“COMUNICAÇÃO
– EDUCAÇÃO
- EXPOSIÇÃO: novos saberes,
novos sentidos”
Título de artigo de SCHEINER, Tereza.
• Nova Teoria do Museu – onde este é pensado
já não mais apenas como instituição (no
sentido organizacional), mas a partir de sua
natureza fenomênica e de sua pluralidade
enquanto representação;
• Perceber o museu através da experiência de
mundo de cada indivíduo – por meio das
múltiplas e complexas relações que cada ator
ou conjunto de atores sociais estabelece com
o Real complexo.
Museus consolidam hábitos e costumes, levando o visitante a
falar em voz baixa, andar em passos curtos, seguir trajetórias
sem fim sem indagações ou surpresas. Regras disciplinares
controlam corpos e movimentos. Também a suntuosidade dos
objetos dispostos, a falta de informação sobre eles, leva o
visitante a reverenciá-los ao invés de tentar compreendê-los. Os
museus muitas vezes ocupam antigos palácios, mas, mesmo
quando criados para abrigar coleções, procuram reproduzir a
imponência de residências majestosas. Sem dúvida, estas são
características presentes no Louvre e no British Museum (Bennet
1995), mas também presentes em inúmeros museus brasileiros.
Estes não são necessariamente palácios extremamente
suntuosos, mas em grande parte labirintos pouco sinalizados e
capazes de constranger qualquer cidadão comum que pela porta
da frente se aventure a uma visita (SANTOS, 2002, p. 89).
• O Museu é a experiência em sua essência – o
que o caracteriza como fenômeno, onde o que
esteve sempre no centro de qualquer
concepção de Museu é a relação - relação esta
entre o Humano e as coisas do mundo, entre
seus semelhantes e entre ele mesmo e o seu
inconsciente.
• Ao reconhecermos o caráter fenomênico do
Museu, cria-se a possibilidade de que este
pode ser percebido através da experiência de
mundo de cada indivíduo, a partir das
diversas, múltiplas e complexas relações que
cada homem ou sociedade estabelece com o
Real complexo.
• Baseada nas teorias de Peirce, Santaella ressalta a
necessidade de entendermos e reconhecermos as três
diferentes facetas do signo:
• A primeira seria o ícone, onde um aspecto de sua
qualidade remete ao objeto do signo. Ex.: Fotografia,
escultura;
• A segunda faceta seria o índice, que mesmo tendo uma
existência concreta, é resultado de uma conexão de
fato com o seu objeto de signo Ex.: Cata-vento (vento),
fumaça (fogo), pegada;
• e por último, têm-se o símbolo, que representa seu
objeto de signo através de uma lei e/ou convenção
social. Ex.: Semáforo.
• O processo comunicacional e pedagógico do Museu não
ocorre apenas pela via formal das operações didáticas
controladas, oriunda do logos, mas também perpassa por
uma relação espontânea entre a capacidade imaginante do
indivíduo e o discurso do Museu.
• O Museu estabelece então um verdadeiro diálogo com o
indivíduo – ou uma comunidade - priorizando a emoção, a
imaginação e o sentimento para, através deles, oferecer a
razão.
• O Museu constitui-se portanto não apenas no ambiente
tangível em que as coisas existem, porém na relação, de
forma espontânea (Scheiner, 1998).
• Segundo Scheiner, é na esfera local que cada grupo
humano designa e define sua identidade. Não há,
portanto como falar de indivíduo sem considerar que é
na esfera local que os indivíduos se constroem,
principalmente, enquanto tais – seja este local um
bairro, uma família, uma escola, uma igreja e/ou outro
tipo de comunidade.
• Como aponta Maffesoli, “o indivíduo só pode ser
definido na multiplicidade de interferências que
estabelece com o mundo circundante” (1996, p. 305).
• Assim, faz-se necessário pensar se os museus não
poderiam estar abertos ao diálogo para aqueles a quem
lhe dirige. E mais: todos os museus poderiam definir,
em suas políticas e diretrizes, quem é sua
“comunidade”. Mesmo os museus de grande porte,
como os ditos “nacionais”.
• Neste caso, estes museus que ainda ousam dizer
respeito a um todo idealizado e construído
(GONÇALVES, 2002), precisam considerar os
diferentes grupos que compõem esse todo. Senão, de
quem eles realmente estão falando?
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si
mesmo, os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo.”
Paulo Freire.
• Segundo Scheiner (2002), a exposição é o principal
veículo de comunicação entre o museu e a sociedade,
a principal instância de mediação dos museus, a
atividade que caracteriza e legitima a sua existência
tangível. A autora também declara que
Sem as exposições, os museus poderiam ser coleções de estudo, centros
de documentação, arquivos, poderiam ser também eficientes reservas
técnicas, centros de pesquisa ou laboratórios de conservação, ou ainda
centros educativos cheios de recursos – mas não museus (1991).
Toda exposição é a recriação de uma parcela de
mundo. Mas é também um espaço metafórico
intencionalmente articulado, e como tal é capaz
de produzir um discurso especialíssimo, que
configura a sua identidade, e que a transforma
num objeto perceptual específico.
Mas é o uso adequado das linguagens que irá
contribuir para tornar a exposição um ‘espaço
emocionante’, ajudando a tornar a experiência da
visita uma experiência vivencial.
Museu de História Natural, Paris. Foto: Luciana M. de Carvalho
NEMO, Amsterdã. Foto: Luciana M. de Carvalho
Museu Rembrandt, Amsterdã. Foto: Luciana M. de Carvalho
Louvre, Paris. Foto: Luciana M. de Carvalho
É a partir das exposições que os museus elaboram e
apresentam uma narrativa cultural que os define e
significa,
enquanto
agências
de
representação
sociocultural. É por meio delas que os museus
representam, analisam, comparam, simulam, constroem
discursos específicos - cujo principal objetivo é narrar,
para a sociedade, as coisas do mundo e as coisas do
homem.
As exposições portanto constituem uma ponte ou elo de
ligação entre as coisas da natureza e a cultura do homem,
tais como são representadas nos museus.
Desta forma, podemos entender cada exposição como uma
representação de mundo de um determinado museu,
num determinado momento (SCHEINER, 2002).
As exposições representam aspectos da visão de mundo dos
grupos sociais aos quais se referem, expressando, em
linguagem direta ou metafórica, os valores e traços
culturais desses grupos.
Segundo esta autora, o que importa saber é como se dá
esta
representação,
a
partir
da
reflexão
e
reconhecimento de que modos e formas cada museu
apreende o Real (SCHEINER, 2002).
Museu Alferes Belizário , Paraguaçu. Foto: Luciana M. de Carvalho
Cury (2002) afirma que “[...] cabe às exposições de museus
a maior responsabilidade por mediar a relação entre o
homem e a cultura material.”
Outro item importante a destacar no discurso de Cury é
quando esta declara que a comunicação em museus é
efetiva apenas quando o discurso do museu é
incorporado pelo visitante e integrado no seu cotidiano,
sob a forma de um novo discurso.
O público dos museus apropria-se do discurso museal, o
(re) elabora, o cria e o difunde. Os atores (profissionais
de museus) também participam da construção desse
discurso que supre os discursos da comunicação (2005,
p. 115-121).
Referências
CARVALHO, L. M. ; SCHEINER, Tereza . Museo de cada uno, museos de todos
nosotros: reflexionando sobre ideas y posibles prácticas para un diálogo efectivo.
EL VISITANTE ESPECIAL: TODOS Y CADA UNO DE NOSOTROS. 42ed.Paris:
ICOFOM, 2013, v. 42, p. 59-70.
SCHEINER, Tereza. “Comunicação, Educação e Exposição: novos saberes, novos
sentidos”, Semiosfera, Rio de Janeiro, no. 4-5, 2001.
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