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INCORPORAÇÃO AO SERVIÇO MILITAR EM ORGANIZAÇÃO
MILITAR NÃO OPERACIONAL: A VIDA DO SOLDADO NA CASERNA
Clarissa da Silva Fialho1
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo a compreensão dos aspectos psicológicos e
sociais envolvidos na Incorporação ao Serviço Militar Obrigatório, a partir de uma abordagem
qualitativa. Considerando as particularidades da rotina militar, busca-se verificar de que forma
se processa a adaptação do recruta ao ambiente militar, assim como identificar quais são os
sentimentos e principais dificuldades enfrentadas pelos soldados por ocasião da vivência na
caserna. Considerando o enorme contingente de jovens que incorporam ao Exército, torna-se
particularmente instigante o desafio de conhecer o universo subjetivo do soldado, de forma a
avaliar as possíveis contribuições da psicologia nesses casos. Para tanto, o instrumento
utilizado constituiu-se em uma entrevista semi-estruturada aplicada aos soldados do efetivo
variável, incorporados na Escola de Administração do Exército. Os dados coletados foram
analisados e interpretados de acordo com o método fenomenológico. A partir desse estudo, foi
possível perceber que a adaptação do recruta à vida militar é um processo difícil e que ser
soldado representa a superação de obstáculos, bem como um aprendizado constante.
Palavras-chave: Serviço Militar, Incorporação, Adaptação
Abstract: The present paper has as a purpose the comprehension of the psychological and
social aspects involved in the Incorporation into the obligatory Military Service, from a qualitative
approach. Considering the particularities of the military routine, the form that the recruit gets
adapted to the military environment, as well as the feelings and main difficulties faced by
soldiers are searched out on the occasion of the living quarters. Considering the large
contingent of youths that incorporate into the Army, the challenge of being acquainted with the
subjective universe of the soldier, becomes an instigation, in a way of evaluating the possible
contributions of psychology in these cases. Therefore, the instrument used constituted a semistructure interview applied to the soldiers of the changeable strength, incorporated in the School
of Administration of the Army. The collected data were analyzed and interpreted, according to
the phenomenological method. It was possible to perceive from this study that the adaptation of
the recruit to the military life is a difficult process and that being a soldier represents to
overcome obstacles, as well as a constant learning.
Keywords: Military Service, Incorporation, Adaptation.
__________________
1
Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Franciscano – RS.
e-mail:[email protected]
2
1 Introdução
O presente trabalho tem como
propósito a compreensão das implicações
psicológicas e sociais relacionadas à
Incorporação
ao
Serviço
Militar
Obrigatório, assim como se propõe a
investigar sobre como se estrutura a
adaptação do recruta com a rotina e com as
práticas inerentes ao ambiente militar.
Conforme o site do Ministério da
Defesa (2007) “a Incorporação é o ato de
inclusão do conscrito em uma Organização
Militar da Ativa das Forças Armadas”. É
importante destacar que assim que o jovem
Incorpora, se dá início uma série de
atividades destinadas a familiarizá-lo com
o ambiente militar. É nesse contexto que se
introduz a prática controlada de atividades
físicas, as noções referentes aos conceitos
de hierarquia e disciplina, bem como a
adaptação
aos
horários
rígidos
(MINISTÉRIO DA DEFESA, 2007).
Dessa forma, a pesquisa sobre o
tema proposto justifica-se pelo fato de que
a
rotina
militar
tem
algumas
particularidades
que
a
distinguem
claramente
da
vida
civil.
Tais
características podem levar o soldado a
enfrentar dificuldades de adaptação a esse
novo ambiente, bem como podem provocar
um excessivo desgaste físico e mental.
Sendo
assim,
torna-se
particularmente interessante, sob o ponto
de vista da psicologia, conhecer o universo
do soldado, uma vez que milhares de
jovens incorporam todos os anos em
diversas Organizações Militares espalhadas
por todo o país.
Cabe lembrar que a Constituição
Federal de 1988, em seu artigo 143, assim
como a Lei do Serviço Militar estabelecem
a obrigatoriedade do Serviço Militar. É
esta lei e seu respectivo Regulamento que
regulam os direitos e deveres de todos os
cidadãos brasileiros em relação à prestação
do
Serviço
Militar
Obrigatório
(MINISTÉRIO DA DEFESA, 2007).
Logo, é por meio desse sistema
democrático e representativo que o
Exército consiste numa grande escola para
a juventude brasileira (EXÉRCITO
BRASILEIRO, 2007).
Por esse motivo, considera-se
fundamental um estudo mais aprofundado
sobre
quais
são
as
implicações
psicossociais envolvidas nesse processo,
com o intuito de avaliar as possíveis
contribuições da psicologia. Além disso,
considera-se importante o estudo de tal
temática, uma vez que as pesquisas sobre
como o soldado se sente e vivencia o
processo de Incorporação ao Serviço
Militar são escassas.
Logo, esse trabalho tem como
objetivos específicos: identificar as
principais dificuldades, angústias e medos
vivenciados pelos soldados; investigar as
expectativas destes em relação ao Serviço
Militar bem como os sentimentos
despertados em decorrência do ingresso na
caserna.
Para tanto, foi realizada uma
pesquisa de campo com os soldados
incorporados no ano de 2007, do efetivo
variável, na Escola de Administração do
Exército. Utilizou-se uma abordagem
qualitativa e como instrumento de coleta
de dados uma entrevista semi-estruturada,
com o intuito de captar a experiência
subjetiva de ser soldado.
Espera-se que o presente trabalho
contribua para a Psicologia como ciência e
profissão e estimule a produção de outros
estudos sobre o tema. Acredita-se que de
posse de uma avaliação das necessidades
do efetivo de soldados incorporados, podese definir uma linha de ação psicológica
que leve em consideração aspectos
relacionados à adaptação, aos atributos da
área afetiva e aos níveis de satisfação e
motivação.
É consenso que um soldado
equilibrado emocionalmente contribui de
forma diferenciada para a Força bem como
obtém um maior proveito do Serviço
Militar desenvolvendo e incorporando uma
série de valores que lhe permitirão levar a
bom termo sua missão de soldado e sua
cidadania.
3
2 Revisão de Literatura
O Serviço Militar Obrigatório
surgiu no Brasil desde quando vigorava o
Sistema de Capitanias Hereditárias, com o
intuito de preservar a posse da terra contra
ataques de estrangeiros e de índios. No
Império e após a Independência continuouse pregando a obrigatoriedade deste
Serviço (MINISTÉRIO DA DEFESA,
2007).
Porém,
o
Serviço
Militar
Obrigatório só veio a efetivar-se após
campanha cívica de Olavo Bilac, patrono
do Serviço Militar. Dessa forma, foi
somente após diversas leis e decretos que a
lei do Serviço Militar foi finalmente
promulgada no ano de 1964 (EXÉRCITO
BRASILEIRO, 2007).
Conforme esta Lei, o Serviço
Militar consiste no exercício de atividades
específicas desempenhadas nas Forças
Armadas, que são constituídas pelo
Exército, pela Marinha e pela Aeronáutica.
Apesar da obrigatoriedade deste Serviço,
os alistados antes de serem convocados
passarão por uma comissão de Seleção,
que os avaliará quanto aos aspectos físicos,
psicológicos e morais.
Na verdade, o processo envolvido
na prestação do Serviço Militar passa por
uma série de fases, que vão desde o
período de alistamento até a Incorporação
propriamente dita (MINISTÉRIO DA
DEFESA, 2007).
Dessa forma, o processo como um
todo tem início no período do alistamento.
Assim, o jovem no ano em que completa
18 anos deverá comparecer a uma Junta de
Serviço Militar para se alistar, quando
então receberá seu Certificado de
Alistamento Militar.
A seleção constitui-se no passo
seguinte a ser cumprido. Nesse momento,
os alistados são avaliados por comissões
fixas e volantes. Ao término da seleção,
aqueles que forem considerados inaptos
serão dispensados do Serviço Militar. Os
considerados aptos, por sua vez, irão para a
fase da designação, fase esta em que o
convocado
toma
conhecimento
da
Organização Militar em que irá servir. Por
fim, o processo encerra-se com a
incorporação do conscrito em uma
Organização
Militar
(EXÉRCITO
BRASILEIRO, 2007).
Ao ingressar na caserna o soldado
do Efetivo Variável vivenciará um período
de habilitação para as funções militares,
denominado
Período
de
Instrução
Individual. Esta atividade tem como
objetivo geral o desenvolvimento da
formação do caráter militar em prol da
adaptação do indivíduo às exigências da
vida militar.
É considerada de suma importância
na formação do soldado, sendo conduzida
em duas fases: Fase de Instrução
Individual Básica e Fase de Instrução
Individual de Qualificação. A primeira fase
visa formar o combatente básico, enquanto
a segunda tem como objetivo qualificá-lo
para uma determinada função (COTER,
2007).
A fase de Instrução Individual
Básica iniciará as atividades do ano de
instrução e se desenvolverá em todas as
OM, sendo esta também a fase da instrução
em que se dará início à avaliação do
caráter militar dos recém-incorporados,
levando-se em consideração os seguintes
atributos:
autoconfiança,
coragem,
disciplina, cooperação, responsabilidade,
entre outros (COTER, 2007).
A fase de Instrução Individual de
Qualificação, por sua vez, diferencia-se da
anterior pelo fato de apresentar como
propósito principal qualificar o cabo ou
soldado para exercer funções mais
específicas e técnicas, fazendo-os ocupar
aqueles cargos existentes nas suas
Organizações Militares.
Cabe ressaltar que conforme o
COTER (2007) há nas unidades
operacionais, além das fases citadas acima,
o preparo da Força para as operações de
Garantia da Lei e da Ordem, assim como é
desenvolvido um programa de Execução
de Adestramento. Já em unidades não
operacionais privilegia-se a fase de
4
Instrução Individual Básica em detrimento
das demais.
É assim, por meio dos programas
de instrução militar que o recruta entra em
contato com as atividades e fundamentos
militares. Para o Exército (2007), a atual
configuração do Serviço Militar permite ao
país dispor de um sistema de Defesa
Nacional capaz de mobilizar reservas para
atender situações emergenciais que possam
se deflagrar no país.
Além disso, o sistema nos moldes
atuais auxilia na formação do caráter de
muitos jovens que ingressam no Exército,
assim como não onera a União com
pesados
encargos,
permitindo
o
desenvolvimento do país na sua esfera
social (EXÉRCITO BRASILEIRO, 2007).
3 Metodologia
Os critérios para definir os sujeitos
participantes da pesquisa foram que todos
deveriam ser soldados incorporados no ano
de 2007, do efetivo variável, na Escola de
Administração do Exército. Deste modo,
participaram desse estudo soldados desta
corporação que concordaram compartilhar
suas
experiências
e
sentimentos
relacionados à sua Incorporação no
Exército e adaptação à caserna.
Foram realizadas entrevistas, cuja
amostra foi escolhida de forma aleatória. O
número de indivíduos entrevistados foi
definido a posteriori, conforme o critério
de saturação, isto é, à medida que as
experiências foram se repetindo, o
processo de entrevistas foi dado como
encerrado.
O instrumento utilizado para a
efetivação da pesquisa consistiu em uma
entrevista semi-estruturada (ver apêndice
A) baseada em um roteiro tópico
previamente elaborado, a partir das
indicações emergentes na literatura sobre o
Serviço Militar Obrigatório. As entrevistas
foram realizadas individualmente, na
própria Escola de Administração do
Exército, sendo que ao início de cada uma
delas, foi entregue o termo de
consentimento informado (ver apêndice B).
Uma vez assinado, dava-se então início às
mesmas,
que
foram
gravadas
e
posteriormente analisadas.
O método para análise dos dados
escolhido foi o delineamento qualitativo
fenomenológico. Buscando-se analisar
reflexivamente
a
experiência
dos
participantes, os dados coletados foram
analisados e interpretados, conforme as
sugestões de Ablamowicz (1992).
Esta autora propõe 7 passos,
descritos
a
seguir:
Descrição
Fenomenológica: 1) organização das
entrevistas, 2) revisão e identificação dos
temas relacionados à experiência que
aparecem nos relatos, 3) transcrição das
entrevistas; Redução Fenomenológica: 4)
agrupamento em categorias conforme os
temas, 5) reflexão sobre os temas para
descoberta de inter-relações referentes ao
objeto
da
pesquisa;
Interpretação
Fenomenológica: 6) avaliação dos temas
emergentes para chegar a uma descrição
fundamental, 7) interpretação do fenômeno
estudado contrastando a perspectiva dos
informantes com a literatura estudada.
A partir da análise das entrevistas
pode-se destacar a presença de quatro
categorias temáticas: Expectativas frente
ao Serviço Militar Obrigatório, Adaptação
à vida militar, Como é ser Soldado? e
Percepções sobre a Experiência no
Exército.
4 Resultados e Discussão
4.1 Expectativas frente ao Serviço
Militar Obrigatório
A presente categoria, denominada
“Expectativas frente ao Serviço Militar
Obrigatório” refere-se àquilo que o jovem
esperava ou imaginava encontrar no
Exército quando de sua Incorporação ao
mesmo. A partir dos relatos, pôde-se
visualizar o quanto a idéia que o jovem
tem do Exército, ao alistar-se, choca-se
com a realidade que ele se defronta ao
ingressar em Organização Militar não
operacional.
5
O jovem no seu período de
conscrito idealiza o Exército como o local
onde terá a oportunidade de desenvolver
uma série de atividades de risco e aonde
também aprenderá uma extensa gama de
técnicas voltadas para o combate.
Esse aspecto de risco envolvido na
tarefa de se tornar um soldado do Exército
Brasileiro torna a experiência de
Incorporação muito mais interessante, uma
vez que na adolescência é comum sentir-se
atraído por atividades mais perigosas.
Sendo assim, a partir dos
depoimentos, percebeu-se claramente o
quanto o jovem tende a superestimar as
qualidades envolvidas no treinamento para
o combate negligenciando os pilares do
Exército, que são a disciplina e a
hierarquia. Assim, a rigidez característica
da caserna não é levada em consideração,
bem como os longos períodos destinados a
manutenção (faxina) e segurança do
aquartelamento.
Eis algumas falas que exemplificam
a idéia citada acima:
“Eu imaginava mais treinamento de
guerra, de tiro, treino para o combate. Eu
me senti decepcionado, porque não era isso
que eu esperava [...] a gente só faz faxina
aqui” (Entrevistado três)
“A maioria pensava que era uma coisa,
chegou aqui viu que era outra. Pensavam
que era mole, alguma coisa assim, se
deram mal, aqui é pesado!” (Entrevistado
dois)
“Eu pensava que era uma coisa, cheguei
aqui era outra. Pista de rapel, helicóptero,
pular, muita adrenalina, mas aqui é só
faxina, faxina e serviço” (Entrevistado
quatro)
Sem dúvida, tais expectativas
refletem-se no processo de adaptação que
se torna mais complexo à medida que
aumenta a discrepância entre aquilo que é
esperado e aquilo que é realmente
vivenciado na caserna.
4.2 Adaptação à vida militar
A categoria intitulada “Adaptação à
vida militar” refere-se justamente ao modo
como se dá a assimilação pelo recruta dos
fundamentos e das práticas militares. Cabe
ressaltar que esta categoria está
intimamente ligada com a anterior, uma
vez que o sentimento de decepção
intensifica-se quando o jovem se defronta
com uma realidade diferente daquela que
havia idealizado.
A partir da análise das entrevistas,
percebeu-se que a adaptação do soldado ao
Exército é gradativa. No princípio o recruta
apresenta muitas dificuldades para
assimilar as implicações envolvidas na
vida militar.
Os horários rígidos, a carga horária
de trabalho extremamente puxada, o
cansaço físico resultante da prática intensa
de atividades físicas e as pressões
psicológicas características do ambiente
militar são aspectos que nada tem em
comum com a vida de civis que estes
jovens
levavam
anteriormente
à
Incorporação.
“A primeira semana todo mundo pediu a
morte, muita ralação, a comida ruim e aí
todo mundo ficou azoado aqui dentro,
ficou abalado com aquilo, foi terrível o
primeiro mês. Depois do campo que
melhorou mais, aí ficou mais legal, porque
foi dividido por sessão, aí ficou melhor ...”
(Entrevistado um)
“A gente conversava: ah! O que a gente tá
fazendo aqui?, Que saudades de minha
vida civil!, Não sabia que era “pau” assim
não ...” (Entrevistado três)
“No
começo
me
senti
bastante
pressionado, a educação de casa era bem
puxada, mas não dessa forma assim. Às
vezes sentia um pouco de medo, muito
cansado no começo, era muita instrução,
pouco tempo pra gente descansar”
(Entrevistado dois)
Estas peculiaridades da vida militar
e o respectivo ingresso do jovem nesse
ambiente extremamente novo geram muita
angústia e desconforto, que com o passar
6
dos
meses
é
significativamente
minimizado. É assim, de maneira
progressiva, que o soldado passa a
internalizar a rotina militar, sendo
importante lembrar que este processo
demanda bastante resistência física e
emocional por parte do mesmo.
4.3 Como é ser soldado?
A categoria em questão está
relacionada aos sentimentos e percepções
envolvidos na missão de ser soldado do
efetivo variável. Por meio desta categoria,
procurou-se conhecer esta experiência na
sua profundidade, tanto no que se refere
aos aspectos positivos, quanto aos
negativos.
Através da análise das entrevistas,
pôde-se visualizar o quanto o soldado sente
que o seu trabalho e esforço não são
devidamente reconhecidos pelos seus
superiores, o que faz com que se sintam
desvalorizados.
Além disso, de acordo com as
declarações dos entrevistados, ser soldado
é conviver diariamente com a possibilidade
de ser lançado e punido, na maioria das
vezes por motivos julgados irrelevantes.
“A punição preocupa, porque fez uma
besteira aqui, é 15 dias, 20 dias”
(Entrevistado cinco)
Ser soldado também é experimentar
sentimentos
de
insatisfação
e
descontentamento, despertados em função
da forma com que são, em alguns
momentos, tratados pelos seus superiores.
Eis algumas reclamações, que
exemplificam a idéia expressa acima:
“O soldado não tem valor pra muitos
graduados, tem alguns que nos pressionam
e deixam a auto-estima lá embaixo [...] me
sinto sem graça e às vezes revoltado”
(Entrevistado cinco)
“Eu me sinto um pouco injustiçado, o
soldado não é reconhecido pelo seu
superior” (Entrevistado três)
“Eu mesmo pensei em desistir, porque sei
lá, era muito cobrado” (Entrevistado
quatro)
Cabe ressaltar que a experiência de
ser
soldado,
na
percepção
dos
entrevistados, também envolve o convívio
diário com pressão psicológica e com um
desgaste físico significativo.
“Pra mim o que pegou foi o cansaço
físico” (Entrevistado três)
“Alguns sofreram com o psicológico, tem
colega que chorou” (Entrevistado três)
“Teve dois que pediram pra sair, ou três,
não lembro, por não agüentarem a pressão”
(Entrevistado dois)
“O único problema foi apertação, o
psicológico que pesou, bate até medo. O
homem pode ser o mais bravo que tem,
quando chega aqui vira uma moça, no
sentido de obedecer” (Entrevistado cinco)
“Porque eles pegando demais no pé,
muitas das vezes o compadre fica até
maluco
se
não
tomar
cuidado”
(Entrevistado um)
Por outro lado, pôde-se perceber
também, que ser soldado é ser forte
suficiente para superar todas as
dificuldades enfrentadas na caserna. Os
participantes desse estudo se descreveram
acima de tudo como guerreiros e lutadores,
assim como enfatizaram a necessidade de
um sistema emocional equilibrado e de
uma condição física satisfatória como
elementos essenciais para o bom
desempenho no Exército.
4.4 Experiência no Exército
A
categoria
denominada
“Experiência no Exército” está relacionada
aos aspectos positivos elencados pelos
recrutas relacionados a sua Incorporação.
Percebeu-se, a partir desse estudo, que
apesar de todas as adversidades
enfrentadas, ingressar no Exército é uma
experiência importante na vida dos
soldados.
7
Por meio da análise das entrevistas
constatou-se que vários valores são
desenvolvidos nos recrutas, entre os quais
responsabilidade, disciplina, honestidade,
coragem, persistência, determinação e
respeito.
“A responsabilidade da gente aumenta, a
gente tá lidando com vidas aqui, com
armamento,
é
muito
perigoso”
(Entrevistado dois)
“Achei bom [...] só ficava em casa fazendo
nada, a gente não pode ficar o tempo todo
na barra da saia da mãe, a gente não tem
nossos pais pra sempre. A gente tem que
correr atrás do prejuízo, ajudar eles
(Entrevistado quatro)
“Aqui você aprende,
(Entrevistado dois)
se
educa”
Dessa
forma,
atributos
indispensáveis à formação do cidadão são
incentivados e valorizados dentro do
Exército, fazendo desta Instituição uma
grande escola para os jovens que prestam o
Serviço Militar Obrigatório.
“Tudo que a gente aprendeu aqui vai servir
pra nossa vida lá fora” (Entrevistado
quatro)
“O Exército me marcou, marcou no
sentido positivo. No campo, lá tomando
chuva, comecei a me colocar no lugar das
pessoas que não tem onde morar ...”
(Entrevistado três)
amena à medida que o recruta internaliza a
doutrina militar.
Os relatos contribuíram, acima de
tudo, para que se perceba que ingressar na
caserna
resume-se
a
experimentar
sentimentos contraditórios que vão desde a
insatisfação e descontentamento até
sentimentos de admiração e orgulho por
pertencer a Força.
Mais importante do que as
dificuldades enfrentadas, foi o peso
atribuído aos valores apreendidos no
Exército Brasileiro. Constatou-se que para
os soldados o Exército é o local onde têm a
oportunidade de desenvolver uma série de
atributos necessários à formação do seu
caráter. Comprovou-se também que o
Serviço Militar Obrigatório constitui-se em
uma experiência que sempre marcará suas
vidas, em decorrência das lições e dos
valores adquiridos na Força.
“Ser soldado é ser guerreiro, lutador, às
vezes amigo, às vezes companheiro, às
vezes pressionado e recriminado, mas o
soldado às vezes também é admirado. Ser
soldado é garantir a segurança, pois é ele
que faz a segurança. É se dedicar a uma
coisa que a gente enxerga de longe, mas
não sabe o que lhe espera, mas quando
chega aqui vê uma vida sofrida, por isso
tem que ter muita disposição, psicológico
muito forte, e uma condição física que
resista a bastante ralação” (Entrevistado
cinco descrevendo como é ser soldado)
5 Conclusão
Referências
A partir do presente trabalho pôdese conhecer um pouco mais acerca da
experiência de incorporação ao Exército, a
partir da perspectiva do próprio soldado.
Analisando-se
as
entrevistas,
visualizou-se o quanto a adaptação ao
Serviço Militar Obrigatório é um processo
difícil, tanto em função das expectativas
que o soldado constrói a respeito da Força,
como em razão das particularidades do
ambiente militar, dando-se especial
destaque à rigidez inerente a este sistema.
Dessa forma, verificou-se que ser soldado
é uma tarefa árdua, que se torna mais
ABLAMOWICZ, H. Shame as an
interpersonal dimension of communication
among doctoral students: An empirical
phenomenological study. Journal on
Phenomenological Psychology, v. 23, n.
1, p. 30-49, 1992.
COTER. Instrução Individual.
Disponível em:
<http://www.coter.eb.mil.br/1sch/pim/pim
%202007/Cap%203.pdf> Acesso em: 22
jul. 2007.
8
EXÉRCITO BRASILEIRO. Serviço
Militar. Disponível em:
<http://www.exercito.gov.br/02ingr/Servm
ili.htm> Acesso em: 23 jun. 2007.
MINISTÉRIO DA DEFESA. Serviço
Militar. Disponível em:
<http://www.defesa.gov.br/servico_militar/
index.php?> Acesso em: 23 jun. 2007.
9
APÊNDICE A – Roteiro para entrevista artigo científico
Apresentação: Olá, meu nome é Clarissa Fialho. Sou 1° tenente aluno de psicologia e estou
fazendo uma entrevista com os soldados incorporados, do efetivo variável, na Escola de
Administração do Exército no ano de 2007. Eu estou querendo saber como é a experiência de
ingressar no Exército e como os soldados se sentem em relação à vida na caserna. Eu gostaria
de conhecer mais sobre essa situação, para saber como o psicólogo poderia estar auxiliando o
soldado na sua ambientação à rotina militar. Como não se conhece muito sobre o assunto, a
sua experiência é muito importante, por isso eu gostaria de conversar com você. Você aceita?
- Como tem sido a sua adaptação ao ambiente militar?
- Você já tinha alguma idéia de como era o Serviço Militar? Você queria servir? Por quê?
- Quais são suas maiores dificuldades desde sua Incorporação? Como você procura lidar com
elas?
- Como você se sente com relação à sua Incorporação ao EB?
- Como é o seu relacionamento com superiores? E com os outros recrutas?
- O que você mais gosta e o que você menos gosta no Exército?
- Como são os períodos de instrução? Quais são os conhecimentos que você tem adquirido
aqui na EsAEx?
- Quais eram as suas expectativas quanto ao Serviço Militar?
- Com relação ao seu comportamento / jeito de ser, você considera que as suas características
combinam com o ambiente militar?
- O que você pensa dessa sua experiência no Exército?
Finalização: Bom, era isso que eu queria conversar com você. Você tem mais alguma coisa
para falar que acha importante?
Muito obrigada pela colaboração!
10
APÊNDICE B – Termo de Consentimento livre e esclarecido
Estamos realizando um estudo com o objetivo de compreender melhor a experiência
de ingressar no Exército, como os soldados se sentem ao Incorporar e como é a sua adaptação
ao ambiente militar. Para tanto, serão realizadas entrevistas individuais, que deverão ser
gravadas para posterior análise.
Através deste trabalho, esperamos contribuir para um maior conhecimento sobre como
é a vida do soldado, identificando suas principais dificuldades e expectativas, a fim de avaliar
as possíveis contribuições da psicologia nesses casos. O estudo não apresenta riscos, sendo
que o seu maior inconveniente é o tempo dispensado para a realização das entrevistas. O
único benefício para os participantes consiste no fato de os mesmos estarem contribuindo com
sua experiência pessoal para uma pesquisa de caráter científico.
Pelo presente Consentimento pós-informação, declaro que fui informado, de forma
clara e detalhada, dos objetivos e da justificativa do presente Projeto de Pesquisa.
Fui igualmente informado:
−
−
−
da garantia de receber resposta a qualquer dúvida acerca dos procedimentos e outros
assuntos relacionados com a pesquisa;
da liberdade de retirar meu consentimento, a qualquer momento, e deixar de participar do
estudo;
as informações registradas em meio digital por mim prestadas serão arquivadas junto ao
banco de dados do pesquisador responsável na Escola de Administração do Exército.
No caso de maiores dúvidas você pode obter maiores informações com a pesquisadora
responsável por este projeto de pesquisa – 1° ten al Clarissa Fialho – através do e-mail
clafialho @yahoo.com.br ou do fone: 32058847.
Data ___/___/___
Nome e assinatura do voluntário:
______________________________
Assinatura do pesquisador responsável:
______________________________
Assinatura do orientador:
______________________________
Observação: O presente documento, baseado nos artigos 10 e 16 das Normas de Pesquisa em
Saúde, do Conselho Nacional de Saúde, será assinado em duas vias, de igual teor, ficando
uma em poder do participante e outra com o pesquisador responsável.
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