10 A
entrevista da semana
A GAZETA
CUIABÁ, DOMINGO, 16 DE SETEMBRO DE 2012
SAÚDE
Secretário aponta que mudanças geram descontentamento, mas são necessárias
Crise existe, mas também
há contornos eleitorais
MARCOS LEMOS
DA REDAÇÃO
N
o centro nervoso da relação governo do Estado com os
municípios, o secretário de Saúde, Vander Fernandes, é o
entrevistado especial deste domingo de A Gazeta e
admite em suas palavras dificuldades financeiras para
superar obstáculos, mas pondera que as críticas ganharam contorno
eleitoral por causa da sucessão municipal e do fim dos mandatos dos
atuais prefeitos.
O secretário lembra que as críticas hoje são quanto a repasses, mas
pouco ou quase nada se ouve falar em relação a filas de atendimento,
por que houve mudança de gestão. Ele defende o modelo de OSS
adotado pelo governo do Estado e sinaliza que os ganhos são
perceptíveis, desde que não se envolva a política partidária na gestão da
coisa pública. Critica a judicialização em busca de atendimentos e faz o
mea culpa ao sinalizar que mudanças geram descontentamento, mas
precisam ser executadas sob pena do sistema não avançar e não atender
à demanda.
Em suas palavras, o secretário relata ainda que a ação civil pública
movida pelo Ministério Público Estadual e acatada pela Justiça acabou
sendo favorável ao Estado, que tinha convênios com os municípios de
mais de 5 anos e que somam R$ 160 milhões para um orçamento de R$
107 milhões. “Só por causa dessa decisão judicial reduzimos nossos
gastos em R$ 53 milhões e os municípios terão de se adequar a essa
nova realidade.
A saúde pública de Mato Grosso está doente?
Nos temos alguns gargalos, sim, porém perto do que vivíamos há
alguns anos nós avançamos. Tínhamos CPI da Saúde, milhares de
pacientes na fila aguardando cirurgia e atendimento e poucas chances
de solução. Hoje é perceptível ver que as ações começaram a surtir
efeitos, pois nossa política é focada na gestão. Isto encerrou as filas e
acelerou os atendimentos, por causa do modelo de gestão.
Isto comprova que o serviço melhorou ou houve apenas ações
paliativas?
É preciso separar as coisas. Nós tínhamos vários hospitais com
uma rede de assistência desorganizada, produzindo pouco. Com
gestão, transformamos os hospitais em unidades com respostas às
necessidades de suas respectivas regiões. Aquilo que não puder ser
sanado, solucionado na região, por falta de profissionais ou de
equipamentos especializados acabamos referenciando para Cuiabá.
Aquela grande fila de cirurgias eletivas de média complexidade não
existe mais, não se ouve falar mais em espera.
Mas isto não é uma realidade absoluta?
Alguns gargalos ainda persistem como as grandes cirurgias
cardíacas ou neurocirurgia e consultas complexas por falta de
profissionais especializados, mas estamos atacando este assunto e
queremos ter unidades de alta complexidade em várias regiões para
vencermos essa nova etapa e por isso contamos com uma articulação
com o Ministério da Saúde, governo do Estado e em alguns casos dos
próprios municípios da região.
Por que a Secretaria de Saúde
sofre tantas críticas e cobranças?
Eu entendo que neste momento a
crise está sediada de forma mais
agressiva por causa do período eleitoral.
As pessoas querem fazer de sua ideologia,
contra ou a favor do determinado modelo,
o motivo para um problema que não é de
hoje, se arrasta a vários anos e assim vai
continuar, solucionando uma questão aqui,
mas sempre surgindo novas situações.
desinteressado. Falta a ele instrumento, mecanismo de gestão,
ferramenta para prestar um bom serviço de forma ágil e eficiente. Em
nenhum momento a secretaria aponta o problema como o servidor, até
porque se temos obras que estão há 10 anos aguardando para serem
inauguradas, a culpa não pode recair em cima de apenas um secretário
ou um governo.
De quem é a culpa pela situação?
De uma máquina pesada burocrática e que para o modelo e para as
exigências emergenciais da saúde não se demonstra em nenhum
momento eficiente.
“
O seu orçamento é do tamanho das
grandes obras da Copa do Mundo como o
VLT. O gargalo seria a falta de recursos e a
potencialização da falta de atendimento?
As necessidades da população são
crescentes a cada dia, mais e mais. Se
formos para o comparativo com o VLT que
custará R$ 1,2 bilhão e o orçamento da
Saúde que é de R$ 1 bilhão em 2012,
precisamos levar em consideração que a
violência do trânsito é uma das maiores
causadoras de mortes e de traumas que
geram bilhões e bilhões todos os anos
de prejuízos e gastos na saúde pública.
Quando você investe num sistema de
transportes moderno, eficiente, preste
a atenção, eficiente, você vai ter mais
segurança, menos acidentes e
principalmente saúde para a
população. E não é apenas na
questão de acidentes, é também por
causa de doenças respiratórias, pois o VLT é
elétrico, então se parte do princípio que se terá menos emissão de
gás carbônico, mais segurança, menos acidentes e o que é essencial,
eficiência, pois o custo dos acidentes de veículos é altíssimo para a
saúde pública de uma maneira em geral, seja no custo assistencial ou
até mesmo previdenciário.
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Dá para se fazer saúde sem recursos ou
com valores limitados?
A saúde para ter resultados práticos é
preciso recursos e eficiência. O grande
problema era eficiência, pois sem ela os custos
aumentam, se utiliza recursos para tapar
buracos de forma desorganizada e o pior,
dinheiro é limitado. Temos algumas estruturas
precárias e materiais com falta de insumos, mas
temos aquelas que têm dinheiro e também não têm
resultados positivos, numa demonstração clara de falta de eficiência,
por falta de gestão.
Onde está o problema?
Não são as pessoas, o servidor que é incompetente, incapaz ou
A tese do alto custo da folha de pagamento não seria motivo
para se liberar mais recursos para a saúde?
É preciso que o custo da folha de pagamento seja diminuído, pois é
uma despesa da secretaria e tem de ser paga, sem contar que o trabalho
da saúde depende exclusivamente da força humana de trabalho. Agora
sem a eficiência, o custo, as despesas são sempre maiores, pois
gastava-se mal os recursos.
Depois que implementamos este novo modelo de gestão, temos
um raio-X completo de todas as unidades, de suas necessidades e do
estabelecimento de metas que se não forem cumpridas acabam
gerando economia para os cofres públicos, mas em compensação,
serviços a desejar.
Qual seria o exemplo para este quadro?
Existia uma necessidade enorme de atender aos pedidos de
cirurgias bariátricas. Nos organizamos, o Hospital Metropolitano em
Várzea Grande se preparou e passou a executar cerca de 20 cirurgias
por mês através do SUS, com o que existe de mais moderno. O
problema foi sanado, mas isto não é notícia.
Recentemente uma clínica privada foi denunciada nacionalmente
por contaminar em procedimentos estéticos uma centena de pacientes
com infecção por microbactéria. Nenhuma unidade pública teve
condições de absorver os contaminados. Quem fez de um dia para o
outro foi o Hospital Metropolitano, gerenciado por uma OSS e que está
operando, tratando e recuperando essas pessoas contaminadas, mas a
notícia foi a contaminação, a solução não foi notícia. Notícia é coisa
ruim, coisa boa é obrigação nossa.
E os problemas de decisões judiciais que acabam impondo ao
Estado obrigações adversas do planejado por ele?
Anualmente o Estado é impelido a pagar por decisão judicial
algo em torno de R$ 60 milhões/ano que estão fora do orçamento e
que exige remanejamento de outras áreas de dentro da própria saúde
para se atender à demanda. Agora este número já foi maior e hoje
está sendo reduzido porque estamos tendo eficiência em nossa
gestão o que desobriga as pessoas de procurarem a Justiça para ser
atendidas. Nossa capacidade instalada de atendimento é limitada por
isso precisamos construir novas unidades hospitalares de alta
complexidade.
As OSSs são eficientes?
Quem critica as Organizações Sociais são os servidores
concursados. É um modelo de parceria que é arriscado para os
servidores, mas não para os usuários que mensalmente são avaliados e
demonstram satisfação. Eu sou servidor da secretaria, mas precisamos
tomar a decisão ou fazemos gestão de saúde para o usuário ou para o
servidor, até porque o servidor da saúde não pode reclamar de seus
salários, pois estão acima da média nacional. Reclamar por falta de
condições de trabalho é justificável, mas isto não acontece nas
unidades que são gerenciadas pelas OSS.
Falta ao servidor instrumento, mecanismo de
gestão, ferramenta para prestar um bom
serviço de forma ágil e eficiente
João Vieira
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