SUZANO ANO 2
ISSN: 2176-5227
Nº 2
OUT. 2010
REVISTA INTERFACES
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Integração solidária: um projeto para
substituição do trote pela formação em
responsabilidade social.
Catarina Dias NASCIMENTO
Faculdade Unida de Suzano – UNISUZ ([email protected])
Nazih Youseff FRANCISS
Faculdade Unida de Suzano – UNSUZ ([email protected])
Jairo José Matozinho CUBAS
Faculdade Unida de Suzano – UNISUZ ([email protected])
Durante muitos anos o chamado trote acadêmico
esteve, e ainda está, presente nas instituições de ensino superior e chega a ser justificada pelos alunos como
um rito de passagem cuja violência física e psíquica
deve ser mantida na vida universitária como uma tradição. Tal constatação realizada por Zuin (2002) em
uma pesquisa realizada entre estudantes de um curso
de pedagogia de instituição superior pública surpreende, mas pode ser confirmada nas tragédias observadas, até com perdas de vidas, como no caso do calouro
encontrado morto em uma conceituada faculdade em
1999 e em outros atos que ainda se repetem de forma
violenta em algumas poucas instituições de ensino
superior.
A ação agressiva do trote que ainda pode ser observada é, segundo Coltro (2010), uma versão despolitizada e bruta deixada como herança pelo AI-5 que
acirrou o controle sobre as universidades e impediu
a manifestação político-cultural dos estudantes que
se constituíam na época em espaços de contestação
e crítica social.
Martins (2010) acredita que como o trote e violência andam tradicionalmente juntos a saída seja promover ampla discussão sobre essas atitudes já que as
conseqüências não se restringem ao âmbito do curso,
mas se refletem na futura vida profissional. A autora
indica a necessidade de se reconhecer que o trote violento não é a única forma de se realizar essa ação.
Giarola (1999) ao realizar pesquisa com estudantes
de uma universidade pública do estado de São Paulo
detectou que atualmente os jovens estudantes entendem que o trote como uma brincadeira ou integração
é importante para o início da vida universitária, desde
que não ultrapasse os limites da integridade do calouro e segundo ele menos de 10% dos pesquisados não
concordam com essa afirmação.
Diante dessa realidade a UNISUZ incentiva, desde
a sua criação, a aplicação de um trote alternativo desde então denominado integração solidária.
O procedimento da integração solidária tem como
princípio tornar humana a recepção do estudante
que inicia sua vida universitária. Aliada a essa preocupação a instituição objetiva conciliar a ação a uma
concepção de responsabilidade social da empresa, em
especial àquelas votadas à educação.
Responsabilidade social é definida pelo Instituto
Ethos como:
“a forma de gestão que se define pela relação
ética e transparente da empresa com todos os
públicos com os quais ela se relaciona e pelo
estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável
da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e a redução das desigualdades sociais”(INSTITUTO ETHOS, 2004).
O formato da Integração Solidária.
Desde a sua constituição, a UNISUZ- Faculdade
Unida de Suzano tem como princípio a substituição
e o combate ao trote Universitário violento, que não
promove a integração entre calouros e veteranos. Para
isso foi lançado no início de 2001 uma ação a ser desenvolvida todos os anos entre os alunos, calouros e
veteranos que consiste na arrecadação de alimentos e
material de higiene pessoal para serem entregues as
Entidades Filantrópicas.
Para atingir estes objetivos, a Direção e a Coordenação Pedagógica da UNISUZ promovem no início de
cada ano letivo uma reunião com todos os representantes de classe dos cursos da instituição. Nessa ocasião são apresentados todos as diretrizes do projeto,
ou seja, forma de divulgação do projeto, sensibilização
dos alunos, semana de arrecadação dos bens, dia de
embalagem e entrega dos bens às Entidades beneficiadas.
Após a apresentação dos nomes das entidades que
se pretende beneficiar é aberto o espaço para que o
aluno possa indicar outra instituição de sua preferência que será avaliada para esse fim de acordo com cri-
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térios pré-definidos como: análise da real necessidade
da instituição e da sua legalidade
Após os esclarecimentos aos representantes de
classe quanto aos itens a serem arrecadados e sobre
uma eventual premiação, o item específico que será
arrecadado é sorteado entre as turmas. Nessa mesma
data estipula-se o calendário para a coleta, empacotamento e distribuição dos itens.
Para que os resultados de envolvimento dos alunos
sejam alcançados é realizado um trabalho de sensibilização com o auxílio dos representantes de salas e
dos professores das turmas. A partir daí há o período
de mobilização e a arrecadação propriamente dita.
Na reunião inicial são sorteados, também, os dias
de entrega dos materiais pelos alunos.
Cabe a cada turma estipular e colocar em ação os
mecanismos de arrecadação o que incentiva a discussão, organização e a integração dos alunos novos com
os veteranos. A entrega dos materiais é feita no pátio
da Faculdade onde são montadas mesas com a identificação de cada turma e os materiais são recolhidos
até o horário do início das aulas de segunda a quintafeira. Na sexta-feira as entregas são feitas por aqueles que não conseguiram entregar no dia específico.
No dia seguinte, sábado, no horário matutino faz-se
a distribuição e embalagem dos bens, de acordo com
o solicitado pelas entidades beneficiadas e a entrega
física dos bens para as mesmas.
Vale ressaltar que na região de Suzano, há várias
Entidades Filantrópicas que têm dificuldade na arrecadação de donativos e desta forma, desenvolve-se
uma ação social e o espírito solidário entre os estudantes que irão suprir parte dessas necessidades com
suas arrecadações.
Uma solenidade simples é marcada com os representantes das entidades beneficiadas para a entrega oficial
dos bens arrecadados. Como resposta normalmente a
Faculdade recebe ofícios de agradecimentos onde consta a relação dos bens recebidos pela entidade.
Nesta mesma data são conhecidas as turmas que
mais arrecadaram.
Resultados:
30
Nº de Entidades beneficiadas
25
20
15
10
Nº de Entidades
beneficiadas
5
Linear
Nº de Entidades
beneficiadas
0
-5
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
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Gráfico 1: Relação entre o nº de entidades beneficiadas com o evento desde 2001 até 2010
16000
14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Gráfico 2: Arrecadação de alimentos (em Kg) de
2001 a 2010
4000
3000
2000
1000
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Gráfico 3: Arrecadação de itens de higiene pessoal
de 2001 a 2010
Considerações finais:
Verifica-se com o passar do tempo um aumento do
envolvimento dos alunos. A análise dos gráficos permite afirmar que no último ano houve um aumento
significativo da arrecadação dos itens de higiene com
conseqüente diminuição da quantidade de alimento.
Essa alteração pode estar relacionada com a solicitação dos beneficiados possivelmente com base nas necessidades dos mesmos.
Rico (2004) que afirma que:
“As empresas, adotando um comportamento
socialmente responsável, são poderosos agentes de mudança ao assumirem parcerias com
o Estado e a sociedade civil, na construção de
um mundo economicamente mais próspero e
socialmente mais justo’.(RICO 2004)
O alto grau de envolvimento dos alunos no processo e as ações solidárias beneficiando diversas instituições de assistenciais o que caracteriza a extensão da
faculdade, indicam que o caminho da solidariedade e
a valorização do jovem que iniciam o estudo superior
devem ser incentivados como colaborador na formação do futuro profissional independente da área que
irá atuar.
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Referências bibliográficas
Informações sobre os autores
INSTITUTO ETHOS. Responsabilidade Social das Empresas: a contribuição das universidades. São Paulo:
Petrópolis: 2003a. v. II.
RICO, E. M. “A responsabilidade social Empresarial e o
Estado: uma aliança para o desenvolvimento sustentável” São Paulo Perspec. v.18 n.4 São Paulo out./dez.
2004
ZUIN,A.A.S. “O Trote no Curso de Pedagogia e a Prazerosa Integração Sadomasoquista” Educ. Soc. v.23 n.79
Campinas ago. 2002.
COLTRO, Marcelo. Trote e cidadania. Interface (Botucatu), Botucatu, v. 3, n. 5, ago. 1999 . Disponível
em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1414-32831999000200017&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 abr. 2010. doi:
10.1590/S1414-32831999000200017.
MARTINS, Sueli Terezinha Ferreira. Sobre trote e violência. Interface (Botucatu), Botucatu, v. 3, n. 5, ago.
1999 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1414- 32831999000200
014&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 abr. 2010. doi:
10.1590/S1414-32831999000200014.
GIAROLA, Luis Carlos. Trote na universidade. Interface
(Botucatu), Botucatu, v. 3, n. 5, ago. 1999 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1414-32831999000200013&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 abr. 2010. doi:
10.1590/S1414-32831999000200013.
Catarina Dias Nascimento
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Graduada em Ciencias Contábeis pela Universidade
de Mogi das Cruzes , graduação em Administração
de Empresas pela Universidade de Mogi das Cruzes
e mestrado em Ciências Contábeis e Atuariais pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo . Atualmente é Coordenadora de Curso da Faculdade Unida
de Suzano - UNISUZ.
Jairo José Matozinho Cubas
Biólogo, Especialista em Histologia e Embriologia Humana pela Faculdade São Judas Tadeu e Mestre em
Morfologia pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP). É coordenador do Núcleo de Pesquisa e Extensão e do Centro de Estágios da Faculdade Unida de
Suzano - UNISUZ.
Nazih Youssef Franciss
Arquiteto, pós-graduado em Gestão Universitária, Diretor Geral da UNISUZ, mantenedor do Colégio UNISUZ, fundador e Diretor do Instituto “FAZER O BEM”.
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