Empreendedorismo Social ou Intraempreendedorismo?
Por Heiko Hosomi Spitzeck
Muhammad Yunus, ícone do empreendedorismo social, fundou em 1983 o Grameen
Bank, primeiro banco a conceder linhas de microcrédito a empreendedores de
comunidades pobres. O objetivo era ajudá-los a se desenvolver e sair da pobreza. A
ideia funcionou para mais de dois milhões de empreendedores. Em 2006, o banco
contava com cerca de 7,3 milhões de clientes.
Nick Hughes e Susie Lonie eram funcionários da Vodafone no Quênia. Sabiam que
apenas 20% da população tinham acesso a serviços financeiros, e mais de 60%
possuíam celular. Surgiu, então, a ideia de lançar o serviço bancário M-PESA, que
permitia ao usuário transferir dinheiro de um celular para outro, em um sistema
parecido com o de envio de SMS. No primeiro ano, o M-PESA atraiu mais de um milhão
de clientes; e 10 milhões aderiram nos três anos seguintes. Para a população do país,
o serviço favorecia a transferência de fundos de maneira fácil e segura. É um belo
exemplo de intraempreendedorismo social – gera valor para empresa e sociedade.
Para Gib Bulloch, Fundador e Diretor Executivo da Accenture Development
Partnerships, “pequenas mudanças em grandes organizações podem causar impactos
sociais significativos”. Os intraempreendedores têm essa vantagem sobre os
empreendedores sociais - partem de estruturas e competências de organizações já
existentes para buscar resultados para a empresa e sociedade. Para o livro Social
Intrapreneurism and All That Jazz, entrevistei muitos intraempreendedores sociais de
grandes organizações. Os resultados são notórios. Em geral, os projetos de
intraempreendedorismo vão além do escopo das atividades de sustentabilidade
corporativa que, em muitos casos, estão preocupadas em reduzir ao máximo custos e
riscos.
Comparando os dois modelos, o intraempreendedorismo social favorece a
alavancagem das capacidades de uma empresa já consolidada - com um salário fixo e
risco controlado. A desvantagem é que prescinde de aprovação interna, o que gera,
em muitos casos, resistência às mudanças. No empreendedorismo social, por sua vez,
o empreendedor tem total autonomia para atuar em seus projetos. A desvantagem é
um maior risco – precisará montar uma nova empresa, com natural chance de
falência.
O exemplo do Grameen Bank demostra que o desenvolvimento de um ecossistema
leva tempo. Nos anos 80, ninguém falava de empreendedorismo social. Agora todos
conhecem o conceito. Hoje, ninguém conhece o conceito de intraempreendedorismo
social. Quanto tempo levará para as empresas reconhecerem o seu potencial?
Heiko Spitzeck é professor e Coordenador do Núcleo de Sustentabilidade da
Fundação Dom Cabral
Download

Empreendedorismo Social ou Intraempreendedorismo? Por