A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
A CONSTRUÇÃO DA FEIRA DE TECNOLOGIA AGRÍCOLA E
NEGÓCIOS NO MUNICÍPIO DE LUÍS EDUARDO MAGALHÃES/BA.
JOSIANNE DA SILVA LIMA1
RESUMO
Na contemporaneidade os temas da Geografia Política contemplam processos decorrentes do
contexto competitivo global. Deste modo, este artigo analisa a construção da Feira de Tecnologia
Agrícola e Negócios no município de Luís Eduardo Magalhães/BA, contextualizando-a nas escalas
global, nacional, regional e local. O percurso metodológico incluiu levantamento bibliográfico,
pesquisa documental e de campo, além de entrevistas com os agentes diretamente ligados a maior
feira de tecnologia agrícola do Nordeste do Brasil. A Feira mantém relação com um contexto
espaçotemporal de emergência de localismos, exprime a intrínseca relação entre política, economia e
território no município e, resulta das iniciativas dos agentes locais influenciados pelo contexto
competitivo global e pela atuação estatal (União e estado).
PALAVRAS-CHAVE: escalas, Luís Eduardo Magalhães/BA, agentes, Bahia Farm Show.
ABSTRACT
In contemporaneity themes of Geography Politics contemplate proceedings arising context global
competitive. Thus, this article analyzes the construction of the Fair of Agricultural Technology and
Business in the municipality of Luis Eduardo Magalhães / BA, contextualizing it in the global scales,
national, regional and local. The methodological course included bibliographic mapping, documentary
and Field research, interviews with the agents directly connected to the largest fair of agricultural
technology in the Northeast of Brazil. The Fair keeps relationship with a localisms emergency context,
expresses the intrinsic relationship between politics, economics and territory in the municipality and
results of local agents ofinitiatives on the global competitive environment and the stimulus of state
policy (Federal and state).
KEYWORDS: scales, Luís Eduardo Magalhães/BA, agents, Bahia Farm Show.
1
Acadêmica do programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Bahia –
UFBA. E-mail de contato: [email protected]
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1. Introdução
A discussão deste artigo é parte da dissertação de mestrado que se encontra
em andamento, onde será abordado o localismo e a Feira de Tecnologia Agrícola
em Luís Eduardo Magalhães/BA, recorte espacial da pesquisa. A construção da
Feira de Tecnologia Agrícola e Negócios/Bahia Farm Show2, expressa a intrínseca
relação entre ação política, economia e as condicionantes territoriais no município,
na medida em que os agentes que realizam este evento estão ligados as
associações de classe voltadas à agricultura empresarial e, em algum momento,
mantiveram vínculo com o poder público.
Trazer a Feira para o debate da Geografia Política é importante para
demonstrar de que forma as ações políticas fundamentadas em interesses
econômicos, têm produzido espaço em um dos mais pujantes municípios 3 do estado
da Bahia. Para o surgimento e andamento do presente artigo, se fez necessário
partir de alguns questionamentos, tais como: quais as características do processo de
construção da Bahia Farm Show no município de Luís Eduardo Magalhães/BA; e,
quem são os agentes envolvidos. Desse modo, objetivamos evidenciar e analisar o
processo de construção da Bahia Farm Show no referido município.
A Bahia Farm Show é um evento ligado a produção agrícola empresarial
desenvolvida na região Oeste da Bahia4 e, após 11 (onze) edições, tornou-se a
maior feira de tecnologia agrícola do Norte e Nordeste do país. O evento acontece
anualmente no município de Luís Eduardo Magalhães/BA, que apesar do pouco
tempo de emancipação política, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
2
Ambos os termos serão utilizados ao decorrer do texto, tomemo-los como sinônimos.
Referenciamos-nos no posicionamento de Fonseca (2004) sobre a dívida da Geografia Política com
as dinâmicas locais no Brasil. Para ele o geógrafo tem dado pouca importância ao município, apesar
de tratar-se da escala, onde é possível apreciar em detalhes os impactos das ações políticas no
espaço.
4
A pesquisa enfatiza o Oeste da Bahia em razão dos objetivos, porém, ressaltamos que a agricultura
empresarial abrange o cerrado Nordestino, portanto, inclui o Sul do Maranhão e Sudoeste do Piauí.
Esta configuração, juntamente com o estado do Tocantins, conforma a região de planejamento
denominada MATOPIBA (referência aos estados integrantes: Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia)
criada no primeiro semestre de 2015 pelo governo federal. Os dados finais da pesquisa irão
demonstrar a relação entre a institucionalização da mesma e as rodadas de negociações realizadas
durante a Bahia Farm Show.
3
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Estatísticas (IBGE), em 2012 alcançou 3,6 bilhões de Produto Interno Bruto (PIB),
tornando-se a 8ª economia do estado da Bahia.
Esforçamo-nos na contextualização dos processos oriundos das escalas
global, nacional e regional, para evitar que a discussão pareça desconectada do
espaço e do tempo. Sobre a conjuntura mundial, esclarecemos que apesar de ser
caracterizada por novos processos que envolvem a dimensão política e econômica,
evidenciando a existência do contexto competitivo global5, este, não anula as
diferenças locais na medida em que estimula a competição entre eles. Assim,
através do conteúdo territorial que confere particularidade à microescala, a exemplo
dos
municípios,
respostas
diferenciadas
têm
sido
dadas
às
iniciativas
homogeneizantes.
Dessa forma nos aproximamos do local (sinônimo de lugar) como expressão
da singularidade que Fonseca (2004, p.16) considerou como derivado da vertente da
globalização, uma das interpretações do cenário localista presente nos estudos
acadêmicos. Ao mesmo tempo levamos em conta a vertente da localização no que
se refere ao destaque que seus adeptos dão às condições específicas de cada
território que, até certo ponto, condiciona o processo de reestruturação capitalista.
Para o autor, isso
Implica a possibilidade de se trabalhar concretamente as categorias
filosóficas – universal, particular e singular. Esta vinculação entre a
concretude das condições universais e as categorias filosóficas acima
referidas, ao ser transcrita para o discurso geográfico possibilitaram o
reconhecimento do lugar, enquanto expressão geográfica da singularidade.
(FONSECA, 2004, p.16).
Em conformidade com as interpretações de Fonseca delineamos o
pensamento teórico-metodológico da análise. De tal modo, observamos o sentido da
competitividade em Luís Eduardo Magalhães/BA através das negociações com
estrangeiros para a venda de commodities, sobretudo soja, e, pela presença, na
Bahia Farm Show, de engenheiros das transnacionais ligadas à fabricação de
maquinário agrícola. Trata-se de parte do processo de universalização das trocas
5
Consequente da utilização do aparato técnico que sustentou a Terceira Revolução Industrial
ocorrida na década de 1970, a favor da produção.
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comerciais envolvendo capital e mercadoria, porém não deixamos de considerar a
singularidade representada pela união dos agentes.
No Brasil, as reflexões sobre este contexto, a partir da Geografia política,
sinalizam a emergência de localismos ou dinâmicas locais. Estes levam em conta a
dinâmica global, as influências da política nacional e o conteúdo territorial que
diferenciam os municípios. Nesse sentido, o localismo pode ser interpretado como
Um movimento e/ou conjunto de decisões e ações políticas, econômicas e
institucionais muitas vezes de caráter reivindicatório, engendrado por
agentes dominantes locais que atuando a partir de uma base territorial, ao
mesmo tempo em que buscam maior visibilidade local, articulação e
cooperação intermunicipal, também buscam competir na busca de
empresas, recursos e investimentos para o seu território; (FONSECA, 2013
p.162).
Podemos, portanto, afirmar que o município de Luís Eduardo Magalhães/BA
está inserido em contexto de localismo. Esta afirmação é reforçada pelo resultado da
análise comparativa realizada por Fonseca (2011) que concluiu que o modelo de
gestão territorial adotado para o município desde a sua emancipação é
empreendedorista. Isso significa que os agentes políticos e econômicos locais
estabelecem parcerias, criam estratégias e meios com a finalidade de dar
visibilidade ao território.
Com isso o município mostra que é competitivo, expõe as suas virtualidades e
atrai investimentos nacionais e estrangeiros. Neste contexto a Bahia Farm Show, ao
mesmo tempo em que reflete esta dinâmica municipal, é um meio através do qual se
estabelece novas parcerias, são atraídos novos investimentos e negociações
políticas são fecundadas em prol da pujança econômica local. A seguir,
evidenciaremos o processo de construção da Feira de Tecnologia e Negócios de
Luís Eduardo Magalhães/BA.
2. Condicionantes da Bahia Farm Show
O estado da Bahia, marcado por diferenças regionais, se faz presente na
discussão pela necessidade de contextualizarmos (espaço-tempo) os processos
políticos e econômicos que estimularam o desenvolvimento econômico da Região
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Oeste, que motivaram a criação do município de Luís Eduardo Magalhães, e
sustiveram a atração da feira de Tecnologia Agrícola em Ação AGRISHOW, para o
referido município. Com o intuito de localizar a Região Oeste, apresentamos a figura
01 (Mapa das Regiões Econômicas da Bahia), onde a referida região está destacada
em amarelo, indicada com o numero 15 (quinze), contendo 23 (vinte e três)
municípios.
Figura 01 – Mapa: Regiões Econômicas da Bahia.
Fonte: Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia.
O fator econômico é um dos principais aspectos que denotam a
especificidade da Região Oeste. A economia gira em torno da produção agrícola
empresarial, voltado ao abastecimento de indústrias nacionais e estrangeiras,
desenvolvendo, principalmente o cultivo de soja, milho e algodão. Nesta Região,
localiza-se o município de Luís Eduardo Magalhães, na fronteira com o estado do
Tocantins (coordenadas 12° 05' 31" S; 45° 48' 18" O). Na página seguinte, a figura
02 apresenta o mapa do município.
Além dos limites municipais, este mapa apresenta o zoneamento urbano da
sede do município, e destaca em laranja o complexo Bahia Farm Show, local onde
acontece o evento. A área abrange 10 hectares e pertence as associações que
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organizam a Feira – Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA),
Associação Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA) e à Fundação/BA, uma
instituição de pesquisa que atua no desenvolvimento de soluções tecnológicas para
a produção da Região.
Figura 02 – Mapa: Município de Luís Eduardo Magalhães/BA.
Fonte: IBGE (2014) – Acesso outubro de 2014.
Organização: LIMA e REIS (2015).
O Estado brasileiro, a exemplo do que aconteceu com os demais países da
América Latina, impulsionado pela política Neoliberal, construiu a partir da década
de 1960, uma plataforma institucional favorável à inserção do capital estrangeiro em
todos os setores da economia. Neste contexto, a agricultura e a pecuária
desempenharam “um novo papel na estratégia governamental de desenvolvimento,
efetivando o país como fornecedor mundial de alimentos” (Rückert, 2003, p.37). Ao
mesmo tempo, a internacionalização da economia impeliu a expansão da área de
produção de commodities no território nacional, culminando na abertura de novas
fronteiras agrícolas.
Os governos, federal e estadual, foram agentes do processo através das
ações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA e de
programas como o PRODECER II (segunda etapa do Programa de Desenvolvimento
dos Cerrados) (BRANDÃO, 2010). O conjunto dos incentivos financeiros estimulou
famílias e/ou indivíduos que mantinham relação com o trabalho rural nos seus
estados de origem (Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo), a migrarem para
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outras regiões do país. O estudo de Haesbaert (1997) sobre a chegada dos
migrantes aos cerrados do Nordeste a partir de 1970 destaca que a ação “insere-se
em múltiplas dinâmicas: mundial, nacional e „regional‟; e dimensões: econômica,
política e cultural” (HAESBAERT, 1997 p.133).
Dessa forma, o Nordeste se associou ao movimento de difusão da produção
intensiva de soja, sendo o “oeste da Bahia, polarizado pelo município de Barreiras”,
a primeira área a reestruturar a produção agrícola no cerrado nordestino (ELIAS,
2006, p.33). Segundo (BRANDÃO, 2010) a situação de indiferenciação que
prevaleceu
durante
muito
tempo
na
Região
Oeste
da
Bahia,
mudou
significativamente em virtude do avanço da atividade agrícola. Nesta atmosfera
favorável à construção de processos políticos e econômicos renovados, ocorreu a
emancipação política do distrito de Mimoso do Oeste pertencente à Barreiras, em
2000, dando origem ao município de Luís Eduardo Magalhães.
Segundo Fonseca (2011, p.70), após a emancipação, o modelo de gestão
adotado pelos agentes baseou-se no empreendedorismo. “Neste modelo, o prefeito
era um gerente disposto a „vender‟ sua mercadoria – o território municipal – para
quem tivesse interesse em investir no local.” Para tanto, os agentes, grupo composto
pelo prefeito, secretários e representantes dos agricultores, desenvolveram uma
política de marketing territorial. Além disso, como parte do modelo de gestão
empreendedorista, o prefeito costumava planejar as políticas territoriais 6 pautadas
nas parcerias “com governo estadual e federal, setor privado e associações”.
(VIERA, 2006). Todos esses processos e ações mantêm relação com a construção
da Feira de Tecnologia Agrícola e Negócios de Luís Eduardo Magalhães.
2.1 Da Festa da Colheita à Feira de Tecnologia Agrícola e Negócios
Após a emancipação política do município de Luís Eduardo Magalhães,
tornou-se comum a realização de uma festa comemorativa chamada Festa da
Colheita, na sede do município. A finalidade era reunir os produtores para festejar os
6
Esta compreensão foi desenvolvida por Oliveira (2015). Para a autora, políticas territoriais incluem
ações, propaganda e/ou obras governamentais destinadas a determinadas áreas do território.
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resultados obtidos com a safra. Nesses dias, as comitivas/famílias enfeitavam
carroças, tratores e outros meios de transportes para o desfile dos artefatos que
caracterizavam a economia local. A Festa da Colheita integrava o desfile dos carros
alegóricos, área de shows e a exposição de produtos do comércio local e de
grandes empresas.
A Festa da Colheita adotava um padrão de feiras de negócios. A figura 03
caracteriza esta configuração, ressaltando o caráter primário daquele que viria a ser
o maior evento ligado à agricultura no Nordeste do Brasil.
Figura 03 – Foto: Festa da colheita no município de Luís Eduardo Magalhães/BA.
Fonte: http://www.citybrazil.com.br – Acesso março de 2015.
A realização da Festa era uma iniciativa da Prefeitura Municipal em parceria
com as entidades de classe (AIBA, Sindicato Rural e Associação Comercial e
Empresarial - ACELEM). Ocupava-se um terreno público, com infraestrutura mínima,
às margens da BR 020 (Brasília - Fortaleza) como mostra a imagem 03, porém,
sinalizava-se o entusiasmo e os planos de futuro que motivavam os organizadores.
A cada edição (2001, 2002 e 2003) o espaço da Festa da Colheita expandia,
qualificando a estrutura física e organizacional, acompanhada do crescente arrojo
em seu planejamento estratégico.
A época, a estreita relação entre o prefeito, secretários, AIBA e o governo do
estado, juntos, viabilizaram a instalação de um stand institucional do estado da
Bahia, na Feira de tecnologia Agrícola em Ação – AGRISHOW sediada no município
de Ribeirão Preto/SP. Assim, para (FONSECA, 2011, p. 72), eles “formaram uma
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coesão bastante consistente e elaboraram um marketing territorial que buscava
projetar uma imagem forte, atraente, positiva e original de LEM7, promovendo o
município economicamente para empresários de todo o mundo.
No município, se destacavam as ações da Secretaria de Desenvolvimento
Econômico. A extinta Secretaria representava os ideais da gestão municipal que
acreditava na realização de eventos como forma de divulgar o município, que até
então, não aparecia nos mapas oficiais. Por isso, esteve à frente das negociações
que visavam transformar a Festa da Colheita em um evento de grandes proporções.
Os agentes entendiam que, através destes, poderiam captar investidores para
ocupar o recém inaugurado Distrito Industrial e os demais setores da economia
ainda em construção. Assim, a seguir listamos algumas circunstâncias que
favoreceram à substituição da Festa da Colheita por uma franquia da AGRISHOW:
a) A conjuntura nacional e global, cujo alinhamento econômico estava
consolidado (contexto competitivo global e Neoliberalismo); b) A afinidade entre o
pensamento político adotado pelos governos do estado no denominado período
Carlista8 e o modelo de gestão do município de Luís Eduardo Magalhães; c) O
conhecimento da existência e funcionamento da AGRISHOW, pois os produtores
rurais baianos frequentavam o evento na condição de consumidores de tecnologia
agrícola; d) A política de desconcentração da AGRISHOW que começava a ser
implantada pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos –
ABIMAQ; e) A aposta no modelo de gestão empresarial com vistas para a
divulgação das potencialidades e vantagens locais; f) A abertura para o
estabelecimento de parceria, uma característica dos migrantes do Sul e de São
Paulo que vieram para o oeste baiano.
As investidas da equipe tiveram como produto a decisão favorável dos
executivos da ABIMAQ, organizadora da AGRISHOW. Dessa maneira, em 2004, o
município de Luís Eduardo Magalhães foi inserido no projeto de desconcentração do
evento. Nesta época, a Feira já contava com uma sede própria, o Complexo Bahia
7
O autor utiliza a abreviação LEM ao se referir ao município de Luís Eduardo Magalhães/BA
Uma referência ao grupo político comandado por Antonio Carlos Magalhães - ACM, o líder que
durante quatro décadas comandou a política estadual.
8
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Farm Show, conforme figura 02, localizada às margens da BR 020, distante 10 km
do centro da cidade. De um modo geral,
A atração do evento permitiu que o município se tornasse conhecido por
grandes empresários do setor em todo país e no exterior, não só através
dos jornais, mas também pela presença de investidores nacionais e
estrangeiros no município durante a realização do evento, significando, para
empresários e políticos locais, a consolidação do slogan a “capital do
agronegócio” e a concretização das ações de marketing territorial de LEM.
(FONSECA; SILVA; VIEIRA, 2010, p. 147)
Nas edições de 2005, 2006 e 2007, foi mantida a parceria com a AGRISHOW,
porém, em 2008, por razões internas, a ABIMAQ, responsável pelo evento, decide
cessar as atividades no município Luís Eduardo Magalhães/BA. Sendo assim, os
agentes locais optaram (não houve consenso) por assumir a organização do evento,
aproveitando-se da plataforma que havia sido criada nos três anos de AGRISHOW.
Desde então passou a ser realizada a Feira de Tecnologia Agrícola e Negócios,
denominada Bahia Farm Show, sob a responsabilidade da AIBA, ABAPA e
Fundação/BA, em parceria com outras instituições ligadas ao setor privado e com a
prefeitura.
O evento foi nomeado de forma estratégica, pois, de acordo com os agentes
entrevistados, Bahia é uma marca consolidada no cenário nacional e conhecida
internacionalmente e, Farm Show, foi acrescentada em analogia à maior feira ligada
ao agronegócio no mundo, a norte-americana, Farm Show.
3. Sobre o percurso metodológico
A discussão sobre a construção da Feira de Tecnologia Agrícola e Negócios
em Luís Eduardo Magalhães, pautou-se no modelo de análise construído para a
pesquisa
de
mestrado.
Neste,
considerarmos
os
seguintes
aspectos:
condicionantes; agentes/ações; meios; escalas. Neste artigo, centramos a discussão
no primeiro item, ou seja, as condicionantes que incluem processos oriundos da
escala mundial, nacional, estadual/regional e local.
Realizamos o levantamento bibliográfico que incluiu a literatura científica,
publicações jornalísticas e institucionais (ligadas ao poder público e instituições
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privadas). Em seguida, pesquisa de campo, observação participante nas edições de
2014 e 2015, bem como, coleta de dados. Após conhecer a realidade, selecionamos
os entrevistados, cujas ações nos permitiram considerá-los agentes da construção e
consolidação da Bahia Farm Show.
Por fim, realizamos entrevistas com o atual e o ex-prefeito, secretários,
lideranças das associações, organizadores da feira, imprensa e expositores,
incluindo as instituições financeiras. Espera-se que os dados primários, secundários
e a consequente sistematização, possibilitem responder os questionamentos e
promovam novas reflexões sobre o tema.
4.
Considerações Finais
O estudo sobre a Bahia Farm Show no município de Luís Eduardo
Magalhães/BA deve seguir as novas tendências de analises do local. Dessa
maneira, levará em conta a vertente da globalização que prever a existência do
contexto competitivo global e a vertente da localização, pois os locais, assim como
podemos constatar no referido município, não refletem apenas a dinâmica global,
mas ressignificam as influências externas de acordo com as especificidades
territoriais (política, economia, agentes, etc).
O município sustenta a Feira de Tecnologia Agrícola e Negócios / Bahia Farm
Show, por tratar-se de um contexto de emergência de localismo, por optar pelo
modelo de gestão empreendedorista e por ser adepto do marketing territorial. Assim
a Bahia Farm exprime a intrínseca relação entre política, economia e território no
município e resulta das iniciativas dos agentes locais influenciados pelo contexto
competitivo global e pela atuação estatal (União e estado).
A construção desse evento segue de perto a dinâmica regional e concretizouse em virtude da conjugação de interesses dos agentes políticos e econômicos
locais. Ela reflete a dinâmica política e econômica local, é o meio através do qual o
município mostra para o país e o mundo o quanto é competitivo e sustenta
negociações que se traduz em vantagens e novos investimentos para o setor público
e privado.
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