“ RENDEZVOUS ”
Edna Camila de Arruda Ferreira*
(Valério inicia a dramatização apresentando-se, apresentando Teresa e o local em que
se desenrola o enredo).
Valério - Eu em todo o meu poder, guardo o que é de mais precioso em minha vida. E não
falo de minhas cortinas de tecidos importados, nem minhas muitas jóias as quais faço
questão de usá-las compostas para mostrar a todos aonde consegui chegar em plenos anos
50... Muito menos meu ambiente dos mais diversos prazeres íntimos, mas sim minha
preciosa Teresa. (Faz uma pausa curta para olhar o cenário e continua a falar...)
-Teresa estava ali, mas todos sabiam que não pela mesma razão que as outras garotas que
se enfiavam em seus quartos em busca de patrocínio para suas joias, em um bordel. Tereza
era jovem... Uma virgem apaixonada e apaixonante, aliás. Não se deixava levar por onde
fora criada, porque sabia que a vida que eu queria lhe dar era algo muito maior, fora dali. Por
isso daria até minha vida para casá-la. Minha afilhada, minha preciosa, minha Teresa. Quero
apenas que seu coração seja preso a alguém que lhe ofereça acima de qualquer coisa,
amor verdadeiro. (Suspira fundo e continua:)
- Hoje, especialmente um sábado à noite, escolhi dois rapazes, cada um com características
próprias, que julguei serem fortes candidatos e irão me ajudar a realizar meu tão almejado
sonho...
Martins:
(Entra, nada fala com Valério e segue em direção ao quarto de Tereza. Neste, acende a
luz referente ao cenário do quarto de Teresa e dá-se continuidade à peça.)
(Teresa canta a primeira estrofe da música Terezinha de Chico Buarque enquanto
Martins entra em seu quarto com presentes –uma rosa vermelha, um urso de pelúcia e
uma jóia- e começa a falar com a mesma...)
Teresa- "O primeiro me chegou
Como quem vem do florista:
Trouxe um bicho de pelúcia,
Trouxe um broche de ametista.
Me contou suas viagens
E as vantagens que ele tinha.
Me mostrou o seu relógio;
Me chamava de rainha."
(Existe uma pausa para que Martins comece a falar; nessa pausa os dois atores fazem
jogos visuais um com o outro)
Martins - Gostas de rosas? Imaginei que sim, afinal qual dama não gosta? Mas não se
tratam de quaisquer rosas, colhi do meu próprio jardim tão bem zelado por três jardineiros,
onde podes encontrar uma infinidade delas. (Aproxima-se mais dela, toca-lhe o braço e
diz:) - Meu Deus! Que pele divina, lembra-me o veludo fino que encontrei nas melhores lojas
de Paris, mas como és mulher que não carece de maiores roupas julguei trazer de boa
vontade o urso de melhor pelo já encontrado, e garanto que toda essa maciez encontrarás
em cada canto de nossa futura casa! E o melhor ainda não é isso! (tira do bolso um colar
de brilhantes) é esta joia que já tinha a certeza que só combinaria com os olhos mais
brilhantes que já mirei...
(Teresa, enchia os olhos e admirava seu pretendente)
Teresa - Tens tudo isso? Vens de onde? O que fazes? Como tudo vai ser?
Martins - Teresa, minha jovem, para onde formos serás minha mulher e só minha, em um
palácio só nosso, viverás só e unicamente para mim. Venha. Venha, RAINHA.
(Teresa se expressa como que assustada e indaga:)
Teresa - Mas... mas...mas... Não! Como queres isso? Viverei em uma gaiola de ouro, mas
ainda gaiola. Não vou contigo, Martins. Não nasci para ser prisioneira, ainda que me chames
de Rainha.
(Martins contrariado, replica: )
Martins - Vais morrer neste lugar, de fato não nascestes para viver ao lado de um lord.
Adeus.
(Sai furioso e chuta o urso que foi dado há pouco... Tereza fica sentada no chão,
escorada na cama, pega seu urso no colo e enche os olhos de lágrimas).
(Fecha-se a primeira cena do quarto com Teresinha continuando a primeira estrofe):
“Me encontrou tão desarmada,
Que arranhou meu coração,
Mas não me negava nada
E, assustada, eu disse "não".”
(Abre-se novamente a cena com Valério no cenário 1)
(Martins chega até Valério furioso e este, aflito e com mãos agoniadas, logo toma seus
cuidados)
Valério - O que aconteceu, meu jovem? Que aconteceu lá no quarto? Por que sais tão
depressa de lá?
Martins - Valério, essa sua afilhada não nasceu para um lord como eu. Sem modos e sem
vocação para ser uma RAINHA. Onde já se viu assustar-se com o mundo que posso dar a
ela e acabar almejando liberdade, mulheres não tem que almejar liberdade alguma.
(Martins sai de cena.)
(Valério gesticula abertamente e se lamenta acerca do acontecido. Tadeu entra em
cena falando como que sozinho...)
Tadeu - Trago-lhe amor... Amor de muito, aliás. Nada de amor palpável, quero apenas que
sinta...
(Valério expressa-se preocupado, mas pede pra que Tadeu siga em direção ao quarto)
(abre-se a segunda cena no quarto)
Tadeu - Quão bela és tu, minha admirada... Corpo tão atraente quanto as mais bem
desenhadas taças que conheço; (Tadeu oferece um pouco de bebida à Tereza, mas ela
se nega) bebo por nós, então.
(após um gole de bebida, Teresa fala:)
Teresa - Conte-me sobre suas propostas... Parece-me interessante, conheces quantos
países? Quais presentes me trazes?
(Tadeu expressa-se como contrariado, dá um riso no canto da boca e fala: )
Tadeu - Vamos com calma, bela! Com calma... Conheço todos os lugares do mundo, porque
sei que todos se resumem a uma massa efêmera. Não precisei viajar por aí pra conhecer,
pois o que gosto de visitar são corações humanos. Conte-me você sobre o seu coração!
(Teresa se expressa assustada, mas começa a falar...)
Teresa - Bem, até agora só me fizeram promessas, ninguém se interessou sobre o que eu
penso e sinto, mas quero uma casa confortável, quero flores e amor de muito... Quero filhos!
Sim, uns quatro. Acho linda uma família grande, gosto de joias e conforto, gosto de... (Tadeu
então interrompe o que ela fala com um ar impaciente e fala:)
Tadeu - Futilidades do mundo... Tens um brilho tão belo em teus olhos, não te deixe levar
pelo brilho passageiro de coisas tão sem vida. Faça como a lua... Sabe, ela?
"Não pudica, sem pudor
Mostra suas curvas
a todos que a admiram
todas as noites...
Mas não é de ninguém..."
Tadeu - Já parou pra observá-la hoje? Está de um brilho tão semelhante a teus olhos e de
uma cor quase tão atraente que a cor de tua pele...
(Teresa faz cara de surpreendida, mas interrompe)
Teresa - Mas gostaria de saber sobre planos futuros, o que me darás e o que... (e mais
uma vez é interrompida por Tadeu oferecendo-lhe novamente bebida)
Tadeu - Tens certeza que não queres bebida? (Tereza nega com a cabeça) Ora, não
pensemos sobre o futuro, evitemos tamanho desgaste!
"Do amor viveremos
O futuro agora não queremos
Quem foste até aqui, bela
é o que faz palpitar
meu tão sozinho coração
que apenas espera por ti
para unirmos corpo e alma...
amor, sem dor, sem promessas,
Sob o brilho da lua,
o raiar do sol,
o canto dos pássaros
e o soprar do vento..."
(Teresa com olhos baixos apenas diz:)
Teresa – Então me ofereces apenas a natureza? Nem anéis e nem colares?
(Tadeu expressa-se novamente contrariado e replica:)
Tadeu - Ora essa, meus versos bastam para que te enchas de amores. (enquanto isso ele
já ia olhando todo o quarto de Teresinha, assim como também olhava os presentes
antes dados por Martins. Encontrou alguns cigarros na gaveta de Teresinha, cheirou
suas roupas e foi falando...)
Tadeu - És uma perdida... (joga no chão a caixa de cigarros dela), vem comigo e em
meus versos hei de te achar.
Teresa - Mas nada me darás... Apenas queres me achar porque me julgas perdida. Não,
não vou contigo, quero meus mimos, mimos esses que não podes dar.
(Tadeu com raiva joga uma garrafa no chão e grita:)
Tadeu - És uma perdida, e perdida continuarás aqui, quis te dar vida de verdade, mas se
negas, buscarei entender outros corações... Morrerás aqui!
(Teresinha se assusta, se encosta na parede e como que chorando, canta: )
“O segundo me chegou
Como quem chega do bar:
Trouxe um litro de aguardente
Tão amarga de tragar.
Indagou o meu passado
E cheirou minha comida.
Vasculhou minha gaveta;
Me chamava de perdida.
Me encontrou tão desarmada,
Que arranhou meu coração,
Mas não me entregava nada
E, assustada, eu disse "não".”
(Fecha-se a segunda cena do quarto)
(Abre-se cenário de Valério)
(Valério está rezando de forma frenética, pedindo pra todos os santos e até Iemanjá
proteger sua afilhada, enquanto Tadeu chega com um ar contrariado e impaciente)
Tadeu - Meus versos não são capazes de encher os olhos da sua protegida, Valério. Ela
morrerá aqui sem saber o amor de viver os desamores da vida.
(Valério nada fala e apenas se lamenta... De repente entra um terceiro rapaz)
Juan - Boa noite. Meus dias e noites estão perdidos, nada importa aqui, um amor por uma
noite já poderia encher algum nada em mim.
(Valério olha bem o rapaz, demonstra gostar dele e diz:)
Valério - Jovem, vou me arvorar a entregar-te a uma moça especial. Mas com uma ressalva:
se dela conseguires o corpo, ela e seus sonhos terão que sair daqui junto contigo. Já não sei
o que faço... Um oferece em demasiado, o outro nada oferece. Vais, segue que é no quarto
ao lado.
(Abre- se terceira e última cena no quarto)
(Sem dizer qualquer palavra, o jovem segue. Chega devagar no quarto de Teresa, não
lhe fala nada e nem a toca... Apenas olha-a, cheira, afasta os quebrados do chão, se
aproxima como quem analisa uma dama para uma dança...)
(Teresinha se aproxima dele com um olhar já sem medo)
Teresa - De onde vens? Quem és tu, forasteiro? Meu padrinho te conhece? Trabalhas em
quê? És rico? És mudo?
Juan - Sou homem.
Teresa – Homem, és um homem. (Juan então se aproxima de Teresinha, beija-lhe a
mão, escorre suas mãos sobre os braços da dama e a rodeia parando atrás,
cheirando-lhe o pescoço.)
(Teresinha já está entregue, gosta das carícias e dos movimentos do rapaz, vira-se
para ele como quem ameaça um beijo. Juan se afasta delicadamente e mexe o corpo
como quem entra em ritmo de dança. Por fim a senta na cadeira, solta os cabelos da
dama, se ajoelha frente a ela, toca seus ombros e apenas fala: )
Juan –DECIDIDAMENTE ÉS MULHER!
(Teresinha inclina o pescoço para trás e parece estar completamente entregue... Juan
beija-lhe o pescoço e começa a retirar sua ‘blusa’...)
(Fecha-se a terceira cena do quarto com um gemido de Tereza)
(Abre-se o cenário de Valério)
(Valério está sorrindo e rezando para agradecer a demora do moço no quarto de sua
sobrinha... Fala de como espera que o rapaz tenha entendido que Teresinha seria dele
para sempre.)
(Teresa e Juan entram no segundo cenário no momento em que Valério está rogando:
“-Oh, Deus, espero que a cama de Terezinha tenha servido para um amor e não para
uma aventura fugaz...” )
(Terezinha então, sorridente e de mãos dadas com Juan, começa a cantar:)
“O terceiro me chegou
Como quem chega do nada:
Ele não me trouxe nada,
Também nada perguntou.
Mal sei como ele se chama,
Mas entendo o que ele quer!
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher.
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não,
Se instalou feito um posseiro
Dentro do meu coração.”
(A peça termina com Terezinha saindo de mãos dadas com Juan enquanto termina o
último verso da música. Juan a segue para sair do cenário... E tudo termina com
Valério gargalhando de forma feliz e girando no meio do palco. (APAGAM-SE AS
LUZES. Os atores voltam ao palco, as luzes se acendem e todos se apresentam).
Edna Camila de Arruda Ferreira é aluna do 5º período e sua peça teatral foi classificada
em 1º lugar no Concurso Literário do MEL – Movimento de Experiências Literárias - do
Campus Mata Norte da UPE. Versão 2012.*
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“ RENDEZVOUS ” Edna Camila de Arruda Ferreira* (Valério