela época”. Terminou a
carreira artística em 2005. Da outra, reformou-se
aos 50 anos. Depois há ainda uma vida intermédia no campo da produção de documentários
biográficos e programas de música erudita para a
RTP2. Foram perto de seiscentos programas culturais, o que é bastante significativo.
Tanta memória, tanta gente com quem se cruzou no mundo do espectáculo. Tantas alegrias,
tantas viagens por tantos continentes. E tudo
parecia fácil, bastava querer. No livro Duas Vidas
Numa Só, conta a sua história de vida. Uma vida
cheia de tanto. Mas ainda não desistiu do fazer.
Agora, com o amigo Nuno d`Almeida, trabalha
na área da publicidade e do design. As paredes
do escritório, que partilham, estão forradas de
cartazes ilustrativos da biografia de um corredor
de fundo que ganhou em todas as pistas. I
Lourdes Féria (texto) José Frade (fotos)
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Portfólio
Tibete
Uma nação no Tecto do Mundo
PAÍS DAS NEVES ETERNAS, Tecto do Mundo
ou Shangri-la, são algumas das expressões mais
comuns quando queremos referir-nos ao misterioso e esotérico Tibete. Porém, a verdade é que
tais palavras se revelam insuficientes para definir
a grandiosidade e amplitude desta extensão de
terra nos confins dos Himalaias.
Fonte de fascínio para o mundo exterior, o
Tibete esteve «apartado» do Ocidente pelo menos
até ao início do século XVII, altura em que jesuítas
portugueses instalados em Goa, incitados pelos
rumores de que ali existiriam comunidades
cristãs, abriram o caminho a uma série de exploradores e aventureiros que apenas quase três séculos mais tarde depois ousariam partir em busca
das riquezas materiais e espirituais dessa nação.
Lhasa, a capital, era conhecida como a
«Cidade Proibida», tal era a dificuldade em obter
autorização para a visitar, mas, quando em meados dos anos 80 do século passado, as suas portas se abriram ao turismo, o Tibete deixou de ser
o reino escondido que alimentava os sonhos dos
mais curiosos. I
Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)
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Memória
Laura Alves:
o sorriso inesquecível
Ela não gostava de ser actriz, como
disse um dia ao jornalista Alexandre
Manuel. E, 400 peças depois, o que
seria se ela gostasse de ser actriz!
ELA É LAURA ALVES, lisboeta, nascida a 8 de
Setembro de 1921, uma das maiores actrizes portuguesas de sempre, uma verdadeira máquina de
fazer dinheiro (peça em que entrasse era êxito
popular) e uma figura carismática com «uma
espantosa personalidade, uma alegria, estilo,
raça, força superior que raramente aparecem nas
gentes de teatro, nos quase-eleitos». Isto disse
dela um dos maiores autores de textos para o
teatro de revista chamado César Oliveira.
“Foi Deus…”
«Estou no teatro porque Deus assim o determinou. Foi ele que me disse: Vais lá abaixo e, por
castigo, serás actriz em Portugal.
Sim, porque só por castigo se é actriz vedeta
nesta terra.»
E confessaria depois que nunca lhe interessou
ser actriz e que se houvesse outro meio de comunicação, onde pudesse ganhar para comer, já há
muito teria largado o teatro. Esta confissão foi feita
em 1971, já Laura Alves era vedeta incontestada do
nosso teatro, fosse ele revista, comédia ou drama
popular. Como disse Vitor Pavão dos Santos, na
hora da sua morte, ela foi, na revista, a actriz mais
completa. Fazia rábulas, cantava, dançava, chefiava
apoteoses com um talento desmesurado.
E se Deus determinou, de facto, que Laura
fosse actriz o melhor era começar bem cedo. Aos
três anos já ela era o «miudo» da peça policial «Os
Vinte mil dólares» representada numa sociedade
de recreio que funcionava na rua de S. Bento. Aos
seis anos representava no Grupo Dramático
Lisbonense e aos nove, por interferência do prof.
Armando Lucena, ingressou na Companhia de
Alves da Cunha para interpretar uma garotinha
na peça «As Duas Garotas de Paris», no Teatro
Politeama. Laura nunca mais parou de representar, ora na Companhia de Adelina Abranches ora
no Teatro Nacional onde foram seus mestres
Palmira Bastos, Amélia Rey Colaço e Robles
Monteiro.
Primeira figura aos 17 anos
Com carteira profissional desde os 14 anos, Laura
viu-se de repente primeira figura de uma companhia no Trindade, ao lado do veterano Álvaro
Pereira. A partir daqui, Laura entregou-se por
completo ao teatro e ao seu público, que a admirava e não lhe regateava os aplausos. «O público
para mim começou a ser uma paixão e uma
necessidade. Gostava de ver as pessoas na plateia
e dava-me inteiramente a elas.».
O teatro deu a Laura fama, popularidade, dinheiro. Deu-lhe um marido, o empresário Vasco
Morgado, um filho, Vasco que, embora ela não
gostasse, acabou por seguir as pisadas do pai, e
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Ensaios de
“A Promessa”, com
Rui de Carvalho,
Maria Cristina e Emílio
Correia.
Em baixo,
no filme “O Costa
de África” ao lado
de Vasco Santana
deu-lhe também muitas preocupações e frustrações. Divorciada quando o filho atingiu a
maioridade, casou ainda uma vez mais com o
maestro Frederico Valério mas nessa altura já
Laura Alves era uma sombra do que fora.
César Oliveira, autor, conhecia bem a actriz
com quem trabalhou várias vezes e, na hora da
sua morte, foi dele o melhor retrato da vedeta:
«Era uma pequena – grande mulher, cheia de
uma energia comunicativa que o público, que a
adorava, nunca esquecerá. O seu multifacetado
talento é surpreendente em todos os géneros:
passa do burlesco, da vedeta do cinema mudo e
da saloia de Fanhões para a dança em pontas de
«As Três Valsas». Domina a comédia, interpreta
corajosamente a alta comédia e o drama.
Shakespeare, Tennessee Williams, Casona, Santareno. Laura é sempre sinónimo de êxito, embora seja o teatro alegre o que mais se aproxima do
seu tipo e personalidade de actriz.»
Com 25 anos – a número um
Ao lado de Villaret, Laura brilha em «Margarida
vai à fonte». Tem 21 anos e ninguém lhe leva a
palma. Com Estêvão Amarante é vedeta em «O
Zé do Telhado» e em «Tá bem ou não tá? E em filmes que fizeram história: «O Pai Tirano», «O
Pátio das Cantigas», «O Leão da Estrela», «Sonhar
é fácil» para só referir alguns.
Quando é inaugurado o Teatro Monumental,
Laura Alves é primeira figura na opereta «As Três
Valsas», a que se seguem outros êxitos: «Lisboa
Nova», «Viva o Luxo», «Mulheres há muitas», etc.
«Pai Precisa-se» (1982) foi a sua derradeira
peça. Atacada pela arteriosclerose, ainda assistiu
à destruição do Monumental e morreu quatro
anos depois, a 6 de Maio de 1986. Tinha 64 anos.
«O seu sorriso fica inesquecível. Não acredito
que haja alguém que alguma vez a tenha visto e
não a recorde com saudade.»
Palavras de Vitor Pavão dos Santos. E que
belas palavras. I
Maria João Duarte
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Olho Vivo
Genes com 70 mil anos
Bom sono
O homem moderno tem entre 1 e 4 por
cento de genes do homem de Neandertal,
segundo os cientistas que analisaram, em
Maio, o ADN deste nosso primo
desaparecido há 30 mil anos,
comparando-o com o nosso. Um estudo
da revista Science prova que sempre
houve, como se pensava, cruzamentos entre
os neandertais e os cro-magnon. Depois de quatro
anos de trabalho em volta de três fragmentos de osso, a equipa de Svante
Paabo, do Instituto Max Planck, de Leipzig, sequenciou mais de 400 mil
genes e comparou-os com cinco homens, africanos, europeus, chineses e
australianos. Os africanos são a população com menos genes neandertais,
prova de que o cruzamento se deu depois do género humano sair do
continente-berço para o Médio Oriente, há uns 70 mil anos.
Cientistas italianos e ingleses
garantem que quem dorme
regularmente menos de seis horas
por dia tem mais 12% de
possibilidades de morrer, ao fim
de 25 anos de noites mal
dormidas. Isto, comparado com
quem tem uma dose de sono
"ideal" de seis a oito horas por dia.
Quem dorme habitualmente mais
de nove horas, também morre
mais cedo, segundo o estudo,
embora esse dado inclua muitas
pessoas com outras doenças (por
isso é que dormem tanto). A
relação entre o sono e a
mortalidade foi estudada em 1,5
milhões de indivíduos,
abrangidos por 16 estudos
específicos. Segundo o professor
Francesco Cappuccio, da
Universidade de Warwick (Reino
Unido), cada vez se dorme menos,
na sociedade ocidental, e, só na
Grã Bretanha, a falta de sono
pode ter matado 6,3 milhões de
pessoas com mais de 16 anos, nos
últimos dez anos.
Sexo na Terceira Idade
O Jornal de Gerontologia do estado (norte-americano) de Oregon dava no
mês passado duas notícias sobre o sexo na Terceira Idade - uma boa e uma
má. Começando pela má, os idosos e as idosas que consultam o médico ou o
psicoterapeuta para resolverem problemas do foro sexual, não ganham
muito com isso e não ficam mais aliviados do sofrimento psicológico que o
distúrbio lhes possa causar. E agora a boa: os homens idosos que falam
desses problemas com a companheira, ou com amigos, dão conta de um
maior bem-estar emocional e têm menos depressões. Foram estudados 861
homens e mulheres, com idades entre os 57 e os 85, sofrendo de pelo menos
um problema do foro sexual, falta de desejo, incapacidade de atingir o
orgasmo, dor durante o coito, ou outro. "Não estamos certos do que fazer
com esta descoberta", disse o Dr. Hirayama, que conduziu o estudo.
Queda de Mozart
Os pulgões não comem cenouras
Os pulgões, ou piolhos-das-plantas, insectos afídeos, não precisam de ingerir
alimentos ricos em caroteno, molécula fundamental para a visão, saúde da
pele, crescimento ósseo e outras funções fisiológicas que nos
obrigam a comer cenouras desde pequenos. A descoberta foi
feita por cientistas da Universidade do Arizona (EUA) e
estes pulgões são os primeiros animais conhecidos a
produzir o poderoso anti-oxidante. Até agora,
pensava-se que todos os animais tinham de
obter a substância através dos seus
alimentos, como faz o homem. Pensa-se
que os insectos terão recebido o gene
produtor de carotenoides de um fungo. Foi
copiado e faz hoje parte do ADN do pulgão. O
estudo foi publicado em Maio, na revista Nature.
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Investigadores da faculdade de
psicologia de Viena concluíram
que ouvir música de Mozart não
torna as crianças mais
inteligentes, ao contrário da
crença muito espalhada a partir
de 1993, na sequência de um
pequeno estudo da Universidade
da Califórnia, com 36 miúdos,
publicado pela revista Nature, que
ia nesse sentido. O estado norteamericano da Geórgia, que oferece
desde então um CD de Mozart a
cada recém-nascido, vai rever esta
política.
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A n t ó n i o C o s t a S a n t o s ( t ex t o s ) A n d r é L e t r i a ( i l u s t r a ç õ e s )
Pílula fez 50 anos
Mapa de Caracol
A pílula anticoncepcional, autorizada a 9 de Maio de
1960, pelas autoridades farmacêuticas norte-americanas,
cumpriu 50 anos de existência, meio século de revolução na vida sexual, sobretudo
das mulheres, ao separar o sexo da gravidez, sem grandes custos. Duzentos milhões
de mulheres tê-la-ão usado, desde então, e é talvez o medicamento mais estudado
da história da farmácia. O último estudo, publicado em Inglaterra por alturas do
aniversário, dá um resultado irónico: a pílula, que liberta a mulher das
preocupações de uma gravidez indesejada, reduzir-lhe-ia, ao mesmo tempo, a libido.
Aguarda-se confirmação.
Foi com um misto de alegria
e frustração que um casal
de arqueólogos da Florida
concluiu o mapa da cidade
maia de Caracol, uma das
maiores urbes desta
civilização desaparecida,
oculta pela selva tropical do
Belize, na América Central,
desde o ano 900. Alegria,
porque terminaram um
trabalho de 25 anos.
Frustração, porque, graças
às novas tecnologias,
fizeram em cinco dias, mais
do que tinham feito ao
longo de um quarto de
século. Depois de andarem
anos no meio da selva, a
desenterrar com
martelinhos as ruínas de
Caracol, Arlen e Diane
Chase usaram sinais de
radar enviados de um avião
que esquadrinhou a selva, e
reuniram, em menos de
uma semana, imagens a três
dimensões de uma área
urbana com 16 quilómetros
quadrados, revelando
templos e altares de
sacrifícios, pequenas casas,
ruas, mercados e subúrbios
agrícolas. "Bem podíamos
ter esperado todos estes
anos, sem mais trabalhos,
até termos tecnologia para
avançar; mas valeu a pena",
disse Arlen Chase, professor
da Universidade da Flórida
Central.
Super-Melga
As melgas e mosquitos, transmissores de algumas doenças, estão
a desenvolver resistências aos repelentes habitualmente utilizados
pelo homem. Isto foi provado pela primeira vez em testes de
laboratório realizados pela Universidade de Ciências
Agrónomas da Suécia, com conclusões divulgadas em Maio
nas Actas da Academia Nacional (sueca) de Ciências. O
mosquito da febre amarela desenvolveu resistência ao repelente
Deet, o mais utilizado em em todo o mundo, e é insensível ao cheiro
do produto. Esta característica é passada às novas gerações de melgas, que já recebem
nas antenas a mutação da proteina que detectava o Deet.
Caçadora de troféus
Uma minúscula cadela de raça dachshund ficou sem o osso que escavou e
encontrou numa praia inglesa, em Dunwich, em meados de Maio. Daisy apanhou
um troféu junto à linha da maré baixa e levou-o para roer aos pés do dono, um
comerciante reformado que achou o osso, com uns 30 cm de comprimento,
estranho. O sr. Dennis Smith mostrou o fóssil a um amigo geólogo e ficou a saber
que pertencia à perna de um mamute, falecido há uns dois milhões de anos. A
descoberta foi entregue aos museus do Reino Unido. Não se sabe se Daisy foi
recompensada pelo esforço (o osso de mamute pesava mais de três quilos).
Uvas para a tensão alta
A Universidade de Michigan divulgou em finais de Abril os
resultados de estudos que provam que comer uvas reduz o
risco de hipertensão arterial e diminui a resistência à
insulina que provoca a diabetes de tipo II.
Os anti-oxidantes naturais contidos na pele das uvas,
tanto verdes como pretas, contribuíram para reduzir as
doenças cardiovasculares em ratos que ingeriam os bagos
reduzidos a pó, ao mesmo tempo que eram engordados à
força, com uma dieta ao estilo americano, rica em gorduras
e açúcares. O grupo alimentado com pele de uva também ganhava menos peso do
que os animais que não ingeriam o pó.
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Lusofonia
I Encontro dos Escritores de Língua Portuguesa em Natal (Brasil)
"É preciso evitar a colonização
da Língua" - avisa Ubaldo Ribeiro
Dentro do espaço onde se fala a Língua Portuguesa há várias línguas e não é tão verdade que
todos nos entendemos. O que interessa é que, tal como na Alemanha são reconhecidos
vários dialectos, mas só o Alto Alemão é compreendido por todos, nós também temos o Alto
Português que é entendido pelo menos por todos os alfabetizados.
Q
uem isto afirmou foi o conhecido escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro, ao sublinhar ser "uma
ilusão acreditarmos que nós falamos a mesma
língua. Nós falamos uma espécie de Hoch-deutsch (alemão oficial), por isso é que nos
entendemos. No dia-a-dia, os nossos povos já não falam a
mesma língua, nem na sintaxe, nem na pronunciação".
Daí apelar para a valorização da língua portuguesa como
forma de evitar a colonização da língua que se infiltra no
Brasil através do americanismo. Neste sentido o escritor
questionou: "Quando é que salvar (save) significa em português, salvar?".
João Ubaldo Ribeiro fez estas declarações por ocasião do
I Encontro dos Escritores de Língua Portuguesa de Natal,
que se realizou no mês passado na capital do Estado de Rio
Grande do Norte, com o objectivo de promover o intercâmbio entre os escritores de língua portuguesa dos cinco continentes.
Promovido pela União das Cidades Capitais de Língua
Portuguesa - UCCLA e a Prefeitura Municipal do Natal, a
responsabilidade pela produção do I Encontro dos
Escritores de Língua Portuguesa de Natal esteve a cargo da
Fundação Cultural Capitania das Artes (Funcarte), e contou
com apoio da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte,
Universidade Potiguar, TAP Linha
Aéreas e Associação Cultural e de
Amizade Lisboa-Natal.
Reunindo cerca de três dezenas de escritores de todos os países onde se fala português, à
excepção da Guiné-Bissau, o
Encontro transformou a cidade de
Natal na capital da literatura e da
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língua portuguesa, debatendo essencialmente questões ligadas a temáticas como o acordo ortográfico, o cosmopolitismo e os desafios das novas tecnologias na literatura.
O ciclo das conferências foi aberto pelo catedrático português Carlos Reis que dissertou sobre o tema "Literatura
Lusófona: elo entre continentes e cultura". Carlos Reis mostrou na sua comunicação a importância das literaturas lusófonas como elo de unificação da língua portuguesa, embora
acentuando que no campo da lusofonia se diversificam culturas, visões do mundo, literaturas e mesmo modos de trabalhar a língua portuguesa. "Portanto, é preciso usar esse
termo com cautela", frisou, para acrescentar que com essas
devidas cautelas, a lusofonia será um termo mais abrangente e até mais expressivo
para designar um universo diversificado de falantes e de
culturas."
Muitos outros escritores participaram do encontro como
convidados especiais, como por exemplo os angolanos
Ndalu Almeida (Ondjaki) e José Eduardo Agualusa, a sãotomense Inocência Mata, o timorense Luís Cardoso, o
moçambicano Suleiman Cassamo, os cabo-verdianos
Daniel Spínola, José Luís Tavares e Américo Silva, os brasileiros Edivaldo Boaventura, Diógenes da Cunha Lima,
Tarcísio Gurgel, Pablo Capistrano
e Lísio Oliveira; e o português
António Carlos Cortês.
O Encontro foi um autêntico
sucesso. O Teatro Alberto
Maranhão mostrou-se pequeno
para conter os cerca dos cerca de
mil inscritos que durante os três
dias ali acorreram, especialmente
jovens, para quem o acontecimento foi uma lufada de ar fresco
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e uma oportunidade para contactar a realidade dos escritores do espaço da Lusofonia.
"Diálogo lusófono"
Como frisou o secretário-geral da UCCLA, Anacoreta
Correia, no final do encontro, o balanço serviu apenas para
recordar pormenores, porque todos os seus objectivos foram
totalmente alcançados. "A lusofonia é hoje uma realidade
muito maior do que poderíamos imaginar há vinte anos.
Estamos a avançar porque a língua portuguesa é o principal
elemento unificador dos países e das cidades lusófonas.
Além disso, a UCCLA empenha-se em dar mais e melhor
qualidade ao diálogo com os lusófonos de todo o mundo,
disponibilizando, em tempo real, uma informação sobre a
actualidade dos nossos oito países."
A língua portuguesa, falada por 4% dos seis bilhões de
habitantes da população mundial, portanto hoje uma das
cinco mais faladas no mundo e a terceira no mundo ocidental, vem ganhando cada vez mais espaço. Com o fortalecimento e a padronização da língua, buscados com o
novo acordo ortográfico aceite pela maioria dos países
lusófonos, a língua portuguesa, muito em breve, poderá
alcançar o patamar de língua comercial, pelo que o recente acordo ortográfico acatado pela maioria dos países de
língua portuguesa pode servir para promover a padronização e o fortalecimento da língua, foi lembrado no
Encontro.
Segundo o Professor Carlos Reis, "a mudança visa uma
reestruturação da língua portuguesa, uma vez que esta era a
única que possuía duas normas gramaticais mesmo com a
sua recente expansão, na qual se tornou idioma oficial em
oito países. A língua muda de acordo com a época e o contexto social; a ortografia, também. As pessoas tornam-se
mais sensíveis a mudança devido à ortografia ser a parte
mais visível."
Por sua vez, o ex-reitor da Universidade Federal de Rio
Grande do Norte, Dr. Diógenes da Cunha Lima, "a nossa língua é como um "poliedro luminoso", plástico e adaptável à
realidade social de um povo, embora essa característica não
a fragmente em outros idiomas ou dialectos."
A festa de encerramento do EELP contou com a presença do
cantor, compositor, escritor e jornalista brasileiro Chico César,
que é o actual presidente da Fundação Cultura de João PessoaPB. Diante do sucesso deste I Encontro, já tem data a próxima
edição do Encontro de Escritores da Língua Portuguesa. Nos
dias 25, 26 e 27 de abril de 2011, mais uma vez, a parceria entre
a Prefeitura do Natal e a União das Cidades Capitais da Língua
Portuguesa (UCCLA) vai levar à Capital do Rio Grande do
Norte grandes nomes da literatura lusófona, buscando inte-
Aspecto da mesa no segundo dia. Na página da esquerda,Teatro
Alberto Maranhão onde decorreram os trabalhos. Em baixo,
Anacoreta Correia fez o balanço do Encontro
gração entre os países falantes de lusófonos e a propagação da
cada vez mais forte, língua portuguesa.
A prefeita do Natal, Micarla de Sousa, ressaltou a
importância da integração entre os povos de língua portuguesa. "Esta é apenas mais uma das diversas acções que
desenvolveremos para tornar cada vez mais irmãos os países participantes do I EELP", destacou a prefeita Micarla de
Sousa, que entregou uma placa em homenagem a Luís da
Câmara Cascudo, recebida pela filha do folclorista, Ana
Maria Cascudo.
No segundo dia do encontro foi homenageado a título
póstumo o recentemente falecido escritor cabo-verdiano,
Luís Romano, que viveu as últimas décadas exactamente
em Natal. O escritor, natural da ilha de Santo Antão, foi distinguido numa cerimónia que homenageou também outros
dois ilustres filhos da capital do estado do Rio Grande do
Norte já desaparecidos: Nísia Floresta, a pioneira na defesa
das minorias, e Luís Câmara Cascudo, autor de uma vasta e
importante obra reconhecida internacionalmente. I
Rodrigues Vaz
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A Casa na árvore
Susana Neves
A árvore que foi à guerra
As flores da cerejeira-do-Japão foram
as noivas dos “kamikaze”.
D
urante uma visita ao Jardim Botânico
da Universidade de Trás-os-Montes e
Alto Douro (UTAD), em Vila Real,
encontrámos, inesperadamente, na
parte inferior do relvado, perto do Edifício de
Geociências, uma árvore que parece uma nuvem
ou a porta de entrada para o Paraíso. Nos cerca de
80 hectares do jardim, onde foram plantadas
mais de mil espécies, entre autóctones e exóticas
de vários continentes, nenhuma outra árvore
nesta Primavera chama mais a atenção do que a
lindíssima, e ainda pouco conhecida em
Portugal, cerejeira-do-Japão (“Prunus Serrulata
Lindl.”).
Ao observar a delicadeza das suas muitas flores, semelhantes a rosas, ou não pertencesse à
família das “Rosaceae” (na qual também se inscre-
vem as macieiras) parece contraditório que durante a II Guerra Mundial esta árvore tenha motivado
o suicídio de um ramo especial das forças aéreas
japonesas: os kamikaze que se despenhavam com
o seu avião sobre os vasos de guerra da marinha
americana. Alguns deles usavam ramos floridos
no uniforme, como é possível confirmar num artigo sobre o livro “Kamikaze, Cherry Blossoms, and
Nationalisms: The Militarization of Aesthetics in
Japanese History”, de Emiko Ohnuki-Tierney
(University of Chicago Press, 2002), publicado
online pelo International Institute for Asian
Studies (www.iias.nl/iiasn/31/IIASN31_35.pdf -).
Segundo a investigação de Emiko OhnukiTierney, além da morte dos pilotos ter sido identificada com a queda das pétalas de cerejeira, certas unidades de ataque tomaram o nome desta
árvore e as bombas conhecidas por “ohka” foram
pintadas com o desenho das suas flores.
Como foi possível ocorrer esta subversão estética e simbólica se a mitologia nipónica sempre
identificou a cerejeira, semeada originalmente no
Fotos: Susana Neves
Folha e Flor
da Cerejeira
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Monte Fuji pela Princesa Konohanasakuya, como
lugar de repouso dos deuses? Como é que uma
espécie plantada junto dos templos budistas e
santuários shintoístas pôde estimular o desejo de
morte e destruição dos “kamikaze”?
Face a estas perplexidades a jovem árvore
da UTAD - com «cerca de 10 anos de idade»,
conforme nos informou o «Professor Emérito»
Luís Torres de Castro, «um dos fundadores do
curso de arquitectura paisagista nesta universidade e «um dos principais obreiros do seu
Jardim Botânico» - permanece silenciosa e
enigmática.
Para Emiko Ohnuki-Tierney, autora do livro
acima referido e professora no Departamento de
Antropologia da Universidade de Wisconsin,
EUA, os jovens pilotos teriam sido manipulados
pela propaganda de guerra, que se socorreu de
um símbolo nacional – a flor da cerejeira – ao
qual os japoneses prestam culto desde há séculos, para a ele associarem uma ideologia contrária às lendas e mitos mais remotos; mas o sucesso desta operação militar não teria sido alcançado senão tivesse ocorrido a fatal combinação de
“méconnaissance”, termo lacaniano que poderíamos traduzir por ignorância, má interpretação,
dos pilotos, e a repressão de toda e qualquer
desobediência ao poder dominante.
Claro que outros factores poderão ser associados a esta distorção simbólica, entre eles, o apelo
ancestral ao «código do samurai», segundo o qual
o guerreiro japonês conta à partida com uma vida
breve por ser seu dever defender o mestre e a
pátria. «Um samurai deve sempre, acima de tudo,
manter presente no seu espírito a inevitabilidade
da morte, dia e noite, desde a manhã do Ano
Novo, quando toma a primeira refeição, até à
noite do último dia do ano, quando paga as contas», lê-se no livro “O Código do Samurai”, de
Daidoji Yuzan (Coisas de Ler, 2003).
Nesse sentido, existirá uma íntima afinidade
entre o guerreiro japonês e as flores de cerejeira,
cuja beleza representa a efemeridade da existência. «À nossa volta, o mundo não é mais do que
flores de cerejeira», concluía Taigu Ryokan (17581831), sábio monge budista zen, eremita e calí-
grafo num dos seus conhecidos poemas (“Les 99
Haiku de Ryokan”, Verdier, 1986).
Se as flores da cerejeira simbolizam a fugacidade da vida também é verdade que lembram o
seu permanente recomeço por isso até hoje esta
árvore que foi “obrigada” a ir à guerra é sobretudo conhecida como um objecto de beleza que não
precisa sequer de dar fruto comestível para que
os japoneses lhe prestem culto, fazendo férias
quando floresce, entregando-se anualmente ao
“Hanami”, ou seja a contemplação da flor, uma
festa nacional que envolve o Japão inteiro ao
longo de meses, desde Janeiro a meados de Maio,
até todas as árvores florirem. I
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CONSUMO A embalagem é, também, um instrumento de marketing
concebido para atrair os consumidores. Pág. 54 À MESA As favas
primaveris - populares e nutritivas desde a pré-História - também ajudam
no combate ao cholesterol. Pág. 56 LIVRO ABERTO Em “Alegrias e Tristezas
do Trabalho”, Alain de Botton discorre sobre o mundo do trabalho, sobre
os seus perigos e mistérios, zonas de luz e de sombra. Pág. 58 ARTES Hilário
Teixeira Lopes apresenta, até Setembro, uma retrospectiva da sua longa e
prolífera arte no Forte do Bom Sucesso, em Lisboa. Pág. 60 MÚSICAS Com
surpreendente pujança, o fado continua a renovar-se. Ouçamos, com a
devida atenção o CD “Porta do Coração”, de Ricardo
Ribeiro. Pág. 62 NO PALCO Em destaque, o regresso
ao Trindade de “Havia um menino que era Pessoa”
e as estreias na Comuna e no Teatro Aberto. Pág. 64 CINEMA EM CASA Um ano depois da sua trágica
morteo, relembram-se os últimos dias da vida de Michael Jackson com o
documentário “This is It”. Pág. 66 GRANDE ECRÃ “Um Funeral à Chuva”
vem dar um novo fôlego ao cinema português e reafirmar o talento de um
jovem cineasta, Telmo Martins. Pág. 67 INFORMÁTICA Já não bastam os
simples backups dos ficheiros do computador que, ainda há alguns anos,
eram suficientes… Pág. 68 SAÚDE Nunca é de mais reiterar a importância,
para a saúde, de um estilo de vida condizente com necessidades
individuais de cada pessoa. Pág. 70 PALAVRAS DA LEI Ao aceitar guardar
os bens de pessoa amiga, será útil a existência de um documento que os
especifique e defina os termos de restituição. Pág. 71
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Boavida|Consumo
Deixa-me seduzir-te!
Nas embalagens está inscrito o rótulo, verdadeiro Bilhete de Identidade do produto que fornece
informação preciosa aos consumidores. Mas a embalagem é, também, um instrumento de marketing
concebido para atrair os consumidores. Nada acrescenta ao valor dos produtos, muitas vezes é
supérflua e contribui para o desnecessário desperdício de recursos naturais.
Carlos Barbosa de Oliveira
eixa-me seduzir-te!" parecem dizer as embalagens nos escaparates, quando percorremos
as complicadas artérias de um hipermercado
ou de um centro comercial. Latas de
bolachas, pacotes de leite, frascos de perfume, garrafas de
refrigerantes, caixas de bombons e uma parafernália de
produtos tentam seduzir-nos através das suas roupagens
enganadoras, utilizadas como estratégia de marketing para
atrair a atenção dos consumidores.
Quando optamos pela compra de um produto, nem
sempre nos apercebemos do poder que a embalagem tem
sobre a nossa escolha. No entanto, o seu efeito persuasivo
não é inócuo, como o testemunha o facto de existirem
revistas especializadas sobre embalagens, feiras,
exposições e outros certames para a promover e ter sido
criado, nos anos 90, um curso de pós-graduação em
embalagens com a duração de três anos.
Para os mais cépticos sobre o poder da embalagem nas
nossas escolhas, lembro uma experiência realizada nos anos
30 do século passado (a primeira do género que conheço).
"
D
MANIPULAÇÃO
Uma garrafa com uma bebida, em duas embalagens diferentes, foi apresentada a um grupo de consumidores,
omitindo-se que o conteúdo era exactamente o mesmo.
Uma das embalagens tinha círculos e a outra triângulos e
pedia-se aos consumidores para escolher uma, justificando
a opção.
A maioria dos consumidores escolheu a embalagem
com círculos, alegando que "parecia conter um produto
com mais qualidade". Quando provaram o conteúdo de
ambas as embalagens, só 2% dos inquiridos acharam que,
afinal, a bebida da garrafa embalada numa embalagem
com círculos, era pior! Os restantes mantiveram a sua
opinião inicial.
A embalagem é um vendedor incansável e
omnipresente aos nossos olhos, um manipulador silencioso que nos "ajuda" a optar por determinado dentífrico,
sabonete, ou marca de vinho, quando a nossa escolha não
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está previamente feita em função da publicidade ou de um
qualquer desígnio afectivo ou consuetudinário. Algumas
embalagens tornaram-se famosas e destacam-se facilmente
do conjunto de mais de 10 mil que observamos em pouco
mais de uma hora que demoramos a percorrer os corredores de um hipermercado. É o caso, por exemplo, das
sopas Campbell's, das velhas garrafas de Coca Cola e
Pepsi, do atum Bom Petisco, do ketchup Heinz, ou dos
cigarros Marlboro. Entre estas, há mesmo o caso do frasco
de ketchup da Heinz, cujas dimensões obrigaram, em tempos, a "normalizar" as dimensões das prateleiras dos frigoríficos em metade do mundo.
No entanto, apesar deste efeito de sedução, as embalagens são, geralmente, um dos maiores inimigos do ambiente
POLUIR, DESPERDIÇAR…
Haveria muito a dizer sobre os "truques" utilizados na
embalagem para seduzir os consumidores mas, por agora,
interessa responder à pergunta: porque razão é a embalagem inimiga do ambiente?
A resposta é simples. Cada português produz, anualmente, mais de 400 quilos de lixo, sendo que mais de
metade é constituído por embalagens. São sacos de plástico, o papel que embrulha o fiambre, as embalagens de
esferovite da carne ou peixe pré-embalados, os pacotes de
leite e sumos, a lata do refrigerante ou da conserva, a
pizza, o hambúrguer, a refeição pré-cozinhada e préembalada, os papéis de embrulho com que alindamos os
presentes.
Muitas destas embalagens são supérfluas. Basta pensar
no Natal. Reparem em vossas casas, quando termina a distribuição dos presentes, no amontoado de caixas, papéis,
plásticos ou esferovite que se acumulam na sala e
aproveitem para reflectir sobre tamanho desperdício. É
certo que embalagem rima com imagem e um presente
bem encadernado parece logo mais bonito, mas é importante que, neste mundo onde mais vale "parecê-lo" do que
"sê-lo", demos o nosso contributo para mudar essa mentalidade e poupemos nas embalagens, eliminando as que são
supérfluas.
A embalagem não é, porém, apenas poluente como pro-
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duto final, isto é, no momento em que nos desfazemos
dela. Antes de aparecer nos escaparates e a recolhermos,
para durante algum tempo a albergarmos em nossas casas
e depois nos despedirmos dela junto ao caixote do lixo, já
a embalagem provocou danos apreciáveis.
O seu impacte ambiental começa na exploração de
matérias-primas como o petróleo ou o ferro, as florestas
que se abatem ou as jazidas a céu aberto e a energia que se
consome na sua produção.
Depois de utilizada e se tornar imprestável, a embalagem atirada para o lixo vai libertar substâncias tóxicas
que vão infiltrar-se nos lençóis freáticos e poluir as reservas de água potável.
CONSUMIDOR RESPONSÁVEL!
Cada um de nós pode contribuir para a redução do
impacte ambiental provocado pelas embalagens. Como? É
fácil…Reduzindo o consumo de muitas destas embalagens
e optando por embalagens reutilizáveis. Comprando líquidos em recipientes de vidro (material reciclável) em detrimento de embalagens de plástico; eliminando os sacos de
plástico quando vamos ao supermercado, à farmácia, à
livraria, etc., tendo atenção às características da embalagem. Quer quanto ao material de que é feito, quer quanto às suas dimensões.
Quando compramos determinados produtos (especialmente detergentes, bebidas, perfumes e cosméticos) vale a
pena prestar atenção ao facto de muitas das embalagens
serem de tamanho desproporcionado para o conteúdo,
sendo o seu único objectivo iludir os consumidores. Com
isso se desperdiçam matérias-primas e encarece o produto.
Uma recusa de compra desses produtos, ainda que por um
curto espaço de tempo, é uma forma eficaz de obrigar as
empresas a repensarem o embalamento dos seus produtos.
Felizmente, há cada vez mais empresas preocupadas em
acondicionar os seus produtos em embalagens sustentáveis
(com menor impacte ambiental), porque uma empresa que
proclama a Responsabilidade Social e se promove como
"amiga do ambiente", não pode praticar o desperdício. Mas
nem todas agem assim. Devemos denunciar as empresas
que, embora proclamem a RS, continuam a utilizar a
embalagem como imagem de venda do produto, sem
cuidar da sustentabilidade, e convencer os nossos amigos a
recusar os produtos de uma empresa que nos mente.
Ser consumidor responsável passa por estes
pequenos gestos, que nos ajudam a ser exigentes com
nós próprios. ANDRÉ LETRIA
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Boavida|À mesa
Fava, legume primaveril
A fava, legume primaveril e mediterrânico, muito nutritiva, é popular desde a pré-história. Quer dizer,
muito popular entre as camadas mais carenciadas da população, pois entre os ricos as favas não
tinham grande fama.
David Lopes Ramos
andar alguém “à fava enquanto a ervilha
cresce”, dependendo do contexto, tanto pode
ser um acto pouco amistoso, embora salpicado de ironia, como uma sugestão de
saborosos contornos culinários. Ambas leguminosas que
amadurecem na Primavera, as favas ficam prontas em
primeiro lugar, seguindo-se as verdinhas e doces ervilhas.
Em preparações culinárias mais simples ou mais sofisticadas, elas trazem-nos à memória gustativa saladas, sopas,
purés, guisados, uma mão cheia de pratos deliciosos e
saudáveis. E, no caso das favas, energéticos.
Em “Cozinhar com vegetais” (Editorial Verbo, 2005),
Maria de Lourdes Modesto informa que “a fava é o fruto
da faveira, uma fava que aparece no mercado, de tamanho
variável, revestida interiormente de pêlo branco e macio e
encerrando as sementes – as favas”. Acrescenta que “nós
Portugueses e, de um modo geral, os países menos ricos ou
mesmo pobres nunca deixámos de a apreciar. Comemo-la
principalmente fresca e também seca, como aperitivo
depois de frita. Da fava fazia-se uma farinha com que se
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confeccionavam caldos reconfortantes para crianças e
adolescentes. Curiosamente a fava ocupa hoje um lugar
privilegiado na cozinha de autor, onde aparece despojada
do tegumento ou em miniatura”.
A nossa mais destacada especialista em cozinha tradicional portuguesa recomenda que, na compra de favas, se
escolham “as pequenas cuja casca se apresente verdeclara e sem manchas. As melhores são as do princípio da
Primavera. Têm uma estação curta, mas hoje podem
encontrar-se congeladas, de boa qualidade, durante todo o
ano. Contar com cerca de 200g por pessoa (1 kg com
casca)”. A vagem só pode ser comida caso seja muito nova
e fresca, caso contrário é fibrosa e desagradável. Assim, de
uma maneira geral, o grão da fava tem que ser esburgado
e, quando um pouco mais maduro, precisa de ser descascado, pois a película que o envolve engrossa e prejudicalhe o sabor. Ou seja, se forem muito frescas e pequenas, as
favas podem comer-se com a casca.
Nós comemo-las em caldos e guisados, geralmente com
enchidos. José Cid deu música a esta forma particular de
as comer, ao pedir numa canção: “Faz-me favas com
chouriço/O meu prato favorito”. Mas, se forem “muito
ANDRÉ LETRIA
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pequenas”, sugere Maria de Lourdes Modesto,
descasquem-se, tirem-se-lhes o tegumento e comam-se
cruas temperadas com flor de sal. “São deliciosas”,
garante. Mas, apenas cozidas, temperadas com um nadinhas de alho picadinho, coentros frescos, azeite e vinagre,
as favas são um belo petisco. E Lisboa tem entre as suas
especialidades culinárias a fava-rica, entretanto caída em
desuso. É um caldo grosso, feito com favas secas, que era
vendido nas ruas ao fim da manhã, sob o pregão: “Quem
quer fava-rica? Quem quer almoçar?” No Algarve, a fava
cozida é, na comida popular, um apreciado acompanhamento de peixe frito.
A fava também é apreciada por outros povos do Sul.
Por exemplo, os italianos do Lazio costuma celebrar a
Primavera e o 1º de Maio em piqueniques, nos quais as
favas, o queijo de ovelha Pecorino e o vinho tinto são os
protagonistas.
Há quem, crente nestas coisas, garanta que sonhar com
favas é um bom augúrio, caso se seja pobre, se esteja
doente ou preso. O sonho prenunciará a mudança da sua
situação para melhor: ganhará dinheiro, recuperará a
saúde, será posto em liberdade. Mas, em contrapartida,
para os que estejam bem na vida, sonhar com favas é o
anúncio de desgraças: aborrecimentos, pobreza, dívidas,
doenças e dificuldades inesperadas. Se no sonho estiver a
cozinhar favas, tal significará que morrerá de velhice. Mas
se, cozinhadas as favas, as comer, espere discussões com
amigos íntimos, as quais poderá terminar com o fim de
amizades antigas. Fie-se na fava, fie-se...
Falando de coisas sérias, as favas têm uma boa quantidade de fibras solúveis, que ajudam no combate ao colesterol, carboidratos complexos, vitaminas e minerais. São
ricas em proteínas, pobres em gorduras e as que têm são
na sua maioria insaturadas. As favas são também uma
fonte importante de vitaminas de tipo B. As frescas possuem uma grande quantidade de vitamina C, a qual tende
a diminuir depois da colheita. A fava é a mais alimentícia
das leguminosas (64 Kcal por cada 100 g quando fresca).
As favas secas, disponíveis todo o ano, são mais calóricas
(343 Kcal por cada 100 g). Antes de serem cozinhadas
devem ser reidratadas em água durante 12 horas, pelo
menos.
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Boavida|Livro Aberto
Da paixão pela filosofia
à ficção para férias
Há livros que abordam a temática filosófica de uma forma original, sedutora e por vezes até divertida.
Costumam ser escritos com rigor conceptual, mas permitem ao leitor entrar no universo complexo das
questões que abordam.
José Jorge Letria
qui se destacam dois: “Alegrias e Tristezas do
Trabalho” (Dom Quixote), de Alain de Botton,
que depois de ter dedicado obras de grande
êxito internacional aos temas da viagem, do
amor e da própria atracção pela filosofia, decidiu, em boa
hora, discorrer sobre o mundo do trabalho, sobre os seus
perigos e mistérios, sobre as suas zonas de luz e de sombra. Profusamente ilustrado, é um livro a não perder. O
autor nasceu em 1969 e vive em Londres; dos mesmos
autores de “Platão e um Ornitorrinco entram num Bar”
acaba de surgir no mercado o fascinante “Heidegger e um
Hipopótamo Chegam às Portas do Paraíso” (Dom Quixote),
de Thomas Sathcart e Daniel Klein, que, no estilo da obra
anterior, nos propõem a partilha de uma verdadeira aventura filosófica ao mesmo tempo divertida e profunda. Em
tempo de crise e incerteza, a filosofia adquire uma dimensão e uma utilidade, de que noutras alturas não nos damos
conta.
Para quem gosta de literatura de memórias, onde cabe,
com destaque, o registo diarístico, recomenda-se a leitura
de “Os dias e os Anos - Diário 1970-1993” (Dom Quixote),
A
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do diplomata e escritor Marcello Duarte e Mathias, que
nos habituou à excelência deste registo de memória que
nos faz viajar pelo tempo e pelo mundo.
Para quem gosta da obra, de Eça de Queirós, mas também de pensamentos e citações organizados e assumidos
como tal, destaca-se o livro “Citações e pensamentos de
Eça de Queiroz” (Casa das Letras), organizado por Paulo
Neves da Silva, que assim dá sequência a idênticas obras
dedicadas a figuras como Fernando Pessoa, Agostinho da
Silva e o filosofo alemão Nietzsche. Do genial autor de
“Os Maias”, retenha-se, a título de exemplo esta citação: “
O melhor espectáculo para o Homem será sempre o
próprio Homem”.
O escritor e psicoterapeuta norte-americano Thomas
Moore, que tem o mesmo nome do grande estadista,
filosofo e teólogo inglês vítima da intolerância religiosa, é
autor de “Escrever na Areia – Jesus e a Alma dos
Evangelhos” (Estrela Polar). Nesta obra, o autor, sem trair
o rigor da sua formação científica como psicoterapeuta
influenciado pelo pensamento Jung, analisa, a partir dos
testemunhos contidos nos evangelhos, o pensamento, o
percurso e a acção do fundador do cristianismo.
Em matéria de ficção de inquestionável qualidade, que
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convém ir já pondo de parte e programando para as férias,
destacam-se “Berlim Alexander-Platz” (Dom Quixote), de
Alfred Dolblin, uma obra-prima absoluta da literatura do
século XX e por muitos apontado como um dos melhores
romances de sempre, “Zona” (Dom Quixote) de Mathias
Enard, que se assume como uma original e desafiadora
história da Europa, construída a partir de uma viagem
nocturna de comboio com destino a Roma, dando origem
a um registo invulgar conseguido; “Uma Gata, um
Homem e Duas Mulheres” (Teorema), do japonês
Junichiro Tanizaki, nascido em 1896 e considerado um
dos mais importantes nomes da literatura japonesa de
sempre, que neste livro reúne três histórias absolutamente
irresistíveis; do jornalista Vítor Serpa, o romance “Tanta
Gente em Mim” (Dom Quixote), cuja acção percorre cerca
de três décadas da vida portuguesa pós 25 de Abril,
através de uma viagem que leva as personagens e as
emoções desde Lisboa até ao Norte de África.
OUTRAS PROPOSTAS de qualidade no domínio da ficção
narrativa, já com o tempo de descanso e reflexão a
abeirar-se: “Os Íntimos” (D. Quixote), de Inês Pedrosa, “A
Arte de Morrer Longe” (Caminho), de Mário de Carvalho,
“O Olho de Herzog” (Leya), do moçambicano João Paulo
Borges Coelho, “Basta-me Viver” (Casa das Letras), de
Carlos Vale Ferraz, “Juliet Nua” (Teorema), de Nick
Hornby, “Royal Dream” (Chiado Editora), de Anne
Elizabeth, “A Falha” (Publicações Europa-América), de
Luís Carmelo, “As Aventuras de Huckleberry Finn” (PEA),
no centenário da morte de Mark Twain, e ainda “Quando
a Vida se Ilumina” (PEA), de Serdar Ozkan.
Opções de leitura não faltam para quem gosta de fazer
do livro e da leitura referência obrigatórias no quadro da
sua vida quotidiana. Boa leitura! I
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Boavida|Artes
Tempo de Homenagens
A Cor e o Movimento na Pintura
de Hilário Teixeira Lopes
Sob o título Da Coloratura Multi-Direccionalmente
Expansiva, vai o artista plástico Hilário Teixeira
Lopes apresentar de 8 do corrente mês até 8 de
Setembro, uma retrospectiva comemorativa dos 66
anos da sua prolífera actividade artística no Forte
do Bom Sucesso, em Lisboa.
Rodrigues Vaz
rganizada pela Galeria MAC - Movimento Arte
Contemporânea com o apoio da Liga dos
Combatentes, trata-se de uma exposição que
homenageia um dos nossos pintores abstractos
mais conceituados, que, não por acaso, é também nessa
qualidade um dos mais premiados - Prémio Amadeo de
Souza-Cardoso de 1965, 1º Prémio de Pintura na II Bienal
Internacional de Desporto em Belas Artes (Madrid), em
1969, entre muitos outros..
Hilário Teixeira Lopes, nascido em Mirandela em 1932,
é um pintor inquieto, tendo passado por períodos estéticos diversos, desde a abstracção à figuração, do expressionismo à nova-figuração, apresentando sempre um forte
sentido geométrico nas suas composições, onde a exaltação da cor é dada por matizes diversos da sua paleta
que fazem explodir as cores quentes do sol e da terra, do
sangue dos homens e do azul sideral dos astros.
Conforme acentua no catálogo Álvaro Lobato Faria,
"Cada uma das suas obras torna-se um teatro de memória,
uma ocasião para imaginarmos acontecimentos que não
têm outra existência para além dos vestígios que deles
subsistem. As suas telas tornam-se um depósito, um
tesouro de instantes e de formas, revelando-se como
espaços diversificados, capazes de preservar a memória de
acontecimentos múltiplos, a memória dos tempos."
O
ARTISTAS PORTUGUESES EM FRANÇA
Exposição a todos os títulos digna de ser visitada é igualmente a que a Galeria Municipal Artur Bual, Amadora,
apresenta até ao próximo dia 13 sob o título Artistas
Portugueses em França - Pintura e Escultura.
Homenageando alguns dos maiores nomes das artes
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Pintura de Hilário Teixeira Lopes.
Em baixo, República de
Barahona Possolo
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plásticas portuguesas que, por diversos motivos, se
radicaram em França - Alfredo Margarido, Alvess,
António Branquinho Pequeno, António Dacosta, Augusto
Barros, Baptista Antunes, Benjamin Marques, Bertino,
Cargaleiro, Costa Camelo, D'Assumpção, Darocha, Dimas
Macedo, Eduardo Luiz, Gonçalo Duarte, Jacinto Luís, João
Moniz, João Vieira, José David, Júlio Pomar, Isabel
Meyrelles, Luís Rodrigues, Manuel Amorim, Paula
Liberato, Pedro Avelar, Rodrigo Ferreira, Sónia Prieto e
Vieira da Silva - não sendo uma iniciativa inédita, trata-se
contudo da maior realização que se fez sobre este tema
em Portugal, testemunhando a atracção que a capital
francesa sempre exerceu em gerações sucessivas de artistas portugueses.
Tendo como linhas de força predominantes a
abstracção e o neo-figurativismo, este conjunto agora
apresentado serve não só para avaliar o que a arte portuguesa foi buscar à que foi durante muitas décadas a
cidade-luz, mas também, em que medida de algum modo
também contribuiu para o seu enriquecimento.
OS 100 ANOS DA REPÚBLICA
Entretanto, sob o título O olhar do pintor sob a República
Portuguesa, acaba de ser inaugurada em Lisboa mais um
espaço dedicado à arte, a Galeria Paula Cabral, homenageando de vários modos os 100 anos da implantação da
República. Integram a mostra os artistas Barahona Possolo,
Carlos Marreiros, David Lima, Fernando Direito, Guilherme
Parente, Helena Justino, Ismael Sequeira, João de Azevedo,
Manuel Jardim, Margarida Alfacinha, Margarida Areias,
Cruzeiro Seixas, Nadir Afonso, Onik, Raul Perez, Rodrigo
Costa, Roberto Chichorro, Rui Manuel Jordão e Teresa
Gonçalves Lobo, que interpretam das mais variadas
maneiras a efeméride que comemoramos este ano, uns com
circunspecção outros com alguma ironia e sarcasmo, mas
todos conscientes do seu significado histórico de mudança.
GUSTAVO FERNANDES NA GALERIA GALVEIAS
Mesmo ao lado da Galeria Paula Cabral, na Rua da Escola
Politécnica, Lisboa, a Galeria Cidi Arte apresenta, por sua
vez, as últimas produções artísticas de Gustavo
Fernandes, desta vez escultura e pintura subordinadas ao
título A Preto e Branco.
Continuando a misturar o seu habitual hiperrealismo
com uma escrita pictórica de cariz surrealizante, este conjunto de trabalhos é enriquecido com um lirismo poético
que tem tanto de encantatório como de mistério servido por
uma técnica a raiar a perfeição formal, com a qual deve ter
mais cuidado pois pode emprestar-lhe uma certa frieza, que
não é muito conveniente para o resultado final. I
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Boavida|Músicas
Da “Porta
do Coração”
de Ricardo Ribeiro
ao inaudito
Charles Aznavour
Com surpreendente pujança, o fado continua a
renovar-se. Ouçamos com toda a atenção o CD
“Porta do Coração”, de Ricardo Ribeiro. De França
chega-nos o não menos estimulante álbum
Charles Aznavour – The Clayton Hamilton Jazz
Orchestra.
fadista, coisa de que nem todos os “fadistas” se podem
gabar… Em “Porta do Coração”, Ricardo canta 15 fados
que, no seu conjunto, acabam por se transformar numa
espécie de tese de licenciatura. Tudo indica que o fadista
vai, agora, a caminho do mestrado.
O ETERNO CHARLES AZNAVOUR
Vítor Ribeiro
a senda da autêntica revolução ocorrida na
última década, no fado de Lisboa, eis que
Ricardo Ribeiro surge com um segundo trabalho discográfico, que consagra definitivamente
o fadista enquanto intérprete de invulgar talento.
Nascido em Lisboa, Ricardo estreou-se aos 12 anos na
Académica da Ajuda e, com pouco mais de 15 anos,
começou a actuar ao lado de mestres como Fernando
Maurício e Adelino dos Santos, percorrendo o circuito de
casas de fado míticas, designadamente “Faia” e “Luso”, no
Bairro Alto e, mais recentemente, “Marquês da Sé” e
“Mesa de Frades”, em Alfama.
Para lá de um primeiro disco publicado em 2004 –
“Ricardo Ribeiro” -, o fadista participou entretanto em
diversos projectos, trabalhando com, entre outros,
João Gil, Rão Kyao, Pedro
Jóia, Rabih Abou-Khalil,
Celeste Rodrigues, Argentina
Santos, Alcindo de
Carvalho...
Ricardo Ribeiro possui
uma voz potente, de timbre
peculiar, estila com sentimento e transmite com
veemência o que lhe vai na
alma, ou seja: Ricardo é um
N
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Aos 86 anos de idade, Charles Aznavour surpreende o
Mundo com o álbum Charles Aznavour – The Clayton
Hamilton Jazz Orchestra, no qual se integram 14 temas e
onde não faltam “clássicos” como “La Bohème”.
Com acentuado pendor jazzístico, conforme a orquestra de Clayton Hamilton, Aznavour interpreta com inesperada jovialidade onze canções a solo e três duetos: dois
com Rachelle Ferrell e um com Dianne Reeves.
Compositor e intérprete histórico da música ligeira
francesa do século XX, Aznavour é hoje o lídimo representante e guardião de uma geração de músicos e cantores
que contou com artistas como Maurice Chevalier, Charles
Trenet, Sacha Distel, Gilbert Bécaud, Yves Montand… O
novo álbum de Aznavour é, acima de tudo, um notável
documento, que melómanos ou simples admiradores não
devem perder. I
KUSTURICA EM LISBOA
Emir Kusturica and the No Smoking Orchestra efectuam um
espectáculo no dia 9 de Junho, no Coliseu de Lisboa, pelas
21h30. A primeira parte do concerto será preenchida com
actuação dos Melech Mechaya.
SLASH NO PORTO E EM LISBOA
Slash, ex-guitarrista dos Guns N’Roses, actua a solo nos dias
22 e 23 de Junho, nos coliseus do Porto e de Lisboa,
respectivamente. No passado mês de Março, o cantor lançou
um primeiro CD – “Slash” – no qual participaram, entre
outros, Iggy Pop e Ozzy Osbourne.
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Boavida|No Palco
O “regresso” do menino Pessoa
Até dia 13 de Junho, regressa ao palco do Teatro da Trindade a peça infanto-juvenil “Havia um menino
que era Pessoa”, baseada nos contos e textos que o autor português escreveu e dedicou aos sobrinhos.
Maria Mesquita
epois do êxito das representações na capital, a
peça viajou pelo Continente e Regiões
Autónomas e, curiosamente, estará em cena
pela última vez, em Lisboa, no dia de aniversário do nascimento de Fernando Pessoa…Dedicado
inteiramente a jovens e crianças, os textos foram escolhidos, a dedo, de entre os poemas que Fernando Pessoa
escreveu para os sobrinhos e, de outros tantos escritos
pelos heterónimos, aos quais
se adiciona uma biografia do
próprio, contada na “1ª pessoa”. O trabalho do único
intérprete (que se transforma
assim no autor) será chamar
a atenção do público mais
juvenil e ir apresentando (ou
representando) a vida e obra
de um dos maiores escritores portugueses, de forma divertida e interactiva. Nesta peça os espectadores são convidados a representarem também as histórias contadas, e irão
também conhecer o mundo em que Pessoa vivia, quais os
acontecimentos políticos, artísticos e técnicos que marcaram uma época na sociedade portuguesa, nas primeiras
décadas do séc. XX.
D
Checoslováquia mas
naturalizado inglês,
ouviu e leu críticas que
punham em causa a
sua capacidade de
escrever peças de teatro
que expressassem sentimentos. Talvez por uma
questão de estética pessoal ou talvez por ser demasiado
tímido para desenvolver assuntos mais íntimos, Stoppard
sentia que a sua “casa” seria num território mais intelectual e argumentativo, sem ultrapassar a fronteira da razão e
lógica. É exactamente com “Agora a sério!”, (“The real
thing”, na versão original datada de 1982) que Stoppard
ganha o devido mediatismo e sucesso tanto na Europa
como Estados Unidos, ao descrever um enredo onde os
fios condutores têm por base a complexidade das relações
humanas.
FICHA TÉCNICA: Título: “Agora a sério!”; Autor: Tom Stoppard;
Tradução e encenação: Pedro Mexia; Cenário: João Mendes
Ribeiro; Figurinos: Dino Alves; Luz: Melim Teixeira;
Interpretação: Afonso Lagarto, Ana Brandão, Diana Costa e
Silva, João Reis, Nuno Casanovas, Pedro Lima, São José
Correia
“O Rei está a morrer”
FICHA TÉCNICA:Título: Havia um menino que era Pessoa;
Autor: Fernando Pessoa (escolha de textos do autor);
Dramaturgia: Cucha Carvalheiro e José Figueiredo Martins;
Encenação: Lucinda Loureiro; Com: José Figueiredo Martins;
Vídeo e Multimédia: Adriano Filipe e Cristina Novo;
Sonoplastia: Adriano Filipe
“Agora a sério!”
e forma a contradizer os críticos que afirmavam que o
autor não sabia escrever peças sobre sentimentos,
Tom Stoppard respondeu-lhes com “Agora a sério!”, um
texto autobiográfico onde se revelam amores e infidelidades, em cena, também até 13 de Junho, no Teatro
Aberto.
Durante anos, o autor Tom Stoppard, nascido na
D
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tragicomédia “O Rei está a morrer” de Eugène Ionesco,
é agora representada pelo Teatro da Comuna, com
encenação de João Mota e a brilhante interpretação de
Carlos Paulo. Para Mota, a facilidade com que Carlos Paulo
se entrega a uma personagem que se debate com a sua fragilidade humana deve-se somente ao facto do actor possuir
“uma vida interior muito grande” claramente referindo-se,
ainda que indirectamente, aos muitos actores e actrizes das
gerações mais recentes que podem possuir a técnica, mas
não a alma necessária... Para ver até 27 Junho.
A
FICHA TÉCNICA: Versão Cénica e Encenação: João Mota;
Tradução: Fernanda de Castro
Interpretação: Carlos Paulo, Tânia Alves, Ana Lúcia Palminha,
Rui Neto, Mia Farr e Alexandre Lopes.
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Boavida|Cinema em casa
Michael Jackson, um ano depois…
Um ano depois do seu trágico desaparecimento, relembramos os últimos dias da vida de Michael
Jackson com o documentário "This is It", dedicado aos fãs e não só. A completar o leque de sugestões
para o início do Verão, apostamos em dois regressos: o da Disney à animação tradicional com "A Princesa
e o Sapo"; e o do realizador independente americano Jim Jarmusch com "Os Limites do Controlo". A
fechar um filme surpreendente " A nova vida do Sr. O' Horten" proveniente da Noruega. Sérgio Alves
THIS IS IT - MICHAEL
A PRINCESA E O SAPO
OS LIMITES DO CONTROLO
A NOVA VIDA
JACKSON
Dos criadores de "A Pequena
Em terras de Espanha, a
DO SENHOR O'HORTEN
Nascido em 1958, MJ, como
Sereia" e "Aladino"surge a
história de um forasteiro,
Maquinista solitário e afável,
carinhosamente era conhecido
bonita história, passada em
homem solitário e misterioso,
mr. O'Horten chega ao dia da
no meio musical, começou a
meados dos anos 1920, em
com actividades á margem da
reforma e sente que os dias
sua carreira aos seis anos com
Nova Orleães, da bela Tiana e
lei. Prestes a finalizar um tra-
futuros não serão animadores.
os irmãos na banda Jackson 5.
de um Príncipe em forma de
balho, ele não confia em
Está tudo preparado para a
Cedo se percebeu
sapo que procura desespe-
ninguém, o seu alvo não é
última viagem aos comandos
que estávamos pe-
radamente voltar a ser
divulgado e o destino é incer-
da locomotiva que conduziu
rante um talento a
humano. Bastará, para tanto,
to. É a viagem, por de terras
quatro décadas…e como é
cantar, a dançar e a
um beijo, facto central de
de Quixote, de um homem
que este engenheiro de 67
actuar. Em 1971,
uma divertida aventura pelos
com uma missão precisa a
anos, bem-disposto, colec-
inicia uma brilhante" carreira
místicos pântanos do
cumprir.
cionador de armas primitivas,
a solo que o viria a consagrar
Louisiana.
Jim Jarmusch, 56 anos, um
como "Rei da Pop", venerado
É o regresso da Disney á ani-
dos cineastas
vai encontrar vida para lá da
por legiões de fãs, vendendo
mação tradicional (manual)
mais estimu-
reforma?
milhões de discos - casos,
pela arte de John Musker e
lantes e cria-
Pese a tradicional discrição e
entre outros, de Thriller", "Off
Ron Clemens com música do
tivos do cine-
frieza nórdicas, esta inspirada
The Wall e "Bad - e actuando
consagrado Randy Newman e
ma indepen-
tragicomédia norueguesa re-
perante milhões de especta-
nomeação para os Óscares
dente norte-
vela-se em momentos diver-
dono de uma cadela rafeira,
dores em todo o Mundo. Os
deste ano nas
americano, dirige com rigor e
tidos como os
derradeiros anos foram assi-
categorias de
talento esta fita de rituais,
do aeroporto de
nalados por sucessivos escân-
melhor filme
códigos de honra e gestos pre-
Oslo, da loja de
dalos que abalaram a triun-
de animação e
cisos.. É um regresso feliz do
tabaco e de um
fante carreira. Morreu, há um
canção do ano.
autor de filmes como "Noite
restaurante de
ano, durante a preparação da
Um musical
na Terra" (1991), "Café e
bairro. "A Nova
tournée " This is it", destinada
marcado, ainda, pelo apareci-
Cigarros" (2003) e "Flores
Vida do Senhor O'Horten",
a contrariar a curva descen-
mento da primeira princesa
Partidas" (2005).
considerada uma das grandes
dente da sua carreira. Este
negra da história da Disney.
TÍTULO ORIGINAL:
documentário é o único regis-
Efeito Obama, certamente…
to dos últimos dias de vida de
TÍTULO ORIGINAL:
MJ, feito a partir de mais de
The Limits of
surpresas de 2009, é uma
Control; REALIZAÇÃO: Jim
história simples, mas
Jarmusch; COM: Isaach de
inteligente, filmada com mes-
and The Frog; REALIZAÇÃO:
Bankolé, Tilda Swinton, Gael
tria, que nos transporta para
100 horas de ensaios onde
Ron Clements e John
Garcia Bernal, Bill Murray,
uma sociedade bem distinta
desfilam temas como Thriller,
Musker; VOZES: Anika Noni
John Hurt; EUA, 116m, cor,
da nossa.
Beat it, Smooth Criminal e
Rose, Bruno Campos, Oprah
2009; EDIÇÃO: Castello Lopes
TÍTULO ORIGINAL:
Man in the Mirror…
Winfrey, Terrence Howard,
Multimédia
REALIZAÇÃO:
TÍTULO ORIGINAL:
REALIZADOR:
This is it;
Kenny Ortega;
Documentário; EUA, 110m,
The Princess
O'Horten;
Bent Hamer;
Baard Owe, Espen
John Goodman; EUA, 97m,
COM:
cor, 2009; EDIÇÃO: Zon
Skjonberg, Ghita Norby,
Lusomundo
Henry Moan, Byorn Floberg;
Cor, 2009; EDIÇÃO: Sony
Noruega, 90m, cor, 2007;
Pictures
EDIÇÃO:
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Alambique
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Boavida|Grande Ecrã
Os Amigos de João
“Um Funeral à Chuva” vem dar um novo fôlego ao cinema português e reafirmar qualidades
estimáveis de um jovem cineasta, Telmo Martins, já com provas dadas na realização
de curtas-metragens, premiadas em diversos festivais.
Joaquim Diabinho
rovavelmente, ninguém em 1995 na Covilhã
suspeitaria que o estudante da universidade
da Beira Interior, inicialmente de engenharia
electomecânica e depois no curso de design e
multimédia, haveria de se prender de amores pelo cinema a tal ponto que, anos mais tarde, tomaria a iniciativa
de fundar com amigos uma empresa de produção na
área do cinema, do audiovisual e do multimédia - a
Lobby Productions. O despoletar dessa paixão dá-se em
2002 com “Karma” (prémio jovem realizador no Festival
de Ovarvídeo), primeira animação em 3D realizada em
Portugal com argumento adaptado de um conto de Rui
Zink. A partir de, “Rupofobia” (2004) - curta de ficção
P
premiada internacionalmente – e, sobretudo, em
“Crosswalk”(2007),que recolhe o grande prémio do
Festival Istock Vídeo Contest no Canadá e o prémio
Festróia-Sapo Vídeos, Telmo Martins pende não apenas
para a novidade dos temas tratados mas também para
uma outra forma eficaz de os narrar, aliada a uma forte
vontade de inovação não isenta de perfeccionismo técnico.
Não surpreenderá, pois, que “Um Funeral à Chuva”
evidencie um cuidado visual e uma capacidade narrativa bem razoáveis que são, como é sabido, “passos” fundamentais para fazer uma história bem contada, direccionada aos interesses e gostos de um público mais
jovem, culturalmente exigente, como parece ser o caso.
Exaltação da amizade, tributo à geração portuguesa
dos anos 80, “Um Funeral...”faz um retrato de grupo (os
amigos que se reencontram dez anos depois no funeral
de um companheiro dos tempos idos da universidade),
oscilando entre a comédia e o drama, nostalgia e consciência do presente, que faz lembrar – pelas semelhanças – o célebre,The Big Chill (“Os Amigos de
Alex”) que Lawrence Kasdan rodou em 83 sobre a
morte das esperanças norte-americanas nascidas na
década de 70.
Rodado sem recursos financeiros nem subsídios (apenas apoios em serviços de cerca de uma trintena de
empresas e autarquias), “Um Funeral à Chuva” é um
exemplo de ousadia e coragem que merece ser, obviamente, apoiado. I
UM FUNERAL À CHUVA
De Telmo Martins (Portugal, 2010)
c/ Alexandre da Silva, Sandra Santos, Hugo Tavares, Pedro
Gorgia, etc.
(estreia prevista: 3 Junho
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Boavida|Tempo informático
Questões de Segurança
Se considerarmos que grande parte da nossa actividade está hoje em dia intimamente relacionada com
os registos gravados em múltiplos sistemas informáticos, que com eles trabalhamos, deles
dependemos e neles estão impressas as diversas etapas pelas quais vamos passando, não restam
dúvidas de que a nossa Vida é Digital.
Gil Montalverne
[email protected]
endo assim, não só nos diversos organismos
sociais como nos registos que pessoalmente
guardamos nos nossos computadores, a segurança é cada vez mais necessária.
Já não bastam os simples backups dos ficheiros do
computador que ainda há alguns anos eram suficientes.
Hoje em dia eles têm de ser mais sofisticados e se possível
em vários suportes porque um deles pode avariar e tudo se
perderá. Para tal existem CDs, DVDs e discos externos.
Temos ainda que contar com os ataques maliciosos que
nos chegam pela Internet, os cuidados a ter com dados
pessoais, passwords, sites que não devem ser consultados
por menores. Foi para resolver esta
situação que aparece o Kaspersky
PURE, uma nova aplicação de segurança, de facto pura, pois foi pensada
para abranger a quase totalidade destes
problemas com que nos deparamos
nos nossos computadores, hoje em dia
numa rede familiar ou mesmo num
escritório. Portanto numa única aplicação válida para 3 PCs reside a protecção da nossa Vida Digital:
Antivírus, Firewall, protecção de identidades, controlo parental, encriptação de dados, cópias de
segurança e restauro, enfim uma segurança de todos os
nossos activos digitais. (PVP: 89.95 E)
S
É DE TAL MODO importante o que hoje temos nos nossos
computadores domésticos que se intensificou ultimamente
o uso para redes pessoais de sistemas de backup semelhantes aos de há muito utilizados pelas empresas. São os
chamados NAS ou servidores para armazenamento de
dados que nessas empresas possuem vários discos rígidos
de grande capacidade, chegando nalguns casos a várias
dezenas, com a particularidade de os dados importantes
serem gravados portanto em mais de um disco para a
eventualidade de algum se avariar, o que é de imediato
assinalado. Pois estão já no mercado várias marcas que
possuem dois discos de idêntica capacidade ou caixas
68
TempoLivre
| JUN 2010
preparadas para serem instaladas as unidades à nossa
escolha. A configuração é muito fácil de fazer, utilizando
para este efeito o chamado RAID 1 que corresponde a um
disco possuir um backup e outro uma cópia exactamente
igual, sendo que no nosso computador nos aparece apenas uma letra de um disco e é para esse que fazemos o
backup. Dos vários modelos achámos interessante um da
Iomega (Iomega StorCenter ix2) de 1 Terabyte, constituído
por dois discos de 500 Gigas mas com a vantagem de
poderem ser facilmente substituídos por outros 2 de
maior capacidade que são introduzidos pela parte traseira
da unidade. Funciona ligado ao PC ou a um router de
uma rede caseira. (PVP: 119 E)
AS CAIXAS que existem no mercado são mais económicas
mas existe o valor acrescido dos dois discos rígidos que é
necessário instalar para que depois se faça a devida configuração de backup em Raid 1. A Verbatim também apresenta este mês uma unidade DataBank Storage, de que
não se conhece o preço, mas que igualmente vai permitir
a encriptação dos dados para lhes conferir uma maior
segurança. I
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Boavida|Saúde
O que pode fazer pela sua Saúde
As doenças que hoje atormentam as populações dos países desenvolvidos, e que são também as
principais causas de morte, como o AVC (acidente vascular-cerebral) e o cancro, têm muito mais a ver
com as escolhas individuais de cada um do alguma vez tiveram.
M. Augusta Drago
medicofamí[email protected]
medicina faz o seu papel, previne e trata a maior
parte das infecções. Trata as doenças quando
elas se manifestam e as que já estão instaladas,
umas com mais sucesso do que outras, faz a prevenção secundária das doenças do coração e dos outros
órgão vitais, mas a saúde é mais do que a ausência de
doença, é definitivamente uma opção.
Existem centros de investigação médica, nomeadamente nos EUA e no Canadá, de idoneidade e reputação
inquestionável, que nos orientam sobre as medidas a
tomar para evitar ou adiar alguma dessas doenças.
As medidas preconizadas são conhecidas do grande
público. Parecem até simples de pôr em prática e não se
percebe, até certo ponto, porque não são levadas a sério.
Nunca é de mais reiterar a importância, para a saúde,
de ter um estilo de vida condizente com necessidades
individuais de cada pessoa.
Assim, parece que todas essas
instituições internacionais estão
de acordo em recomendar estas
seis medidas básicas para as
pessoas adultas e saudáveis:
- Não consumir produtos
com tabaco.
- Manter o peso corporal
equilibrado com a altura, a
idade e as actividades que
desempenha. É consensual
recomendar a ingestão diária de
cinco refeições com frutas e vegetais, cerca de 25 gr de fibra e
menos de 30% das calorias com
origem em gorduras.
- Exercício físico pelo menos
três vezes por semana
- Evitar a exposição ao sol
- Evitar o consumo excessivo
de álcool
- Praticar sexo seguro, usar
preservativos
A
70
TempoLivre
| JUN 2010
Em relação a doenças específicas, e se na história
familiar existir alguma doença grave, é aconselhável falar
com o seu médico para saber se deve ter alguns cuidados
especiais.
Em relação à vigilância a ter com alguns cancros mais
frequentes na população em geral, sem queixas nem factores de risco, nomeadamente o cancro da próstata, é conveniente a vigilância a partir dos 50 anos.
Para o cancro do cólon, as recomendações vão no sentido de iniciar a vigilância também por volta dos 50 anos,
fazendo a pesquisa de sangue oculto nas fezes e, se houver justificação, com sigmoidoscopia de 5 em 5 anos ou
colonoscopia de 10 em 10 anos.
Em relação ao cancro do colo do útero, a vigilância
deve começar dois anos após o início da vida sexual activa, ou aos 21 anos, repetir a observação anualmente e o
Papanicolau também anualmente ou de 2 em 2 anos.
Já para o cancro da mama verificou-se que o autoexame não é recomendável e a
vigilância deve iniciar-se aos 40
anos, com mamografia anual ou
de 2 em 2 anos até aos 75 anos.
Chamo ainda a atenção para os
sinais de alarme para eventual
cancro e que devem levar a
procurar o médico o mais rapidamente possível:
- Alteração dos hábitos intestinais ou urinários
- Uma ferida que não cicatriza
- Hemorragia ou perda de
sangue sem justificação
- Um nódulo que se palpa na
mama ou noutro local
- Indigestão crónica ou dificuldade em engolir
- Alterações visíveis num sinal
- Tosse persistente ou
rouquidão
Estas são algumas recomendações em que gostaria que pensasse um pouco.I
ANDRÉ LETRIA
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Boavida|Palavras da Lei
Depósito
de Jóias
?
Uma amiga minha vai fazer uma
longa viagem e tem muitas jóias e
objectos preciosos em casa. Não tem
filhos, tem família próxima, mas não
confia neles. Alguns familiares
ofereceram-se para guardarem as jóias
e os bens preciosos. Ela pediu-me para
lhe guardar estes bens. Gostava de
saber quais as minhas
responsabilidades e como me poderei
proteger, se aceitar guardar-lhe os bens,
e no caso de haver algum familiar que
me intime a entregar algum bem.
Sócia devidamente identificada – Vila
do Conde
Pedro Baptista-Bastos
bom termos a confiança de pessoas amigas nestas situações, mas ainda é melhor se soubermos
honrar a confiança que nos é dada; o nosso
Código Civil dispõe, nos seus artigos 1185º a
1206º, as normas que regulam o chamado Contrato de
Depósito. Este contrato define-se como sendo aquele “pelo
qual uma das partes entrega à outra uma coisa, móvel ou
imóvel, para que a guarde, e a restitua quando for exigida”
– art. 1185º do Código Civil.
Chama-se de depositante quem entrega a coisa e
depositário quem a guarda.
Se aceitar guardar os bens, será útil fazerem um documento onde se discriminem que bens se guardam, e a
obrigatoriedade de restituição, aquando da volta da sua
amiga. Este documento pode ser reconhecido notarialmente, e serve como um primeiro meio de defesa da
depositária; neste sentido, atente-se ao artigo 1187º, al. b)
do C. Civil, que nos diz que a depositária “deve avisar
imediatamente a depositante, quando saiba que algum
É
perigo ameaça a coisa ou que terceiro se arroga direitos
em relação a ela, desde que o facto seja desconhecido do
depositante.” Logo, se algum familiar pretender ficar com
os bens que aceitou guardar, avise imediatamente a sua
amiga. Por outro lado, pode depositar os bens numa instituição bancária até ao regresso da sua amiga, sendo as
despesas desse depósito pagas pela sua amiga, de acordo
com o artigo 1196º.
Se algum familiar continuar a incomodá-la e pedir a
devolução das jóias, pode guardar as jóias de um modo
diverso do convencionado, quando haja razões para supor
que a depositante aprovaria a alteração e soubesse as
insistências dos seus familiares para que lhes entregassem
as jóias, de acordo com o art. 1190º do C. Civil, devendo,
porém, avisá-la da mudança que teve que fazer.
Se algum familiar tiver a infeliz ideia de recorrer à força,
pode defender-se da tentativa de esbulho do que guardar,
ou chamando a Polícia, ou recorrendo, em último caso, à
força, se possível – arts. 1188º, n.º 2 e 1277º do C. Civil.
Elabore o documento, guarde os bens num Banco, e a
sua amiga que faça a sua viagem descansada.I
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ClubeTempoLivre > Cartaz
BRAGANÇA
PORTO
Cult. Desportiva e Recreativa
do Rancho Folclórico da
Feira Medieval
Btt
Dia 12 às 9h - 19ª
Pintura: Até ao dia 30 das 9
Ribeira em Lugar da Igreja,
Dia 15 - XCO – Vila Flor, em
Reconstituição da Feira
às 18h - Exposição de Pintura
São João da Ribeira, com os
Vila Flor, org. Associação de
Medieval de Coimbra, Sé
dos Alunos da Academia
grupos da Portela – Correlhã,
Ciclismo.
Velha em Coimbra.
Jorge de Sena, no Auditório
Musical “Entardecer” e
A mais emblemática feira
da Agência Inatel
Tocata Regional da Assoc.
Social Cult. e Desp. da Casa
Passeio Equestre
medieval do pais, abre
Dia 20 - Passeio Equestre em
portas com Missa com
Pesca
Babe, org. Associação
canto gregoriano, seguida
Dia 19 – prova de pesca
Cultural e Recreativa de
de Bênção, leitura da
desportiva de Rio/Águas
Babe
Carta de Feira e vasta
Interiores em Cavez.
animação com teatro,
do Povo de Mazarefes.
VILA REAL
Musica: Dia 20 às 15h30 -
dança, acrobatas,
Atletismo
espectáculo musical em São
malabaristas, ilusionistas
Dia 27 - 5ª edição do Ultra
Martinho de Anta, pela
Filarmónicas
e as tradicionais tendas
Trail da Serra da Freita, pelo
Associação “Mar de Pedra”
Dia 19 às 22h - Encontro
com venda de produtos
Grupo Desportivo 4
de Vila Real.
Inter-Concelhio de
regionais.
Caminhos e Confraria
COIMBRA
Trotamontes, mais
Filarmónicas comemorativo
dos 75º Aniversário da
Cursos: Iniciação à Pintura -
informações em
INATEL 75 anos
INATEL, na Praça do
sábados das 15h às 19h,
http://www.confraria-
Dia 20 às 11horas – Bandas
Comércio, em Coimbra, com
informações na Agências
trotamontes.com/utsf/
filarmónicas interpretam o
filarmónicas União
Inatel; Música - aulas
Taveirense, Phylarmonica
diurnas (segundas, quartas e
Colóquio
em uníssono em Portalegre,
Ançanense e Sociedade
sextas-feiras) e nocturnas
Dia 18 - colóquio sobre
Évora, Beja e Faro. Integram a
Musical Recreativa
(terças e quintas-feiras),
Marchas integrado no
iniciativa as bandas:
Instrutiva Beneficente
informações na Agência
Programa Nacional AGITA
Portalegre - Soc. Musical
Santanense.
Inatel.
em Macieira da Lixa, org.
Euterpe, Filarmónica do
Rancho Folclórico de
Crato, Associação Cult.
Macieira da Lixa.
Recreio Musical 1º de
Hino Nacional “A Portuguesa”
Folclore
Pedestrianismo
Dia 10 às 22h – Serenata
Dia 10 – Caminhada a Volta
Futrica pelo Grupo Folclórico
do Mondego, apoio CCD do
Xadrez
Musical Alegretense; Évora -
da Casa do Pessoal da Univ.
Casal da Misarela.
Dia 26 - Encerramento do XIV
Casa do Povo N.Sr.ª Mache-
Torneio Aberto de Xadrez
de, Soc. Antiga Filarmónica
AXA/EDP no Aproveitamento
Montemorense “Carlista”,
Hidroeléctrico de Caniçada,
Soc. União Alcaçovense e
Serra do Gerês.
Associação Filarmónica 24 de
de Coimbra, na Praça 8 de
Maio, em Coimbra; dias 19 e
GUARDA
26 às 21h30 – fogueiras de S.
João pelo Grupo Folclórico
Passeios Culturais
de Coimbra no Lgo Marquês
Dia 12 - Passeio a Mérida;
de Pombal, em Coimbra.
dia 19 - Passeio às Judiarias
Dezembro e Soc. Recr.
Junho; Beja - Soc.
VIANA DO CASTELO
do distrito da Guarda; dia 26
Filarmónica Capricho
Bejense, Soc. Musical de
Teatro
- Passeio a Leiria, Batalha e
Teatro
Instrução e Recreio Aljustre-
Dia 4 às 21h30 - comédia
Aljubarrota, mais
Dia 11 às 21h30 - Serão de
lense, Soc. Filarmónica de
“Henrique V” pelo grupo
informações na Agência
Teatro – “O Rosquedo” na
Serpa e Soc. Filarmónica Re-
Loucomotiva na sede da
Inatel.
Associação Cultural e
creativa de Ferreira do Alen-
Recreativa de Arcozelo, em
tejo; Faro - Associação Filar-
Ribeira – Ponte de Lima
mónica de Faro, Soc. Filar-
Troupe Recreativa Brenhense
em Brenha; dia 19 às 17h –
Concertinas
peça “A face do caos” (teatro
Dia 20 às 14h - Encontros de
de rua) pelo Grupo “Curral da
Tocadores de Concertinas no
Folclore
Loulé, Filarmónica 1º de
Mula” no Mercado da Rua do
Lgo do Município, em
Dia 12 às 21h30 - XXIV
Dezembro de Moncarapacho.
Quebra Costa, em Coimbra.
Almeida.
Ribeiríadas na Associação
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mónica Artistas de Minerva –
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ClubeTempoLivre > Novos livros
BOOKSMILE
campeões e 204 nações
Apesar de estar noivo da
que ocupa lugar de honra no
tentarem qualificar-se no
filha de uma das famílias da
Panteão Nacional de França.
mundial. Conheça a história
elite istambulense, Kemal
do Mundial e dos seus
não esquece
OS FILÓSOFOS NO DIVÃ
protagonistas e saiba tudo
a sua paixão
Quando Freud se Encontra
sobre as selecções que vão
e colecciona
com Platão, Kant e Sartre
pisar os relvados em África
objectos
do Sul.
pessoais da
Charles Pépin
264 pg. | 21,50 (PVP)
amada que
Quando Platão, Kant e Sartre
são,
EDITORIAL PRESENÇA
simultaneamente, um fetiche
e a memória dos locais onde
MUNDIAL FIFA ÁFRICA DO
AS VIRGENS DE VIVALDI
estiveram juntos. Com o
Barbara Quick
272 pg. |16,50 (PVP)
tempo a compulsão do
coleccionador dá origem a
SUL 2010: GUIA OFICIAL
A obra leva-
um verdadeiro museu que
JÚNIOR
nos à Veneza
permite explorar a história e
Gavin Newsham
64 pg. | 11,99 (PVP)
barroca de
cultura de Istambul e a sua
setecentos,
emergente modernidade.
Um Guia Oficial Júnior com
la
selo da FIFA, ilustrado com
Sereníssima,
mais de 100 fotos, que faz a
num fresco
EUROPA-AMÉRICA
antevisão do Mundial de
luminoso e negro de uma
RENOIR
(imortais) se deitam no divã
futebol e traça o perfil das
sociedade marcada pela
de Freud o resultado é
equipas que participam no
festividade exuberante e pelo
Pascal Bonafoux
272 pg | 22 (PVP)
evento. Dá, ainda, a
peso castrador de uma
Renoir, filho de alfaiates,
O autor veste a pele destes
conhecer a mascote oficial
mentalidade arreigadamente
cresceu a dois passos do
filósofos e guia-nos numa
(Zakumi), os 10 estádio e
puritana. Através do olhar de
Museu do Louvre (Paris). Aos
viagem apaixonante, lúdica e
dezenas de outras
Anna Maria - uma jovem
13 anos,
romanesca, ao coração da
curiosidades. Inclui
acolhida pelo Ospedale della
como
História do Pensamento
calendário oficial dos jogos
Pietà, virtuosa do violino e
ceramista, já
Ocidental. As opiniões dos
para preencher ao longo da
aluna predilecta de Vivaldi -
pintava reis
filósofos são abordadas de
competição.
podemos observar esse
e rainhas
acordo com as convicções
impressionante!
fresco e conhecer a sua
inspirado em
de cada um - o idealismo de
OS GRANDES DO MUNDIAL
fascinante história de vida, o
cenários de
Platão, a lei do dever de Kant
DE FUTEBOL
quotidiano de Ospedale, as
Lancret, de Boucher e de
e a forma como Sartre
John Stroud
168 pg. | 29,99 (PVP)
intrigas da Veneza do século
outros pintores que
olhava os outros.
XVIII e parte do legado
conheceu no Louvre.
Não há competição
musical e vida de Vivaldi.
Influenciado pelos
2012 – EXTINÇÃO OU
impressionistas (Monet,
UTOPIA
desportiva no mundo que
desperte tantas emoções
O MUSEU DA INOCÊNCIA
Cézanne e outros) e contra
As Profecias do Juízo Final
como o Mundial de Futebol.
Orhan Pamuk
652 pg. | 23,50 (PVP)
todas as expectativas muda
Allan J. Danelk
234 pg. |18,50 (PVP)
A história decorre em
mudança que lhe custou a
O autor
Istambul, em finais do século
incompreensão das pessoas,
escrutina
foram
passado, e relata a paixão
mas não o impediu de
2012, a data
anfitriãs do
obsessiva de Kemal, herdeiro
continuar, resistindo até à
que marca
evento, sete
de uma família rica, por uma
doença reumática que lhe
o fim do
parente de um meio social
deformava o corpo.
Calendário
menos favorecido.
Uma biografia de um pintor
Maia, e
Em oitenta anos de
existência,
quinze nações
países
reinarem como
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| JUN 2010
de estilo em 1880. Uma
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tenta descobrir qual o seu
chapéu de chuva e tantas
significado.
outras pequenas coisas que
Através da análise das
fazem parte do nosso
inúmeras profecias sobre o
quotidiano e que sempre nos
fim do mundo, entre elas as
disseram que não têm
de Nostradamus e Edgar
arranjo.
Cayce, Allan explora as
ameaças apocalípticas que
COMO TRATAR
prendem a nossa atenção e
DA SUA HORTA
revelam o seu conhecimento
Louis Giordano e Daniel
sobre que futuro - medonho
Puiboube
152 pg. | 16,50 (PVP)
ou esplendoroso - está
traçado para a Humanidade.
práticas essenciais para o
Prático e essencial para
pragas.
seu dia-a-dia, este guia
manter o seu cantinho
Ideal para quem se preocupa
SE ESTÁ AVARIADO PONHA-
ensina a remover manchas
biológico, este guia dá a
com a qualidade dos
O A FUNCIONAR
negras de frigideiras, a
conhecer os legumes de A a
alimentos e pretende poupar
Como arranjar as coisas do
reparar um leitor de CD, a
Z, as propriedades
dinheiro com uma
dia-a-dia
recuperar uma camisola que
do solo e sementes
alimentação mais saudável
Nick Harper
198 pg. | 12,36 (PVP)
encolheu com a lavagem, a
e a forma adequada de
para toda a família.
recuperar a alça de uma
preparar a terra, plantar e
Com inúmeras soluções
mala, a consertar um
manter uma horta livre de
Glória Lambelho
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ClubeTempoLivre > Cupões
NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2010
DESCONTO
Este cupão só é válido na compra
de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
Clube TempoLivre
2,74
Euros
VALIDADE
31de Dezembro/2010
DESCONTO
Este cupão só é válido na compra
de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
Clube TempoLivre
DESCONTO
Este cupão só é válido na compra
de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
Clube TempoLivre
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Euros
VALIDADE
31de Dezembro/2010
2,74
Euros
VALIDADE
31de Dezembro/2010
DESCONTO
Este cupão só é válido na compra
de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
Clube TempoLivre
2,74
Euros
VALIDADE
31de Dezembro/2010
Remeter para
Fundação INATEL –
Clube Tempo Livre
(Livros), Calçada de
Sant’Ana nº 180 –
1169-062 Lisboa, o
seguinte:
G Pedido, referenciando a editora e o título
da obra pretendida;
G Cheque ou Vale dos
Correios, correspondente ao valor (PVP)
do livro, deduzindo
2,74 euros de desconto
do cupão.
G Portes dos Correios
referente ao envio da
encomenda, com
excepção do
estrangeiro, serão
suportados pelo Clube
Tempo Livre. Em caso
de devolução da
encomenda, os custos
de reenvio deverão ser
suportados pelo
associado.
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O Tempo e as palavras
M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o
De Pivô a Cardeal
Que alfabeto /tem em conta / as nossas claridades como as nossas sombras / Que linguagem / polida pelos nossos
nadas / aumenta o sopro / Que desejo / se torna cadências /imagens metamorfoses / Que grito / se ramifica / para
regressar algures / Que poema / frutifica / para se dizer de outro modo?
Andrée Chedid, “Quel alphabet…”, in: Rythmes, Ed. Gallimard, Paris, 2002 Trad. do francês: MAVF
V
este batina de um negro de luto, apenas aliviado
pelo branco do tradicional colarinho romano e
tem o rosto de traços grosseiros de um daqueles
anõezinhos tiroleses que, com sapinhos, burrinhos e outras figuras de gesso, povoam os relvados de certos jardins privados dos subúrbios da cidade. Alquebrado,
os cabelos brancos em desalinho, mantém, perante o entrevistador de uma TV alemã, a atitude do acusado perante o
juiz que sabe que irá condená-lo. Exprime-se em alemão:
frases curtas, separadas por longos silêncios que preenche
com um sorriso surpreendentemente tímido, quase infantil, de menino que pede desculpa sem saber bem de quê.
- “Ele” dizia que queria ser cardeal!
Fala baixinho. Sorri.
“Ele” é o irmão com quem não se parece, é o Papa que,
há longos meses no centro do furacão das desencontradas
opiniões mundiais, está agora, em peregrino, nesta “nobre
e dilecta Nação”, a que a sua presença traz uma súbita
opulência perdulária e que, à guisa de desagravo, se cobre
de ouro, se lava em água perfumada e esquece os seus
problemas, para o receber condignamente. É claro que
somos um povo de fidalgos, particularmente caprichoso na
arte da representação. Afinal, como diz o historiador
francês Roger Chartier, “as lutas de representação são tão
importantes como as lutas económicas”. Sabiam disso os
nossos reis D. Manuel I e D. João V, para citar apenas dois,
cujas embaixadas enviadas, respectivamente, aos Papas
Leão X e Clemente XI, deixaram a Europa mergulhada no
mais profundo assombro e os cofres públicos
depauperados.
Não obstante, nem sempre as relações dos nossos reis
com a Santa Sé foram as melhores. Se o jovem Ratzinger
quer ser cardeal, dois séculos mais cedo D. João V quer
que a Santa Sé conceda o barrete cardinalício ao seu
Núncio em Lisboa. Perante a recusa de Roma, o rei
decreta, em 1728, a expulsão do país dos representantes
papais. As relações económicas, altamente vantajosas
para Bento XIV, só são reatadas em 1748, quando o Papa
concede ao rei o título de “Fidelíssimo”, para acrescentar
aos seus cognomes de Magnânimo, Magnífico, Rei-Sol
Português e … Freirático.
Do ponto de vista linguístico, CARDEAL tem origem
modesta: o termo latino CARDO, com a sua raiz CARDIN-,
significando eixo, pivô e, por extensão, “eixo sobre o qual o
Universo gira em volta da Terra” (sic!); cada um dos quatro
pontos cardeais e cada uma das viragens das estações do
ano: os solstícios e equinócios. Como adjectivo, o derivado
CARDINALIS passa a significar “que serve como eixo,
como pivô”.
No latim medieval, CARDINALIS adquire o sentido de
chefe, principal, e é usado pela Igreja como título de
sacerdotes importantes (PRESBITERI CARDINALES) e
diáconos (DIACONI CARDINALES) de igrejas de prestígio.
Tendo o Papa conferido esse título a sete bispos (EPISCOPI
CARDINALES) de dioceses das imediações de Roma, estes
associam-se e constituem o Sacro Colégio de Cardeais,
collegium a que, em 1179, é concedido o privilégio
exclusivo de eleger os pontífices.
No Séc. IV, Santo Ambrósio chama também virtudes
cardinais (VIRTUTES CARDINALES) às quatro virtudes
morais - justiça, temperança, fortaleza e prudência -, em
torno das quais giram todas as outras. Nos finais do Séc. IV,
surgem os CARDINALES VENTI, ventos cardeais, e no Séc.
VI, os CARDINALES NUMERI, números cardinais. No
princípio do Séc. XII, o comodismo do falante, factor
importante nas mutações linguísticas, simplifica as formas
diáconos, padres e bispos cardeais, que passam a ter a
designação de Cardeais.
Por último, não podia deixar de fazer referência ao
“Cardeal Diabo”, uma espécie de advogado de acusação,
cuja função, no Vaticano, é dificultar a canonização de
qualquer candidato que não seja verdadeiramente santo, e
na sociedade laica - porque também aí são necessários -,
ajudar, através da dialéctica e sem recurso à forquilha, o
interlocutor a encontrar o bom caminho. Uma tarefa,
dizem, feita por medida para qualquer mulher de bem. I
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Os contos do
Jantar de Cerimónia
D
ora assoma à porta da cozinha e lembra ao marido:
– E o vinho, Alberto? Não vamos pôr na mesa
aquele ordinário que bebes cá em casa.
– Ordinário? – discorda Alberto. – Digamos que é um
vinho razoável, mas descansa: já comprei quatro garrafas de
um tinto de luxo. Talvez ajude o Comendador Policarpo a
financiar o teu negócio.
– Ainda bem que compreendes – diz Dora, mas acrescenta: – Pena é que os outros vão beber também desse vinho
caro. Que percebe de vinhos o casal Sousa de Sousa? Zero.
E a horrorosa dona Dionísia de Savel, que raramente nos
convida para os jantares em casa dela?
– Jantares que nunca são às sextas – lembra Alberto.
– Por isso escolhemos nós esta sexta-feira. E, afinal, para
trazermos o Comendador, convidámos a própria bruxa
Dionísia e os habituais convidados dela. Incluindo o frenético Almiro e o Bruno Penavelho. Mas, a Telma? Não convidaste a tua sobrinha?
– Desta vez, não. Era capaz de me aparecer com o namorado a reboque.
Recostado no sofá, Alberto deita contas à vida. Agradalhe organizar em casa um jantar ao nível dos que a ricaça
Dionísia Savel promove na mansão dela mas talvez Dora
tenha exagerado. Ele são mariscos sortidos, tábua de queijos finos, paio e presunto pata negra, tostinhas barradas de
caviar, perdizes estufadas – o senhor Comendador adora
caça –, frutas, pastelaria requintada. Ao fim e ao cabo com
o único objectivo de agradar ao Comendador Policarpo de
Rosário e, depois, convencê-lo a financiar o projecto do
Salão de Chá.
– Já são sete horas e ainda não tratei de me arranjar –
alarma-se Dora. – Querido, encarrega-te tu de pôr a mesa. A
toalha de linho está na arca e sabes onde guardo as louças e
os copos para as grandes ocasiões.
– Não me lembro de nenhuma outra grande ocasião. Mas
hoje, caramba, é mais que um jantar, temos aqui um banquete. Vai, vai lá.
– Sim, quero aparecer linda, o Comendador há-de
lançar-me piropos.
– Não apenas piropos, já reparei que esse caramelo te
devora com os olhos.
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– E tem mal, querido? O que é importante é ele entrar
com o papel para o Salão de Chá. Mas tenho de ir, nem me
reconheces quando eu voltar.
Um toque na campainha sobressalta o casal.
– Já? Ainda não são oito e meia.
– Queres ver que é aquela bruxa Dionísia, com a
intenção de nos apanhar ainda incapazes de receber?
Alberto vai abrir. Afinal é uma lourita a propagandear as
vantagens de um novo serviço de comunicações.
– Temos tudo, estamos servidos - despacha-a o dono da
casa, apressando-se a fechar a porta.
Aceleram os preparativos. Às oito e meia em ponto estão
aptos a receber os convivas mais exigentes. Dora elegantíssima no vestido de seda cor de creme, os cabelos louros
numa rebeldia controlada, a maquilhagem perfeita. Alberto
escanhoado e exalando odor a água de colónia, estreia o
pulôver que a mãe lhe ofereceu pelo Natal; a mesa decorada com pétalas de flores entre os pratinhos dos aperitivos.
Agora esperavam no sofá, um pouco ansiosos mas felizes.
– Que horas são?
– Quase nove. Mas também não seria de esperar que chegassem à hora. Gente fina faz-se esperar.
Fixam a atenção na televisão. É um programa musical e
Dora lembra-se:
– É verdade, música! Música ambiente, menino, é indispensável. Põe lá.
– O marido encarrega-se do assunto e ela repara que são
nove e um quarto. Não devem tardar. E talvez tenham combinado vir todos juntos.
O tempo parece correr demasiado rápido, dez da noite
e ninguém. Dora mastiga um rissol para disfarçar a fome
mas não disfarça a estranheza. A mesa posta espera, espera.
– Nem um telefonema a justificar o atraso? – irrita-se
Alberto. O melhor será ligarmos nós a saber o que se passa.
– Nunca! – reage Dora. – Haviam de pensar que estamos
impacientes pela chegada deles.
– Pois estamos. Imagina que resolveram ir a outro lado.
– Seria o cúmulo da incorrecção e pelo menos o meu
adorado Comendador é um cavalheiro. Todos confirmaram
a presença e se escolhemos o dia de hoje foi já consideran-
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do que a estuporada Dionísia nunca recebe às sextas-feiras
em casa dela.
Alberto passeia-se de uma ponta á outra da sala. A
maquilhagem de Dora não impede que se vá formando uma
ruga.
Outra vez a campainha da porta. Alvoroço.
– Finalmente! - Exclamam em coro.
Ainda não. É a jovem Telma que olha a tia com estupefacção:
– Uau! Estás o máximo! Vão sair?
Dora encaminha-a para a saleta. Não quer que a sobrinha
veja o estendal de iguarias desprezadas. Mas diz:
– Esperamos uns amigos. Esqueci-me de te convidar,
desculpa, passou-me.
– E eu estive ocupada -diz Telma. - Fui jantar a casa da
dona Dionísia mas saí antes da sobremesa. Estão lá os do
costume: o Comendador Policarpo, os Sousa de Sousa, o
Almiro, o Bruno Pinhalvelho, os Cachaço e Costa, enfim, o
grupo.
Dora e Alberto entreolharam-se, fulminados.
– Fica aí um momento, Telma – diz Alberto arrastando a
mulher para a sala.
– Ouviste o que eu ouvi? Aquela jibóia, que aceitou o
nosso convite e nunca recebe à sexta, decidiu roubar a
nossa festa?
– Incrível, incrível – choraminga Dora. – Que humilhação, Alberto.
– E a despesa, Dora? É melhor nem fazermos contas.
Bem, mas isto não fica assim.
– Não fica como? Que podes tu fazer?
– Vou tramar a festa deles. Onde está o meu telemóvel?
Aqui. Deixa ver. Número incógnito, é isto mesmo. Um
lenço. Pode ser um guardanapo, para enrolar o aparelho e
alterar a voz.
– Mas estás a ligar a quem? À bruxa?
– Não. A primeira vai para o Comendador. Silêncio,
Dora. - Está lá? É o senhor Comendador Policarpo do
Rosário? Ainda bem que o apanho. Falo dos bombeiros, o
seu escritório na Rua das Acácias está a arder. Venha imediatamente. Já está a caminho? Óptimo!
– Tu és doido, querido - diz Dora sufocando o riso.
– Mias do que julgas. Agora vamos aos Sousa de Sousa.
Cala-te, estou a ligar. – É a senhora Sousa de Sousa? Fala a
Polícia. Tocámos à sua porta e ninguém atende. Supomos
que um assaltante se refugiou lá dentro. Vem já? Esperamos
antes de arrombar a porta.
– Vês Dora? Outros que largam o jantarinho.
– Que loucura Alberto! A quem estás a ligar agora?
– Ao Almiro Rotílio. Pchiu! Senhor Almiro? Está em
casa? Ah, não está em casa. Se estivesse já teria a água pelos
artelhos. Pois, inundação, rebentaram os canos. Exacto,
deve vir sem demora.
– Outro, Dora. Estou a gostar disto.
– Chega, chega, já não posso rir mais.
– Só mais uma, a bruxa que jurava não receber em casa
às sextas, ficou sem os convidados. Mas há mais. Pchiu! Dona Dionísia Savel. Fala o Comandante da
Brigada de Trânsito. O seu motorista enfiou com o carro
pela montra de uma boutique, há roupa íntima de senhora a voar na rua. Venha depressa. Ele não está ferido mas
tem vergonha de falar. Avenida da República. Dez minutos? Pode ser.
Da saleta vem, apressada, a jovem Telma:
– Tia, tio, o que se passa? As vossas gargalhadas devem
ouvir-se no prédio todo.
– O que sucede – diz Dora – é que rebentámos com a
festa da víbora. Traidora, tem um jantar à sexta, sabendo
que hoje era a nossa noite.
Telma estende um silêncio pensativo e, por fim, exclama:
– Mas hoje é quinta! É quinta, tia!
O silêncio torna-se mais longo até Alberto e Dora saírem
do pasmo:
– É quinta?
– Pois, é quinta-feira.
–Dora e Alberto têm as mãos nas cabeças e não conseguem articular palavra. Animam-se, quando Telma observa:
– Calma. Tudo para o frigorífico, a comida não vai estragar-se por esperar um dia.
De súbito, como uma intromissão, soa a campainha do
telefone.
Alberto levanta o auscultador e, acto contínuo, empertiga-se:
– Senhor Comendador? Que surpresa! Como está
vocelência?
Em tom de sussurro, Dora pede:
– Põe em alta voz, quero ouvir.
Alberto obedece e o vozeirão do Comendador enche a
sala:
– Como estou? Irritado. Calcule que um estupor engraçadinho me fez correr para o escritório com a peta de que
havia fogo. Mas o meu telefonema é para pedir desculpa por
faltar amanhã ao vosso jantar. Amanhã é sexta-feira, sabe? E
às sextas eu vou para a caça. Adoro caça.I
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Crónica
O sumo das tias
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A
s minhas tias nunca tocaram em
álcool. A Tia Vitória, porque não lhe
saía da cabeça a imagem do pai a
entrar em casa aos trambolhões
todas as noites, e a voz da mãe gritando “o vício
do álcool há-de dar cabo de ti, homem!”- como
deu.
A Tia Florência, porque sempre ouvira dizer
que bastava um copinho de vinho à refeição para
uma pessoa poder morrer de cirrose.
E a Tia Clara, porque não e acabou-se.
Morreram as três muito virtuosas, muito abstémias, muito saudáveis e muito velhas.
Deixaram de respirar, foi tudo.
Dava gosto olhar para as três, sentadas todas
as noites muito direitas, nas cadeiras de espaldar
alto da sala de jantar, e ouvi-las murmurar:
- Que Deus nos conserve sempre afastadas do
terrível vício do álcool!
- enquanto lentamente, gostosamente, se deixavam levar pelo prazer único dos pequenos
goles de Licor Beirão, depois do jantar.
Se, por acaso, alguém deixava acabar a garrafa
sem haver logo outra pronta a entrar ao serviço,
uma ginjinha também servia. Porque - como
muito bem explicava a Tia Florência, “ginjinha é
fruta, e fruta é das coisas mais saudáveis para o
nosso organismo.” (Nunca sequer lhe deve ter passado pela cabeça que ”uva” também era fruta…)
Tanto a ginjinha como o Licor Beirão eram
regularmente fornecidos por um amigo do meu
tio Ernesto, com armazém de venda ali ao Largo
das Portas do Sol, junto ao Miradouro de Santa
Luzia. No lote vinham também garrafas de capilé
e salsaparrilha, para as quais elas olhavam desdenhosamente, colocando-as depois na prateleira
mais alta da despensa, onde lentamente apodreciam.
Faziam muito mal ao estômago, garantiam as
três.
Por isso, quando eu era criança, sempre me
lembro de ouvir chamar ao licor “o sumo das
tias”.
Para mim, era de laranja.
Para elas era de outra coisa qualquer esquisita,
que não me despertava qualquer tipo de curiosidade.
Até àquela noite de Natal em que, de repente,
se ouviu a voz ciciada da tia Clara:
- Acho que preciso de alguém que me ajude a
levantar da cadeira…
Na altura não percebi por que é que ela, habitualmente tão ligeira, precisava de ajuda.
Assim como também não percebi por que é
que toda a gente fugia para o corredor a rir à gargalhada, enquanto o tio Ernesto disfarçava o riso,
tentando fazer cara séria e ralhar com o primo
Augusto:
- Mas por que é que a encheste de medronhos?
E o primo Augusto, entre mais gargalhadas:
- Então, medronho não é fruta?
S
ó muito mais tarde percebi o cocktail
explosivo que resultava de um, dois,
três, etc…calicezinhos de licor, com
muitos medronhos em cima…
Além disso, a minha tia Clara sempre fora,
como ela dizia, “um pisco a comer”, o que também ajudara à desgraça…
Depois desse Natal, a tia Clara nunca mais
quis ouvir falar de medronhos.
- Um perigo! – dizia.
- Um verdadeiro veneno! —acrescentavam as
outras.
Como o capilé.
Ou a salsaparrilha.
E depois do jantar lá vinha, como sempre, o
Licor Beirão.
Na sua inocentíssima garrafa.
Sempre.
Porque era fruta.
Até ao dia em que, passados os noventa, cada
uma foi largando a vida.
Felizes e reconfortadas.
E, evidentemente, com a consciência completamente tranquila de nunca terem tocado numa
gota de álcool.I
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