ARROUQUELAS
ORIGENS DE UMA ALDEIA!
Podemos hoje considerar que Arrouquelas foi, e ainda é, um oásis, no
centro de um conjunto de Quintas agrícolas: Amieira, Carrascal, Brinçal,
Zambujo, Torre Bela, Lapa, Santarena, Assentiz, São Jorge, Vinagre,
Quinta Nova, Ferraria etc.
Diz-nos a história que o planalto dos “Barros” entre Arrifana e Louriceira
Almoster, foi, à semelhança do local onde hoje é a cidade de Santarém, e
das Serras, um dos primeiros locais a emergir do aquático, quando as
grandes ligações ainda se faziam apenas por barco.
Com a chegada dos mouros há Península, no ano 711, depois, com a
conquista do local (Santarém), logo estes se expandiram pelas redondezas,
por todos os locais possíveis, a fim de se fixarem e ocuparem todas as
posições, mesmo as já vinham sendo ocupadas por outros povos.
Santarém foi durante a ocupação Mourisca, uma praça de grande
importância, pela sua posição geográfica, mas também pelos seus vários
recursos das redondezas, foi isso, que levou todos os povos à sua cobiça.
Também é conhecido que os Mouros davam preferência à cultura dos
cereais, dai se fixarem com predominância na zona dos terrenos fortes,
muitos deles já eram cultivados por outros povos, que os tiveram de
abandonar ou sujeitarem-se a novos métodos e costumes, diz-se que em
local próximo de Almoster foram encontrados vestígios de ocupação
romana, goda e mourisca, nomeadamente quanto às técnicas de cultivo e de
transformação, e que ainda anteriormente à ocupação pelos mouros, já por
ali existia uma organização (cenóbio) com algum poderio, que foi destruída
com a invasão moura.
Os mouros, conhecedores como eram das técnicas de agricultura, sabiam
que os produtos hortícolas, eram de mais fácil cultivo, durante qualquer
período do ano, em zonas mais arenosas, dai virem rio acima, até
encontrarem esses terrenos, parece ter sido o local hoje Arrouquelas, um
dos privilegiados, pois como podemos constatar, não abundam pela nossa
região terrenos semelhantes em qualidade, e com a água que escorria das
encostas, mesmo as de pouca inclinação, portanto ideal à fixação de
qualquer povo.
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Como sabemos, nos tempos mais recuados, as distancias eram medidas em
dias de viagem, tanto de barco, como a cavalo ou a pé.
Santarém dista de Arrouquelas a uma distância de apenas poucas horas de
viagem, (ouvi ao meu tio Manecas afirmar, isto já em pleno século XX, que
quando esteve na tropa em Santarém fazia o percurso a pé, em duas horas,
evidentemente que existiam os chamados carreiros e atalhos).
Com a reconquista de Santarém pelos Cristãos aos Mouros no séc. XII, as
terras foram redistribuídas pelos cristãos vindos do Norte, mas entregues
aos senhores da nobreza e aos cavaleiros do norte da Europa, em proporção
do numero de homens que cada um comandava, enquanto que outras
ficaram na posse dos que já as ocupavam, mouros e Judeus, que
sobreviveram e por cá ficaram. (e mais tarde se converteram ao
cristianismo, os chamados cristãos novos)
Como naturais deste lugar, oficialmente, ainda hoje conhecemos pouco, de
quem foram os nossos antepassados: o que faziam, de, e como viviam,
como se protegiam etc.
Mas testemunhos falados, que vão passando de geração em
geração, conjuntamente com acontecimentos históricos ocorridos,
alguns hábitos e costumes, reunindo tudo isto, talvez nos digam
algo, que nos levem a formular algumas interrogações, concluir
algumas constatações, e assim podermo-nos aproximar o nosso
conhecimento de quem foram, e quem eram as civilizações que
nos antecederam.
Eu comecei por perguntar a mim mesmo, porquê foi construída a
igreja neste local? E porquê foi restaurada com estas dimensões?
Diz a lenda que foi aqui que apareceu Nossa Senhora de Arrouquelas. A
lenda também diz que, do alpendre da igreja, se avista o (cabeço da roupa
ou rota) local onde se encontra enterrado o tesouro (jogo de Malha em
ouro),) Aqui uma nota: é do conhecimento da história que os povos em
caso de invasão se refugiavam nas igrejas, é muito normal que enquanto
por lá permaneciam, quisessem estar de olho nos locais onde tinham
guardado os seus valores, (esta era prática corrente do povo Judeu, até
porque era quem detinha o capital).
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A nossa igreja embora apresente uma arquitectura aproximada do
Românico, sabe-se hoje, que sofreu várias reconstruções transformações e
ampliações, (alias, como eu sempre defendi, fundamentando-me apenas
por intuição visual e em testemunhos falados, e nas histórias e lendas!
Veio agora o técnico das obras de restauro de 2007, em conversa particular
comigo, admitia ele, a igreja ter sofrido no mínimo uma terceira
reconstrução, e uma delas assente em ruínas, e quando anteriormente se
afirmava que a igreja era do século XVII / XVIII, agora podemos garantir
que dessa data, são apenas os restauros, e que as suas origens são do século
XIII ou anteriores,
Também sabemos que por aqui viveu o povo Árabe e Judaico, durante
vários séculos, é normal, que aqui tenham praticado também a Sua religião!
Será que já oravam neste local? Todos os dados apontam e conduzem, para
acreditarmos que sim!
Esse povo aqui sedeado, segundo os relatos e dados, lendas e costumes,
Artífices era! Agricultores também! E a avaliar pela arquitectura das fontes
de mergulho, e pelo teor das indústrias que na data já aqui praticavam,
demonstra que já possuíam uma técnica bastante avançada e uma boa
organização económica.
Os relatos falados dizem-nos que existiu em tempos um açude em estacaria
de madeira, mais ou menos no local em que hoje está a ponte do Brinçal, a
água vinha depois por uma vala, ao longo do rio, até ao sitio das Alagoas, e
aí, caia em queda livre, fazendo accionar a turbina de uma Azenha,
utilizada para moer os cereais, e que um dia foi abandonada e destruída
(mais tarde quando esses terrenos foram cultivados por um dos Anacletos,
diziam que ele tinha encontrado no local dinheiro enterrado, que lhe tinha
chegado para comprar um vaca. (conhecem-se como esses povos estavam
sujeitos a invasões e saques, e também a forma como guardavam as suas
economias) aqui me interrogo, e porque razão o seu proprietário não
teria utilizado essas economias em seu proveito próprio, ou não
as transmitiu aos seus descendentes? Seria por assassinato,
extermínio de família, ou por abandono forçado e inesperado
desse local?)
Os mesmos relatos falam que existiu mais ou menos na mesma época uma
fábrica de Tijolo Ladrilho no sítio do Casal do Coito, atestam-no os
vestígios encontrados no local, diz-se que foram lá feitos os tijolos ladrilho
para a construção da Fonte do Casal, à qual também lhe chamavam a fonte
dos Moiros.
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Que existiu também uma Ferraria no sítio do Sobreiral junto à ponte das
Macieiras, para noroeste, (hoje propriedade do Luís Vivo), os vestígios
ainda eram visíveis no século anterior, (o meu pai garantiu-me que os viu
em abundância, quando ainda rapaz, por lá guardava o gado.
A indústria da transformação da azeitona em azeite, foi aqui praticada,
desde esses tempos, e na época mourisca, sabemos que esse tipo de
indústria era sempre propriedade exclusiva do seu chefe, o Rabi!
A utilização da argamassa na edificação das fontes, e as abóbadas, não são
obra do acaso, de onde veio e como chegou até aqui essa tecnologia? Pela
mão dos mouros e judeus? (D João II, tinha decretado a exigência de 8
cruzados para permitir a entrada e fixação de cada um dos Judeus
expulsos de Espanha com o fim de por cá fixar operários e capital; depois
em 1497 em troca da mão da princesa D Isabel, D Manuel I, como
clausula para o casamento aceita expulsar os judeus de Portugal que não
se convertam ao cristianismo)
Para alem destes dados e interrogações, já citados, é bom referir
também o que ficou como tradição;
É nossa tradição de em quinta-feira gorda, a juventude pela calada da noite,
ir aos corrais roubar os burros e as carroças, e depois concentra-los num
único lugar; diz-se que foi assim, retirando aos Mouros o seus valiosos
instrumentos de trabalho, (os burros) que os Cristãos os conseguiram
vencer, e assim conquistarem este local.
Sabe-se que na conquista da praça de Santarém aos mouros, tiveram papel
importante a família dos Noronhas, (que mais tarde foram Marqueses de
Angeja), acompanhados das suas gentes, auxiliados também por homens do
norte da Europa, a quem denominaram de Cruzados, mas é verdade que em
todas as Guerras ou invasões, há sempre os que morrem, os que partem
abandonando o local, e os que ficam, e depois se misturam, povos
ocupantes, e povos ocupados.
Era comum na época, o Rei doar terras aos senhores da
Nobreza, a organizações religiosas e outras, que prestassem bons serviços
ao Reino,
Presentemente sabemos que Arrouquelas derivou em nome, de uma
povoação denominada Arouquella, ou Aroquella, um diminutivo de
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Arouca, ou Tarouca, e que na mesma data, também na freguesia de S. João
Batista, foi registada uma povoação ou quinta, com o nome de Allozela.
Portanto se na conquista de Santarém aos mouros, tiveram papel importante
os Noronhas e alguns homens do norte da Europa; como os Noronhas eram
os Senhores de Angeja, é muito provável que os homens que os
acompanharam e participaram na conquista, fossem dessa região, como o
pólo de maior importância da região era Arouca ou Tarouca, é normal que
os homens que por cá ficaram, quisessem dar a este local, o nome, que
tivesse algo a ver com as suas origens e pertença.
Noronhas família das mais ilustres e antigas da Península Ibérica, é descendente de
Carlos Magno, de Hugo Capeto, de Fernando I de Leão e Castela, e de D. Afonso
Henriques (conde de Gijón).
(Allozela era, e ainda é conhecida como uma quinta agrícola, no local da
Ribeira de S. João, hoje desmembrada em pequenas propriedades.
A família de”Os Outeiros”, a quem chamavam Zangolões, era proprietária
de uma parte da Quinta de Allozela, por herança. (O meu pai trabalhou
como capataz na casa dos Zangolões, e várias vezes me disse que o velho
Zangolão dizia que os seus antecedentes; vieram para combater os Mouros
e por cá ficaram, este povo tem as suas origens do norte da Europa).
(os Zangolões eram proprietários de dinheiro em ouro, foi encontrado
dentro de uma panela enterrada debaixo de um tonel, foi o meu pai que o
encontrou, quando fazia os preparos do terreno para a edificação de um
depósito em alvenaria para armazenamento do vinho, assistiu depois à sua
divisão pelos herdeiros)
Ainda hoje é notória a característica nórdica na família dos Outeiros! Se
repararmos, existem irmãos com traços de descendência mourisca e outros
de descendência nórdica, (o Manuel do Outeiro e o irmão, o Ferreiro já
falecidos) estas diferenças foram confirmadas por pessoas que os conheceram bem,
entre os irmãos, Ramiro Lopes do Outeiro e o Joaquim M. do Outeiro são
notórias essas diferenças; as filhas do Ramiro Lopes e da Maria Palmira,
apresentam essas diferenças. (pode estar aqui a indicação de que
descendentes dos Cruzados se juntaram com descendentes dos mouros,
estes já aqui sedeados no sitio do casal!
.
Se quisermos associar a nossa igreja ás lendas, aos hábitos e costumes que
ainda hoje persistem em Arrouquelas, e também ás fontes de mergulho, a
Fonte do Pote e a Fonte do Casal (Fonte do Casal que lhe chamavam a fonte dos
mouros) e ao abandonado buraco dos mouros, na encosta do Corticinho (que
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segundo informações de antecedentes, era um posto de vigia ou guarda),
parecem estes, vir da mesma época.
O meu avô paterno, dizia-me que ouviu dos antigos que o buraco dos
mouros, também tinha ligações com a quinta do Horte, ora a quinta do
Horte fica entre a Póvoa de Manique e Vila Nova de São Pedro, próximo
do local onde existe um cemitério antigo, sabemos que os povos anteriores
faziam as povoações na confluência de dois rios, pois com as deslocações
a fazerem-se por barco, aí a facilidade de deslocação era maior, esta
estava na confluência dos rios Manique e Massuça, e por conseguinte ai
havia uma povoação (Mourisca?) que ele me dizia ter sido abandonada.
Alguns habitantes fugiram lá para cima e fizeram uma Vila Nova (de São
Pedro) Então daqui podemos concluir que a povoação abandonada se
chamava São Pedro, e outros terão vindo para junto da quinta da Lapa.
(Arrifana)
Estes são relatos que conjugados com outros, indicam-nos a existência ali
de uma povoação de elevada importância, dai, ser possível ter uma guarda
avançada.
Como a conquista aos Mouros se fez de norte para sul, mais uma razão
desta guarda avançada virada a norte! (então talvez possamos concluir
que essa povoação se chamava São Pedro de Arrifana.
NOTA: A quinta do Horte por descendências tem sido até hoje,
propriedade das famílias Coelho! Em 1724 Felícia Maria em súplica de
01 de Agosto dirigida a D. João V, pede para seu filho, Manuel Coelho,
os cargos de juiz ordinário em Zambujeira e juiz de vintena para São
João da Ribeira e São Pedro de Arrifana.
(segundo relatos, nos anos cinquenta do século XX, um dos proprietários
da Quinta do Horte (António Pedro) encontrou nos seus terrenos uma
talha com muito dinheiro em ouro) noticia sem confirmação.
Por tudo o que já se disse, e o que ainda nos falta esclarecer,
podemos já concluir que este local, (hoje Arrouquelas) foi um
grande burgo Árabe Judaico!
Como até ao restauro da igreja em 2007 ainda não tinha sido
encontrada uma data gravada, ou uma gravura, Interrogo-me,
porquê também não existe um único vestígio de habitação dessa
época, os povos deixaram de facto hábitos e costumes, mas em
património, apenas (as ruínas? Igreja) e as fontes de mergulho
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Registos de 1527, século XVI. Cadastro do Reino, a localidade de
Arrouquelas tinha na data apenas cinco, vizinhos, o que corresponde a mais
ou menos vinte e cinco habitantes, o que a mim me parece muito pouco, a
avaliar pelas indústrias anteriormente existentes, já descritas, e pela
grandiosidade das Fontes.
Também hoje conhecemos melhor alguns dados do que foi a Santa
Inquisição, (sem entrarmos em pormenores, podemos afirmar que o
confiscar dos bens e o extermínio do povo não católico, (herege), foi o
pretexto! Mas muitos foram os casos, em que, uma simples denuncia, de
um seu inimigo ou vizinho, lhe bastou para que fossem queimados na
fogueira, (ver história da Inquisição em Portugal)
Sendo Arouquella ou Arrouquelas um centro industrial,
e como se sabe os industriais e os mercadores da época,
na maioria ou na totalidade, eram muçulmanos ou
judeus!
Incrustados que estavam aqui no meio das terras
(quintas) dos feudais, e também sabemos hoje, como a
Inquisição funcionou contra estes povos, será que todos
os Judeus ou Muçulmanos habitantes deste local foram
obrigados a abandona-lo? Ou foram simplesmente
exterminados?
Das leis da Inquisição impostas pelo Papa Inocêncio III constava que para
alem da morte de todos os Hereges, os seus bens eram confiscados e
entregues ao poder, que no entanto, os podia recusar, e a destruição de
toda a sua casa, para que dele não ficasse vestígios.
Se em Março de 1497, foi imposta por D. Manuel I, a lei que
decreta a expulsão do país, de toda a comunidade Judaica, (a
maioria convertida anteriormente ao cristianismo), os
chamados cristãos novos, a quem também chamavam marrons
(continuando alguns a praticar a religião ás escondidas), apesar
de alguma protecção régia, a situação atingiu contornos
dramáticos; na fatídica Páscoa de 1506, os populares, incitados
pelos frades, perseguiram os cristãos novos, muitos são mortos,
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(mais de 2.000), os templos foram destruídos, e os bens
confiscados, depois tudo quanto pertencia ás Mesquitas foi
distribuído ou entregue ao Clero, e todas as industrias e as
propriedades agrícolas, entregues à Nobreza, poder. (história da
Inquisição)
É do conhecimento geral (como atrás disse) que os povos quando
perseguidos, se refugiavam, em concentração nos templos,
Como a toponímia está sempre relacionada com acontecimentos
ou pessoas, Será que o sítio dos Mor tórios, que a lenda diz ter
havido naquele local uma grande mortandade, estará ela
relacionada com os muitos mortos naquele local, pela
inquisição, na tal Páscoa de 1506?e dai a razão para que esta
povoação, que dispunha de um bom suporte económico e
organizativo, e depois em 1527, vinte e um anos depois, tivesse
ainda apenas cinco vizinhos? Talvez só as famílias que moravam no
casal e que eram considerados os cristãos velhos, por descenderem dos
Cruzados?
Será que os acontecimentos de 1506 também foram vividos em
Arrouquelas? Tudo indica para que sim! Já temos hoje
conhecimento que a igreja actual assenta sobre uma parte que
aparenta ter sido destruída, também possuirmos junto há igreja
um local (os Mor tórios) que a lenda diz ter havido uma grande
mortandade, e conhecemos bem, como os valores patrimoniais e
os religiosos existentes, foram depois separados e distribuídos,
dados que se assemelham, e correspondem até, exactamente, aos
registos das leis e dos acontecimentos oficiais da Inquisição dessa
época!
Em 1531 D. João III mandou instalar a Inquisição em Portugal, os
cristãos novos não mais tiveram paz, (diz-se que os cristãos novos
utilizavam vários processos para continuarem a praticar a sua religião;
como sabiam que os homens da Inquisição condenavam quem não
consumisse carne de porco, por ser um indicio da prática da religião
muçulmana, então construíram mesas de cozinha com duas gavetas,
onde guardavam sempre dois pratos com comida cozinhada à base de
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carne de porco, então, se pressentiam que alguém chegava próximo,
escondiam o prato de que estavam a comer, e substituíam-no pelo que
estava dentro da gaveta),
A maior parte dos 2500 processos inquisitórias, são de cristãos novos,
muitos fugiram, com estas atrocidades. Foi também naquela época que
viveu António de Matos e Noronha, filho de Sebastião de Matos e de D.
Guiomar de Noronha, um letrado, cujos méritos o levaram à prelazia de
Elvas durante dezanove anos, foi sagrado em Madrid, pelo arcebispo de
Toledo, entre os altos cargos a que ascendeu, figura o de, Inquiridor –
Geral, de 08/08/1536, cargo que desempenhou até fins do ano 1600,
morreu em Elvas a 17/11/1610.
Com um Inquiridor da família dos Noronhas, estes sendo proprietários
das quintas do Brinçal e da Lapa, talvez se encontre mais uma explicação
para uma actuação muito severa e uma implacável aplicação das leis da
santa Inquisição.
A extinção, da Moagem e do Açude, e com as terras das proximidades da
extinta Moagem, a pagarem foro à quinta da Lapa, concessão que só
cessou com o 25 de Abril, (dão-nos a indicação de terem passado para a
nobreza por confisco e depois passarem a ser exploradas pelo povo)
A extinção da Ferraria, da Fábrica de Tijolos, (os terrenos onde estavam
implantados e a horta em frente da igreja serem propriedade da Quinta da
Lapa, mas nunca exerceram esse domínio)
E a casa do (Rabi) e o seu quintal, passarem a serem pertença da igreja
(casa do Padre), e ao lado, o Lagar de Azeite (que em principio e por
norma, eram pertença da mesma entidade, o Rabi) vir a ser pertença da
quinta da Lapa.
A Eira e a Horta (que hoje são terrenos pertença dos Srs. da casa em
frente ao Luís Morgado Pereira), passarem a ser pertença da família dos
Zangolões que como se disse eram possivelmente descendentes dos
Cruzados e habitaram em princípio na quinta de Alozela, depois os seus
descendentes vieram misturar-se com residentes no Casal.
Devem ter escapado à destruição toda a zona do Casal, onde o
cristianismo dos Cruzados, era desde décadas a religião professada, por lá
se terem misturado e instalado, descendentes dos proprietários de Allozela,
existindo assim o cruzamento de raças, Árabe e do norte da Europa, que
ainda hoje é evidente nas pessoas, como atrás referi!
Eu ouvi ao meu avô, e também ao meu pai, que serradores mais antigos
quando foram requisitados para a zona de Azambuja, para fazerem madeira
para os barcos, para irem para as Africas, (descobrimentos?) tinham
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encontrado na Quinta da D. Joana, um moleiro, que em conversa, afirmava
que os seus descendentes tiveram uma moagem em Arrouquelas,
(seria Ele um dos muitos miúdos judeus que a inquisição retirou ás
famílias para não se habituarem a praticar a religião judaica?), ou seria
ele descendente de alguém que possuía uma técnica rara, e tivesse sido
obrigado a ir trabalhar para a Nobreza? Ou foram obrigados pela lei da
santa Inquisição a abandonar este local? Como já atrás interroguei!
Na mesma Quinta (D. Joana), ainda nos meados do século anterior, existia
uma fábrica de tijolo e telha, mais ou menos onde hoje estão implantados
os depósitos de combustíveis!
Será que também era uma continuidade da fábrica do Casal do Coito, e
que pelos mesmos motivos, a técnica tinha sido para lá deslocada?
Se acrescentarmos a tudo o que foi dito, também o de se dizer, para não se
cortarem as unhas à sexta feira, porque segundo se afirmava era pecado e
cortava as forças, esta era a minha avó materna quem me o dizia, enquanto
eu fui criança,
Se juntarmos a todas as práticas e costumes já citadas, mais ainda o facto,
de todos os anos, por cá passar, um emissário de Meca, que vendia umas
brindeirinhas do formato dos caramelos Espanhóis, que se dizia eram
contra a aproximação dos cães raivosos, e que estas nos deviam
acompanhar sempre! Mas escondidas numa bolsinha no interior da roupa,
(será que cães raivosos eram os homens da Inquisição? E a venda das
brindeirinhas uma forma de colecta para Meca?), semelhante ao que na
nossa época é utilizado por alguns grupos religiosos?
Também no que diz respeito à igreja, os relatos falados mencionam ter Ela
sido alvo de vários assaltos, não se sabe em que datas – diz a lenda que os
de São João da Ribeira vinham cá roubar a Imagem e Ela no dia seguinte já
cá estava novamente,
Será que os cristãos velhos retiravam a imagem como forma de testarem
os cristãos novos?
Será que os Cristãos Novos procediam ao acto da recuperação da
Imagem, em uma tentativa para provar aos Cristãos Velhos que
abraçavam verdadeiramente a religião Cristã? E assim estes não os
pudessem denunciar, perante a inquisição, de falta de apego à religião
católica?
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A igreja de Nossa Senhora da Encarnação, pela sua arquitectura, comprova
os vários restauros e ampliações; a do século XVIII, parece ter sido a de
maior vulto, os azulejos e o portal em alto-relevo, são de grande valor
patrimonial histórico, a data de 1718 agora descoberta coincide com o
século da sua restauração e com o período em que a Feira Anual se realizou
em Arrouquelas.
Os dados, as lendas e os acontecimentos, dão-nos quase como
certo que o restauro do século XVIII, teve como reconstrução e
ampliação de uma antiga Mesquita, que terá sido destruída pela
Inquisição, e que a família dos Noronhas devem ter tido bastante
influencia nas obras de restauro, a avaliar pelas cores das pinturas
encontradas no seu interior e agora descobertas em 2007, serem as
cores do fogo, iguais ou semelhantes, ás do seu Brasão, e também
as datas em que foram feitas. Desconhece-se, se quando da
reconstrução da Igreja, também a casa do Rabi, foi restaurada para ser
utilizada como morada do Padre?
(será que podemos estar em presença de uma recompensa pela sua
destruição? porque talvez também tivesse havido muita influencia sua, na
destruição, e no abandono deste loca?) (e possivelmente a mão do
Inquiridor Noronha?)
Os registos da época do restauro, dão realce não só à igreja em si, mas
também aos componentes que lhe davam suporte, é o caso da Feira do
Concelho, pedida pela Irmandade de Nossa Senhora de Arrouquelas com a
finalidade de comprar os paramentos para a Igreja,
.
Também a Feira de Arrouquelas teve alvará reconhecido no reinado de D.
Afonso VI em 1674,e realizava-se anualmente a 15 de Setembro, no local
chamado de Abadia, mais ou menos onde hoje estão implantadas as casas
do filho do Filipe Vivo e as do Manuel Luís, (o Filipe Vivo adquiriu o
terreno ao Maranhoca), a feira foi depois transferida para Rio Maior em
1743 no reinado de D. João V, e dizia-se por cá, que as razões evocadas
foram o comercio do sal.
O relógio de sol com data de 1869, (esta data coincide com a vida do 9º
Marques de Angeja, que nasceu em 1845 e morreu em 1901) era a única
data gravada, conhecida no local até ás obras de restauro da igreja em 2007,
as obras deste restauro (2007) puseram a descoberto na empena nascente a
data de 1718, (esta data coincide com a vida do 2º marques de Angeja que
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foi vice rei do Brasil, é muito provável que tenha tido influencia na
reconstrução da nossa igreja,)
Aqui mais uma interrogação se coloca! Será que foi a data 1718 o início da
reconstrução? Ou alguém que já farto de ver ocultado, ou destruídos os
registos dos antepassados, se impôs, e resolveu gravar bem fundo no duro
calcário, essa data, para que jamais pudessem ser ocultados os feitos ás
gerações vindouras? Mesmo assim ficou escondida até 2007.
As cores do interior redescobertas nas obras de restauro de 2007,são as cores do fogo,
muito semelhantes ás cores do brasão dos Noronhas como referi.
Em 2006 foram efectuadas escavações junto da fonte da Igreja e os achados
arqueológicos, atestam ter sido a actual fonte, também Ela, já objecto de
uma terceira reconstrução, parecem ser em simultâneos, quando se fazem
obras na igreja, fazerem-se também obras na Fonte.
Era muito comum antigamente, os grandes senhores da Nobreza
mandarem construir obras religiosas (capelas ou igrejas) ou
mandarem construir obras de caridade, em honra de
acontecimentos, tais como o nascimento de um filho ou em
pagamento de promessas,
Foi o caso do convento de Mafra, mandado construir por D. João
V em promessa, por a Rainha, Maria Ana, ter dado um herdeiro
para o trono, (D. José).
Será que o nascimento do primeiro filho, do segundo Marquês de
Angeja, (D. Pedro António de Noronha) quando este já tinha a idade de
35 anos; o nascimento de uma menina de nome: Maria Rosa Quitéria de
Noronha, nascida em 08/09/1715, e o segundo filho; Pedro José de
Noronha, nasceu em 17 de Agosto de 1716, será que foram motivos para
a reconstrução da nossa igreja? Até porque o, D. Pedro António de
Noronha foi vice-rei do Brasil no período de14 de Outubro de 1714, a 11
de Junho de 1718, e é conhecido quanta fortuna em ouro e não só,
vinham dessas paragens, nessa época, e assim ao regressar não lhe seria
difícil economicamente, satisfazer um seu desejo ou vontade? Também
pode ter acontecido o pagamento de uma promessa por ter regressado em
bem, do desempenho da governação no Brasil? As datas coincidentes de
1718, e as cores de fogo utilizadas nas pinturas do interior da Igreja,
semelhantes às do Brasão dos Noronhas, podem querer dizer alguma
coisa? Aqui não me restam dúvidas.
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Pode parecer estranho estar a fazer estas interrogações e
comparações! Mas o que é verdade, é que ao longo de toda a sua
história, os Noronhas, sempre manifestaram grande simpatia por
este local, muito antes do caso do 9º Marques, com Maria Catrina,
o que concretamente aqui se passou neste local com esta família
dos Noronhas, não consegui ainda descobrir. Mas pode ter
acontecido aqui, algo de muito grave, ou também de muito alegre,
com algum dos elementos da família, quando da conquista aos
Mouros, ou com a Inquisição, é conhecido como os portugueses
costumam venerar acontecimentos graves ou trágicos, mas
também os grandes feitos!
Como nota; a época que medeia desde o início da Santa Inquisição e a
implantação da feira, coincide com um período (em que a família Noronha,
- (Marqueses de Angeja), descendentes de D. Afonso Henriques de Gijon,
proprietários das quintas do Brinçal e da Lapa (e que sempre tiveram
muita ligação a Arrouquelas); durante esse período - tiveram muita
influencia na governação de Portugal, pois tinham muita influencia sobre
os reis Monarcas Portugueses, e vieram mesmo a desempenhar vários
cargos de relevo, para o reino.
O 2º dos Marqueses, Pedro António de Noronha; foi o segundo vice –
rei do Brasil,
O 3º Marques de Angeja, D. Pedro José de Noronha, nasceu em1716
foi nomeado Presidente do Erário Régio (1º Ministro) de D. Maria I, em
1777, adoeceu gravemente1783 e faleceu em 1788.
O D. Manuel Gaspar de Almeida, Noronha Portugal Camões
Albuquerque Moniz, 9º Marques de Angeja, nasceu em 29/08/1845 e
faleceu em16/12/1901, não casou, mas se enamorou de Maria Catarina,
(uma trabalhadora interna que era irmã do avô do Manuel Bugalho e
irmã do avô da mãe do João Manuel, tia da mulher do António Quintino,
que era a avó do Caetano Rosa etc.), natural de Arrouquelas, com quem
viveu maritalmente na Quinta da Lapa.
Por não poder casar com Maria Catarina, sabia que por sua morte esta
não vinha a herdar nada, então, deu-lhe como dote: umas casas, (as que
depois foram chamadas as casas queimadas,) e um recheio de grande
valor, que foi destruído pelo fogo, e outros equipamentos de apoio; e
também o rendimento do lagar de azeite, tudo isto para que pudesse ter
autonomia económica, após a sua morte, (como atrás referi), a senhora faleceu
pouco depois do Marques.
Desse amor com o marquês, nasceu uma filha: D. Maria de Almeida
Noronha, nascida a 04/04/1881, e veio a casar em 19/02/1898, (com João
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Marcelino de Azevedo, contra a vontade do pai, pois este não confiava nas
qualidades do futuro genro), pouco depois do casamento da filha, o
Monarca seguiu para o paço do Lumiar, onde hoje está exposto o museu
do Traje e passado pouco tempo morreu, dizem que, envenenado.
Os receios do 9º Marquês, vieram a confirmarem-se.
Por falta de pagamento dos impostos ao Estado, pelo João Azevedo, as
quintas da Lapa e a do Brinçal e também os valores que tinham cá em
Arrouquelas (por morte de Maria Catarina) foram vendidos em praça,
(haste pública) pelos valores em divida ao erário publico, as casas e todo o
património existente em Arrouquelas foram comprados por um tal Braz da
Ereira, e a Quinta da Lapa e a do Brinçal compradas por Fernando
Inverno,(velho), as casas já queimadas foram depois compradas por
Eduardo Janeiro, e o lagar de azeite, que hoje é do Albino Vivo, que foi
comprado pelo tal Braz da Ereira, mas era para ser depois para a família
dos Caldeiras, que já com ele trabalhavam, em regime de arrendamento,
mas depois por negócios pouco claros, foi parar à família dos Casal, (pai
do Maranhoca)
Será que aqui neste negócio teve alguma influencia a imagem de Nossa
Senhora de Arrouquelas? que segundo dizem foi vendida há Quinta da
Lapa por seis alqueires de trigo? Será esta voz do povo verdadeira? Ou
seria a imagem de Nossa Senhora de Arrouquelas um aliciante para o
negócio do lagar de azeite? Poderá comprovar-se o interesse da família
Noronha pela Imagem pelo apego a este local como anteriormente referi!
Podemos chegar a uma conclusão, por todos os
acontecimentos já relatados, parece ter existido sempre por
parte da família dos Noronhas uma grande devoção para com
a padroeira deste local, (o motivo não é claro) e a reafirma-lo
está o tal caso de se dizer que a Senhora de Arrouquelas foi
adquirida pela Quinta da Lapa_
Desconhecem-se de facto, como se abrigavam as pessoas do
povo nessas épocas, (anterior a + ou – 1700)!
Aqui pode estar de facto uma razão da aplicação da lei da
Inquisição, imposta por Inocêncio III, que decretou que para
além da morte de todos os Hereges, os seus bens eram
confiscados e entregues ao poder, que no entanto os podia
recusar, e a destruição de toda a sua casa, para que dele não
ficassem vestígios.
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As casas mais antigas que conheci em Arrouquelas, foram uma casa
construída em pedra aparelhada com 1º andar e escada exterior com
alpendre, do tipo das do centro da Europa, e que estava implantada no
terreno que hoje é propriedade do José Diogo, diziam que foi mandada
construir por um tal oficial francês que se enamorou por uma linda donzela,
da família dos Morgados, (quando das Invasões francesas) e por aqui ficou,
até que um dia mais tarde foi descoberto, e teve que fugir em direcção à
Ribeira de São João, escondido, e por atalhos, este é um dado concreto em
que as tropas francesas estiveram em Arrouquelas (ainda hoje perto da
Ribeira de São João, existe o vale com o nome de, Vale do Francês, um
vale por onde dizem que ele passou, quando fugiu)
Uma outra casa junto ao hoje largo dos combatentes da 1ª Grande Guerra,
pertença dos herdeiros do falecido Eugénio Ferreira Vivo, feita em
TUFOS, (blocos de pedra muito macia, talhados na rocha e depois fáceis de
arrancar), a tal que era propriedade da quinta da Lapa, mandada construir
pelo nono Marquês de Angeja, como “dote” para Maria Catarina, para
que na falta (do Marquês) ficasse com autonomia financeira, Maria
Catarina faleceu ainda nova, por morte desta, a herdeira foi sua filha D.
Maria de Almeida Noronha também herdeira da Quinta da Lapa e do
Brinçal.
Nessa casa ainda viveram o António Quintino com a mulher e os filhos, no
inicio do século anterior, Depois de eles já lá não morarem, a casa apareceu
a arder, só ficaram as paredes, desapareceu todo o valioso recheio, (falava-se
em boca pequena que algum desse recheio tinha sido retirado antes) durante muitos
anos, foram conhecidas com o nome de casas queimadas.
Nota: Arrouquelas manteve ligação ao Brinçal até à última dos Noronhas,
Maria Luísa de Noronha de Azevedo, Era frequente Ela assistir ás
matanças do porco, em casas de quem consigo mais convivia, em casa dos
meus pais assistiu várias vezes! Adorava a “Tachada” mas com o tacho no
centro da mesa, e a malta toda em volta, munida de garfo e um pedaço de
pão, e assim ia retirando o conteúdo do tacho, achava muita piada quando
alguém se lhe antecipava e mergulhava a sopa, (um bocado de pão
espetado no garfo e mergulhado no tacho, queria dizer que enquanto não
bebessem todos, ninguém podia tirar nada do tacho), depois vinha a
rodada do vinho tinto, e só depois de todos beberem era levantada a sopa,
era normal colocarem um copo só para a Senhora, que muitas vezes
rejeitava
Com a venda da Quinta do Brinçal ao Comendador António Cardoso o
povo de Arrouquelas continuou a ser preferido nas tarefas.
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Como casas de habitação, pertença do povo, a mais antiga que conheci foi a
casa da ti Ana Quitéria, casa feita em tabique, muito baixinha na frente,
terrena e com alpendre, as pessoas para entrarem na porta tinham que se
baixar, depois de a proprietária falecer, ainda lá viveram os seus netos:
Guilhermina Januário, Silvino Januário e Raul Januário, em casa idêntica,
(mas com porta larga com postigo) viviam a Maria Café e suas filhas,
(Lurdes e Sofia).
Também conheci uma outra, a casa do ti Pombinha, muito pequenina,
também com porta com postigo, e era no local onde hoje estão as casas do
Mário Vitorino,
O meu avô dizia-me que a casa mais antiga que Ele conheceu estava
localizada num altinho rodeada de sobreiros, junto a uma eira, em frente ao
Luís Morgado Pereira, na propriedade pertença da família dos Outeiros,
(Zangolões) que habitavam no Casal (hoje essa propriedade é pertença de
pessoas não naturais de Arrouquelas), pela proximidade da casa do (Rabi)
esta casa seria mais um dos seus aposentos e que pela Inquisição passou
para os Cristãos? Isto já foi referido.
Também o meu avô me dizia que a família mais antiga de Arrouquelas, era
a dos Coitos, que deram o nome ao local, alguns dos habitantes do Casal do
Coito), se juntaram com a família dos Marcelinos. Para atestar esta
veracidade, constata-se que o pai da Suzete tinha os dois apelidos: Artur
Marcelino do Coito, o ultimo dos Coitos é o Abel do Coito Bom,
Porquê os Marcelinos foram durante muito tempo o suporte do ensino
em Arrouquelas, será que os Marcelinos (descenderam) ou herdaram
algum dos poderes e saberes do Rabi, que em principio era uma família
de letrados?
.
Os serradores foram sempre um dos melhores veículos de comunicação
oral, dada a abrangência de povos e povoações com quem contactavam,
trabalhavam a grandes distancias e em conjunto, depois tinham a segundafeira praticamente toda livre, para assim poderem fazer o ponto da
confluência das recolhas de uma semana. (Ver Serradores)
.
Também a mesma fonte me assegurou que a pedra para o convento de
Manique veio da Serra da Luz e era transportada em zorras, puxadas por
uma ou mais juntas de bois, por um percurso que passava nas proximidades
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de Asseiceira, em direcção ás Salgadas, passava no Porto do Cuco,
atravessava a quinta do Brinçal, pelos Estalagueiros e saía no Vale da
Panela, seguindo depois o percurso da estrada actual; esta estrada foi
depois utilizada pelos moleiros que tinham as suas azenhas no Rio Maior e
faziam o transporte da farinha e do cereal entre o moinho e a zona do
Cartaxo.
Considerando que todos os acontecimentos, as lendas,
hábitos e costumes, tiveram constatações correctas,
podemos concluir que em Arrouquelas se viveram três
períodos, aos quais podemos considerar que foram de um
grande desenvolvimento.
O primeiro,
com as indústrias: da Cerâmica, do Lagar de
Azeite, do trabalhar o Ferro e de Moagem, isto como suportes de
todas as outras actividades, sempre com a mão-de-obra e técnica,
Árabe ou Judaica.
O segundo,
com a transformação da madeira das nossas
florestas, pelos nossos Artífices Serradores, com a reconstrução e
ampliação da nossa Igreja, o conhecimento adquirido com a vinda
do relógio de sol em 1869, e com o comércio realizado na nossa
Feira, pois como se sabe as feiras foram um grande pólo de
desenvolvimento dos povos,
Ao não termos conseguido manter aqui a realização da feira, parece-me
ter sido uma perda de grande vulto, ficamos privados de muitos recursos,
e foi sempre mais fácil dar, tendo! Do que receber exigindo!
E isso comprova-se com um período de grande estagnação que
decorreu desde essa época, até 1947, ao não se ter realizado em
Arrouquelas nenhuma obra de cariz social, nesse espaço de
tempo.
E o terceiro;
com a criação da Comissão de Melhoramentos,
quem nasceu antes de meados do século anterior, e ultrapassou o
seu final, não poderá ignorar na sua mente, todas as infra-
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estruturas que foram realizadas após o movimento de criação da
Comissão de Melhoramentos.
A Comissão de Melhoramentos teve o seu início nos meados da
década de quarenta, e começou na adega do António Parente.
Em princípio foram apenas dez homens, que foram depois
designados por Sócios Fundadores, muitos mais depois se lhes
juntaram, foi criada então uma infra-estrutura, a Comissão de
Melhoramentos, que no mínimo veio amenizar alguma miséria.
Todos estavam fartos de serem dependentes de São João da
Ribeira, que tanto nos sugou e nada deu.
Foram os sócios que ás suas custas e esforço, construíram a sua
sede, no local onde ainda hoje permanece, o terreno era um local
com oliveiras e sobreiros, foi oferecido por “Laureana Manapla”,
refiro: foi a única pessoa que teve a bondade de doar terreno,
para a comunidade Arrouquelense, mais ninguém ofereceu um
palmo de terra que fosse, todas as outras estruturas foram
construídas em terrenos comprados ou ocupados.
A sede foi inaugurada em 20 de Novembro de 1947 com a
presença do Sr. Governador Civil, também o Sr. Presidente da
Câmara Municipal, os Dez Sócios Fundadores e com a presença
do povo.
A primeira obra feita pela Comissão de Melhoramentos, foi de caridade!
Foi a Comissão de Melhoramentos quem comprou o caixão para o
funeral da Aldinha, (filha da ti Laura e do Sargento), pessoas muito
pobres sem dinheiro para comprarem o caixão, e sem este gesto de
humanismo o corpo seria levado no Esquife e depositado no coval
desprotegido.
Depois outras obras se lhe seguiram, reparação de caminhos, lavadouro
público, auxílios nas doenças aos seus associados mais carenciados, etc.
e com a Comissão de Melhoramentos, Arrouquelas passou a ter uma
organização com força para exigir junto das entidades oficiais alguns
melhoramentos.
A criação da Freguesia de Arrouquelas, nasceu por influência de
um movimento iniciado no interior da Comissão de
Melhoramentos, liderado por, Joaquim Coelho Fialho, António
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Vitória Pereira, Manuel Martinho Vitorino, José Pereira Morgado
e Saul Lisboa.
Criada a Junta de Freguesia em 25 de Março de 1962,
Arrouquelas passou a dispor de melhores condições de
reivindicação, tinha agora um organismo oficial representante de
todo o povo, e assim Arrouquelas com a construção de várias
infra-estruturas, melhorou a qualidade de vida da sua população,
de modo que hoje, os seus habitantes, usufruem das mesmas
condições que os seus vizinhos no concelho.
Este é um documento que eu próprio considero que está
incompleto! Por isso tem várias interrogações e suspeições, mas
tem muitas constatações, fiz algumas reflexões que são
simplesmente as minhas, o leitor decerto fará as suas, mas em
forma de resumo, eu concluo que: Arrouquelas foi de facto antes
da Inquisição, uma grande Urbe Mourisca ou Judaica, os dados
apontam que a Inquisição e os seus métodos foram
preponderantes no extinguir dessa Urbe, que a técnica Mourisca
ou Judaica, que aqui existia, foi depois aproveitada para servir os
senhores da Nobreza, que o património que era dos Judeus ou
Árabes passou também para a Nobreza, que o que era da religião
Judaica, passou para a religião católica, que algumas das
propriedades foram rejeitadas pela Nobreza, umas ficaram nas
mãos dos cristãos velhos, outras só mais tarde foram ocupadas,
que a igreja foi reconstruída sobre as ruínas de uma Mesquita, e
que nessa reconstrução tiveram grande influência a família dos
Noronhas, não consegui encontrar de facto uma razão concreta
que me permita com alguma clareza identificar o seu apego a este
local, (não sei se Fé, se sentimento de culpa),
Espero com este trabalho contribuir para que NÓS
ARROUQUELENSES se possamos ficar a conhecer melhor na
história, seja um bom contributo para quantos se nos seguirem, e
para todos os que se interessarem por este local.
António Rogério Jesuíno Bom
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ArrouquelasOrigens - Junta de Freguesia de Arrouquelas