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Alternativo
O Estado do Maranhão - São Luís, 23 de outubro de 2011 - domingo
Roda Viva
O vai e vem da autonomia de são luís
Benedito Buzar
A
o longo de todo o período imperial, que durou mais de sessenta
anos, São Luís e todos os municípios brasileiros, foram administrados
pelas Câmaras Municipais, cuja figura
de destaque era o presidente, sobre o
qual recaía a responsabilidade de gerir
a coisa pública.
Só a partir da substituição da monarquia pelo regime republicano é que
esse quadro mudou. Para que as cidades não ficassem acéfalas, o Governo
Provisório determinou a substituição
das Câmaras pelos Conselhos de Intendência Municipal, formado por seis
membros. O de São Luís era presidido
pelo ilustrado poeta Sousândrade.
A Constituição Federal, de fevereiro
de 1891, assegurou a autonomia dos
municípios, estabelecendo que os Conselhos da Intendência fossem substituídos por intendentes e subintendentes, eleitos com mandatos de quatro
anos. De 1891 a 1921, São Luís ficou sob
o comando dos intendentes Alexandre
Collares Moreira (três vezes), Nuno Àlvares de Pinho, Afonso Henrique de Pinho, Afonso Giffening de Matos, Raul
Machado, Mariano Lisboa, Carlos Franco de Sá, Manoel Vieira Nina, Clodomir
Cardoso e Luso Torres.
Em fevereiro de 1919, os deputados
estaduais aprovaram uma reforma na
Constituição do Maranhão. Dentre as
alterações, uma tirava de São Luís o direito de eleger seus governantes, que
passariam a ser nomeados pelos pre-
Rosa, Alcides Jansen Pereira, Pedro Oliveira, Antônio Alexandre Bayma, Manoel Vieira Azevedo, José Saboya Ribeiro, Clodoaldo Cardoso, Pedro Neiva de
Santana, Tancredo Matos, Edson Teixeira Neto e Antônio Pires Ferreira.
Na elaboração das Constituições es-
“E aconteceu no dia da eleição da
diretoria do Tribunal de Justiça, que
vai comandá-lo no próximo biênio”
sidentes do Estado. Os nomeados não
seriam mais intendentes, mas prefeitos. De 1922 até a deflagração da Revolução de 30, a capital maranhense foi
administrada pelos prefeitos Raimundo Gonçalves da Silva, Antônio Brício
de Araújo, Jayme Tavares, Zenóbio da
Costa e Basílio Franco de Sá.
De outubro de 1930 à queda do Estado Novo, quando o país saiu da ditadura getuliana, a prefeitura de São Luís
continuou sob o comando de prefeitos
nomeados: Lino Machado, Teixeira Leite, Carlos Macieira, Raimundo Cantanhede, João Inácio Martins, Demerval
taduais de 1934 e 1946, os constituintes maranhenses, especialmente os
oposicionistas, levantaram a bandeira
da autonomia de São Luís, para retirar
do chefe do Executivo do Estado a
competência de nomear os gestores,
mas não conseguiram, pelo temor dos
governistas de que a prefeitura fosse
parar nas mãos dos opositores.
Quarenta e seis anos depois da reforma constitucional, feita no governo
Urbano Santos, o deputado Epitácio
Cafeteira, em abril de 1963, que na
campanha eleitoral de outubro de
1962, fez da autonomia de São Luís seu
estandarte de luta política, apresenta
Proposta de Emenda à Constituição Federal, alterando o parágrafo 1º, do artigo 28, da Carta Magna de 1946, para
subtrair dos governadores a faculdade
de nomear os prefeitos das capitais.
A PEC ganha a simpatia do Congresso Nacional, que aprova e a promulga
em 8 de abril de 1965. Recuperada a autonomia, Cafeteira lança-se candidato
à prefeitura de São Luís nas eleições de
outubro de 1965. Elege-se prefeito disputando o pleito com os candidatos
Ivar Saldanha, Ivaldo Perdigão Freire e
José Mário de Araújo Carvalho.
De 1946 a 1965, passaram pelo Palácio La Ravardière os gestores Costa
Rodrigues (duas vezes), Alexandre Costa, Edson Brandão, Wilson Rabelo, Erasmo Dias, Eduardo Viana Pereira, Carlos Vasconcelos, José de Ribamar Waquim, Ivar Saldanha (duas vezes), José
Burnett, Emiliano Macieira, Ruy Mesquita e Djard Martins.
Com os militares no poder, São Luís
perde novamente a sua autonomia. Em
fevereiro de 1966, o Ato Institucional
nº 3, retira das capitais o direito de eleger o prefeito, voltando essa atribuição
aos governadores. Dessa forma, José
Sarney, à frente do governo do Estado,
nomeia o engenheiro Vicente Fialho
para o cargo de prefeito de São Luís.
Depois de Fialho, a capital do Maranhão continuou sendo administrada por gestores, nomeados por governadores eleitos indiretamente pela Assembléia Legislativa. De maio de 1970
a dezembro de 1984, tivemos na prefeitura: José Libério, Haroldo Tavares,
Adolfo Von Randow, Edmilson Duarte,
Evandro Bessa, Antônio Bayma, Ivar
Saldanha, Lia Varela, Lereno Nunes,
Mauro Fecury (duas vezes), Roberto
Macieira e Manoel Ribeiro.
São Luís só volta a reconquistar autonomia político-administrativa em julho de 1985, quando a Nova República
chega ao poder e o Congresso Nacional aprova a lei do presidente José Sarney, estabelecendo a eleição dos prefeitos das capitais pelo voto direto.
De 1º de janeiro de 1986 aos dias
correntes, todos os gestores foram
eleitos e nessa ordem cronológica:
Gardênia Gonçalves, Jackson Lago
(três vezes), Magno Bacelar, Conceição Andrade, Abdelaziz Santos, Domingos Dutra, Tadeu Palácio (duas vezes) e João Castelo.
Árvore do Amor: um melodrama romântico
Filme, que estreia apenas no Rio de Janeiro, conta a história de um amor proibido durante a Revolução Cultural
Neusa Barbosa
Do Cineweb
O
celebrado diretor chinês
Zhang Yimou retorna ao
melodrama em Árvore do
Amor, que estreia apenas no Rio
de Janeiro. Baseado no romance
de Ai Mi, o veterano cineasta de
Lanternas Vermelhas (1991) e O
Clã das AdagasVoadoras (2004) investe em uma fotografia bem-cuidada (de Zhao Xiaoding), uma das
marcas registradas de suas produções, e no apelo de um romance
impedido por obstáculos familiares e políticos.
Trata-se do período da Revolução Cultural, anos 1960 e 70,
quando a estudante Jing (a estreante Zhou Dongyu) é enviada ao campo com seus colegas,
uma viagem dentro do espírito
da política da época, que visava
"reeducar" os intelectuais urbanos, tirando-lhes preconceitos e
atitudes tidas como "burguesas"
através desse contato com a vida camponesa.
É lá que ela conhece o jovem
Sun (Shawn Dou), que trabalha
num projeto geológico e também faz as refeições junto à família que hospeda Jing. Timidamente, surge entre os dois um
amor que terá de enfrentar várias dificuldades.
Filha de um intelectual que
caiu em desgraça e está preso,
Jing agora é arrimo de família, já
que sua mãe, uma professora,
também foi rebaixada a faxineira. Toda a esperança da família,
que sobrevive miseravelmente,
reside na formatura de Jing e em
que ela consiga um emprego como professora, missão para qual
não poupa nenhum esforço.
Barreira - Um romance, ainda
mais com um rapaz de condição
social superior à sua, como Sun,
apresenta-se, então, como inoportuno. E a família de Sun está providenciando uma noiva para ele.
Nada disso, é claro, vai impedir esse amor de florescer às escondidas, ao mesmo tempo que
Jing se empenha em tarefas que
a façam parecer a mais dedicada
militante do Partido Comunista,
afastando de si a sombra que paira sobre seus pais. Deste modo,
ela usa o tempo livre em tarefas
cívicas, como ajudar na reforma
da escola nos finais de semana.
Observando sua amada, Sun
usa os menores pretextos para
estar perto dela, levando-a para
rápidos encontros às escondidas.
O súbito desaparecimento de
Sun choca Jing, que entra em desespero. Logo se saberá que há
um grave motivo para isto, que vai
aproximar a história dos amantes
chineses do bom e velho Romeu
e Julieta, de Shakespeare.
Em favor do diretor, reconheça-se que, apesar do excesso de
clichês açucarados, ele demonstra mais uma vez ter um bom olho para descobrir talentos. O homem que lançou as hoje famosas Gong Li e Zhang Zyi pode ter
revelado mais uma estrela na
adorável Zhou Dongyu, de 18
anos.
Yimou poderia, no entanto,
ter dispensado a narração e os
letreiros, recursos muito didáticos e dispensáveis à narrativa.
A razão do título é uma árvore
que, supostamente, segundo a
ideologia oficial, daria flores vermelhas, não mais brancas, depois do derramamento de sangue de alguns heróis à sua sombra. Uma mentira oficial que o
tempo vai esclarecer.
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